• A capitania de São José do Piauí. • Depois de um período de indefinição administrativa e do status da região que forma o Piauí, dentro do mundo colonial português, no século XVIII, o Piauí se forma enquanto uma capitania. • Em 1718 a capitania é criada e em 1759 se instala o governo próprio. • Nesse período se dá: a divisão de comarcas, a elevação de povoações a vilas e cidades, e a efetiva instalação da máquina administrativa lusitana no Piauí. • A inserção do Piauí no contexto colonial brasileiro se deu por meio da atividade pecuária, por tanto, de forma subsidiária, mas reproduzindo traços marcantes da estrutura colonial: o trabalho escarvo, o movimento migratório de populações coloniais e os mecanismos de poder da coroa, e o mando senhorial. • Havia uma união de esforços entre os colonizadores e a Coroa, os primeiros investiam na conquista territorial, enquanto a Coroa, daria a segurança jurídica da conquista, com a concessão de sesmarias, e com a criação e instalação do aparato militar ( concedendo patentes militares aos conquistadores e legitimando ainda mais o seu poder local). • Aspectos da economia colonial piauiense. • Tanya afirma que a colonização dessas áreas do sertão se deu com a demanda de abrir espaço para a expansão da produção açucareira, o que empurrou as atividades econômicas subsidiárias como a pecuária e a agricultura de subsistência para outras áreas coloniais. • Era também uma forma de abrir espaço para populações coloniais que não tinham espaço na região litorânea. • A pecuária exigia pouco capital para a instalação e manutenção de uma unidade de produção ( uma fazenda) e isso era fator que viabilizava a atividade. • A atividade era de caráter extensivo, uma feição quase extrativista. • A interferência do trabalho humano no cuidado e na reprodução do rebanho era pequena. • Os pastos naturais, a presença dos rios e aguadas ( condições naturais) fez com que, mesmo com alguns períodos de estiagem a atividade crescesse constantemente por todo o período colonial. • Os pesquisadores interessados na Pecuária encontram dificuldade para quantificar o rebanho piauiense no período colonial, pois as atividades privadas, maior parte, não contam com registros contábeis significativos. • As fazendas do fisco, começando em 1760, contabilizam a comercialização de aproximadamente 2.000 cabeças de gado por ano. • As fazendas privadas alguns relatos afirmam que uma “fazenda florescente” reproduzia por ano, mais ou menos de 800 a 1000 crias, e que desse montante se pode extrair para a venda uma boiada de 250 a 300 bois. • Uma parte seria paga aos vaqueiros, os dízimos e impostos, o consumo da fazenda, os animais que ficavam para a reprodução do rebanho, as perdas. • Outro ponto importante que mostra como não havia uma uniformidade na produção e no perfil das fazendas era a qualidade dos campos naturais – (nas fazendas de pasto agreste, 300 vacas reproduzem 130 bezerros, e nas fazendas que contavam com o pasto mimoso, mais suculento e nutritivo, 300 vacas reproduziam até 250 bezerros anualmente. • Diante desses dados e da falta de documentação ficam algumas perguntas: quantas fazendas tinham na região do agreste? Quantas fazendas existiam na região de pasto mimoso? Sem esse dado é difícil quantificar o rebanho total e a sua possível reprodução. • As fazendas do fisco expressam alguns números interessantes como: em 1739 contavam com 3.000 cabeças de gado, em 1757 contava com 32.000, e em 1782 contavam com 50.000 cabeças de gado. No começo do século esse número cai para 45.000. • A parte desse gado, que é comercializada, quase na sua totalidade é vendido em pé, em feiras de gado fora do Piauí. • Em 1770, começou uma segunda forma de comercialização do gado piauiense, quando o João Paulo Diniz, passou a fazer o beneficiamento da boiada, em forma de carne seca. Passando a levar a produção até o litoral e daí exportando a produção para o Pará, Maranhão, Bahia e Rio de Janeiro. • No início dos anos 1800 Odilon Nunes afirma que eram beneficiados, por ano, uma média de 30 a 40 mil bois, e que ainda exportavam uma média de 40.000 couros de boi em cabelo e 4 mil meios de sola. • Segundo Odilon esse volume seria, aproximadamente, 25% da comercialização de gado do Piauí por ano, ou seja a produção total seria em torno de 160.000 cabeças de gado por ano. • A economia pecuária no Piauí perdeu potência no início do século XIX em decorrência da diminuição da pujança da economia exportadora, mas também pela concorrência de outras áreas produtivas. • A Agricultura no Piauí era apenas uma atividade de subsistência. Basicamente plantávamos: milho, arroz, feijão, mandioca, cana e fumo. Uma cultura agrícola que teve alguma expressão comercial no Piauí foi o algodão, no princípio utilizado para a fabricação de tecidos grosseiros. • Depois passou a ser comercializado. • As propriedades e áreas produtivas no Piauí se dividiam em fazendas, de criatório de gado e em sítios • As fazendas – • Segundo Tanya quando os documentos do século XVII fala de currais, fala de gado criado no sertão, • Quando fala de fazendas, dá a entender que o dono do gado já tem a propriedade da terra, a terra já foi doada ao sesmeiro. • O primeiro passo para a implantação de uma fazenda era a escolha do lugar – A preferência caia sobre lugares onde contassem com água abundante – nas proximidades de Rios ou lagoas. • Elas eram complexos econômicos que englobavam: terras, gado, escravaria, a casa de morada, cercados, currais, aguadas, roças, casas de farinha, carpintaria, senzalas, e mesmo sítios. • A infraestrutura de uma fazenda: a casa de morada do proprietário ou do encarregado, currais em pedra ou madeira, • As melhor estruturadas contavam com um curral de apartar – que recebia todo o gado. • O curral de benefício onde os garotes seriam ferrados e para fazer as partilhas com os vaqueiros. • Os currais onde se fazia a ordenha • O retiro eram áreas onde se fazia a separação dos bezerros das mães. • O trabalho nas fazendas de criar seguia o ciclo das chuvas na região. • Assim de Janeiro a maio realizavam-se as vaquejadas, ferras, apartes e as partilhas. • Essa época do ano era também o período de instalação de novas unidades pecuaristas, da comercialização do gado, época de abundância de pasto. • Terminada a época das chuvas, e quando já começava em agosto o período seco, o gado era solto, e se fazia apenas o manejo dos rebanhos. • Quando em dezembro começava o período chuvoso novamente, um novo ciclo se iniciava, com o ajuntamento do gado disperso e a avaliação das perdas com a estiagem, • O calendário agrícola das fazendas se adaptava ao calendário da pecuária. Nos meses de julho a dezembro quando os trabalhos com o gado diminuíam, passavam a cuidar da escolha das áreas para plantio, das queimadas, a preparação das coivaras para que a terra estivesse pronta para o plantio no final do ano. • Nos meses de maio e junho passavam à colheita da produção agrícola. • Os sítios, no geral eram pequenas propriedades, voltadas ao plantio de frutas e de agricultura de gêneros alimentícios. • produzia para a subsistência da família, e com a possível venda de algum excedente. • Outra característica dos sítios era que serviam de apoio às grandes fazendas, ficavam próximos, agregava populações que serviam de suporte e mesmo segurança para as fazendas. • Com uma economia radicalmente voltada ao criatório do gado e com a prática de uma agricultura subsidiária que tinha o sentido de criar uma autosificiencia alimentar nas propriedades, o comércio se viu desestimulado e a vida urbana não se desenvolvia. • O trabalho escravo na fazenda. O trabalho de lida com o gado era em grande parte realizado por trabalhadores escravos. • Mesmo com um contingente significativo de homens livres na região. • no Piauí seguiu-se o padrão da escravidão, e da escravização de africanos, que eram adquiridos nas feiras de gado • Os vaqueiros. Era o administrador da fazenda, os proprietários absenteístas, que não moravam no Piauí, contavam com seus vaqueiros para administrar a fazenda e a criação. • Muitos proprietários contavam com mais de uma fazenda, com 3 ou 4 fazendas, nesses casos, mesmo morando em uma delas, precisava contar com a figura do vaqueiro para administrar suas fazendas. • O proprietário fornecia: a terra, o gado, as ferramentas de trabalho, as instalações físicas, e mesmo os escravos. • O vaqueiro entrava com o trabalho. • O pagamento do vaqueiro era feito com a quarta parte dos bezerros, e se processava depois do quinto ano de trabalho. • O vaqueiro, na prática era um sócio do senhor, e se via obrigado a continuar na fazenda pelo menos por 5 anos. • O Piauí mesmo com uma economia peculiar, pois não voltada ao atendimento do mercado exportador, refletia as características da economia colonial do Brasil: alta concentração da propriedade na mão de poucos, e a produção baseada no trabalho escravo. • Populações e povoações. • As populações coloniais que vão ocupar o Piauí são originárias de áreas coloniais antigas, eles são: proprietários que passam a ocupar terras no Piauí, como forma de ampliar seus domínios; pessoas livres que procuravam com a migração adquirir terras e alçar à condição de proprietário e senhor; e ainda homens foragidos da justiça, aventureiros, os fugidos da escravidão, que vão tentar a sorte no sertão. • Fases da ocupação colonial no Piauí – • 1- Entre 1600 e 1660 – inicia-se com os primeiros desbravadores e termina com a implantação dos primeiros currais na região. • 2- Entre 1660 e 1760 ( período da instalação do governo da capitania), compreende o período da divisão das terras pelo regime sesmarial, a intensificação das disputas e conquistas de terras ocupadas por indígenas, a instalação definitiva da pecuária na região. • Ao final, a região está absolutamente integrada à economia e a sociedade colonial brasileira. • Nesse período tomou forma também o corpo social da capitania com todas as suas características – definidas pelas formas de contato entre ameríndios e colonizadores, pela atividade pecuária, e pela forma que assumiu a propriedade da terra na região. • No decorrer desse período se deram os confrontos entre os dois subgrupos de colonizadores: os posseiros e os sesmeiros. • 3 – O terceiro período se estende entre 1760 e 1820 – Nesse período ocorre a definição do perfil populacional/demográfico do Piauí, e o perfil da sociedade colonial, e das elites locais. • População do Piauí entre 1697 e 1762 – saiu de 438 habitantes para 12.764. • Entre 1762 e 1822 – 12.744 habitantes para 100.000. • Até 1700 (+ ou -) Na população colonial do Piauí predominavam os habitantes do sexo masculino, adultos e solteiros. • Outro traço era que a população se dispersava pelas áreas de produção pastoril – em média 3,5 habitantes por unidade. • No mundo colonial entre os homens livres, as condições sociais levaram ao surgimento de 3 perfis sociais: • 1- Os homens proprietários/instalados na região, que eram proprietários, e somavam a isso a ocupação de funções militares e administrativas, o que acrescentava ao seu prestígio e poder pessoal; • 2- Os vaqueiros, administradores das propriedades de senhores absenteístas; • 3- Os homens livres, que não contavam com doações sesmariais, que ocupavam terras arrendadas a um grande proprietário, ou terras devolutas e nelas desenvolviam atividades de plantio e criação de gado, de forma autônoma. • Um número de escravos sempre se fez presente de forma significativa nas fazendas de criar: • Por volta de 1697 haviam – 1,9 pessoas livres e 2,17 pessoas escravas em cada unidade produtiva do Piaui. • Em 1762 esses números haviam crescido para: 11,7 pessoas livres e 7,4 pessoas escravizadas por unidade produtiva. • Em 1762 a população do Piauí estava dividida em: 8100 livres e 4644 escravizados. • Em meados do século XVIII – O número de mulheres engajadas no mundo colonial aumenta e o crescimento da população colonial vai progressivamente aumentando. • As razões para isso são: a região está conquistada, os indígenas não são ameaça significativa para os núcleos coloniais e, isso, faz a região mais atrativa para migrantes de outras capitanias. • A evolução da composição étnica da população piauiense no período colonial. • Tanya afirma que a presença indígena na população colonial era pequena, ou seja, os indígenas eram mortos nos conflitos ou comercializados como escravos para outras regiões. • Uma parte se engajava nas fazendas, principalmente as mulheres. • A partir de 1797 não mais se registraram indígenas nas populações coloniais do Piauí. • Essa diminuição dos contingentes indígenas nas populações coloniais podem ser entendidos como: um apagamento de memória ... Pode ser. • Outro aspecto é que a falta de mulheres brancas na região, incrementou o surgimento de uma população mestiça. Os indígenas não se faziam presentes na população colonial enquanto indivíduos que se identificavam como tal, no entanto o estoque genético indígena na população era muito presente, em decorrência da miscigenação. ( ver tabela da página 68). • Com relação aos negros Tanya afirma que o número de negros escravizados no Piauí sofre um declínio, percentual, no decorrer do século XVIII em decorrência do aumento de outros contingentes populacionais como os mestiços. • Outro aspecto interessante é que entre os homens livres, o percentual de negros era maior que o de brancos. • A redução percentual de pessoas brancas, pode ser explicada pelo fato de que elas se sentiam mais atraídas para ficarem em regiões mais prósperas e onde as possibilidades de ganho e de posicionamento nos altos estratos sociais era maior. • Os brancos só migravam para o sertão quando contavam com vantagens: no início da colonização a doação de sesmarias, com a instalação de grandes propriedades pastoris. • Migrar para o sertão significava habitar uma região periférica, longe dos centros urbanos maiores, e longe das autoridades reinóis. Essas coisas desestimulavam que maiores contingentes de populações brancas adentrassem e escolhessem habitar o sertão. • Os brancos que migram para o Piauí na sua maioria estão à procura de terras para implantar atividades produtivas em terras ainda disponíveis, ou são homens pobres a procura de se instalarem como vaqueiros/administradores de fazendas, ou em busca de se aproveitar da cor da pele para alcançar um casamento vantajoso. • Esse contingente de população branca, particularmente na parcela proprietária, usou de estratégias de enlaces familiares vantajosos para manter e mesmo ampliar os patrimônios e o prestígio social. • Como afirmamos em outro momento, o contingente populacional que mais cresce e se torna predominante no Piauí é o contingente de mestiços, de diversas matizes, os mestiços saltam de 1,8% em 1697, para 45% em 1797. • Em 1762, a população mestiça já era majoritária no percentual de pessoas livres no Piauí (57% das pessoas livres eram mestiças). • Um traço interessante e fruto desse alto índice de mestiçagem é a presença, dentro de um mesmo grupo familiar de perfis fenótipos diferentes, um irmão mais claro que o outro, uns moremos e outro com os olhos claros, pele mais clara. • Os mestiços vão assim ocupando espaços por todas as camadas sociais no Piauí, passando desde os que eram descendentes de homens proprietários ricos e assim eram incorporados às camadas sociais privilegiadas, aos que se engajavam em atividades menores e, ainda, os que frutos do ventre de mulheres reduzidas à condição escrava, seguiam a condição da mãe. • Essa população diversificada e majoritariamente mestiça, se distribuía pelos sítios, fazendas, arraiais e aldeamentos. Com a implantação da Capitania a Vila da Mocha foi elevada à categoria de cidade e alguns núcleos de povoamento foram elevados À condição de vilas. • No entanto o perfil de distribuição da população não sofreu mudanças significativas – o Piauí continuou a ter um povoamento disperso, sem núcleos de povoamento que tivessem verdadeiramente perfil de cidade. • Oeiras só veio a montar um perfil urbano, e ainda de forma elementar, nas primeiras décadas do século XIX. • Em 1819, a cidade passou a contar com 31 estabelecimentos comerciais de fazendas, ferragens e molhados, com 14 sapateiros, 7 alfaiates, 7 carapinas, 4 ourives, 3 ferreiros, 3 mestres pedreiros, 2 marceneiros, 1 livreiro, e nas oficinas ainda haviam 53 aprendizes. • Os outros 6 núcleos urbanos (vilas) criadas no período colonial continuavam absolutamente precários, só tendo alguma movimentação , em períodos definidos, mas serviam como ponto de administração e exercício do poder institucional, particularmente nas câmaras municipais. • Tanya afirma que, a dificuldade de convencer os moradores, habitantes, particularmente os mais abastados, a saírem das fazendas e migrarem para as cidades, devia-se à forma e à relação que os proprietários haviam criado com a atividade criatória. A administração e o cuidado com o gado passavam diretamente por eles. • Outro aspecto é que na fazenda, eles eram os senhores, a potência, a quem todos deviam servir e obedecer. Nas cidades, por mais que estivessem em posição privilegiada, teriam que dividir esse status de superioridade com seus iguais, e eventualmente deparar-se com pessoas de status superior. • Assim as cidades e vilas no Piauí não se transformaram em centros catalizadores do comércio e das atividades urbanas na Capitania. • Mesmo as funções administrativas, pois deveriam ser a ponta extrema da presença da Administração colonial na Capitania, acontecia de forma adequada. • Tanya afirma que a institucionalidade criada pela Coroa portuguesa na Capitania, era utilizada de forma peculiar. • As estruturas administrativas criadas em Oeiras e nas demais vilas, foi absorvida pelos poderes locais, que passaram a usar essa institucionalidade, em benefício dos interesses locais. • Mesmo em Oeiras onde algumas autoridades reinóis procuravam defender os interesses administrativos da metrópole, esses funcionários lusitanos não obtinham muito sucesso, e alguns foram mesmo aprisionados e enviados para São Luís, como aconteceu com o Ouvidor Durão. • Relações de poder na Capitania do Piauí. • Até o final do século XVII a forma como os conquistadores do sertão atuavam, quase que de forma autônoma, não incomodava a Coroa Portuguesa. • No final do século XVII e início do século XVIII, a arrogância e autonomia dos potentados do sertão começou a incomodar a Coroa. (O exemplo da criação e instalação da Freguesia da Mocha, é ilustrativo desses conflitos de interesse). • O poder dos potentados rurais se baseava em alguns fatores: As concessões de poder dadas pela Coroa portuguesa, para devassarem o sertão; o isolamento geográfico da região, a grande extensão das áreas ocupadas, a dispersão da população, a concentração da posse da terra, a influência política que esses senhores tinham junto aos governos das capitanias de Pernambuco e Bahia. • A construção de uma estrutura administrativa no Piauí, na segunda metade do século XVIII, levou a um rearranjo das estruturas de poder na capitania. • Os potentados rurais que até então lastreavam seu prestígio e seu poder na força das armas, que promoviam a conquista da terra, e na posse da terra, da escravaria e dos gado; • Foi convidada a ocupar espaços na estrutura administrativa que a Coroa criava. • A ideia era criar vínculos entre a população do Piauí e o poder do Rei. • Na prática a ocupação desses espaços institucionais, fortaleceram as elites econômicas e políticas que já habitavam o Piauí, a partir daí eles começaram a criar estratégias familiares, para aumentar o prestígio social, o poder econômico que já tinham. • Tanya, dá a entender, que os potentados absenteístas, perdem força, e os proprietários que moravam no Piauí, se fortalecem, e ao lado deles, ganha espaço também alguns antigos posseiros, que conseguiram legitimar seus patrimônios em terra, com a concessão de sesmarias. • Esses posseiros, agora alçados à condição de ocupantes de funções públicas civis, mas principalmente militares, usam esse espaço para conseguir a legitimação das terras que ocupavam (a doação de sesmarias) e assim se fortalecem. • Durante todo o restante do período colonial (entre 1760 e 1822) as relações de poder na Capitania vão ser marcadas pelos conflitos de interesses entre essas elites rurais que se formam no Piauí e as autoridades reinóis enviadas para cá. • Os potentados rurais sempre procuravam impor seus interesses (a guerra contra os pimenteiras foi bom exemplo disso). • Essas elites locais aliavam: a participação na máquina burocrática, o poder econômico e o prestígio das suas redes familiares, para afrontar o Estado e impor seus interesses. • A partir de 1775, e durante 22 anos consecutivos, a Coroa não enviou governadores ao Piauí, ficando a capitania governada por juntas governativas de 3 membros ( O ouvidor da comarca, o militar de maior patente e o membro da Câmara de Oeiras mais antigo). • Na prática o exercício do poder passava para os membros da elite regional. • O engajamento dos piauienses na administração da Capitania não os levou a conscientização de representantes do rei. O exercício da função pública interessava-lhes pela oportunidade de tornarem-se legítimos portadores de autoridade, revertida de caráter regional. • Persistia o espirito que norteara os conquistadores no período inicial da conquista dos territórios. Os personagens se percebiam como guerreiros, de chefes militares, não como burocratas a serviço da Coroa. • Essa oligarquia de base familiar, e que ocupava funções burocráticas, não projetava a influência e o poder delas para fora da região, ela limitava-se à região e se sustentava ainda com o respaldo das autoridades do Maranhão. • As oligarquias do Piauí, por algumas vezes se defrontaram, com as autoridades reinóis, claramente havia divergência de interesses entre as duas partes. • A coroa queria maior centralização política, maior controle dos potentados rurais, mais eficiência nas cobrança de impostos e diminuição dos desvios de recursos públicos. • No entanto, a coroa aceitou que os potentados rurais no Piauí, atuassem com certa autonomia na administração da Capitania. • Parece que o cálculo político da Coroa, apontava para o fato de que a capitania não provocava sangrias de recursos significativos aos cofres metropolitanos com os desvios; • Calculava ainda que o desgaste político para a imposição da sua autoridade na região não valia a pena. • Os potentados rurais locais, buscavam certa autonomia do poder metropolitano, mas ao mesmo tempo em momento algum questionaram a autoridade da Metrópole, no sentido de defender a autonomia política ( a emancipação política da região). Por tanto, não ameaçavam, não ameaçavam a soberania do rei na região. Parte 4- Família e poder na capitania do Piauí. • Tanya analisa os significados das relações familiares dos grupos que se hegemonizam como elite política no Piauí, ainda no século XVIII, e as estratégias de ação utilizadas para se manterem no poder. • Os potentados rurais usaram do poder e prestígio alcançado com o domínio da estrutura agraria, somados à ocupação de cargos públicos para fortalecerem uma estrutura de poder responsável pela manutenção da ordem social. • O próprio estado viu-se várias vezes manobrado por eles, e tendo que usar desses grupos, de fazer concessões a eles para manter a ordem e o controle da sociedade, seja no período colonial, imperial ou republicano. • Segundo Tanya, apenas em Minas Gerais, onde o Estado lusitano se fez mais presente e mais fiscalista, em virtude da exploração mineral, esse poder dos potentados rurais não se fez tão forte e vigoroso. • No Piauí, um grupo de famílias, controladoras de vasto patrimônio em terras, gado e escravos, passava a ocupar progressivamente espaços na máquina administrativa. • A coroa portuguesa, não conseguiu reverter esse processo, ou não se interessou em reverter, pelas razões já apontadas: essa elite não ameaçava o poder e o domínio do Rei na região. • A autora afirma que durante muito tempo as únicas preocupações dos que chegavam a essas terras era: fazer a guerra e conquistar territórios aos indígenas e expandir as fazendas de gado. • A ordem nos espaços conquistados por eles era feita com a autoridade/poder privados, o estado era absolutamente ausente. • Ele chama 15 homens do Arraial dos paulistas e das fazendas próximas, dentre eles contabilizamos: 1 comerciante, 2 auxiliares, 3 proprietários de terras, e 10 vaqueiros/administradores. • Esse chamamento a esses vaqueiros era o reconhecimento pelo estado português de que esses vaqueiros, não proprietários, eram as pessoas de maior expressão social da região. • Os proprietários absenteístas, não foram convidados. • O que os levou a questionar a decisão governamental e mandar derrubar a capela erguida pelo preposto do bispo. • Outro aspecto interessante, é que esses vaqueiros/colonos, não proprietários de terra, muitos se tornaram depois posseiros, começaram a perceber, na ausência dos proprietários e do estado, um vácuo de poder. • Nas sociedades humanas não há espaço para vácuos de poder, onde a autoridade constituída não se faz presente, não se impõe, outras autoridades, outros poderes se impõem. • Esses grupos de colonizadores, passaram a requisitar a doação de terras pelo rei, e mesmo a questionar a legitimidade da propriedade de muitos proprietários absenteístas. • Outra estratégia foi criar laços sanguíneos com outras famílias aqui instaladas e criar redes familiares, que passavam a aumentar seus patrimônios e prestígio social. • Quando da instalação da Capitania passaram a ocupar espaços administrativos e assim, legitimavam com as funções públicas seu poder de mando na região.