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Resumo: Este estudo tem como objetivo analisar as relações entre a Base Nacional Comum
Curricular e as novas Diretrizes para a formação inicial e continuada de professores da
Educação Básica - BNC da Formação de Professores, assim como os impactos daí decorrentes
sobre a formação e o trabalho docente. A pesquisa, de abordagem qualitativa, desenvolveu um
diálogo teórico e metodológico embasado em estudos do campo das políticas educacionais, do
currículo, da formação de professores e do trabalho docente. Nota-se que a consolidação dessas
políticas de uniformização e padronização curricular dissemina sentidos e significados na
constituição dos modos de ser, estar e agir dos docentes - a fabricação de uma determinada
docência.
1
O trabalho conta com financiamento da FAPERGS e do CNPq.
2
Universidade Federal de Pelotas (silva.simonegon@gmail.com )
3
Universidade Federal de Pelotas ( alvaro.hypolito@gmail.com )
INTRODUÇÃO
Este texto discute alguns efeitos do processo de produção da base
nacional comum curricular (BNCC) e das novas diretrizes para a formação
inicial e continuada de professores da educação básica - BNC da formação de
professores sobre a formação e a constituição do trabalho docente. A análise
aqui pretendida não tem como ênfase os conteúdos e objetivos definidos,
determinados e legitimados para o ensino e para a aprendizagem na educação
básica, presentes nos documentos que estabelecem tais bases curriculares.
Nossa inquietação está em compreender como o processo de padronização e
uniformização, típico de uma proposta de base comum curricular, pode afetar a
formação, a atuação docente e as relações com o próprio trabalho.
Tal modelo administrativo implica em que o Estado não deve ser o único
responsável pela execução das políticas sociais, ao reforçar a participação dos
diversos segmentos da sociedade, por meio da privatização, ao repassar o
patrimônio público para o mercado ou, ao estimular as parcerias público-
privado, transferir muitas das suas responsabilidades para organizações da
sociedade civil. A sociedade civil passa a ser representada pelo setor público
não-estatal, pelas organizações não-governamentais, pelas instituições
filantrópicas e comunitárias, agências internacionais e outras associações
similares na resolução de problemas da sociedade, tendo um setor estatal com
forma de gerir menos regulatória e centralizada. Esse processo pode ser
entendido como governamentalização do Estado, uma forma de governo a
distância, em que os sujeitos são convocados como responsáveis para governar,
em que é necessário governar menos para governar mais4.
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Ball (1993) recusa a ideia de implementação de políticas e trabalha com a noção de recontextualização das
políticas, com a qual concordamos. Neste texto, porém, por vezes utilizamos a palavra implementação por
estar muito presente nos documentos oficiais. Por isso, é necessário demarcar que em alguns momentos a
utilização dessa expressão é empregada, não no sentido analítico, mas como forma de nomear as práticas do
governo em relação às reformas.
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No contexto das reformas, a expressão “atores” tem sido utilizada de forma muito dissimulada e pode
significar muitas coisas (grupos, corporações, think tanks, grupos de interesse…), e assim pode camuflar e
ocultar relações e interesses mercadológicos, do tipo parcerias público-privadas, por exemplo, estabelecendo
uma confusão entre o que é sociedade civil, agente público e privado. De fato, são agentes muito bem
posicionados para fazer lobbies e formular políticas direcionadas a agenda educacional de mercado e
conservadora.
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Estudo lançado pelo Movimento pela Base, em 19 de junho de 2020, com o objetivo de mapear as
atividades educacionais, indica que a BNCC tem sido o documento referência para o planejamento, e tem
como objetivo o monitoramento da implementação da BNCC e reforça a importância de seguir com o
processo de implementação dos currículos à ela alinhados.
8
Informação disponível em
<https://fundacaolemann.org.br/noticias/pelofuturoagora-nosso-compromisso-com-a-educacao> . Acesso
em 20 junho de 2022
9
Informação disponível em: <https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/05/27/google-investe-r-3-
mi-para-adaptar-aulas-para-criancas-em-confinamento.htm>. Acesso em 20 de junho de 2022.
10
Informação disponível em: <https://fundacaolemann.org.br/noticias/parceria-foca-em-tecnologias-para-
bncc> Acesso em 20 de junho de 2022.
11
Informação disponível em: <https://www.imaginablefutures.com/learnings/1-million-commitment-
emergency-relief-funding-learners-brazil/> Acesso em 20 de junho de 2022.
12
Informação disponível em: <https://fundacaolemann.org.br/noticias/ferramentas-e-acoes-para-fortalecer-a-
aprendizagem-remota> Acesso em 20 de junho de 2022.
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Isso fica evidente nas proposições de Ensino Híbrido. Ver BACICH; TANZI NETO; TREVISANI,
(2015).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O texto teve como intuito discutir a padronização curricular e as
implicações na constituição da identidade profissional docente no contexto das
reformas curriculares de Formação Docente e da Educação Básica. Para isso,
questionamos a proposta atual de formação de professores que está vinculada a
políticas neoliberais para atender as demandas da sociedade da aprendizagem.
REFERÊNCIAS
APPLE, Michael. A política do conhecimento oficial: faz sentido a ideia de um
currículo nacional? In: MOREIRA, Antonio e TADEU Tomaz (Orgs.).
Currículo, cultura e sociedade. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2011. p. 71-106.
BIESTA, Gert. Why “what works” won’t work: Evidence-based practice and the
democratic deficit in educational research. Educational Theory, v. 57, n.1, p.1-
22, 2007.
s=135951-rcp002-19&category_slug=dezembro-2019-pdf&Itemid=30192.
Acesso em março de 2022
https://www.googleadservices.com/pagead/aclk?sa=L&ai=DChcSEwii4LPj2p74A
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AE. Acesso em maio de 2022.