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Pesquisas para

a História do Piauí.
Odilon Nunes.
Cap. 03 - Colonização e ausência de governo.
Cap. 04 – Primeiros governos.
Cap. 05 – Oligarquia indígena contra delegados de El rei.
• Colonização e ausência de governo.
• Vai estudar o período entre 1700 — 1759, período ainda marcado pela luta pelo domínio da terra. As lutas com indígenas continuavam, mas agora
como consequência das disputas no Maranhão.

• No Piauí, a luta pela terra progressivamente ia assumindo uma feição de disputa de terras entre posseiros e sesmeiros.

• Os conflitos de alguma forma eram potencializados, pela indefinição de quem teria autoridade institucional, sobreas terras além ibiapaba — Esses
territórios eram ligados espiritualmente a Pernambuco, judicialmente à Bahia e Administrativamente ao Maranhão.

• O que algumas pessoas como o Padre Miguel Carvalho, passaram a solicitar junto à Coroa, era a vinculação da Freguesia de Nossa Senhora da Vitória,
totalmente ao Maranhão.

• Duas questões movimentavam a Coroa e os colonos instalados no Piauí para reivindicarem a referida mudança.

• 1- A Coroa veria finalmente viabilizado o seu interesse de abrir um caminho, por terra entre o Maranhão e a Bahia(promessa dos colonos que
fariam isso)

• 2- Os colonos, muitos deles posseiros, se veriam livres da força dos sesmeiros baianos, à medida que esses se empoderavam com a dependência
do Piauí à Bahia e Pernambuco. Os sesmeiros baianos e pernambucanos, homens ricos, morando em Salvador ou Olinda, conseguiam com muita
facilidade doações de imensas sesmarias no Piauí.

• Os posseiros, homens com menores cabedais, tinham mais contato com o Maranhão, em decorrência da proximidade com São Luíz, e viam, no
estreitamento dos vínculos com essa capitania, a possibilidade de conseguirem a legalização da propriedade das terras que ocupavam.

• Algumas partes do sudeste do Piauí vão ser alvo dos interesses baianos e pernambucanos, que continuarão a cobrar ice dízimos dos moradores/fiéis, da
região (as áreas próximas a Pernambuco e Buba sofrem influência dessas áreas).
• Um ultimo ponto, dito por Odilon, que esclarece uma questão só percebida na longa duração: os interesses e influências do Ceará, na parte
norte, litorânea do Piauí. (O Ceará reivindica que os dízimos da parte norte do Piauí sejam cobrados pela freguesia de São José de Ribamar
daquela capitania.

• A justificativa seria que essa parte do Piauí, havia sido conquistada aos gentios e teve a sua ocupação iniciada por potentados cearenses, que
usando de seus recursos materiais e humanos haviam conquistado a região aos indígenas.

• A Coroa dá passos significativos no sentido de criar o Piauí como uma capitânia, ainda que subordinada ao Maranhão. O que aumentará os
vínculos da história, e os interesses políticos, sociais, econômicos e familiares das duas partes banhadas pelo Rio Parnaíba.

• No começo do século XVIII, O Ouvidor do Maranhão, decreta que todas as terras do território do Piauí, doadas em sesmarias pelos
Governadores de Pernambuco e da Bahia, haviam se tornado terras devolutas. ( Procurando impor seu domínio sobre o Piauí e beneficiar seus
aliados)

• Em 1717, depois da apelação feita pelo Vice Rei do Brasil, sediado em Salvador, a Coroa determinou, em Alvará de 1715, que as terras do Piauí
passassem a jurisdição exclusiva do Maranhão, mas que as sesmarias já concedidas pelos Governos da Bahia e de Pernambuco, seriam
respeitadas.

• A Coroa ainda determinou, que os Gárcia D'vila ( Casa da Torre — Bahia) respeitasse a posse efetiva das terras, que alguns posseiros tinham
no Piauí. Que ele não poderia cobrar rendas, usar da força militar contra esses posseiros.

• As terras que ele tivesse a propriedade, e que estivessem efetivamente ocupadas pelos seus prepostos, eram dele, as outras, que estivessem
no poder de posseiros deveria considerar como perdidas.

• A Coroa procurava atuar na região, mediando o conflito entre posseiros e sesmeiros.

• Outras atitudes da Coroa foram: Mandou instalar a Vila da Mocha, na Freguesia de Nossa Senhora da Vitória, e criou a Capitania do Piauí
(1715 + ou -). A Capitania só será efetivamente instalada em 1759.
• Nas primeiras décadas do século XVIII o foco principal dos conflitos entre indígenas e colonizadores, passou para a outra margem do Rio
Parnaíba. O interesse dos colonizadores era derrotar os indígenas para: abrir novos caminhos entre o Piauí e o Maranhão, conquistar novas
terras para a expansão da pecuária.

• Muitos pecuaristas do Piauí passaram a ocupar também terras no Maranhão e nelas instalar fazendas de gado, expandindo seus domínios.
“Muitos levavam 200, 300 vacas e instalavam fazendas”.

• As terras recém-conquistadas pelas populações coloniais passaram a ser povoadas também por colonos vindos de São Luís, que ocupavam as
áreas próximas aos rios da região com engenhos de açúcar e com plantações de algodão.

• Segundo Odilon Nunes, era notória a diferença das áreas coloniais ocupadas por pecuaristas e agricultores: “As fazendas de criação
estabelecidas eram povoadas de três, dois moradores, às vezes apenas um, enquanto os engenhos eram movidos por centenas de
trabalhadores”.P121.

• O engenho além de moradores, exigia capital e também mercado imediato para comercialização da produção, e tinha mercado consumidor
certo na Europa.

• Os currais exigiam poucos capitais, pouca mão-de-obra, e se faltasse mercado consumidor, usavam as reses para abrir outros núcleos de
criatório.

• Onde se instalam os engenhos, surgia o comércio, e também uma agricultura de cereais necessários para alimentar o contingente
populacional que era significativo.

• Os engenhos e a produção de algodão, atraiam também a atenção do fisco, para cobrar os impostos e assim a máquina estatal logo se
instalava na região.
• O curral teria seu mercado no litoral distante, só nas áreas onde se desenvolve o beneficiamento da carne e do
couro (charqueadas) é que ocorre algum desenvolvimento da população e das atividades comerciais. O que no
Piauí só ocorre em Parnaíba.

• “Como consequência dessa formação histórica, o comércio do Piauí não prolifera, avida urbana continua
diminuta. “No período colonial, como consequência dessas circunstâncias, jamais o Piauí teve comércio, a não
ser o itinerante, próprio do mascate, feito em costas de cavalos ou de éguas, ou o comércio do boiadeiro, que
levava o gado para vender no litoral e de lá trazia, na volta alguns bens importados: escravos e pequenas
utilidades que vai comercializar.” 122.

• Em síntese, as áreas onde havia agricultura de exportação, havia também crescimento populacional, acúmulo de
capital, maior agregação de valor à produção e comércio —uma cadeia produtiva, com maiores possibilidades se
instalava, o que aconteceu no Maranhão na região de São Luís e no norte do Maranhão até Caxias.

• As áreas conquistadas onde se instalavam fazendas de gado, onde as exigências de capital e de mão-de-obra,
eram baixíssimas, não havia grande agregação de valor à produção, não havia crescimento demográfico
significativo e o comércio não prosperava.

• Até o final do século XIX o comércio do Piauí vai ser fortemente dependente das praças comerciais do Maranhão,
o que fazia com que mais capital migrasse do Piauí para o Maranhão.
• Capítulo 04 — Primeiros governos.
• O primeiro governador do Piauí, chega à capitania em 1759 e governa o Piauí, por dez anos.

• As três principais missões dadas a Pereira Caldas foram:

• 1- prender os Jesuítas que atuavam no Piauí, fazer o sequestro dos bens dos referidos religiosos no Piauí, e restituir aos índios a liberdade de suas
pessoas, retirando toda e qualquer tutela dos Jesuítas sobre eles. Como consequência da primeira missão, o Governador deveria ainda converter as
aldeias administradas pelos padres Jesuítas em administrações civis.

• 2- Criar e instalar uma estrutura administrativa na Capitania do Piauí — instalar o governo, criar uma companhia militar, o fisco real...

• No que se refere à criação desses grupamentos militares, o Governador aponta que teve grande dificuldade de montar esse corpo militar com homens
de origem social elevada como era definido. Diante da realidade demográfica do Piauí colonial, a saída foi diminuir as exigências de cor da pele e de
recursos para conseguir formar o corpo militar almejado.

• 3- Elevar as 08 freguesias existentes na Capitania à condição de Vilas.

• Na avaliação de Pereira Caldas, apenas Parnágua e Campo Maior, teriam condições de ser elevadas à condição de vilas ( tinham estrutura e população
adequada).

• Depois foram elevadas à condição de Vilas: Parnaíba ( na altura do Porto das Barcas, onde existiam charqueadas e se fazia mesmo o comércio com
outras capitanias por meio da navegação de cabotagem).

• Depois o Governador segue para Marvão, Valença, dias depois, eleva Oeiras à condição de cidade,

• Quando comparamos o número de fogos e de população total da cidade de Oeiras e das vilas criadas, podemos perceber o quão diminuto era a
população e o quanto à mesma era espalhada pelo vasto território da capitania.
• Oeiras - tinha 270 fogos na sede e 324 fogos no interior — tinha 1100 habitantes livres e escravos na sede e 2.500 habitantes
no interior.

• Valença — tinha 39 fogos na sede e 266 fogos no interior — tinha 154 habitantes na sede e 1300 habitantes no interior.

• Marvão —tinha 19 fogos na sede e 176 fogos no interior — tinha 65 habitantes na sede e 1000 habitantes no interior.

• Campo Maior — 31 fogos na sede e 276 fogos no interior — tinha 162 habitantes na sede e 1705 habitantes no interior.

• Parnaíba — 4 fogos na sede e 330 no interior — tinha — 19 habitantes na sede e 2349 habitantes no interior.

• Jerumenha — 16 fogos na sede e 77 no interior — tinha 99 habitantes na sede e 598 habitantes no interior.

• Parnaguá — 34 fogos na sede e 130 no interior — tinha 97 habitantes na sede e 805 habitantes no interior.

• Nos habitantes da sede e do interior estão incluídos livres e escravos.

• Total da população — 11.993 habitantes.

• Na população total estão incluídos — 7349 habitantes livres e 4.644 habitantes escravizados.

• O número de fogos urbanos é de 413 fogos nas sedes — e 1579 fogos no interior.
• O Governo de João Pereira Caldas será marcado pelas guerras desenvolvidas contra indígenas no sul do Piauí e em terras do
Maranhão, no sul do Maranhão.

• Os indígenas a serem combatidos não causavam transtornos significativos nas fazendas instaladas no Piauí, tanto assim que a Coroa
demorou a autorizar o conflito.

• Pereira Caldas agia e solicitava a autorização para o conflito no sentido de atender demandas do Maranhão. A constatação de que a
maior parte dos prisioneiros foi levada para as áreas de agricultura do Maranhão, ajudam a entender as razões dos conflitos.

• Outro aspecto tratado por Odilon no texto, diz respeito ao crescimento populacional e econômico de Belém, no Pará, e o impacto
que isso terá no Piauí.

• Esses acréscimos em Belém, demandam maior quantidade de carne para o consumo da população. E o Piauí, particularmente por
meio de Parnaíba passa a atender essa demanda.

• O comércio do gado bovino do Piauí seguia as seguintes rotas e atendia mercados diversos:

• O Gado criado em Parnágua — seguia para Minas Gerais e depois para a Bahia.

• O Gado das ribeiras do Rio canindé, e as fazenda que haviam sido criadas por Mafrense se direcionavam para a Bahia ( viagem de 30 a
40 dias, e as perdas chegavam até a 50% do gado transportado.

• O Gado das ribeiras do Rio Longa, de Piracuruca e mesmo parte da produção de Valença se direcionava para Parnaíba.

• O Gado de Marvão se encaminhava para o Ceará, para os portos de Camocim e Aracati.


• O referido atendimento do mercado paraense.

• Começam a viabilizar um caminho por terra entre o Piauí e Belém, mas como ele se mostra
inviável, a saída foi fazer o comércio por Parnaíba.

• Um pecuarista que também era negociante e industrial — João Paulo Diniz, instalado em
Parnaíba, começa a comercializar gado para o Pará.

• João Paulo Diniz comercializava carne seca para o Pará, e segundo alguns documentos ele
vendia mesmo para a Bahia e para o Rio de Janeiro, por via Marítima( navegação de
cabotagem).

• Ele também começa a integrar a vila de Parnaíba com o comércio do Piauí, via Rio Parnaíba.

• Essa atividade de beneficiamento de carne e de comércio via navegação de cabotagem será


continuada por Domingos Dias da Silva e seus herdeiros em Parnaíba, atividade que iniciada
em 1770, prossegue pelo século XIX.
• Oligarquia indígena contra delegados de El Rei.
• Depois dos dois governadores que se sucederam ( João Pereira Caldas e Botelho de Castro que governaram entre 1759 a 1770 e entre 1771 a 1774
respectivamente)

• Por 24 anos a Coroa Portuguesa teve a preocupação de nomear um Governador próprio para o Piauí.

• No período anterior o esforço da Coroa foi o de tomar conta da região:

• 1 - criar uma estrutura de governo/administração;

• 2 - afastar os jesuítas, tomar conta do patrimônio da Companhia de Jesus;

• 3 - trazer alguns potentados para participar das estruturas administrativas coloniais;

• 4 - criar uma rede urbana onde a presença do poder público, os princípios de civilidade se fizessem presentes;

• 5 - pacificar a região com o avanço da conquista territorial aos indígenas, e ainda com a definição das jurisdições sobre a doação de sesmarias no Piauí,
objetivando pacificar as disputas entre posseiros e sesmeiros;

• 6 - a instalação de uma rede de comunicação ligando os diferentes pontos da Capitania com a capital Oeiras(Correios).

• O fim desse primeiro período mais ou menos que coincide com o período do Governo de Pombal (1750 a 1777).

• Entre 1775 e 1797, 22 anos o Piauí ficou Governado por juntas administrativas formadas: Pelo ouvidor da comarca da Capitania, pelo membro mais velho da
Câmara de Oeiras e pelo militar de mais alta patente presente no Piauí.

• o cargo, de ouvidor de capitania foi criado no início do processo de colonização portuguesa com a finalidade de administrar a Justiça em conjunto com o Capitão e
Governador.
• A junta de governo pela própria natureza era muito instável, seus membros eram substituídos com frequência.

• A administração pública ficou estagnada à manutenção da rotina burocrática.

• No entanto nos primeiros anos da Primeira junta de Governo, possivelmente por influência do Ouvidor Durão — tomam-se medidas
importantes para a Capitania.

• Uma boa governança requer conhecimento da realidade que se vai administrar — conhecer suas potencialidades e fragilidades.
Conhecer o número de moradores, sua qualidade (quem são? Quantos são? Onde estão? Qual a formação que possuem? E as
atividades econômicas? Como estão? Como podem melhorar?)

• 1 - Nos primeiros dias de Governo a junta oficia aos inspetores das fazendas do fisco que façam um recenseamento geral de todas as
propriedades existentes.

• 2 - Autoriza a plantação de algodão e outras culturas agrícolas e incentivo aos fazendeiros a pensarem na produção de gêneros
agrícolas que pudessem ser produzidas e exportadas, gerando divisas e inserindo o Piauí no comércio colonial;

• 3 - pede que sejam selecionados escravos para que aprendessem ofícios de carteiro, de seleiro e ferreiro.

• O que podemos chamar de economia política no Piauí colonial, nesse período, começa e termina com essa proposta de Durão.

• A Economia Política se constituiu entre os séculos XVIII e XIX tem como objeto de estudo todo o processo econômico ou, em outros
termos, o processo de geração de riqueza. Esse processo implica à produção, a distribuição e o consumo de bens materiais que
atendem as diversas demandas do ser humano. Esse estudo, para a Economia Política, não se dissociava do estudo das formas de
organização social e política, e por isso mesmo interessava diretamente aos estadistas e governantes.
• Somente em 1795, 20 anos depois, o Governo voltará a falar na
produção de gêneros agrícolas que pudessem ser comercializados pela
Capitânia.

• Poucos anos depois de instalada a primeira junta governativa, Durão é


preso e remetido sob guarda para São Luís.

• Durão muito provavelmente foi vítimas das urdiduras dos potentados


locais, que tudo faziam para afastar autoridades reinóis indesejáveis, ou
que não servissem absolutamente a seus propósitos.

• Nesse período cresce o prestígio e o poder de João do Rego Castelo


Branco e se intensifica os embates com os indígenas no sul do Piauí: os
guegues, os Pimenteiras e os Acaroa.

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