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Unidade 1 - Concepção de programa


televisivo
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Introdução da disciplina

MESTRE EM CINEMA E
NARRATIVAS SOCIAIS

Victor Adriano Ramos

Olá, estudante! Tudo bem? Para darmos início ao nosso conteúdo, assista ao vídeo
de apresentação a seguir.

Recurso Externo
Recurso é melhor visualizado no formato interativo

Agora, vamos dar início à nossa unidade!

Introdução da unidade
Na introdução de seu livro “A televisão levada a sério”, o pesquisador Arlindo
Machado discorre sobre o preconceito que determinadas parcelas da população
têm com a televisão (TV). Por ser considerada um veículo de comunicação de
massas, é comum, em estudos acadêmicos ou em discussões sociais, associar os
programas televisivos a elementos considerados de “baixa cultura”, justamente
por suas características massivas. Mas, como argumenta o autor, há uma
variedade expressiva de produções com excelência em relação a sua condição de
produção. Além disso, a televisão é “um dispositivo audiovisual por meio do qual
uma civilização pode exprimir a seus contemporâneos os seus próprios anseios e
dúvidas, a suas crenças e descrenças, as suas inquietações, as suas descobertas e
os voos de sua imaginação” (MACHADO, 2000, p. 11). Ou seja, a televisão, com
sua linguagem, revela muito mais do que aparenta; ela está diretamente
relacionada com a forma como a sociedade pode se enxergar.

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É comum em qualquer casa brasileira – considerando que, segundo dados do IBGE,


a televisão tem uma área de cobertura próxima a 100% do território nacional –, ter
um aparelho de televisão, geralmente centralizado na sala de estar, o espaço mais
cômodo e reservado para encontros de famílias, dentre outras reuniões. Mas
também, a depender da classe social, podem ser encontradas outras telas na
cozinha, nos quartos ou até mesmo no banheiro. Há momentos em que estão todos
concentrados nas imagens reproduzidas, mas há outros em que a família se divide
entre conversas e vaivém por outros cômodos. O aparelho continua ligado
praticamente 24 horas por dia, observando e sendo observado, exibindo uma
infinidade de programação sem ininterrupção.

É dessa forma que está organizada a programação televisiva, uma série de


emissões divididas em blocos, chamados de programas, compartimentados em
grades de horário específicas e separados um do outro por emissões, visando
distinguir um produto do outro. Sabemos quando estamos assistindo a um
telejornal, ou a uma telenovela, da mesma forma que podemos identificar os
intervalos comerciais. Fazemos essas distinções das emissões porque, ao longo do
processo histórico formativo da televisão, pudemos compreender a função e os
principais aspectos dos programas que integram esse fluxo ininterrupto de
produção audiovisual.

Grosso modo, uma emissora leva ao ar, em grades de programação, diversos


produtos, catalogados de diferentes formas, e cada um tem a sua produção
individual, com regras próprias que obedecem às lógicas particulares. Porém todos
integram a programação televisiva, independentemente do seu gênero ou formato.
É sobre isso que abordaremos nesta unidade. De que forma conseguimos distinguir
uma emissão de outra? Como podemos identificar o formato de um programa de
auditório de um programa de cunho jornalísticos? Os gêneros e os formatos que
formam a televisão são os aspectos nos quais iremos nos aprofundar nas próximas
páginas, o que nos ajudará na compreensão dessa linguagem. Além disso, isso nos
capacitará a entender também as suas mudanças, por meio da aplicação desses
mesmos gêneros e formatos a partir de variadas visões.

Vamos lá?!

A programação televisiva

A pesquisadora Ana Maria Balogh define a televisão como “o resultado de um


complexo processo de evolução e entrelaçamento entre os campos da tecnologia,
das comunicações e das artes” (2002, p. 23). No Brasil, a televisão, como
sabemos, detém um importante marcador social. É por meio dela que as
informações chegam ao maior número de pessoas, alcançando grande parte do
território nacional. Além disso, é o principal meio de difusão de programas de
entretenimento a um custo reduzido. Tudo isso pode ser sintonizado a partir das
extensas emissões veiculadas pelas emissoras, ou seja, os produtos audiovisuais
divididos em blocos e chamados de programas, cada um identificado por meio de
uma categoria e um gênero. Para definir essas categorias, é necessário
compreender o processo formativo da televisão no Brasil.

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FIGURA 1 - O guia de programação televisivo


Fonte: RONPORTER / PIXABAY.

Para iniciarmos a discussão sobre a programação televisiva e como ela se


organiza, é necessário refletir inicialmente sobre esse fluxo de que falamos
anteriormente.

O guia de programação televisivo serve de mapeamento dos programas


disponíveis na grade de programação

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Aquilo que chamamos de linguagem televisiva – os símbolos próprios que


conferem significados únicos aos produtos veiculados a esse meio –, nada mais são
do que o resultado da junção de diversos outros elementos presentes em outros
meios. O cinema, como primeira fonte audiovisual, oferece uma gramática visual já
bastante complexa e ampla, que, ao desembocar na televisão, inicia, a partir da
aproximação, uma esquematização que dará margem ao desenvolvimento desse
veículo.

Porém outras fontes terão fundamental desempenho nesse processo, não apenas
aquelas que tenham relação direta com a imagem, estando ela em movimento ou
não. A literatura oferece diversos artifícios para o desenvolvimento da linguagem
televisiva. O principal deles pode ser encontrado a partir da linguagem ficcional
nas narrativas seriadas, derivadas principalmente dos folhetins. Há também a
intensa influência dos meios radiofônicos, estes já preservando aproximações com
outros meios de comunicação do mesmo modo. Todos esses encontros colaboram
para o desenvolvimento e a complexificação daquilo que podemos intitular de
linguagem televisiva, que tem na programação seu principal ponto de apoio.

É inegável a aproximação do meio com o ideal capitalista, aproximando-se do


mercado, o que pode gerar um entendimento sobre o “afastamento do processo
artístico”. Contudo, na realidade, não é isso o que ocorre. Justamente por ter um
ritmo produtivo industrial, necessário para preencher uma carga horária de 24
horas de programação, todos os dias da semana, a produção é acelerada. O
cuidado (que é a marca de outros meios, como o cinema, em que uma obra pode
levar alguns anos para ser finalizada, ou a literatura, em que o mesmo acontece) é
um processo que, na televisão, tem seu tempo reduzido, fazendo com que a
produção, à medida que vai acontecendo, já seja transmitida.

Nem todos os produtos seguem essa mesma lógica. Há obras formatadas para
esse veículo que eliminam determinados processos históricos, aproximando-se de
outras formas de produção, mas não são os mais comuns. Desse modo, a
velocidade é uma marca fundamental desse meio de comunicação. A aceleração
do tempo, seu ritmo e as formas de produção estão intimamente correlacionados
ao modelo de desenvolvimento do trabalho. Os formatos e os gêneros televisivos
surgem com o intuito de aproximação desse fator, em que o tempo é medido e
percebido como elemento fundamental.

Essa “deglutinação” de formas e formatos visando preencher toda a sua estrutura


marca a principal característica do modelo de programação desenvolvido por esse
meio. Sendo assim, a linguagem televisiva pode ser explicada como a
reconfiguração e aplicação de variados modelos narrativos, adaptados e
sistematizados para esse meio, que obedecem a limitações técnico-artísticas
específicas. Essas limitações vão desde formato e o tamanho da tela até as formas
de consumo.

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Esse encontro de variados modelos permite que a linguagem de TV se mantenha


sempre atualizada, conforme os padrões sociais vigentes, acompanhando as
discussões e inovações da tecnologia que favorecem os meios. Os formatos e os
gêneros desenvolvidos ao longo de sua programação e o próprio modelo de grade
estarão em conformidade com esses elementos. Ou seja, esse modelo está sempre
se reformulando, gerando novas perspectivas derivadas do desenvolvimento
social, acompanhando as renovações tecnológicas que favorecem a permanência e
a influência do meio, mesmo com a chegada de novos equipamentos e meios de
difusão audiovisual.

“Cada conquista tecnológica vai ampliando as possibilidades e o alcance do


veículo (videoteipe, satélite, switcher , computação gráfica). [...] Ou seja, cada
uma das estratégias de enunciação da TV remete a uma diacronia feita de
heranças múltiplas incorporadas de forma assimétrica pela televisão.”
(BALOGH, 2002, p. 24)

O desenvolvimento e a ampliação do acesso à internet, por exemplo, são


rapidamente absorvidos pelo meio televisivo, seja na forma com que os programas
de adéquam, utilizando as novas ferramentas (podemos citar como exemplo uma
temporada da telenovela juvenil "Malhação", que, em 1998, utilizava o chat on-line
ao vivo, aliando o programa com a interação dos internautas; citamos, ainda, o
portal interativo da emissora Rede Globo, fundando em 2000), seja na
concentração de produtos anteriormente exclusivos das emissoras, agora também
distribuídos nas plataformas digitais, como os canais de streaming .

É muito comum nos depararmos com afirmações que decretam o fim imediato de
um veículo comunicativo. Por exemplo, o surgimento do cinema alertou para o fim
de outras artes, o que não aconteceu. Do mesmo modo, o surgimento da televisão
e as próprias evoluções tecnológicas alardearam o fim do rádio e do jornal
impresso, o que também se mostrou irreal. Com a chegada e a popularização da
internet, em meados da década de 1990, o mesmo receio se instala em relação a
várias mídias, principalmente a televisiva.

Entretanto o que podemos notar é que o temível fim não acontece, ao menos não
da maneira como poderíamos esperar. As novas formas de consumo, ao invés de
extinguirem o formato imposto pela TV, criam maneiras inéditas de consumir seu
formato, expandindo o sentido já conhecido e explorado. Essa inovação, por
exemplo, liberta-nos da grade de horário fixo, fazendo com que o telespectador
possa assistir aos seus programas a qualquer momento. Porém algo curioso
acontece, fazendo com que o público já acostumado à descentração dessa
programação também retorne a esses hábitos tradicionais, mas renovando-os.

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Poderíamos citar o caso da segunda tela vista a partir do uso de celulares e tablets
conectados a redes sociais enquanto se assiste à programação de uma emissora
aberta. É a expansão da forma de consumo. Além disso, o que os canais de
streaming oferecem, por exemplo, é um novo modelo televisivo, adequando a uma
sociedade que detém outros meios tecnológicos e está inserida em outro ritmo de
consumo, mas podemos observar a centralidade da televisão. Um exemplo recente
é o sucesso da telenovela Pantanal, remake feito em 2022 pela TV Globo de uma
novela exibida em 1990 pela Rede Manchete. A obra foi amplamente consumida
por jovens, causando enorme sucesso nas redes sociais, o que mostra que, mesmo
atualmente, o sistema clássico de televisão continua imperando, porém as
renovações passam a ser aplicadas de modo que seja possível conciliar as
alternativas.

Essa correlação pode ser compreendida pelo conceito de televisualidades, que


busca explicitar as adequações dos meios tradicionais televisivos, em outras
plataformas. Além disso, no interior dos formatos, também são perceptíveis as
mudanças em decorrência dessas renovações e dos entrelaçamentos de
conteúdos. Por ser esse meio aglutinador, existe a tendência de que os formatos
passem a estar inseridos a partir da lógica já aplicada e conhecida da televisão. Ou
seja, mesmo com a chegada e a ampliação de conteúdos em plataformas digitais,
a maneira de consumo e produção ainda assim detém as marcas já tradicionais e
históricas do fluxo televisivo, inclusive em relação à configuração do espaço
ocupado pelo aparelho.

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Um importante elemento para estabelecer as relações sobre


programação e gêneros televisivos está correlacionada ao que pode ser
chamado de “estética do rompimento”, que, aliada ao ritmo acelerado,
concentra as principais especificações do formato televisivo. Há
constante interrupção do fluxo de programação para a exibição dos
programas publicitários (os chamados intervalos comerciais,
apresentados em blocos, diversos modelos narrativos ancorados por
um único gênero, o publicitário, acentuando a ligação da televisão com
os aspectos comerciais). Além disso, os programas são organizados em
blocos para a inserção do break comercial. Todas essas mudanças e
interrupções ajudam na criação de modelos próprios ao meio televisivo.
O ritmo acelerado e as constantes interrupções do fluxo imagético
marcam o principal modelo televisivo. Como veremos adiante, essas
marcam podem se modificar segundo a relação com a plataforma
disponível.

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Um importante e definidor elemento para discutirmos a programação televisiva e


seu fluxo está relacionado à recepção, ou seja, os telespectadores. A percepção
pode ser alterada por diversos elementos, dentre eles aspectos tecnológicos. A
chegada do VHS, por exemplo, na década de 1980, altera a percepção da
programação, já que, a partir desse momento, é possível gravar a programação e
pausar, gerando um tipo de fluxo antes disponível apenas aos realizadores. Outro
exemplo é a utilização do controle remoto, transformando o espectador de
passivo, que apenas recebe as imagens, para ativo, capaz de interromper o fluxo
de uma emissora indo em direção a outra.

Isso significa que as estratégias para lidar com essas novas demandas precisaram
ser atualizadas, sempre considerando o posicionamento do público nessa relação.
Além disso, a recepção é fundamental na construção da relação televisiva com as
práticas de mercado, já que a definição e a elaboração da programação têm forte
influência do público-alvo a que será destinado não apenas o programa, mas os
intervalos comerciais exibidos ao longo da programação, responsáveis pela
manutenção financeira das empresas. Está na recepção os elementos que
concentram os principais interesses em relação ao fluxo de programação. Do
mesmo modo, os gêneros e os formatos se especificam com base nesse elemento.

Refletir sobre a recepção em relação ao modelo televisual praticado na atualidade


nos dá um direcionamento com relação ao que definimos sobre televisualidades, já
que atualmente é possível consumir obras originalmente exibidas na televisão, por
outros meios. O público não está mais “refém” de uma grade fixa. Ainda que se
consuma – e muito – nesse formato, é possível também o consumo por outros
meios. As estratégias se alteram, mas partem do mesmo princípio: alcançar a
maior quantidade possível de espectadores.

Antes de avançarmos mais um pouco em nossa discussão, retornemos à


argumentação apresentada por Arlindo Machado. Em sua defesa sobre os aspectos
da linguagem televisiva, o autor critica acadêmicos que ignoram os diversos
elementos formativos desse meio, não hesitando em tachar o formato como
“menos sofisticado”. O autor então parte em defesa da televisão, defendendo a
necessidade da produção mais detalhada a partir dos programas, reestruturando-
os em seus respectivos gêneros e formatos. Desse modo, é possível estabelecer
padrões de análise que considerem ampliados aspectos e revelem a gramática
visual própria desse meio. Além disso, é preciso estar atento aos modelos
propriamente desenvolvidos pelo meio, por meio do processo histórico.

E como essa discussão nos afeta? Desenvolver um trabalho prático nesse meio
exige a reflexão crítica sobre o que se está sugerindo. Além disso, as proposições
e execuções de atividades na prática diária dos trabalhos em televisão nos exigem
o alinhamento do pensamento com o que se está em discussão. Compreender os
aspectos dessas relações de modo claro e amplo nos dá a oportunidade de
executar um trabalho alinhado às práticas bem estruturadas com relação à
linguagem e aos modos de funcionamento desse meio de comunicação.

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Até o momento, discutimos alguns elementos que definem o formato televisivo,


aquilo que podemos chamar de “linguagem de TV”. Entendemos que essa
linguagem obedece a um ritmo específico, mas sua relação pode ser encontrada a
partir da influência de outros elementos, como o cinema, a literatura, o teatro, o
rádio etc. Ou seja, a televisão é um meio aglutinador, responsável pela sua
produção em ritmo fabril, necessário para o preenchimento de 24 horas de
programação diária. Isso faz com que seja necessário contemplar variados
formatos e gêneros, que vão desde programas de entretenimento até programas
de cunho jornalístico-informativo. Esses gêneros, que veremos mais
detalhadamente ainda nesta unidade, nascem da necessidade de adaptabilidade
desse formato. A linguagem da televisão, apesar da grande influência de diversos
meios, tem características próprias, baseadas em suas especificações. Para
compreendermos melhor, vamos entender um pouco mais sobre o processo de
formação desse meio.

Breve histórico da televisão: princípios para


pensar a programação e gêneros

Antes mesmo dos primeiros aparelhos televisivos serem distribuídos e a primeira


transmissão acontecer oficialmente no início da década de 1950, a televisão já
povoava a imaginação da população brasileira, criando desde já um imaginário
coletivo em torno do novo meio de comunicação. Isso aconteceu em razão dos
vários anúncios distribuídos em jornais que ilustravam de forma simples a chegada
do produto, anunciado como um híbrido entre o cinema e o rádio. Um importante
personagem desse momento histórico é Assis Chateaubriand, o responsável por
trazer a tecnologia ao Brasil, ainda que de modo confuso, marcando a estreia da
primeira emissora da América Latina, a TV Tupi, em 18 de setembro de 1980, em
São Paulo.

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FIGURA 1 - Antes mesmo da chegada dos aparelhos televisivos, os anunciantes já


preparavam a imaginação da sociedade para o novo produto
Fonte: REIS JUNIOR, 2022, on-line .

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Nessa época, o sinal de transmissão não conseguia alcançar muito mais além do
que o próprio saguão de entrada do Diários Associados, onde pessoas se
aglomeravam para conhecer um pouco mais da novidade. Os primeiros anos são
marcado por experimentações e ampliações do sistema tecnológico e do modo de
produção. Afinal era uma nova linguagem a ser desenvolvida, e apenas um pouco
mais de uma década após seu surgimento é que os primeiros formatos e gêneros
começam a despontar de modo claro. As primeiras transmissões também são
marcadas por um certo apuro elitista. Nessa primeira transmissão, homens e
mulheres estão vestidos de modo elegante, e, do mesmo modo, a programação
exibia peças de teatro e óperas, ainda em busca de uma linguagem e um formato
específicos.

Esse momento histórico de implementação da nova tecnologia no Brasil já revela


as intenções de como o aparelho seria visto ao longo das décadas. Fica claro como
para Assis Chateaubriand, um dos empresários mais influentes do meio de
comunicação, a televisão poderia ser um instrumento poderoso. “A televisão era
uma 'máquina' capaz de influenciar a opinião pública e, ao mesmo tempo, uma
'máquina' que diminuía distâncias e possibilitava a exacerbação da imaginação
fantasiosa de um mundo provável e possível” (RIBEIRO; SACRAMENTO; ROXO,
2010, p. 19). Ou seja, essa nova tecnologia já era encarada como uma importante
fonte de poder.

A chegada da televisão é difundida de modo a apresentar ao público essa nova


tecnologia como um objeto a ser colocado em destaque na casa, já que seria por
meio de sua tela que todos poderiam ter a oportunidade não só de ouvir – como já
acontecia com o rádio –, mas também de ver imagens antes impossíveis de serem
consumidas no conforto do lar. Isso mostra como, desde os primórdios, a televisão
e sua programação já são inseridas como “parte da família”, inclusa na paisagem
natural do dia a dia. Essa intromissão dos aparelhos eletrônicos não era nenhuma
novidade, afinal o rádio, com sua programação, já ocupava essa posição, porém,
com essa nova tecnologia, novas formas de consumo de notícias e diversão
estariam sendo apresentadas.

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“(...) pensar na possibilidade imagética da TV é quase


que naturalmente visualizar a utopia como reino da
televisão, já que em nenhum meio massivo a
produção de ficções imaginativas via imagens é mais
expressiva. As imagens da TV constroem um
parâmetro identitário e, ao mesmo tempo, permitem
a produção da imaginação, que só se realiza naquilo
que se projeta como ficção, nas imagens. A televisão
transforma suas imagens numa função da imaginação
do público. Através das imagens, percebe-se não o
lugar onde se está, mas um espaço longínquo, o
alhures, que pela imaginação torna-se próximo, em
certa medida realizável. Olha-se o nenhures, ou seja,
o que é transmitido pela TV, um lugar que só existe
como imagem potencial para atingir o alhures (o lugar
onde gostaríamos de estar), que só se realiza com o
complemento da imaginação.” (RIBEIRO;
SACRAMENTO; ROXO, 2010, p. 23)

Um dos principais entendimentos em relação à televisão, que ela ocupa o espaço


central nas residências, é estimulado desde antes da comercialização ampla dos
aparelhos televisivos. Nas propagandas, antes mesmo da chegada de fato do
aparelho, já era estimulada a presença coletiva em meio ao ambiente doméstico. É
criado um espaço na imaginação do público, futuros telespectadores, para que
essa nova tecnologia ocupasse esse lugar de comunhão. A televisão já nasce e se
estabelece como uma experiência coletiva, nada diferente de outras relações, mas
com a diferença de que agora o que estaria em evidência seria a centralidade do
espaço doméstico, da presença mais íntima. Podemos correlacionar esse impacto
ao que acontece em relação à chegada dos microcomputadores de uso pessoal.

Desse modo, para pensar a programação e toda a configuração televisiva, é


preciso considerar, desde o seu surgimento, essa relação íntima e compartilhada.
Como veremos, essa relação não só influencia a maneira de consumir e de se
comportar diante desse meio como também produz gêneros e formatos específicos
baseados nessas relações. Como dito anteriormente, a recepção é um dos pilares
para se pensar a relação televisiva, com as demandas mercadológicas ou não.

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É datado ainda dos primórdios da consolidação do meio televisivo algumas


definições que nos ajudarão a compreender a sua linguagem, como os
enquadramentos. Inicialmente o formato da tela oval não permitia a completa
experiência de identificar todos os elementos dos cenários, além da personagem.
Soma-se a isso os desequilíbrios técnicos, proporcionando uma experiência de
consumo ainda muito escassa. Para driblar esses problemas, as soluções
encontradas a partir da experimentação (lembremos que essa fase é marcada pela
experimentação) podiam ser percebidas por meio dos enquadramentos em zoom e
de outras estratégias que permaneceram como marcas e linguagem até a
atualidade.

SAIBA MAIS

Sabemos que a telenovela é a marca principal do nosso audiovisual. É


impossível para nós não identificar personagens marcantes e até mesmo
situações que estão registradas no imaginário social. Essas produções têm
origens em diversos outros formatos e se configuram como o modelo mais
rentável de produção ficcional ainda na década de 1960. O Brasil,
principalmente a emissora TV Globo, é um dos maiores produtores do
formato, exportando para o mundo inteiro.

Pensando nisso, os pesquisadores em comunicação com foco nas


produções narrativas seriadas, principalmente telenovelas, Lucas Martins
Néia e Raphael Scire, em parceria com o Museu da Imagem e do Som
(MIS), lançaram o podcast "Isso só acontece em novela", recontando toda a
história dessas produções, com curiosidades e momentos relevantes. A
interação da dupla favorece a descoberta do conhecimento sobre o tema.

Link: https://culturaemcasa.com.br/video/isso-so-acontece-em-novela-anos-
90/

Ainda na primeira década os modelos do aparelho vão cada vez mais ganhando
nitidez, a medida que o novo invento se torna popular. Várias emissoras começam
a surgir, criando nos estados seus próprios programas, movimentando um novo
modelo de produção, ainda fortemente marcado pela experimentação, mas cada
vez mais rápido se consolidando. A medida que o aparelho ocupava mais
centralidade na vida da população, os profissionais dedicados a formatar essa
linguagem encontravam novas soluções. A partir dessa estabilização primeira, a
programação televisiva começa a ser formatada, formulando os gêneros e
especificidades que veremos ainda nesta unidade. Antes disso, que tal conhecer
um pouco mais desse percusso?

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Primeiras incursões sobre programação

Desde suas primeiras emissões, a televisão no Brasil pareceu buscar alcançar uma
margem de público considerada culta. Vamos conhecer um pouco mais sobre esse
assunto, no vídeo a seguir?

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Continuaremos nossa incursão sobre os padrões de programação televisiva


avançando um pouco no tempo, a fim de compreender com mais profundidade
outros aspectos.

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REFLITA

O aparelho televisivo chegou nos lares brasileiros e


gradualmente passou a substituir um hábito já
alicerçado em torno de outro aparelho, o rádio. A
divulgação da chegada da TV foi marcada por uma
intensa propaganda em revistas e até mesmo pelo
rádio, porém poucas pessoas puderam adquirir os
aparelhos em seus primeiros anos, em razão do
valor e por ser uma nova tecnologia entregue em
meio às desigualdades sociais que assolavam o
país. A chegada desse novo meio alterou as formas
de consumo em vários sentidos, mas o elemento
coletivo permaneceu. Inclusive era comum, em
cidades pequenas, a existência de apenas um
aparelho televisivo, disposto em praças públicas,
que funcionava como o meio de entretenimento
das pessoas. Nessa entoada, várias salas de
cinema perderam públicos, já que as telenovelas e
outras atrações passaram a ser mais chamativas
do que os filmes. É perceptível como os meios de
comunicação se instauram no país, sempre
revelando o seu caráter coletivo.

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A grade de programação está organizada segundo os hábitos das famílias


brasileiras, obedecendo seus horários e adaptando-se a uma rotina específica.
Como já vimos, a televisão é um aparelho de consumo coletivo. Desse modo, sua
organização também é estruturada para atingir de forma completa todos os
membros da família, considerando aqueles que trabalham fora e retornam para o
horário de almoço – o jornal exibido nesse horário sempre apresenta um panorama
de notícias mais leve e reportagens que podem ser apreciadas por todos os
membros da família. É comum encontrar a expressão “dona de casa” como
sinônimo do expectador ideal. Isso se deve a como a sociedade brasileira estava
organizada, principalmente na década de 1960, quando as mulheres ocupavam
menos posições de trabalho externo – situação que não permanece igual
atualmente, mas a consolidação da grade de programação ainda segue uma lógica
similar.

O modelo de grade

Como vimos, o videoteipe provoca uma revolução na linguagem televisiva,


possibilitando gravar programas para exibir em horários pré-programados,
abandonando a constante prática do ao vivo. Com isso, foi possível começar a
organizar a programação para cumprir uma grade planejada de programas,
estabelecendo horários e dias. Esse modelo, iniciado ainda na extinta TV Excelsior
e adotado em seguida pela TV Globo e todas as emissoras, garante não apenas a
fidelização do espectador, que, munido da segurança da programação,
estabelecerá uma relação mais próxima com o meio, mas também garante a
aproximação comercial necessária para a manutenção do modelo televisivo.

Pensando na temática sobre o modelo de grade, contextualizada até o momento, o


conteúdo do vídeo a seguir oferecerá um importante horizonte de aprendizados
dentro do que estamos estudando. Vamos assistir?

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Seguindo a partir do que foi apresentado no vídeo, podemos continuar


debruçando-nos sobre essa temática. Vamos lá?

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Esse modelo de organização das emissões provoca o surgimento e a adequação


dos programas exibidos de modo que se enquadrem nas solicitações propostas.
Como vimos, no período inicial da televisão no Brasil, marcada por uma forte
tendência à experimentação e descoberta das possibilidades tecnológicas, essa
forma organizativa ainda não era considerada. A partir do momento em que essa
estrutura preenche todas as emissoras, os programas passam a se adequar às
normas então vigentes, ocasionando a estruturação dos formatos e gêneros
televisivos fundados com base na interação dos elementos da grade televisiva.
Sobre os gêneros e formatos, veremos mais adiante as suas configurações e suas
principais atribuições.

Esse processo histórico ajuda a delimitar a formação dos consumidores, mostrando


que a evolução social está diretamente relacionada à estruturação e configuração
dos parâmetros televisivos. Atualmente, o modelo de grade de programação está
fixado à estrutura das emissoras clássicas, mas estas também se beneficiam dos
novos modelos de difusão. Essa descentralização oportuniza às empresas buscar
novos elementos para os seus programas, buscando novas oportunidades, aliando
o já conhecido com as práticas contemporâneas, evidenciando o poder da
televisão. Mesmo com a descentralização da grade de programação, ocasionando
novas formas de consumo, podemos perceber a colaboração desses dois
elementos.

A grade de programação dentro da estrutura televisiva captura o tempo e


condiciona-o conforme a estrutura social. É comum ouvirmos, ou até mesmo
falarmos, que a televisão é uma espécie de relógio, pois sabemos que já são
20h30 quando o Jornal Nacional entra no ar. Esse elemento temporal condiciona o
telespectador consumidor a estar em frente ao aparelho nos horários indicados,
garantindo também o fluxo mercadológico, ao acentuar as publicidades de acordo
com essa estrutura, como já enfatizamos.

A descentralização da grade de programação provoca justamente a alteração


dessa percepção do tempo. Atualmente é possível consumir um conteúdo
audiovisual seriado disponibilizado em uma plataforma digital em apenas algumas
horas, prática que levaria alguns meses em uma exibição clássica. Esse modo de
consumo altera as matrizes fundantes da estrutura televisiva, tanto em relação ao
espaço e ao tempo quanto em relação ao mercado, que precisa reestruturar os
modelos de participação conforme as inovações e modificações sugeridas a partir
dos novos modelos de consumo.

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“Além de mudanças em plataformas e modos de


exibição, o conteúdo condiz com um dos fatores da
mudança. Como ocorreu com a rádio após o advento
da televisão, os conteúdos tão difundidos no aparelho
sonoro passaram por uma reformulação a fim de dar
conta do mais novo meio de comunicação. Não é
preciso mencionar que o rádio não se extinguiu como
alguns anteriormente preconizavam, mas seus
conteúdos, como a leitura de folhetins, as famosas
novelas de rádio, foram introduzidos na televisão,
passando a ser inexistentes no aparelho. Dessa
forma, foi possível recriar uma nova identidade
voltada para música e esportes.” (LIMA, 2015, p. 35)

O que se pode concluir dessa afirmação, em relação às mudanças estruturais, é


que não podemos condenar ao fim o modelo de sucesso em que a televisão foi e
está ancorada, mas percebemos alterações em suas formas. Suas influências em
outras plataformas são pistas para se considerar o que estará disponível no futuro
desse veículo comunicativo e de entretenimento.

A relação de grade de programação e novas tecnologias de descentralização de


programação pode ser conferida por meio do exemplo dos programas exibidos pela
emissora brasileira TV Globo em seu canal linear e em sua plataforma de
streaming. É o caso da telenovela “Verdades Secretas II”, que teve estreia primeiro
na Globoplay, tendo seus capítulos disponibilizados em blocos semanais, a partir
de um determinado dia e horário da semana, liberado para o consumo. Porém a
versão a ser exibida no canal linear seguirá o modelo tradicional de grade, exibida
diariamente em um horário determinado.

O mesmo pode ser conferido em relação aos telejornais, que são exibidos seguindo
o modelo de programação linear diariamente em horários específicos, mas são
posteriormente disponibilizados nas plataformas de mídias digitais. Há ainda uma
relação inédita, a fragmentação desse conteúdo, de modo que seja ofertada a
possibilidade de o telespectador consumir apenas o bloco informativo a que tenha
interesse, sem que seja necessário o consumo do programa inteiro. Podemos
observar, a partir desse exemplo, o deslocamento da grade de programação, mas
ainda assim é possível percebê-la como um importante elemento centralizador das
emissões.

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Em relação à grade de programação, há ainda um elemento que chama a atenção:


é o caso da diferença entre uma programação generalista e uma restritiva. No
Brasil, a característica principal das emissoras regulares é justamente seu intuito
de atingir o maior número possível de espectadores. Para isso, a programação
busca se adequar ao máximo a modelos generalistas, agrupando em seus formatos
possibilidades abrangentes. Ainda que sigam regras de elaboração e configuração
das emissões, o intuito é sempre o máximo possível de audiência de diferentes
grupos. São as televisões generalistas.

Já as televisões com programação segmentada, muito mais comum nos canais a


cabo, ou nas emissoras de cunho religioso, buscam a construção e veiculação de
programas específicos para públicos que demandam essas temáticas. Dessa
forma, as emissões se organizam para buscar se adequar a uma temática ou um
modelo próprio, não buscando uma audiência massiva. Esse modelo também é
comum nas televisões europeias nas emissoras abertas. Essas diferenças ajudam
na compreensão de que a grade de programação está diretamente ligada e
corresponde a compreensão e moldura da identidade de uma emissora, a partir
dos seus programas.

A grade de programação, além de acomodar as emissões em blocos organizativos,


de modo a estabelecer uma conexão entre dias e horários, divide-se conforme as
faixas horárias, segmentando a programação matutina, vespertina, do horário
nobre e do horário noturno. As emissoras dispõem sua programação a partir dessa
divisão, transmitindo no horário nobre os programas de maior prestígio, ou seja,
aqueles que podem angariar a maior parcela de público, chamando a atenção do
mercado publicitário. Geralmente essa faixa é ocupada pelas telenovelas, o
produto audiovisual ficcional de maior relevância histórica da nossa televisão.

Gêneros e formatos

Os gêneros dos programas televisivos partem de definições similares em outros


meios artísticos, com a diferença de que essas expressões surgem a partir dos
encontros proporcionados pela configuração do sistema televisivo. Algumas
atribuições de gênero estão diretamente relacionadas a outros produtos e meios
diferentes, mas são reconfiguradas ao se deparar com o formato televiso. O
gênero, em televisão, abriga os espaços do formato, ou seja, uma emissão pode
ter o formato em que seja possível abrigar diferentes gêneros. Como exemplo,
podemos citar os programas de auditório, que misturam variados elementos,
trazendo especificidades tanto do jornalismo quanto do entretenimento, muitas
vezes ainda fazendo o acréscimo da dramaturgia.

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FIGURA 1 - Os programas de variedades, entre eles os culinários, são um dos


formatos que a programação televisiva nos oferece
Fonte: MOHAMED HASSAN / PIXABAY.

A importância do agrupamento das emissões em gêneros classificatórios pode


estar relacionada à necessidade humana de aproximação de elementos
semelhantes. Desse modo, familiarizados, a possibilidade de reconhecimento se
mostra mais tangível, facilitando o acesso a determinados meios. No campo da
comunicação, essas classificações podem ser entendidas como estratégias de
comunicabilidade.

“O estudo de gênero em um veículo de comunicação que utiliza as artes para o


próprio desenvolvimento aproxima a televisão dos elementos artísticos
utilizados na criação de um programa. Os roteiros ficcionais, vários advindos
de obras clássicas, e os programas que tentam aproxima-se do cinema ou do
teatro são exemplos do estreito relacionamento da TV com as artes –
literatura, artes plásticas, artes cênicas e música.” (SOUZA, 2004, p. 33)

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O pesquisador José Carlos Aronchi de Souza (2004) organiza a disposição dos


gêneros e formatos de programas televisivos brasileiros em cinco categorias
diferentes: entretenimento, informação, educação, publicidade e outros. O autor
chama a atenção para o fato de que, segundo o manual proposto pela emissora
BBC, todo programa televisivo deve entreter obrigatoriamente. Outra função é a
de informar, porém esta não seria obrigatória. Em cada uma dessas categorias o
autor elenca alguns formatos, como sugerido a seguir.

Clique no (+) para conhecer cada item:

Recurso Externo
Recurso é melhor visualizado no formato interativo

Essa divisão proposta pelo autor nos dá margem para compreender a


multiplicidade de temáticas e variações de formatos que a televisão consegue
abrigar sob a lógica da programação. A grade organiza todas as variações de
categorias, que, por sua vez, subdividem-se em gêneros que se organizam em
diferentes formatos. Como citamos, alguns desses formatos, como o programa de
variedades, por exemplo, apresenta diversas categorias em um mesmo programa,
mas na grade de programação está inserido a partir de uma lógica própria.

Alguns programas têm um formato criado por emissoras especializadas em criar


diferentes e criativos modelos que serão exportados para outras emissoras ao
redor do mundo. É o caso, por exemplo, dos reality shows e programas de
variedade. Essa produção em larga escala de modelos específicos de programas
encontra ressonância em um mundo globalizado. Um exemplo que podemos citar
como ilustração é o programa de calouros “The Voice” apresentado pela Rede
Globo em sua versão nacional, porém é comum encontrar outras versões de outros
países. Percebemos nesses modelos apenas algumas adequações, mas as
estruturas se mantêm semelhantes. Outro exemplo pode ser encontrado em nossa
produção teledramatúrgica; as telenovelas produzidas pela Rede Globo são
exportadas e fazem sucesso ao redor do mundo.

Um fator necessário de chamar a atenção em relação ao cruzamento da grade de


programação com os gêneros e formatos disponíveis na configuração televisiva é a
fórmula encontrada na TV brasileira, ancorando sua programação no gênero da
teledramaturgia. As telenovelas são os principais programas de nossa televisão,
exibidas no horário nobre, entremeadas de telejornais, configuração que provoca o
jogo de interesses entre realidade e ficção, muitas vezes transportando um sentido
de realidade aos dramas e vice-versa. Diferentes televisões têm diferentes
modelos de organização. No Brasil, esse modelo remete aos primeiros formatos
exibidos nos primórdios do meio, quando ainda se exibia uma programação
voltada às elites.

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Reflete também as influências de outros meios, principalmente do rádio, que,


anterior à chegada e ao domínio do aparelho televisivo como principal meio de
informação e diversão nos lares brasileiros, já ocupava essa posição, vindo dessa
forma de apreciação alguns elementos construtivos da programação televisiva,
como já visto anteriormente.

Apesar de não estar necessariamente inserida em um modelo de categoria ou


formato, é necessário refletir sobre a transmissão ao vivo. Sendo um elemento
restritivo à televisão, a transmissão em simultâneo abarcar possibilidades
diferentes daquelas conhecidas e trabalhadas até o surgimento do meio, pois o ao
vivo se manifesta por meio da difusão das imagens, podendo concentrar também
as emoções suscitadas pelo evento a ser demonstrado. Essa forma de exibição
pode estar mais relacionada aos programas jornalísticos ou esportivos, como a
exibição das partidas de futebol, que fazem parte da grade fixa das emissoras, ou
ainda a exibição em tempo real de grandes eventos esportivos. Podemos destacar
ainda a cobertura de eventos que mobilizam toda a sociedade, como o Carnaval e
as eleições.

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DICA

Os formatos televisivos são criações a partir do


processo histórico visualizado pela própria
indústria televisiva. Esses formatos obedecem a
determinações que variam conforme as
considerações históricas. Por exemplo, na Europa e
nos Estados Unidos, as telenovelas não são os
principais produtos audiovisuais disponíveis no
horário nobre. Isso acontece no Brasil e em outros
países da América Latina.

O pesquisador José Carlos Aronchi de Souza traça o


percurso histórico dos gêneros e formatos
televisivos de modo a recriar todo o processo de
criação desses formatos, disponível no livro
"Gêneros e formatos na televisão brasileira".
Recomendamos a leitura da introdução, na qual
são formulados todos os processos metodológicos
da pesquisa desenvolvida, além de disponibilizar
os caminhos para a compreensão do tema (páginas
recomendadas para leitura: 12 à 16).

Link para acesso do livro:


https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicaca
o/42289/epub/0?
code=bIXSiv/B7lvTxFXcuvJCzpPn7ThbyPtKqA8qCBx
+Y+zTLRShTr8jOxrViy+INJThqdpvFiyQVT9EjM0tNoa
EVQ==

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Como já visto, a televisão nasce do ao vivo, pois, até a década de 1960, o


videoteipe ainda não era realidade. À medida que a tecnologia é incorporada e as
configurações televisivas vão conformando-se, o ao vivo passa a garantir uma
autenticidade característica e exclusiva para o modelo televisivo. Há formatos,
como os programas de auditório, que emulam o ao vivo justamente por
compreender o valor do aspecto narrativo proporcionado, pois esse elemento
evoca o sentido de familiaridade que a televisão tem desde sua matriz.

Atualmente, com os avanços da internet e o fenômeno das duas telas e outras


formas de consumo televisivo, a característica do ao vivo passa a se estruturar de
modo distinto, mas ainda trazendo esses aspectos característicos. É possível e
comum, em variados modelos de programas, a interação em tempo real com os
telespectadores conectados por dispositivos móveis, comprovando a capacidade
da televisão de se adequar aos formatos tecnológicos disponíveis.

Considerações finais

Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

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Compreender os percalços históricos que culminaram na


consolidação da televisão no Brasil;
Vislumbrar os detalhes formativos dos atuais gêneros e
formatos televisivos;
Conhecer as lógicas de formação de uma grade de
programação.

Ao longo desta unidade, aprofundamo-nos em relação aos processos formativos e


às principais características da televisão, principalmente no Brasil. Entendemos
que o que sustenta uma televisão em termos de organização e espaço é a grade
de programação, lugar onde estão distribuídos de forma clara e organizada os
programas. Estes que, no que lhe concernem, organizam-se em gêneros e
formatos comuns a todas as emissoras. Esta unidade teve como principal objetivo
compreender profundamente essas duas questões fundamentais na relação
televisiva que será desenvolvida ao longo da disciplina.

Conhecendo brevemente sobre o processo histórico da chegada e implementação


da televisão no Brasil, podemos entender os caminhos que o formato galgou ao
longo de sua formação. Ainda na década de 1950, logo após a chegada da nova
tecnologia, o meio televisivo foi fortemente marcado por experimentações, tanto
no âmbito da linguagem quanto no âmbito da organização. Essas primeiras
incursões foram fundamentais para que, ao longo das décadas, com o aumento do
número de aparelhos e o crescimento do interesse da sociedade em geral, os
formatos e gêneros começassem a se estabelecer.

Nos primeiros anos, o teleteatro apresentado ao vivo por um único cenário era o
tipo de programa mais consumido, dependendo invariavelmente do acesso
tecnológico disponível. Com a chegada do videoteipe, os profissionais passaram a
ter maior liberdade criativa. Originou-se, a partir disso, a formulação da grade de
programação, primeiro, na emissora TV Excelsior e, depois, na recente TV Globo.
Com isso, podemos concluir que a tecnologia é um parâmetro fundamental de
implementação de mudanças na linguagem televisiva, culminando com as novas
formas de consumir TV em plataformas digitais e outros meios, que podem ser
entendidos como os fenômenos de segunda tela e das televisualidades.

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Podemos entender também que as renovações tecnológicas são um dos motivos


da criação e manutenção de novos formatos de programas, ou de adequações. Um
importante elemento nessa configuração está alicerçado na figura do
telespectador, fundamental ponto para entender de forma plena a maneira como a
televisão é configurada, afinal é justamente para o público que tudo é orquestrado.
O telespectador também se configura em público-alvo dos programas, conferindo
resultados para as apostas publicitárias. Desse modo, a grande estrela da
televisão são os seus telespectadores, a quem devemos sempre estar atentos.

Começamos assim a nossa trajetória pelos "labirintos" da televisão. Espero que


tenha sido uma boa "viagem"!

Agora que finalizamos este conteúdo, vamos testar seus conhecimentos


com o quiz a seguir.

QUIZ

A televisão no Brasil se estabelece no


início da década de 1950, ainda com
poucos aparelhos e uma grade de
programação marcada principalmente
pela experimentação de formas e
maneiras de apresentar os precários
programas. Sobre esse período
histórico, assinale a alternativa

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correta.

Os primeiros profissionais envolvidos no processo já


a
sabiam os meandros do novo formato.

Resposta Incorreta:
A resposta está incorreta. A chegada da televisão no
Brasil, apesar de já aguardada, não substituiu de
imediato os outros meios de comunicação, assim
como não fez com que os profissionais que já atuavam
em outros meios tivessem o know-how necessário –
daí ser marcada por experimentações, influenciando
os programas que foram desenvolvidos ao longo das
décadas.

Os primeiros programas apresentados não tiveram


b
relevância, pois não influenciaram a programação.

Resposta Incorreta:
A resposta está incorreta. A chegada da televisão no
Brasil, apesar de já aguardada, não substituiu de
imediato os outros meios de comunicação, assim
como não fez com que os profissionais que já atuavam
em outros meios tivessem o know-how necessário –
daí ser marcada por experimentações, influenciando
os programas que foram desenvolvidos ao longo das
décadas.

Os teleteatros eram os principais programas nos


c
primeiros anos de funcionamento da televisão.

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Resposta Correta:
A resposta está correta. Os teleteatros usavam os
aspectos técnicos disponíveis até então, como a
presença do ao vivo e o cenário único. Esses
programas foram os precedentes de outros formatos
ficcionais desenvolvidos ao longo das décadas.

A televisão, por substituir o rádio, atingiu


d
rapidamente toda a população do país.

Resposta Incorreta:
A resposta está incorreta. A chegada da televisão no
Brasil, apesar de já aguardada, não substituiu de
imediato os outros meios de comunicação, assim
como não fez com que os profissionais que já atuavam
em outros meios tivessem o know-how necessário –
daí ser marcada por experimentações, influenciando
os programas que foram desenvolvidos ao longo das
décadas.

A chegada da televisão foi vista como algo


e completamente fora do comum, já que não havia
preparação.

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Resposta Incorreta:
A resposta está incorreta. A chegada da televisão no
Brasil, apesar de já aguardada, não substituiu de
imediato os outros meios de comunicação, assim
como não fez com que os profissionais que já atuavam
em outros meios tivessem o know-how necessário –
daí ser marcada por experimentações, influenciando
os programas que foram desenvolvidos ao longo das
décadas.

São diversos os formatos, os gêneros


e as maneiras de conceber um
programa de televisão. Algumas
categorias até se confundem com
outras por causa da dinâmica de
espelhar um programa no outro e da
mistura de vários gêneros em um
mesmo formato. Sobre essas relações,
é correto afirmar que:

mesmo dividindo-se em gêneros, é impossível


a classificar todas as emissões, pois a programação é
complexa.

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Resposta Incorreta:
A resposta está incorreta. As categorias de gênero e
formatos abrangem toda a programação, mesmo
aqueles programas híbridos. A teledramaturgia ocupa
grande espaço em nossa grade televisiva, pois é um
dos principais formatos. Apesar de todos os
programas poderem proporcionar entretenimento,
nem todos são dispostos nessa categoria.

não é possível considerar a teledramaturgia um


b gênero televisivo, em razão da grande quantidade de
produtos.

Resposta Incorreta:
A resposta está incorreta. As categorias de gênero e
formatos abrangem toda a programação, mesmo
aqueles programas híbridos. A teledramaturgia ocupa
grande espaço em nossa grade televisiva, pois é um
dos principais formatos. Apesar de todos os
programas poderem proporcionar entretenimento,
nem todos são dispostos nessa categoria.

os formatos de programas de variedades e


c jornalísticos são as principais disposições e os
principais gêneros.

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Resposta Incorreta:
A resposta está incorreta. As categorias de gênero e
formatos abrangem toda a programação, mesmo
aqueles programas híbridos. A teledramaturgia ocupa
grande espaço em nossa grade televisiva, pois é um
dos principais formatos. Apesar de todos os
programas poderem proporcionar entretenimento,
nem todos são dispostos nessa categoria.

existe apenas um grande gênero, que é o


d
entretenimento, que pode ser misturado a outros.

Resposta Incorreta:
A resposta está incorreta. As categorias de gênero e
formatos abrangem toda a programação, mesmo
aqueles programas híbridos. A teledramaturgia ocupa
grande espaço em nossa grade televisiva, pois é um
dos principais formatos. Apesar de todos os
programas poderem proporcionar entretenimento,
nem todos são dispostos nessa categoria.

os gêneros televisivos podem ser divididos em cinco


e
categorias, cada uma apresentando subdivisões.

Resposta Correta:
A resposta está correta. Segundo o pesquisador José
Carlos Aronchi de Souza (2004), podemos dividir os
gêneros televisivos em cinco categorias diferentes:
entretenimento, informação, educação, publicidade e
outros. Cada uma delas têm diferentes gêneros.

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As emissões são organizadas em


forma de grade no meio televisivo.
Desse modo, as emissoras conseguem
distribuir seus programas de acordo
com regras específicas instituídas
pelas empresas. Com relação à grade
de programação, assinale a
alternativa correta.

Os filmes comerciais não precisam estar inseridos na


a
grade de programação; são inseridos livremente.

Resposta Incorreta:
A resposta está incorreta. A grade de programação
considera aspectos fundamentais para o seu
preenchimento, como público-alvo, influenciando a
disposição dos programas e as inserções comerciais.
Todas as emissoras precisam desse sistema, mas a TV
a cabo usa o modo diferente da TV aberta, fazendo
seus programas circularem de modo distinto.

As emissões não obedecem a padrões de relação


b
com o público; são sugestões aleatórias.

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Resposta Incorreta:
A resposta está incorreta. A grade de programação
considera aspectos fundamentais para o seu
preenchimento, como público-alvo, influenciando a
disposição dos programas e as inserções comerciais.
Todas as emissoras precisam desse sistema, mas a TV
a cabo usa o modo diferente da TV aberta, fazendo
seus programas circularem de modo distinto.

A grade de programação também é um importante


c
elemento de criação da identidade de uma emissora.

Resposta Correta:
A resposta está correta. É por meio da grade de
programação e distribuição dos programas que as
emissoras podem firmar a sua identidade específica.

Nem todas as emissoras têm grade de programação


d
de modo claro, sendo opcional.

Resposta Incorreta:
A resposta está incorreta. A grade de programação
considera aspectos fundamentais para o seu
preenchimento, como público-alvo, influenciando a
disposição dos programas e as inserções comerciais.
Todas as emissoras precisam desse sistema, mas a TV
a cabo usa o modo diferente da TV aberta, fazendo
seus programas circularem de modo distinto.

A estrutura de grade é similar para canais da rede

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e aberta e emissoras a cabo.

Resposta Incorreta:
A resposta está incorreta. A grade de programação
considera aspectos fundamentais para o seu
preenchimento, como público-alvo, influenciando a
disposição dos programas e as inserções comerciais.
Todas as emissoras precisam desse sistema, mas a TV
a cabo usa o modo diferente da TV aberta, fazendo
seus programas circularem de modo distinto.

Referências bibliográficas
BALOGH, A. M. O discurso ficcional na TV: sedução e sonhos em doses
homeopáticas. São Paulo: EDUSP, 2002.

ISSO SÓ acontece em novela – a telenovela dos anos 1990. [Locução de]: Lucas
Martins Néia e Raphael Scire. [S. l.]: Cultura em Casa, 2020. Podcast . Disponível
em: https://culturaemcasa.com.br/video/isso-so-acontece-em-novela-anos-90/.

LIMA, M. M de. A permanência da grade de programação na TV aberta. 2015.


Dissertação (Mestrado) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e
Semiótica, PUC-SP, São Paulo, 2015.

MACHADO, A. A televisão levada a sério. São Paulo: Senac, 2000.

MACHADO, A. Pode-se falar de gêneros na televisão? Revista FAMECOS, Porto


Alegre, v. 10, 1999.

REIS JUNIOR, D. Lançamento da Televisão (GE) - 1950. Propagandas históricas,


[c2022]. Disponível em:
https://www.propagandashistoricas.com.br/2013/04/lancamento-da-televisao-
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RIBEIRO, A. P. G.; SACRAMENTO, I.; ROXO, M. (org.). História da televisão no


Brasil. Rio de Janeiro: Contexto, 2010.

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SOUZA, J. C. A. de. Gêneros e formatos na televisão brasileira. São Paulo:


Summus, 2004.

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