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Escravos do Sertão

Miridan Brito Knox Falci


• Durante algum tempo, os historiadores tratavam a escravidão como inexistente, ou como residual na região da pecuária.

• A atividade não contava com recursos suficientes para bancar a aquisição de escravos;

• O trabalho da lida com o gado, solto no campo era incompatível com o trabalho escravo;

• A capacidade produtiva e a organização do trabalho nas fazendas de criar.

• A referência para medir o tamanho e a produção de uma fazenda é o número de bezerros que são amansados nela todos os anos.

• A origem dos escravos no Piauí vindos da Bahia e Pernambuco e tendo como ponto final as plantações de algodão da região de Caxias no Maranhão.

• Vindos de São Luís também objetivando prioritariamente a região de Caxias.

• Vindo de Parnaíba, o porto de Parnaíba, com seu delta, favorecia ao contrabando, entre outras coisas de escravizados. Como boa parte entreva como contrabando é muito difícil contabilizar
ou encontrar registros do volume desse tráfico.

• Miridan faz a seguinte classificação:

• Uma fazendo que amansa 100 reses por ano - pequeno porte. Para isso ela precisava ter umas 40 reses no todo (150 bois e 250 vacas).

• Uma fazenda que amansa de 200 a 300 reses é considerada de bom porte. Uma fazenda que amansava 1000 reses por ano era considerada de grande porte. Para isso ela precisava ter umas
10000 reses ao todo.

• No Piauí os maiores registros em inventários encontrados falam de fazendas com 5.000 cabeças de gado, que nesse caso deveriam amansar 500 reses por ano.

• Acontecia de um mesmo proprietário ter outras fazendas e assim amansar número mais significativo de reses.

• Veja a pecuária no Piauí era uma prática extensiva, com baixa tecnologia no manejo. Para ter um número maior de reses numa mesma fazenda seria preciso currais — para criar o gado
preso, estábulos, e investimentos em pastagens para aumentar a oferta de alimento.

• No Piauí colônia, como o gado era criado solto, e a pastagem era a disponível pela natureza.

• melhor saída era dividir o gado em várias fazendas, em lugares diferentes. Assim eles pastavam em outras áreas, eram Maneiados por outros vaqueiros.
• Um bom exemplo disso é o inventário de Simplício Dias da Silva — onde constam 22.000 cabeças de gado.

• Ele contava com 21 fazendas — 1 fazenda com 6.000 cabeças de gado, outra com 5.000, uma terceira com 2000, e o resto estava espalhado
pelas outras 18 fazendas com 400, 500 cabeças de gado.

• O investimento para montar uma fazenda era: uma casa de morada, na maioria das vezes uma casa simples, de taipa e coberta de palha. Em
algumas casas de moradores mais endinheirados as construções ganhavam em rigidez, altura e dimensão.

• Os currais, e alguns apetrechos como: os comedores e bebedouros onde se disponibilizava alguma comida e água para os animais, os troncos
para amarar o gado, e alguns currais de apartar.

• Os apetrechos profissionais dos vaqueiros a saber: os cavalos de sela, os arreios, a vara de ferrão, acorda de animais, os arpões de sela, os
selins, as esporas e outros apetrechos.

• Ainda tesouras, para cortar as crinas e rabos dos cavalos, ferros de marcar o animal, limas para serrar os chifres dos bois. ( esses utensílios
possivelmente precisassem de trabalhadores especializados em cada uma das atividades.

• O trabalho nas fazendas precisava da centralização do trabalho nas mãos de uma pessoa: o vaqueiro administrador ( geralmente um homem
livre).

• Ele precisava contar com o auxílio de ajudantes, que podiam ser livres ou escravos.

• Os escravos também desenvolviam atividades nas roças de cana, fumo, mandioca, milho, arroz ...

• Miridan afirma que só o vaqueiro chefe recebia a quarta parte dos bezerros nascidos, os vaqueiros auxiliares, que podiam ser escravos
recebiam como paga pequenos valores como: uma porca, um carneiro.
• Os dias de ferra e partilha do gado, no geral eram dias festivos, onde os vizinhos, solidariamente, ajudavam o proprietário com todo o trabalho, atividade que seria
retribuída em momento oportuno.

• O vaqueiro era uma atividade especializada — que dava prestígio a quem exercia a função. ( ser vaqueiro era ocupar um lugar de status no sertão, era um galardão
que demonstrava a destreza, a capacidade física e as habilidades superiores de um homem.

• Muito mais digno que trabalhar com a enxada na lavoura. Trabalhar na lavoura era uma obrigação de todos, o trabalho de vaqueiro era escolha, aprendizado de
destreza, de habilidades específicas.

• Tinha a proteção, o respeito, e a consideração do senhor e da sociedade local.

• Mesmo o trabalho na pecuária sendo centralizado pelo vaqueiro (homem livre), as relações de trabalho na pecuária foram inseridas dentro do contexto do
sistema colonial escravista de produção.

• Fazendas nacionais e seus escravos.

• Inicialmente fazendas de Afonso Mafrense, que as doou aos Jesuítas, e quando da expulsão desses padres em 1759, as propriedades passaram a pertencer À
Coroa Portuguesa, e depois ao Império, à União em 1889, e, finalmente em 1946 ao Estado do Piauí.

• Compreendiam 39 propriedades — que contavam com gado vacum, cavalar, miunças, as terras, os escravos, os cercados, e as demais benfeitorias e apetrechos de
trabalho na lida com o gado.

• A documentação sobre as fazendas nacionais é rica em dados, particularmente sobre relatos de escravos.

• Alguns dados que a autora extraiu de 2 documentos onde constam dados cadastrais dos escravos das fazendas nacionais em 1855 — número de escravos — 738;
203 homens, 234 mulheres e 244 menores de 12 anos.

• 1- Que tipo de ocupação tinham os homens e mulheres escravizados nas fazendas nacionais?

• Homens e mulheres se dividiam no trabalho: das roças, abrir picadas, destocar, levantar cercas, cuidar do gado.
• Em outro documento, podemos encontrar dados que apontam que 70% dos escravizados masculinos ocupavam a função de vaqueiros.

• Dentre eles encontramos 48 vaqueiros simples, 11 vaqueiros cabeças de campo e 2 vaqueiros cabeça de campos d'éguas. Um deles era
vaqueiro e curtidor.

• 10 escravos eram definidos como roceiros.

• 6 trabalhavam como serventes no Palácio de governo em Oeiras, e 1 no Hospital.

• Que relação pode ser feita ente o número de escravos e o número de cabeças de gado nas fazendas nacionais?

• Nas fazendas de gado com mais de 1000 bois, nunca havia menos de 8 escravos, nas menores haviam de 4 a 6 escravos.

• A distribuição de vaqueiros por fazendas, nas fazendas nacionais, não tinha um padrão, não existia uma relação direta entre: numero de bois
e de escravos.

• Existia fazenda com 250 bois por escravos, e fazenda com 20 bois por escravo.

• Outra diferença entre as Fazendas Nacionais e as Fazendas particulares, era o crescimento demográfico da população escravizada nas FN.
Talvez o número de mulheres, talvez a estabilidade dos núcleos familiares, mesmo dentro de relações consensuais.

• Números das Fazendas Nacionais: 52% de mulheres, 48% de homens e 33% de menores de 12 anos, o que mostra o elevado índice de
natalidade.

• Um outro dado das Fazendas Nacionais, foi o elevado número de alforriados que continuava a morrar nas Fazendas Nacionais.
• Os escravos das Fazendas Nacionais foram alforriados, quando da aprovação da lei do ventre livre, e o Imperador, concedeu ainda a
doação de terras, e a criação de um núcleo colonial ( Núcleo colonial Pedro de Alcantara) para servir de espaço de aprendizagem dos
escravos menores, esse lugar deu origem à cidade de Floriano.

• As vendas de escravos no Piauí.

• Miridan afirma que até os anos 1850, a venda de escravos no Piauí era pequena, os escravos eram mais herdados, que vendidos

• A maioria dos escravos viviam e eram apropriados pela mesma família a 2 ou 3 gerações.

• Uma parte das vendas era por que 1 escravo pertencia a 3 herdeiros, em alguns casos você vendia para dividir o valor da venda.

• Acontecia também desse escravo continuar na casa trabalhando e servindo aos 2 senhores, quando se tratava de irmãos.

• Em 1870 esse quadro se alterou significativamente, o fim do tráfico negreiro, o alvo valor dos escravos no mercado, impulsionou
significativamente, o tráfico interprovincial de escravos.

• O preço de um escravo saiu de 566 mil réis, para 933 mil réis.

• Dessa forma o Piauí e algumas províncias do Norte passaram por um processo de diminuição dos plantéis de escravizados.

• Entre 1879-1880 o Piauí vendeu 1600 escravos para outras províncias. Se o Piauí tinha 23.000 escravos. Vendeu 5% da população
escrava.

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