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AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL
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Assim, todos, no âmbito da sua atribuição, devem produzir políticas que atendam
esse a esse direito.
No território brasileiro, as etapas da educação básica (educação infantil,
ensino fundamental e ensino médio) estão distribuídas entre as redes estaduais,
sob a responsabilidade do governo do estado e das redes municipais, sob a
responsabilidade dos governos municipais, além da possibilidade de atuação da
rede privada, todavia, respondendo à legislação pertinente.
A distribuição das matrículas dessas etapas entre os federados segue
também uma indicação estabelecida na CF/1988, que recomenda aos
municípios o atendimento prioritariamente sobre os anos iniciais do ensino
fundamental e a educação infantil, e aos Estados e ao Distrito Federal o
atendimento sobre os anos finais do ensino fundamental e do ensino médio. Há
diferenças regionais que invertem um pouco essa lógica. Quanto à União, esta
fica com caráter de coordenação financeira e técnica.
Para a organização de seus sistemas de ensino, a CF/1988 indica que a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão em regime de
colaboração formas de assegurar a universalização, a qualidade e a equidade
do ensino obrigatório, compreendido como o ensino fundamental.
Ainda em relação às competências dos entes federados, o art. 24 define
a competência concorrente da União, Estados e o Distrito federal de legislar
sobre a educação, todavia, prevalecendo o direito nacional ao direito local,
assim, a União tem a prerrogativa de legislar sobre a matéria concorrente sobre
o estado ou município.
Na prática, essa organização específica limites quanto à autonomia dos
entes, mais especificamente dos estados e municípios de legislar a respeito da
educação. É importante considerar que apesar de a CF/1988 apontar
competências comuns entre os entes e acerca da autonomia dos estados e
municípios para legislar sobre algumas questões educacionais, ela não se
configura como soberania, sendo vista na perspectiva mais de
complementaridade de atuação.
Há, sim, evidentemente um regime ao mesmo tempo de convergência e
tensão entre as competências dos entes federados, como a União que atua mais
como coordenadora sobre as questões sobre políticas de acesso à educação e
menos como protagonista. De certa forma, esse arranjo acaba por reduzir as
responsabilidades do principal ente federativo.
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Da mesma maneira, no âmbito do financiamento da educação, atua a
função supletiva e redistributiva do ente federado com maior capacidade técnica
e financeira, assim, a União atua mais uma vez como coordenadora e menos
como protagonista desse processo.
Sobre a gestão democrática, veremos, a seguir, que a CF/1988
estabelece princípios democráticos que devem permear todos os sistemas de
ensino. A LDB 9.394/1996, como diretriz e base para a educação nacional,
estabelece a gestão democrática em formas participativas como na elaboração
do PPP e em conselhos escolares.
Por isso, vemos que a LDB foi um pouco restrita quanto a indicar formas
mais ampliadas de materialização da gestão democrática nos sistemas de
ensino e nas escolas. Contudo, ainda que restritas, oportunizaram que a gestão
da escola acolhesse formas de participação das comunidades escolar e local na
organização escolar.
Para uma maior consolidação da gestão democrática da educação, o
Plano Nacional da Educação 2014-2024, como política de Estado, aprovado pela
Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014, indica que os sistemas de ensino deverão
criar leis que a regulamentem. Infelizmente, foram poucos os estados e os
municípios que se organizaram para tal ação.
O regime de organização federativa apresenta alguns limites quanto às
desigualdades e assimetrias políticas, administrativas e financeiras entre os
entes federados, restringindo o alcance da efetivação do direito à educação e à
capilaridade das políticas educacionais estabelecidas pelo Estado, como a
criação de legislação específica para a regulamentação da gestão democrática
nos estados e municípios.
Municípios com menor porte administrativo e financeiro teriam pouca
chance de organizar uma legislação específica para a gestão democrática, que
demandaria recursos financeiros para estudo qualificado para profissionais da
educação, gestores, comunidade escolar e local, além da mobilização da
sociedade civil e instituições como sindicatos, demandando organização de
espaços adequados e recursos necessários para tal ação.
Assim, podemos concluir que autonomia política não significa
necessariamente autonomia técnica e financeira, ou seja, a descentralização de
poder acaba se configurando muitas vezes como transferência de
responsabilidades.
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TEMA 2 – PRIMEIROS CONTORNOS DA AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NO
CONTEXTO DA POLÍTICA INSTITUCIONAL
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PAR disponibilizou um sistema de informação no qual havia critérios a serem
avaliados nas diferentes dimensões do trabalho escolar que expressavam as
condições materiais, pedagógicas, políticas e financeiras das escolas.
A partir disso, os gestores deveriam elaborar um plano de ação com
proposições para superação da realidade que dispunham. Esse plano partia de
um sistema predefinido de ações, assim, ao mesmo tempo que havia a
possibilidade de um programa nacional para atender a questões/necessidades
locais, havia uma certa homogeneização destas que eram conflitivas com
aspectos culturais, sociais e políticos dos municípios e estados.
O PAR influenciou positivamente o planejamento educacional, pois os
sistemas de ensino e as escolas se viram induzidos a elaborar planos que os
levavam a definir prioridades e demandas a serem respondidas. Possibilitou e
ampliou também a participação institucionalizada de diversos atores nos
problemas e nas decisões locais, favorecendo maior transparência e
accountability no planejamento educacional.
Certamente, o programa foi indutor para o estabelecimento da avaliação
institucional nas escolas, pois os gestores se viram, mesmo que por força do
processo diagnóstico, obrigados a elaborar um quadro descritivo e analítico de
como a escola se encontrava e a propor resoluções para seus problemas,
mesmo que não tivessem tanta margem de ação, pois como explicitado, as
ações eram comuns entre os entes participantes.
Outro ponto a ser destacado é o de que mais vemos a ideia de qualidade
vinculada ao Ideb das redes de ensino, o que rendeu críticas a respeito por ser
estabelecido apenas um indicador de desempenho. Todavia, durante esse
período, não houve a criação ou a agregação de outro indicador ao Ideb que
pudesse ampliar a compreensão de qualidade para o programa em questão.
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também apontamentos em relação à avaliação da escola, compreendendo que
esta é um instrumento com potencial para a busca da qualidade educacional.
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Apresentando 20 metas que se desdobram em várias estratégias para
consecução, como política de âmbito nacional, o plano incide também sobre a
gestão democrática do ensino na meta 19.
Destacando algumas de suas estratégias principais, ratifica o princípio de
gestão democrática da educação já estabelecido na CF/1988 e na LDB
9394/1996. Incentiva espaços participativos como conferências municipais,
estaduais e nacionais para discussão e avaliação da educação com a presença
de diversos atores.
Aponta para o favorecimento nas escolas de espaços participativos como
os grêmios, associação de pais e mestres, assim como em conselhos. Sinaliza
também para o favorecimento da autonomia de processos pedagógicos,
administrativos e de gestão financeira da escola, além de trazer um elemento
novo, a responsabilização dos sistemas de ensino estaduais e municipais de
elaborarem leis que regulamentem a gestão democrática.
O PNE reconhece a importância da gestão democrática, além de
estabelecer a regulamentação em leis específicas para a gestão democrática
dos sistemas de ensino. Várias são as questões que limitaram o cumprimento
dessa meta, pois há muita diversidade sobre a própria compreensão do que seja
gestão democrática. Poucos municípios e estados trataram a gestão
democrática em leis próprias, o que demonstra falta de interesse e de
compreensão sobre a importância da matéria em questão.
Para a gestão democrática na escola, o PNE recomenda também a
seleção de diretores para função de direção escolar que agreguem critérios de
mérito e desempenho e de consulta pública à comunidade escolar. É importante
frisar que a participação da comunidade escolar e local na escolha do diretor é
dimensão fundamental da gestão democrática, pois parece não ser possível
pensar em democracia na escola se à própria comunidade não é oportunizada a
escolha de seu representante.
Isso decorre de uma tendência crescente que tem associado
positivamente direção escolar e resultados escolares. Em um estudo recente
realizado por Alves (2020), analisando o efeito das escolas no contexto
brasileiro, em relação aos níveis de aprendizado (Soares; Alves; Xavier, 2016),
procurou-se observar a capacidade das escolas em diminuir as chances de
exclusão ou de aumentar a situação de adequação dos níveis de aprendizado
com o controle de variáveis como origem social, trajetória escolar e de contexto.
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A autora constatou que ao aumentar os níveis de participação na organização
da escola, os estudantes tinham mais chances de um aprendizado adequado.
Na mesma perspectiva, tem sido reportado positivamente elementos
relacionados à gestão da escola, fatores como clima escolar e liderança do
diretor (Oliveira, 2015), sobre os resultados escolares (Oliveira; Waldhelm,
2016), e a forma de acesso por meio de eleições para a função de direção em
relação aos resultados escolares, especificamente os que se referem a
avaliações em larga escala (Oliveira; Carvalho, 2018) para o desempenho
educacional de escolas.
Percebe-se que mesmo não atuando diretamente sobre a aprendizagem
dos estudantes, o diretor opera na mobilização de meios que impactam
diretamente sobre os processos pedagógicos que se desenvolvem nesse
espaço e, consequentemente, sobre os resultados escolares, daí a importância
dessa função ser exercida com o reconhecimento da comunidade que o cerca
por meio da escolha direta.
Além da gestão democrática na meta 7, o PNE reconhece como formas
de fomentar a qualidade da educação básica, melhorando o fluxo escolar, a
aprendizagem e o alcance de metas do Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (Ideb).
Para tanto, aponta como uma das estratégias a construção de um
conjunto nacional de indicadores de avaliação institucional, considerando:
indicadores de avaliação institucional; perfil do alunado e dos profissionais da
educação; condições de infraestrutura das escolas e dos recursos pedagógicos
e características da gestão da escola.
A inserção de uma estratégia específica para a avaliação institucional no
PNE, como uma das formas de buscar a melhoria da qualidade da educação,
demonstra o reconhecimento desse processo como um importante instrumento
diagnóstico e propositivo do cotidiano escolar, demonstra também a indicação
da tendência que já se vinha apresentando, de estabelecer cada vez mais, no
plano legal, a avaliação da escola como condição para a qualidade da educação.
Além das dificuldades apontadas anteriormente para a efetivação de uma
política de Estado, é salutar esclarecer que a materialização de uma política não
ocorre de forma linear à sua proposição, pois as relações que se estabelecem
nos diferentes territórios brasileiros são diversas e complexas, principalmente na
área educacional.
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TEMA 4 – CONAE 2022 E O PNE 2024-2034
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gestão” e o “processo seletivo qualificado e escolha da gestão”. Essas políticas
se espalham de forma diversa devido à extensão do território brasileiro, mas
também de maneira previsível às condições administrativas e políticas de
municípios e estados.
A implicação de um sistema nacional de educação traria novas
adequações para essa dimensão da gestão escolar, no sentido de estabelecer
um formato mais padronizado de formas de acesso à função.
O desafio da elaboração e a implantação de um Sistema Nacional de
Educação se mostram reais quando observamos o cenário educacional, que
apresenta realidades desiguais, com diferenças significativas entre os níveis e
as modalidades de educação e sobre as questões que envolvem o acesso, a
permanência e as diferentes expressões de qualidade que se realizam nos
sistemas de ensino.
Da mesma forma, parece um desafio sobre como seria o papel da União
nesse formato, que exerceria função equalizadora e redistributiva, ao mesmo
tempo de coordenação e protagonismo sobre um único sistema.
Todavia, é importante mencionar que um sistema nacional de educação
não significa gestão centralizada, ao contrário, implicaria maior unidade nacional
na perspectiva de reduzir desigualdades educacionais, com autonomia
necessária para sua realização. Certamente, a discussão do sistema nacional
de educação é pauta antiga na agenda das políticas de educação e de difícil
operacionalização.
A educação nacional nas suas diversas dimensões será tema de
discussão nas Conae, no sentido de avaliar como ela vem ocorrendo e analisar
desafios e proposição de consensos para o novo PNE.
A equidade e a qualidade da educação são temas sempre presentes nas
Conae, importa aqui destacar que cada vez mais uma perspectiva democrática
vem se instalando em todas as dimensões da educação. O novo PNE tem
sinalizado por meio dessas conferências que a gestão democrática da escola
vem se traduzindo cada vez mais com a participação popular e controle social.
Isso decorre da compressão de que não é possível uma educação sem
que haja a participação daqueles que se interessam e usufruem desse direito.
Uma educação de qualidade é feita com financiamento adequado e com a
participação direta da sociedade civil e organizada e na escola, com a
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participação da comunidade. Como organizar essa participação parece ser o
desafio atual.
É comum e recorrente a compreensão de que a comunidade local,
representada por famílias dos estudantes, não se interessam pelas questões
escolares. Essa noção parece ser um equívoco na medida em que essa
afirmação advém da compreensão de que a educação tem uma dimensão
técnica da qual as famílias não têm conhecimento suficiente para “opinar” ou
participar.
Certamente, a educação tem uma dimensão que se refere ao
conhecimento científico e técnico próprio dos profissionais que nela atuam,
todavia, como abordamos anteriormente, a educação tem uma dimensão social
que se refere a um bem comum público. Essa dimensão social convida a todos
a participarem dela, no âmbito da sua atuação. Por isso, é fundamental estimular
a participação de todos, sejam estudantes, famílias e comunidade escolar a
pensar, refletir, discutir, avaliar a educação, buscando soluções em conjunto
para as questões que se colocam, a fim de um projeto em comum.
Por isso, as indicações normativas têm cada vez mais demarcado que a
participação é o caráter fundante da educação e a avaliação institucional tem se
mostrado e sido indicada como um dos instrumentos para a materialização da
gestão democrática na escola.
Assim como no PNE 2014-2024, a avaliação institucional deve estar
presente nas discussões das Conae 2022 e no novo PNE 2024-2034, como uma
das estratégias para se alcançar a qualidade da educação, por meio da
participação e do controle social, dimensões que têm se estabelecido cada vez
mais como condição para tal.
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A avaliação externa não traduz a avaliação institucional, contudo, a
avaliação institucional não pode desconsiderar os resultados da avaliação
externa.
O Saeb, além dos testes cognitivos, aplica questionários chamados de
contexto que permitem analisar questões referentes ao nível socioeconômico
dos estudantes, condições de trabalho e formação de professores, além de
questões que visam capturar as condições de gestão da escola.
Esses dados, somados aos dados divulgados pelos testes cognitivos,
fornecem informações riquíssimas acerca das condições da escola, uma vez que
os dados divulgados permitem a visualização por ente federado e por escola.
Essa condição oportuniza à escola o acesso a dados que provavelmente eles
não teriam meios, a técnica, nem recursos para fazê-lo.
Além disso, os resultados divulgam alguns exemplos de itens
representativos dos pontos das escalas de proficiência produzidas pelos testes
cognitivos. Esses itens são acompanhados das suas estatísticas e procuram
mostrar aos interessados a habilidade requerida do estudante para que ele o
acerte. Acompanha, também, a apresentação de comentários pedagógicos,
explicações da solução do item e análise das respostas erradas e correção dos
erros.
Esse conjunto de informações, se analisado em um recorte histórico, pode
fornecer questões importantes que se agregam à análise dos processos de
avaliação da escola, que não devem ser confundidos com a própria avaliação
institucional, uma vez que esta demanda a análise de dimensões que a avaliação
externa não se dedica a capturar, como características do processo de ensino
da escola; uso de tecnologias; condições para planejamento – tempo e espaço
adequado; formação continuada dos professores; condições de participação na
escola, inclusive de estudantes; recursos pedagógicos e materiais e financeiros
da instituição, entre outros que serão tratados com mais atenção nas próximas
etapas.
Essas questões precisam ser elencadas, discutidas, avaliadas e
propostas de forma conjunta com todos os participantes e em diálogo com as
Secretarias de Educação, sem que sejam desconsiderados dados relevantes
das avaliações externas. Esse é um processo de amadurecimento institucional
e democrático da própria escola, que só se realiza com as condições adequadas
para isso.
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Por isso, a avaliação institucional só consegue ser organizada de acordo
com princípios democráticos apontados nas legislações que abordamos aqui,
fundamentada na participação que considera todos e todas, que forneça meios
de organização e autonomia quanto ao próprio instrumento.
Não é incomum que diversas redes de ensino forneçam instrumentos
estandardizados, com questões prontas e possibilidades de respostas também
prontas. Como falar de uma avaliação da escola, ou autoavaliação se o
instrumento para tal é imposto para uso, sem que os sujeitos da escola
participem de sua elaboração? Como visualizar as demandas e as necessidades
da escola nesse instrumento? Como avaliar, discutir e propor questões que
permeiam o trabalho da escola quando o próprio instrumento não fornece
autonomia suficiente para essa análise, pois foge a realidade da escola?
A avaliação institucional é um instrumento democrático, pois ela
pressupõe um mecanismo de controle sobre o que o poder público deve ofertar.
Se o poder público ou as redes de ensino não fornecem a autonomia devida para
esse processo, os resultados produzidos acabam por encobrir as reais
necessidades da escola.
Como abordamos anteriormente, a avaliação é um instrumento de poder,
pois representa o poder que alguém tem de decidir o que deve ser avaliado, o
que deve vir à tona. No caso da avaliação institucional, quem deve decidir sobre
a elaboração do instrumento? Parece razoável concluir que a escola deve estar
presente e ser participante na elaboração do instrumento, assim como a ela ser
atribuídas possibilidades e formas de autonomia durante todo esse processo.
Isso não impede e, ao contrário, sinaliza sobre a importância do papel das
Secretarias de Educação em fornecer suporte técnico e apoio suficiente para a
realização desse processo, ofertando oportunidades para que esse movimento
possa de fato se efetivar. Por isso, frisamos que a democracia é condição
fundante da avaliação institucional.
Por fim, não percamos de vista que a avaliação institucional só se realiza
na escola por um único propósito: a aprendizagem e o sucesso escolar do
estudante.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União. Brasília, DF, 5 out. 1988.
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