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VISÃO EPISTEMOLÓGICA AMBIENTAL SOBRE AS QUESTÕES AMBIENTAIS DO

CERRADO PIAUIENSE.
Mara Águida Porfírio Moura. (Mestranda de Desenvolvimento do Meio Ambiente da Universidade
Federal do Piauí – TROPEN/PRODEMA.)

Termos para indexação: epistemologia, epistemologia ambiental, gestão ambiental.

Introdução
Uma das diretrizes que devem orientar a administração das áreas dos cerrados no Piauí é a
garantia de que, no momento de se tomar decisões importantes sobre a utilização dos recursos
naturais dos cerrados, essas decisões, seja fruto de um relato científico de caráter histórico,
sociológico e ambiental.
A noção epistemológica dentro dos novos paradigmas da relação homem vs natureza vem
sendo alvo de grandes discussões entre autores na tentativa de examinar, identificar ou explicar
possíveis integrações e dicotomias entre os diversos saberes do cerrado.
A necessidade de tal abordagem se justifica, na exata medida que em nosso tempo, a
preocupação com as técnicas de procedimento vem sendo o foco principal de estudo, rejeitado
valores intrínsecos de todo o processo de análise, do uso e implantação de tais técnicas. Esse foco se
justifica pela necessidade numérica de resultados em curto prazo, negligenciando a continuidade
dos saberes que fundamentam todo o processo.
Somente um conhecimento básico das principais questões epistemológicas ambientais e da
metodologia, pode oferecer ao interessado uma visão global e fundamental do sentido, alcance,
limite e validez da investigação, de suas técnicas, procedimentos e aplicações.
A ausência epistemológica e metodológica que sustenta uma técnica de investigação pode
representar apenas um confuso conjunto de procedimentos, cuja opção de uso recai na escolha
aleatória exclusiva de quem opta por este tipo de procedimento e que serve para poucos. (GOMES,
1999)
Neste contexto, a epistemologia tem o sentido de ir além das aparências, da ilusão de
objetividade, de busca e obtenção do conhecimento válido, neutro e verdadeiro. Objetiva a
desmistificar a existência de monopólio da ciência sobre o conhecimento, mostrando que existem
outras formas de saberes que devem ser valorizados em conjuntos com novas técnicas de uso dos
recursos e apresentação de resultados.
A epistemologia é atualmente um dos ramos do saber humano mais relevante e mais
analisado, pelo fato de que o conceito epistemológico é elástico e, por essa razão, variado e
pluriforme, segundo as várias épocas e as várias tendências ideológicas.
Do ponto de vista científico, o diálogo entre as abordagens epistemológicas se faz oportuno
dentro das novas percepções socioambiental, a qual busca dentro da complexidade das ciências a
formação interdisciplinar dos processos. Sobre este foco a epistemologia ambiental se fundamenta
pelas tendências epistemológicas da genética de Piaget, pela epistemologia histórica de Bachelard,
pela epistemologia racionalista crítica de Popper, pela epistemologia arqueológica de Foucoult, pela
epistemologia da complexidade de Morin e a epistemologia da racionalidade ambiental de Leff.
Todas essas tendências nortearam o processo de identificação das rupturas epistemológicas
originando a complexidade ambiental a qual necessita de uma articulação dialética entre os saberes,
numa relação constante de vigilância crítica-científica, necessárias na tomada de decisões sobre os
recursos naturais, inclusive as do cerrado piauiense.
Neste sentido, através de uma reflexão epistemológica, a pesquisa que vem sendo
desenvolvida corresponde a uma etapa da dissertação de mestrado junto ao
TROPEN/PRODEMA/UFPI, buscando apresentar uma reflexão sobre as técnicas de manuseio, na
disseminação dos saberes tradicionais do cerrado, na epistemologia ambiental e sua aplicabilidade
na gestão ambiental no Estado do Piauí.
Esse processo se justifica no exato momento que as relações dos conhecimentos sobre o
cerrado dão ênfase as abordagens técnicas de uso distanciando das epistemológicas de relevante
valor para a disseminação de novas culturas na relação entre os saberes tradicionais e os saberes
modernos. Tais relações são importantes na medida em que apresentam as bases de diferentes focos
epistemológicos que servem como alicerce para a epistemologia ambiental tão necessária para os
processos de fomentação da gestão ambiental desenvolvida no cerrado piauiense.
A relevância desta pesquisa reside na concepção que a extensão territorial do cerrado no
Estado do Piauí demanda de uma fatia significativa do uso dos recursos naturais e saber tradicional
e que tais abordagens podem contribuir para uma melhor reflexão sobre os procedimentos, técnicas
e métodos da utilização de suas riquezas sociambientais.
Material e Métodos
O método está organizado em três etapas: levantamento das diferentes abordagens sobre
epistemologia e suas concepções, desvelamento das bases epistemológica que alicerça a
epistemologia ambiental e a identificação e verificação da utilização conceitual científica ambiental
dos métodos, técnicas e procedimentos na gestão ambiental piauiense.
Num primeiro olhar, pode-se perceber que as tendências epistemológicas se formam a partir
de várias configurações histórica, ideológica e social. Essa como afirma Pe. Cavalcante, 1972, p.25
“ a ciência é a fonte fornecedora dos problemas a serem estudados pela epistemologia e muitos das
soluções devem ser procuradas e encontradas na própria ciência”. Destaca o autor que a
epistemologia aborda três direções marcantes; a primeira é tipicamente filosófica, a segunda é
direcionada a conceitualização da metaciência e a terceira direção seria uma conjunção
conciliatória contemporânea.
A epistemologia é a reflexão, o estudo de propósitos críticos sobre a ciência constituída ou
em processo de constituição, onde o conhecimento é cumulativo e atende a interesses e valores que
se alteram com o tempo. Atualmente a epistemologia não se interessa em discutir a verdade da
ciência, conceito que perdeu o sentido, mas o gênese, a formação e a estruturação de cada ciência e
os processos históricos de validação que aparecem.
A segunda etapa é constituída de abordagem sistêmica sobre as visões epistemológicas de
Piaget, de Bachelard, de Popper, de Foucoult, de Morin e de Leff. Todas estas abordagens servem
para a estruturação e fundamentação científica da epistemologia ambiental.
Nessas abordagens são estudadas dentro de uma eqüidade de valores não cabendo avaliar
ou julgar quem é superior ou inferior, mas sim, apresentar uma visão sistêmica das interpretações
científica de cada foco de estudo.
Por fim, a discussão avalia os estudos epistemológicos ambientais necessários no processo
de análise das técnicas disseminada e sua relação direta com os saberes locais buscando identificar
a necessidade de uma melhor interação entre os grupos de interesses frente aos procedimentos da
gestão ambiental enfatizando a complexidade de tais conhecimentos.
Dentro do foco da gestão ambiental, a visão epistemológica ambiental busca identificar e
verificar os valores sociambientais utilizados, sua viabilidade operacional e educativa frente aos
processos de desenvolvimento sustentáveis implantados no Piauí e em especial os abragentes ás
questões ambientais.
Portanto, a abordagem epistemológica ambiental sobre o Cerrado tem relevância tendo em
vista que os maiores investimentos com utilização de recursos naturais no Estado estão ocorrendo
nestas áreas.

Resultados e Discussão
Diante da complexidade e do dinamismo ambiental, inserir o discurso epistemológico é
fundamental para a reorganização do pensamento epistemológico ambiental, que busca de forma
inovadora assumir uma amplitude nunca antes apresentada. Entretanto, “a crise ambiental é acima
de tudo, um problema de conhecimento” (Leff, 2001), o que nos leva a repensar o ser do mundo
complexo e entender suas vias de complexidade.
Desta forma este trabalho tem caráter explicativo documental. Observando que os resultados
encontrados nesta primeira etapa já denotam de grande valor, no qual, os saberes tradicionais estão
sendo esquecidos e as técnicas de manejos e uso tornam-se grande obstáculo de valoração cultural,
tendo em vista, que a rejeição dos saberes tradicional minimiza a interação entre os grupos de
interesses envolvidos e a disseminação de novas técnicas de procedimento.
Portanto, a epistemologia ambiental não é um apêndice das abordagens do cerrado, mas um
núcleo de grande relevância para a implantação, valoração e disseminação entre os saberes. Tais
pontos resultam da necessidade de um gerenciamento dos recursos do cerrado e a fomentação de
uma política de gestão ambiental coesa com as perspectivas de desenvolvimento piauiense.

Conclusões
Sabe-se que a questão ambiental é atravessada, no seu todo, por questões ideologicas
traduzidas por perspectivas preservacionistas, antropocêntricas ou conservacionistas afirma
Calvalcante,1998.
Portanto, elucidar como a utilização do conceito sobre epistemologia tem se inserido em
debates ambientais é uma tarefa importante para a democratização da ciência e dos saberes, e para
uma reflexão sobre os intrumentos teóricos científicos que a compoem e quanto estes são adequados
para garantir a escuta às comunidades na administração de áreas ambientais, visando garantir maior
qualidade ambiental para todos.

Referências bibliográficas
BLANCHÉ, R. A epistemologio 3ed. Lisboa: Editorial Presença, 1983.
CALVALCANTE, C. (org) Desenvolvimento e natureza: estudo para uma sociedade sustentável. 2
ed. São Paulo: Cortez, 1998.
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FLICKINGER, H. O ambiente epistemológico da educação Ambiental. Educação & Realidade.
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LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis:
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LEFF, E. Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza. Rio de Janeiro. Civilização
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MAY, P. & SÊROA D., R.(Orgs) Valorando a natureza: análise econômica para o
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