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Quando ensinamos a criança a "pedir", esta passa a ter maior controle sobre seu
ambiente, além de que permite outros indivíduos a ter mais acesso aos desejos e
necessidades da criança. A criança também estará muito mais motivada a se comportar
(usar o sistema PECS) para receber algo que ela deseja (tangível), do que para receber
aprovação (consequências sociais arbitrárias).
O sistema PECS tem como uma de suas principais características o uso de materiais
simples e de baixo custo, além de ser um sistema portátil, podendo ser usado por
indivíduos em variadas situações e ambientes (e.g., em casa, na escola, etc.). Os
materiais incluem basicamente um fichário, usado como prancha de comunicação, e as
figuras, que podem ser improvisadas, desde que sejam similares aos objetos que
representam (fotos também podem ser usadas). As figuras mais frequentemente
usadas são os símbolos de comunicação Mayer-Johnson (1981, 1985, 1990). As
figuras são plastificadas e grudadas, com velcro, na capa do fichário .
Figuras adicionais podem ser grudadas, com velcro, em páginas dentro do fichário (o
número de figuras aumenta em função do vocabulário da criança). Com suficiente
treino, a criança poder. ser capaz de procurar dentro do fichário a figura que pretenda
usar (Fig.2).
Durante o ensino de PECS, indivíduos aprendem a pedir algo que querem. Assim, é
importante que, durante o ensino de PECS, as preferências da criança sejam
identificadas. Durante o treino do sistema, os itens de preferência da criança funcionam
como reforçadores para o comportamento de pedir. Ou seja, o comportamento de
selecionar a figura de um biscoito será reforçado pelo acesso ao biscoito. Assim, no futuro,
quando a criança "quiser" um biscoito, ela selecionar. a figura que, no passado, produziu
biscoitos.
Existem várias formas de identificação de preferências (Piazza, Fisher, Roane, &
Hilker, 1999). Uma delas consiste na apresentação de 5 à 8 itens que são
posicionados em um semicírculo na frente da criança. O primeiro é tem que a criança
se aproxima ou tenta obter é considerado o favorito. Este item deve ser removido e o
procedimento repetido com os ítens restantes (DeLeon & Iwata, 1996). Assim é
possível determinar uma hierarquia de itens do mais para o menos preferido. É
importante que os ítens apresentados para a criança sejam do mesmo tipo, isto é,
somente alimentos, ou somente brinquedos, etc. Frequentemente, alimentos tendem a
diminuir o valor de outros objetos (DeLeon, Iwata, & Roscoe, E. M., 1997), por isso é
recomendado n.o misturar alimentos com outros objetos durante o procedimento de
identificação de preferências.
Uma vez identificada as preferências da criança, as primeiras fases de ensino do
sistema podem ser iniciadas. (Para uma descrição mais detalhada destas fases, vide
manual publicado por Frost & Bondy, 1994)
Por conta das vantagens já mencionadas, PECS vem sendo usado internacionalmente
(Christy, Carpenter, Le, LeBlanc, & Kellet, no prelo ). Bondy e Frost (1993)
implementaram PECS no Centro Ann Sullivan do Peru, sendo capazes de treinar os
funcionários em cinco dias. Em três meses, 74 crianças estavam aprendendo a usar
PECS e muitas delas já estavam na segunda fase.
Mais tarde, Bondy e Frost (1994) descreveram resultados positivos em 85 crianças
diagnosticadas com autismo (5 anos ou menos de idade) que aprenderam a usar
PECS. Nenhuma dessas crianças, no início do estudo, era capaz de se expressar
através da fala. Em 66 crianças que usaram o sistema por mais de um ano, mais da
metade passou a usar linguagem falada como principal forma de comunicação. Outros
30% passaram a se comunicar através de uma combina..o de PECS e linguagem falada.
Entretanto, os dados apresentados por Bondy e Frost (1994) não são produto de um
estudo controlado, ou seja, a relação entre ensino de PECS e desenvolvimento da fala
não é necessariamente uma relação causal.
Schwartz, Garfinkle e Bauer (1998), descrevem os resultados do uso do sistema PECS
com 31 crianças diagnosticadas com autismo ou outros transtornos de desenvolvimento.
A idade das crianças variava entre 3 e 6 anos de idade. Seus resultados mostraram que
o tempo necessário para a utilização espontânea do sistema varia de criança para
criança. Em média, 14 meses foram necessários, entretanto algumas crianças foram
capazes de aprender em 3 meses e outras em 28. Os autores afirmam que somente as
crianças que, no início do programa de utilização de PECS, possuíam algum tipo de
vocalização espontânea demostraram ganhos no uso da fala.
Liddle (2001) demostrou que após um pouco mais de um ano, 20 crianças
diagnosticadas com autismo ou outros distúrbios da comunicação foram capazes de
aprender a usar o sistema PECS. Onze crianças (55%) aprenderam a usar o cartão-
sentença. Destas onze crianças, oito aprenderam a usar 4 figuras em sequência para
formar sentenças (ex., eu quero/ grande/carro/azul). A autora afirma que em pelo
menos 42% das crianças, melhoras no uso de linguagem falada foram observadas.
Todos os estudos descritos acima consistem em descrições de casos nos quais
não houve controle experimental, ou seja, os resultados descritos não podem ser
atribuídos somente à implementação de PECS. A melhora no uso da linguagem
falada pode ter sido produto de outras variáveis. Entretanto, uma característica
importante dos resultados descritos por tais estudos é que, em nenhum momento
o uso de PECS inibiu o desenvolvimento da linguagem falada, o que os estudos
sugerem . um efeito contrário.
Uma dificuldade encontrada por pais e educadores de
crianças diagnosticadas com autismo ou outra forma de
transtorno invasivo do desenvolvimento é a escolha de
um sistema de comunicação. A fala é o meio de
comunicação preferido e tentativas de desenvolvimento
da fala em crianças diagnosticadas com autismo não
devem ser abandonadas (Sundberg, 1993; Sundberg &
Partington, 1998). Diversos autores afirmam que quanto
mais tempo a criança passa sem falar, mais difícil é para
que a linguagem vocal seja estabelecida (Lovaas, 1977).
Dessa forma, sistemas de comunicação alternativa
podem ser adotados com o intuito de habilitar a criança
a adquirir rapidamente um repertório comunicativo,
entretanto o terapeuta, professor e família devem sempre
estimular a produção da fala.