Você está na página 1de 20

ASPECTOS SOCIAIS, POLÍTICOS E LEGAIS

DA EDUCAÇÃO

UNIDADE 4 – GESTÃO DEMOCRÁTICA NA


ESCOLA: QUAL É O LUGAR DO PROJETO
POLÍTICO PEDAGÓGICO NESTE PROCESSO?
Eliana Póvoas Pereira Estrela Brito

-1-
Introdução
Muito se fala sobre a escola, seu papel social e cultural, bem como suas funções educativas, não é mesmo? Você
sabia que ela é um espaço micropolítico? Que possui normas próprias que a organizam e regem seus cotidianos
com relativa autonomia de gestão? Conhece os instrumentos de gestão utilizados na perspectiva de torná-la
democrática e participativa?
Nesta unidade, vamos percorrer as dimensões que atravessam a escola como um espaço socioeducativo que tem,
por um lado, regras e normas próprias e, por outro, sofre as interferências sociais, econômicas, políticas e
culturais da sociedade em geral.
A conquista de uma sociedade democrática, com direitos humanos assegurados – dentre eles a educação –, não
se fez sem luta e sem o engajamento de vários segmentos organizados da sociedade civil. Foi uma vitória
democrática a promulgação da nossa Constituição em 1988, após um duro período político marcado pela
repressão, autoritarismo e esvaziamento das discussões sobre os rumos políticos no Brasil durante a ditadura
militar.
Vencida essa fase triste da história política brasileira (1964-1985), as normas jurídicas avançaram e abriram
espaços para que as instituições sociais, em especial as de ensino, ganhassem autonomia nas três dimensões que
lhes dão sustentação: autonomia pedagógica, autonomia administrativa e autonomia financeira.
No leque dessas proposições, as instituições escolares criaram e consolidaram diferentes instrumentos a favor
da democratização de suas práticas, a partir da participação coletiva de suas comunidades. Dentre todos esses
instrumentos, seguramente o Projeto Político Pedagógico (PPP) é a chave de acesso à democratização de todas
as relações que acontecem no chão das escolas.
Trata-se de um instrumento de construção coletiva – e por isso plural – que representa a realidade da escola e
que serve de balizador para as práticas dela. Construído dessa forma, o PPP se torna democrático, posto que
contou com a contribuição e a colaboração de todos, ao mesmo tempo em que respalda as práticas de gestão
como encaminhamentos e tomadas de decisão previstas e elaboradas de forma participativa.
Com esse pano de fundo, estamos prontos para começar a nossa reflexão nesta unidade, e você é nosso
convidado. Bons estudos!

4.1. Financiamento da educação escolar: fontes e recursos


A educação passou a ser um direito assegurado pela Constituição Federal de 1988 quando, no art. 205, dispôs
que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988). Posterior a essa grande conquista social, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) – Lei n. 9.394/96 –, reafirmou esse direito, atribuindo
obrigatoriedade e gratuidade à Educação Básica para todas as crianças e jovens a partir de quatro anos de idade.
Antes de avançarmos nas questões diretamente relacionadas ao financiamento da educação escolar, suas fontes
e seus recursos, importa que você saiba que, em conformidade com a LDBEN, as responsabilidades e atribuições
relativas à educação foram distribuídas entre os entes federados: União; estados e Distrito Federal e municípios.
Essa divisão é importante para que possamos entender melhor como funcionam os fluxos dos recursos
destinados à educação. Então, vejamos no quadro a seguir como isso ocorre.

-2-
Quadro 1 - Esferas federativas e seus respectivos níveis de ensino.
Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Agora que já sabe a forma como são distribuídas as responsabilidades de cada ente federado, você deve estar se
perguntando: quem paga o quê? De onde saem os recursos? Como é feita a movimentação do dinheiro?
O art. 212 da Constituição Federal explicita que a União será responsável por aplicar, no mínimo, 18% da
arrecadação da receita de impostos na educação. Já os estados, Distrito Federal e municípios, nunca menos de
25% do arrecadado. Além disso, a carta magna estabelece no mesmo artigo que o Ensino Fundamental contará
como fonte de recurso adicional a contribuição social do salário-educação recolhido pelas empresas (BRASIL,
1988).

Figura 1 - União é responsável por aplicar, no mínimo, 18% da arrecadação da receita de impostos na educação.
Fonte: Miriam Doerr Marton Frommherz, Shutterstock, 2020.

Em 1996, por meio da Emenda Constitucional n. 14 (BRASIL, 1996b), regulamentada pela Lei n. 9.424, de 24 de
dezembro de 1996, foi criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério (Fundef). O Manual de Orientação do FUNDEF, disponibilizado pela Secretaria de
Educação Básica do MEC, faz o seguinte destaque:

O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério


– FUNDEF tem como foco o ensino fundamental público, como o mais representativo segmento da
educação básica oferecida pelos Estados e Municípios brasileiros. Seu objetivo é promover a
universalização, a manutenção e a melhoria qualitativa desse nível de ensino, particularmente, no

que tange à valorização dos profissionais do magistério em efetivo exercício. Assim, a implantação

-3-
que tange à valorização dos profissionais do magistério em efetivo exercício. Assim, a implantação
do Fundo concorreu, dentre outros aspectos, para a incorporação e a manutenção de alunos nas
redes públicas estaduais e municipais e para a melhoria da remuneração do magistério,
particularmente onde os salários praticados estavam muito baixos (BRASIL, 2004a, p. 5).

O Fundef teve início em 1997 e vigorou até dezembro de 2006. Em junho de 2007, pela Lei n. 11.494, foi criado o
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Este alterou a abrangência do anterior, que
se limitava ao Ensino Fundamental, estendendo-o para toda a Educação Básica, ou seja, a distribuição de
recursos passou a atender da Educação Infantil ao Ensino Médio.
Outra mudança ocorrida pela institucionalização do Fundeb diz respeito aos impostos que passaram a compor o
Fundo. Nesse sentido, o modelo anterior contava com recursos próprios dos estados e dos municípios e com os
seguintes impostos:

Fundo de Participação dos Estados – FPE; Fundo de Participação dos Municípios – FPM; Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS (incluindo os recursos relativos à desoneração de
exportações, de que trata a Lei Complementar nº 87/96), e Imposto sobre Produtos Industrializados,
proporcional às exportações – IPIexp (BRASIL, 2004a, p. 7).

Por sua vez, o Fundeb passou a contar com todos os recursos que já faziam parte do Fundef e outros atribuídos
pela Lei n. 11.494/07, que são: Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), Imposto sobre
Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto sobre Renda e Proventos incidentes sobre rendimentos
pagos pelos municípios, Imposto sobre Renda e Proventos incidentes sobre rendimentos pagos pelos estados e
Imposto Territorial Rural (ITR) devida aos municípios (BRASIL, 2007).

VOCÊ SABIA?
Uma iniciativa do governo que tem contribuído de forma decisiva para o bom andamento das
rotinas escolares é o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). Voltado a todas as escolas
públicas da Educação Básica, concede autonomia de gestão financeira para que cada realidade
escolar possa suprir as principais necessidades. No entanto, para que as instituições da rede
pública de ensino possam se manter beneficiárias do Programa, é preciso que apliquem os
recursos recebidos de modo correto, ou seja, que os utilizem para propor melhorias de
infraestrutura e materiais que qualifiquem os processos de ensino-aprendizagens.

Diante desse cenário, uma pergunta é imprescindível: como é feita essa distribuição?

-4-
Figura 2 - Distribuição de recursos pelo Fundeb entre estados e municípios considera o número de matrículas
ativas por estabelecimento de ensino.
Fonte: Robyn Mackenzie, Shutterstock, 2020.

Então, a primeira coisa que você tem que saber é que cada estado possui um Fundeb, ou seja, não se trata de uma
política centralizada na União, e cabe a cada estado fazer a distribuição de recursos para a rede de Educação
Básica sob sua responsabilidade. Importa dizer que essa distribuição é feita tanto para as escolas da rede
estadual de ensino quanto para as municipais, e o critério é o número de estudantes com matrículas ativas
indicado pelo Censo Escolar – isto é, quanto mais estudantes, mais recursos.
Em termos de distribuição dos recursos, os cálculos levarão em conta o universo de estudantes matriculados,
dando ênfase aos níveis de ensino prioritários para cada uma das esferas federativas. Nesse sentido, os
municípios receberão os recursos, em especial, para Educação Infantil e Ensino Fundamental; já os estados
contarão prioritariamente com as matrículas do Ensino Médio.
No que diz respeito à utilização dos recursos, estes obedecerão aos seguintes critérios conforme pode ser visto
clicando nos botões a seguir.

60% será destinado à remuneração dos profissionais da Educação Básica.


40% a investimentos em outras despesas voltadas à manutenção e qualificação da Educação Básica.

-5-
40% a investimentos em outras despesas voltadas à manutenção e qualificação da Educação Básica.

Vale ressaltar que quando o Fundeb prevê investimentos aos profissionais da educação, não está se referindo
apenas aos professores, mas também a todos os funcionários que trabalham na educação. Isso inclui os
servidores técnico-administrativos e o pessoal que apoia os serviços básicos.
Para que você tenha maior clareza sobre os valores distribuídos, veja que, de acordo com a Portaria
Interministerial n. 4, de dezembro de 2019, o valor anual mínimo nacional por aluno foi definido em R$ 3.643,16
para o exercício de 2020. Caso o município e/ou estado não tenham condições de cumprir com esse mínimo
estipulado, caberá à União fazer a complementação dos recursos (BRASIL, 2019).
Para além do Fundeb, o governo federal também financia alguns programas específicos para a Educação Básica
das redes públicas de ensino. Entre eles se incluem:
Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE);
Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE);
Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE);
Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE);
Programa Nacional de Saúde do Escolar (PNSE);
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

VOCÊ QUER LER?


Que tal conhecer as especificidades de cada um dos programas específicos para a Educação
Básica das redes públicas de ensino? Os programas coordenados e financiados pelo Ministério
da Educação por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) podem ser
acessados pelo Portal do FNDE. Nesse site, você poderá saber as finalidades de cada um deles,
a quem se destinam e como estão funcionando. Confira! O endereço é: <http://www.fnde.gov.
br/programas>.

Podemos verificar que o governo federal tem feito investimentos na Educação Básica como forma de assegurar o
direito à educação de todos, contemplando as especificidades e necessidades de cada nível de ensino, bem como
das diferentes modalidades da educação. Nesse sentido, podemos localizar, entre outros, o Proinfância, que se
direciona especialmente para a Educação Infantil, e o Proinfo, cujo objetivo central é informatizar as escolas,
possibilitando que os estudantes utilizem computadores como uma ferramenta didático-pedagógica.

-6-
Figura 3 - O site do FNDE dá acesso a todos os programas do governo federal voltados à educação básica no
Brasil.
Fonte: FNDE, 2020.

Como você pode acompanhar, há investimentos na Educação Básica da rede pública brasileira, o que implica que
também existem fiscalização e acompanhamento de como os recursos públicos estão sendo utilizados pelas
secretarias de Educação das redes públicas de ensino. Para tanto, faz-se necessária a participação ativa de pais e
demais representantes da comunidade escolar.

4.2 Gestão democrática e participativa da Educação


Certamente, você já ouviu falar que determinada situação, instituição ou prática de governo é democrática. Da
mesma forma, também já escutou, presenciou ou até mesmo participou de algumas circunstâncias em que as
pessoas (ou você mesmo) consideraram-nas marcadas pelo autoritarismo, não é?
Esses dois termos definem, em certo sentido, a forma como as pessoas e as instituições se relacionam entre si e
com a sociedade. Na perspectiva democrática supõe-se haver igualitarismo, liberdade de expressão, relações
mais horizontalizadas entre as pessoas. Por sua vez, o autoritarismo nega a liberdade de expressão e supõe
obediência inquestionável às lideranças, chefias, governo.

-7-
VOCÊ O CONHECE?
Não é possível pensar na democratização da educação brasileira sem considerar o importante
papel desempenhado por Fernando Azevedo. Além de sua militância ativa em prol da educação
para todos no Brasil, foi pioneiro em relação à pesquisa no campo das políticas educacionais ao
realizar rigorosa investigação sobre o cenário educacional de São Paulo. Junto com Anísio
Teixeira, Lourenço Filho, Afrânio Peixoto e outros educadores engajados na defesa da
educação pública, foi um dos signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova em
1932. A biografia de Azevedo pode ser consultada no site da HISTEDBR: <http://www.
histedbr.fe.unicamp.br/navegando/glossario/verb_b_fernando_azevedo.htm>.

Agora, se você transportar essas perspectivas para a educação, fica fácil perceber que é muito complicado
trabalhar, estudar e conviver sob a égide do autoritarismo, não é mesmo? Nesse sentido, para que a educação
seja inclusiva e acolhedora das diferenças culturais, pessoais e econômicas, ela precisa ser democrática. E para
que essa conquista social seja efetivamente cumprida, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – em
obediência à Constituição Federal de 1988 que, no art. 206, estabeleceu a gestão democrática para a educação
brasileira – aponta a gestão democrática como um dos princípios basilares a serem considerados no ensino
(BRASIL, 1996).
Em que pese a importância de as normas jurídicas assegurarem uma educação democrática, é importante
atentarmos nas considerações dos professores Genuíno Bordignon e Regina Gracindo (2000, p. 148):

A gestão democrática da educação requer mais do que simples mudanças nas estruturas
organizacionais; requer mudança de paradigmas que fundamentem a construção de uma Proposta
Educacional e o desenvolvimento de uma gestão diferente da que na atualidade é vivenciada. Ela
precisa estar para além dos padrões vigentes, comumente desenvolvidos pelas organizações
burocráticas.

Percebe-se, por consequência, que mais do que leis que apontem para a democratização na educação, faz-se
necessária a participação de todos para que uma cultura democrática seja instituída na educação.
Aqui, é importante considerar o entendimento do professor Libâneo sobre a definição de participação. Diz ele:

O conceito de participação se fundamenta no de autonomia, que significa a capacidade das pessoas e


dos grupos de livre determinação de si próprios, isto é, de conduzirem sua própria vida. Como a
autonomia opõe-se às formas autoritárias de tomada de decisão, sua realização concreta nas
instituições é a participação (LIBÂNEO, 2008, p. 102).

Explicita-se, portanto, a necessidade do envolvimento de todos para a consolidação da democracia. Sem a


participação cidadã, corremos o risco de tornar a democracia frágil, pois, embora existam dispositivos legais
voltados à participação popular, se estes deixarem de ser utilizados não contribuirão para sua efetividade no
campo social.
Um exemplo prático de participação popular no campo da educação pode ser constatado por ocasião da
elaboração dos planos de educação que envolvem todas as esferas federativas (municipais, estaduais, distrital e
federal). Nesse sentido, é possível a participação popular nesses processos que objetivam pautar temas
importantes para a educação e fortalecer o Plano Nacional de Educação.

Outro espaço importante para a democratização e participação popular na educação é a Conferência Nacional de

-8-
Outro espaço importante para a democratização e participação popular na educação é a Conferência Nacional de
Educação (Conae). Você sabe do que se trata? “[É] um espaço democrático instituído pelo Poder Público em
articulação com a sociedade para que todos possam participar do desenvolvimento da educação nacional”
(BRASIL, [s.d.]).

Figura 4 - Espaços como os da Conferência Nacional de Educação são significativos para a participação popular
em processos de decisão democrática.
Fonte: Shutterstock, 2020.

Vieira (2015, p. 16) argumenta que “a gestão educacional situa-se na esfera macro, ao passo que a gestão escolar
se localiza na esfera micro. Ambas se articulam mutuamente, dado que a primeira se justifica a partir da
segunda”. Baseados nessa compreensão, podemos falar em gestão da educação quando nos referirmos ao
Ministério da Educação, às secretarias de Educação ou a outros órgãos que fazem a gestão dos sistemas de
educação. Por sua vez, a gestão escolar fica restrita às instituições de ensino da Educação Básica.
Mas, antes de prosseguirmos, vale perguntar: você sabe o que significa gestão? Não se trata somente de mandar,
ordenar, organizar. Gestão pode ser entendida como nos propõe o professor Carlos Jamil Cury (2005, p. 5):

Gestão provem do verbo latino gero, gessi, gestum, gerere e significa: levar sobre si, carregar, chamar
a si, executar, exercer, gerar. Trata-se de algo que implica o sujeito. Isto pode ser visto em um dos
substantivos derivado deste verbo. Trata-se de gestatio, ou seja, gestação, isto é, o ato pelo qual se
traz em si e dentro de si algo novo, diferente: um novo ente. Ora, o termo gestão tem sua raiz
etimológica em ger que significa fazer brotar, germinar, fazer nascer. Da mesma raiz provém os
termos genitora, genitor, gérmen.

Essa definição trazida por Cury (2005) torna-se interessante quando pensada no contexto da escola, pois, ao
contrário do que pode se pensar, gestão não é apenas administrar pessoas, situações e coisas; é fazer germinar, é
criar condições para que o inusitado aconteça. Isso, por si só, já pressupõe a necessidade de um clima
democrático no qual o diálogo, a escuta do outro, o respeito às diferenças façam parte das condições de trabalho
na escola.
Dito isso, a gestão na perspectiva democrática encontra-se assim colocada na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDBEN). Em conformidade com a norma jurídica (art. 14):

Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação

-9-
Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação
básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;
II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL,
1996).

No art. 15, o texto da LDBEN prescreve que “os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas
de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e financeira,
observadas as normas gerais de direito financeiro público” (BRASIL, 1996).
Nota-se, portanto, que esse dispositivo legal atribuiu autonomia pedagógica, administrativa e financeira às
instituições de ensino, estabelecendo que os sistemas de educação, nas três esferas federativas, devam
descentralizar suas práticas gestoras nessas dimensões. Prevê ainda a participação da comunidade escolar nas
tomadas de decisões, o que inclui os profissionais da educação, estudantes, pais e/ou responsáveis e comunidade
externa pertencente ao entorno da escola.
Vamos avançar em nossos estudos, tratando de como se dá essa gestão escolar sob o ponto de vista da
democracia e da participação.

4.3 Gestão Escolar na perspectiva democrática e


participativa
Ao refletirmos sobre a gestão escolar na perspectiva democrática e participativa, é importante primeiramente
lembrar que autonomia não é independência, posto que as instituições devem respeitar as normas de seus
respectivos sistemas de educação.
Autonomia aqui é entendida como a “expressão da unidade social que é a escola e não preexiste à ação dos
indivíduos” (BARROSO, 1998, p. 21).
No entanto, embora haja dispositivos legais a favor da participação da comunidade nas práticas de gestão na
escola, estas ainda se ressentem de maior participação de representantes da comunidade em seus órgãos
colegiados. Neste sentido, é importante considerar que:

A participação em sentido pleno é caracterizada pela mobilização efetiva dos esforços individuais
para a superação de atitudes de acomodação, de alienação e marginalização, e reversão desses
aspectos pela eliminação de comportamentos individualistas pelo espírito de equipe, visando à
efetivação de objetivos sociais e individuais que são adequadamente entendidos e assumidos por
todos (LUCK, 2006, p. 30).

Dessa forma, é preciso que a escola encoraje sua comunidade a participar efetivamente de seu cotidiano.
Sabemos que pais e/ou responsáveis pelos estudantes vivenciam um cotidiano por vezes bastante complexo em
função do ritmo acelerado de trabalho com vistas a garantir a sobrevivência da família. Certamente, esse é um
dos obstáculos que as escolas enfrentam ao buscar a integração comunidade-escola.
Adilson Cesar de Araújo (2009, p. 254), ao analisar as questões que potencializam a gestão escolar na
perspectiva democrática e participativa, aponta quatro dimensões necessárias: “participação, autonomia,
pluralismo e transparência”. Quando trabalhadas de forma integrada e contínua nos espaços escolares, elas
garantem o caráter público que deve ser atribuído a todas as escolas das redes públicas de educação.
É importante frisar que a participação da comunidade escolar guarda relações estreitas com a autonomia da
gestão em realizar práticas propositivas, voltadas para a melhoria das práticas pedagógicas e administrativas

desenvolvidas na escola, bem como no respeito às diferenças que habitam os cotidianos escolares. Não é

- 10 -
desenvolvidas na escola, bem como no respeito às diferenças que habitam os cotidianos escolares. Não é
possível, diante da pluralidade cultural presente em nossa sociedade, que a escola queira normatizar um único
padrão cultural – via de regra, mantendo os padrões culturais da colonização europeia, branca e elitista.
Importa o que ressalta a professora Sandra Tosta (citado por OLIVEIRA et al., 2014, p. 119):

[...] a consciência de que a diferença está presente no cotidiano da escola e da sala de aula aponta
para a necessária reflexão sobre pelo menos duas questões importantes nas relações que se
constroem no interior dessa instituição. Primeiro, que a diferença não está apenas presente na vida
fora da escola, como também atravessa os muros, quase sempre impermeáveis, da instituição
escolar. Terceiro, que a forma como olhamos e tratamos a diferença interfere nas relações educativas
e, consequentemente, nas relações de aprendizagem e de socialização.

Em termos de gestão democrática e participativa, as escolas institucionalizaram alguns mecanismos voltados à


participação da comunidade em suas tomadas de decisões. Podemos citar como exemplo os conselhos escolares,
os conselhos de classe, as Associações de Pais e Mestres (APMs) e os grêmios estudantis.
Dentre esses instrumentos, o Conselho Escolar se constitui em uma das instâncias mais significativas para a
participação, acompanhamento e fiscalização, por parte da comunidade escolar, das práticas da gestão escolar.
Torna-se, por consequência, um importante dispositivo voltado à transparência dos atos administrativos no
âmbito escolar.

Figura 5 - Nos conselhos escolares diferentes segmentos da comunidade escolar participam para planejar e
deliberar de forma colegiada.
Fonte: Rawpixel, Shutterstock, 2020.

Você já participou do Conselho Escolar? Sabe como funciona? Os Conselhos Escolares são regulamentos por leis
ou outras normativas legais no âmbito dos estados e dos municípios. Dessa forma, é possível encontrar algumas
diferenças entre os “estatutos” elaborados em cada estado ou município, no entanto existem princípios comuns a
serem observados em conformidade com as orientações do MEC.

- 11 -
VOCÊ SABIA?
A etimologia da palavra “conselho” nos ajuda a compreender melhor esse importante
dispositivo democrático na escola. Veja: “O termo conselho vem do latim consilium. Por sua
vez, consilium provém do verbo consulo/consulere, significando tanto ouvir alguém quanto
submeter algo a uma deliberação de alguém, após uma ponderação refletida, prudente e de
bom senso. Trata-se, pois, de um verbo cujos significados postulam a via de mão dupla: ouvir e
ser ouvido [...]” (CURY, 2000, p. 47).

De acordo com o Estatuto do Conselho Escolar, “o Conselho Escolar é um órgão colegiado de natureza
deliberativa, consultiva e fiscal, não tendo caráter político-partidário, religioso, racial e nem fins lucrativos, não
sendo remunerados seu Dirigente ou Conselheiros” (BRASIL, 2004b).
Trata-se, portanto, de participações espontâneas que objetivam contribuir para que a gestão escolar possa de
forma democrática e participativa discutir seus rumos, priorizar ações e fazer encaminhamentos com respaldo
coletivo.
São objetivos do Conselho Escolar:

I – Democratizar as relações no âmbito da escola, visando à qualidade de ensino através de uma


educação transformadora que prepare o indivíduo para o exercício da plena cidadania;
II – Promover a articulação entre os segmentos da comunidade escolar e os setores da escola, a fim
de garantir o cumprimento da sua função que é ensinar;
III – Estabelecer, para o âmbito da escola, diretrizes e critérios gerais relativos à sua organização,
funcionamento e articulação com a comunidade de forma compatível com as orientações da política
educacional da Secretaria de Educação, participando e responsabilizando-se social e coletivamente,
pela implementação de suas deliberações (BRASIL, 2004b).

VOCÊ QUER LER?


Sobre as funções e potencialidades do Conselho Escolar para atuar na perspectiva democrática
e participativa nas escolas, vale a pena conhecer o conteúdo do módulo que integra o Curso de
Técnico em Gestão Escolar – Profuncionário –, elaborado por Regina Vinhaes Gracindo. A
iniciativa é uma parceria entre a Universidade de Brasília (UnB) e a Secretaria de Educação
Básica (SEB) do Ministério da Educação. O material está disponível em: <http://portal.mec.gov.
br/seb/arquivos/pdf/11gesdem.pdf>.

Quanto à composição dos Conselhos Escolares, o MEC (2004) orienta que o Conselho Escolar seja composto por
membro nato e representantes de todos os segmentos que fazem parte da comunidade escolar. O diretor da
escola será um membro nato, ao passo que os demais conselheiros que representam os diversos segmentos da
comunidade escolar devem ser eleitos por seus pares. O processo de eleição deve eleger representantes e
suplentes.

Outro dispositivo de participação democrática é o Conselho de Classe. Ele reúne todos os professores, das

- 12 -
Outro dispositivo de participação democrática é o Conselho de Classe. Ele reúne todos os professores, das
diferentes áreas do conhecimento, que atuam em determinada série ou classe com o objetivo de fazer uma
avaliação coletiva dos processos de ensino-aprendizagem decorridos em dado período letivo. Além dos
professores, os Conselhos de Classe contam com a representação estudantil eleita para esses fins.
Neste sentido, o professor Vitor Paro (2000, p. 81) nos chama a atenção para o fato de que:

os conselhos de classe, por exemplo, não podem continuar sendo instâncias meramente burocráticas,
onde se procura apenas justificar o baixo rendimento do aluno, colocando a culpa em fatores
externos à escola. É preciso prever instrumentos institucionais que avaliem não apenas o
rendimento do aluno, mas o próprio processo escolar como um todo, com a presença de alunos e de
pais, pois eles são os usuários da escola e a eles compete apontar problemas e dar sugestões de
acordo com seus interesses. É obvio que não se trata já de atividade estritamente administrativa,
mas da própria ligação entre o administrativo e o político, com o primeiro procurando viabilizar o
segundo e este servindo de fundamento para realização daquele.

Novamente, é importante que a escola não torne o Conselho de Classe mais um dispositivo burocrático que sirva
tão somente para prestar contas às determinações das secretarias. Ainda que majoritariamente formado por
professores, ele precisa abrir espaços de fala para os estudantes sem que estes tenham medo de sair
prejudicados em suas avaliações em função de identificar algumas situações de ensino-aprendizagem que
desagradem aos professores.

VOCÊ QUER VER?


Se deseja conhecer uma percepção interessante a respeito da importância do papel social da
escola, não deixe de assistir ao vídeo, produzido pela organização Todos pela Educação. O
professor Vitor Paro, com base em problemáticas levantadas por ele, indica as contribuições
sociais que a escola pode oferecer numa perspectiva democrática e participativa. Ao criticar as
formas de organização pedagógica e administrativa pelas quais as escolas costumam
estruturar seus cotidianos, Paro reflete de forma crítica a respeito da necessidade de tecer
aproximações entre escola-família e comunidade. O material está disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=r-4iV6aAl4E>.

Como você já percebeu, as questões relativas à consolidação da gestão democrática e participativa nas escolas
envolvem muito mais do que um conjunto de normas jurídicas que lhes deem respaldo legal. Apesar da
importância das leis – sem elas correríamos o risco de desenvolver práticas arbitrárias –, é importante ter
clareza de que só com a participação de todos a democracia se consolida. Entretanto, isso não pode se dar por
imposição, pois nesse caso teríamos o autoritarismo ditando a participação. Ela tem que acontecer de forma
voluntária, engajada e consciente de que não é um dever a ser cumprido, mas, antes, um direito a ser exercido.

VOCÊ QUER VER?


Uma interessante entrevista com a consultora pedagógica da revista Gestão Escolar, Maura
Barbosa, nos ajuda a compreender como organizar e desenvolver conselhos de classes que
rompam com os aspectos meramente burocráticos e possam interferir com qualidade nos
processos pedagógicos. Vale a pena você assistir a Como o conselho de classe pode ajudar a

- 13 -
rompam com os aspectos meramente burocráticos e possam interferir com qualidade nos
processos pedagógicos. Vale a pena você assistir a Como o conselho de classe pode ajudar a
melhorar o ensino e a aprendizagem e colaborar com sua escola na organização e realização
dessa instância escolar. O vídeo está disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=yxpCei1L6qs>.

Nesse sentido você como cidadão deve participar e contribuir para que as escolas de seu município e região
instaurem uma cultura democrática com o efetivo envolvimento da comunidade. Participe e convide seus amigos
e familiares a também contribuírem com a educação de seu município.

4.4 A construção do Projeto Político Pedagógico e a


participação coletiva
Certamente, você já ouviu falar em Projeto Político Pedagógico (PPP) e deve saber que todas as escolas possuem
seus PPPs, não é mesmo? Mas tem ideia sobre para que servem? É a respeito desse instrumento que vamos
tratar neste tópico.

CASO
Maria José das Flores é uma jovem professora. Após ter sido aprovada em concurso público
para o exercício do magistério na rede de ensino do seu município, se dirigiu à escola que lhe
foi indicada pela Secretaria de Educação para assumir a regência numa classe de terceiro ano
do Ensino Fundamental.
Ao chegar lá e após se apresentar e conhecer o seu novo ambiente de trabalho, solicitou o
Projeto Político Pedagógico, pois sua intenção era a de poder compreender melhor os
princípios filosóficos e educativos que regiam o cotidiano da escola. As professoras disseram
que havia, sim, um PPP, mas que não sabiam onde ele poderia estar guardado.
A diretora, ao chegar à sala e perceber o movimento das professoras em busca do documento,
interveio e disse a Maria José que de nada adiantaria ler o PPP, pois ele estava muito
desatualizado e já não representava o que acontecia, de fato, na escola.

Vamos iniciar problematizando a própria concepção de “projeto”. Veja o que diz o professor Moacir Gadotti
(2000, p. 38) sobre o termo:

Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar
quebrar um estado confortável para arriscar-se atravessar um período de instabilidade e buscar uma
nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o
presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As
promessas tornam visíveis, comprometendo seus atores e autores.

Pensar na concepção de um Projeto Político Pedagógico a partir da noção de projeto já nos leva a compreender
que a elaboração e/ou revisão desse documento supõe que as pessoas envolvidas estejam dispostas a revisar o
estado atual de suas práticas, analisar outras possibilidades e buscar coletivamente traçar novos rumos para os

- 14 -
que a elaboração e/ou revisão desse documento supõe que as pessoas envolvidas estejam dispostas a revisar o
estado atual de suas práticas, analisar outras possibilidades e buscar coletivamente traçar novos rumos para os
cotidianos escolares. No limite, exige certa desacomodação com vistas a identificar novas formas de organização
na escola.

Figura 6 - Valores, missão da escola e visão de mundo são aspectos a serem considerados pela gestão escolar
numa perspectiva democrática.
Fonte: ChristianChan, Shutterstock, 2020.

Não se faz um PPP sem as bases concretas que servirão de subsídios para a sua construção. Nesse sentido, a
construção ou reformulação dele envolve um planejamento prévio em que estejam previstas todas as fases,
desde o diagnóstico da realidade até sua implantação no chão da escola. Nas palavras da professora Heloisa Luck
(2009, p. 33):

A partir de uma visão abrangente e integradora, o planejamento contribui para a coerência e


consistência das ações, promovendo a superação do caráter aleatório, ativista e assistemático. Como
instrumento de preparação para a promoção de objetivos, ele antecede as ações, criando uma
perspectiva de futuro, mediante a previsão e preparação das condições necessárias para promovê-lo.

Em poucas palavras, a construção do PPP exige um planejamento prévio de suas etapas e da distribuição de
responsabilidades entre todos os que fazem parte da comunidade escolar.

- 15 -
Figura 7 - É preciso um planejamento prévio de etapas para a construção do PPP.
Fonte: Astephan, Shutterstock, 2020.

É interessante notar que a própria nomenclatura – Projeto Político Pedagógico – já contempla as principais
características desse plano de educação ao atribuir-lhe um caráter de algo transitório porque precisa ser revisto
com periodicidade como forma de analisar o que está proposto e o que está sendo realmente feito na escola. É
político, pois a escola é uma instituição social e como tal está inserida em uma sociedade marcada por
contradições, conflitos e desigualdades. Finalmente, é pedagógico porque traz as marcas dos processos de
ensino-aprendizagem voltados à formação do sujeito que se pretende formar para exercer a cidadania na
sociedade que temos.
Para que seja de fato um instrumento a favor da democratização e da participação na escola, um PPP necessita
obviamente envolver todos os profissionais da educação que ali atuam. E mais: é preciso chamar a comunidade
escolar a fazer parte. O Projeto Político Pedagógico não é, nem pode ser, um documento feito pela equipe gestora
da escola; antes, precisa do envolvimento de funcionários, professores, pais e estudantes. Como muito bem
observa o professor José Carlos Libâneo (2008, p. 152):

O projeto político-pedagógico pode ser comparado, de forma análoga, a uma árvore. Ou seja,
plantamos uma semente que brota, cria e fortalece suas raízes, produz sombra, flores e frutos que
dão origem a outras árvores, frutos..., mas, para mantê-la viva, não basta regá-la, adubá-la e podá-la
apenas uma vez.

- 16 -
Figura 8 - O PPP pode ser comparado a uma árvore, que exige cuidados para que cresça, floresça e dê frutos.
Fonte: Stocker, Shutterstock, 2018.

Para que um Projeto Político Pedagógico seja construído de forma efetiva e comprometida com os anseios de sua
comunidade escolar, pode-se partir da análise da escola que temos. Ela tem princípios democráticos e
inclusivos? Está preparada para trabalhar com o pluralismo cultural? Como é o seu currículo no que diz respeito
à inclusão dos saberes afro-brasileiros e indígenas? Que tipo de cidadão pretende formar? Para qual projeto de
sociedade?
As questões que envolvem as dimensões pedagógicas devem ser trabalhadas na perspectiva de provocar a
discussão, a análise e a reflexão sobre os pontos centrais que envolvem as concepções pedagógicas da escola em
seu estado atual. A partir desse diagnóstico é que poderão ser traçados os objetivos a serem alcançados.
Não se deve, no entanto, deixar de considerar a realidade em que a escola está inserida, o que significa levar em
conta as seguintes perguntas: quem são os estudantes? Como as famílias se organizam? Qual a renda familiar?
Qual a função social da escola no bairro? Como ela pode propor atividades extracurriculares que contemplem o
lazer da comunidade do entorno? Trata-se de indagações importantes, pois a escola tem o papel social e político
de educar para além de seus muros, e dificilmente terá a participação da comunidade do entorno se não tecer
aproximações com os saberes locais.

Figura 9 - A construção do PPP sempre deve considerar o entorno da escola como forma de respeitar e valorizar

- 17 -
Figura 9 - A construção do PPP sempre deve considerar o entorno da escola como forma de respeitar e valorizar
as especificidades locais.
Fonte: Jan S., Shutterstock, 2020.

Além das questões que dizem respeito às dimensões pedagógicas, a escola precisa pensar como vem
organizando seus instrumentos de participação nas tomadas de decisões quanto à gestão. Ela possui Conselho
Escolar? Este é representativo dos diferentes segmentos que compõem o cotidiano escolar? Qual a regularidade
das reuniões? A comunidade é convidada a fazer parte das festas e comemorações realizadas pela escola? E os
conselhos de classe, como funcionam? Os estudantes têm liberdade para contestar e fazer proposições diante das
avaliações atribuídas pelos docentes? Como são encaminhadas essas manifestações estudantis? Os estudantes
são estimulados a organizarem um grêmio estudantil? A escola contribui para o desenvolvimento e realização
das atividades propostas por eles? O que poderia fazer para tornar a gestão mais participativa?
Todas estas questões precisam ser respondidas coletivamente. Com base nesse levantamento é que o PPP
poderá traçar metas e ações que contribuam para que a escola se democratize com a participação de todos.
Também é de suma importância que conste no PPP o quadro de profissionais da educação necessário para um
trabalho escolar qualificado nas dimensões administrativas, técnicas e docentes. Devem constar ainda as
melhorias na infraestrutura, na aquisição de materiais para laboratórios, bibliotecas e espaços de esporte e lazer.
Esse conjunto de informações levantadas do contexto concretamente vivido por estudantes, profissionais da
educação, gestores, pais e familiares permite que a comunidade escolar tenha uma espécie de retrato da
realidade. A partir dele será possível, de forma coletiva, traçar as metas para alcançar todas as mudanças
desejadas, fortalecer as dimensões que já se apresentam como satisfatórias e buscar, cada vez mais, contribuir
para a construção de uma sociedade mais plural, inclusiva e igualitária.
Podemos concluir, portanto, que o Projeto Político Pedagógico é um poderoso instrumento de balizamento para
as práticas escolares, seus saberes e poderes, já que concebido coletivamente no âmbito da instituição, orientado
para ela, na perspectiva de qualificar a educação.
Vale aqui uma reflexão final: é importante dizer que a existência dos PPPs nas escolas de Educação Básica não se
dá por imposição de uma lei federal, posto que os sistemas de ensino (estadual/distrital e municipal) possuem
autonomia pedagógica. No entanto, a LDBEN – Lei n. 9.394/96 – aponta para a necessidade de que os sistemas de
ensino possuam planos de educação contando com a participação dos profissionais da educação e de segmentos
representativos da comunidade escolar (BRASIL, 1996a).
Apesar de todas as escolas possuírem esse documento, o fato de não ser um dispositivo de gestão vivo e atuante
nas relações escolares, acaba fazendo com que ele se torne obsoleto pelas ausências de uso e de atualizações.
Esse é um aspecto que precisa ser destacado e constitui um desafio a gestores, professores e todos os envolvidos
no fazer educacional.

Conclusão
Nesta unidade, verificamos como ocorrem os processos voltados a democratizar a escola pública, como um bem
público e um direito assegurado a todos os cidadãos brasileiros. Você pôde acompanhar desde os recursos
financeiros destinados à Educação Básica até a institucionalização de instrumentos democráticos a favor da
participação de todos os segmentos da comunidade nas tomadas de decisões da escola.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• compreender como acontece o financiamento da educação;
• identificar as principais fontes e recursos que financiam a Educação Básica no Brasil;
• entender as dimensões da gestão democrática na educação;
• diferenciar gestão democrática na educação e gestão democrática na escola;

• reconhecer os principais instrumentos de participação coletiva na escola;

- 18 -
• reconhecer os principais instrumentos de participação coletiva na escola;
• compreender a importância e as funções do Projeto Político Pedagógico.

Bibliografia
ARAÚJO, A. A gestão democrática da educação e os canais de participação dos estudantes. Revista Retratos da
Escola. Dossiê Financiamento e Gestão da Educação Básica, v. 3, n. 4, jan./jun. 2009.
BARBOSA, M. Como o conselho de classe pode ajudar a melhorar o ensino e a aprendizagem. 2014.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yxpCei1L6qs>. Acesso em: 30/01/2020.
BARROSO, J. O reforço da autonomia das escolas e a flexibilização da gestão escolar em Portugal. In: FERREIRA,
N. (Org.). Gestão Democrática da Educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 1998. p. 11-
32.
BORDIGNON, G; GRACINDO, R. Gestão da educação: o município e a escola. In: FERREIRA, N.; AGUIAR, M. Gestão
da Educação: impasses, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, 2000. p. 147-176.
BRASIL. Constituição (1988). Brasília, DF: 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03
/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 30/01/2020.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23/12
/1996a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 30/01/2020.
BRASIL. Lei n. 9.424, de 24 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 26/12
/1996b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9424.htm>. Acesso em: 30/01/2020.
BRASIL. Manual de Orientação do FUNDEF. Brasília: MEC, 2004a. Disponível em: <https://www.fnde.gov.br
/fnde_sistemas/siope/legislacao/manuais?tmpl=component&print=>. Acesso em: 30/01/2020.
BRASIL. Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares: uma estratégia de gestão
democrática da educação pública. Brasília: MEC/SEB, 2004b. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb
/arquivos/pdf/Consescol/pr_lond_sttt.pdf>. Acesso em: 30/01/2020.
BRASIL. Conselho Escolar e o Financiamento da Educação no Brasil. Brasília: MEC, 2006.
BRASIL. Lei n. 11.494, de 20 de junho de 2007. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 21/06
/2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11494.htm>. Acesso
em: 30/01/2020.
BRASIL. Portaria Interministerial n. 4, dezembro de 2019. Disponível em: <http://www.in.gov.br/en/web
/dou/-/portaria-interministerial-n-4-de-27-de-dezembro-de-2019-235856724>. Acesso em: 30/01/2020.
BRASIL. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Programas. 2018. Disponível em: <http://www.
fnde.gov.br/programas>. Acesso em: 30/01/2020.
BRASIL. Conferência Nacional de Educação (Conae). A Conferência. [S.d.]. Disponível em: <http://conae.mec.
gov.br/>. Acesso em: 30/01/2020.
CRUZ, C. H. C. Conselho de Classe: espaço de diagnóstico da prática educativa escolar. São Paulo: Loyola, 2015.
CURY, C. R. J. Os conselhos de educação e a gestão dos sistemas. In: FERREIRA, N.; AGUIAR, M. (Org.). Gestão da
educação: impasses, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, 2000. p. 43-60.
CURY, C. R. J. Gestão democrática dos sistemas públicos de ensino. In: OLIVEIRA, M. A. M. Gestão Educacional:
novos olhares, novas abordagens. Petrópolis: Vozes, 2005. P. 15-21.
FERNANDO Azevedo. HISTEDBR – Navegando na história da Educação Brasileira. [S.d.]. Disponível em: <
http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/glossario/verb_b_fernando_azevedo.htm>. Acesso em: 30/01
/2020.
GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
GRACINDO, R. V. Gestão Democrática nos sistemas e na escola. Brasília: Universidade de Brasília, 2007.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/11gesdem.pdf>. Acesso em: 30/01/2020.

LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed. revista e ampliada. Goiânia: Editora

- 19 -
LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed. revista e ampliada. Goiânia: Editora
Alternativa, 2008.
LUCK, H. A Gestão Participativa na Escola. Petrópolis: Vozes, 2006.
LUCK, H. Dimensões da gestão escolar e suas competências. Curitiba: Editora Positivo, 2009.
OLIVEIRA, A.; NASCIMENTO, F. S.; SANTOS, J. O ensino e seus espelhos: a formação antropológica para não
antropólogos. Cadernos da Pedagogia, São Carlos, ano 7, v. 7 n. 14, p. 114-125, jan./jun. 2014.
PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2000.
PARO, V. H. Depoimento concedido ao Movimento Todos Pela Educação sobre o papel social da escola. [S.
l.]: [s.d.]. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=r-4iV6aAl4E>. Acesso em: 30/01/2020.
VIEIRA, S. L. Estrutura e funcionamento da educação básica. 2. ed. atual. Fortaleza: EdUECE, 2015.

- 20 -

Você também pode gostar