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COMPILAÇÃO PERGUNTAS MEDICINA LEGAL

1. ORGANIZAÇÃO DA MEDICINA LEGAL


 Instituto Nacional de Medicina Legal tem a natureza de “laboratório de Estado” e é considerado instituição
nacional de referência.
o Tem 3 delegações - Coimbra, Lisboa e Porto

o Coopera com tribunais e entidades que intervêm no sistema de administração da justiça através da
realização de exames e perícias médico-legais e apoio técnico e laboratorial.

o Presta serviços a entidades públicas, privadas e particulares.

 São quatro os órgãos fundamentais do INMLCF


o Conselho diretivo;
o Conselho médico-legal;
o Comissão de ética;
o Fiscal único

 Conselho diretivo - órgão predominantemente administrativo e de direção


o Funções:
 Coordena as atividades dos IML, dos Gabinetes e dos Peritos;
 Emite pareceres sobre as reformas a empreender no sistema médico-legal;
 Propõe ao ministério os preços dos exames e remunerações dos peritos médicos.

 Conselho médico-legal - corpos consultivos criados junto de cada instituto, com funções de consultadoria
técnico-científica
o Apoia o Conselho Superior de Medicina Legal, designadamente na elaboração de recomendações
relativas ao ensino da medicina legal e de outras ciências forenses

 Gabinetes médico-legais - estruturas de âmbito mais local, atuando numa área geográfica mais restrita
o Existem 27 gabinetes

o Competências:
 Realização de exames e perícias em pessoas;
 Realização de perícias de psiquiatria e psicologia forenses;
 Realização de autópsias médico-legais;
 Identificação de cadáveres e embalsamentos;
 Colheita de amostras para exames complementares.

 Interesse do estudo do cromossoma Y, do ADN mitocondrial e do ADN cromossómico em Genética


Forense

 O cromossoma Y e o ADN mitocondrial são considerados marcadores de linhagem


o O primeiro, de linhagem paterna e o segundo, de linhagem materna

 ADN do cromossoma Y
o Serve para exclusão do suspeito nomeadamente em crimes sexuais
 Tem caraterísticas que permitem delimitar o perfil genético da pessoa do sexo masculino
responsável.

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o Tem uma limitação  é igual em todos os homens da mesma família
 Através dele não é possível identificar o concreto autor do crime – todos os homens da
família serão suspeitos

o Não se pode fazer cálculo de LR nem de probabilidade de paternidade com este ADN.

 ADN mitocondrial
o Não se localiza no núcleo da célula, mas sim no citoplasma da célula

o Distingue-se do material genético encontrado no núcleo das células não só em relação a localização,
mas também no que diz respeito à quantidade de moléculas por célula, ao tipo de herança e à
sequência.

o É um tipo de ADN de origem exclusivamente materna


 Com base nele não se poderá identificar um progenitor do sexo masculino

o Trata-se de um ADN que resiste muito à degradação.

o É utilizado para investigação da maternidade e para estudar células sem núcleo (como o cabelo e a
pele escamada).

 ADN cromossómico
o Permite identificação:
 Do cadáver por comparação;
 Do agressor, em criminalística;
 Do pretenso pai em investigação de parentesco;

2. INVESTIGAÇÃO DA PATERNIDADE
 A investigação de parentesco é uma das áreas de genética forense (a par da criminalística biológica e a
identificação individual)

 Pode ser pedida quer pelo tribunal ou por particulares, quer por agrupamentos espirituais, quer psicólogos,
quer físicos.

 Faz-se através de amostras de ADN em que se comparam os alelos do indivíduo e do pretenso pai através do
número de unidades repetitivas.

 Normalmente faz-se a partir de uma pequena amostra de sangue


o Pretenso pai falecido – restos cadavéricos;
o Pretenso pai ausente – amostra de sangue dos familiares;
o Casos de violação – amostras intrauterinas.

3. REGRAS DE EXCLUSÃO EM INVESTIGAÇÕES DE PATERNIDADE


 A prova da paternidade ocorre em duas etapas
o Exclusão da Paternidade
 As exclusões seguem duas ordens.
 Exclusão de primeira ordem - quando aparece no filho um alelo novo que não existe no pai
nem na mãe

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 Exclusão de segunda ordem - não transmissão ao pretenso filho de características que
deveriam obrigatoriamente ser transmitidas.

 Nestes casos temos várias hipóteses:


 Aquele não é o pai;
 Há um alelo silencioso transmitido ao filho;
 Há um alelo recessivo que não se manifesta.

o Cálculo de probabilidade
 Não há exclusões  calcula-se a probabilidade de paternidade

 Há 1 exclusão de 1ª ordem ou 2 exclusões de 2ª ordem  eliminam-se os marcadores e calcula-se


a probabilidade com base noutros marcadores

 Há + do que 1 exclusão de 1ª ordem ou + de 2 exclusões de 2ª ordem  considera-se provada a


exclusão e dizemos ao tribunal que aquele não é o pai da criança.

 A probabilidade de paternidade calcula-se com base no teorema de Bayes


O X/X+Y – sendo X a probabilidade de o indivíduo ser pai e Y é a possibilidade de um qualquer homem
ser o pai

o Deve-se chegar à conclusão de exclusão de paternidade ou inclusão com 99,73%, embora existam
exceções.
 Não é possível atingir uma probabilidade de paternidade de 100%.
 Seria necessário conhecer os perfis genéticos de toda a população mundial

4. Refira em que consiste o Likelihood Ratio em Genética Forense

 É a razão de verosimilhança entre a probabilidade do resultado se a mancha for do suspeito e a probabilidade


do resultado se a mancha for de outrem
o Probabilidade do resultado se a mancha for do sujeito / Probabilidade do resultado se a mancha for de outrem  Frequência
do fenótipo genético na população

 Quanto mais baixa for a frequência do perfil na população, maior probabilidade é a do sujeito ser o culpado

 Evett elaborou uma escala em que figuram os valores de LR obtidos e os correspondentes indicativos da força de
prova
o Resultado + 1000  muito forte
o Resultado entre 1 e 33  força fraca

5. Genética Forense no âmbito da investigação

 A identificação genética individual é muito utilizada em contexto de catástrofe, seja uma catástrofe dita
“fechada”, como é um acidente de viação, seja uma catástrofe “aberta”, como é um tsunami, terramoto, etc.

 Acidentes de viação
o A identificação genética em matéria de acidentes de viação pode ser suscitada em várias hipóteses

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 Condutor do veículo causador do acidente fugiu
 Corpos encontrados no local do acidente estão de tal forma desfigurados que não se
consegue obter a sua identificação de outra forma.

o Deve-se dar prevalência à colheita do material genético


 No caso de estes serem inconclusivos, as impressões digitais são preservadas e testadas

o Neste âmbito têm surgido vários pedidos de identificação genética de animais que causaram o acidente

 Modos de comparação das amostras

o Comparação direta
 Ex. Com objetos pessoais da pessoa desaparecida

 Vantagens – eventual igualdade de perfis


 Desvantagens
 Eventual não autenticidade dos objetos testados
 Contaminação no manuseamento

o Comparação indireta
 Com familiares da pessoa desaparecida
 Quanto mais próximos os familiares, maior a precisão do resultado

 Vantagens - Qualidade do material obtido


 Desvantagens - Mutações, ausência de familiares

6. Refira os principais cuidados a ter na colheita, acondicionamento e transporte de amostras para identificação
genética.
 As amostras a recolher devem ser:
O Corretamente armazenadas
O Rotuladas
O Transportadas e tratadas de forma a assegurar a manutenção da cadeia de custódia

 Cuidados a ter na recolha


O Utilização de luvas

O Manutenção da cadeia de custódia


O Envio urgente da amostra para o laboratório competente
O Fechamento hermético dos tubos
O Etiquetamento das amostras (identificação do local de onde a amostra foi retirada, da sua
natureza, da data da colheita, do nome do perito que realizou a recolha, e do indivíduo)

O Doc. detalhado em que se descreve a “história” da colheita


O Colheita de material do próprio perito para tipagem

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7. INDIQUE OS PROCEDIMENTOS A SEGUIR NO ACONDICIONAMENTO E REMESSA DE UMA AMOSTRA DE TECIDO
CONTENDO UMA MANCHA HÚMIDA DE SANGUE

 Na colheita de manchas devem-se observar os seguintes procedimentos:


o Fotografam-se as manchas
o Cortar a mancha
o O perito deve enviar a peça inteira
 Não sendo possível:
 Peça absorvente  retirada com algodão e água destilada
 Peça não absorvente  raspar-se com um bisturi

o Deve usar luvas


o Deve deixar secar as peças húmidas;
o Amostra da mancha deve ser enviada em envelope de papel o mais rápido possível
o Evitar expor as amostras ao calor
o Descrever a mancha
 Onde foi colhida
 Forma
 Disposição
 Constituição
 Cheiro
 Cor
 Tamanho
 Idade

8. MANCHAS DE ESPERMA
 As manchas de esperma são um bom instrumento na área da criminalística para identificar o agressor,
nomeadamente crimes sexuais e abusos de menores.

 O DNA das manchas de esperma permanece operável durante anos


O Ao contrário do esperma da cavidade bucal ou vaginal

9. SINAIS DE CERTEZA DE MORTE


 Arrefecimento

 Desidratação

 Rigidez - Ocorre devido à desidratação muscular, esgotamento de ATP, ao aumento do ácido láctico e
coagulação plasmática
o É sempre precedido e seguido de flacidez

 Livores - Manchas de coloração vermelho-arroxeado nas zonas de declive não sujeitas a pressão, resultantes
da acumulação do sangue não circulante
o Fenómeno mecânico, mais visível nas zonas de declive

 Putrefação

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10. Exame do local e objetivos propostos 3
 Elemento auxiliar na averiguação da existência de suspeita de crime e da necessidade da realização da autópsia
médico-legal.

 O exame do corpo no local constitui uma fase fundamental da autópsia médico-legal, podendo proporcionar
informação particularmente relevante para as suas fases subsequentes.

 Tem como finalidades:


o Verificar o óbito
o Identificar a vítima e/ou agressores
o Estimar a data da morte)
o Elaborar uma hipótese sobre a causa de morte
o Elaborar uma hipótese sobre a etiologia médico-legal (suicídio, homicídio, acidente)

 Elementos a registar relativamente ao local


o Procurar obter alguma informação preliminar que possa orientar a sua investigação e verificar se
algumas alterações, artefactos ou contaminações podem ter sido entretanto produzidas

o Registar as condições climatéricas e as características do meio ambiente que possam ser relevantes
(odores, iluminação, ventilação, ...)

o Identificar vestígios físicos e biológicos frágeis visíveis para sua imediata documentação fotográfica e
eventual colheita

o Registo de evidências observadas e sua relação com o corpo, se necessário com medições, fotografando-
as com e sem escalas (armas, cartas de despedida, ...);

o Registo de pontos de entrada e saída, bem como existência de eventuais armas/objetos passíveis de
estar na origem de lesões produzidas sobre o cadáver

o Registo de elementos sugestivos de que o corpo possa ter sido transportado/mudado de local e de como
o terá sido

 Elementos a registar relativamente ao corpo


o Exame preliminar
 Avaliar o arrefecimento corporal, os livores, a rigidez cadavérica (estado/intensidade,
localização, consistência/ inconsistência com a posição do corpo), eventuais sinais de
desidratação e eventuais sinais de decomposição.

o Exame sumário do vestuário


 Se apropriado ao local
 Sinais de descompostura
 Arranjos
 Estragos e sua correspondência com eventuais lesões na superfície corporal

o Identificação do cadáver através das características físicas da pessoa falecida que a distinguem

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o Exame sumário das diferentes regiões do corpo, com identificação de eventuais lesões traumáticas

o Registar a presença de eventuais sinais de tratamentos e manobras de reanimação e eventual


interferência de fauna local

11. Exame do Hábito Externo

 Umas das etapas da autópsia médico-legal diz respeito ao exame pericial do hábito externo do cadáver.
o Pode revelar-se essencial para a decisão judicial, uma vez que pode indicar a inexistência de suspeita de
crime e consequentemente a dispensa de autópsia.

 O médico deve:
o Enunciar os dados sobre a entrada do cadáver no serviço médico-legal e sua identificação, data e hora do
óbito, informação sumária sobre a ocorrência e antecedentes da vítima

o Descrever o vestuário e seu estado, bem como os artefactos que acompanham o cadáver
o Relacionar os achados na roupa com possíveis locais de lesão no cadáver
o Registar as características físicas
o Registar os sinais de certeza de morte presentes e suas caraterísticas
o Descrever sumariamente as lesões encontradas

12. ENUNCIE OS OBJECTIVOS GERAIS DA AUTÓPSIA MÉDICO-LEGAL2

 Os objetivos gerais são:


o Identificar o cadáver
o Determinar o momento da morte
o Determinar o local onde ocorreu a morte
o Determinar a forma da morte
 Natural
 Violenta
 Suspeita

o Determinar as circunstâncias que envolveram a morte


 Etiologia da morte (homicídio, suicídio ou acidente)
 Natureza do instrumento que produziu as lesões;
 Qualificação dos ferimentos em causa adequada ou causa ocasional de morte;
 Indicação se as lesões encontradas indiciam ou não intenção de matar.

13. REFIRA AS SITUAÇÕES EM QUE DEVE SER SOLICITADA A AUTÓPSIA MÉDICO-LEGAL E AQUELAS EM QUE A
MESMA PODE SER DISPENSADA4

 A autópsia médico-legal é realizada quando o interesse judicial subsiste motivado por situações de causa
violenta ou causa ignorada de morte.
o Admite-se a dispensa de autópsia médico-legal sempre que as informações clínicas, bem como os
demais elementos, permitam a conclusão, com suficiente segurança, de inexistência de suspeita de
crime, apontando, assim, para morte natural.

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14. INDIQUE O QUE ENTENDE POR AUTÓPSIA COMPLETA 2 – Todo o corpo deve ser aberto mesmo que a causa da
morte seja visível.

15. O QUE ENTENDE POR CAUSA ADEQUADA E CAUSA OCASIONAL DE MORTE ?

 Causa adequada, ferimentos idóneos ou adequados a produzir a morte em qualquer indivíduo

 Causa ocasional, ferimentos que por si só não são idóneos para produzir a morte, mas que circunstâncias
externas fazem com que se produza a morte daquele concreto indivíduo.

16. PUTREFACÇÃO (DIFICULDADES DA AUTÓPSIA EM CASO DE)

 Dificuldades em descobrir causa de morte


o Vísceras desfeitas, podres
o Análises sanguíneas e microbiológicas já não se podem fazer

 Dificuldades em identificar a cadáver


o Cara desfeita
o Alteração da cor da pele
o O DNA só resiste nos dentes

17. Quais os objetivos do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO) 3

 O SICO teve origem na medida 117 do programa SIMPLEX de simplificação administrava e legislativa na
Administração Pública.

 Tem como objetivos:


o Desmaterialização dos certificados de óbito;

o Tratamento estatístico das causas de morte;

o Atualização da base de dados de utentes do SNS e do correspondente número de identificação

o Emissão e a transmissão eletrónica dos certificados de óbito para efeitos de elaboração dos assentos
de óbitos.

o Comunicação eletrónica dos dados respetivos às entidades públicas para os quais são relevantes;

o Permitir uma articulação das entidades envolvidas no processo de certificação dos óbitos, com vista
a promover uma adequada utilização dos recursos, a melhoria da qualidade e do rigor da informação
e a rapidez de acesso aos dados.

 Vantagens
o Conhecimento do nº de mortes/dia
o Conhecimento mais precoce das causas de morte
o Possibilidade de incorporar, a posteriori, a informação relativa ao resultado da autópsia
o Aumento do direito à privacidade dos cidadãos
o Preservação de informação importante em investigação criminal
o Atualização da base de dados de Utentes com os óbitos ocorridos e devidamente validados
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o Integração com a base de dados do IRN para validação dos dados de identificação, recolhidos
informaticamente nos certificados de óbito
o Boletins de informação clínica legíveis
o Certificados totalmente preenchidos
o Fim do envio de cartas da DGS aos médicos.

18. ASFIXIA MECÂNICA (SINAIS GERAIS DE UMA)

 Internos
O Congestão visceral generalizada
O Sufusões sanguíneas
O Sangue fluído, escuro, sem coágulos
O Edema pulmonar

 Externos: cianose ou palidez; sufusões sanguíneas na pele e mucosas.

19. QUE TIPO DE ASFIXIAS MECÂNICAS CONHECE?2

 Por constrição do pescoço


o Enforcamento
o Estrangulamento por laço
o Esganadura.

 Por sufocação
o Oclusão dos orifícios respiratórios
o Oclusão interna das vias respiratórias
o Compressão externa do tórax e permanência de corpos em espaço confinado

 Por submersão
o Morte produzida pela introdução de líquido ou líquidos nas vias aéreas.

20. SINAIS DE MORTE POR ENFORCAMENTO E ESTRANGULAMENTO COM LAÇO

 Enforcamento
o Sulco único
o Fundo do sulco apergaminhado
o Sulco incompleto
o Sulco alto
o Profundidade variável (máxima oposta ao nó)
o Sulco em "V" invertido
o Pode ter lesões cervicais (c2 e c3) que levam à morte por lesão medular
o Pode haver traumatismo dos grandes cornos da tiroide
o Face pálida ou cianose
o Livores em relação à posição (mãos e pés)

Estrangulamento
o Sulco duplo
o Fundo do sulco é mole
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o Sulco completo
o Sulco abaixo da cartilagem tiroideia
o Profundidade uniforme
o Sulco horizontal
o Não há lesões cervicais
o Pode haver estigmas ungueais
o Pode haver exoftalmia
o Face lumefacta, avermelhada e violácea

21. Comente a necessidade de realização de autópsia em situações de enforcamento.

 Enforcamento traduz normalmente situação de suicídio, mas é necessário excluir eventual intervenção de
terceiros

 A autópsia permite
o Excluir a simulação de enforcamento
o Excluir a presença de sinais de defesa
o Excluir a presença de sinais de arrastamento
o Visualizar as lesões cervicais internas e dos sinais de vitalidade
o Visualizar os sinais de lesões prévias autoinfligidas (sugestiva de suicídio)
o Estado toxicológico (aferir estado de influência de substância e averiguar eventual administração de
3ºs para efeitos)

22. No caso de homicídio passional por esganadura. Indique, justificando, cinco achados que poderia encontrar no
estudo necrópsico.2

o Vestuário danificado;
o Congestão craniofacial (raro: palidez da face);
o Máscara equimótica petéquias/sufusões hemorrágicas nas conjuntivas;
o Estigmas ungueais na face/pescoço;
o Equimoses cervicais;
o Lesões de defesa;
o Exoftalmia (“olhos esbugalhados”);
o Infiltração sanguínea das partes moles cervicais;
o Equimose retrofaríngea;
o Fraturas do aparelho laríngeo;
o Sufusões hemorrágicas pleurais e epicárpicas

23. MORTE POR QUEIMADURA (O QUE FAZER EM CASO DE MORTE POR)

 Queimaduras são lesões resultantes da ação de agentes que ao atuar sobre os tecidos originam reações
locais ou generalizadas cuja gravidade está em relação com a sua extensão e profundidade.
o Existem vários graus de queimadura
 1º Grau - Limitação da lesão à camada superficial da pele
 2º Grau
 3º Grau
 4º Grau - Destruição dos tecidos profundos, incluindo gordura, músculo e osso

 Em caso de verificação de queimaduras na autópsia, o médico deve:


o Proceder ao diagnóstico e descrição das queimaduras (extensão, profundidade, datação)

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o Diferenciar entre queimaduras ante e post mortem

 Sinais da causa de morte terem sido as queimaduras:


o Espuma rosa da boca e nas narinas (decorre da ocorrência de um edema pulmonar)
o Língua entre arcadas dentárias (indica desidratação)
o Áreas queimadas com extensão e profundida variáveis
o Massas pretas quebradiças (resultam de o tecido gordo assumir natureza de “combustível”,
fundindo-se com os músculos secos subjacentes)

o Tecidos pálidos, acastanhados e parcialmente cozidos


o Contraturas musculares (surgem post mortem devido ao calor intenso)
o Encurtamento muscular por desidratação e desnaturação das proteínas.

24. MORTE POR CABONIZAÇÃO (SINAIS)

 Externos:
o Redução do volume do cadáver
o Posição de pugilista
o Coloração negra da pele
o Pele seca, ressoando à percussão
o Soluções de continuidade ao nível das pregas
o Locais protegidos por roupa são menos afetados
o Chamuscamento de pelos
o Pode haver esventrações
o Amputações espontâneas dos membros na união do 1/3 superior aos 2/3 inferiores
o Coagulação do cristalino

 Internos
o Vísceras cozidas e desidratadas (menos peso)
o Fraturas ósseas
o Hematoma epidural disseminado
o Gotas de calor nos vasos pulmonares (com o calor a gordura do tecido celular subcutâneo
liquefaz-se e entra para a circulação, embolizando nos vasos pulmonares)

25. CARBONIZAÇÃO (DIFICULDADES)

 Posição de pugilista - simula posição de defesa;

 Soluções de continuidade da pele por retração - podem parecer lesões provocadas por objetos cortantes

 Amputações espontâneas ou fraturas ósseas - podem simular violência ou homicídio

 Hematoma epidural disseminado por Acão do calor- pode sugerir outras causas de morte;
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 Gotas de gordura nos vasos pulmonares por liquefação da gordura do tecido celular subcutâneo pelo calor
- pode simular embolia gorda como causa da morte.

26. TIPOS DE INSTRUMENTOS DE AGRESSÃO


 Contundentes:
O Pau
O Dentes
O Copo
O Veículo
O Água (super fina);

 Perfurantes:
O Chaves de fendas
O Espigões

 Cortantes:
O Laminas
O Facas
O Vidro cortado
O Placas

 Mistos:
o Corto-contundentes:
 Copo de vidro (inteiro/partido)
 Machado (cabo/lâmina).

o Corto-perfurantes
 Facas
 Navalha
 Tesoura

o Perfuro-contundentes
 Projéteis de armas de fogo

27. Abuso sobre mulheres e ciclo de violência entre o abusador e a vítima

 A “violência contra as mulheres” significa qualquer ato de violência baseado no género do qual resulte, ou
possa resultar, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico para as mulheres, incluindo as ameaças de
tais atos, a coação ou a privação arbitrária de liberdade, que ocorra, quer na vida pública, quer na vida
privada.

 Abrange os seguintes atos, embora não se limite aos mesmos:


o Violência física, sexual e psicológica ocorrida no seio da família
o Violência física, sexual e psicológica praticada na comunidade em geral
o Violência física, sexual e psicológica praticada ou tolerada pelo Estado

 Exemplos de violência contra as mulheres durante o seu ciclo de vida:


o Violência Pré-parto
 Aborto seletivo
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 Abuso físico e/ou psicológico com efeitos no resultado da gravidez

o Violência em lactentes
 Infanticídio;

 Abuso físico, sexual e psicológico das crianças do sexo feminino;


o Violência na infância
 Casamentos forçados
 Mutilação genital feminina e outras práticas tradicionais nocivas para as mulheres
 Prostituição e pornografia forçadas;
 Abuso físico, sexual e psicológico stricto sensu;

o Violência na adolescência/Vida adulta


 Nas relações íntimas
 Violação conjugal
 Intimidação/assédio no trabalho, nas instituições educativas e em outros locais,
 Prostituição/pornografia forçada
 Tráfico de mulheres
 Gravidez forçada;

o Violência na terceira Idade


 “Suicídio” forçado ou homicídio por razões económicas
 Abuso físico, sexual, psicológico.

 A violência funciona como um sistema circular – Fases do Ciclo da Violência:

1. Aumento de tensão - as tensões acumuladas no quotidiano, as injúrias e as ameaças tecidas pelo


agressor, criam na vítima uma sensação de perigo iminente

2. Ataque violento - o agressor maltrata física e psicologicamente a vítima.


 Após o episódio de violência, o agressor tende a sentir-se “culpado” e dá início a um período de
racionalização dos momentos que conduziram ao episódio de violência, inventando uma série de
desculpas de forma a transferir para a vítima, a responsabilidade do comportamento abusivo do
próprio, evitando assim assumir a culpa.

3. Lua-de-mel - o agressor envolve agora a vítima de carinho e atenções, desculpando-se pelas agressões e
prometendo mudar.
 Mais cedo ou mais tarde o abusador começa novamente a “fantasiar” sobre o próximo abuso,
concentrando-se no que a sua vítima fez de “errado” ao longo do dia e como terá de ser “castigada”

o Este ciclo caracteriza-se sua repetição sucessiva ao longo de meses ou anos, podendo ser cada vez
menores as fases da tensão e de apaziguamento e cada vez mais intensa a fase do ataque violento.
o Em situações limite, o culminar destes episódios poderá ser o homicídio.

 Táticas utilizadas pelos agressores para exercerem controlo sobre as vítimas

o Dominância /Humilhação
o Isolamento da família e dos amigos
o Ameaças à vítima, acerca de terceiros ou à vida do próprio
o Transferência da culpa
o Coerção e ameaças acerca dos filhos
o Abuso/dominância económica

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28. Elementos que podem constituir particular motivo de suspeita quanto à possibilidade de se estar perante um
caso de abuso/ maus tratos em crianças. 2

 Os seguintes aspetos:
o Inadequação / ausência / mudança nas explicações quanto ao mecanismo de produção das lesões
o Inadequação / ausência / mudança nas explicações quanto à data de produção das lesões
o Lesões com tempo de evolução significativo sem que tenha havido intervenção clínica, traduzindo atraso
na procura de cuidados de saúde
o Discrepância entre o aspeto observado e a história da produção
o Lesões em diferentes estádios de evolução
o Lesões em locais pouco comuns aos traumatismos de natureza acidental tendo em conta a faixa etária da
criança
o Lesões em diferentes localizações
o Lesões figuradas
o Lesões com determinadas características, sobretudo quando não é conhecida a história da sua produção
ou em que a mesma não é plausível: queimaduras ou suas cicatrizes, com bordos nítidos e com
localizações múltiplas, sobretudo se na alma das mãos, planta dos pés, genitais e nádegas;
o Marcas de mordeduras;
o Alopecia traumática;
o Certas lesões dentárias;
o Sequelas de traumatismo antigo (ex. Calos ósseos resultantes de fraturas);
o Intoxicação (sobretudo se mais de 1 incidente com sinais e sintomas inexplicados e de início súbito);
o Doenças recorrentes inexplicáveis (“síndrome de Munchausen por procuração) ou situação crítica não
explicável pelas história anterior;
o Outras lesões de diagnostico medico mais complexo (como sejam neurológicas, oftalmológicas e viscerais)
o Estado de higiene e de nutrição claramente descuidados

29. Cuidados a ter na entrevista a uma criança vítima de maus tratos e a informação clínica que é necessária
colher 3

 As boas práticas visam


o Assegurar a recolha da prova dos atos periciais urgentes
o Evitar a vitimização secundária
o Evitar a contaminação dos relatos.

 Quando se fala com a criança deve ter-se em consideração os pontos seguintes:


o Limitar-se ao minimamente indispensável
o Usar linguagem e abordagem adequada à idade, capacidade de compreensão e situação física/emocional
da vítima

o Garantir o seu adequado suporte emocional e privacidade


o Nunca criar falsas expectativas/ promessas
o Entrevista curta, única
o Sala iluminada, acolhedora, que respeita e privacidade da vítima
o Perguntas abertas; sem repetições
o Tempo de resposta adequado
o Aceitar lacunas de informação ou dificuldade de relato da criança
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o Orientar do geral para o específico

 A entrevista deve incluir:


o Data, hora e local do último abuso
o Data do início do abuso
o Local(ais)
o Frequência do abuso
o Tipos de abuso (físico, sexual e/ou emocional/psicológico)
o Circunstâncias específicas (objetos específicos, ameaças usadas, uso de preservativo)
o Comportamento da vítima após as agressões (lavagens, mudanças de roupa, atos fisiológicos)
o Relação entre a vítima e o alegado abusador
o Antecedentes do abusador (por ex. Infeções sexualmente transmissíveis, consumo de substâncias,
comportamentos desviantes, práticas anteriores de outros abusos)

o Antecedentes pessoais da vítima – patológicos e/ou traumáticos, de consumo de substâncias e/ou


comportamentos desviantes

o Antecedentes ginecológicos/obstétricos (de acordo com o tipo de abuso relatado)


o Sintomatologia (dor na superfície corporal, dor genital/anal, prurido, perturbações funcionais como
alterações do sono, apetite, controlo de esfíncteres, etc)
o
o Alterações de comportamento (por ex. alteração do rendimento escolar, das atividades diárias, sociais e
de lazer)

o Grau de conhecimento que os cuidadores da criança têm sobre a situação


o Saber qual o contexto em que surge a denúncia
o Perceção da criança sobre o eventual processo judicial

30. Procedimento a adotar na avaliação pericial a um idoso institucionalizado, vítima de abuso sexual

 Entrevista seguindo a metodologia preconizada


o Especial importância
 Data, hora e local do contacto sexual
 Frequência do abuso
 Relação entre a vítima e o abusador
 Descrição do local e ambiente onde o contacto ocorreu
 Descrição do contacto sexual
 Descrição das circunstâncias (ameaças, restrição, aliciamento; ejaculação, preservativo...)
 Descrição das consequências imediatas (dor, hemorragia, lesões...)
 Comportamentos da vítima que possam comprometer a recolha de evidências

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 Antecedentes patológicos e/ou traumáticos que possam ser relevantes
 Antecedentes ginecológicos

 Exame físico
o Inspeção e descrição da roupa e sua recolha
o Inspeção cuidada de cada área corporal (cabeça aos pés)
o Descrição e caracterização de todos os achados

31. QUE MOTIVOS JUSTIFICAM QUE OS EXAMES SEXUAIS DEVAM SER REALIZADOS COM A MAIOR BREVIDADE
POSSÍVEL? 2

 Os passos a considerar para apuramento dos motivos:


o Interrogatório;
o Exame do vestuário usado no momento da agressão;
o Exame corporal e exames complementares de laboratório.

 Se decorrer demasiado tempo para percorrer estes passos torna-se impossível a interpretação de fatores
importantes para a justificação dos motivos que levaram à agressão.
o Vestígios são voláteis e a sua prova depende da celeridade do processo
o Risco de desaparecimento das sequelas das vítimas

 Em caso de agressão sexual, a vítima deve procurar evitar:


o Destruir peças de roupa
o Lavar peças de roupa
o Tomar banho
o Atrasar a observação médica

32. DESFLORAMENTO (SINAIS DE)3


 O não desfloramento não implica a exclusão da hipótese de violação, mas apenas a exclusão da existência de
penetração vaginal

 Sinais:
O Presença de esperma acima ou para lá do hímen;
O Hímen com lacerações traumáticas, de bordos irregulares, desiguais, vermelhos, sangrentos, e por
vezes com edema e supuração;
o Permeabilidade do ostíolo (dois dedos).

33. EXAME HIMENIAL (EM QUE CONSISTE O)

 Para se observar o hímen deve-se introduzir no orifício himenial uma sonda de Foley e enchê-la com cerca
de 10 cm3. Ao puxar a sonda em direcção ao operador, o hímen fica distendido sobre o balão da sonda
(agora insuflado), o que permite ao perito observar os bordos e as lesões. (Nota: são necessários 2 peritos
para a tração dos grandes lábios para fora e para trás).

 Após o reconhecimento do hímen, este deve ser classificado quanto à:


o Forma: típica ou atípica;
16
o Altura e largura: medir as zonas de maior ou menor dimensão indicando os quadrantes em que se
situam;

o Consistência: carnudo, tendinosa, cartilaginosa, membranosa; .

o Elasticidade: média, pequena e grande.

o Descrever, com pormenores, o bordo livre do hímen: aspeto geral, dureza, regularidade,
irregularidade, cristas, desdobramentos, lesões de continuidade.
34. Avaliação do Dano Corporal no D. Civil, explicitando em que consistem e de que forma são avaliados.
 Na avaliação do dano corporal contemplam-se os danos temporários e permanentes, patrimoniais e não
patrimoniais

 Danos temporários, são valorizáveis em reparação civil:


o Incapacidade geral (funcional ou fisiológica);
o Incapacidade profissional;
o Quantum doloris

 Danos permanentes, são valorizáveis em reparação civil:


o Afetação permanente da integridade físico-psíquica
o Repercussão na Atividade Profissional
o Dano estético
o Prejuízo de afirmação pessoal
 Repercussão na atividade sexual
 Repercussão nas atividades desportivas e de lazer

A. Danos temporários
o Défice funcional temporário - Período durante o qual a vítima viu condicionada a sua autonomia na
realização dos atos correntes da vida diária, familiar e social.

 Total – corresponde aos períodos de internamento e/ou de repouso absoluto

 Parcial – quando a evolução das lesões passe a consentir algum grau de autonomia na realização
desses atos, ainda que com limitações
Descreve-se em número de dias determinado com base na análise dos registos clínicos relativos à situação,
do quadro clínico concreto, da informação obtida e das limitações naturalmente decorrentes da situação
clínica.

o Repercussão temporária nas atividades profissionais - Período durante o qual a vítima, em virtude do
processo evolutivo das lesões no sentido da cura ou da consolidação, viu condicionada a sua autonomia na
realização dos atos inerentes à sua atividade profissional habitual.

 Total

 Parcial
Valora-se em número de dias de interrupção temporária absoluta das atividades profissionais e número de
dias em que as mesmas foram concretizadas com limitações.
17
o Quantum doloris - Valoração do sofrimento físico e psíquico vivenciado pela vítima durante o período de
danos temporários resultante não só dos ferimentos, mas também pelos tratamentos.

A sua avaliação é subjetiva e depende de:



 Natureza e contexto do evento traumático, suas circunstâncias e eventos imediatos;
 Tipo e número de lesões e de tratamentos instituídos;
 Duração dos internamentos e número de intervenções cirúrgicas;
 Complicações médicas e cirúrgicas;
 Duração e complexidade do período de reabilitação funcional;
 Devem ainda ser considerados os sofrimentos psíquicos representados pelas perturbações e fenómenos
emocionais decorrentes da situação, como a angústia, ansiedade, medo, consciência do perigo de vida,
sofrimento pelo afastamento do meio familiar e das atividade profissionais e que o médico sabe estarem
habitualmente ligados à natureza das lesões e à sua evolução.

 A sua valoração será expressa através de uma escala quantitativa de sete graus de gravidade crescente (1/7
a 7/7), podendo recorrer-se, a título orientativo, a tabelas indicativas do quantum de dor correspondente a
cada situação lesional.

B Danos permanentes
o Afetação permanente da integridade físico-psíquica - afetação permanente da integridade físico-psíquica da
pessoa, constitutiva de um défice funcional permanente com eventual repercussão nas atividades da vida diária,
incluindo as familiares e sociais, e sendo independente das atividades profissionais.

 Redução definitiva do potencial físico, psico-sensorial e/ou intelectual resultante de um dano anátomo-
fisiológico medicamente constatável

 Pode ser:
 Geral ou Apenas do trabalho
 Total ou parcial

 Existem tabelas para avaliar a incapacidade permanente em forma de percentagem como forma de
objetivar as indemnizações a receber.

 Ao avaliar a incapacidade permanente, o perito deverá chegar a duas conclusões:


 Qual o grau em % da incapacidade;
 Ajustar essa capacidade ao exercício da profissão do sujeito (compatível: exige esforços
suplementares; impeditiva, mas compatível com outras da mesma área: impeditiva).

 É avaliado relativamente à capacidade integral do indivíduo (100 pontos).

 Determinado tendo em conta a globalidade das sequelas do caso concreto e tendo como referência a
Tabela de Avaliação de Incapacidade em Direito Civil, de acordo com a experiência médico-legal
relativamente a estes casos.

 Nos casos em que seja previsível a verificação de um Dano Futuro deve o perito fundamentar esta
circunstância.

18
o Repercussão na Atividade Profissional - Rebate das sequelas no exercício da atividade profissional habitual da
vítima (à data do evento).
 Ser compatível com o exercício da atividade profissional;

 Ser compatível com o exercício da atividade profissional, mas implicando esforços suplementares;

 Ser impeditivo do exercício da atividade profissional sendo compatível com outras profissões na área da
sua preparação técnico-profissional;

 Ser impeditivo do exercício da atividade profissional, assim como com qualquer outra dentro da área da
sua preparação técnico-profissional.

o Dano Estético Permanente - A avaliação do dano estético é subjetiva, pois o impacto psicológico por cada vítima
difere consoante as suscetibilidades pessoais. Para além disso, o dano estético pode ser patrimonial, quando a
pessoa em questão tem uma profissão em que é necessário ter-se uma figura agradável.

 Na avaliação do dano estético tem-se em conta:


 Localização;
 Avaliação estática;
 Avaliação dinâmica.

 Deve ser tido em conta o seu grau de notoriedade e o desgosto manifestado/vivenciado pela vítima
(considerada a sua idade, sexo, estado civil e estatuto socioprofissional) e assinalada a sua eventual
possibilidade de recuperação, designadamente cirúrgica.

 A valoração é expressa através de uma escala quantitativa de sete graus de gravidade crescente (1/7 a
7/7).

 Só é avaliado em Direito Civil (eventualmente em penal se houver desfiguração grave e permanente).

o Repercussão na atividade sexual - Limitação total ou parcial do nível de desempenho/gratificação de natureza


sexual, decorrente das sequelas físicas e/ou psíquicas, não se incluindo aqui os aspetos relacionados com a
capacidade de procriação

 A sua avaliação tem em conta as lesões iniciais, as complicações resultantes e os estudos


complementares efetuados. A valoração é expressa através de uma escala quantitativa de 7 graus de
gravidade crescente (1/7 a 7/7).

o Repercussão nas atividades desportivas e de lazer - Impossibilidade estrita e específica para a vítima de se
dedicar a certas atividades lúdicas, de lazer e de convívio social, que exercia de forma regular e que para ela
representavam um amplo e manifesto espaço de realização e gratificação pessoal.

 Está em causa o procurar apreender a vivencia da vítima quanto à impossibilidade de dar continuidade
àquilo que para ela constituía uma das suas razões de vida, um espaço de realização e gratificação
pessoal, como anteriormente assinalado. A valoração é expressa através de uma escala quantitativa de
sete graus de gravidade crescente (1/7 a 7/7).

o Dependências

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 Podem ser temporárias ou permanentes

 Podem ser relativas a diversos tipos de necessidades:


 Ajudas medicamentosas;
 Tratamentos médicos regulares;
 Ajudas técnicas;
 Adaptação do domicílio, do local de trabalho ou do veículo;
 Ajuda de terceiras pessoas

35. AVALIAÇÃO DO DANO EVENTUAL (FUTURO E POTENCIAL) EM DIREITO CIVIL


o Dano futuro - aquele agravamento que pode prever-se como facto comum e habitual

o Dano potencial - hipótese admissível, mas não provável, de agravamento fisiopatológico do dano atual
existente.

Sendo assim, o dano futuro é mais fácil de avaliar do que o potencial. Em direito civil opta-se por, no momento do
julgamento, de ter em conta o dano atual e o dano futuro.

36. RELATÓRIO EM DIREITO CIVIL (FASES DO)


O Preâmbulo - introdução sumária ao caso

O Informação - nome e identificação do indivíduo

O Dados complementares - história na versão do individuo

O Estado atual - queixas, exame objetivo e exames complementares

O Discussão - nexo de causalidade, data de consolidação, quantum doloris, dano estético, dano futuro
potencial, prejuízo na afirmação pessoal

O Conclusão

37. RELATÓRIO PERICIAL EM CIVIL: NECESSIDADE OU DESNECESSIDADE DE DISCUSSÃO 2

O A discussão é parte fundamental no relatório, pois fundamenta as conclusões, explica se há nexo de


causalidade ou não e ainda estabelece os motivos de classificação do dano estético.

o Em Direito Civil, o indivíduo é visto como um todo e , como tal, analisa-se danos nem sempre muito
objetáveis como a dor (psíquica, física, mental), dano estético e prejuízo de afirmação pessoal. A discussão é
um ótimo meio para o perito se pronunciar sobre danos futuros e danos potenciais.

38. A repercussão das sequelas para o exercício da atividade profissional de um sinistrado é valorada de forma
idêntica na avaliação do dano corporal pós-traumático em Direito Civil e em Direito do Trabalho. Comente a
afirmação.

 A repercussão das sequelas para o exercício da atividade profissional:


o Direito Civil  Valorada de forma qualitativa

20
o Direito do Trabalho  Valorada de forma quantitativa, em termos percentuais, e concretizada
através da TNI

 A repercussão das sequelas para o exercício da atividade profissional em Direito do Trabalho ou IPP pode ser
bonificada com a multiplicação pelo fator 1.5

 Referir as possíveis situações previstas para a repercussão permanente na atividade profissional em Direito
Civil (ser compatível com o exercício da atividade profissional etc.)

39. O parâmetro do dano correspondente à incapacidade permanente atribuída segundo a Tabela de


Incapacidades é distinto, consoante a perícia médica se processa no âmbito do Direito do Trabalho ou do
Direito Civil.

 Incapacidade permanente em Direito do Trabalho - Coeficiente expresso em %, que pretende traduzir a


proporção da perda de capacidade de trabalho resultante da disfunção.

o A quantificação dessas sequelas concretizada através da tabela Nacional de incapacidades por


acidentes de trabalho ou doenças Profissionais (TNI - anexo I do decreto Lei nº 352/2007, de 23 de
outubro).

o No caso das sequelas múltiplas recorre-se à utilização da Regra de Balthazard ou da Capacidade


Restante para obtenção do coeficiente global de incapacidade.

 Incapacidade permanente em Direito Civil - Corresponde à afetação definitiva da integridade física e/ou
psíquica da pessoa, constitutiva de um défice funcional permanente com eventual repercussão nos atos da
vida diária, incluindo as familiares e sociais, e sendo independente das atividades profissionais.

o É avaliado relativamente à 5 capacidade integral do indivíduo (100 pontos), podendo,


eventualmente, traduzir-se num compromisso total dessa capacidade (ex.: estado vegetativo).

o Valoriza-se não só o dano no corpo como a sua repercussão funcional e para as atividades da vida
diária

40. O objetivo, a ponderação dos danos extrapatrimoniais, o ónus da prova e a valoração do estado anterior são
variáveis consoante o âmbito do Direito em que se processa a perícia médica de valoração do dano corporal.
Comente a afirmação, considerando a avaliação pericial do dano corporal em Direito do Trabalho e em Direito
Civil.
• Referir os objetivos, designadamente a perda da capacidade de ganho em Direito do Trabalho e a
reparação integral do dano em Direito Civil

• Em Direito do Trabalho são valorados apenas danos patrimoniais, enquanto em Direito Civil há uma
valoração dos 2 tipos de danos, económicos e não económicos

• O ónus da prova em D. Trabalho compete inicialmente à entidade patronal e enquanto em D. Civil diz
respeito ao beneficiário/sinistrado

• As regras de estado anterior em D. Trabalho colocam o benefício no sinistrado, sendo que uma lesão que
agava um estado anterior ou vice-versa, deve-se valorar como tudo resultante do acidente de trabalho, a
não ser que pela lesão anterior já esteja a receber indemnização.

21
Em D. Civil deve ser unicamente avaliação o que do estado atual é resultante do acidente, subtraindo a
influência do estado anterior

41. ACIDENTES DE TRABALHO (CARACTERÍSTICAS ACTUALMENTE CONTEMPLADAS NA LEI QUE BENEFICIAM O


SINISTRADO)
o Sistema misto - aceita-se a doença que está na lista e outras que possam ser provadas;

o Considera-se que a lesão é proveniente do trabalho sendo que a entidade patronal tem de provar que
não;

o Processo judicial gratuito;


o Obrigatoriedade de participação de acidentes de trabalho e doenças de trabalho;
o Entidade patronal é obrigado a ter seguro contra riscos no trabalho;
o Incapacidade for superior a 30% dá direito a pensão;
o Prestações irrenunciáveis - para não serem sujeitos a chantagens pela entidade patronal

42. A repercussão das sequelas para o exercício da profissão de um sinistrado é valorada através de parâmetros
de dano distintos na avaliação do dano pessoal pós traumático em Direito Civil, em Direito do Trabalho e em
Direito Penal. Comente a afirmação e ilustre de que forma é valorada essa repercussão em cada âmbito do
Direito (Penal, Trabalho e Civil) em que a perícia se processa.
 Referir que a afirmação é correta

 A repercussão das sequelas para o exercício da atividade profissional é qualitativa em Direito Civil e em
Direito Penal enquanto em Direito do Trabalho é valorada de forma quantitativa, em termos percentuais, e
concretizada através da TNI

 A repercussão das sequelas para o exercício da atividade profissional em Direito do Trabalho ou IPP pode
ser bonificada com a multiplicação pelo fator 1.5

 Referir as possíveis situações previstas para a repercussão permanente na atividade profissional em Direito
Civil (ser compatível com o exercício da atividade profissional; ser compatível com o exercício da atividade
profissional mas implicando esforços suplementares; ser impeditivo do exercício da atividade profissional,
sendo no entanto compatível com outras profissões na área da sua preparação técnico profissional; ser
impeditivo do exercício da atividade profissional, bem assim como de qualquer outra dentro da área da sua
preparação técnico-profissional; ser impeditivo de toda e qualquer profissão) (cotação de 1 valor)

• A repercussão das sequelas para o exercício da atividade profissional em Direito Penal é efetuada de forma
qualitativa, podendo ser reconhecida na alínea b) do art 144. - Afetar de maneira grave a capacidade de
trabalho e é punível com pena de prisão

43. RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO DANO CORPORAL NO ÂMBITO DO DIREITO PENAL


o Data de cura/consolidação;
o Tipo de doença e instrumento;
o Tempo de doença;
o Se resultaram ou não consequências permanentes;
o Se resultou ou não perigo para a vida;
o Propor ou não medidas psicossociais.

22
44. Que aspetos considera dever ser mencionados nas conclusões de um relatório de avaliação do dano corporal
em Direito Penal?
o Análise do nexo de causalidade (imputabilidade médica) – corresponde ao estabelecimento de uma relação
entre a alteração na integridade psicofísica de uma dada pessoa e um determinado evento. Deverá ter em
consideração os critérios clássicos:

- Natureza adequada do ato ou evento em causa para produzir as lesões ou sequelas observadas;

- Certeza diagnóstica, ou seja, uma natureza adequada das lesões ou sequelas à etiologia em causa;

- Exclusão da pré-existência do dano:

- Adequação entre a região atingida e a sede da lesão ou sequela;

- Adequação temporal;

- Encadeamento anátomo-clínico;

- Exclusão de causa estranha.

Natureza do traumatismo

O perito deve pronunciar-se quanto à natureza do(s) instrumento(s) que produziram as lesões e se tal é ou
não compatível com a informação prestada.

Consequências temporárias

Determinação da data de consolidação médico-legal – situar-se-á no momento em que se constatou clinicamente


que as lesões deixaram de sofrer uma evolução regular medicamente observável, seja pelo facto de terem
estabilizado definitivamente, seja porque não são suscetíveis de sofrer modificações senão após um longo período
de tempo, não sendo necessários mais tratamentos a não ser para evitar um agravamento, e em que é possível
apreciar a existência de sequelas.

Fixação do período de doença (em dias)

com

Determinação de afetação ou não da capacidade de trabalho geral e da capacidade de trabalho profissional (em
dias) - Período durante o qual a vítima, em virtude do processo evolutivo das lesões no sentido da cura ou da
consolidação, viu afetada a sua capacidade de trabalho geral (atos correntes da vida diária, familiar e social), bem
como afetada a sua capacidade de realização dos atos inerentes à sua atividade profissional habitual.

Consequências permanentes

Determinação da existência ou não de consequências permanentes, como consequência do evento em apreço e,


caso existam, proceder à sua explanação sumária:

Privação de importante órgão ou membro

Traduzindo o termo “privação” não somente a privação anatómica, mas, também a provação/afetação grave de
função do órgão ou membro. Os órgãos e membros contemplados neste artigo serão aqueles que funcionalmente
sejam relevantes, podendo a sua “privação” ser total ou parcial, temporária ou permanente. A importância é
suscetível de ser valorizada através da descrição pormenorizada das consequências da sua produção, incluindo o
efeito nas situações concretas da vida da vítima (gerais e profissionais).

Desfiguração grave e permanentemente;

23
Alteração, em grau elevado, do aspeto, da figura, do ofendido, devendo ser avaliada quanto ao seu carácter de
permanência (suscetibilidade de ser alterada com o tempo ou através de uma intervenção médico-cirúrgica) e
quanto à sua gravidade (extensão e visibilidade do dano e circunstâncias pessoais da vítima que relevem para a sua
situação específica no contexto relacional).

Deve ser considerado do ponto de vista estático e dinâmico (claudicação da marcha, desvio da comissura labial com
perturbação da mímica facial e fala). É um dos pressupostos presentes no artigo 144° do Código Penal no que diz
respeito à inclusão de ofensa à integridade física grave. Entende-se por desfiguração grave a alteração, em grau
elevado, do aspeto e figura do ofendido (rosto e corpo em conjunto).

Perda ou afetação, de maneira grave, a capacidade de trabalho, as capacidades intelectuais, de procriação ou de


fruição sexual, ou a possibilidade de utilizar o corpo, os sentidos ou a linguagem;

Perda ou afetação tanto temporárias como permanentes, desde que graves;

“capacidade para o trabalho” deve ser entendida como a possibilidade de exercício da profissão da vítima, bem
como de qualquer outra atividade não profissional;

descrição da perturbação das restantes capacidades acima mencionadas, considerando os seus aspetos temporários
e definitivos, bem como a gravidade da sua afetação, tendo em conta as respetivas repercussões concretas na vida
do ofendido;

Doença particularmente dolorosa ou permanente

Corresponde a uma situação clinicamente identificada como causadora de elevado sofrimento físico ou psíquico ou é
duradoura, podendo ser temporária ou permanente;

A avaliação da intensidade deste sofrimento pode ser feita através da descrição do tipo de lesões sofridas e dos
tratamentos efetuados.

Anomalia psíquica grave ou incurável

processo patológico resultante da agressão, em que há alterações importantes no comportamento, variações do


humor, transtornos emotivos. Justifica recorrer-se a avaliação psiquiátrica para o estabelecimento de nexo de
causalidade entre a agressão e a anomalia psíquica

Perigo para a vida

Um dos pressupostos que está no artigo 144° do Código Penal e que se engloba num dos pressupostos para afirmar
que houve ofensa à integridade física grave. O estabelecimento deste critério é com base numa probabilidade
concreta e presente do resultado letal fundamentada em sinais e sintomas de morte próxima, situações críticas e de
prognóstico reservado, relacionadas diretamente com a lesão resultante da ofensa. Esta avaliação é habitualmente
baseada na história de urgência hospitalar.

- Probabilidade concreta e presente do resultado letal, fundamentada em sinais e sintomas de morte próxima,
situações críticas e de prognóstico reservado, relacionadas diretamente com a lesão resultante da ofensa

Medidas psicossociais

- Se os dados clínicos apurados e descritos no relatório configuram uma situação de risco para o(a) Examinado(a),
requerendo, por isso, a adoção de medidas psicossociais tendentes a assegurar o seu tratamento e proteção

45. OFENSAS CORPORAIS: SIMPLES VS GRAVES

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 Ofensas leves (Artigo 143° CP)
o É necessária queixa
o Punição até 3 anos ou pena de multa

 Ofensas graves (Artigo 144°CP)


o Privação de órgão importante
o Desfiguração grave e permanente
o Tirar ou afetar gravemente capacidade de trabalho, intelectual, procriação, ou a possibilidade de
utilizar o corpo, sentidos e linguagem;
o Doença dolosa ou permanente;
o Anomalia psíquica grave ou incurável;
o Perigo para a vida
o Punição de 2 a 10 anos.

46. INDIQUE, JUSTIFICANDO, SE COMPETE AO PERITO MÉDICO-LEGAL O ENQUADRAMENTO DE DETERMINADO


CRIME CONTRA A INTEGRIDADE FÍSICA COMO SIMPLES OU GRAVE

 Não, não é da sua competência. Este apenas se deve pronunciar em relação a 4 questões:
o Natureza do instrumento que provocou as lesões;
o Consequências temporárias;
o Consequências permanentes;
o Presença ou não de perigo de vida.

 Também não é da sua competência estabelecer conclusões sobre a intenção de matar.


o Deve apenas indicar as características das lesões e será o juiz que decidirá sobre a intenção de matar.

o Os parâmetros são os seguintes:


 Indicar se a região atingida é das que vulgarmente se sabe alojarem órgãos essenciais e vitais à vida;

 Indicar se pela sua natureza, características e número, os ferimentos são favoráveis a produzir tal
hipótese;

 Indicar se os ferimentos denotam terem sido produzidos com violência;

 Indicar se o instrumento utilizado é adequado a produzir lesões mortais na região atingida;

 No caso de ferimentos com armas de fogo, indicar existência ou não de sinais de disparo a curta
distância

47. REFIRA JUSTIFICANDO, SE CONSIDERA CORRECTO QUE O PERITO MÉDICO-LEGAL CONCLUA POR UMA CAUSA
DE MORTE APENAS PELO EXAME EXTERNO DO CADÁVER

 Não é correto apontarmos a solução apenas para a conclusão apoiada em exames externos, que se
verificam ao nível do vestuário, do local, e do exterior do cadáver.

 Será necessário realizar exames ao interior do mesmo e também os designados por exames
complementares

Ex. exames toxicológicos, de criminalística, biológicos, histológicos, microbiológicos e radiológicos.

25
48. PODE O PERITO MÉDICO-LEGAL FORMULAR DIAGNÓSTICO SOBRE O DISPARO A CURTA DISTÂNCIA ? SE SIM,
BASEADO EM QUÊ ?
 Pode. Baseado nos chamados sinais de disparo a curta distância

o Existência de partículas de pólvora em combustão (pois nem todas terão ardido);

o Deteção de negro de fumo numa zona mais afastada do orifício da entrada (ao contrário da
pólvora que se encontra na sua imediata vizinhança em virtude da sua maior densidade);

o Queimadura ou chamuscamento de pelos, cabelos ou epiderme à volta do orifício;


o Deteção da “Orla de Limpeza” caso tenha sido usada uma arma velha e pouco usada, cujo lixo
terá sido veiculado no projétil, alojando-se no orifício de entrada.

49. O nexo de causalidade médico-legal pode ter natureza diversa, sendo que o nexo total, direto e certo não
deixa dúvidas no seu estabelecimento. Refira e defina outros tipos de nexo de causalidade que conheça,
explicando através de exemplos

Somente quando a análise dos critérios relativos ao nexo de causalidade permitir estabelecer-se um nexo certo,
direto e total não existirão dificuldades no seu reconhecimento.
Nexo hipotético – Quando a análise dos critérios relativos ao nexo de causalidade não consente o seu
estabelecimento com segurança, sucedendo, todavia, que o perito médico também o não pode afastar
formalmente.

Nexo parcial - quando num estado patológico intervém mais do que um único fator etiológico, o nexo é parcial
porque há uma ou mais causas que concorrem, entre as quais o traumatismo, para o resultado dano. São situações
de concausalidade em que o dano é imputável só parcialmente ao traumatismo.

Nexo indirecto - visa a filiação patogénica entre a causa e o efeito. (cotação de 0.5 valores para cada um, sendo no
total 1.5 valores).

Referência a exemplos - Nexo de causalidade indirecto - será indirecto para o médico a ligação entre um
traumatismo abdominal e a seropositividade para a SIDA, na sequência de uma laparotomia e da esplenectomia que
necessitou de uma transfusão. É, pois, necessário que o médico explique esta ligação indirecta, para que o decisor
possa compreender e tirar as consequências sobre o plano de responsabilidade do autor e da reparação do dano
sofrido pela vítima.

Nexo de causalidade hipotético – o enfarte do miocárdio em individuo com antecedentes cardíacos. Nexo de
causalidade parcial – rotura do menisco no joelho em indivíduo com alterações degenerativas no joelho prévias ao
traumatismo.

50. Diga qual a importância da cadeia de custódia em Toxicologia Forense, que passos deve incluir e como se
verifica. 3
 Processo usado para manter e documentar a história cronológica da evidência, para garantir a idoneidade e
a rastreabilidade das evidências utilizadas em processos judiciais.

 Em toxicologia forense todos os procedimentos relacionados à evidência, desde a colheita, ao transporte,


armazenamento e posterior análise, sem os devidos cuidados e sem a observação de condições mínimas de
segurança, podem acarretar na falta de integridade da prova

26
 Esta cadeia permite:
o Que não sejam postos em causa os resultados de uma análise quimico-toxicológica

o Permite ao toxicologista rejeitar alguma amostra que não venha em condições de ser processada.
Deveriam especificar quais as etapas determinantes e eventualmente condicionantes dos resultados da
perícia toxicológica:

 A Colheita realizada tem de ser adequada a cada tipo de análise de acordo com:
o Tipo de exame a realizar
o Quantidade
o Local das colheitas
o Evitar contaminações
o Colheitas das amostras de sangue antes das vísceras
o Amostras separadas
o Etc.
 O acondicionamento das amostras tem de respeitar certas regras:
o Tubos e contentores próprios para colheita e acondicionamento das amostras e de sacos de
embalagem próprios para o seu envio, fechados e selados

o Etiquetas com identificação inequívoca, conteúdo, proveniência, data/hora da colheita

o Requisições devidamente preenchidas

o Transporte e Armazenamento em condições próprias, ao abrigo da luz, em condições de refrigeração

51. Quando é que se recorre aos exames de confirmação em sangue no Serviço de Química e Toxicologia Forense
do INMLCF, no âmbito da legislação da fiscalização da condução rodoviária, nomeadamente análises aos
condutores alvo de fiscalização ou intervenientes em acidentes de viação?

 Determinação de álcool etílico em ar expirado:

o Indivíduo solicita uma contraprova sanguínea

o Indivíduo não é capaz de efetivar o sopro do ar expirado ou se recusa a fazer o teste de ar expirado

o Indivíduo teve um acidente de viação com necessidade de cuidados médicos hospitalares e incapaz
de realizar o teste de ar expirado pois é transportando ao hospital onde é feita a colheita de sangue
para a contraprova

 Fiscalização a substâncias ilícitas:

o Teste em saliva dá positivo e é obrigatória a confirmação através de contraprova sanguínea

o Se não foi possível fazer triagem em saliva, o agente de autoridade encaminha ao hospital onde é
feita a colheita de sangue para a contraprova

52. COMENTE A POSSIBILIDADE DE SER EFECTUADO O CÁLCULO RETROSPECTIVO DA ALCOOLÉMIA E O SEU VALOR
MÉDICO-LEGAL 3
 Há um intervalo de tempo entre a morte e a autópsia, que pode alterar a taxa de álcool.

27
 A taxa de alcoolémia que se obtém na autópsia é a taxa de alcoolémia da morte, mas pode não ser a taxa de
alcoolémia do momento do evento.

o No cadáver, a concentração de etanol no sangue periférico é, teoricamente, mais representativa do


que a concentração existente no momento da morte.

 Existe uma fórmula teórica para efetuar este cálculo, mas que não foi aplicada num contexto real
o Este cálculo varia intra e inter individualmente em função do sexo, peso, tipo de bebida, hábito de
consumo, estado de saúde, idade, etc..e tentando fazer-se este cálculo poderíamos cometer erros
inadmissíveis.

 Desta forma, em casos onde estejam em causa limites legais como os acidentes de viação e de trabalho,
nunca se pode fazer este cálculo (e quando se faz é apenas teórico, mas nunca para efeitos de interpretação
legal).

53. Jovem de 25 anos, vítima de acidente de viação, sendo condutor. Os agentes de autoridade deslocam-se ao
local, mas a vítima não se encontra capaz de realizar, no âmbito na legislação que regulamenta a condução
rodoviária, a análise de etanol em ar expirado, por se encontrar inconsciente. É transportando ao hospital,
onde vem a falecer meia hora depois do seu ingresso. Segue para o Instituto Nacional de Medicina Legal e
Ciências Forenses, sendo a vítima autopsiada no dia seguinte.

 Quem pode realizar as análises de etanol em ar expirado?


o GNR e PSP

 Quem pode realizar as contraprovas sanguíneas de etanol e em que casos podem ser requeridas?
o Serviço de Química e Toxicologia Forenses do INMLCF

o Requeridas sempre que a vítima/examinado solicita

o Quando não é possível a análise através do ar expirado

 No decorrer da autópsia, que exames complementares são requeridos pelo patologista forense?
o Exames ao álcool e às Drogas Ilícitas
o Porque nos acidentes de viação é obrigatório por Lei a solicitação e determinação de álcool e
substâncias ilícitas

54. Quem pode pedir análises químico-toxicológicas ao Serviço de Toxicologia Forense?

 QUEM PODE PEDIR ÂMBITO O QUE PEDEM


o Forças policiais, nomeadamente GNR e PSP  âmbito do Código da Estrada
 Álcool + Drogas de Abuso

o Unidade F. de Patologia Forense + Comarcas Autópsia ML  Saber se a toxicologia foi causa de


morte ou se alguma substância causou estado de influência
 Qualquer composto toxicológico.
Exs: Álcool, Drogas de Abuso, Pesticidas, Medicamentos, CO, CN, entre outros

o Unidade F. de Clínica Forense  Ex. suspeita Crimes Sexuais

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 Álcool + Medicamentos + Drogas de Abuso (particularmente substâncias como GHB ou
Benzodizepinas)

o Hospitais  Suspeitas de intoxicação em indivíduos hospitalizados, mas com dificuldade de


diagnóstico
 Qualquer composto toxicológico
 + frequente a medicamentos, pesticidas OF, arsénio.

o Análises Particulares  Suspeita de compostos toxicológicos


 Qualquer composto toxicológico
Exs: Drogas de Abuso, Pesticidas, Medicamentos

55. COMENTE A VALIDADE DA DETERMINAÇÃO DA ALCOOLÉMIA NUM CADÁVER PUTREFACTO 2


 Num cadáver, a taxa de alcoolémia é normalmente calculada através do sangue. Quando esta
metodologia não é aplicável, pode fazer-se uma determinação indireta através da medula óssea

 Contudo num cadáver putrefacto, produzem-se substâncias químicas que causam dificuldades na
determinação da taxa de alcoolemia (como produção bacteriana de álcool).

56. “Os casos de intoxicação por cianeto estão atualmente mais associados a uma etiologia homicida". Comente,
indicando se considera verdadeira ou falsa a afirmação, justificando.

 A afirmação é falsa.
o Antigamente sim, era homicídio;
o Agora, com a restrição do seu uso e a não existência do gás no nosso país, o cianeto é mais usado
para fins suicidas, para quem trabalha com estes compostos e que deseja por fim à vida

57. "A lei nacional relacionada com a condução rodoviária sob efeito de substâncias ilícitas é uma lei per se".
Justifique a afirmação.

 Basta a presença de uma substância ilícita ativa para ser alvo de sanção, independentemente da sua
concentração
o Ao contrário do que acontece para o álcool etílico, onde há 3 limites de concentrações com
penalidades distintas, sendo que abaixo de 0,5g/L não há penalização

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