Você está na página 1de 15

1

Avanços e retrocessos na oferta da educação infantil no Brasil: Análise financeiro-


orçamentária dos recursos destinados a essa etapa da educação 2001-2010

ANA PAULA SANTIAGO DO NASCIMENTO

Resumo
Este artigo tem como objetivo iniciar a discussão sobre os recursos financeiros
destinados a Educação Infantil (EI) e o impacto desses montantes na expansão desse
atendimento. O período analisado foi de 2001 a 2010 visto que é nessa década que a EI é
reconhecida e totalmente incorporada nas políticas de financiamento da Educação Básica. A
pesquisa de caráter qualitativo usa como metodologia a coleta de dados quantitativos, tanto
de orçamento como de matrícula, para basear as discussões. Observa-se na analise que
houve uma expansão no atendimento de crianças de 0 a 5 anos na EI passando de 27,5%
em 2001 para um atendimento de 30,6% em 2010, porém a destinação de recursos
financeiros referentes a porcentagem no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro não atingiu
0,5% no período. O que revela que todo o esforço realizado pelos governos não tem
impactos nos montantes de recursos ou sobem na mesma proporção do PIB. Pode-se
concluir que faltam recursos financeiros para atender de forma qualificada essa etapa da
educação e que será necessário que todos os entes federados colaborem nessa política.

Palavras-chave: Financiamento da Educação; Atendimento da educação Infantil; Política


Pública

1. Introdução

O direito à Educação Infantil (EI) começa a se efetivar no Brasil a partir da


promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF/88) na qual essa foi reconhecida como a
primeira etapa da Educação Básica. A educação infantil que compreende o atendimento
educacional em instituições próprias às crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos de idade, está
subdividida em creche atendimento de crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos de idade e
pré-escola atendimento de crianças de 4 e 5 anos de idade.

Como consequência ou parte desse processo de reconhecimento da infância como


categoria social, se finda o século XX no Brasil com a obrigatoriedade do oferecimento por
parte do poder público de EI à todas as crianças de 0 a 3 anos de idade, nas quais as suas
famílias assim o desejem, e a implementação (em curso) da expansão da obrigatoriedade
de matrículas para as crianças de 4 e 5 anos até o final do ano de 2016 estabelecida pela
2

Emenda Constitucional nº 59/2009. Lembrando ainda que o Plano Nacional de Educação


2001 2010 (PNE 2001-2010) previa, entre outras coisas, a expansão do atendimento em
EI, atingindo no final de 2010: 50% das crianças de 0 a 3 anos de idade e 80% das crianças
de 4 e 5 anos de idade.

Diante desse reconhecimento legal do direito à EI faz-se necessário e urgente uma


análise do processo de efetivação desse direito. Entendendo que essa efetivação deve-se
traduzir na oferta de vagas e nas condições desse atendimento por parte do Estado. Ambas,
relacionadas diretamente com os montantes de recursos destinados a essa etapa da
educação pelos entes federados.

Para tanto, buscou-se analisar nesse texto, a relação entre o financiamento e a


expansão desse atendimento na última década (2001-2010), assim como o montante de
recursos necessários para atingir a meta de expansão do novo Plano Nacional de
Educação.

2. Fundamentação Teórica
Atualmente o texto da Constituição Federal de 1988 (CF/88) apresenta duas fontes
distintas para o financiamento da educação: a vinculação de impostos e as contribuições
sociais. Sobre a questão do financiamento da educação, encontram-se três artigos (212,
213 e 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT)) na CF/88, que
trataram sobre o tema. O artigo 212 prevê a vinculação de recursos, no qual institui a
porcentagem mínima da receita de impostos que cada ente federado deve garantir à
Manutenção e o Desenvolvimento do Ensino (MDE); o artigo 213 discorre sobre a
destinação de recursos públicos a entidades privadas; e o artigo 60 do ADCT sobre o
comprometimento das diferentes esferas do governo com a eliminação do analfabetismo e a
universalização do ensino fundamental.

Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os


Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no
mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de
1
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. (BRASIL,
1988)

Há também os recursos do Salário-educação que consiste em uma Contribuição

1
O artigo 212 sofreu alterações e inclusões em seus incisos pela EC nº 53, mantendo seu caput; e o artigo 60 do
Art. 60. Até
o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulgação desta Emenda Constitucional, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição Federal à
manutenção e desenvolvimento da educação básica e à remuneração condigna dos trabalhadores da educação
[...]
3

Social prevista no artigo 212, parágrafo 5º da CF/88, autorizado pela Lei 9.766/98. A
legislação referente ao salário-educação passou por diversas alterações desde sua criação2.
A última regulamentação foi dada pelo Decreto nº 6.003, de 28 de dezembro de 2006, que
determinou que o percentual corresponderia a 2,5% da folha de pagamento das empresas
vinculadas à Seguridade Social.
No que se refere à divisão de responsabilidades entre os entes federados instituída
pela CF/88 sobre o financiamento da educação, pode-se observar o art. 211, no qual se
determinou que os entes federados União, Estados, Distrito Federal e Municípios
trabalhariam em regime de colaboração entre seus sistemas de ensino. Esse artigo
determinou também em seus incisos as prioridades de cada ente federado, destinando aos
municípios, em seu inciso 2º, a atuação prioritária no ensino fundamental e na pré-escola.
Esse inciso é posteriormente alterado pela Emenda Constitucional (EC) nº 14/1996,
substituindo o termo pré-escola por educação infantil.
Sendo assim, os municípios são responsáveis em garantir o atendimento às crianças
de 0 a 5 anos de idade na educação infantil e as crianças em idade de frequentar o ensino
fundamental3, destinando a essas duas etapas os recursos provenientes da vinculação que
trata o artigo 212.
A Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional de 1996 (LDB/96) também
tratou do financiamento da educação: destinou um de seus títulos, com dez artigos, a esse
tema, que reforça e detalha o que já estava previsto na CF/88. A LDB/96 também
especificou as possibilidades de despesas com Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
(MDE) em seus artigos 70 e 71, discriminando o que seria compreendido como despesas
em MDE e o que não se constituiria como essas despesas. Ainda zelou, apesar de não
especificá-lo, por um padrão mínimo de qualidade desse ensino e regulamentou a
transferência de recursos públicos para entidades privadas, seguindo o padrão já estipulado
pela CF/88.
A partir de 1996 o Brasil inicia uma política de subvinculação de recursos financeiros,
cria o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização
do Magistério (Fundef) e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e
de Valorização do profissional da Educação (Fundeb). Continuando assim, com o mesmo
modelo de destinação de receita, mas com uma subvinculação para uma etapa específica
da educação básica. A lógica inicial do Fundo era estabelecer um valor médio para o Brasil
e em cada um dos Estados e caso esse valor fosse, em algum estado, inferior à média

2
Para saber mais sobre o histórico do Salário-Educação no Brasil, ver: CORTES, Bianca Antunes.
Financiamento na Educação: Salário-Educação e suas dimensões privatizantes. Cadernos de Saúde Pública,
Rio de Janeiro, 5 (4): 408-423, out/dez, 1989. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v5n4/06.pdf>.
3
Segundo a CF/88, o ensino fundamental é corresponsabilidade do estado e dos municípios.
4

nacional, a União complementaria até chegar ao valor-aluno-ano decretado pelo Presidente


da República.
É com essa perspectiva de recursos que os entes federados em regime de
colaboração financiam a Educação Básica (EB). No caso da EI os municípios destinam a
maior parte desses recursos. A relação desses recursos com a expansão dessa etapa a EB
deve ser analisada para uma melhor compreensão das necessidades financeiras que essa
etapa sofre frente o desafio de expansão e melhora da qualidade do atendimento oferecido.

3. Metodologia
O presente trabalho, realizado por meio de pesquisa bibliográfica e documental sobre
o financiamento da EI, pretendeu apresentar alguns elementos que subsidiassem uma
reflexão mais detalhada sobre o tema. Utiliza como referenciais teóricos estudos sobre
financiamento da educação de José Carlos de Araújo Melchior e Custo Aluno Qualidade de
José Marcelino Rezende Pinto e Denise Carreira.

A pesquisa de caráter qualitativo consiste em levantamento e análise de estudos, que


abrangem os caminhos percorridos pelo debate acerca da garantia do direito à EI no Brasil
na última década. O estudo exigiu também a coleta de dados quantitativos.

Foram coletados os dados do Censo Escolar realizado e fornecido pelo Instituto


Nacional de Educação e Pesquisa Anísio Teixeira (INEP), vinculado ao Ministério da
Educação (MEC).

Sobre a coleta de dados orçamentários e financeiros foram analisados os


Demonstrativos Orçamentários Anuais publicados através de Portarias do Ministério da
Fazenda e os dados orçamentários disponíveis no site do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
No caso dos dados demográficos, optou-se em utilizar os dados do documento
-2050
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para todos os anos
estudados e projeções.

4. Resultados e Discussões
Analisando os dados de matrícula da década 2001 a 2010 , nota-se uma
expansão de mais de 15% na oferta dessa etapa de ensino. Inicia-se a série histórica com
5.912.150 em 2001 e termina com 6.855.120 em 2010. Em relação à taxa de atendimento,
calculada a partir da matrícula e da população na faixa etária, têm-se os dados de 2001 e de
2010 para análise na tabela a seguir. Para esses anos, pode-se observar um aumento na
taxa bruta de atendimento que passou de 27,5% em 2001 para 30,6% em 2010 da
5

população na faixa a ser atendida. Ao analisar a taxa líquida4 de matrícula, passa-se de um


atendimento de 20,7% em 2001 para 24,3% em 2010 (considerando as crianças de 0 a 6
anos de idade que estão matriculadas na educação infantil).

Tabela 01 Evolução na taxa de atendimento (matrícula/população na faixa etária) 2001 e


2010 Brasil
2001
Taxa bruta Taxa líquida
Matrículas de Matrícula de
População na etapa atendimento na faixa atendimento
(em mil) (em mil) (%) (em mil) (%)
0 a 3 anos - creche 13.866 1.093 7,9% 665 4,8%
4 a 6 anos - pré-escola 10.020 4.819 48,1% 4.190 41,8%
Classe de Alfabetização (0 a 5 anos) 20.569 653 3,2% 93 0,5%
Ens. Fundamental (0 a 6 anos) 23.885 -- -- 522 --
Educação Infantil (0 a 6 anos) 23.885 6.565 27,5% 4.949 20,7%

2010
Taxa bruta Taxa líquida
Matrículas de Matrícula de
População na etapa atendimento na faixa atendimento
(em mil) (em mil) (%) (em mil) (%)
0 a 3 anos - creche 12.136 2.065 17,0% 1.525 12,6%
4 a 6 anos - pré-escola 9.939 4.692 47,2% 3.848 38,7%
Ens. Fundamental (0 a 6 anos) 22.076 -- -- 3.072 13,9%
Educação Infantil (0 a 6 anos) 22.076 6.757 30,6% 5.373 24,3%

Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados do IBGE e Sinopse Estatística do Censo Escolar de 2001 e
Microdados do Censo Escolar de 2010 INEP/MEC. Projeção da população 2000 e 2010.

Analisando as etapas separadamente, percebe-se que a taxa líquida de atendimento


das crianças de 0 a 3 anos de idade cresceu quase 10% durante a década, passando de um
atendimento de 4,8% da população na faixa para 12,6%. No mesmo período, o atendimento
às crianças de 4 a 6 anos de idade em pré-escolas diminuiu, passando de 41,8% em 2001
para 38,7% em 2010.
Essa diminuição na taxa de atendimento das crianças de 4 a 6 anos de idade na pré-
escola, em partes, é decorrente da transferência das matrículas das crianças de 6 anos para
o ensino fundamental, pois, ao analisar as matrículas das crianças de menos de seis anos

4
As taxas líquidas de matrículas referem-se à relação do número de matrículas existentes em cada série da
educação infantil pelo número de crianças que existem na faixa etária. Essas porcentagens deveriam
corresponder à realidade caso todas as crianças matriculadas estivessem na série correspondente, de acordo com
a legislação, o que não é a realidade brasileira, pois a distribuição das crianças em idade de atendimento e
instituições educacionais pelo Brasil não se faz de forma linear. Com o agravante de coexistir dois tipos de
instituições que atendem as mesmas faixas etárias, as creches e as pré escolas e que em cada localidade possuem
uma divisão de atendimento específica, podendo até coexistir na mesma rede as duas instituições com
atendimento à mesma faixa etária, se diferenciando, apenas, no que se refere à duração diária desse atendimento.
6

no ensino fundamental, percebe-se um aumento de 424 mil matrículas de 2001 a 2010.


Esse crescimento se intensifica no final desse período, como consequência da alteração da
idade de ingresso no ensino fundamental (de 7 anos para 6 anos) ocorrida em 20065.
Utilizando como parâmetro de atendimento as metas estabelecidas pelo PNE 2001-
2010 que pretendia expandir a rede de atendimento e atingir no prazo de dez anos 50%
das crianças de 0 a 3 anos de idade e 80% das crianças de 4 a 6 anos de idade , pode-se
dizer que essas taxas estão muito longe de serem atingidas.
No que diz respeito à alocação de recursos financeiros, constatou-se poucos
avanços no período, não sendo possível identificar uma priorização dessa faixa etária,
mesmo com o fim do Fundef e a implementação do Fundeb, que previa a destinação de
recursos financeiros a toda a educação básica com complementação da União quando
necessário.
Os dados mais emblemáticos que comprovaram a não destinação de recursos novos
a essa etapa da educação estão publicados no próprio site do INEP, na tabela 02 que
apresenta as despesas destinadas à educação infantil e aos outros níveis da educação
básica em relação ao PIB brasileiro. Nessa tabela pode-se constatar que por nove anos
2000 a 2009 a educação infantil recebeu o equivalente a 0,4% do PIB, enquanto em
contrapartida o ensino fundamental termina a série histórica recebendo o equivalente a 1,8%
do PIB.
Essa tabela revela o aumento de destinação de recursos à educação no decorrer do
período em relação ao PIB, porém mostra que, em dez anos, esses valores subiram apenas
1 %. Observa-se também que esse crescimento se intensificou nos anos finais da análise,
tendo se mantido abaixo de 5% até 2005, e atinge em 2009 o percentual de 5,7. A maior
variação se deu em 2005 para 2006, um aumento de 0,5%.
Ao analisar a tabela por esfera administrativa, observa-se que os Estados e o Distrito
Federal, com exceção do ano de 2005, foram os entes que, proporcionalmente ao PIB, mais
destinaram recursos para a educação. A esfera federal foi a que menos destinou recursos,
chegando a 1% apenas em 2007 e terminando a série histórica com 1,2%, a metade do que
destinou, proporcionalmente, a esfera estadual.

Tabela 02 Estimativa do Percentual do Investimento Direto em Educação por Esfera de


Governo e por nível de ensino em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) Brasil 2001
20096

5
Lei Federal nº 11.274 de 6 de fevereiro de 2006.
6
Estão computados nos cálculos os seguintes elementos de despesa: Bolsas de Estudo, Financiamento Estudantil
e a modalidade Transferências Correntes e de Capital ao Setor Privado.
7

Esfera de Governo Níveis de Ensino


Ensino Fundamental
Estados De 1ª a 4ª De 5ª a 8ª
e Distrito Municí Educação Educação Séries ou Séries ou Ensino Educação
Ano Total União Federal pios Básica Infantil Anos Iniciais Anos Finais Médio Superior
2001 4,8 0,9 2,0 1,8 3,8 0,4 1,4 1,3 0,7 0,9
2002 4,8 0,9 2,1 1,8 3,8 0,4 1,7 1,3 0,5 1,0
2003 4,6 0,9 1,9 1,8 3,7 0,4 1,5 1,2 0,6 0,9
2004 4,5 0,8 1,9 1,9 3,6 0,4 1,5 1,3 0,5 0,8
2005 4,5 0,8 1,8 1,9 3,7 0,4 1,5 1,3 0,5 0,9
2006 5,0 0,9 2,1 2,0 4,1 0,4 1,6 1,5 0,6 0,8
2007 5,1 1,0 2,1 2,0 4,3 0,4 1,6 1,5 0,7 0,8
2008 5,5 1,0 2,3 2,1 4,6 0,4 1,7 1,7 0,8 0,9
2009 5,7 1,2 2,4 2,1 4,8 0,4 1,8 1,8 0,8 0,9
Fonte: Inep/MEC consultado em jul. 2011.

Quando se analisam esses percentuais por etapa da educação básica e ensino


superior, percebe-se que a educação infantil foi o nível de ensino que possuiu os menores
valores em todo o período analisado e não se alteraram no decorrer de nove anos, mantém-
se em 0,4%. Dessa estagnação pode-se concluir que todos os esforços realizados para a
expansão e melhora do atendimento nessa etapa da educação básica não significou
aumento percentual de recursos em relação ao PIB brasileiro ou, ainda, que esses recursos
aumentaram na mesma proporção do PIB brasileiro.
Analisando o balanço referente ao ano de 2010, percebe-se que os gastos de todos
os entes federados com educação não ultrapassaram os R$ 193 bilhões, sendo que foram
destinados à educação infantil R$ 12,4 bilhões. Nesse mesmo balanço podem-se notar as
despesas com a dívida pública do país, ultrapassando os R$ 677,9 bilhões (R$ 143,1
bilhões para o pagamento de Juros e encargos da dívida e R$ 534,8 bilhões para
Amortização/Refinanciamento da dívida). Destes valores, mais de 93% refere-se às
despesas liquidadas pela União.
Ao analisar as despesas com educação infantil no ano de 2010, nota-se que as
despesas correntes foram da ordem de R$ 12,5 bilhões. Para se atingir a meta do PNE
2001-2010, caso fossem mantidas as mesmas condições de atendimento realizadas no ano
de 2010, seriam necessários, para o atendimento desses 5 milhões de matrículas,
excetuando gastos de construção dessa rede, pelo menos mais R$ 9,4 bilhões.
Fazendo uma divisão simples entre os valores destinados para a educação infantil
7

(Carreira e Pinto, 2007), tem-se um gasto por aluno ano na ordem de R$ 1.820,24.
Utilizando os valores do Custo Aluno-Qualidade inicial (CAQi) para estimar quanto seria

7
Brasil estabelece que o valor médio gasto por aluno seja, quando muito, o resultado da
divisão dos escassos recursos da vinculação que muitas vezes não é cumprida pelo número de estudantes
(CARREIRA e PINTO, 2007, p. 13)
8

necessário para atingir as metas do PNE 2001-2010, esse valor passaria dos R$ 9,4 bilhões
para R$ 35,7 bilhões.
Com essa análise é possível afirmar que as prioridades de nossos governantes, e
em especial dos da União, não estão relacionadas com a garantia de educação, muito
menos com uma educação infantil de qualidade para a população desse país.
Nesse contexto orçamentário, inicia-se o ano de 2011 com a perspectiva de
aprovação em nossas Casas Legislativas do novo Plano Nacional de Educação (PNE 2011-
2020) com metas de atendimento na educação infantil para a próxima década, porém com
sérios riscos de possuir o mesmo problema que seu antecessor: não vincular os recursos
financeiros necessários para a execução do plano.

5. Conclusões
No decorrer de sua história, o atendimento a essas crianças de 0 a 5 anos de idade
em instituições educacionais tanto em pré-escolas como em creches foi alterando o seu
caráter, passando a ter como objetivo o desenvolvimento pleno das crianças por elas
atendidas, apesar de ainda persistirem no imaginário de alguns pais e na prática de alguns
educadores resquícios de suas origens.
Mesmo com a inclusão legal dessa faixa etária na educação em 1988, é somente
após a publicação da LDB em 1996 que ela se insere definitivamente na educação básica. A
LDB/96 reforça a CF/88, organiza as responsabilidades sobre a educação básica entre os
entes federados, estipula datas limites para a inclusão das instituições existentes vinculadas
a outras áreas à educação e determina a formação mínima para os trabalhadores que atuam
nessas instituições com essas crianças.
Após a garantia legal do direito e a construção de uma identidade própria, que passa
por um processo em mudança, a educação infantil tem como principal meta conseguir
atender de fato as crianças, de existir como possibilidade aos que desejem frequentá-la.
Para tanto se faz necessária a destinação de recursos financeiros de todos os entes
federados para a efetiva construção das redes públicas de ensino, fato que se apresenta
como um dos maiores desafios dessa etapa da educação básica na última década.
Melchior (1981), concordando com a posição de Raymond Poignant, avalia a
expansão do financiamento como uma das condições fundamentais para a realização dos
objetivos educativos aos que os Estados se dispõem, concluindo que

[...] os países em vias de desenvolvimento têm todo o interesse em


diversificar suas fontes de financiamento, a fim de, por um lado, ampliar,
como é necessário, o montante dos recursos e, por outro, usufruir as
vantagens apresentadas em cada uma das formas de financiamento,
evitando, em qualquer caso, os inconvenientes respectivos. (MELCHIOR,
1981, p. 108)
9

Para o autor, a política de financiamento da educação deve se orientar no sentido de


somar fontes e integrá-las em um esforço comum de manter e desenvolver a educação.
Após cinco anos de publicação da LDB/96 e com o fim do prazo estipulado por essa
para a inclusão das instituições que atendiam as crianças de 0 a 5 anos de idade à
educação, publicou-se o PNE 2001-2010 que continham metas de atendimento e melhoria
de qualidade para toda a educação, porém sem metas de expansão de recursos financeiros
para as etapas e modalidades.
Esse dado revela que todos os esforços feitos até o momento no intuito de expandir
o atendimento na educação infantil não influenciaram no volume de recursos destinados a
esse fim, não significaram um aumento real do montante de recursos a essa etapa da
educação.
E nesse aspecto, não esquecendo que só com mais recursos financeiros se
alcançarão a quantidade e a qualidade tão desejada na educação infantil, fica evidente a
importância da reivindicação feita por inúmeros educadores, militantes e especialistas da
área educacional referente à necessidade de alterar de 7% para 10% do PIB a destinação
financeira para a educação. Deve-se destacar que manter qualquer percentual inferior a
10% PIB

[...] colaborará de maneira precária com a expansão da oferta educacional.


Além disso, será insuficiente para a consagração de um padrão mínimo de
qualidade na educação. Em outras palavras, caso o Projeto de Lei (PL)
8.035/2010 não sofra mudanças no Congresso Nacional, o Brasil insistirá
por mais uma década na incorreta dissociação entre acesso e qualidade,
ambos os elementos fundamentais para a garantia plena do direito à
educação. (Campanha Nacional pelo Direito à Educação, 2011, p. 1 e 2)

6. Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Constituição da República


Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Brasília, 1988.

BRASIL. Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, dispõe sobre Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB), 1996a.

BRASIL. Emenda Constitucional nº 14, de 12 de setembro de 1996. Modifica os Arts. 34,


208, 211 e 2 12 da Constituição Federal, e dá nova redação ao Art. 60 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias. Brasília, 1996b.
10

BRASIL. Lei 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá


outras providências. Brasília: MEC/Inep, 2001.

BRASIL. Emenda Constitucional nº 53, de 19 de dezembro de 2006. Dá nova redação aos


arts. 7º, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e ao art. 60 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias. Brasília, 2006a.

BRASIL. Decreto nº 6.003, de 28 de dezembro de 2006. Regulamenta a arrecadação, a


fiscalização e a cobrança da contribuição social do salário-educação, a que se referem o art.
212, § 5o, da Constituição, e as Leis nos 9.424, de 24 de dezembro de 1996, e 9.766, de 18
de dezembro de 1998, e dá outras providências, Brasília, 2006b.

BRASIL. Portaria nº 443. Balanço do Setor Público Nacional. Brasília: Ministério da


fazenda, 2011.

CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO. Nota Técnica: Por que 7% do


PIB para a educação é pouco?: Cálculo dos investimentos adicionais necessários para o
novo pne garantir um padrão mínimo de qualidade. São Paulo: Campanha Nacional pelo
Direito à Educação, 2011.

CARREIRA, Denise e PINTO, José Marcelino Rezende. Custo Aluno-Qualidade Inicial:


rumo à educação pública de qualidade no Brasil. São Paulo: Global/Campanha Nacional
pelo Direito à Educação, 2007.

MELCHIOR, José Carlos de Araújo. A política de vinculação de recursos públicos e o


financiamento da educação no Brasil. Estudos e Documentos, São Paulo, v. 17, 1981.
Publicação da Faculdade de Educação.

Sites consultados
www.inep.gov.br
www.ibge.gov.br

Você também pode gostar