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2012 - TCC - Sofia e Tallyta


Sofia Leão

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ESCOLA DE ENGENHARIA CIVIL
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

OTIMIZAÇÃO DE FUNDAÇÕES EM RADIER


ESTAQUEADO NA CIDADE DE GOIÂNIA

SOFIA LEÃO CARVALHO


TALLYTA DA SILVA CURADO

GOIÂNIA
2012
SOFIA LEÃO CARVALHO
TALLYTA DA SILVA CURADO

OTIMIZAÇÃO DE FUNDAÇÕES EM RADIER


ESTAQUEADO NA CIDADE DE GOIÂNIA

Trabalho de conclusão de curso apresentado na Escola de


Engenharia Civil da Universidade Federal de Goiás para
obtenção do título de Engenheiro Civil.

Orientador: Prof. Dr. Maurício Martines Sales.

GOIÂNIA
2012
SOFIA LEÃO CARVALHO
TALLYTA DA SILVA CURADO

OTIMIZAÇÃO DE FUNDAÇÕES EM RADIER ESTAQUEADO NA CIDADE DE


GOIÂNIA

Trabalho de conclusão de curso apresentado a


Escola de Engenharia Civil da Universidade Federal
de Goiás para obtenção do título de Engenheiro
Civil.

Data de aprovação: ____/____/____.

_____________________________________________________
Prof. Dr. Maurício Martines Sales (Presidente)

_____________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Alberto Lauro Vargas (Examinador)

_____________________________________________________
Eng. Civil Márcio Careli Moreira (Examinador)

Atesto que as revisões solicitadas foram feitas:

_____________________________________
Orientador

Em: ____/____/____.
RESUMO

A nova tendência de construções cada vez mais ousadas e verticalizadas impulsionou


a engenharia a revisar e reformular seus métodos e análises, adaptando-os a diferentes
condições, visando economia e melhor desempenho de seus sistemas. Nas últimas décadas,
vários edifícios quebraram recordes de altura, o que se traduz em maiores carregamentos de
superestruturas e fundações cada vez mais solicitadas. Tradicionalmente, as fundações são
classificadas em “rasas” e “profundas” devido ao seu comportamento e aplicação. σos
últimos anos, porém, surgiu uma nova aplicação, denominada “radier estaqueado”, que une os
dois tipos de fundações, utilizando estacas como redutor de recalque diferencial em um
grande bloco que por si só geralmente possui grandes recalques. Além do próprio
carregamento transferido ao solo e do desempenho dessas fundações (sob o ponto de vista de
recalques totais e diferenciais), a otimização do número e posicionamento de estacas tornou-
se importante objeto de estudo no dimensionamento de fundações, visando principalmente
diminuir custos. Esse trabalho aplica os conceitos sobre radier estaqueado usando, como
ferramenta de análise, o programa GARP (POULOS, 1994)com o intuito de otimizar o
posicionamento e número de estacas em um radier aplicado a um estudo de caso na cidade de
Goiânia. Foram obtidos através desse estudo resultados satisfatórios que evidenciam a
possibilidade de redução do número de estacas no radier sem o comprometimento do fator de
segurança e consequentemente uma razoável economia para a obra.

Palavra chave: Radier Estaqueado. Interação solo-estrutura. Previsão de recalque.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1– Critério de danos (modificado de Bjerrum 1963, apud TEIXEIRA e GODOY,
1998 ) ........................................................................................................................................ 15

Figura 2.2– Radier Estaqueado ................................................................................................. 19

Figura 2.3 – Curva carregamento versus recalque de várias estratégias de projeto de radier
estaqueado (modificado de POULOS, 2001) ........................................................................... 20

Figura 2.4 – Fatores de interação utilizados no método de Hain e Lee (modificado HAIN e
LEE, 1978, apud SALES, 2000) .............................................................................................. 25

Figura 3.1– Entrada das coordenadas para formação da malha ............................................... 30

Figura 3.2– Definição da espessura do radier e posicionamento das estacas ........................... 30

Figura 3.3– Entrada das propriedades das estacas .................................................................... 31

Figura 3.4 - Sentido convencional dos momentos (Mundo CNC, acesso 21/04/2012)............ 32

Figura 3.5– Localização do Estudo de Caso (GOOGLE MAPS, acesso 17/04/2012) ............. 33

Figura 3.6– Perspectiva eletrônica do Edifício (TCI CONSTRUTORA, acesso 16/04/2012) 34

Figura 3.7– Divisão da obra em juntas ..................................................................................... 34

Figura 3.8– Malha de elementos finitos gerada pelo Programa GARP ................................... 36

Figura 3.9 – Esquema de carregamento dos pilares no GARP. ................................................ 39

Figura 3.10 – Propriedades do solo e radier ............................................................................. 42

Figura 3.11 – Fluxograma da entrada de dados do programa GARP ....................................... 42

Figura 4.1– Faixa de variação para os recalques e legenda da posição das estacas ................. 47

Figura 4.2– Relação de variação de recalque máximo com diferentes números de estacas..... 52

S.L. Carvalho, T.S. Curado


3
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Figura 4.3– Relação de variação de recalque diferencial com diferentes números de estacas . 52

S.L. Carvalho, T.S. Curado


LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Mudança no sentido dos momentos..................................................................... 32

Tabela 3.2– Fatores de interação  para diferentes tipos de estacas ........................................ 40

Tabela 3.3– Propriedades das diferentes estacas ...................................................................... 40

Tabela 3.4– Relação de Carregamentos dos pilares sobre o radier estaqueado ...................... 41

Tabela 4.1– Resultados de recalques considerando estacas do projeto e desse trabalho ......... 46

Tabela 4.2– Resultados das melhores tentativas de otimização ............................................... 48

Tabela 4.3- Relação de Volume de Concreto por estacas e Comprimento Total de Estacas das
Combinações ............................................................................................................................ 53

Tabela A.1. Valores tabelados utilizados nos cálculos do comprimento útil da estaca ........ ...60

Tabela A.2. Dados da sondagem SP2 e resultados dos cálculos realizados............ ................. 60

S.L. Carvalho, T.S. Curado


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

GARP – Geotechnical Analysis of Raft with Piles

MEC – Método dos Elementos de Contorno

MEF – Método dos Elementos Finitos

SPT – “Standard Penetration Test”

S.L. Carvalho, T.S. Curado


LISTA DE SÍMBOLOS

A Área do Pilar

Ac Área da seção transversal limitada pelo perímetro externo da estaca

AE Área de contato de cada estaca (m²)

AL Área lateral de uma estaca

Ap Área da seção transversal da estaca

AR Área do radier

D Diâmetro da estaca

Ep Módulo de elasticidade do material da estaca

Es Módulo de elasticidade médio do solo

F(z) Função do nível de mobilização do atrito lateral

Fz Força vertical

K Rigidez da estaca

Kp Rigidez do grupo de estacas

Kp0 Rigidez inicial da estaca

Kpr Rigidez do radier estaqueado

Kr Rigidez do radier sozinho

k' Fator característico do solo

L Comprimento da estaca

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Mx Momento em relação ao eixo x

My Momento em relação ao eixo y

N Quantidade mínima de estacas

Média de 3 valores de NSPT, 1 m acima e abaixo da ponta e logo abaixo da ponta da


σ’
estaca

Média dos valores de NSPT ao longo da estaca, não considerando os valores de 0-1 m
N
e no último metro

NSPT Número de golpes na sondagem a percussão (SPT)

P Carga atuante na cabeça da estaca

PL Capacidade de carga da lateral da estaca

PP Capacidade de carga da ponta da estaca

PR Capacidade de suporte do radier

Pu Carga última da estaca

Rf Fator hiperbólico de variação da rigidez da estaca

rl Resistência unitária lateral

rp Resistência unitária de ponta

S Espaçamento entre as estacas

a Aderência estaca/solo

c Coesão do solo

fck Resistência característica do concreto

fs(z) Tensão de mobilização da estaca

L Distância entre os dois elementos

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

z Profundidade

 Fator de interação
cp  Fator de interação radier-estaca

 Variável tabelada devido ao tipo de execução da fundação


 Variável tabelada devido ao tipo de execução da fundação
 Deslocamento relativo estaca/solo
ult Deslocamento relativo estaca/solo para mobilização máxima do atrito lateral
 Recalque absoluto de um único elemento de fundação
e Recalque da ponta da estaca para a carga aplicada “P”
i Recalque inicial ou imediato
p  Recalque por adensamento primário
r  Recalque relativo de um único elemento de fundação
s  Recalque por adensamento secundário
 Resistência à compressão da estaca
n  Tensão normal à superfície da estaca
proj Tensão de projeto
solo Resistência a compressão do solo
z Tensão normal de cada pilar
 Resistência ao cisalhamento da estaca
(z) Tensão cisalhante máxima na profundidade “z”
* Ângulo de atrito estaca/solo

S.L. Carvalho, T.S. Curado


SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11

CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................... 13

2.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS .............................................................................. 13

2.1.1 SISTEMAS DE FUNDAÇÃO.......................................................................... 13

2.1.2 RECALQUE EM FUNDAÇÕES .................................................................... 13

2.1.3 MOBILIZAÇÃO DO ATRITO LATERAL NAS ESTACAS ...................... 15

2.1.4 RIGIDEZ DE UMA ESTACA ........................................................................ 17

2.1.5 RADIER ESTAQUEADO ............................................................................... 18

2.2 MÉTODOS DE ANÁLISE ...................................................................................... 21

2.2.1 MÉTODOS DOS ELEMENTOS DE CONTORNO ..................................... 22

2.2.2 MÉTODOS DOS ELEMENTOS FINITOS ................................................... 23

2.2.3 COMBINAÇÃO DOS DOIS MÉTODOS ...................................................... 24

2.3 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO ............................................................................. 26

2.3.1 WESTEND 1 TOWER, FRANKFURT .......................................................... 26

2.3.2 PRÉDIOS RESIDENCIAIS NA SUÉCIA...................................................... 26

CAPÍTULO 3 METODOLOGIA ......................................................................................... 28

3.1 DESCRIÇÃO DO GARP ........................................................................................ 28

3.2 DESCRIÇÃO DO ESTUDO DE CASO ................................................................ 33

3.3 CONSIDERAÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DO TRABALHO...................... 35

CAPÍTULO 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................................. 44

CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES ................................................................. 54

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 56

ANEXOS ................................................................................................................................. 58

S.L. Carvalho, T.S. Curado


10
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

APÊNDICES ........................................................................................................................... 59

S.L. Carvalho, T.S. Curado


CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO

Em todo o mundo percebe-se uma forte tendência em verticalizar mais as construções.


Com uma maior quantidade de pavimentos e diante do aumento de carregamentos combinado
à restrição das áreas que abrigam uma construção, surge a necessidade de maiores cuidados ao
se projetar fundações tão solicitadas.

Além disso, a capacidade de carga da fundação não é o único parâmetro indicativo do


bom comportamento da fundação. É necessário também verificar o seu desempenho quanto ao
recalque, principalmente o recalque diferencial.

Considerando esses fatores, a combinação de dois tipos de fundações representou uma


melhoria no desempenho, através do uso de estacas sob radier e considerando o contato do
bloco no solo no grupo de estacas. Esse tipo de fundação vem sendo denominada “radier
estaqueado”. As estacas são bons elementos redutores de recalque e aproveitando essa
característica em associação com o radier, um elemento superficial, alguns métodos vêm
sendo desenvolvidos.

Vários métodos foram desenvolvidos ao longo dos anos, dentre eles métodos de
cálculo detalhados. A combinação de dois desses métodos foi utilizada no programa GARP,
Geotechnical Analysis of Raft with Piles (Análise Geotécnica de Radier Estaqueado)
(POULOS, 1994) que faz a consideração de estacas totalmente mobilizadas quando há um
“radier estaqueado”. Através dessa metodologia, realizou-se análise do estudo de caso em
radier estaqueado recentemente executado em Goiânia com o objetivo de demonstrar que a
otimização do número de estacas nesse projeto reduziria custos, ainda conseguindo atender os
requisitos de segurança da fundação.

O objetivo deste trabalho é demonstrar que através da metodologia de otimização do


número de estacas considerando a mobilização total das estacas num radier é possível obter
resultados satisfatórios comparado a um projeto realizado convencionalmente sem o uso de
otimização. Tais resultados são demonstrados na diminuição de custos no processo executivo
da fundação e na melhoria do desempenho quanto ao recalque diferencial.

Esse trabalho de conclusão de curso foi estruturado da seguinte forma:

S.L. Carvalho, T.S. Curado


12
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Capítulo 1 – Introdução: Realiza-se a apresentação do tema a ser abordado no


trabalho, os objetivos a serem alcançados e a justificativa do porque tais objetivos levaram à
produção desse trabalho.

Capítulo 2 – Revisão bibliográfica: Neste capítulo são apresentados os


esclarecimentos do tipo de fundação abordada nesse trabalho e também onde esse tipo de
fundação foi utilizado, apresentando exemplos de metodologias usadas e suas aplicações.

Capítulo 3 – Metodologia: Apresentam-se as características e informações sobre o


estudo de caso, bem como a análise da metodologia utilizada pelo programa utilizado e as
considerações tomadas para a realização do trabalho.

Capítulo 4 – Análise de resultados: Neste capítulo, são descritos os resultados


alcançados de acordo com os posicionamentos de estacas realizados onde é feita uma análise
de recalques de cada posicionamento, comparando os resultados numericamente e através de
gráficos e figuras.

Capítulo 5 – Conclusões e sugestões: Finalizando esse trabalho, são apresentadas as


conclusões obtidas com o desenvolvimento do trabalho de acordo com o proposto pelos
objetivos. A partir dessas conclusões, foram realizadas sugestões para a realização de projetos
levando em consideração a otimização de estacas em busca de economia e melhor
desempenho da fundação estudada.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

As estacas são elementos aplicados em engenharia desde a idade clássica com o uso de
estacas de madeira cravadas compactando terrenos fracos (NAPOLES NETO, 1998). Seu uso,
por muitos anos, foi baseado em experiência e observação. A publicação intitulada Piles and
Pile Driving publicada em 1893 por Wellington pela Engineering News é um dos registros
mais antigos que propôs uma formulação teórica. Desde então avaliações teóricas sobre a
performance empírica e experimental foram formuladas (POULOS e DAVIS, 1980).

Sabe-se que a transferência de carga de fundações profundas como as estacas é bem


distinta do comportamento de fundações rasas e até meados da década de 70 não se ousava
misturar fundações diferentes com comportamentos distintos sob um mesmo elemento de
fundação, o que ainda é seguido por boa parte dos projetistas.

A partir do final da década de 60 surgiram os primeiros estudos sobre o


comportamento da relação entre os dois tipos de fundação. Esses estudos partiram do
interesse em conhecer o desempenho do bloco em carga-recalque em relação ao grupo de
estacas e ao solo, o que até então era desprezado. A análise de estacas isoladas e grupos de
estacas compressíveis através do emprego da teoria da elasticidade tornou-se um campo
atrativo e contribuiu para evolução do estudo que se chama hoje de “radier estaqueado”.

2.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1.1 Sistemas de Fundação

A fundação, também chamada de infraestrutura, é todo o conjunto estrutural envolto


pelo solo que transfere todo carregamento da superestrutura ao solo. τ “sistema de fundação”,
portanto, é o conjunto de elementos estruturais e também o solo em questão. A resposta da
análise carga-recalque é função de todo o sistema de elementos estruturais e solo.

2.1.2 Recalque em Fundações

A aplicação de carregamento numa fundação implica inevitavelmente no aparecimento


de recalque, mesmo que ele seja da ordem de poucos milímetros. Dependendo da ocasião e

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

condições o recalque também pode chegar à ordem de milhares de milímetros, com


comprometimento relevante para a supraestrutura e os outros sistemas de uma edificação.

O recalque é definido como o deslocamento vertical para baixo de uma fundação


devido à deformação do solo ou também à compressão elástica da fundação. Três tipos de
recalques que podem ser analisados: recalque absoluto () de um único elemento de fundação,
relativo (r), que é a diferença entre dois elementos, e angular (r/l), onde l é a distância entre
os dois elementos (CINTRA, AOKI e ALBIERO, 2003).

O recalque absoluto é composto por três parcelas:

  i   p  s (2.1)

Onde:

 = recalque absoluto;

i = recalque inicial ou imediato;

p = recalque por adensamento primário;

s = recalque por adensamento secundário.

τ “recalque inicial” é o recalque que acontece assim que o carregamento é aplicado, e


ocorre principalmente em areias e solos não saturados. Em argilas saturadas ele é a
deformação a volume constante. τ “recalque por adensamento primário”, segundo Alonso
(1991), é causado pela expulsão de água e ar dos vazios do solo, ocorrendo uma redução de
volume e consequentemente a diminuição do índice de vazios. Ele ocorre principalmente em
solos argilosos de baixa permeabilidade, quando a tensão é superior à pressão de pré-
adensamento. Por último, o “recalque por adensamento secundário” é o rearranjo de partículas
por tensões de cisalhamento, logo depois que a poro-pressão foi dissipada.

A diferença entre os recalques absolutos dá origem ao recalque diferencial que é a


diferença entre esses recalques. Esse segundo, no entanto, é o mais preocupante do ponto de
vista da segurança, desempenho e funcionalidade do sistema.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


15
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Teixeira e Godoy (1998) citam alguns valores para recalques diferenciais como
critério de danos em edificações os quais estão mostrados na Erro! Fonte de referência não
encontrada.. Segundo eles, dentre os valores apresentados, destacam-se alguns, e dentre eles
o limite seguro para se evitar danos em paredes de edifícios é de 1/500.

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000

Limite para o qual deve-se temer


problemas com máquinas sensíveis
a recalque

Limite de perigo para estruturas


aporticadas com diagonais
Limite seguro para edifícios para o qual
não é permitido o aparecimento de
fissuras
Limite onde deve-se esperar a primeira trinca em parede de alvenaria
Limite onde são esperados problemas com pontes rolantes

Limite onde o desaprumo de edifícios


altos pode se tornar visível
Trincas Consideráveis em paredes de alvenaria de tijolos
Limite seguro para paredes flex[iveis de alvenaria com H/L<1/4
Limite onde deve-se temer danos na estrutura de edifícios comuns.

Figura 2.1– Critério de danos (modificado de Bjerrum1 1963, apud TEIXEIRA e GODOY, 1998 )

2.1.3 Mobilização do atrito lateral nas estacas

Parte do carregamento transmitido às estacas é absorvida pela ponta e a maior parte


desse carregamento é absorvida pela área lateral da estaca. Essa proporção depende de vários
fatores, dentre eles as propriedades das camadas de solo, a rigidez relativa entre as estacas e o
comprimento da estaca, por exemplo (POULOS e DAVIS, 1980) .

A parcela de resistência ao cisalhamento é expressa pela Equação 2.2:

  a   n  tg (*) (2.2)

1
BJERRUM, L. (1963) – Allowable settlement of structures, Proceedings European Conference on Soil
Mechanics and Foundation Engineering, Wiesbaden, Germany, Vol III, pg. 135-137.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


16
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Onde:

n = tensão normal à superfície da estaca;

a = aderência estaca/solo ( = c, onde “c” é a coesão do solo e “” é um fator


adimensional que expressa a parcela da coesão considerada como aderência na superfície da
estaca);

* = ângulo de atrito estaca/solo.

Os parâmetros dessa expressão são típicos da relação entre solo e estaca, bem como a
relação de resistência ao cisalhamento na face da estaca que dependerá das relações de tensão
atuante no solo, ou seja, uma estaca é influenciada por um grupo de estacas.

A Equação 2.2 expressa a resistência máxima cisalhante que pode ser mobilizada na
interface dos dois materiais (solo/estaca). A mobilização da estaca, porém, ocorre quando há
um pequeno deslocamento entre estaca e solo, representada pela Equação 2.3, seguinte:

f s ( z)  F ( z)   ( z) (2.3)

Onde:

fs(z) = tensão de mobilização da estaca;

z = a profundidade em questão;

F(z) = função do nível de mobilização do atrito lateral (%);

(z) = tensão cisalhante máxima na profundidade “z”.

Quanto maior a resistência residual do solo em questão, maior será a tensão de atrito
lateral fs. A função F(z) é expressa pela Equação 2.4:


 , se    ult
F ( z)   ult

 1, se    ult
(2.4)

Onde:

 = deslocamento relativo estaca/solo;


S.L. Carvalho, T.S. Curado
17
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

ult = deslocamento relativo estaca/solo para mobilização máxima do atrito lateral.

2.1.4 Rigidez de uma estaca

Rigidez é uma relação entre força e deslocamento. A rigidez de uma estaca é dada pela
Equação 2.5 a seguir:

K
e
P
(2.5)

Onde:

K = rigidez da estaca;

P = carga atuante na cabeça da estaca;

e= recalque da ponta da estaca para a carga aplicada “P”.

Ao traçar o gráfico de carga x recalque, percebe-se que à medida em que aumenta o


valor de carregamento na estaca a relação não é mais linear, ou seja, o valor de rigidez passa a
não ser mais constante. Para baixos carregamentos existe uma rigidez inicial (Kp0),
representado pela tangente inicial à curva. Em seguida, define-se um novo valor (Kp1), e
depois outro valor (Kp2), assim sucessivamente, representados pelas secantes à curva.

Para tanto, Poulos2 (1994) citado por Sales (2000) sugeriu uma nova equação, que
melhor representa esse comportamento, adaptada de modelos hiperbólicos, apresentada pela
Equação 2.6 a seguir.

 P 
K  K p 0 1  Rf 
 Pu 
(2.6)

Onde:

Kp0 = rigidez inicial da estaca;

P = carga atuante na cabeça da estaca;

P u = carga última da estaca;

2
POULOS, H.G. (1994). An approximate numerical analysis of pile-raft interaction. Int. Journal for Num. &
Anal. Meth, in Geomechanics, 18: 73-92.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


18
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Rf = fator hiperbólico de variação da rigidez da estaca.

Nesse trabalho será abordada a “rigidez relativa” de uma estaca K (POULOS e


DAVIS, 1980) que indica o grau de rigidez de uma estaca em relação ao solo em questão,
definido pela Equação (2.7).

K
E p Ap
(2.7)
E s Ac

Onde:

Ep = módulo de elasticidade do material da estaca;

Es = módulo de elasticidade médio do solo;

Ap = área da seção transversal da estaca;

Ac = área da seção transversal limitada pelo perímetro externo da estaca.

Se a seção da estaca for cheia, Ap = Ac, portanto:

K
Ep
(2.8)
Es

2.1.5 Radier Estaqueado

As expressões “sapata estaqueada” e “radier estaqueado” são designadas aos


elementos de fundação que associam um elemento de fundação superficial a uma ou mais
estacas. Essa associação é justificada porque ambas participam no desempenho da fundação,
tanto em recalque como em capacidade de carga.

Quando uma única estaca está associada ao elemento superficial, recebendo um único
pilar, esse conjunto é denominado “sapata estaqueada”. Se há, porém, mais de uma estaca
ligada ao elemento superficial que recebe mais de um pilar, ou todos os pilares da edificação,
essa associação passa a ser chamada de “radier estaqueado”., mostrado pela Figura 2.1.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


19
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Radier

Radier
Estacas Estaqueado

Figura 2.2– Radier Estaqueado

Ao se referir a “grupo de estacas” ou “bloco de estacas”, relaciona-se somente ao


grupo de estacas responsáveis por receber e transferir todo o carregamento ao solo, como
assim é comumente aplicado. O bloco nesse caso seria somente responsável por distribuir o
carregamento a essas estacas.

Tradicionalmente as estacas são conhecidas pela sua boa capacidade em receber


cargas e pelo seu bom desempenho com pequenos recalques. Por essa razão elas são
consideradas pelos projetistas no dimensionamento de fundações como os únicos elementos
que absorvem e transferem o carregamento ao solo. Os blocos, utilizados em conjunto ao
grupo de estacas, são simplesmente considerados na distribuição do carregamento para as
estacas.

O radier estaqueado tem-se difundido, pois analisa o comportamento do conjunto


bloco, estaca e solo como um todo. Os métodos de análise tem considerado a interação
bloco/solo como transferência de carregamento, possibilitando inclusive a otimização no
número e posicionamento das estacas em conjunto, já consideradas elementos redutores de
recalque.

Segundo Randolph3 (1994), citado por Poulos (2001), existem três filosofias distintas
para o dimensionamento de radier estaqueado:

A abordagem convencional, em que as estacas são dimensionadas como um grupo a


absorver a maior parte do carregamento, enquanto permite que o radier também contribua
com a mobilização de carga, principalmente para capacidade última de carga.

O método que aproveita grande parte da capacidade de carga da estaca, chamado


“Creep piling”, dimensiona a fundação para que o sistema atinja uma deformação
considerável, entre 70 e 80%, suficiente para permitir que o radier trabalhe, porém abaixo da

3
RANDOLPH, M.F. (1994). Desing methods for pile groups and piled rafts: state-of-art report, Proc 13th Int,
Conf. Soil Mech. Found. Engng, New Delhi 5, 61-82.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


20
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

tensão de pré-adensamento do solo. Alguns projetistas chegam a operar, de forma mais


radical, utilizando creep piling, em que as estacas operam em até 100% de sua capacidade
máxima de carregamento.

O controle do recalque diferencial, em que as estacas são localizadas estrategicamente


a fim de reduzir o recalque diferencial do que reduzir a média do recalque total
substancialmente.

A Figura 2.3 ilustra o comportamento do radier estaqueado de diferentes tipos de


combinação entre os dois elementos da fundação diante do carregamento e recalque.

1 Legenda:
•Curva 0: somente o radier
2 Radier e Estacas ( recalque excessivo);
mobilizadas
•Curva 1: radier
Carregamento

Estacas
mobilizadas estaqueado com Fator de
Segurança convencional;
3
•Curva 2 : Radier com
0 Fator de Segurança baixo
para as estacas;
•Curva 3 : Radier com
carga totalmente

Carga de mobilizada.
Projeto

Recalque
Recalque
Admissível

Figura 2.3 – Curva carregamento versus recalque de várias estratégias de projeto de radier estaqueado
(modificado de POULOS, 2001)

O gráfico representa os diferentes comportamentos entre as curvas 1 e 0, onde em 1, é


utilizado o projeto tradicional, onde as estacas trabalham com alto fator de segurança, com
valores baixos de recalque e no outro extremo, 0, representa o radier trabalhando sozinho
capaz de suportar o carregamento mas permitindo elevados recalques. Entre eles estão os

S.L. Carvalho, T.S. Curado


21
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

outros projetos, 2 e 3 que variam número e posicionamento de estacas no radier. Em 2,


provavelmente, as estacas mobilizam mais carga que no caso 1 e com um fator de segurança
menor, e permitem que o radier também possa mobilizar carga, de acordo com o gráfico. Já
em 3, a estratégia usada foi a de reduzir ainda mais o fator de segurança das estacas,
utilizando a capacidade máxima delas, respeitando contudo o critério de recalque aceitável.

2.2 MÉTODOS DE ANÁLISE

Alguns métodos de análise são usados para a previsão do recalque em radier


estaqueado, unindo os vários fatores envolvidos na análise desse tipo de fundação. Segundo
Poulos4 (1994, apud SALES 2000) o processo racional do projeto envolve essencialmente
dois estágios:

A etapa “preliminar” que envolve as primeiras estimativas do problema, como


dimensão dos elementos e número inicial de estacas a serem usadas. Nessa etapa são
utilizados os Métodos Simplificados, que envolvem cálculos simples.

A etapa de “detalhamento do projeto” quando se busca desenvolver as dimensões e


posicionamentos ótimos da fundação, analisando-a em termos de recalque e esforços atuantes.
Nessa etapa é necessário o uso de ferramentas computacionais para desenvolver e solucionar
o problema.

Na primeira etapa alguns métodos utilizados são Correlações Empíricas e Métodos


Equivalentes de fundações e ainda baseados na teoria da Elasticidade, o Método de Randolph
(POULOS, 2001). Nele, Randolph estima a rigidez do conjunto pela Equação 2.9 a seguir:.

K p  Kr 1   cp 
K pr 
1   cp2 Kr K p
(2.9)

Onde:

Kpr = rigidez do radier estaqueado;

Kp = rigidez do grupo de estacas;

4
POULOS, H.G (1994). Pile drafts in swelling or consolidating soils. Journal of Geot. Eng. Div., ASCE, 119(2):
374-380

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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Kr = rigidez do radier sozinho;

cp = fator de interação radier-estaca;

Na segunda etapa do desenvolvimento deste trabalho, estão relacionadas as simulações


numéricas através da combinação de dois métodos detalhados: o Método dos Elementos
Finitos (MEF) e o Método dos Elementos de Contorno (MEC).

A simulação numérica tem ganhado espaço e tem se expandido à medida que há um


desenvolvimento computacional rápido. Processadores mais rápidos e com maiores
capacidades de memória permitem, por exemplo, soluções de problemas complexos que
combinam diferentes características de solos, estrutura e carregamento.

2.2.1 Métodos dos Elementos de Contorno

O Método dos Elementos de Contorno (MEC) é um método computacional de


soluções de sistemas de equações integrais. Neste método somente o contorno do problema
necessita ser discretizado e somente posteriormente são definidos os valores no interior do
domínio em questão. Geralmente o solo nesse tipo de análise é considerado de maneira
aproximada, no que se diz respeito a sua heterogeneidade, não-linearidade e contato com as
estacas. Além disso, o radier é considerado como rígido, o que não condiz normalmente com
a situação real (SALES, 2000).

Sales (2000) ressalta dois trabalhos que utilizaram o MEC. O primeiro deles ainda é
utilizado como referência para novos métodos que surgem. Trata-se do trabalho de Butterfield
e Banerjee5 (1971, apud SALES, 2000). Eles fizeram vários trabalhos considerando o bloco
rígido sob um grupo de estacas em contato com o solo. Nesses estudos os blocos tinham a
função de ligação entre as estacas que possuíam um espaçamento no valor de três vezes o
diâmetro das estacas. A conclusão desses trabalhos foi a de que os blocos pouco
acrescentavam em rigidez ao conjunto, reduzindo pouco os recalques, em torno de 5 e 15%.

O segundo trabalho é de Kuwabara6 (1989, apud SALES, 2000) que desenvolveu um


programa considerando radier rígido e meio semi-elástico. Alguns valores relativos ao

5
BUTTERFIELD, R.;BANERJEE,P.K. The problem of pile group - pile cap interaction. Geotechnique, v. 21,
n.1, p. 43-60,1971.
6
KUWABARA, F. An elastic analysis for piled raft foundations in a homogeneous soil. Soils and Foundations,
v. 29, n.1, p. 89-92, 1989.

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23
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

diâmetro (D) usados por ele num radier com 9 estacas foram espaçamento relativo S/D=5,
comprimento relativo L/D=25 e a rigidez relativa estaca/solo de K=Ep/Es=1000. Em suas
análises paramétricas ele chegou a algumas observações como:

- a rigidez da fundação, relação carga/recalque, é levemente maior para um radier


estaqueado quando comparado a um grupo de estacas sem o contato do bloco. Esta
diferença só aumenta para grandes valores de S/D ou para estacas muito curtas
(baixo valor de L/D);

- a parcela de recalque por adensamento (estimado elasticamente) é maior em um


radier estaqueado do que no grupo de estacas;

- para estacas mais compressíveis, ou seja, baixos valores de “k”, o radier absorve
mais carga, entretanto a variação é pequena para valores de K acima de 1000;

- estacas com alta compressibilidade, em relação ao solo, implicam na diminuição da


parcela de carga que chega a ponta das estacas;

- a presença do radier reduz consideravelmente a transferência de carga pelo fuste no


terço superior das estacas, mas pouco altera no restante. Isto justificaria a redução da
rigidez da estaca, pois para um mesmo nível de deslocamento a estaca sob o radier
mobiliza menos carga do que quando no grupo livre;

- as tensões no solo interior ao posicionamento das estacas são baixas e


relativamente homogêneas. Já as tensões no solo exterior às estacas (borda do
radier) são grandes e variam bruscamente. (SALES, 2000,p.48-49).

2.2.2 Métodos dos Elementos Finitos

Outro método que utiliza a análise computacional para seu desenvolvimento é o


Método dos Elementos Finitos (MEF). Trata-se de um método mais sofisticado que vem
sendo cada vez mais utilizado pelos pesquisadores na análise de radier estaqueado, pois
permite a avaliação de todos os elementos constituintes da estrutura analisados em conjunto
além de permitir que algumas características sejam incorporadas, como a não linearidade do
solo. Apesar de sua grande vantagem, é um método que exige mais do computador que o
processa, podendo levar bastante tempo para a execução do programa.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


24
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Devido à dificuldade de processamento utilizando esse método, vários autores


publicaram trabalhos com simplificações restringindo geometricamente a análise, mas
também impossibilitando a obtenção de determinados parâmetros, como o trabalho de Presley
e Poulos7(1986, apud SALES, 2000), que simplificou um radier estaqueado quadrado por
círculos concêntricos de estacas equivalentes.

O primeiro trabalho que considerou a análise completa tridimensional utilizando MEF


foi Ottaviani8 (1975, apud SALES, 2000). Ele utilizou um modelo elástico-linear para o solo
em um grupo de estacas, com e sem o contato solo/radier.

Em sua análise ele concluiu que ao considerar o radier em contato com o solo, não só
está contribuindo para diminuir as tensões cisalhantes no solo na parte superior das estacas,
como aumentando as tensões verticais no solo na ponta das estacas.

2.2.3 Combinação dos dois métodos

A combinação dos métodos numéricos citados anteriormente passou a ser utilizada


como alternativa para suprir as limitações um do outro e criar ferramentas matemáticas que
sejam eficientes na análise de radier estaqueado.

Os pioneiros nesse trabalho foram Hain e Lee9 (1978, apud SALES 2000) que
trabalharam um programa que analisa o radier em elementos de placa, considerando sua
rigidez e o conjunto estaca/solo foi analisado pelo MEC. Para isso eles consideraram as
interações representadas na Figura 2.4.

Os principais comentários que os autores apontaram foram:

-a inclusão de poucas estacas sob o radier em geral produz uma importante redução
do recalque do conjunto;

- quanto mais compressível for o grupo de estacas, menor será a carga absorvida por
este grupo;

7
PRESLEY, J.S e POULOS, H.G. (1986). Finite Element Analysis of Mechanism of Pil Group Behaviour.
Research Report R518, University of Sydney.
8
OTTAVIANI, M. (1975). Three-dimensional finite element analysis of vertically loaded pile groups.
Geotechinique, 25(2): 159-174.
9
HAIN, S.J. e LEE, I.K. (1978). The analysis of flexible raft-pile systems. Geotechnique, 28(1):65-83.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

- para uma dada fundação, maior será a carga absorvida pelo grupo de estacas
quanto mais flexível for o radier;

- quanto mais rígido o radier, maior o momento gerado e maior a desigualdade de


cargas entre as estacas (SALES, 2000, p.52-53).

a) Interação estaca-estaca b) Interação estaca-superfície do solo

d) Interação carga superficial-superfície do


c) Interação carga superficial-estaca
solo

Figura 2.4 – Fatores de interação utilizados no método de Hain e Lee (modificado HAIN e LEE, 1978, apud
SALES, 2000)

No programa GARP, desenvolvido por (POULOS, 1994), foram considerados os tipos


de interação mostrados na Figura 2.4. O programa considerava as estacas como molas
equivalentes e o radier analisado primeiramente pelo método das diferenças finitas, e
posteriormente o programa, aperfeiçoado por Small e Poulos10 (1998, apud Sales, 2000,
passou a analisar o radier como elementos de placa através do MEF.

10
SMALL, J.C. e POULOS, H.G. (1998). User’s Manual of GARP6; Centre for Geotechnical Researches. Univ.
of Sydney. Australia.

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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

2.3 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

Alguns exemplos de aplicação foram descritos por Poulos ( 2001) e dentre eles serão
citados a seguir: Westend 1 Tower, em Frankfurt e dois prédios residenciais na Suécia.

2.3.1 Westend 1 Tower, Frankfurt

A construção Westend 1 Tower localizada em Frankfurt, na Alemanha é uma torre


com 208m de altura executada sobre radier estaqueado com 40 estacas de 30 metros de
comprimento com diâmetro de 1,3 m e radier com espessura de 4,5m variando até 3 metros
nas bordas. Apesar de não estarem disponíveis as sondagens no local, sabe-se que a região em
que se localiza a construção é de depósito de grande profundidade de argila rija.

A análise do conjunto foi feita comparando 7 diferentes métodos de análises, dentre


eles: uma análise pelo programa GARP (POULOS, 1994) (e um método de cálculo feito a
mão por Poulos e Davis (1980).

Os resultados obtidos por todos os métodos de análises realizadas foram aceitáveis e


muito semelhante entre si. A combinação de esforços resultou no total de 968MN, equivalente
a 323kPa aplicados na fundação. O máximo recalque encontrado foi de 105 mm, onde as
estacas receberam por volta de 50% de todo o carregamento, alguns métodos ultrapassando
essa proporção, mas todos prevendo estimativas aceitáveis. As estacas mais carregadas
mobilizaram quase toda sua capacidade portante, e para as estacas menos carregadas, foi
previsto mais carga do que realmente foi medido nelas.

O caso demonstrou que o uso de toda a capacidade das estacas apresentou resultados
satisfatórios, e as análises foram bastante razoáveis se comparadas ao observado em obra.

2.3.2 Prédios Residenciais na Suécia

Hansbo11 (1993, apud POULOS, 2001) analisou o caso onde foi possível comparar
duas construções similares. Uma utilizou o método tradicional para cálculo de radier
estaqueado, e outra utilizou fator de segurança menor para as estacas adotando o conceito de
atingir o valor máximo próximo da capacidade de carga última em cada uma das estacas. Em

11
HANSBO, S. (1993). Interaction problems related to the installation of pile groups. Proceedings of the
seminar on deep foundations on bored and auger piles, Ghent, pp. 59-66.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

um prédio usou 211 estacas com 28 metros de comprimento e no segundo 104 com 26 metros
de comprimento. Apesar da quantidade de estacas do primeiro exemplo ser aproximadamente
o dobro de estacas do segundo, o segundo não recalcou mais que o primeiro, na verdade até
menos. Esse estudo de caso demonstra claramente que o melhor aproveitamento da
capacidade da fundação não altera o bom desempenho do conjunto.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


CAPÍTULO 3 METODOLOGIA

O estudo de caso deste trabalho foi um projeto de fundações em radier estaqueado de


uma obra realizada na cidade de Goiânia. A partir dele foi realizada a análise do conjunto da
fundação em diversas tentativas a fim de melhorar seu desempenho em recalque otimizando o
posicionamento das estacas no radier. Para a realização dessas tentativas, foi usado o
programa GARP (POULOS, 1994) que simula o comportamento que a fundação em radier
estaqueado terá através de métodos híbridos de análise numérica. Nele foram avaliados os
recalques totais e diferenciais máximos em cada uma das tentativas.

Neste capítulo são apresentados o funcionamento e parâmetros do programa GARP, as


características do estudo de caso analisado e em seguida são explicadas todas as
considerações utilizadas para a execução deste trabalho.

3.1 DESCRIÇÃO DO GARP

12
Para a realização do trabalho foi utilizado o programa GARP, em sua versão 8 (
2007, apud DAS CHAGAS E LÓPEZ). O programa adota uma metodologia híbrida, com
base no MEF (Método dos Elementos Finitos) para a realização da análise do radier e as
estacas são representadas por molas equivalentes com as interações envolvidas como estaca-
estaca, estaca-solo e solo-estaca baseado no MEC (Método dos Elementos de Contorno), que
se baseia na teoria da elasticidade.

O programa GARP considera para a análise do radier estaqueado as seguintes


condições:

• Heterogeneidade do solo, considerando camadas estratificadas como entrada de


dados;

• Limite de tensão (compressão ou tração) no solo sob o radier;

12
SMALL, J.C.; POULOS, H.G. A method of analysis of pile raft. In: 10th AUSTRALIA NEW ZEALAND
CONFERENCE ON GEOMECHANICS, 2007, Brisbane, Queensland, Australia. Proceedings… Red Hill,
Queensland: Carillon Conference Management, 2007. v. 2, p 550-555.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

• Estacas com resposta não-linear e limite de capacidade de carga para compressão e


tração;

• Estacas com diferentes propriedades mecânicas dentro do mesmo problema, tais


como diâmetro, rigidez, comprimento, limites de tensão, comportamento não linear,
etc.;

• Possibilidade de aplicação de cargas uniformemente distribuídas, concentradas


verticais e momentos nas duas direções pertencentes ao plano do radier;

• Imposição de pré-deformações no solo para simular efeitos de consolidação ou


expansão;

• Radier com formato ou altura variáveis, necessitando apenas de uma adaptação ao


formato da malha de elementos finitos. (LIMA, 2007, p. 43).

Segundo Souza (2010), para a realização da análise das estacas é feita uma
simplificação na qual cada estaca é modelada por uma rigidez equivalente obtida por métodos
ou programas como o DEFPIG (POULOS e DAVIS, 1980), baseado no MEC, e que depois
deve ser informada no programa GARP. Ao se fazer essa simplificação, é necessário
considerar fatores de interação que também podem ser obtidos pelo programa DEFPIG. Tais
fatores representam a influência da proximidade entre duas estacas ou entre uma estaca e um
elemento do radier.

Para se utilizar o GARP, inicialmente é necessário criar uma malha, baseando-se na


planta de locação da fundação e dos pilares referentes ao radier estaqueado. São fornecidas ao
programa, coordenadas em x e em y, como mostrado na Figura 3.1, que auxiliarão,
posteriormente, a locação das estacas e dos pilares

Dessas coordenadas são formados inúmeros elementos retangulares e cada um deles


possui oito nós, sendo quatro nas extremidades e quatro intermediários. A locação do centro
das estacas deve ser feita aplicada nos nós, e o carregamento distribuído tem seus vértices
definidos nos nós das extremidades ou intermediários. Com a entrada das coordenadas é
necessário definir os limites do radier para assim gerar a malha e definir a altura do bloco,
como pode ser visto na Figura 3.2

S.L. Carvalho, T.S. Curado


30
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

.
Figura 3.1– Entrada das coordenadas para formação da malha

Figura 3.2– Definição da espessura do radier e posicionamento das estacas

Dentre as propriedades do radier estão o coeficiente de Poisson e o módulo de


elasticidade que dependem do tipo de concreto utilizado. Já em relação às propriedades do

S.L. Carvalho, T.S. Curado


31
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

solo são necessárias a inserção dos dados de resistência à compressão do solo e a quantidade
de camadas em que o solo foi dividido. Para cada camada, devem-se fornecer o valor da
espessura, o número de subcamadas consideradas dentro de cada uma delas, o módulo de
elasticidade e coeficiente de Poisson.

Dependendo do projeto, diferentes tipos de estacas podem ser considerados. Para cada
uma delas devem ser fornecidos ao programa o comprimento, diâmetro, limites de
compressão e de tração, rigidez e os fatores de interação α obtidos pelo programa DEFPIG.
Esse programa considera o solo como um meio contínuo (DAS CHAGAS; LÓPEZ, 2011).
Depois de determinadas as propriedades das estacas como mostra a Figura 3.3, deve locá-las
manualmente na malha gerada anteriormente.

Figura 3.3– Entrada das propriedades das estacas

Definidas as propriedades e gerada a malha, os carregamentos são aplicados. O


carregamento vertical pode ser aplicado de forma distribuída ou pontual, lembrando que o nó
desejado para aplicação deve ser previamente disponibilizado pelo usuário na entrada das
coordenadas. Eles são aplicados diretamente na malha do radier.

O mesmo ocorre para aplicação dos momentos em cada pilar. O momento deve ser
aplicado nos nós, e dependendo da escolha do usuário, ele pode ser aplicado de maneira
distribuída se aproximando da realidade do contato do pilar ou de maneira concentrada.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

É importante ressaltar que o sistema cartesiano de aplicação de carregamento do


programa é diferente do convencionalmente usado e conhecido como “regra da mão direita”
mostrada na Figura 3.4. Por isso, é necessária uma mudança de sentidos nos momentos dados
na combinação de carregamentos do projeto estrutural, como mostrado na Tabela 3.1, para a
entrada de dados dos momentos no programa GARP.

Tabela 3.1 – Mudança no sentido dos momentos

Convencional GARP

Mx positivo My negativo
My positivo Mx positivo

Figura 3.4 - Sentido convencional dos momentos (Mundo CNC, acesso 21/04/2012)

Após a entrada de todos esses dados, o programa é então executado obtendo-se vários
resultados como valores de momentos internos em x e em y, valor suportado por cada estaca,
recalques, deformações dentre outros.

O programa GARP, em sua versão 8 ( 2007, apud DAS CHAGAS E LÓPEZ),


apresenta algumas limitações como não considerar carregamentos horizontais e,
consequentemente, não considerar momentos em torno do eixo vertical. É necessário o
fornecimento de valores da rigidez da estaca e dos fatores de interação, dando importante
rigor para a determinação desses parâmetros.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

O programa às vezes ainda disponibiliza em sua saída de dados, valores superiores ao


limite de carregamento permitido por estaca, quando na verdade depois desse limite ela já não
seria mais uma estaca portante.

3.2 DESCRIÇÃO DO ESTUDO DE CASO


O estudo de caso do presente trabalho teve como base um edifício localizado na
Avenida Americano do Brasil, Rua 135, Quadra 253, Setor Marista na cidade de Goiânia, em
Goiás conforme ilustrado na Figura 3.5, previsto como um dos edifícios mais altos da cidade.

Figura 3.5– Localização do Estudo de Caso (GOOGLE MAPS, acesso 17/04/2012)

O empreendimento é formado por um edifício único sendo construído em estrutura


convencional de concreto com alvenaria de vedação de bloco cerâmico. Ele possui 41
pavimentos tipo. A perspectiva eletrônica do empreendimento é mostrada na Figura 3.6.

No projeto estrutural dessa obra, foram realizadas 55 combinações de carregamentos


considerando Fz (força vertical), Mx (momento em relação ao eixo x) e My (momento em
relação ao eixo y). Desse total de combinações, 48 são referentes a estados de limites últimos
importantes para o dimensionamento da superestrutura e 7 são referentes à envoltórias de
valores máximos e mínimos importantes para o dimensionamento da infraestrutura, ou seja, a
fundação. τ empreendimento foi dividido em 3 juntas: “A”, “B”, e “C”. O estudo apresentado
nesse trabalho se concentrou na fundação presente na Junta “A” conforme a Figura 3.7.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


34
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Figura 3.6– Perspectiva eletrônica do Edifício (TCI CONSTRUTORA, acesso 16/04/2012)

Para a realização do projeto de fundações foram utilizadas investigações de solo do


tipo sondagens SPT (“Standard Penetration Test”) por duas empresas. A empresa 1 realizou 3
furos de sondagem e pela empresa 2 foram realizados 4 furos de sondagem, perfurados com
circulação de água. Na região da construção do radier estaqueado analisado foram realizados
dois furos de sondagem, obtendo assim dois perfis geotécnicos para o solo abaixo do bloco. O
solo das primeiras camadas logo abaixo do bloco é um silte arenoso, e o nível d’água
encontrado está entre 4 e 5 metros abaixo do subsolo. No Anexo A, encontra-se figura com a
localização dos furos de sondagem referentes à região do radier estaqueado.

Figura 3.7– Divisão da obra em juntas

As fundações projetadas para o edifício consistem em estacas do tipo hélice contínua


monitorada com diâmetros variando entre 40, 50 e 60 cm. σa Junta “A” além do próprio
radier estaqueado, foram realizados outros blocos com 1, 2, 4, 5 e 6 estacas. O radier

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

estaqueado possui bloco com dimensões 20,0x17,4m e 1,8 m de altura e um total de 166
estacas. Dentre essas estacas, todas com diâmetro de 60 cm, 126 estacas possuem
comprimento útil de 17 m com concreto com fck = 20MPa e as outras 40 estacas,
comprimento de 14 m com concreto com fck = 25MPa.

3.3 CONSIDERAÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DO TRABALHO

Para a realização desse trabalho consideraram-se alguns requisitos a serem atendidos.


Adotou-se como parâmetro de projeto um limite máximo de recalque de 5 cm e uma relação
de recalque diferencial máxima de 1/750.

Para a construção da malha procurou-se reduzir a quantidade de elementos e


consequentemente, reduzir a quantidade de nós promovendo uma malha menos carregada, e
consequentemente proporcionando uma melhor execução do programa. Para isso,
coordenadas muito próximas, com distâncias menores que 5 cm, foram desprezadas.

O resultado final da malha foi de 51x59, ou seja, 51 linhas verticais e 59 linhas


horizontais, com 2900 elementos e 8917 nós, como mostra a Figura 3.8.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


36
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Figura 3.8– Malha de elementos finitos gerada pelo Programa GARP

Para a formação do bloco considerou-se concreto com módulo de elasticidade de 28


GPa, uma média entre 25 e 30 GPa, que é uma variação de módulo para o concreto. Para o
coeficiente de Poisson, adotou-se o valor de 0,2, valor sugerido pela norma NBR 6118
(ABNT, 2003) quando não houver ensaios.

Em relação às propriedades do solo, com base nas sondagens realizadas, a espessura


de cada camada foi determinada considerando o NSPT a cada metro. Os valores de NSPT a cada
metro que eram próximos foram agrupados formando faixas com de camadas com valor de
NSPT médio. Para cada uma dessas camadas o valor do módulo de elasticidade foi calculado
através da Equação 3.1.

E S  3,5  N SPT (3.1)

S.L. Carvalho, T.S. Curado


37
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Onde:

ES = módulo de elasticidade (MPa)


NSPT = número de golpes no primeiro metro do ensaio SPT.

Essa expressão é empírica e foi calibrada para a região de Goiânia e Brasília por
Magalhães (2005). Para a determinação do valor do módulo de elasticidade de uma camada, é
feita uma média com os valores obtidos para cada metro da camada definida, de acordo com
as diferentes sondagens realizadas. Para a divisão em subcamadas, adotou-se o critério de
divisão em 5 subcamadas para camadas de 1 m e divisão em 10 subcamadas para camadas
com 2 m ou mais.

Já a resistência a compressão do solo foi obtida através da Equação 3.2:

 proj  100
N SPT
(3.2)
5

Onde:

proj = tensão de projeto (kPa).

A expressão origina-se da sugestão de Wilson Costa (SALES, 2011a) para a região de


Goiânia sendo um método empírico e é baseada na sondagem SPT, em função do NSPT do
primeiro metro abaixo da fundação e do tipo do solo. Neste trabalho, foi determinado que a
camada correspondente ao solo abaixo da fundação é do tipo silte arenoso. Após a
determinação da tensão de projeto, esta foi multiplicada pelo fator de segurança considerado
para a execução desse trabalho no valor de 2,5 para se determinar a resistência à compressão
do solo, que é a tensão considerada pelo programa GARP ( ). Ainda são definidas as
resistências à tração ( ) para cada estaca também através dos resultados de sondagem NSPT.

Apesar das diversas combinações de carregamentos fornecidas pelo projeto estrutural


apenas um tipo de combinação foi considerada: ELU2/ACIDCOMB/PP_V+
PERM_V+0,8ACID_R_V+VENT4, referente à combinação das cargas: acidental, peso
próprio, carga permanente e vento a 180° devidamente majoradas. A combinação foi
escolhida de acordo com o observado nos resultados fornecidos por Sales (2011b), em seu
estudo técnico do radier estaqueado, onde foi observado que dentre todas as combinações de

S.L. Carvalho, T.S. Curado


38
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

carregamentos estudadas, uma apresentou maior momento em relação ao eixo y e também


maior recalque.

É importante ressaltar que para obter o arranjo que atenda aos requisitos de segurança
da fundação, o estudo de otimização deve ser realizado para todas as combinações de
carregamento, pois uma configuração de estacas pode atender bem a apenas um tipo de
combinação de carregamentos e não a todas.

Foram definidos 13 fatores de interação entre as estacas, para cada tipo de estaca
utilizado no desenvolvimento do trabalho, que estão descritos na Tabela 3.2.

No total, foram utilizadas 3 estacas com propriedades diferentes descritas na Tabela


3.3. Em relação aos carregamentos aplicados na região de cada pilar, consideraram-se
carregamentos distribuídos para cada pilar dividindo-se a força, dada pela combinação de
carregamentos, pela área do pilar (A) encontrando-se a tensão normal de cada pilar(z). Os
momentos também foram aplicados de forma distribuída na área do pilar de acordo com os
nós referentes ao pilar na malha formada para a resolução do problema (Figura 3.9). Os
carregamentos utilizados em cada pilar estão descritos na Tabela 3.4. Os valores das
propriedades do solo considerando cada camada e do radier estão descritas na Figura 3.10,
sendo os mesmos valores adotados para todas as tentativas realizadas.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


39
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Figura 3.9 – Esquema de carregamento dos pilares no GARP.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


40
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Tabela 3.2– Fatores de interação  para diferentes tipos de estacas

Comprimento (m)
16 13 12
Point s/D ratio Fator α
1 1,5 0,3660 0,4490 0,4470
2 2 0,3270 0,4010 0,3960
3 2,5 0,2980 0,3640 0,3570
4 3 0,2740 0,3330 0,3260
5 4 0,2360 0,2870 0,2770
6 5 0,2080 0,2510 0,2400
7 6 0,1850 0,2220 0,2100
8 7 0,1660 0,1980 0,1850
9 8 0,1490 0,1780 0,1650
10 9 0,1350 0,1600 0,1470
11 10 0,1230 0,1450 0,1310
12 12 0,1020 0,1190 0,1050
13 15 0,0780 0,0900 0,0770

Tabela 3.3– Propriedades das diferentes estacas

L
D (m) K σ
(m)
16 0,6 452417 3500 2500
13 0,6 394479 3000 2000
12 0,6 386024 2000 2500

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Tabela 3.4– Relação de Carregamentos dos pilares sobre o radier estaqueado

Divisões em x Divisões em y
A z
Pilar Mx(kN,m) My(kNm) x Mx(kNm) y My(kN,)
(m²) (kN/m²)
1 P5 1,08 15928,20 -3826,69 -5,88 9 -425,19 9 -0,65
2 P6 0,66 21648,21 -122,59 20,59 6 -20,43 6 3,43
3 P7 1,07 9116,57 -783,58 1191,55 6 -130,60 6 198,59
4 P8 0,36 3397,04 -369,72 -0,98 9 -41,08 9 -0,11
5 P9 0,55 16636,24 -87,28 18,63 6 -14,55 4 4,66
6 P10 0,79 6733,11 -496,23 477,60 6 -82,71 6 79,60
7 P11 0,62 18921,93 -1621,10 0,00 9 -180,12 1 0,00
8 P12 1,91 10394,65 -16110,94 -18,63 14 -1150,78 10 -1,86
9 P13 0,68 15274,22 -1019,93 4,90 9 -113,33 6 0,82
10 P14 0,62 17550,54 -1614,23 1,96 9 -179,36 6 0,33
11 P15 0,55 16786,02 -92,19 20,59 6 -15,36 6 3,43
12 P16 0,82 12558,71 -3726,66 9,81 10 -372,67 6 1,63
13 P17 0,79 7360,51 -454,06 -385,42 6 -75,68 6 -64,24
14 P18 0,36 3421,55 -383,45 2,94 6 -63,91 6 0,49
15 P19 0,66 20857,71 -140,24 31,38 6 -23,37 6 5,23
16 P20 1,08 16464,86 -4010,08 24,52 10 -401,01 6 4,09
17 P21 1,07 9309,78 -773,77 -974,82 9 -85,97 6 -162,47
18 PE1 0,42 91,94 7,85 9,81 6 1,31 6 1,63
19 PE2 0,05 796,82 7,85 -9,81 6 1,31 6 -1,63

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Figura 3.10 – Propriedades do solo e radier

O fluxograma resumido da entrada de dados para o programa é descrito pela Figura


3.11

• Fornecimento das coordenadas para a montagem da malha


Passo 1:

• Marcação dos limites do radier e sua altura


Passo 2

• Fornecimento das propriedades do radier, do solo e da estaca


Passo 3

• Locação das estacas


Passo 4

• Aplicação dos carregamentos verticais pontuais ou distribuidos e momentos


Passo 5

• Executar o Programa
Passo 6

Figura 3.11 – Fluxograma da entrada de dados do programa GARP

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Para a realização das tentativas visando a otimização das estacas, primeiramente,


analisou-se a fundação considerando apenas o radier, depois somente as estacas e por fim o
radier estaqueado conforme o projeto executado. Esses resultados foram analisados para
comparar com os resultados obtidos considerando apenas estacas com 12 m, objeto desse
estudo. Já para obter resultados considerando apenas as estacas, é necessário considerar o solo
como excessivamente compressível logo abaixo do radier, adotando a resistência à
compressão praticamente nula.

As tentativas foram realizadas a fim de encontrar o posicionamento de estacas que


obtivesse o melhor resultado de recalque diferencial para determinada quantidade de estacas.
Realizou-se as tentativas de otimização para 160 estacas. com quantidades variando de 10 em
10 estacas, decrescendo dessa quantidade. A fim de simplificar a cada tentativa, as estacas
eram sempre posicionadas nos locais previamente determinados para as 166 estacas do
projeto, não criando “posições” diferentes das já locadas no processo executivo da fundação.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

CAPÍTULO 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo, são apresentados os resultados obtidos para as tentativas realizadas de


acordo com os posicionamentos e quantidades de estacas. Foram analisados os resultados
relativos aos recalques absolutos e recalques diferenciais verificando o comportamento da
fundação, composta de estacas diferentes das que o projeto apresenta. Para estimar a
capacidade de carga da estaca utilizada nesse trabalho, utilizou-se um Método Empírico.

Considerando a capacidade de suporte do solo, em kPa, e a área do radier, verifica-se a


carga suportada apenas pelo radier (descontando a área de contato das 166 estacas de 0,6m de
diâmetro) por meio da Equação 4.1:.

PR = (A R   A E  σ solo = (17,4  20  166 


 0,62
)  700 = 210750 kN = 21075 tf (4.1)
4

Onde:

PR = capacidade de suporte do radier (tf);


AR = área do radier (m²);
AE = área de contato de cada estaca (m²);
σsolo = resistência a compressão do solo (kPa).

A capacidade de carga do radier estaqueado é igual ao somatório das cargas verticais


da geradas pela combinação de carregamentos utilizada nesse trabalho em tf, admitindo um
fator de segurança de 2,5, que é o fator de segurança normalmente usado para esse tipo de
fundação, conforme Equação 4.2.

Capacidade de suporte necessária=2,5 18126=45315 tf


(4.2)

Diante disso, verificou-se que somente as estacas devem suportar a diferença entre
esses valores, igual a 24240 tf.

Considerou-se a capacidade de carga estrutural máxima para cada estaca de 190 tf que
é a carga referente à resistência do concreto de 20 MPa para uma estaca de 60 cm de
diâmetro. Logo, a quantidade mínima de estacas (N) para conseguir suportar o carregamento
atendendo ao fator de segurança de 2,5 é de 128 estacas, como mostra a Equação 4.3.
S.L. Carvalho, T.S. Curado
45
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

 128 estacas
(45315 - 21075) 24240
N= = (4.3)
190 190

A contribuição suporte do radier depende do número de estaca, pois de sua superfície


é descontada a área de contato entre o radier e estaca. Portanto quanto maior for o número de
estacas maior será a área descontada da superfície do radier. A fração do carregamento que
será suportada pelas estacas requer 128 estacas, contrapondo as 166 estacas proposta pelo
projeto inicial. De acordo com os novos valores o processo foi refeito e o número de estacas
convergiu para 123 estacas.

Considerando a estaca com carga estrutural máxima, calculou-se o seu comprimento


com um diâmetro de 0,6 m e concreto de fck = 20 MPa, utilizando o método empírico de
Décourt-Quaresma, mostrado no Apêndice. Foi verificada a capacidade de carga para as
estacas com diferentes comprimentos observando quais suportariam 190 tf, sendo esta a carga
limite suportada pela estaca. Para isso, optou-se por utilizar a sondagem SP2 realizada pela
empresa 2, com classificação de silte arenoso e sabendo que o tipo de estaca executada é
hélice contínua. Já que a escolha foi considerar a carga estrutural máxima da estaca de 190 tf
então a capacidade de carga da estaca calculada por esse método empírico não foi dividida
pelo FS, visando encontrar a carga última. Diante dessas considerações, o comprimento
encontrado para que a estaca tenha a capacidade de carga adequada foi de 12 m.

Após definidos os comprimentos e a capacidade de carga da estaca, foram obtidos os


fatores de interação e rigidez da estaca através do programa DEFPIG. Estabelecidos todas as
condições, o programa foi executado e a partir do posicionamento de estacas referentes ao
radier com 166 estacas e das propriedades do conjunto, foram realizadas as tentativas de
otimização do arranjo das estacas, nesse trabalho.

As tentativas de otimização foram baseadas na diminuição do recalque diferencial do


ponto com maior recalque e do ponto com menor recalque, esse último se concentra
principalmente nos cantos. Nas primeiras tentativas, para a mudança dos posicionamentos das
estacas, tentou-se aliviar as estacas mais solicitadas e carregar as estacas menos solicitadas.
Feito isso, verificou-se que mesmo fazendo essas considerações, os melhores resultados
relativos a recalques diferenciais ocorreram quando retiradas as estacas das regiões que
tinham recalques menores do que quando utilizadas as 166 estacas. Também se considerou a
interação entre as estacas, que faz com que estacas muito próximas diminuam o recalque
nesse local.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


46
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

No total, foram realizadas tentativas com diferentes quantidades de estacas: 0, 10, 20,
30, 40, 50, 60, 70, 80, 90, 100, 105, 110, 120, 125, 130, 140, 150, 160 e 166. Para quantidades
de estacas inferiores a 110, o fator de segurança do projeto passa a ser inferior a 2,5 não
podendo ser uma quantidade aceitável para a execução da fundação. Entretanto, foram
realizadas tentativas com número abaixo de 123 estacas para demonstrar o comportamento do
recalque máximo e recalque diferencial máximo com diferentes quantidades de estacas.

Os resultados quanto aos recalques estão descritos na Tabela 4.1, para o desempenho
separadamente do radier e das estacas determinadas no projeto e neste trabalho, e a atuação da
combinação de radier estaqueado do projeto e do trabalho.

Tabela 4.1– Resultados de recalques considerando estacas do projeto e desse trabalho

Recalques
Fundação
Máximo (cm) Mínimo (cm) Diferencial
1
Radier 9,8799 4,0232
308
166 Estacas 1
3,4602 0,9734
(Projeto) 625
Radier estaqueado 1
3,5511 1,0139
(Projeto) 587
166 Estacas 1
4,0655 1,2115
(Trabalho) 625
Radier estaqueado 1
4,1576 1,2922
(Trabalho) 517

Nota-se que utilizando as estacas de 12 m ao invés das estacas de comprimentos


maiores como utilizadas no projeto há recalque máximo e recalque diferencial maiores, mas
não muito distantes do resultado previsto para o comportamento do radier estaqueado do
projeto. Utilizando apenas o radier haveria recalques elevados e se houvesse a consideração
da existência de apenas estacas suportando aos carregamentos estaria superestimando o
comportamento da fundação.

Com a variação das disposições das estacas, foi observado que para uma mesma
quantidade de estacas é possível obter recalques diferenciais bem diferentes, apesar de não ter
uma grande variação de recalque máximo. Considerando isso, das tentativas de otimização
das estacas, o resultado mais satisfatório para cada quantidade de estacas foi aquele que
apresentou os resultados em que o recalque diferencial foi menor. Na Tabela 4.2, estão

S.L. Carvalho, T.S. Curado


47
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

apresentadas as melhores tentativas para 105 a 160 estacas demonstrando os seus resultados
relativos a recalques, o posicionamento das estacas e o comportamento da fundação devido
aos recalques abaixo do radier estaqueado de acordo com a legenda mostrada na Figura 4.1,
com a escala de valores de recalque em m.

Figura 4.1– Faixa de variação para os recalques e legenda da posição das estacas

S.L. Carvalho, T.S. Curado


48
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Tabela 4.2– Resultados das melhores tentativas de otimização

Recalque Máximo

Recalque Mínimo
Nº de estacas

Diferencial
Figuras

Recalque
(cm)

(cm)

4
,1
13
1
105 4,6262 3,0472
832

5
,5
13

1
110 4,5524 2,9823
863

S.L. Carvalho, T.S. Curado


49
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Recalque Máximo

Recalque Mínimo
Nº de estacas

Diferencial
Figuras

Recalque
(cm)

(cm)

7
,6
13
1
120 4,4398 2,7914
829

1
,5
13

1
130 4,3277 2,5873
776

S.L. Carvalho, T.S. Curado


50
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Recalque Máximo

Recalque Mínimo
Nº de estacas

Diferencial
Figuras

Recalque
(cm)

(cm)

1
140 4,2390 2,0705
662

14
,3
6

8
4 ,8
1

1
150 4,1833 1,7177
604

S.L. Carvalho, T.S. Curado


51
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Recalque Máximo

Recalque Mínimo
Nº de estacas

Diferencial
Figuras

Recalque
(cm)

(cm)

1
160 4,1486 1,4539
562
15
,1
5

Após a realização das diversas tentativas de ajuste do posicionamento das estacas para
uma mesma quantidade de estacas foram obtidos os recalques máximos e deste grupo de
tentativas foram escolhidos os melhores resultados para recalque máximo ou seja a tentativa
cujo recalque máximo foi o menor. Com isso foi construído o gráfico explicitando a variação
de recalque máximo dependendo da quantidade de estacas contidas no radier estaqueado,
como mostrado na Figura 4.2.

Observou-se então, que o recalque máximo se “estabiliza” a partir de um número de


aproximadamente 120 estacas verificando-se que com o aumento de estacas no radier não
melhoraria tanto o desempenho da fundação em relação ao seu recalque máximo.

Já em relação ao recalque diferencial, também um gráfico foi formado mostrando o


comportamento de recalque diferencial com a variação do número de estacas como mostrado
na Figura 4.3.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


52
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Recalque Máximo
10

8
Recalque máximo (cm)

0 40 80 120 160 200


Número de Estacas

Figura 4.2– Relação de variação de recalque máximo com diferentes números de estacas

Recalque Diferencial
1/200

1/300
Recalque diferencial

1/400

1/500

1/600

1/700
1/750
1/800

1/900

1/1000

0 40 80 120 160 200


Número de estacas

Figura 4.3– Relação de variação de recalque diferencial com diferentes números de estacas

S.L. Carvalho, T.S. Curado


53
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

A partir do gráfico da Figura 4.3 percebe-se que com uma grande quantidade de
estacas, o recalque diferencial foi menor entre 80 e 120 estacas e relativamente constante. Isso
pode ser explicado pelas interações entre as estacas. Com uma menor quantidade de estacas, a
tendência é de que elas fiquem mais distantes umas das outras, e ao contrário, quando a
distância é menor entre elas há interações maiores, e consequentemente recalques diferenciais
maiores. Estacas muito próximas nos cantos dificultam o recalque destas regiões, o que
majora o recalque diferencial. Quanto maior o número de estacas, já que as dimensões do
radier não foram alteradas, diminuíram também as configurações de posicionamentos das
estacas.

Além disso, a economia na otimização para esse tipo de combinação de acordo com a
redução entre o que foi executado no projeto inicial e o que foi obtido com a otimização é
evidenciado pela Tabela 4.3 variando comprimento e quantidade de estacas.

Tabela 4.3- Relação de Volume de Concreto por estacas e Comprimento Total de Estacas das Combinações

Volume Redução do Redução do


de comprimento volume de
Comprimento Comprimento
Quantidade Diâmetro Concreto linear das concreto em
das Estacas Total de
de Estacas (m) das estacas ao relação ao
(m) Estacas (m)
estacas projeto inicial projeto
(m³) (m) inicial (m³)
17 166 0,6 2822 797,90 0 0,0
12 160 0,6 1920 542,87 902 255,0
12 150 0,6 1800 508,94 1022 289,0
12 140 0,6 1680 475,01 1142 322,9
12 130 0,6 1560 441,08 1262 356,8
12 120 0,6 1440 407,15 1382 390,8
12 110 0,6 1320 373,22 1502 424,7
12 105 0,6 1260 356,26 1562 441,6

S.L. Carvalho, T.S. Curado


CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Nesse trabalho, foram realizadas tentativas de mudança no posicionamento e número


de estacas de um radier estaqueado de uma obra de Goiânia. Nas tentativas de otimização do
radier estaqueado buscou-se atender aos limites máximos de recalques totais e diferenciais.

Verificou-se que para todas as configurações com mais de 105 estacas, o limite
máximo de recalque de 5 cm foi atendido sendo que quanto maior a quantidade de estacas
menor o recalque máximo da fundação. Já em relação ao recalque diferencial, as
configurações com mais de 140 estacas tiveram recalques diferenciais superiores ao limite
máximo de 1/750.

Isso mostra que as interações entre as estacas e a posição das estacas influenciam
bastante no comportamento do radier estaqueado em relação, principalmente, a recalques
diferenciais;

Determinados pontos da fundação recalcam mais por influência do carregamento e


sabe-se também que o recalque imediato no centro da placa do radier é maior que nos cantos,
estando diretamente relacionado à rigidez da placa e do tipo de solo (CINTRA, AOKI e
ALBIERO, 2003). Baseado nisso, percebeu-se que à medida que as estacas, que diminuem o
recalque, foram retiradas desses locais onde o recalque era menor, essas regiões se igualaram
mais às que possuíam recalque maior, consequentemente diminuindo o recalque diferencial.

Para a análise de uma única combinação, percebeu-se que os recalques eram maiores
na região onde a fundação foi mais exigida, portanto a retirada de estacas ocorreu
principalmente na região oposta à mais carregada. Ao analisar todas as combinações, espera-
se que a solução ótima para o posicionamento de estacas ocorra principalmente no meio do
bloco, e que as bordas sejam liberadas.

Os resultados obtidos nesse trabalho mostram que com uma diminuição do


comprimento e do número de estacas de um radier estaqueado pode provocar uma melhoria
no comportamento da fundação em relação a recalques, principalmente recalques diferenciais,
sem prejudicar o fator de segurança do projeto. Isso geraria uma economia no processo
executivo da fundação já que tendo menor quantidade de estacas e estas tendo menor

S.L. Carvalho, T.S. Curado


55
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

comprimento, resulta em menores quantidades de escavação e de concreto gerando uma


economia na execução da fundação.

Apesar dos bons resultados encontrados pela otimização do radier estaqueado desse
trabalho, é necessário fazer essa otimização para as mais variadas combinações de
carregamentos dadas pelo projeto estrutural para que a otimização atenda a todas as
combinações.

Para novos trabalhos, sugere-se a realização da otimização de radier estaqueado


considerando a verificação das combinações de carregamentos mais críticas, dadas no projeto
estrutural, a fim de se ter uma otimização que atenda melhor ainda as exigências que a
estrutura impõe à fundação.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


REFERÊNCIAS

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estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro: [s.n.], 2003.
ABNT_____. Projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro: [s.n.], 2010.
ALONSO, U. R. Previsão e Controle das Fundações. 1ª Edição. ed. São Paulo: Blucher,
1991.
CINTRA, J. C. A.; AOKI, N.; ALBIERO, J. H. Tensão Admissível em Fundações Diretas.
1ª Edição. ed. São Carlos: Rima, 2003.
COFFEY GEOSCIENCES. User's manual Program GARP - General Analysis in Rafts
with Piles. [S.l.]: [s.n.], 2006.
DAS CHAGAS, J. V. R.; LÓPEZ, T. P. Previsão numérica de recalques de edifícios
estruturais: um caso de obra em GoiâniaTrabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Engenharia Civil) - Universidade Federal de Goiás. [S.l.]: [s.n.], 2011.
GOOGLE Maps. Google Maps. Disponivel em: <https://maps.google.com/>. Acesso em: 17
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HTTP://WWW.MUNDOCNC.COM.BR/BASIC3.PHP. Mundo CNC. Acesso em: 21 abr.
2012.
LIMA, B. S. Otimização de Fundações Estaqueadas. Dissertação de Mestrado:
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 118
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MAGALHÃES, P. L. Avaliação dos métodos de capacidade de carga e recalque de
estacas hélice contínua via provas de carga. Dissertação de Mestrado,Brasília, DF:
Universidade de Brasília, 2005.
NAPOLES NETO, A. D. F. História das Fundações. In: NAPOLES NETO, A. D. F. . E. A.
Fundações, Teoria e prática. São Paulo: PINI, 1998. p. 17-33.
POULOS, H. G. GARP, 1994.
POULOS, H. G. Piled Raft Foundations: design and applications. Géotechnique, p. 19, 2001.
POULOS, H. G.; DAVIS, E. H. Pile Foundation Analysis and Design. New York: Wiley,
1980.
SALES, M. M. Análise do comportamento de sapatas estaqueadas. Tese de Doutorado.
Brasília,DF: Universidade de Brasília, 2000.
S.L. Carvalho, T.S. Curado
57
Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

SALES, M. M. Notas de Aula - Fundações. [S.l.]. 2011a.


SALES, M. M. Análise Numérica dos Blocos de Fundação. Goiânia. 2011b.
SOUZA, R. D. S. Análise dos fatores de interação entre estacas em radier estaqueado:
comparação entre duas ferramentas numéricas. Dissertação de Mestrado: Escola de
Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, 2010.
TCI Construtora. Disponivel em: <http://www.tciconstrutora.com.br/premier-blanc-parque-
areiao>. Acesso em: 16 abr. 2012.
TEIXEIRA, A. H.; GODOY, N. S. Análise projeto e execução de fundações rasas. In:
TEIXEIRA, A. H. E. A. Fundações, Teoria e Prática. 2ª Edição. ed. São Paulo: PINI, 1998.
p. 227-264.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


ANEXOS

ANEXO A – LOCALIZAÇÃO DOS FUROS DAS SONDAGENS SPT


REALIZADAS PELA EMPRESA 2 NA REGIÃO DO RADIER

S.L. Carvalho, T.S. Curado


APÊNDICES

APÊNDICE A – CÁLCULO DO COMPRIMENTO ÚTIL DA ESTACA

Os cálculos realizados para a determinação do comprimento útil para estaca de


diâmetro 60 cm e com capacidade de 190tf de acordo com dados da sondagem SP2 realizado
pela empresa 2 estão descritos neste apêndice.

Para a determinação do comprimento útil da estaca utilizada nas tentativas de


otimização do número de estacas do radier estaqueado utilizou-se o método de Décourt-
Quaresma. Através desse método, é necessário determinar a resistência unitária de ponta (rP) e
a resistência unitária lateral (rL) da estaca. E em seguida determinam-se as capacidades de
carga para da lateral (PL) e da ponta (PP) da estaca. Para isso foram utilizadas as seguintes
equações:

rP  k'N' (A.1)

N 
rL  10    1
3 
(A.2)

PP  rP  AP (A.3)

PL  rL  AL (A.4)

Onde:

k’ = Fator característico do tipo do solo

σ’ = Média de 3 valores de σSPT, 1 m acima e abaixo da ponta e logo abaixo da ponta


da estaca;

N = Média dos valores de NSPT ao longo da estaca, não considerando os valores de 0-


1 m e no último metro;

AP = Área da ponta da estaca;

AL = Área lateral da estaca.

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Otimização de Fundações em Radier Estaqueado na Cidade de Goiânia

Mediante o cálculo das capacidades de carga determinou-se a capacidade de carga


última (Pult) da estaca através da seguinte equação:

Pult    PP    PL (A.5)

Onde:  = variáveis tabeladas devido ao tipo de execução da fundação.

E de acordo com o tipo de solo de cada camada ser silte arenoso e o tipo de estaca
ser hélice contínua, os valores utilizados nos cálculos estão descritos na Tabela A.1. Os
resultados para as variáveis assim como os dados da sondagem SP2 realizada pela empresa 2
estão mostrados na Tabela A.2.

Tabela A.1. Valores tabelados utilizados nos cálculos do comprimento útil da estaca

α 0.3
β 1
k’
(kPa) 250

Tabela A.2. Dados da sondagem SP2 e resultados dos cálculos realizados


Comprimento útil

Número
Profundidade (m)

de
da estaca (m)

golpes Classificação Pu
do material
N' rP Ν rl PP PL
(kN)
Pu(tf)
Amostra

1º 2º
+2º +3º
0 -1 Argila arenosa
1 -2 2 2 Argila arenosa
2 -3 2 2 Argila arenosa
3 -4 2 4 Argila arenosa
Arg. Silto-
4 -5 8 6
aren. Profundidade de Locação do Bloco
5 -6 11 12 Silte arenoso
1 6 -7 11 12 Silte arenoso
2 7 -8 5 10 Silte arenoso 12.7 3166.7 11.0 46.7 895.4 175.9 444.5 45.3
3 8 -9 6 11 Silte arenoso 16.0 4000.0 11.0 46.7 1131.0 263.9 603.2 61.5
4 9 -10 11 17 Silte arenoso 18.0 4500.0 11.0 46.7 1272.3 351.9 733.6 74.8
5 10 -11 12 20 Silte arenoso 16.7 4166.7 12.5 51.7 1178.1 486.9 840.4 85.7
6 11 -12 9 17 Silte arenoso 17.0 4250.0 14.0 56.7 1201.7 640.9 1001.4 102.1
7 12 -13 8 13 Silte arenoso 17.3 4333.3 14.5 58.3 1225.2 769.7 1137.3 116.0
8 13 -14 12 21 Silte arenoso 19.0 4750.0 14.3 57.6 1343.0 868.9 1271.8 129.7
9 14 -15 10 18 Silte arenoso 18.7 4666.7 15.1 60.4 1319.5 1024.9 1420.8 144.9
10 15 -16 12 18 Silte arenoso 20.0 5000.0 15.4 61.5 1413.7 1158.9 1583.0 161.4
11 16 -17 11 20 Silte arenoso 22.3 5583.3 15.7 62.3 1578.7 1292.5 1766.0 180.1
12 17 -18 14 22 Silte arenoso 26.7 6666.7 16.1 63.6 1885.0 1439.4 2004.9 204.4

S.L. Carvalho, T.S. Curado


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Comprimento útil

Número

Profundidade (m)
de
da estaca (m)

golpes Classificação Pu
do material
N' rP Ν rl PP PL
(kN)
Pu(tf)
Amostra

1º 2º
+2º +3º
13 18 -19 15 25 Silte arenoso 32.7 8166.7 16.6 65.3 2309.1 1599.6 2292.3 233.7
14 19 -20 21 33 Silte arenoso 33.3 8333.3 17.2 67.4 2356.2 1779.6 2486.4 253.5
15 20 -21 25 40 Silte arenoso 30.0 7500.0 18.4 71.2 2120.6 2012.9 2649.0 270.1
16 21 -22 24 27 Silte arenoso 24.7 6166.7 19.8 76.0 1743.6 2292.1 2815.2 287.1
17 22 -23 20 23 - 24.3 6083.3 20.3 77.5 1720.0 2483.4 2999.4 305.8
18 23 -24 20 24 Silte arenoso 27.3 6833.3 20.4 78.0 1932.1 2647.8 3227.4 329.1
19 24 -25 16 26 Silte arenoso 19.3 4833.3 20.6 78.7 1366.6 2818.7 3228.7 329.2
20 25 -26 25 32 Silte arenoso 10.7 2666.7 20.9 79.6 754.0 3002.7 3228.9 329.2

S.L. Carvalho, T.S. Curado

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