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Apresentação

Este trabalho reflete a pesquisa realizada na cadeira de Civilizações Amirindias, que tem
como tema os Comanches. Quando falamos desse tema é necessário ter muita cautela pois é
um tema muito sensível, porque não só fala de uma determinada tribo (Comanche) mas de um
povo que viu seus direitos serem arrancados por estrangeiros e por fim viram os seus
costumes e valores banalizados por imposição de uma determinada civilização.

Nesse trabalho, pretende-se trazer vários aspectos deste povo, desde os seus hábitos e
costumes e acima de tudo o que este povo defendia. Usou-se a consulta bibliográfica para a
materialização do presente trabalho.

Não nos limitamos somente na vertente regional (onde todo esse processo de guerras e
revoluções aconteciam), Estados unidos da América, mas olharemos esse acontecimento
como um reflexo de vários outros que ocorreram em outras regiões como por exemplo o
continente africano.

Realmente há uma semelhança muito profunda no que diz respeito a penetração do


europeu e até a sua fixação nas regiões dos povos indígenas da América assim como em
África, onde aprior a questão da religião tomava a dianteira, através de um e outro acordo se
estabeleciam em algumas regiões, mas o egocentrismo do povo europeu sempre esteve
presente, principalmente quando um determinado povo não apresentava o mesmo tipo ou
nível de assimilação que eles, e talvez foi esse, um dos motivos que levou milhares de
indígenas a morrerem, não somente nas regiões de interesse dos ingleses mas também porque
eram considerados como povos incivilizados e animais que precisavam ser massacrados,
sendo escravidos e colocados a trabalhos forçados.

Assim sendo, desenhou-se um objeto geral e três específicos para o êxito do trabalho e
não só, também para sua maior compreensão: tem como o objectivo geral compreender
profundamente a tribo Comanche, seus hábitos e costumes e como objetivos eespecíficos,
analisar a as relações que tinham com o povo europeu, identificar as suas características,
comparar a atuação do povo do ocidente para este povo assim para com os africanos.
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Comanches

Na América e em particular a América do Norte, bem antes da ocupação dos europeus,


havia nessa região diversos povos que povoaram e desenvolveram suas actividades de
sobrevivência, tribos essas que apresentavam uma diversidade de características e
particularidades únicas entre si.

Karnal (2007), fundamenta a ideia da diversidade afirmando que centenas de tribos


indígenas habitavam a América do Norte até a chegada dos europeus. E no que diz respeito ao
povo Comanche, Flores, (2013) esclarece que Comanche é o nome de uma tribo indígena da
América do Norte. Grupos indígenas como oslgonquinos, assim como comanches e apaches
povoavam todo o território, do Atlântico até o Pacífico.

Logo percebe-se que a região da América tinha habitantes, assim como na África estes
povos estavam organizados em tribos, habitantes esses que já possuíam sua dinâmica de vida
e uma organização social e econômica. E existem vários relatos que explicam sobre a
penetração paulatina do povo europeu e sua relação com essas tribos em particular a tribo dos
Comanches.

Conforme Brown (1970), desde a viagem de exploração de Lewis e Clark a costa do


Pacífico no começo do século XIX, o número de relatos publicados que descrevem a
"abertura" do Oeste Americano se eleva a milhares.

De salientar que esse não foi um período tão apreciável para os indígenas índios, pois a
relação com o povo europeu tornou-se muito violenta, chegando a provocar mortes, e um
sentimento de defender o seu património e suas terras cresceu dentro dessas tribos o que
tornou todo esse processo mais violento. Brown sobre esse assunto esclarece que:

A maior concentração de experiência e observação registradas ocorreu no intervalo de 30


anos entre 1860 e 1890. Foi uma era de violência, cobiça, audácia, sentimentalismo,
exuberância mal orientada e de uma atitude quase reverente para com o ideal de liberdade
pessoal, por parte dos que já a possuíam. (Brown, 1970)

Brown caracteriza esse período como uma época em que a cultura e a civilização do
índio americano foram destruídas e é dessa época que vieram praticamente todos os grandes
mitos do Oeste Americano histórias de negociantes de peles, homens das montanhas, pilotos
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de vapores, mineiros, jogadores, pistoleiros, soldados da cavalaria, vaqueiros, prostitutas,


missionários, professores e colonizadores. ( Brown, 1970)

Existe uma semelhança muito profunda no modo de operação do povo ocidental para
com os indígenas da América do Norte tanto como para os africanos, a filosofia foi a mesma,
de domínio e apoderar-se das riquezas existentes, e foi assim também com a tribo Comanche,
que se viu obrigada e deixar suas terras.

Conforme Brown (1970), para os comanches, havia algo triste pelo fato do governo
forçá-los a deixar a caça ao búfalo pela agricultura. Os comanches haviam desenvolvido uma
economia agrícola no Texas, mas os brancos chegaram ali e tomaram suas terras, forçando-os
a caçar búfalos para sobreviver.

Mesmo sendo forçados a caçar búfalos como diz Dee Brown, chegou um período que até
isso também foi-lhes proibido, o que de alguma força aumentou o atrito que já possuíam com
o povo de pele branco, intensificando-se as dispostas por regiões e até o surgimento de
profundas guerras. E como qualquer povo que luta para defender os seus interesses não foi
diferente com a tribo comanche quando se via sendo proibida de usufruir da sua fonte de
sobrevivência, houve a necessidade de lutar pelas áreas de búfalos.

Brown, (1970) afirma que os comanches, estavam constantemente em marcha e


divididos em muitos grupos pequenos, não tinham a liderança de seus aliados. mestiço
Quanah Parker, que levaria os comanches a uma grande e última luta para salvar sua área de
búfalos.

Ideologia como uma das formas para dominar o povo Comanche

Fazendo uma análise comparativa da ideologia que os colonos tinham para com os povos
africanos e para com os índios (povos indígenas), na verdade, o ponto de vista dos mesmos
para o povo africano não difere muito sobre os indígenas americanos, por mais que variassem,
quase sempre foram negativos.

É por isso que Karnal et al, citando um dos mais antigos relatos sobre eles, de 1628, de
autoria de Jonas Michaëlius, diz que:

Quanto aos nativos deste país, encontro-os totalmente selvagens e primitivos, alheiosa toda decência;
mais ainda, incivilizados e estúpidos, como estacas de jardim, espertosem todas as perversidades e
ímpios, homens endemoniados que não servem a ninguém senão o diabo [...]. É difícil dizer como se
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pode guiar a esta gente overdadeiro conhecimento de Deus e de seu mediador Jesus Cristo. (Karnal et
al, 2007, p. 59)

Como sempre, a ideologia europeia tem caráter egocêntrico, pois sempre exalta sua
cultura e civilização, e é exatamente esse pensamento que Jonas Michaëlius carregava, porque
como índios não tinham ums cultura semelhante a da Europa ele os considerava incivilizados.

Jonas entendia apenas que haviam dois grupos, os civilizados, aqueles que apresentavam
ou adoptassem a civilização europeia como a sua e o outro grupo dos incivilizados que não
tinham marcas da civilização ocidental, e claramente que esses últimos eram caracterizados
como um povo desprezível.

E outra questão muito importante e similar da ideologia que foi usada para explorar e
ocupar os territórios africanos foi a mesma para os povos indios, pelo que Karnal argumenta:

Karnal et al, (2007, p.59) argumenta que a ocupação das terras indígenas por parte dos
colonos baseava-se em argumentos de ordem teológica. Os peregrinos haviam se identificado
com o povo eleito que Deus conduzia a uma terra prometida.

Karnal (2007) refere que John Cotton, pastor puritano, fez vários sermões nos quais
destacou a semelhança entre a nação inglesa e a luta pela terra prometida descrita no Antigo
Testamento, dizendo que tal como Deus dera força a Josué (na Bíblia) para expulsar os
habitantes da terra prometida, eles acreditavam no seu direito de expulsar os que habitavam a
sua Canaã.

Isso mostra claramente que a religião, em particular a cristã, sempre foi usada pelo
ocidente como escudo para as suas pretensões maliciosas, pois partindo do pressuposto que as
pessoas são escravas das suas crenças, claramente que a fé sempre guiará quem nela acredita,
usando essa ideologia com facilidade seria fácil manipular e recrutar muita gente para
engajar-se nesse tipo de conflitos mesmo não sabendo as reais intenções políticas de quem
defende o tal conflito.

Mas mesmo com a conversão de alguns indios, e a criação de instituições de estudos


oara cristianizar o índio, as pretensões do povo europeu sempre estiveram acima de tudo,pelo
que essa questão não levou muito tempo até que os europeus começaram a manifestar suas
reais ideologias.

Entende Karnal et al (2007, p. 62), que a idéia de predestinação, o ideal de empresa, tudo
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colaborou para enfraquecer a mestiçagem e a catequese dos índios. O mundo inglês


conviveria com o índio, mas sem amálgama.

Resistência contra o domínio Inglês

A opressão cria o espírito de rebeldia e a vontade de lutar para a liberdade, e somente


quem pode lutar para a liberdade é aquele que já provou o seu poder. Como já referenciamos
no princípio o povo Comanche tinha essa liberdade e o direito de uso de suas terras, e vendo
que a sua base de sobrevivência estava sendo ameaçada eles posicionaram-se para lutar.

De várias formas os índios resistiram à violência da colonização. Uma maneira comum


era fugir para o interior, estratégia que seria utilizada até o século XIX. Outra era reagir com
violência à invasão.

Como diz Gomes, (2013, p. 6), nem todas astribos aceitaram essas medidas impostas,o
que deu origem a conflitos e iniciaram-se as “guerras indígenas”, como é caso da tribo
comanche.

Os comanches lutaram até ao fim para defender a sua liberdade e evitar que suas terras
planícies que eram o sustento de suas famílias lhes fossem retiradasem detrimento do
progresso económico.

O povo Comanche era pacífico assim como o povo africano, é claro que batalhas entre
tribos não faltavam pois era uma das formas de fazer crescer o seu nome e honra no meio do
seu povo, mas mesmo assim vivia em harmonia e não submetiam so seu semelhante a torturas
ou deixá-lo morrer a fome por levar toda sua terra, e por ser povo pacífico figiram para o
interior e com a intensificação da perseguição teve que se posicionar para defender-se.

Para De Oliveira (2007) diz vez estando os índios Comanches equipados com arco e
flechas, armas bem adaptadas ao uso sobre o cavalo, somente com a introdução do Colt e da
Winchester é que os “Rangers”69 puderam fazer frente aos povos nativos das Planícies.

Os militares americanos encontraram grande dificuldade em subjugar os indígenas.


Dotados de um amplo conhecimento do terreno, os índios faziam ataques relâmpago sobre
cavalos, desaparecendo logo em seguida.

Conforme De Oliveira, (2007, p. 31), essa tribo possuia habilidades na construção e uso
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de canoas de casca de árvore como veículo de guerra. E nao só, esses indígenas dominavam o
arco e flechas,e eram conhecidos como povos nativos das Planícies.

Como já dissemos anteriormente, esse povo praticava a agricultura, isso pode explicar a
sua localização geográfica ou preferência em habitar em zonas um pouco mais baixas que são
as planícies, zonas essaa que foi-lhes proibida de habitar.

Os comanches obtiveram cavalos dos espanhóis no século XVII e tornaram-se hábeis criadores de
equinos. Usavam os animais para caçar bisões, sua principal fonte de alimentação, da qual ainda
retiravam o couro para fazer roupas e coberturas para suas tendas. Os Comanches lutaram bravamente
contra o Domínio dos Brancos, mas as inovações tecnológicas e as caçadas de búfalo afetaram os
índios, pois essa era a principal fonte de comida e vestimenta para eles. (DE OLIVEIRA, 2007, p. 31).

Os Comanches dominavam a área das grandes planícies e era comum realizarem


campanhas contra os Colonizadores Norte-Americanos, o que envolvia Sequestros e Escalpos
Os comanchess eram os guerreiros mais ferozes e bem-sucedidos, chegando a ser conhecidos
como “Lordes das Planícies”.

Porém, quakers, menonitas, católicos e puritanos ocupavam de igual modo as terras que
foram, originalmente, dos índios. A longa “trilha de lágrimas” indígena continuaria durante
todo o período colonial e seria até intensificada com a expansão para o Oeste no século XIX.

Durante as viagens, os comanches difundiram o uso de cavalos em outras tribos. No


início do século XVIII, tinham se tornado uma tribo poderosa. Em meados do século XIX, o
ramo sulino dos comanches estava estabelecido em uma reserva do Território Indígena.

Flores, (2013, p.40) apud Mello os (2010, p. 67) diz que os comanches não são apenas a
soma de pessoas, de indivíduos delimitados, mas das conexões que estabelecem, ou seja, “o
que elas têm a oferecer” à tribo, e dos “encontros que podem aumentar ou diminuir a potência
de ambos

Acrescentando Flores (2013, p.40), diz que os indios comancheiros são aqueles que se
associam ao grupo, impulsionando seu desenvolvimento e perpetuação seja desfilando, ou
com ajuda financeira, ou na confecção de fantasias, alegorias, dança e música.

Essa associação também tem implicações para o sujeito que se associa: torna-se índio
comancheiro e, com isso, rival da tribo inimiga. Os Comanches se tornaram os cavaleiros
mais experientes de toda a planície ao demonstrar uma enorme habilidade com Arco e Lanças.
Sua População cresceu graças as Grandes reservas de Búfalos, que caçavam com seus
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cavalos.

Segundo De oliveira, (2007, p. 3), durante este período sua população aumentou
dramaticamente, devido à abundância de Búfalos, ao influxo de migrantes Shoshones, e da
adoção de números significativos de mulheres e crianças capturadas de grupos rivais.

Ainda assim, os Comanches nunca formaram uma unidade tribal única e coesa; sempre
estiveram divididos em cerca de doze grupos autônomos. Estes grupos partilhavam a mesma
língua e cultura, porém lutavam entre si com quase a mesma frequência com que colaboravam
uns com os outros.

Os Comanches contavam com enormes manadas de cavalos compostas por animais


capturados no estado selvagem e também obtidos em crias, entre os quais os malhados eram
particularmente apreciados.

Os Comanches podem ter sido o primeiro grupo de nativos das Grandes Planícies a
incorporaram por completo o cavalo à sua cultura, e a introduzir o animal aos outros povos da
região. Ainda que estabelecessem vários tratados com a República do Texas, os Estados
Unidos e os Estados Confederados, os Comanches não conseguiram evitar que os Colonos
ocupassem seus territórios, o que gerou novos conflitos.

Liderança Comanche - Quanah Parker - (1890)

Liderança Comanche Pouco a pouco os Comanches foram Exterminados através de


Doenças e por Ações Militares, o que acabou Confinando seu Povo em Pequenas Reservas.

Durante a Guerra Civil, quando os Rangers saíram para lutar pelos Estados
Confederados, os Comanches recuaram a Fronteira Americana e os assentamentos dos
brancos em mais de 150 km.

Mesmo depois que os Rangers voltaram e o Exército Americano se uniu às campanhas


contra os Comanches, o Texas perdeu uma média de 200 colonos por ano até a Guerra do Rio
Vermelho em 1874, quando o exército com toda a sua força, além da destruição dos grandes
rebanhos de búfalos dos quais os comanches dependiam, pôs fim às depredações.

Os Comanches complementavam seus números com Jovens Americanos e Mexicanos


capturados, que se tornavam integralmente membros da tribo se tivessem potencial para a
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guerra e fossem capazes de sobreviver aos ritos de iniciação.

Os Prisioneiros mais fracos podiam ser vendidos a Comerciantes Mexicanos como


escravos, porém geralmente eram mortos. Mas apesar da Crueldade, alguns dos jovens
capturados que mais tarde eram resgatados se viam incapazes de se adaptar à vida “civilizada”
dos colonos e fugiam para se reunir aos seus irmãos.

No entender de Gomes (2013, p.5), o genocídio dos índios foi um processo controlado e
impulsionado pelo governo dos Estados Unidos, recusando-se a assimilar qualquer conceito
diverso de seus paradigmas e cultura e a acatar outros saberes.

As políticas expansionistas tiveram o apoio declarado dos setores que deslumbravam a


possibilidade de lucros com o extermínio generalizado dos índios e sua substituição por áreas
integradas ao sistema de comércio, oque renderia dividendos a banqueiros, industriais das
ferrovias, implementos agrícolas e outros capitalistas. (GOMES 2013, p.5)
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Considerações

Essa ideologia da imposição de uma cultura dita “superior” a compreender que uma
cultura majoritária, no exercício do poder político, ao impingir às minorias sua forma de vida,
nega aos cidadãos de origem cultural diversa uma efetiva igualdade de direitos, e o direito,
por intervir em questões éticopolíticas, toca a integridade das formas de vida dentro das quais
está enfronhada a configuração pessoal de cada vida, pois os cidadãos não são indivíduos
abstratos, amputados de suas relações de origem.

A própria Revolução Industrial e as tecnologias nela produzidas tiveram papel central no


avanço rumo a Oeste. O arame farpado, as ferrovias e, sobretudo, o Colt usado pelos
“Rangers” são exemplos dos novos avanços tecnológicos essenciais à efetiva ocupação das
“grandes Planícies”.

Referências bibliográficas
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DE OLIVEIRA, Ricardo Batista, Povos indÍgenas e ampliação dos domÍnios coloniais:


resistência e associação no Vale do Rio Doce e Zona da Mata, séculos ,XVIII e XXI, 2009

FLORES, Luiza Dias, Os comanches e o prenúncio da Guerra: Um estudo etnográfico


com uma Tribo Carnavalesca de Porto Alegre, Rio de Janeiro. 2013

BROWN, Dee: Enterrem meu Coração na Curva do Rio. 1970

GOMES, Maria José De Sousa: O Genocídio dos Índios Nativos Norte Americanos, Rio
de Janeironeiro, 2013

KARNAL, Leandro, et al: História dos Estados Unidos das Origens ao século XXI , São
Paulo, 2007.

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