Você está na página 1de 17

A Elite colonial piauiense

Tanya Maria Pires Brandão.


• A capitania de São José do Piauí.
• Depois de um período de indefinição administrativa e do status da região que forma o Piauí, dentro do
mundo colonial português, no século XVIII, o Piauí se forma enquanto uma capitania.
• Em 1718 a capitania é criada e em 1759 se instala o governo próprio.
• Nesse período se dá: a divisão de comarcas, a elevação de povoações a vilas e cidades, e a efetiva
instalação da máquina administrativa lusitana no Piauí.
• A inserção do Piauí no contexto colonial brasileiro se deu por meio da atividade pecuária, por tanto, de
forma subsidiária, mas reproduzindo traços marcantes da estrutura colonial: o trabalho escarvo, o
movimento migratório de populações coloniais e os mecanismos de poder da coroa, e o mando
senhorial.
• Havia uma união de esforços entre os colonizadores e a Coroa, os primeiros investiam na conquista
territorial, enquanto a Coroa, daria a segurança jurídica da conquista, com a concessão de sesmarias, e
com a criação e instalação do aparato militar ( concedendo patentes militares aos conquistadores e
legitimando ainda mais o seu poder local).
• Aspectos da economia colonial piauiense.
• Tanya afirma que a colonização dessas áreas do sertão se deu com a demanda de abrir espaço para a
expansão da produção açucareira, o que empurrou as atividades econômicas subsidiárias como a
pecuária e a agricultura de subsistência para outras áreas coloniais.
• Era também uma forma de abrir espaço para populações coloniais que não tinham espaço na região
litorânea.
• A pecuária exigia pouco capital para a instalação e manutenção de uma unidade de produção ( uma
fazenda) e isso era fator que viabilizava a atividade.
• A atividade era de caráter extensivo, uma feição quase extrativista.
• A interferência do trabalho humano no cuidado e na reprodução do rebanho era pequena.
• Os pastos naturais, a presença dos rios e aguadas ( condições naturais) fez com que, mesmo com alguns
períodos de estiagem a atividade crescesse constantemente por todo o período colonial.
• Os pesquisadores interessados na Pecuária encontram dificuldade para quantificar o rebanho piauiense
no período colonial, pois as atividades privadas, maior parte, não contam com registros contábeis
significativos.
• As fazendas do fisco, começando em 1760, contabilizam a comercialização de aproximadamente 2.000
cabeças de gado por ano.
• As fazendas privadas alguns relatos afirmam que uma “fazenda florescente” reproduzia por ano, mais
ou menos de 800 a 1000 crias, e que desse montante se pode extrair para a venda uma boiada de 250 a
300 bois.
• Uma parte seria paga aos vaqueiros, os dízimos e impostos, o consumo da fazenda, os animais que
ficavam para a reprodução do rebanho, as perdas.
• Outro ponto importante que mostra como não havia uma uniformidade na produção e no perfil das
fazendas era a qualidade dos campos naturais – (nas fazendas de pasto agreste, 300 vacas reproduzem
130 bezerros, e nas fazendas que contavam com o pasto mimoso, mais suculento e nutritivo, 300 vacas
reproduziam até 250 bezerros anualmente.
• Diante desses dados e da falta de documentação ficam algumas perguntas: quantas fazendas tinham na
região do agreste? Quantas fazendas existiam na região de pasto mimoso? Sem esse dado é difícil
quantificar o rebanho total e a sua possível reprodução.
• As fazendas do fisco expressam alguns números interessantes como: em 1739 contavam com 3.000
cabeças de gado, em 1757 contava com 32.000, e em 1782 contavam com 50.000 cabeças de gado. No
começo do século esse número cai para 45.000.
• A parte desse gado, que é comercializada, quase na sua totalidade é vendido em pé, em
feiras de gado fora do Piauí.
• Em 1770, começou uma segunda forma de comercialização do gado piauiense, quando
o João Paulo Diniz, passou a fazer o beneficiamento da boiada, em forma de carne seca.
Passando a levar a produção até o litoral e daí exportando a produção para o Pará,
Maranhão, Bahia e Rio de Janeiro.
• No início dos anos 1800 Odilon Nunes afirma que eram beneficiados, por ano, uma
média de 30 a 40 mil bois, e que ainda exportavam uma média de 40.000 couros de boi
em cabelo e 4 mil meios de sola.
• Segundo Odilon esse volume seria, aproximadamente, 25% da comercialização de gado
do Piauí por ano, ou seja a produção total seria em torno de 160.000 cabeças de gado
por ano.
• A economia pecuária no Piauí perdeu potência no início do século XIX em decorrência
da diminuição da pujança da economia exportadora, mas também pela concorrência de
outras áreas produtivas.
• A Agricultura no Piauí era apenas uma atividade de subsistência. Basicamente
plantávamos: milho, arroz, feijão, mandioca, cana e fumo. Uma cultura agrícola que
teve alguma expressão comercial no Piauí foi o algodão, no princípio utilizado para a
fabricação de tecidos grosseiros.
• Depois passou a ser comercializado.
• As propriedades e áreas produtivas no Piauí se dividiam em fazendas, de criatório de gado e em sítios
• As fazendas –
• Segundo Tanya quando os documentos do século XVII fala de currais, fala de gado criado no sertão,
• Quando fala de fazendas, dá a entender que o dono do gado já tem a propriedade da terra, a terra já foi
doada ao sesmeiro.
• O primeiro passo para a implantação de uma fazenda era a escolha do lugar – A preferência caia sobre
lugares onde contassem com água abundante – nas proximidades de Rios ou lagoas.
• Elas eram complexos econômicos que englobavam: terras, gado, escravaria, a casa de morada,
cercados, currais, aguadas, roças, casas de farinha, carpintaria, senzalas, e mesmo sítios.
• A infraestrutura de uma fazenda: a casa de morada do proprietário ou do encarregado, currais em
pedra ou madeira,
• As melhor estruturadas contavam com um curral de apartar – que recebia todo o gado.
• O curral de benefício onde os garotes seriam ferrados e para fazer as partilhas com os vaqueiros.
• Os currais onde se fazia a ordenha
• O retiro eram áreas onde se fazia a separação dos bezerros das mães.
• O trabalho nas fazendas de criar seguia o ciclo das chuvas na região.
• Assim de Janeiro a maio realizavam-se as vaquejadas, ferras, apartes e as partilhas.
• Essa época do ano era também o período de instalação de novas unidades pecuaristas, da
comercialização do gado, época de abundância de pasto.
• Terminada a época das chuvas, e quando já começava em agosto o período seco, o gado
era solto, e se fazia apenas o manejo dos rebanhos.
• Quando em dezembro começava o período chuvoso novamente, um novo ciclo se
iniciava, com o ajuntamento do gado disperso e a avaliação das perdas com a estiagem,
• O calendário agrícola das fazendas se adaptava ao calendário da pecuária. Nos meses
de julho a dezembro quando os trabalhos com o gado diminuíam, passavam a cuidar da
escolha das áreas para plantio, das queimadas, a preparação das coivaras para que a
terra estivesse pronta para o plantio no final do ano.
• Nos meses de maio e junho passavam à colheita da produção agrícola.
• Os sítios, no geral eram pequenas propriedades, voltadas ao plantio de frutas e de
agricultura de gêneros alimentícios.
• produzia para a subsistência da família, e com a possível venda de algum excedente.
• Outra característica dos sítios era que serviam de apoio às grandes fazendas, ficavam
próximos, agregava populações que serviam de suporte e mesmo segurança para as
fazendas.
• Com uma economia radicalmente voltada ao criatório do gado e com a prática de uma
agricultura subsidiária que tinha o sentido de criar uma autosificiencia alimentar nas
propriedades, o comércio se viu desestimulado e a vida urbana não se desenvolvia.
• O trabalho escravo na fazenda. O trabalho de lida com o gado era em grande parte realizado
por trabalhadores escravos.
• Mesmo com um contingente significativo de homens livres na região.
• no Piauí seguiu-se o padrão da escravidão, e da escravização de africanos, que eram
adquiridos nas feiras de gado
• Os vaqueiros. Era o administrador da fazenda, os proprietários absenteístas, que não moravam
no Piauí, contavam com seus vaqueiros para administrar a fazenda e a criação.
• Muitos proprietários contavam com mais de uma fazenda, com 3 ou 4 fazendas, nesses casos,
mesmo morando em uma delas, precisava contar com a figura do vaqueiro para administrar
suas fazendas.
• O proprietário fornecia: a terra, o gado, as ferramentas de trabalho, as instalações físicas, e
mesmo os escravos.
• O vaqueiro entrava com o trabalho.
• O pagamento do vaqueiro era feito com a quarta parte dos bezerros, e se processava depois do
quinto ano de trabalho.
• O vaqueiro, na prática era um sócio do senhor, e se via obrigado a continuar na fazenda pelo
menos por 5 anos.
• O Piauí mesmo com uma economia peculiar, pois não voltada ao atendimento do mercado
exportador, refletia as características da economia colonial do Brasil: alta concentração da
propriedade na mão de poucos, e a produção baseada no trabalho escravo.
• Populações e povoações.
• As populações coloniais que vão ocupar o Piauí são originárias de áreas coloniais antigas, eles são:
proprietários que passam a ocupar terras no Piauí, como forma de ampliar seus domínios; pessoas
livres que procuravam com a migração adquirir terras e alçar à condição de proprietário e senhor; e
ainda homens foragidos da justiça, aventureiros, os fugidos da escravidão, que vão tentar a sorte no
sertão.
• Fases da ocupação colonial no Piauí –
• 1- Entre 1600 e 1660 – inicia-se com os primeiros desbravadores e termina com a implantação dos
primeiros currais na região.
• 2- Entre 1660 e 1760 ( período da instalação do governo da capitania), compreende o período da
divisão das terras pelo regime sesmarial, a intensificação das disputas e conquistas de terras ocupadas
por indígenas, a instalação definitiva da pecuária na região.
• Ao final, a região está absolutamente integrada à economia e a sociedade colonial brasileira.
• Nesse período tomou forma também o corpo social da capitania com todas as suas características –
definidas pelas formas de contato entre ameríndios e colonizadores, pela atividade pecuária, e pela
forma que assumiu a propriedade da terra na região.
• No decorrer desse período se deram os confrontos entre os dois subgrupos de colonizadores: os
posseiros e os sesmeiros.
• 3 – O terceiro período se estende entre 1760 e 1820 – Nesse período ocorre a definição do perfil
populacional/demográfico do Piauí, e o perfil da sociedade colonial, e das elites locais.
• População do Piauí entre 1697 e 1762 – saiu de 438 habitantes para 12.764.
• Entre 1762 e 1822 – 12.744 habitantes para 100.000.
• Até 1700 (+ ou -) Na população colonial do Piauí predominavam os habitantes do sexo masculino,
adultos e solteiros.
• Outro traço era que a população se dispersava pelas áreas de produção pastoril – em média 3,5
habitantes por unidade.
• No mundo colonial entre os homens livres, as condições sociais levaram ao surgimento de 3 perfis
sociais:
• 1- Os homens proprietários/instalados na região, que eram proprietários, e somavam a isso a ocupação
de funções militares e administrativas, o que acrescentava ao seu prestígio e poder pessoal;
• 2- Os vaqueiros, administradores das propriedades de senhores absenteístas;
• 3- Os homens livres, que não contavam com doações sesmariais, que ocupavam terras arrendadas a um
grande proprietário, ou terras devolutas e nelas desenvolviam atividades de plantio e criação de gado,
de forma autônoma.
• Um número de escravos sempre se fez presente de forma significativa nas fazendas de criar:
• Por volta de 1697 haviam – 1,9 pessoas livres e 2,17 pessoas escravas em cada unidade produtiva do
Piaui.
• Em 1762 esses números haviam crescido para: 11,7 pessoas livres e 7,4 pessoas escravizadas por
unidade produtiva.
• Em 1762 a população do Piauí estava dividida em: 8100 livres e 4644 escravizados.
• Em meados do século XVIII – O número de mulheres engajadas no mundo colonial aumenta e o
crescimento da população colonial vai progressivamente aumentando.
• As razões para isso são: a região está conquistada, os indígenas não são ameaça significativa para os
núcleos coloniais e, isso, faz a região mais atrativa para migrantes de outras capitanias.
• A evolução da composição étnica da população piauiense no período colonial.
• Tanya afirma que a presença indígena na população colonial era pequena, ou seja, os indígenas
eram mortos nos conflitos ou comercializados como escravos para outras regiões.
• Uma parte se engajava nas fazendas, principalmente as mulheres.
• A partir de 1797 não mais se registraram indígenas nas populações coloniais do Piauí.
• Essa diminuição dos contingentes indígenas nas populações coloniais podem ser entendidos
como: um apagamento de memória ... Pode ser.
• Outro aspecto é que a falta de mulheres brancas na região, incrementou o surgimento de uma
população mestiça. Os indígenas não se faziam presentes na população colonial enquanto
indivíduos que se identificavam como tal, no entanto o estoque genético indígena na
população era muito presente, em decorrência da miscigenação. ( ver tabela da página 68).
• Com relação aos negros Tanya afirma que o número de negros escravizados no Piauí sofre um
declínio, percentual, no decorrer do século XVIII em decorrência do aumento de outros
contingentes populacionais como os mestiços.
• Outro aspecto interessante é que entre os homens livres, o percentual de negros era maior
que o de brancos.
• A redução percentual de pessoas brancas, pode ser explicada pelo fato de que elas se sentiam
mais atraídas para ficarem em regiões mais prósperas e onde as possibilidades de ganho e de
posicionamento nos altos estratos sociais era maior.
• Os brancos só migravam para o sertão quando contavam com vantagens: no início da
colonização a doação de sesmarias, com a instalação de grandes propriedades pastoris.
• Migrar para o sertão significava habitar uma região periférica, longe dos centros urbanos
maiores, e longe das autoridades reinóis. Essas coisas desestimulavam que maiores
contingentes de populações brancas adentrassem e escolhessem habitar o sertão.
• Os brancos que migram para o Piauí na sua maioria estão à procura de terras para implantar
atividades produtivas em terras ainda disponíveis, ou são homens pobres a procura de se
instalarem como vaqueiros/administradores de fazendas, ou em busca de se aproveitar da cor
da pele para alcançar um casamento vantajoso.
• Esse contingente de população branca, particularmente na parcela proprietária, usou de
estratégias de enlaces familiares vantajosos para manter e mesmo ampliar os patrimônios e o
prestígio social.
• Como afirmamos em outro momento, o contingente populacional que mais cresce e se torna
predominante no Piauí é o contingente de mestiços, de diversas matizes, os mestiços saltam de
1,8% em 1697, para 45% em 1797.
• Em 1762, a população mestiça já era majoritária no percentual de pessoas livres no Piauí (57%
das pessoas livres eram mestiças).
• Um traço interessante e fruto desse alto índice de mestiçagem é a presença, dentro de um
mesmo grupo familiar de perfis fenótipos diferentes, um irmão mais claro que o outro, uns
moremos e outro com os olhos claros, pele mais clara.
• Os mestiços vão assim ocupando espaços por todas as camadas sociais no Piauí, passando
desde os que eram descendentes de homens proprietários ricos e assim eram incorporados às
camadas sociais privilegiadas, aos que se engajavam em atividades menores e, ainda, os que
frutos do ventre de mulheres reduzidas à condição escrava, seguiam a condição da mãe.
• Essa população diversificada e majoritariamente mestiça, se distribuía pelos sítios, fazendas, arraiais e
aldeamentos. Com a implantação da Capitania a Vila da Mocha foi elevada à categoria de cidade e
alguns núcleos de povoamento foram elevados À condição de vilas.
• No entanto o perfil de distribuição da população não sofreu mudanças significativas – o Piauí continuou
a ter um povoamento disperso, sem núcleos de povoamento que tivessem verdadeiramente perfil de
cidade.
• Oeiras só veio a montar um perfil urbano, e ainda de forma elementar, nas primeiras décadas do século
XIX.
• Em 1819, a cidade passou a contar com 31 estabelecimentos comerciais de fazendas, ferragens e
molhados, com 14 sapateiros, 7 alfaiates, 7 carapinas, 4 ourives, 3 ferreiros, 3 mestres pedreiros, 2
marceneiros, 1 livreiro, e nas oficinas ainda haviam 53 aprendizes.
• Os outros 6 núcleos urbanos (vilas) criadas no período colonial continuavam absolutamente precários,
só tendo alguma movimentação , em períodos definidos, mas serviam como ponto de administração e
exercício do poder institucional, particularmente nas câmaras municipais.
• Tanya afirma que, a dificuldade de convencer os moradores, habitantes, particularmente os mais
abastados, a saírem das fazendas e migrarem para as cidades, devia-se à forma e à relação que os
proprietários haviam criado com a atividade criatória. A administração e o cuidado com o gado
passavam diretamente por eles.
• Outro aspecto é que na fazenda, eles eram os senhores, a potência, a quem todos deviam servir e
obedecer. Nas cidades, por mais que estivessem em posição privilegiada, teriam que dividir esse status
de superioridade com seus iguais, e eventualmente deparar-se com pessoas de status superior.
• Assim as cidades e vilas no Piauí não se transformaram em centros catalizadores do comércio e das
atividades urbanas na Capitania.
• Mesmo as funções administrativas, pois deveriam ser a ponta extrema da presença da Administração
colonial na Capitania, acontecia de forma adequada.
• Tanya afirma que a institucionalidade criada pela Coroa portuguesa na Capitania, era utilizada de forma
peculiar.
• As estruturas administrativas criadas em Oeiras e nas demais vilas, foi absorvida pelos poderes locais,
que passaram a usar essa institucionalidade, em benefício dos interesses locais.
• Mesmo em Oeiras onde algumas autoridades reinóis procuravam defender os interesses
administrativos da metrópole, esses funcionários lusitanos não obtinham muito sucesso, e alguns foram
mesmo aprisionados e enviados para São Luís, como aconteceu com o Ouvidor Durão.
• Relações de poder na Capitania do Piauí.
• Até o final do século XVII a forma como os conquistadores do sertão atuavam, quase que de forma
autônoma, não incomodava a Coroa Portuguesa.
• No final do século XVII e início do século XVIII, a arrogância e autonomia dos potentados do sertão
começou a incomodar a Coroa. (O exemplo da criação e instalação da Freguesia da Mocha, é ilustrativo
desses conflitos de interesse).
• O poder dos potentados rurais se baseava em alguns fatores: As concessões de poder dadas pela Coroa
portuguesa, para devassarem o sertão; o isolamento geográfico da região, a grande extensão das áreas
ocupadas, a dispersão da população, a concentração da posse da terra, a influência política que esses
senhores tinham junto aos governos das capitanias de Pernambuco e Bahia.
• A construção de uma estrutura administrativa no Piauí, na segunda metade do século XVIII, levou a um
rearranjo das estruturas de poder na capitania.
• Os potentados rurais que até então lastreavam seu prestígio e seu poder na força das armas, que
promoviam a conquista da terra, e na posse da terra, da escravaria e dos gado;
• Foi convidada a ocupar espaços na estrutura administrativa que a Coroa criava.
• A ideia era criar vínculos entre a população do Piauí e o poder do Rei.
• Na prática a ocupação desses espaços institucionais, fortaleceram as elites econômicas e
políticas que já habitavam o Piauí, a partir daí eles começaram a criar estratégias familiares,
para aumentar o prestígio social, o poder econômico que já tinham.
• Tanya, dá a entender, que os potentados absenteístas, perdem força, e os proprietários que
moravam no Piauí, se fortalecem, e ao lado deles, ganha espaço também alguns antigos
posseiros, que conseguiram legitimar seus patrimônios em terra, com a concessão de
sesmarias.
• Esses posseiros, agora alçados à condição de ocupantes de funções públicas civis, mas
principalmente militares, usam esse espaço para conseguir a legitimação das terras que
ocupavam (a doação de sesmarias) e assim se fortalecem.
• Durante todo o restante do período colonial (entre 1760 e 1822) as relações de poder na
Capitania vão ser marcadas pelos conflitos de interesses entre essas elites rurais que se
formam no Piauí e as autoridades reinóis enviadas para cá.
• Os potentados rurais sempre procuravam impor seus interesses (a guerra contra os pimenteiras
foi bom exemplo disso).
• Essas elites locais aliavam: a participação na máquina burocrática, o poder econômico e o
prestígio das suas redes familiares, para afrontar o Estado e impor seus interesses.
• A partir de 1775, e durante 22 anos consecutivos, a Coroa não enviou governadores ao Piauí,
ficando a capitania governada por juntas governativas de 3 membros ( O ouvidor da comarca, o
militar de maior patente e o membro da Câmara de Oeiras mais antigo).
• Na prática o exercício do poder passava para os membros da elite regional.
• O engajamento dos piauienses na administração da Capitania não os levou a conscientização de
representantes do rei. O exercício da função pública interessava-lhes pela oportunidade de tornarem-se
legítimos portadores de autoridade, revertida de caráter regional.
• Persistia o espirito que norteara os conquistadores no período inicial da conquista dos territórios. Os
personagens se percebiam como guerreiros, de chefes militares, não como burocratas a serviço da
Coroa.
• Essa oligarquia de base familiar, e que ocupava funções burocráticas, não projetava a influência e o
poder delas para fora da região, ela limitava-se à região e se sustentava ainda com o respaldo das
autoridades do Maranhão.
• As oligarquias do Piauí, por algumas vezes se defrontaram, com as autoridades reinóis, claramente havia
divergência de interesses entre as duas partes.
• A coroa queria maior centralização política, maior controle dos potentados rurais, mais eficiência nas
cobrança de impostos e diminuição dos desvios de recursos públicos.
• No entanto, a coroa aceitou que os potentados rurais no Piauí, atuassem com certa autonomia na
administração da Capitania.
• Parece que o cálculo político da Coroa, apontava para o fato de que a capitania não provocava sangrias
de recursos significativos aos cofres metropolitanos com os desvios;
• Calculava ainda que o desgaste político para a imposição da sua autoridade na região não valia a pena.
• Os potentados rurais locais, buscavam certa autonomia do poder metropolitano, mas ao mesmo tempo
em momento algum questionaram a autoridade da Metrópole, no sentido de defender a autonomia
política ( a emancipação política da região). Por tanto, não ameaçavam, não ameaçavam a soberania do
rei na região.
Parte 4- Família e poder na capitania do Piauí.
• Tanya analisa os significados das relações familiares dos grupos que se hegemonizam como
elite política no Piauí, ainda no século XVIII, e as estratégias de ação utilizadas para se
manterem no poder.
• Os potentados rurais usaram do poder e prestígio alcançado com o domínio da estrutura
agraria, somados à ocupação de cargos públicos para fortalecerem uma estrutura de poder
responsável pela manutenção da ordem social.
• O próprio estado viu-se várias vezes manobrado por eles, e tendo que usar desses grupos, de
fazer concessões a eles para manter a ordem e o controle da sociedade, seja no período
colonial, imperial ou republicano.
• Segundo Tanya, apenas em Minas Gerais, onde o Estado lusitano se fez mais presente e mais
fiscalista, em virtude da exploração mineral, esse poder dos potentados rurais não se fez tão
forte e vigoroso.
• No Piauí, um grupo de famílias, controladoras de vasto patrimônio em terras, gado e escravos,
passava a ocupar progressivamente espaços na máquina administrativa.
• A coroa portuguesa, não conseguiu reverter esse processo, ou não se interessou em reverter,
pelas razões já apontadas: essa elite não ameaçava o poder e o domínio do Rei na região.
• A autora afirma que durante muito tempo as únicas preocupações dos que chegavam a essas
terras era: fazer a guerra e conquistar territórios aos indígenas e expandir as fazendas de gado.
• A ordem nos espaços conquistados por eles era feita com a autoridade/poder privados, o
estado era absolutamente ausente.
• Ele chama 15 homens do Arraial dos paulistas e das fazendas próximas, dentre eles
contabilizamos: 1 comerciante, 2 auxiliares, 3 proprietários de terras, e 10
vaqueiros/administradores.
• Esse chamamento a esses vaqueiros era o reconhecimento pelo estado português de que esses
vaqueiros, não proprietários, eram as pessoas de maior expressão social da região.
• Os proprietários absenteístas, não foram convidados.
• O que os levou a questionar a decisão governamental e mandar derrubar a capela erguida pelo
preposto do bispo.
• Outro aspecto interessante, é que esses vaqueiros/colonos, não proprietários de terra, muitos
se tornaram depois posseiros, começaram a perceber, na ausência dos proprietários e do
estado, um vácuo de poder.
• Nas sociedades humanas não há espaço para vácuos de poder, onde a autoridade constituída
não se faz presente, não se impõe, outras autoridades, outros poderes se impõem.
• Esses grupos de colonizadores, passaram a requisitar a doação de terras pelo rei, e mesmo a
questionar a legitimidade da propriedade de muitos proprietários absenteístas.
• Outra estratégia foi criar laços sanguíneos com outras famílias aqui instaladas e criar redes
familiares, que passavam a aumentar seus patrimônios e prestígio social.
• Quando da instalação da Capitania passaram a ocupar espaços administrativos e assim,
legitimavam com as funções públicas seu poder de mando na região.

Você também pode gostar