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EXT. CACHOEIRA DO ARVOREDO - DIA

Um grupo de jovens, homens e mulheres, com os cabelos molhados


e o sol batendo em seus rostos deixando-os levemente dourados.
Eles se olham após uma crise de riso, o sentimento é de
leveza. A câmera passa por cada um deles.

WIDE SHOT. elemento complementar: toalhas espalhadas.

Todos de costas, sentados, um deles sai correndo e pula na


água, alguns deles acompanham a ação e outros não.

CÂMERA MOSTRANDO PROXIMIDADE. várias cenas improvisadas deles


se divertindo.
o take para em um jovem rindo muito. Ele é Fernando.

CRÔNICA 1
FERNANDO
2

INT. QUARTO DE FERNANDO - NOITE


Fernando está sentado com cara de sério/triste. Tentando se
concentrar. Sua mãe abre a porta do seu quarto. E ele olha
instantaneamente, mas a câmera continua nele.

MÃE DE FERNANDO
Filho, seu pai vai te levar. Vou confiar em você, mas vou te
buscar cedo como combinamos.

Ele acena com a cabeça e a porta faz barulho de fechar.

CÂMERA MOSTRANDO FERNANDO PELA VISÃO DO PRÉDIO AO LADO.


(ESCRITÓRIO DO TIO PAULO)

Fernando pega algo que parece estar escondido e sai do quarto.


INT. SALÃO DE FESTAS - NOITE
3

Fernando chega na festa e cumprimenta seus amigos, ao fundo


pessoas bebendo, conversando, e soltando fumaça.

Um menino, aparentemente um pouco mais velho, cumprimenta ele.

RAFAEL
Trouxe o bagulho?

FERNANDO
Trouxe.

RAFAEL
Vem cá.

Fernando segue Rafael.

INT. CARRO ESTACIONADO NA GARAGEM - NOITE


4

Os dois estão sentados nos bancos da frente do Accord bege.

RAFAEL
(Suspirando) Cara, a vida tá pesada, né?

FERNANDO
Pesada é pouco, Rafa. Eu sinto como se estivesse carregando o
mundo nas minhas costas. Essa merda de droga tá destruindo
tudo.

Rafael mexe insistentemente em algo com as mãos, dando a


entender que está preparando algo para utilizar.

RAFAEL
Relaxa, mano. Vamos aproveitar o momento, só para matar a
saudade. Não é como se fossemos fazer nada demais, só curtir
um pouco.

Fernando ignora o que ele diz. Não olha para o rosto de


Rafael.
FERNANDO
Cê sabe né? A clínica que fiquei internado era em um lugar
lindo, cercado de natureza, afastado da cidade, mas a vivência
era foda, saber que mesmo em um lugar onde o ar é mais leve,
os proprios funcionários me xingavam, já me bateram, eles
queriam me deixar mais mal pra arrancar dinheiro da minha mãe.
E eu não podia fazer nada.

Fernando enfim olha visivelmente desconfortável para o rosto


de Rafael.

FERNANDO
Po cara, trouxe o bagulho pra você não tenho nada a ver com
isso. Qual é a sua em? to falando que sofri pra caramba nesses
últimos meses, você nem se importa comigo. Se você ligasse não
teria jogado minha vida nessa vala que você chegou bem antes
de mim. Tenho que voltar cedo, minha mãe que vai me buscar.

Rafael olha no fundo dos olhos de Fernando.

RAFAEL
Você confia em mim, né? Eu sei que a gente já teve problemas
no passado, mas eu não vou te influenciar negativamente,
prometo.

FERNANDO
Sabe, às vezes eu me pergunto como seria se a gente nunca
tivesse experimentado essa porcaria. Como que seria minha
vida? Antes, eu queria ser um artista, um pintor talentoso.
Agora, tudo o que eu consigo fazer é rabiscar uns desenhos sem
sentido quando tô chapado.

Rafael da uma risadinha, se identificando

RAFAEL
Eu sonhava em ser um músico, tocar guitarra em uma banda de
verdade. Mas agora, a única melodia que ouço é um barulho
constante no fundo do ouvido.

Fernando sorri e olha para Rafael, mas logo volta a expressão


séria.
FERNANDO
Odeio essa sensação, mas não consigo me livrar disso. É a
mistura de medo e desejo. É como se odiasse cada dose que
tomo, mas ao mesmo tempo, não consigo resistir.

RAFAEL
Olha, eu entendo a sua luta, mano. Mas pense nisso como uma
despedida. A última vez que iremos fazer isso. Depois, nunca
mais. Apenas uma vez mais.

FERNANDO
Tudo bem, Rafa. Uma última vez. Mas, por favor, prometa que
será a última. Não quero me perder de novo.

Rindo, mas com um toque de tristeza

RAFAEL
Essa é a dualidade da nossa vida, meu amigo. O prazer e a dor,
a liberdade e a prisão.

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