Você está na página 1de 4

Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 4

5. ROCHAS METAMÓRFICAS

5.1. INTRODUÇÃO
Já referimos em capítulos anteriores que a Terra é um sistema
activo e dinâmico. As rochas, uma vez soterradas a grandes
profundidades, podem ser deformadas e as temperaturas podem ser
alteradas por esse soterramento ou pela proximidade de corpos
magmáticos. Em resposta a estas mudanças das condições ambientais,
as características das rochas podem alterar, ou seja, sofrem
metamorfismo tornando-se rochas metamórficas.
As alterações metamórficas podem ser de dois tipos principais:
a) as que afectam as espécies minerais (composição
mineralógica);
b) as que afectam a forma e o arranjo dos grãos minerais
(estrutura e textura).
A diferença entre os dois tipos de alterações podem ser
observadas em fenómenos e processos actuais (naturais ou industriais):
A neve, formada por cristais soltos como os da Fig. 4.42.a, é
transformada em gelo compacto com o soterramento dessa neve por
novas camadas de neve. Esta transformação não envolve mudança nos
constituintes minerais (gelo) e pode ocorrer sem fusão. Esta modificação Fig. 4.42. Formas dos grãos de neve e
de cristais complexos (Fig. 4.42.a) em formas mais simples, granulares de gelo compacto
(Fig. 4.42.b) torna os contactos entre os grãos muito mais fechados,
tornando o gelo mais compacto que a neve.
As mudanças na composição mineralógica em rochas são artificialmente causadas em fornos. Por
exemplo, no fabrico do cimento, o calcário, constituído por calcite (CaCO3), é transformado pelas altas
temperaturas em cal (CaO), com libertação de CO2. Do mesmo modo, rochas contendo minerais de metais
(como óxidos e sulfuretos) sofrem alterações para produzir metais nativos.
As variações de temperatura e pressão são as causas óbvias do metamorfismo das rochas, mas
não são os únicos. As alterações podem ser induzidas como resultado de mudanças na composição
química. Em tais casos, as mudanças estão geralmente associadas com o movimento de fluídos (sejam
gases, sejam fusões magmáticas).
A variedade de mudanças que podem afectar as rochas é enorme, e por isso o âmbito do
metamorfismo é limitado, por conveniência, aos processos em que a rocha se mantém fundamentalmente
sólida durante as alterações. Os processos de meteorização das rochas à superfície da Terra envolvem
alterações das rochas como resultado das reacções com o oxigénio do ar e com as águas superficiais e
subterrâneas. Estes processos, em conjunto com a erosão e a deposição leva à formação de rochas
sedimentares e não são, por isso, considerados como parte do metamorfismo. Considera-se, por isso, que os
processos metamórficos envolvem temperaturas e pressões muito maiores do que as que se encontram à
superfície da Terra.
A fronteira exacta para distinguir os processos de formação de rochas sedimentares dos
processos metamórficos é arbitrária. Com o aumento da profundidade de soterramento, as condições que
dão origem à consolidação dos sedimentos em rochas sedimentares não têm fronteira nítida com as
condições que transformam estas rochas sedimentares em rochas metamórficas. Falamos aqui na pressão.
No outro lado das condições metamórficas, há a considerar a temperatura. Às mais altas
temperaturas, as rochas não sofrem só mudanças mineralógicas, mas podem também sofrer fusão,
originando os magmas, e aqui os processos deixam de ser metamórficos para serem magmáticos.
Com estas condições em mente, a definição de metamorfismo não envolve todas as condições de
alterações de rochas. Assim, uma definição largamente aceite é:
"Metamorfismo é o ajustamento mineralógico e estrutural das rochas sólidas às condições físicas e
químicas que surgem em profundidade, abaixo da zona de metamorfismo e cimentação, e que
diferem das condições em que as rochas se originaram".
(F.J. Turner & J. Verhoogen, 1960, Igneous and Metamorphic Petrology, McGraw-Hill).

76
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 4

É de referir que, dado que a passagem dos processos sedimentares aos metamórficos e destes
aos magmáticos é gradual, desde zonas de temperaturas e pressões baixas a temperaturas e pressões
altas, podemos considerar que há vários graus de metamorfismo, desde o metamorfismo de baixo grau ao
metamorfismo de alto grau. A Fig. 4.43 mostra um diagrama das várias condições de metamorfismo em
função da pressão (profundidade) e temperatura.

Fig. 4.43. Graus de metamorfismo em função da pressão e da temperatura

5.2. TEXTURAS E ESTRUTURAS DAS ROCHAS METAMÓRFICAS


Vimos anteriormente que a acção dos agentes de metamorfismo provocam alterações nas rochas
preexistentes, alterando-lhes a composição mineralógica e química e o seu aspecto macroscópico (estrutura e
textura). Isto leva a que as texturas e estruturas que estudámos nas rochas ígneas (e mais à frente nas
sedimentares) sejam modificadas, aparecendo novas texturas e estruturas nas rochas metamórficas.
Os novos grãos de minerais que se formam durante os processos de metamorfismo são
chamados cristais de neoformação ou neoblastos (do Grego Neo = novo + Blastein = germinar), ou seja,
durante o metamorfismo há uma recristalização, que pode ser total ou parcial.
A textura das rochas metamórficas é sempre cristalina, podendo ser de grão mais ou menos fino
ou grosseiro, e sobrepõe-se sempre à textura preexistente na rocha de origem, como consequência dos
fenómenos de recristalização. Assim, as texturas mais frequentes nas rochas metamórficas são:
a) Granoblástica: os neoblastos são grãos sensivelmente do mesmo tamanho (Fig. 4.44.A);
b) Porfiroblástica: notam-se fenoblastos no seio duma massa granoblástica (Fig. 4.44.B);
c) Lepidoblástica: neoblastos em forma de lamelas ou escamas, como as micas (Fig. 4.44.C);
d) Nematoblástica: os neoblastos são fibrosos ou aciculares, como as anfíbolas (Fig. 4.44.D).
A B C D

Fig. 4.44. Texturas de rochas metamórficas. A. Granoblástica; B. Porfiroblástica; C. Lepidoblástica; D. Nematoblástica.


Em baixo: A. Mármore; B. Micaxisto com granada; C. Micaxisto; D. Anfibolito

77
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 4

No que toca à estrutura, é comum as rochas metamórficas apresentarem orientação dos


neoblastos, como resposta às altas pressões exercidas durante a sua formação. As rochas que não
apresentam orientação dos neoblastos diz-se que têm estrutura maciça (Fig. 4.45.A), como é o caso do
mármore. Quando há orientação dos neoblastos, as estruturas são:
a) Xistosidade: quando há orientação dos neoblastos em planos que permitem a partição da rocha
em placas; esta estrutura é frequente em rochas com muita mica, caso dos micaxistos (Fig. 4.45.B);
b) Foliação: é um estágio mais avançado da xistosidade e pressupõe a existência de fenómenos
de recristalização; ocorre em rochas com bastante mica, mas com maior proporção de minerais
equigranulares, como o quartzo e o feldspato, como é o caso dos gneisses (Fig. 4.45.C);
c) Lineação: quando ocorrem fundamentalmente minerais de hábito acicular ou prismático, que
dão a ideia de haver "linhas" na rocha, como é o caso dos anfibolitos (Fig. 4.45.D);
d) Cataclástica: ocorre em rochas que sofreram essencialmente efeitos de altas pressões a
baixas temperaturas, caso do metamorfismo dinâmico (Fig. 4.45.E).
A B C

D
E

Fig. 4.45. Estruturas das rochas metamórficas. A. Maciça; B. Xistosidade;


C. Foliação; D. Lineação; E. Cataclástica

5.3. CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS METAMÓRFICAS


A classificação das rochas metamórficas não é tão simples como no caso das rochas ígneas,
dadas as variedades de efeitos que os agentes de metamorfismo provocam nas rochas de origem. Contudo,
alguma sistematização é possível, no que toca à estrutura e à rocha de origem. Assim:
a) Quanto à estrutura: rochas foliadas e não-foliadas, sendo as últimas as que têm uma
estrutura maciça, e as outras uma estrutura não maciça;
b) Quanto à rocha de origem: se provêm de rochas ígneas, levam o prefixo orto- (ex.
ortogneisse); se provêm de rochas sedimentares, levam o prefixo para- (ex. paragneisse);

5.4. PRINCIPAIS ROCHAS METAMÓRFICAS


5.4.1. Rochas Foliadas
5.4.1.1. Rochas de Baixo Grau de Metamorfismo
ARDÓSIA e FILITO
A rocha metamórfica foliada de baixo grau de metamorfismo mais conhecida é a ardósia, usada há
séculos como cobertura de casas e como quadros-negros das escolas. Duas propriedades contribuem para isto:
a) é densa, de textura muito fina uniforme; e
b) pode ser clivada em placas de superfícies paralelas lisas (Fig. 4.46.A) (esta propriedade
chama-se clivagem de rocha para a distinguir da clivagem dos minerais).
Esta clivagem da ardósia é devida a uma foliação muito fina desenvolvida durante o metamorfismo
e resulta das placas de mica muito finas dispostas paralelamente entre si (Fig. 4.46.B).
A ardósia é geralmente negra, podendo ser azulada, esverdeada ou acinzentada. A sua
composição mineral não é possível ser vista a olho nu, mas a maioria dos minerais são filossilicatos do
grupo das micas, podendo conter grãos de quartzo, pirite e outros.

78
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 4

B
A
Fig. 4.46. A. Placa de ardósia, vendo-se a superfísice de clivagem lisa;
B. Ardósia vista ao microscópio (notar a disposição paralela dos
grãos.

A ardósia provém do metamorfismo de rochas sedimentares tipo argilito e siltito (ver Tema V) e de
rochas piroclásticas do tipo tufo vulcânico.
Muitas vezes é possível observar na ardósia estruturas das rochas originais.

O Filito é uma rocha semelhante à ardósia, mas com uma granulometria mais grosseira, na
transição entre a ardósia e o xisto (descrito a seguir). Tem a mesma origem da ardósia, mas representa um
grau de metamorfismo um pouco mais elevado.

5.4.1.2. Rochas de Grau de Metamorfismo Intermédio


XISTO
A rocha mais conhecida deste grupo é o xisto. Enquanto que na ardósia (e filito) os minerais não
são observáveis a olho nu, no xisto isto já não acontece. Todos os xistos contêm minerais achatados,
tabulares (micas) ou fibrosos, e o grau em que estes minerais se desenvolveram em orientações paralelas
determina o grau de xistosidade que estas rochas apresentam, o que faz com que os xistos se clivem em
blocos tabulares. Geralmente os xistos apresentam zonas alternadas de composição mineralógica diferente:
uma banda pode conter principalmente minerais em folha (filossilicatos - moscovite, biotite, etc.), e a banda
adjacente pode conter essencialmente quartzo e feldspato.
No caso dos xistos, as estruturas das rochas originais já não são visíveis, tendo sido
completamente adulteradas pelo metamorfismo.
A presença de vários minerais origina a que os xistos possam ser
adjectivados de várias maneiras: xisto moscovítico (ou micaxisto moscovítico), x.
biotítico (ou micaxisto biotítico), micaxisto granatífero (Fig. 4.44.B), etc., etc.

5.4.1.3. Rochas de Alto Grau de Metamorfismo


GNEISSES
A
Rocha de alto grau de metamorfismo (metamorfismo regional), de
aspecto bandado (Fig. 4.47.A), usualmente com bandas claras alternando com
bandas escuras. As bandas claras são constituídas por quartzo e feldspatos,
enquanto que as escuras podem ser constituídas de micas, anfíbolas, piroxenas, e
outros minerais máficos. Assim, em função dos minerais presentes, os gneisses
podem ser moscovíticos, biotíticos, de duas micas, anfibólicos, etc. Muitas vezes
os feldspatos e outros minerais, concentram-se em corpos arredondados ou
elípticos, dando origem ao gneisse olhado (Fig. 4.47.B). B

A textura é geralmente granoblástica, em que o tamanho dos grãos de


quartzo e feldspato são mais ou menos do mesmo tamanho que os seus
equivalentes graníticos. Contudo, podem aparecer fenoblastos, conferindo-lhe
uma textura porfiroblástica.
Durante a recristalização da rocha sob a acção directa de altas
pressões e temperaturas, os minerais foram rearranjados de modo a que a C
Fig. 4.47. A Gneisse normal; B.
maioria dos minerais claros se agruparam em bandas diferentes das dos Gneisse olhado; C. Gneisse de
minerais escuros, dando origem à estrutura de foliação, que se apresenta muitas foliação dobrada
vezes de aspecto dobrado e contorcido (Fig. 4.47.C).

79

Você também pode gostar