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CRÔNICA 1
FERNANDO
2
MÃE DE FERNANDO
Filho, seu pai vai te levar. Vou confiar em você, mas vou te
buscar cedo como combinamos.
RAFAEL
Trouxe o bagulho?
FERNANDO
Trouxe.
RAFAEL
Vem cá.
RAFAEL
(Suspirando) Cara, a vida tá pesada, né?
FERNANDO
Pesada é pouco, Rafa. Eu sinto como se estivesse carregando o
mundo nas minhas costas. Essa merda de droga tá destruindo
tudo.
RAFAEL
Relaxa, mano. Vamos aproveitar o momento, só para matar a
saudade. Não é como se fossemos fazer nada demais, só curtir
um pouco.
FERNANDO
Po cara, trouxe o bagulho pra você não tenho nada a ver com
isso. Qual é a sua em? to falando que sofri pra caramba nesses
últimos meses, você nem se importa comigo. Se você ligasse não
teria jogado minha vida nessa vala que você chegou bem antes
de mim. Tenho que voltar cedo, minha mãe que vai me buscar.
RAFAEL
Você confia em mim, né? Eu sei que a gente já teve problemas
no passado, mas eu não vou te influenciar negativamente,
prometo.
FERNANDO
Sabe, às vezes eu me pergunto como seria se a gente nunca
tivesse experimentado essa porcaria. Como que seria minha
vida? Antes, eu queria ser um artista, um pintor talentoso.
Agora, tudo o que eu consigo fazer é rabiscar uns desenhos sem
sentido quando tô chapado.
RAFAEL
Eu sonhava em ser um músico, tocar guitarra em uma banda de
verdade. Mas agora, a única melodia que ouço é um barulho
constante no fundo do ouvido.
RAFAEL
Olha, eu entendo a sua luta, mano. Mas pense nisso como uma
despedida. A última vez que iremos fazer isso. Depois, nunca
mais. Apenas uma vez mais.
FERNANDO
Tudo bem, Rafa. Uma última vez. Mas, por favor, prometa que
será a última. Não quero me perder de novo.
RAFAEL
Essa é a dualidade da nossa vida, meu amigo. O prazer e a dor,
a liberdade e a prisão.