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Resumo
Este artigo tem como objetivo iniciar a discussão sobre os recursos financeiros
destinados a Educação Infantil (EI) e o impacto desses montantes na expansão desse
atendimento. O período analisado foi de 2001 a 2010 visto que é nessa década que a EI é
reconhecida e totalmente incorporada nas políticas de financiamento da Educação Básica. A
pesquisa de caráter qualitativo usa como metodologia a coleta de dados quantitativos, tanto
de orçamento como de matrícula, para basear as discussões. Observa-se na analise que
houve uma expansão no atendimento de crianças de 0 a 5 anos na EI passando de 27,5%
em 2001 para um atendimento de 30,6% em 2010, porém a destinação de recursos
financeiros referentes a porcentagem no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro não atingiu
0,5% no período. O que revela que todo o esforço realizado pelos governos não tem
impactos nos montantes de recursos ou sobem na mesma proporção do PIB. Pode-se
concluir que faltam recursos financeiros para atender de forma qualificada essa etapa da
educação e que será necessário que todos os entes federados colaborem nessa política.
1. Introdução
2. Fundamentação Teórica
Atualmente o texto da Constituição Federal de 1988 (CF/88) apresenta duas fontes
distintas para o financiamento da educação: a vinculação de impostos e as contribuições
sociais. Sobre a questão do financiamento da educação, encontram-se três artigos (212,
213 e 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT)) na CF/88, que
trataram sobre o tema. O artigo 212 prevê a vinculação de recursos, no qual institui a
porcentagem mínima da receita de impostos que cada ente federado deve garantir à
Manutenção e o Desenvolvimento do Ensino (MDE); o artigo 213 discorre sobre a
destinação de recursos públicos a entidades privadas; e o artigo 60 do ADCT sobre o
comprometimento das diferentes esferas do governo com a eliminação do analfabetismo e a
universalização do ensino fundamental.
1
O artigo 212 sofreu alterações e inclusões em seus incisos pela EC nº 53, mantendo seu caput; e o artigo 60 do
Art. 60. Até
o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulgação desta Emenda Constitucional, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição Federal à
manutenção e desenvolvimento da educação básica e à remuneração condigna dos trabalhadores da educação
[...]
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Social prevista no artigo 212, parágrafo 5º da CF/88, autorizado pela Lei 9.766/98. A
legislação referente ao salário-educação passou por diversas alterações desde sua criação2.
A última regulamentação foi dada pelo Decreto nº 6.003, de 28 de dezembro de 2006, que
determinou que o percentual corresponderia a 2,5% da folha de pagamento das empresas
vinculadas à Seguridade Social.
No que se refere à divisão de responsabilidades entre os entes federados instituída
pela CF/88 sobre o financiamento da educação, pode-se observar o art. 211, no qual se
determinou que os entes federados União, Estados, Distrito Federal e Municípios
trabalhariam em regime de colaboração entre seus sistemas de ensino. Esse artigo
determinou também em seus incisos as prioridades de cada ente federado, destinando aos
municípios, em seu inciso 2º, a atuação prioritária no ensino fundamental e na pré-escola.
Esse inciso é posteriormente alterado pela Emenda Constitucional (EC) nº 14/1996,
substituindo o termo pré-escola por educação infantil.
Sendo assim, os municípios são responsáveis em garantir o atendimento às crianças
de 0 a 5 anos de idade na educação infantil e as crianças em idade de frequentar o ensino
fundamental3, destinando a essas duas etapas os recursos provenientes da vinculação que
trata o artigo 212.
A Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional de 1996 (LDB/96) também
tratou do financiamento da educação: destinou um de seus títulos, com dez artigos, a esse
tema, que reforça e detalha o que já estava previsto na CF/88. A LDB/96 também
especificou as possibilidades de despesas com Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
(MDE) em seus artigos 70 e 71, discriminando o que seria compreendido como despesas
em MDE e o que não se constituiria como essas despesas. Ainda zelou, apesar de não
especificá-lo, por um padrão mínimo de qualidade desse ensino e regulamentou a
transferência de recursos públicos para entidades privadas, seguindo o padrão já estipulado
pela CF/88.
A partir de 1996 o Brasil inicia uma política de subvinculação de recursos financeiros,
cria o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização
do Magistério (Fundef) e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e
de Valorização do profissional da Educação (Fundeb). Continuando assim, com o mesmo
modelo de destinação de receita, mas com uma subvinculação para uma etapa específica
da educação básica. A lógica inicial do Fundo era estabelecer um valor médio para o Brasil
e em cada um dos Estados e caso esse valor fosse, em algum estado, inferior à média
2
Para saber mais sobre o histórico do Salário-Educação no Brasil, ver: CORTES, Bianca Antunes.
Financiamento na Educação: Salário-Educação e suas dimensões privatizantes. Cadernos de Saúde Pública,
Rio de Janeiro, 5 (4): 408-423, out/dez, 1989. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v5n4/06.pdf>.
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Segundo a CF/88, o ensino fundamental é corresponsabilidade do estado e dos municípios.
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3. Metodologia
O presente trabalho, realizado por meio de pesquisa bibliográfica e documental sobre
o financiamento da EI, pretendeu apresentar alguns elementos que subsidiassem uma
reflexão mais detalhada sobre o tema. Utiliza como referenciais teóricos estudos sobre
financiamento da educação de José Carlos de Araújo Melchior e Custo Aluno Qualidade de
José Marcelino Rezende Pinto e Denise Carreira.
4. Resultados e Discussões
Analisando os dados de matrícula da década 2001 a 2010 , nota-se uma
expansão de mais de 15% na oferta dessa etapa de ensino. Inicia-se a série histórica com
5.912.150 em 2001 e termina com 6.855.120 em 2010. Em relação à taxa de atendimento,
calculada a partir da matrícula e da população na faixa etária, têm-se os dados de 2001 e de
2010 para análise na tabela a seguir. Para esses anos, pode-se observar um aumento na
taxa bruta de atendimento que passou de 27,5% em 2001 para 30,6% em 2010 da
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2010
Taxa bruta Taxa líquida
Matrículas de Matrícula de
População na etapa atendimento na faixa atendimento
(em mil) (em mil) (%) (em mil) (%)
0 a 3 anos - creche 12.136 2.065 17,0% 1.525 12,6%
4 a 6 anos - pré-escola 9.939 4.692 47,2% 3.848 38,7%
Ens. Fundamental (0 a 6 anos) 22.076 -- -- 3.072 13,9%
Educação Infantil (0 a 6 anos) 22.076 6.757 30,6% 5.373 24,3%
Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados do IBGE e Sinopse Estatística do Censo Escolar de 2001 e
Microdados do Censo Escolar de 2010 INEP/MEC. Projeção da população 2000 e 2010.
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As taxas líquidas de matrículas referem-se à relação do número de matrículas existentes em cada série da
educação infantil pelo número de crianças que existem na faixa etária. Essas porcentagens deveriam
corresponder à realidade caso todas as crianças matriculadas estivessem na série correspondente, de acordo com
a legislação, o que não é a realidade brasileira, pois a distribuição das crianças em idade de atendimento e
instituições educacionais pelo Brasil não se faz de forma linear. Com o agravante de coexistir dois tipos de
instituições que atendem as mesmas faixas etárias, as creches e as pré escolas e que em cada localidade possuem
uma divisão de atendimento específica, podendo até coexistir na mesma rede as duas instituições com
atendimento à mesma faixa etária, se diferenciando, apenas, no que se refere à duração diária desse atendimento.
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5
Lei Federal nº 11.274 de 6 de fevereiro de 2006.
6
Estão computados nos cálculos os seguintes elementos de despesa: Bolsas de Estudo, Financiamento Estudantil
e a modalidade Transferências Correntes e de Capital ao Setor Privado.
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(Carreira e Pinto, 2007), tem-se um gasto por aluno ano na ordem de R$ 1.820,24.
Utilizando os valores do Custo Aluno-Qualidade inicial (CAQi) para estimar quanto seria
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Brasil estabelece que o valor médio gasto por aluno seja, quando muito, o resultado da
divisão dos escassos recursos da vinculação que muitas vezes não é cumprida pelo número de estudantes
(CARREIRA e PINTO, 2007, p. 13)
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necessário para atingir as metas do PNE 2001-2010, esse valor passaria dos R$ 9,4 bilhões
para R$ 35,7 bilhões.
Com essa análise é possível afirmar que as prioridades de nossos governantes, e
em especial dos da União, não estão relacionadas com a garantia de educação, muito
menos com uma educação infantil de qualidade para a população desse país.
Nesse contexto orçamentário, inicia-se o ano de 2011 com a perspectiva de
aprovação em nossas Casas Legislativas do novo Plano Nacional de Educação (PNE 2011-
2020) com metas de atendimento na educação infantil para a próxima década, porém com
sérios riscos de possuir o mesmo problema que seu antecessor: não vincular os recursos
financeiros necessários para a execução do plano.
5. Conclusões
No decorrer de sua história, o atendimento a essas crianças de 0 a 5 anos de idade
em instituições educacionais tanto em pré-escolas como em creches foi alterando o seu
caráter, passando a ter como objetivo o desenvolvimento pleno das crianças por elas
atendidas, apesar de ainda persistirem no imaginário de alguns pais e na prática de alguns
educadores resquícios de suas origens.
Mesmo com a inclusão legal dessa faixa etária na educação em 1988, é somente
após a publicação da LDB em 1996 que ela se insere definitivamente na educação básica. A
LDB/96 reforça a CF/88, organiza as responsabilidades sobre a educação básica entre os
entes federados, estipula datas limites para a inclusão das instituições existentes vinculadas
a outras áreas à educação e determina a formação mínima para os trabalhadores que atuam
nessas instituições com essas crianças.
Após a garantia legal do direito e a construção de uma identidade própria, que passa
por um processo em mudança, a educação infantil tem como principal meta conseguir
atender de fato as crianças, de existir como possibilidade aos que desejem frequentá-la.
Para tanto se faz necessária a destinação de recursos financeiros de todos os entes
federados para a efetiva construção das redes públicas de ensino, fato que se apresenta
como um dos maiores desafios dessa etapa da educação básica na última década.
Melchior (1981), concordando com a posição de Raymond Poignant, avalia a
expansão do financiamento como uma das condições fundamentais para a realização dos
objetivos educativos aos que os Estados se dispõem, concluindo que
6. Referências
BRASIL. Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, dispõe sobre Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB), 1996a.
Sites consultados
www.inep.gov.br
www.ibge.gov.br