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POLÍTICA
Kellen Lazzari
Ludmila Gonçalves da Matta
Rodrigo Ricardo Mayer
(Orgs.)
CIÊNCIA
POLÍTICA
K ellen L a zz ari
L udmil a G onçalves da M at ta
R odrigo R icardo M ayer
(O rgs .)
1ª E dição
A gos to | 2020
Gestão Universidade
Reitor Prof. Dr. Paulo Fossatti - Fsc
Vice-Reitor, Pró-Reitor de Pós-grad., Prof. Dr. Cledes Casagrande - Fsc
Pesq. e Extensão e Pró-Reitor de Graduação
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Coordenador de Produção Prof. Dr. Jonas Rodrigues Saraiva
C569 Ciência política / Kellen Lazzari, Ludmila Gonçalves da Matta, Rodrigo Ricardo Mayer (orgs.)
– Canoas, RS : Universidade La Salle EAD, 2020.
114 p. : il. ; 30 cm. – (Direito e política)
Bibliografia.
A equipe de gestão da EaD Unilasalle sente-se honrada em entregar a você este material
didático. Ele foi produzido com muito cuidado para que cada Unidade de estudos possa
contribuir com seu aprendizado da maneira mais adequada possível à modalidade que você
escolheu para estudar: a modalidade a distância. Temos certeza de que o conteúdo apresen-
tado será uma excelente base para o seu conhecimento e para sua formação. Por isso, indica-
mos que, conforme as orientações de seus professores e tutores, você reserve tempo sema-
nalmente para realizar a leitura detalhada dos textos deste livro, buscando sempre realizar
as atividades com esmero a fim de alcançar o melhor resultado possível em seus estudos.
Destacamos também a importância de questionar, de participar de todas as atividades pro-
postas no ambiente virtual e de buscar, para além de todo o conteúdo aqui disponibilizado,
o conhecimento relacionado a esta disciplina que está disponível por meio de outras biblio-
grafias e por meio da navegação online.
Kellen Lazzari
Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (1993), especialista em Direito do Consumidor e Direitos Fundamentais
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2008), Mestre em Memória Social e
Bens Culturais pela Universidade La Salle (2014). Doutora em Memória Social e Bens
Culturais pela Universidade La Salle (2019). Participa do Grupo de Pesquisa do CNPq de
Estratégias Regionais. Atuação nos seguintes temas: políticas públicas, gestão pública,
cultura, gênero, bem como, áreas correlatas multidisciplinares. Presta consultorias e
capacitações sobre violência contra as mulheres, violência de gênero e políticas públicas
para as mulheres.
Seja bem-vindo à disciplina de Ciência Política. Neste livro iremos estudar as estrutu-
ras da sociedade e do Estado; compreender a formação e aplicação do Estado moderno
e do constitucionalismo; compreender o princípio da democracia e a dinâmica legal e
social da cidadania; estudar os fundamentos da teoria política, as formas de governo,
sua composição e normatização; e analisar a questão social e a responsabilidade do
Estado frente às mudanças contemporâneas na sociedade e no Estado.
Na Unidade 1 (A formação do Estado Moderno), você irá estudar as origens dos Esta-
dos Modernos. Na Unidade 2 (Estado Moderno como facilitador da cidadania), você
irá conhecer a relação do Estado com a construção dos direitos. Na Unidade 3 (O Fun-
cionamento do Estado: separação dos poderes e sistemas de governo), você irá com-
preender as formas de governo e seus impactos na organização estatal. E, por fim, na
Unidade 4 (Os diferentes tipos de Estado: do Estado Liberal às críticas neomarxistas),
você irá conhecer o Estado Liberal, o Estado de Bem-Estar Social e as críticas formu-
ladas pelos autores neomarxistas.
Bons estudos!
Sumário
UNIDADE 1
A Formação do Estado Moderno.................................................................................................................................9
Objetivo Geral .............................................................................................................................................................9
Objetivos Específicos .................................................................................................................................................9
Questões contextuais..................................................................................................................................................9
1.1 Estado e Poder...................................................................................................................................................... 10
1.2 Concepções sobre a Origem do Estado: o Contratualismo................................................................................. 13
1.3 O Contrato de Thomas Hobbes............................................................................................................................. 14
1.4 O Contrato de John Locke.................................................................................................................................... 17
1.5 O Contrato de Jean Jacques Rousseau............................................................................................................... 20
1.6 Comparando os Contratualistas........................................................................................................................... 22
1.7 O Conceito de Estado por Max Weber.................................................................................................................. 23
1.8 O Conceito de Estado por Norbert Elias............................................................................................................... 27
1.9 O Conceito de Estado por Charles Tilly................................................................................................................ 29
Síntese da Unidade....................................................................................................................................................31
Referências................................................................................................................................................................32
UNIDADE 2
Estado Moderno como Facilitador da Cidadania......................................................................................................33
Objetivo Geral ...........................................................................................................................................................33
Objetivos Específicos ...............................................................................................................................................33
Questões Contextuais................................................................................................................................................33
2.1 Cidadania: um Conceito Histórico........................................................................................................................ 34
2.2 Direitos Civis......................................................................................................................................................... 40
2.3 Direitos Políticos................................................................................................................................................... 42
2.4 Direitos Sociais..................................................................................................................................................... 45
2.5 Entre a Cidadania e o Estado................................................................................................................................ 47
2.6 Aspectos Sobre a Cidadania Brasileira................................................................................................................ 51
Síntese da Unidade....................................................................................................................................................53
Referências................................................................................................................................................................54
UNIDADE 3
O Funcionamento do Estado: Separação dos Poderes e Sistemas de Governo......................................................55
Objetivo Geral ...........................................................................................................................................................55
Objetivos Específicos ...............................................................................................................................................55
Questões Contextuais................................................................................................................................................55
3.1 Estado Moderno, seus Elementos e Organização................................................................................................ 56
3.2 Formas de Estado................................................................................................................................................. 59
3.3 Formas de Governo............................................................................................................................................... 63
3.4 Sistemas de Governo............................................................................................................................................ 68
3.4.1 Sistema Parlamentar................................................................................................................................................68
3.4.2 Sistema Presidencialista...........................................................................................................................................71
3.4.3 Semipresidencialismo..............................................................................................................................................72
3.5 Separação dos Poderes........................................................................................................................................ 75
3.6 Regimes de Governo............................................................................................................................................. 81
3.6.1 Regime Democrático................................................................................................................................................82
3.6.2 Regime Autoritário....................................................................................................................................................83
3.6.3 Regime Totalitário.....................................................................................................................................................83
Síntese da Unidade....................................................................................................................................................84
Referências................................................................................................................................................................85
UNIDADE 4
Os Diferentes Tipos de Estado: do Estado Liberal às Críticas Neomarxistas.........................................................87
Objetivo Geral ...........................................................................................................................................................87
Objetivos Específicos ...............................................................................................................................................87
Questões Contextuais................................................................................................................................................87
4.1 Surgimento do Estado Liberal e suas Características ....................................................................................... 88
4.2 Estado de Bem-Estar Social: Características e Variações.................................................................................. 97
4.3 Os Neomarxistas e suas Características........................................................................................................... 103
Síntese da Unidade..................................................................................................................................................111
Referências..............................................................................................................................................................112
unidade
1
A Formação do Estado Moderno
Prezado(a) estudante.
Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram
organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo
completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e
tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos
propostos para essa disciplina.
OBJETIVO GERAL
Conceitualizar as origens dos Estados Modernos.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Apresentar as diferentes definições do Estado Moderno;
QUESTÕES CONTEXTUAIS
• Qual a origem do Estado?
Não se pode considerar um único evento como decisivo para formação do Estado
Moderno, mas podemos avaliar que sua criação possui forte relação com a expansão do
sistema capitalista. No final da Idade Média, a partir do século XVI, houve o renascimento
das atividades econômicas e a expansão do comércio, deslocando a economia agrária
(feudal) para o incipiente capitalismo, conclamando uma nova forma de organização
social, com a necessária construção dos Estados.
DESTAQUE
Como ele mesmo descreve, muitos já haviam escrito sobre como um príncipe deve
proceder. Entretanto, o seu objetivo era com a verdade efetiva e não com a aparência,
idealizando repúblicas e principados que nunca existiram (MAQUIAVEL, 1955). O
autor propunha uma República a partir dos fatos que ele observava e das circunstâncias
históricas do momento em que ele vivia.
Maquiavel descreve que o príncipe deve agir com esperteza, astúcia, virilidade e
flexibilidade. Essas seriam características pessoais, a virtú. A partir da virtú, o príncipe
poderia controlar a fortuna, que são aspectos circunstanciais e pouco previsíveis.
E como se pode domar, controlar a fortuna? Para Maquiavel, isso seria possível
através do agir do princípe. “Como Maquiavel está a tratar de homens com poder
político, a fortuna, o destino, pode ser compreendida como a insegurança da vida
política em situações onde o poder não conta com legitimação tradicional e costumeira”
(WOLKMER, 2003, p. 81).
A Formação do Estado Moderno | UNIDADE 1 13
Thomas Hobbes, John Locke e Jean Jacques Rousseau são conhecidos como
contratualistas por questionarem a natureza da sociedade e do Estado. Os autores
afirmam que existe um momento tácito ou expresso em que a maioria dos indivíduos
firmam um contrato para saída do estado de natureza e a passagem para o estado civil.
14 CIÊNCIA POLÍTICA | Ludmila Gonçalves da Matta
Apesar de não fazer parte da nobreza, foi criado junto à casa da família Cavendish,
o que lhe propiciou certa estabilidade e tranquilidade para chegar até a Universidade de
Oxford, onde se formou bacharel em Artes (um curso que envolvia o estudo de lógica e
física aristotélica) (WOLKMER, 2003).
Hobbes sempre esteve muito próximo aos reis e à defesa de seus interesses. Ele
propôs um método de investigação que se opõe à visão aristotélica de descrição da
realidade, ao considerar que é possível conhecer a realidade tomando não os objetos em
si, mas a percepção que se tem destes objetos (WOLKMER, 2003). Sua obra é marcada
pela defesa do Estado Absolutista.
A Formação do Estado Moderno | UNIDADE 1 15
Daí deriva a citação clássica que expressa a visão do homem em estado natural: “O
homem é o lobo do homem”. Com essa frase, Hobbes rompe com a visão aristotélica de
que o homem é bom ao retratar um homem mau. Portanto, no estado de natureza guiado
pelos instintos naturais egoístas, os homens eram levados à própria destruição e a uma
guerra de todos contra todos. Como conter esse estado de incerteza e constante guerra?
O Leviatã foi o nome dado por Hobbes a essa entidade que hoje chamamos de
Estado, o qual o homem renuncia a todos os seus direitos, com exceção do direito à vida,
para delegar a essa criatura soberana. Como afirma Diniz (2001, p. 158), “O Estado em
Hobbes já nasce com poderes supremos. Nem poderia ser de outra forma, pois a seu ver
o poder do Estado ou é absoluto ou não existe”. O que devemos destacar, também, é
que com o Leviatã nasce a sociedade, porque em estado natural não havia sociabilidade.
De acordo com Hobbes, o Estado foi instituído quando uma multidão de homens
concordaram e pactuaram que a qualquer homem ou assembleia de homens a quem seja
atribuído pela maioria o direito de representar a pessoa de todos eles (ou seja, de ser
representante), todos, sem exceção, tanto os que votaram a favor dele como os que votaram
contra, deverão autorizar todos os atos e decisões desse homem ou assembleia de homens,
tal como se fossem seus próprios atos e decisões, a fim de viverem em paz uns com os
outros e serem protegidos dos restantes homens (HOBBES apud RIBEIRO, 1991, p. 63).
Para Hobbes, a submissão absoluta é o preço a ser pago pelo súdito pela proteção
trazida pelo Estado. Por essa razão, o seu pensamento é inspiração do modelo absolutista
em que os reis exercem o poder absoluto, constituindo o Estado Absolutista.
DESTAQUE
REFLETINDO
O pensador inglês John Locke (1632-1704), autor de “Os Dois Tratados sobre
Governo Civil”, além de “Ensaios sobre a Inteligência Humana” e “Cartas sobre
a Tolerância”, é considerado o pai do liberalismo clássico. Seus escritos buscam
contrapor o direito divino dos reis, sendo um grande defensor das liberdades religiosas.
Locke nasceu numa família puritana da pequena burguesia. Ele, assim como
Hobbes, vivenciou a Guerra Civil, considerado um dos momentos mais conturbados da
história da Inglaterra (WOLKMER, 2003).
1991, p. 86). Todavia, esse ente teria poder delimitado, visto que Locke defende que
os sujeitos do contrato podem se opor ao Estado quando houver violação aos direitos
naturais, principalmente o direito à propriedade privada ao qual ele dedicou um espaço
considerável de suas análises.
Na concepção de Locke, como a terra foi dada por Deus em comum a todos os
homens, assim também como a capacidade de trabalho, ao empregar trabalho à terra ele
se torna proprietário dela.
Para Locke, o surgimento do Estado civil passa por dois momentos distintos: o
contrato social e a instituição do governo civil. O primeiro é o momento em que os homens
fazem o pacto mediante consentimento de todos a se submeter ao poder político e o segundo
é o da formação do governo mediante a decisão da maioria (WOLKMER, 2003).
O governo civil de Locke prevê uma separação entre os poderes. Na teoria de
Locke, o poder Judiciário não é autônomo e enfatiza a supremacia do Legislativo. A sua
separação comporta o Poder Legislativo, Poder Federativo e Poder Executivo, sendo que
esses últimos devem ser ocupados pela mesma pessoa. Vale lembrar que, apesar disso,
o poder Legislativo como poder supremo deve ser limitado. Ele propõe as seguintes
limitações:
1. as leis devem ser estabelecidas para todos igualmente, e não devem
ser modificadas em benefício próprio;
2. as leis “só devem ter uma finalidade:o bem do povo”;
3. não deve haver imposição “de impostos sobre a propriedade do
povo sem que este expresse seu consentimento, individualmente ou
através de seus representantes”;
4. a competência para legislar não pode ser transferida para outras
mãos que não aquelas a quem o povo confiou (LOCKE 1994, p. 169
apud PELICIOLI, 2006, p. 25).
SAIBA MAIS
Jean Jacques Rousseau (1712-1778) foi um filósofo iluminista, autor das obras “O
contrato social” e “Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade
Entre os Homens”. Rousseau, assim como os demais pensadores apresentados, irá tratar
de temas como estado de natureza, contrato social, estado civil, liberdade, soberania e
propriedade privada.
Dessa forma, Rousseau propõe um pacto social legítimo que liberte o homem da
escravidão, através do qual os homens, depois de terem perdido sua liberdade natural,
ganhem, em troca, a liberdade civil.
Hobbes e Locke, pois propõe um Estado limitado pelo povo e que a propriedade seja o
caminho para igualdade e não para opressão, o que se aproxima muito dos estados
democráticos da atualidade.
REFLETINDO
SAIBA MAIS
Max Weber (1864-1920) é um sociologo alemão conhecido pela sua obra “A ética
protestante e o espírito do capitalismo”, em que descreve a influência da religião para o
desenvolvimento do capitalismo nos Estados Unidos. Entretanto, os principais elementos de
sua teoria são encontrados em “Economia e Sociedade”, considerada a obra mais importante
desse autor, que reúne escritos de Weber organizado pela sua companheira e publicado após
a sua morte. Nessa obra ele desenvolve uma análise do Estado enquanto entidade política
baseada numa estrutura de poder e dominação. Weber apresenta uma visão positiva do
Estado Moderno ao relacioná-lo com o processo de dominação racional legal (burocracia) e,
em última instância, como o detentor do monopólio legítimo da violência.
Dessa forma, ele classifica os três tipos puros de dominação legítima, segundo a
vigência de sua legitimação (WEBER, 1999. p. 141):
Relembrando que Weber define o Estado como uma comunidade humana que,
nos limites de um território, reivindica com sucesso para si próprio o monopólio da
violência física (BIANCHI, 2014).
26 CIÊNCIA POLÍTICA | Ludmila Gonçalves da Matta
O controle da força física pode ser considerado o ponto mais emblemático dessa
definição. Ao falar sobre o surgimento do Estado Civil, o pensador Thomas Hobbes
destaca que, no Estado Civil, abrimos mão da nossa força física para delegá-la ao
Estado. Isso não significa que o Estado seja necessariamente violento, mas que somente
ele pode fazer uso da força. Ou seja, detém o monopólio. Dessa forma, quando temos
algum conflito interpessoal, temos que recorrer ao Estado para resolvê-lo. É ele quem
decide sobre propriedade, direitos e deveres e penalidades de todos que estão sob o seu
domínio, além de fornecer serviços essenciais à população.
Para Elias, os processos sociais que dão origem a configurações do tipo: família,
aldeia, cidade, estado e nações, que se formam a partir das atividades dos indivíduos
que, por meio de suas necessidades, são orientados uns para os outros e construindo
teias de interdependência.
O conceito de configuração pode ser aplicado onde quer que se formem conexões
e teias de interdependência humana, isto é, em grupos relativamente pequenos ou em
agrupamentos maiores.
Sendo assim, o Estado Moderno pode ser entendido como uma configuração
social que se formou a partir da interação entre os diferentes agentes e o ambiente.
• Os modos civilizados de ser têm relação estreita com o refinamento dos costumes,
que passam a caracterizar os indivíduos ocidentais modernos. A limpeza e a
higiene pessoal são exemplos básicos desse refinamento dos costumes.
ameaçada ou real - de uma ação que comumente causa perda ou dano às pessoas ou
às posses de indivíduos ou grupos, os quais estão conscientes tanto da ação quanto do
possível dano” (TILLY, 1996, p. 67).
SAIBA MAIS
SÍNTESE DA UNIDADE
Iniciamos nossa Unidade demonstrando a relação entre Estado e Poder e
nesse tópico destacamos o pensamento de Nicolau Maquiavel. Vimos como o termo
“maquiavélico” está presente no nosso cotidiano e, como destaque, descrevemos o
Estado Absolutista. Apresentamos, também, o pensamento dos contratualistas: Thomas
Hobbes, John Locke e Jean Jacques Rousseau e como esses autores teorizaram sobre a
formação do Estado e o tipo de Estado que defendem. Por fim, apresentamos os autores
que escreveram sobre o funcionamento do Estado, dando destaque para Max Weber e
seu conceito de burocracia.
32 CIÊNCIA POLÍTICA | Ludmila Gonçalves da Matta
REFERÊNCIAS
BIANCHI, A. O conceito de Estado em Max Weber. Lua Nova, São Paulo, 92: 79-104, 2014.
Disponível em: http://gg.gg/ip859. Acesso em: 19 abr. 2020.
COSTA, C. J; MENEZES, S. L. Norbert Elias e a teoria dos processos civilizadores. Revista
HISTEDBR On-line, Campinas, nº 53, p. 238-262, out 2013. Disponível em: http://gg.gg/ip84k.
Acesso em: 20 abr. 2020.
DINIZ, A. C. de A. Direito, Estado e contrato social no pensamento de Hobbes e Locke:uma
abordagem comparativa. Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 29, n. 152, out. /dez. 2001.
ELIAS, N. A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia da
corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
ELIAS, N. O processo Civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.
LEÃO, A. B, FARIAS, E. Apresentação. Soc. estado, Brasília, v. 27, n. 3, p. 458-468, 2012.
Disponível em http://gg.gg/ip88d. Acesso em: 24 mar. 2020.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Vecchi, 1955.
MELLO, L. I. A. John Locke e o individualismo liberal. In: WEFFORT, Francisco C.
Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 1991. p. 79-110.
OLIVEIRA, M. “Maquiavel”; Brasil Escola. Disponível em: http://gg.gg/ip88u.
Acesso em: 16 abr. 2020.
PELICIOLI, A. C. P. A atualidade da reflexão sobre a separação dos poderes. Revista de
Informação Legislativa. Brasília a. 43 n. 169 jan./mar. 2006. Disponível em: http://gg.gg/ip898.
Acesso em: 17 abr. 2020.
RIBEIRO, R. J. Hobbes: o medo e a esperança. In: WEFFORT, Francisco C. Os clássicos da
política. São Paulo: Ática, 1991. p. 51-77.
SANTOS, R. P. Hobbes e a filosofia do poder: os “princípios” antipolíticos do leviatã na leitura
de Hannah Arendt. Kriterion, Belo Horizonte , v. 58, n. 136, p. 203-220, Apr. 2017. Disponível
em: http://gg.gg/ip89r . Acesso em: 17 abr. 2020.
SARAT, M. S; SANTOS, R. S. Sobre Processos Civilizadores:diálogos com Norbert Elias.
Dourados : Ed. UFGD, 2012.
TILLY, C. Coerção, capital e estados europeus. São Paulo: EDUSP, 1996.
WEBER, M. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília:
UNB, 1999.
WEFFORT, F. C. Os clássicos da política. São Paulo: Ática. 1991.
WOLKMER, A. C. Ideologia, Estado e Direito. São Paulo: Revista dos tribunais, 2000.
WOLKMER, A. C. Introdução a História do Pensamento Político. Rio de Janeiro: Renovar,
2003.
unidade
2
Estado Moderno como Facilitador da
Cidadania
Prezado(a) estudante.
Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram
organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo
completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e
tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos
propostos para essa disciplina.
OBJETIVO GERAL
Apresentar a relação do Estado com a construção dos direitos (cidadania).
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Contextualizar os ambientes social, político e econômico da construção da cidadania
(Revolução Francesa, Estadunidense, Industrial);
QUESTÕES CONTEXTUAIS
• Como se constrói a cidadania?
• O que é cidadania?
Muitas pessoas associam a cidadania ao direito de votar, mas ela não se limita a
ele. O direito à vida, à liberdade, à moradia digna, à saúde, à educação e à participação
política fazem parte da cidadania.
DESTAQUE
Figura 2.1 - Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 1789 (óleo sobre tela).
Outro fato histórico relevante para consagração dos direitos do homem foi a
Independência Americana, que ocorreu no dia 04 de julho de 1776, cuja declaração
expõe sobre as injustiças políticas e a proclamação dos direitos humanos. Thomas Jefferson
expõe: “Consideramos estas verdades autoevidentes: que todos os homens são criados
iguais, dotados pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a
vida, a liberdade e a busca da felicidade” (JEFFERSON apud HUNT, 2009, p. 13).
VÍDEO
Observamos que, até então, a luta estava centrada na liberdade civil (direitos
civis). Entretanto, a história da cidadania moderna compreende o conjunto dos direitos
civis, políticos e sociais. Thomas Marshall, em 1950, publicou um livro intitulado
“Cidadania e Classe Social”, que se tornou uma obra clássica, na qual ele apresenta
uma análise da conquista da cidadania na Inglaterra através de uma cronologia da
geração dos direitos.
Apesar dos estudos de Marshall terem tido como foco o caso da Inglaterra, uma
sociedade que tem uma trajetória política e social diferente de outros países europeus,
há, também o fato de ter passado pela Reforma Protestante, o que não foi impeditivo
para que suas análises servissem de modelo para estudar a conquista da cidadania em
outros países (VIEIRA, 2009).
Os direitos sociais que tratam dos direitos de bem-estar social como saúde,
educação, moradia, trabalho, aposentadoria etc. têm início nas lutas travadas pelos
trabalhadores no período da Revolução Industrial, quando estes eram submetidos a
jornadas de trabalho desumanas e a condições precárias de salubridade. De acordo com
Weis (1999), as primeiras conquistas dos direitos sociais se limitavam a proteger os
trabalhadores e se consolidaram em resposta ao tratamento predatório oferecido pelo
capitalismo industrial em meados do século XIX.
DESTAQUE
A partir dos anos 1970, nos países de capitalismo central, surgiram os Novos
Movimentos Sociais demandando os chamados direitos difusos ou direitos de terceira
geração como: direito de proteção aos animais, direito ambiental, direito das mulheres,
homossexuais e outros. A característica principal desses movimentos é que eles se
desvinculam dos tradicionais movimentos das classes trabalhadoras.
DESTAQUE
Quem nunca ouviu falar dos órgãos de censura instaurados durante a Ditadura
Militar no Brasil? As músicas, as peças teatrais, os livros e outras formas de expressão
artística eram obrigadas a passar por esses órgãos a fim de obter autorização para serem
publicadas.
DESTAQUE
SAIBA MAIS
REFLETINDO
No Brasil, a luta sufrágica foi longa e árdua, sendo que as primeiras manifestações,
isoladas, por parte de mulheres, teriam aparecido por volta de 1832 (BESTER, 2016).
“Destaque é dado, nos relatos históricos, à atuação da feminista e ativista política Bertha
44 CIÊNCIA POLÍTICA | Ludmila Gonçalves da Matta
Lutz, que foi a grande líder do movimento sufragista brasileiro em seus últimos anos”
(BESTER, 2016, p. 336).
Após inúmeros prós e contras, avanços e retrocessos na luta, por fim o direito ao
voto feminino no Brasil foi assegurado, em âmbito nacional, no Código Eleitoral de
1932, cem anos após as primeiras manifestações (BESTER, 2016).
SAIBA MAIS
Portanto, no caso brasileiro a efetivação dos direitos políticos está limitado pelas reais
possibilidades enfrentadas pela classe trabalhadora nas suas dimensões de raça e gênero.
A consolidação dos direitos sociais ainda não é uma realidade para milhões de
pessoas em todo planeta. Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde de 2018,
menos da metade da população mundial recebe todos os serviços de saúde essenciais.
Em 2010, por exemplo, quase 100 milhões de pessoas foram levadas à pobreza extrema
por terem que pagar pelos serviços de saúde com dinheiro do próprio bolso (ASBRAN,
2020).
Eu, por experiência própria, como trabalhador braçal que já fui, bóia-
fria, servente de tudo, peão, mão-de-obra barata e desqualificada,
sem carteira assinada e outros direitos básicos, quase nada sabia de
cidadania, apesar de praticamente ter passado uma vida toda tentando
ser cidadão (GEAQUINTO, 2002, p. 14).
O reconhecimento formal dos direitos (garantidos por lei) não é suficiente para se
instituir a cidadania. Para efetividade dos direitos sociais é necessário, primordialmente,
a regulação e intervenção do Estado para sua realização. A principal forma de realização
dos direitos sociais ocorrem por meio das políticas públicas e ações direcionadas pelo
Estado para solução dos conflitos sociais. Os direitos sociais permitem às sociedades
politicamente organizadas reduzir as desigualdades produzidas pelo capitalismo através
do princípio de justiça social (CARVALHO, 2008).
Estado Moderno como Facilitador da Cidadania | UNIDADE 2 47
REFLETINDO
Será que um trabalhador que vive na informalidade, que não teve acesso
à educação, saúde e moradia dignas pode ser considerado um cidadão?
Observamos que a realização dos direitos e o exercício da cidadania não
se dá de forma completa para todas as pessoas, colocando pessoas na
condição de subcidadãos ou cidadãos incompletos.
SAIBA MAIS
liberais. “Para Marx, os direitos do homem não eram universais, eram direitos históricos da
classe burguesa ascendente em sua luta contra a aristocracia” (VIEIRA, 2009, p. 33).
DESTAQUE
Nesse meio, ainda temos os países que, após a queda na bolsa de 1929 e
posteriormente no pós Segunda Guerra Mundial, inspirados na teoria de John Maynard
Keynes (1883-1946), criaram um modelo de proteção social chamado de Welfare State
ou keynesianismo, em que o Estado tem uma ampla atuação na sociedade a fim de
garantir o bem-estar social. Nessa linha temos países como Inglaterra, Alemanha e
outros modelo chamados de social democracia.
Nesse modelo, o papel do Estado é ampliado e esse passa ser o principal provedor
dos serviços básicos. O Estado é considerado eficiente no atendimento a esses serviços
em contrapartida aos serviços privados que passam a ser focalizados. Você tem um
amplo atendimento público nas áreas de saúde, educação, seja básica ou superior,
habitação, proteção ao trabalhador como licença maternidade e paternidade, auxílio
financeiro em diversas situações, aposentadorias etc.
DESTAQUE
Como exposto na passagem, esse sistema é caro, o que requer uma grande despesa
de recursos por parte do Estado. E de onde vêm os recursos do Estado? Do pagamento
de impostos. Portanto, o Estado de bem-estar social, em geral, traz um custo elevado
para o Estado e uma alta carga tributária, o que encontra constantemente opositores.
SAIBA MAIS
DESTAQUE
Entretanto, como destaca Vieira (2009, p. 33), “com seu desprezo pelos direitos
sociais e pelo Welfare State, o liberalismo não resolveu o problema social, econômico e
político da desigualdade”.
REFLETINDO
As mazelas sociais no Brasil não são nenhuma novidade, como a falta de moradia,
falta de acesso à saúde e a precarização do trabalho. Alguns atribuem a elas um vício
de origem, como colocado pelo pensador Oliveira Vianna ao analisar a formação do
Brasil. “Sob esse aspecto, é de desolante miserabilidade a condição do nosso campônio.
O homem que não tem latifúndio é, no interior, um homem permanentemente indefeso.
É, de todo em todo, um desprotegido. Nenhuma instituição, de caráter social, o ampara”
(VIANNA, 2005, p. 222).
A sociedade era formada, em sua imensa maioria, por escravos subjugados aos
ditames de seus senhores, uma mercadoria de troca. Outro aspecto do período era ausência
de acesso à educação. Estima-se que, em 1872, apenas 16% da população brasileira sabia
ler e escrever (CARVALHO, 2008).
DESTAQUE
SÍNTESE DA UNIDADE
Iniciamos nossa Unidade apresentando a evolução histórica da conquista da
cidadania. Neste tópico destacamos a cidadania exercida na Grécia Antiga e a construção
da cidadania moderna a partir das Revoluções Burguesas com o protagonismo da
burguesia para conquista dos direitos civis.
REFERÊNCIAS
ABRAHAMSON, P. O modelo escandinavo de proteção social. Argumentum, Vitória (ES), v. 4,
n.1, p. 7-36, jan./jun. 2012.
BIROLI, F.; MIGUEL, L. F.; Gênero, raça, classe: opressões cruzadas e convergências na
reprodução das desigualdades. Mediações, Londrina, v. 20, n. 2, p. 27-55, jul/dez. 2015. Disponível
em: http://gg.gg/ipa6q/1. Acesso em: 2 mai. 2020.
COMPARATO. F. K. A afirmação histórica dos direitos humanos. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
DAGNINO, E. Sociedade civil, participação e cidadania: de que estamos falando? In: MATO, D.
(Coord.). Políticas de ciudadania y sociedade civil en tiempos de globalización. Caracas: Faces;
Universidad Central de la Venezuela, 2004. p. 95-110.
GEAQUINTO, W.S. Cidadania o direito de ser feliz. São paulo: Scortecci, 2002.
HUNT, L. A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das Letras. 2009.
MCMV desacelerou aumento do déficit habitacional do Brasil, que bateu recorde em 2017. FGV,
14 de novembro de 2019. Disponível em: http://gg.gg/ipa8g. Acesso em: 10 abr. 2020.
ZALUAR, A; CONCEIÇÃO, I. S. Favelas sob o controle das Milícias no Rio de Janeiro que paz?
São Paulo em Perspectiva, v. 21, n. 2, p. 89-101, jul./dez. 2007.
unidade
3
O Funcionamento do Estado:
Separação dos Poderes e Sistemas
de Governo
Prezado(a) estudante.
Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram
organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo
completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e
tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos
propostos para essa disciplina.
OBJETIVO GERAL
Discutir as formas de governo e seus impactos na organização estatal.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Tratar da formação dos parlamentos modernos;
QUESTÕES CONTEXTUAIS
• Sabemos que Estado é uma organização social detentora de poder que influi na vida
da sociedade, com objetivo de atingir o bem comum. Você já parou para pensar o
quanto a organização do Estado afeta a nossa vida?
• Já ouvimos falar em separação dos poderes, mas você sabe dizer por que ela existe,
por que um poder não pode intervir no outro? Será que isso acontece de forma
absoluta?
• De que forma você como cidadão pode contribuir para um Estado melhor?
56 CIÊNCIA POLÍTICA | Kellen Lazzari
GLOSSÁRIO
Nascituro é o feto, o ser que poderá vir a nascer. Trata-se de uma palavra que
provém do latim nasciturus, “o que há de nascer; o ser humano já concebido,
cujo nascimento se espera como fato futuro e certo” (FERREIRA, 1999). O
Código Civil brasileiro assegura a esse feto alguns direitos, como o próprio
direito à vida, no entanto a prática do aborto é proibida no Brasil, com raras
exceções.
O Estado, então, faz valer o seu poder por meio de leis, normas e instituições
que são reflexos de seus processos políticos, econômicos e sociais, de tal forma que a
organização de um Estado reflete a imagem do país. Esses processos fazem reverberar a
história do povo ao qual o Estado deve servir.
O Funcionamento do Estado: Separação dos Poderes e Sistemas de Governo | UNIDADE 3 57
REFLETINDO
Pode-se definir povo como a população integrada numa ordem estatal, submetido às
mesmas normas e leis. São súditos, cidadãos de um mesmo Estado (AZAMBUJA, 2008),
além de um conjunto de pessoas interligadas com o objetivo de organizar e fiscalizar um
determinado território.
É essencial que também se conceitue Nação e sua diferença para Estado. Nação é o
conjunto de pessoas ligadas por características culturais, tradições e língua. Ou seja, vários
valores socioculturais que esses indivíduos se identificam e sentem-se que fazem parte do
mesmo grupo. Diferencia-se de Estado, pois a Nação não necessita de um território, de
uma limitação territorial. Uma mesma Nação pode existir em diversos Estados, e um
Estado pode ser constituído por várias Nações. Para complementar:
Território, segundo elemento essencial que constitui o Estado, é a base física que
delimita o seu poder e que restringe a atuação da soberania do Estado. Portanto, é a base
geográfica onde o Estado exerce seu poder coercivo sobre seu povo.
58 CIÊNCIA POLÍTICA | Kellen Lazzari
Cabe destacar que soberania não se confunde com autonomia. Além de terem
conceitos diferentes, são de grande importância no estudo do funcionamento do Estado.
Como visto, soberania é o poder supremo concedido ao Estado e, por outro lado,
autonomia é a competência para elaborar atividades dentro de limites previamente
estabelecidos pelo poder soberano. Portanto:
[...] a margem de discrição de que uma pessoa goza para decidir sobre
os seus negócios, mas sempre delimitada essa margem pelo próprio
direito. Daí porque se falar que os Estados-Membros são autônomos,
ou que os municípios são autônomos: ambos atuam dentro de um
quadro ou de uma moldura jurídica definida pela Constituição Federal.
Autonomia, pois, não é uma amplitude incondicionada ou ilimitada de
atuação na ordem jurídica, mas, tão-somente, a disponibilidade sobre
certas matérias, respeitados, sempre, princípios fixados na Constituição
(BASTOS, 2010, p. 474).
ELEMENTO CONCEITO
É seu componente humano, demográfico. O conjunto de pessoas que se situam em
Povo um determinado território e poder usufruir dos direitos provenientes do Estado, como
direitos de cidadania.
É o poder supremo e independente que o Estado tem de não estar limitado e submetido
Soberania
a nenhum outro poder interno ou externamente. É o poder de autodeterminação e auto-
(Governo)
organização.
DESTAQUE
Assim, o Estado pode ser uma federação, um Estado único ou uma confederação.
Federação, por exemplo, é a forma federativa de Estado e pode ocorrer quando alguns
Estados fazem um pacto de colaboração entre eles. Um exemplo de federação são os
Estados Unidos, que surgiu da união de colônias britânicas que decidiram se unir, com
a finalidade de se protegerem de ameaças externas. Desse modo, cada colônia cedeu
parte da sua soberania a um ente central, formando assim os EUA. Para Stepan (1999),
no sistema político federativo, a garantia democrática estaria de forma equivalente ligada
ao grau de lealdade dos cidadãos em relação a cada esfera de poder.
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
REFLETINDO
Por outro lado, existem os Estados unitários, outra forma de Estados, como por
exemplo: Grã-Bretanha, França, Colômbia, Chile, China. Estado unitário é quando há
apenas um centro do poder político, que age em todo o território desse Estado. Quer
dizer que existe apenas um núcleo que produz toda a legislação que será aplicada ao seu
povo. Ou seja, existe somente um órgão legislativo, executivo e judiciário.
SAIBA MAIS
Autonomia
Capacidade do ente de executar suas atividades, capacidade de administrar-se.
Administrativa
Autonomia Capacidade de cada ente criar leis, normas de acordo com seus interesses, mas
Legislativa sempre respeitando a Constituição Federal.
SAIBA MAIS
Depois de saber o que é Estado e as formas pelas quais ele pode se apresentar, é
necessário analisar como o Estado se manifesta, atua e exerce seu poder político. A seguir
veremos as formas de governo, tendo em vista que é por meio dele que o Estado procede.
Em sua obra política, Aristóteles (2003) afirma que o Estado tem o dever de
proteger e agir para que o povo tenha uma vida melhor. Divide o governo de seis formas:
a monarquia, em que o governo é hereditário, de apenas um homem e visa o bem
comum; a aristocracia, na qual o Estado é dirigido e governado por um restrito número
de pessoas físicas e a democracia, governo que favorece a todos, conhecida como o
governo do povo. Essas formas seriam as puras, perfeitas, mas citou ainda três outras
consideradas impuras.
Por outro lado, para Montesquieu (2010), em seu livro “O Espírito das Leis”, as
espécies de governo são três: o republicano, o monárquico e o despótico. Que define da
seguinte forma:
Pode-se ver que, tanto a monarquia quanto o despotismo são formas de governo
com apenas um possuidor do poder, com a diferença que, na monarquia, esse detentor
único atua conforme leis fixas e estáveis, ao passo que no despotismo governa sem leis
O Funcionamento do Estado: Separação dos Poderes e Sistemas de Governo | UNIDADE 3 65
e sem regras. Montesquieu (2010) afirma, ainda, que essas formas de governo estão
embasadas em três princípios que irão assegurar a estabilidade de cada governo: a
virtude para a república, a honra em relação à monarquia e o medo para o despotismo.
As pessoas que são favoráveis a essa forma de governo, a monarquia, alegam que
ela seria melhor pelos seguintes motivos:
• O monarca é preparado desde sempre para governar, dessa forma não se corre o
risco de ter um governante destituído de conhecimento, despreparado;
• Todas as correntes políticas veem no rei ou na rainha uma figura comum a todos.
Por outro lado, há quem argumente contra, e afirme que a pessoa do monarca
sem governar é um agente de desperdício financeiro, ocasionando um custo elevado ao
povo. Caso ele governe, é muito perigoso deixar a direção do Estado e do povo nas mãos
apenas de uma pessoa e de sua família, mesmo que tenha tido desde cedo uma educação
direcionada para isso. Outro argumento relevante de quem é contra a monarquia sustenta
que ela é antidemocrática, já que o povo não tem o direito de escolher seu governante.
Por fim, a estabilidade das instituições do Estado deve estar embasada na ordem jurídica
e não decorrer de um fator pessoal.
A república, outra forma de governo, cuja palavra tem origem latina, composta
por res, que significa coisa, se trata da coisa pública – tudo o que é próprio da sociedade.
Esse termo apareceu pela primeira vez na Roma Antiga, no ano de 509 a.c., o qual visava
separar o que era privado, do monarca, daquilo que era público.
DESTAQUE
REPÚBLICA MONARQUIA
VÍDEO
O sistema parlamentar pode ser aplicado tanto nas monarquias, quanto nas
repúblicas. Já o sistema presidencialista é admissível somente nos Estados republicanos.
Nesse mesmo entendimento, Dallari (2016) destaca:
SAIBA MAIS
GLOSSÁRIO
VÍDEO
3.4.3 Semipresidencialismo
A República de Weimar (1919-1933) foi o primeiro sistema semipresidencial.
Termo criado pelo cientista político francês Maurice Duverger.
PARLAMENTARISMO PRESIDENCIALISMO
Sistema de governo em que o Poder Sistema de governo em que o
Legislativo (parlamento) define o presidente é o Chefe de Estado e
representante do Poder Executivo. Chefe de Governo. Este presidente
Definição
Todos os projetos, leis e outras é o responsável pela escolha dos
decisões do governo são submetidos ministros e deve submeter seus
a votação do parlamento. projetos de lei ao parlamento.
Primeiro-Ministro (em alguns países é
chamado de Chanceler, Presidente do
Poder executivo Exercido pelo Presidente da República.
Conselho de Ministro, Presidente do
Governo).
Primeiro-Ministro é escolhido pelo
parlamento, por meio da maioria de
votos internos. Ele também pode ser Por meio de voto direto do povo. Nos
Escolha do
escolhido pelo Chefe de Estado através Estados Unidos, o presidente é eleito
representante de uma lista fornecida pelo parlamento. por um colegiado.
Por sua parte, o parlamento é escolhido
pelos cidadãos.
74 CIÊNCIA POLÍTICA | Kellen Lazzari
PARLAMENTARISMO PRESIDENCIALISMO
Depende do país. No Brasil, o mandato
Indefinido. é de 4 anos, já na França é de cinco
Tempo de mandato Em certos países há eleições a cada anos.
quatro ou cinco anos. A possibilidade de reeleição também
depende das leis de cada país.
Segundo Guedes (2015, p. 40): “[...] não há, dentro do quadro delineado por Locke,
expressa referência a função jurisdicional a ser exercida independentemente dos demais
poderes tal qual hoje nós a conhecemos [...]”.
Antes de prosseguir na teoria de Montesquieu (2010), cabe lembrar que Dallari (1991)
chama atenção para o fato de que alguns autores alegam ser inadequado usar a expressão
“separação de poderes”, tendo em vista que o poder do Estado, na verdade, é uno e indivisível,
ponto pacífico para todos autores, pois o que se divide são as funções do Estado.
76 CIÊNCIA POLÍTICA | Kellen Lazzari
Foi para evitar o abuso de poder, como o de governos absolutos, que Montesquieu
(2010) elaborou, em 1748, o princípio da separação dos poderes, com base na tripartição
dos poderes e suas correspondentes atribuições, a fim de não deixar em uma única mão
as tarefas de legislar, administrar e julgar, significando uma forma de descentralizar o
poder. Assim, com a tripartição dos poderes de forma equilibrada e com o sistema de
controles mútuos, isto é, o sistema de freios e contrapesos, surgiu a função na qual os
poderes analisam e limitam os atos uns dos outros como forma de evitar excessos e
sobreposição sobre os demais.
Logo depois, essa teoria foi considerada em diversas legislações, entre elas a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789. Da mesma forma, está nas
constituições de quase todos os Estados modernos, como uma forma de garantir os
direitos individuais e coletivos.
VÍDEO
SAIBA MAIS
DESTAQUE
GLOSSÁRIO
Apesar de o Executivo ter esses poderes, ele também tem princípios que deve
seguir ao agir. São eles: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência,
80 CIÊNCIA POLÍTICA | Kellen Lazzari
o que demonstra que seu poder não é ilimitado. Em âmbito federal, o Poder Executivo é
exercido pelo Presidente da República e seus ministros, pelos governadores, prefeitos e
secretários estaduais e municipais.
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
REFLETINDO
• Iniciativa Popular: apesar de não ser uma forma de consulta, ela possibilita ao
povo a iniciativa de propor um projeto de lei, art. 60, § 2° (BRASIL, 1988).
Portanto, assim como vimos, dentro dos tipos de regime de um governo, que a
democracia é o regime que mais respeita as liberdades individuais do povo de um Estado,
percebemos a importância que o regime de um governo tem sobre a vida da população.
Da mesma forma, pode-se compreender a importância que tem o estudo dessa unidade,
pois o funcionamento de um Estado, sua origem, formação, estrutura, organização estão
intimamente ligadas à sociedade, já que ele não existe sem nós, cidadãos. Por outro lado,
a forma pela qual o Estado age afeta diretamente nossas vidas.
84 CIÊNCIA POLÍTICA | Kellen Lazzari
SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta Unidade aprendemos sobre o funcionamento do Estado: separação dos
poderes e sistemas de governo. Vimos, também, algumas questões importantes em
relação à organização e funcionamento do Estado Moderno. Assim, podemos destacar:
• Como o Estado se manifesta, como ele exerce seu poder político. Atualmente, as
formas clássicas de governo, dele se manifestar, são: a monarquia e a república.
• Foi para evitar o abuso de poder, como o de governos absolutos, que Montesquieu
elaborou, em 1748, a teoria da separação dos poderes, com base na tripartição dos
poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Princípio que vigora até hoje.
REFERÊNCIAS
ABRANCHES, S. Presidencialismo de coalizão: raízes e evolução do modelo político brasileiro.
São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
BASTOS, C. R. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Celso Bastos editor, 2010.
DALLARI, D. de A. Elementos de Teoria Geral do Estado. São Paulo: Editora Saraiva, 1991.
FERREIRA, A. B. de H. Novo Aurélio século XXI – dicionário eletrônico. Rio de Janeiro: Editora
Nova Fronteira, 1999. CD ROM.
HABERMAS, J. A inclusão do outro: estudos de teoria política. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
LOPES, A. L. Noções de Teoria Geral do Estado: roteiro de estudos. Belo Horizonte: 2010.
Disponível em: http://gg.gg/ipvwq. Acesso em: 24 mar. 2020.
SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2019.
STEPAN, A. Para uma Nova Análise Comparativa do Federalismo e da Democracia: Federações que
Restringem ou Ampliam o Poder do Demos. Dados: Rio de Janeiro, vol. 42 n. 2., 1999. Disponível
em: http://gg.gg/ju717. Acesso em: 23 jun. 2020.
86 CIÊNCIA POLÍTICA | Kellen Lazzari
ANOTAÇÕES
unidade
4
Os Diferentes Tipos de Estado:
do Estado Liberal às Críticas
Neomarxistas
Prezado(a) estudante.
Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram
organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo
completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e
tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos
propostos para essa disciplina.
OBJETIVO GERAL
Conceitualizar o Estado Liberal, o Estado de Bem-Estar Social e as críticas formuladas
pelos autores neomarxistas.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Contextualizar o surgimento do Estado Liberal e apresentar as suas principais
características (e autores);
• Descrever o surgimento do Estado de Bem-Estar Social, explicar as suas principais
características e variações;
• Apresentar as contribuições dos autores neomarxistas (Offe, Poulantzas) e suas
críticas aos Estados Liberais e de Bem-Estar.
QUESTÕES CONTEXTUAIS
• Você sabia que existem tipos diferentes de Estado e que uma das principais
características é em relação ao quanto ele interfere na vida da sua população?
• Você sabia que a liberdade que temos hoje deve-se ao tipo de Estado que existe no
Brasil à forma pela qual o poder é dividido?
• Você acha que a liberdade das pessoas depende apenas dos meios materiais?
Por que existem pessoas que, embora trabalhem muito, são pobres e outras que,
mesmo trabalhando pouco, são ricas?
88 CIÊNCIA POLÍTICA | Kellen Lazzari
GLOSSÁRIO
Dessa forma, é a burguesia que lidera o processo dessa revolução e é quem vai
assumir o poder ao final dela, porque ela tinha o poder econômico, mas não possuía o poder
político, pois quem detinha esse poder político era a nobreza. De tal forma que, a burguesia,
passando a eliminar os poderes da nobreza, passa a ter os privilégios ou os direitos que a
nobreza possuía antes. Logo, o descontentamento dos burgueses com o feudalismo é que leva
à Revolução Burguesa, portanto, é nesse sentido que se fala de uma transição paulatina, já
que esse descontentamento não aconteceu da noite para o dia.
Os Diferentes Tipos de Estado: do Estado Liberal às Críticas Neomarxistas | UNIDADE 4 89
Foi no decorrer dos séculos XVII e XVIII que a burguesia destrói a ordem feudal,
com a liberdade de expressão, liberdade religiosa, fortalecendo o capitalismo e gerando
o Estado Liberal. Um Estado no qual o cidadão é quem escolhe o governante, um Estado
no qual a lei está acima do Rei e não o contrário.
Neste momento, é necessário lembrar que, a partir desse período, se tem a valorização
da ciência, a liberdade individual e o incentivo de se criarem máquinas, devido à crença de
um progresso. Assim, com a criação das máquinas, a burguesia inglesa, com o intuito de
aumentar seus lucros, passa a aperfeiçoá-las e investe nas indústrias, resultando numa
produção de mercadorias e lucros maiores – essa fase é conhecida como Revolução Industrial.
A Revolução Industrial criou uma classe social, o proletariado, que era subjugado à rígida
disciplina e ao intenso trabalho. Foi um período que promoveu o progresso, porém aumentou
a exploração e acarretou uma aglutinação urbana e operária.
DESTAQUE
Os liberais, sendo a favor da liberdade, são contra qualquer pessoa ou grupo que
diga ao indivíduo o que ele deve fazer com a própria liberdade. Ou seja, as pessoas devem
ser livres para fazerem o que quiserem com sua liberdade. Nesse sentido, a política e as
leis vêm para evitar que a liberdade de uma pessoa viole a liberdade de outra.
Outro pensador que contribuiu para o liberalismo foi Adam Smith. Este estudioso
acreditava numa economia livre, que deveria ser regulamentada e determinada pelo
próprio mercado e não por uma elite política (BENTO, 2003). O autor preconizava uma
economia sem intervenção estatal, cuja economia se regularia sozinha. Visava, ainda, a
defesa da propriedade privada e a livre concorrência.
Os Diferentes Tipos de Estado: do Estado Liberal às Críticas Neomarxistas | UNIDADE 4 91
[...] o mercado pode dar conta de regular a si mesmo desde que não
sofra ingerências da parte de elementos extraeconômicos, de maneira
que o mercado possa promover a justiça assentada sobre o critério da
adequada remuneração do esforço individual (BENTO, 2003, p. 159).
O mercado seria, então, regulado por suas leis naturais e as garantias, preconizadas
por Smith (BENTO, 2003), deveriam acontecer com pouca ou nenhuma intervenção do
Estado, tanto na economia quanto na política, sendo a liberdade individual o limite de
atuação do Estado. Assim, o Estado Liberal, também conhecido como Estado Liberal de
Direito, é o oposto do Estado intervencionista, no qual há uma normatização exaustiva
em todas as áreas da economia e da esfera privada.
DESTAQUE
A burguesia estava sendo achatada, prejudicada pelo poder real, e com o liberalismo
político ela se desvencilharia do poder absolutista, de tal forma que os burgueses teriam
mais liberdade para exercer as atividades econômicas que almejavam, sem intervenção
do poder do Rei, sem interferência estatal. Os burgueses procuravam garantir os direitos
naturais, citados acima: além da liberdade, da propriedade privada e à vida, podemos
citar a liberdade política, liberdade de pensamento, a separação dos poderes, que também
está dentro do Estado Liberal, e a liberdade de escolher sua representatividade política.
GLOSSÁRIO
Essa teoria colocava unicamente o cidadão como responsável pela sua riqueza e
sucesso, sem precisar do Estado. O filósofo Smith (BENTO, 2003) chamou de a “mão
invisível”, de tal forma que o Estado serviria apenas para garantir a ordem institucional
e administrar a justiça, porque a economia se desenvolveria livremente – a riqueza
nasceria da divisão do trabalho.
DESTAQUE
REFLETINDO
Você já deve ter ouvido uma frase parecida com essa: “quem se esforça,
consegue, basta querer”. O que você pensa a respeito dela? Você acha que
se adequa com o pensamento liberal?
SAIBA MAIS
Para saber mais sobre o Estado Liberal e seus fundamentos, leia o artigo: “Os
Fundamentos do Liberalismo Clássico - A relação entre estado, direito e
democracia”. Disponível em: http://gg.gg/jsrll.
Esse modelo de Estado capitalista predominou a partir dos anos de 1930 até os
anos de 1970, em que há a expansão das políticas sociais, a partir da expansão do Estado
em suas funções políticas e econômicas. Segundo Esping-Andersen (1991, p. 242), “ele
(o Welfare State) envolve responsabilidade estatal no sentido de garantir o bem-estar
básico dos cidadãos”.
98 CIÊNCIA POLÍTICA | Kellen Lazzari
Após a crise de 1929 (crise do Estado Liberal com a quebra da bolsa de valores
de Nova York), houve a necessidade da substituição desse modelo liberal de Estado.
O Welfare State vai acontecer, principalmente no seu início, sob os moldes do
economista John Maynard Keynes, que estrutura uma economia de bem-estar. A social-
democracia, criada pelo economista inglês Keynes, também conhecida como a doutrina
do keynesianismo, foi a alternativa para a ruína do Liberalismo, após a Segunda Guerra
Mundial (1939-1945). Essa teoria foi baseada no seu livro “A Teoria Geral do Emprego,
do Juro e da Moeda”, a qual fundamenta-se na atuação do Estado na economia como
regulador das negociações do mercado.
Esse modelo de Estado foi muito usado pelo governo do Presidente Franklin
Delano Roosevelt, em seu programa de recuperação econômica que foi chamado de o
New Deal (novo acordo). Nesse período, houve grandes obras, aumento de salários, foi
estabelecida jornada de 8 horas de trabalho, legalização de sindicatos, criação da
previdência social e preços de produtos fixados pelo governo.
VÍDEO
Podemos citar quatro elementos que deram base para o surgimento do Estado de
Bem-Estar Social: a conquista de direitos políticos, no fim do século XIX, que permitiu
que a população participasse mais do Estado, o que ajudou a diminuir o Estado Liberal e
alargar a participação do Estado; a monopolização do capital, o Estado passou a intervir
mais na produção capitalista; a Revolução Socialista, em 1917, na Rússia, que fez com
que os trabalhadores aumentassem suas esperanças sobre a possibilidade da tomada
de poder e do Estado, o que levou o capitalismo do Ocidente a repensar suas práticas,
fazendo com que cedesse um pouco, já que havia o receio, o medo, de uma possível
revolução como a da Rússia; a crise de 1929, a quebra da bolsa de valores de Nova York,
que foi uma crise de superprodução cujas mercadorias não conseguiam ser vendidas, o
que reduziu a economia capitalista.
Sob esse aspecto, as empresas dariam os empregos, mas ao Estado caberia dar
toda uma estrutura às cidades para que as empresas se instalassem e conseguissem fazer
girar a economia. Resumindo, podemos citar três características dessa fase: o pleno
emprego, a produção e o consumo em massa.
Para Esping-Andersen (1991), as variações do Welfare State não são lineares, mas
o autor as agrupas conforme o tipo de regime: liberal, conservador e social-democrata.
O autor ainda adotou três critérios para identificar e distinguir os regimes: a relação
público ou privada da provisão social, o grau de desmercantilização dos bens e serviços
sociais e seus efeitos na estratificação social.
100 CIÊNCIA POLÍTICA | Kellen Lazzari
O regime do Welfare State liberal tem como base o mercado e apoia o pleno emprego
a todos, homens, mulheres e jovens. Neste modelo predomina a assistência comprovada
dos pobres. Podemos citar como exemplo: os Estados Unidos, o Canadá e a Austrália. O
modelo conservador do Estado de Bem-Estar Social, para Esping-Andersen (1991), é muito
corporativista e moldado pela Igreja e, portanto, compromissado em preservar a família. As
esposas que não trabalham fora são excluídas da previdência social, e o Estado atua de forma
subsidiária, ou seja, só interfere quando a família não tiver mais condições de prover sua
subsistência. Exemplos desse modelo: a Áustria, a França, a Alemanha e a Itália. O Welfare
State social-democrata é marcado pelo universalismo, isto é, abarca todos e não apenas suas
necessidades básicas, mas que todos os trabalhadores, conforme Esping-Andersen (1991),
tenham suas necessidades satisfeitas, de forma que todos possam usufruí-las como os ricos,
que todos tenham a mesma igualdade. Para o autor, uma das principais características desse
modelo é a fusão entre serviço social e trabalho e cita como exemplo os países escandinavos.
O autor afirma que não há um Estado de Bem-Estar Social que pertença a um único regime,
que não existem tipos puros.
Baseado nos estudos do economista Gunnar Myrdal, que via essa atuação do Estado
como investimento a longo prazo e não como custo, pois ajudava a ativar a economia, foi que
o Estado de Bem-Estar Social se desenvolveu. Souza (2018) afirma que o Brasil adota, há
anos, várias ferramentas compatíveis com o Estado de Bem-Estar Social, como a seguridade
social e a saúde pública. Cita como exemplo de desenvolvimento e retorno do investimento
o caso dos trabalhadores rurais, que ao receberem suas aposentadorias ajudam a alavancar o
comércio de vários municípios brasileiros.
SAIBA MAIS
Também chamado de Estado burguês, foi inspirado pelos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução
Francesa. Baseia-se na ideia de não interferência do Estado e o economista e filósofo escocês Adam Smith (1723 –
Estado Liberal 1790) é seu principal teórico. Para Smith, as atividades econômicas se autorregulariam apenas através das ofertas
e das demandas existentes. Isso ocorre pois existiria uma “mão-invisível” que regula a quantidade e o preço das
mercadorias sem que o Estado precisasse intervir.
Surge como uma reação ao Estado liberal. Com questionamentos acerca da propriedade privada e dos meios de
produção, pois na sua concepção a sociedade estaria dividida em duas classes principais: a burguesia e o proletariado.
Estado Socialista
Portanto, seria necessária uma transformação das condições de produção para que houvesse apropriação da riqueza
por toda a sociedade. Uma das maiores referências do socialismo é o autor alemão Karl Marx.
Também conhecido como Welfare State, foi adotado pelas principais economias liberais do começo do século
XX. Mas, diferente da concepção liberal, o Estado de Bem-Estar Social tencionava a intervenção do Estado no
plano econômico visando à garantia de empregos, o que leva a ser chamado de Estado intervencionista. Previa
Estado de Bem-Estar Social
também, o estímulo da produção e do consumo, para a mediação das relações trabalhistas e para a ampliação
de políticas assistencialistas. Sofreu diversas críticas em relação aos altos gastos públicas e sobre sua real
efetividade em diminuir a pobreza e melhorar a renda da população.
Surge como uma crítica ao Estado de Bem-Estar Social, sua política parte de uma menor intervenção do Estado
na economia e da redução dos gastos públicos. Tem por base ideias como o livre mercado e a livre iniciativa. O
que leva a uma diminuição de investimentos em áreas sociais como a educação, a saúde, a previdência social
Estado Neoliberal
e a habitação, por exemplo, além da flexibilização das leis trabalhistas e privatização de empresas estatais. O
objetivo é a diminuição progressiva da participação do Estado nas questões econômicas, até o estabelecimento
do chamado Estado mínimo.
Portanto, os contratos de trabalho não são realizados entre homens livres e iguais
como afirma o liberalismo e seria dessa forma que os proprietários dos meios de produção
enriquecem cada vez mais, ou seja, a partir da exploração do trabalho dos seus
empregados, o que Marx chama de mais-valia.
GLOSSÁRIO
Poulantzas e Offe não acreditam que o capital e o trabalho pudessem ser combinados
diante do acordo que serviu de suporte ao Welfare State. Para os autores, que tinham uma
visão contemporânea da corrente marxista, o Estado, principalmente nesse modelo de
Bem-Estar Social, apresenta uma submissão econômica da sociedade, tendo em vista que
precisa socorrer-se da taxação para acumular capital, tanto para criar empresas estatais
como para financiar suas políticas públicas (CLEMENTE; JULIANO, 2017).
104 CIÊNCIA POLÍTICA | Kellen Lazzari
Para Poulantzas, que seguia a corrente estruturalista, era preciso, então, abandonar
a ideia de Estado como simples derivação do que se passa na economia ou como mero
dispositivo controlado pela classe economicamente dominante.
DESTAQUE
O autor usa a definição de hegemonia para recobrir as praxes políticas das classes
dominantes no âmbito da disputa política. Nessa concepção de hegemonia há dois sentidos:
um que mostra a constituição dos interesses dessas classes como representativos do
“interesse geral” do povo-nação e o outro mostra o Estado capitalista e as características
próprias da luta de classes, o que possibilita o funcionamento do “bloco no poder”,
formado por várias classes politicamente dominantes. Dentre essas classes, uma terá o
papel hegemônico. Contudo, o Estado deverá manter uma autonomia relativa diante dessa
classe de poder “a fim de assumir seu papel de organizador político do interesse geral da
burguesia, sob a hegemonia de uma dessas frações” (POULANTZAS, 1980, p. 68).
SAIBA MAIS
Offe, ao analisar o Estado a partir de uma concepção mais abrangente, mais geral
da lógica da ação coletiva, demonstra que a diferença entre as lógicas de ação dos
capitalistas e trabalhadores gera uma desproporção na distribuição de poder na
sociedade, o que vem contribuir para que haja uma assimetria na representação dessas
classes no Estado. Entretanto, para Offe, a natureza de classe do Estado não é facultada
pelo fato da classe dominante ocupar pessoalmente o Estado, mas pelo vínculo estrutural
do Estado em relação à acumulação capitalista.
Em relação ao Estado de Bem-Estar Social, Offe (1995) afirma que ele se baseia em
três suportes: o Estado de Direito (componente liberal), a democracia representativa
(exigência de legitimidade) e as políticas públicas que garantem o bem-estar dos
cidadãos na vida civil. Com base nesses elementos, o autor aponta alguns problemas,
como as dificuldades em relação ao sistema econômico e moral quando se tenta combinar
o liberalismo com políticas de bem-estar social.
POULANTZAS OFFE
Estado definido pelas relações de classe. Também é Estado é um sujeito político no sentido de que organiza
um fator de coesão e regulamentação do sistema social a acumulação do capital e é também o local das
no qual funciona. O Estado constitui a unidade política primeiras crises do capitalismo avançado. A política
das classes dominantes. Porém, possui autonomia está essencialmente dentro do Estado. Em regimes
relativa em relação a certos interesses particulares. Sua capitalistas democráticos, os governos promovem a
autonomia se destina a assegurar a organização do melhoria das condições materiais dos trabalhadores,
interesse geral da burguesia. por meio de políticas públicas e regulações do mercado,
dificultando o surgimento de uma verdadeira consciência
da exploração capitalista entre os trabalhadores.
Elementos: caráter verdadeiramente político, Elementos: aparelhos institucionais; organizações
composto por estruturas objetivas específicas, burocráticas; normas e códigos formais e informais
autônomas em relação à estrutura econômica, muito constitutivos e regulamentadores das esferas públicas
embora a autonomia seja relativa; e privadas da sociedade
Distinção entre sociedade civil e Estado; valores
universalizados: autonomia é constituída pelo caráter
de universalidade assumido por um conjunto de
valores centrados na ideia de liberdade e igualdade
formais.
O conceito de Estado capitalista elaborado por Offe se forma com base nas suas
relações de complementaridade e subordinação no tocante à acumulação de capital e
não em relação ao campo de luta de classes. Por sua vez, para Poulantzas, o conceito
de Estado se constitui a partir do campo da luta de classes, mais exatamente, como
expressão material das relações opostas entre as classes.
VÍDEO
SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta Unidade vimos os tipos de Estados existentes e suas características, bem
como seus autores. Assim, destacamos os principais pontos dessa Unidade:
REFERÊNCIAS
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DALLARI, D. A. Elementos de Teoria Geral do Estado. São Paulo: Editora Saraiva, 2015.
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set. 1991: 85-116. Disponível em: http://gg.gg/ipxvs. Acesso em: 2 mai. 2020.
OFFE, C. Dominação de classe e sistema político. Sobre a seletividade das instituições políticas.
IN: OFFE, C. Problemas Estruturais do Estado Capitalista. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1984.
REIS, T. Laissez faire: o que é a expressão fundamental do liberalismo. Disponível em: http://
gg.gg/ipxwn. Acesso em: 31.mar.2020.
TITMUSS, R. M. Essays on ‘the Welfare State’. Surrey, Unwin Brothers, 1963. Disponível em:
http://gg.gg/ipxx3. Acessado em: 2 mai. 2020.
Os Diferentes Tipos de Estado: do Estado Liberal às Críticas Neomarxistas | UNIDADE 4 113
ANOTAÇÕES
114 CIÊNCIA POLÍTICA | Kellen Lazzari