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Uma introdução à geografia física

7ª Edição

Robert W. Christopherson
Ao longo da baía de Hudson, Manitoba, Canadá, em novembro, estes dois machos lutam amigavelmente como uma forma de exer-
cício, com abundantes ataques simulados. Espetacularmente, os dois ursos estão apoiados em suas patas traseiras e dão socos
em seu parceiro de luta; em seguida, entram em corpo a corpo e voltam ao chão, cada um tendo sua vez como agressor. Há clipes
feitos pelo autor no CD que acompanha este livro que mostra ursos polares. A mudança climática está reduzindo a extensão do gelo
marinho, o que diminui a disponibilidade de alimentos para os ursos. As previsões apontam para um Oceano Ártico livre de gelo em
menos de uma década; devastador para os ursos polares, uma vez que eles dependem do gelo. [Foto de Bobbé Christopherson.]

C556g Christopherson, Robert W.


Geossistemas [recurso eletrônico] : uma introdução à
geografia física / Robert W. Christopherson ; tradução:
Francisco Eliseu Aquino ... [et al.] ; revisão técnica: Francisco
Eliseu Aquino, Jefferson Cardia Simões, Ulisses Franz
Bremer. – 7. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre :
Bookman, 2012.

Editado também como livro impresso em 2012.


ISBN 978-85-407-0106-9

1. Geografia. 2. Geografia física. I. Título.

CDU 911.2

Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052


Capítulo 9 Recursos Hídricos 245

20
20 20
Advecção atmosférica Formação 2
de vapor d’água de nuvens
Formação 12 22
de nuvens 66 Precipitação

14
Precipitação Evaporação
86 78
Transpiração

Evaporação

Escoamento
8
Continente
Água subterrânea
Oceano

(a)

106
94 Precipitação
Advecção Earth’s Water and
atmosférica
57 the Hydrologic Cycle
69 ANIMAÇÃO
Precipitação Evapotranspiração
382
Figura 9.1 O modelo do ciclo hidrológico.
ea O modelo mostra como a água faz uma viagem sem fim por meio
terrân
ua sub da hidrosfera, da atmosfera, da litosfera e da biosfera. (a) Os
g
419 de á Escoamento triângulos mostram valores médios globais em porcentagens.
Evaporação Fluxo 37 Observe que toda a evaporação (86% ⫹ 14% ⫽ 100%) se iguala
a toda a precipitação (78% ⫹ 22% ⫽ 100%) e, quando toda a
Fluxo de água subterrânea Terra é considerada, a advecção na atmosfera é equilibrada pelo
[Unidades estão em milhares de km3] escoamento de água superficial e subterrânea. (b) O volume anu-
al de água em todas as partes do ciclo hidrológico é medido em
(b) milhares de quilômetros cúbicos.

evaporação aos oceanos. Os outros 14% estão nas terras emer- Água em superfície
sas, incluindo a água que flui do solo para o sistema radicular da A precipitação que atinge a superfície da Terra segue dois ca-
vegetação e passa pelas suas folhas (um processo chamado de minhos básicos: ela tanto escoa sobre o solo como infiltra no
transpiração, descrito posteriormente neste capítulo). solo. Nesse percurso, quando a precipitação atinge a vegetação
Na figura, percebe-se que de 86% da evaporação que ou outra cobertura do solo, ocorre a interceptação. A água in-
se eleva dos oceanos, 66% combina com 12% advectado terceptada, que escoa da folhagem e desce pelos caules até o
(movendo-se horizontalmente) dos continentes, produzindo solo, é o escoamento pelo caule e pode ser uma importante rota
78% de toda a precipitação que cai de volta nos oceanos. de umidade até o solo. A precipitação interna é aquela que atinge
Os 20% remanescentes de umidade evaporada dos oce- diretamente o solo, inclusive as gotas que caem da vegetação
anos, mais 2% de toda a umidade derivada dos continentes, (exceto o escoamento pelo caule). A água encharca a subsuper-
produzem 22% de toda a precipitação que cai sobre as ter- fície pela infiltração, ou penetração na superfície do solo. A
ras emersas. Claramente, a maior parte da precipitação con- água permeia o solo, ou a rocha, pelo movimento descendente,
tinental vem da porção oceânica do ciclo. Regionalmente, a percolação. Estes conceitos são apresentados na Figura 9.2.
várias partes do ciclo apresentarão variações, criando dese- A advecção atmosférica de vapor d’água do mar para a
quilíbrios, que dependendo do clima, podem determinar a terra e da terra para o mar no topo da Figura 9.1 parece estar
precipitação excedente numa região e escassez noutra. em desequilíbrio: 20% (94.000 km3) movendo-se para a terra
A Figura 9.1b apresenta o volume (em 1.000 km3) de e somente 12% (57.000 km3) movendo-se para o mar. No
água fluindo ao longo desses caminhos no ciclo hidrológi- entanto, esta troca é equilibrada pelos 8% (37.000 km3) de
co. Nesse balanço hídrico global você vê que a precipitação escoamento superficial que flui para o mar. A maioria desse
totalizando 488.000 km3 é igualada pelo mesmo volume de escoamento – cerca de 95% – vem de águas superficiais que
evaporação e transpiração. fluem pelas superfícies dos continentes como escoamento su-
246 Parte II A Água e os Sistemas Meteorológico e Climático

Transpiração
Precipitação Evaporação da vegetação
do solo – Zona de
+ e água – –
+ umidade
– Escoamento
para rios – do solo
Escoamento
superficial
Figura 9.2 O ambiente de umida-
de do solo.
A precipitação supre o ambiente
Zona de umidade do solo
de umidade do solo. Os principais
Água gravitacional – – caminhos da água incluem a inter-
para água Nível da água Zona de água ceptação por plantas; a infiltração
subterrânea Zona de água subterrânea Zona de saturação subterrânea para o solo; a coleta na superfície,
o escoamento em superfície que
Infiltração forma o sistema fluvial; a transpi-
ração e evaporação da vegetação;
a evaporação da terra e água; e o
Percolação movimento gravitacional da água
da superfície para o subterrâneo.

perficial e águas fluviais. Apenas 5% do escoamento move-se dada área. Esse balanço pode examinar qualquer período de
lentamente na subsuperfície como água subterrânea. Essas tempo, de minutos a anos.
porcentagens indicam que o pequeno aporte de água em rios Pense no balanço hídrico como um balanço financeiro: a
e córregos é dinâmico; em contraste, a grande quantidade de receita da precipitação deve estar equilibrada com as despesas
água subsuperficial é lenta e representa somente uma peque- de evaporação, transpiração e escoamento superficial. O es-
na porção do escoamento total. toque de umidade do solo age como uma poupança (reserva),
O tempo de residência de uma molécula de água, em qual- recebendo depósitos e retiradas de água. Por vezes, todas as de-
quer parte do ciclo hidrológico, determina sua relativa influên- mandas são satisfeitas e a água que restou torna-se um superávit.
cia sobre os climas da Terra. O curto tempo gasto pela água Outras vezes, a entrada de precipitação e umidade do solo são
em trânsito pela da atmosfera (uma média de 10 dias) tem um insuficientes para cumprir com as demandas, resultando num
papel importante na flutuação temporária dos padrões de tem- déficit, ou escassez de água. O geógrafo Charles W. Thorn-
po meteorológico regionais. Tempos de residência demorados, thwaite (1899-1963) foi pioneiro na análise de recursos hídricos
como os 3000-10000 anos na circulação oceânica profunda, os aplicados e trabalhou com outros pesquisadores para desenvol-
aquíferos de água subterrânea e o gelo glacial agem como mo- ver uma metodologia de balanço hídrico. Ele aplica conceitos
deradores da temperatura e mudanças climáticas. Essas partes de balanço hídrico a problemas geográficos, especialmente
mais lentas do ciclo operam como uma “memória do sistema”; à irrigação, que requer quantidades precisas de água e tempo
os períodos longos nos quais a energia é armazenada e liberada na aplicação de água para maximizar as colheitas. Thornthwai-
podem amortecer os efeitos de mudanças no sistema. te também desenvolveu métodos para estimar a evaporação e
Para observar e descrever o ciclo hidrológico e os balan- transpiração. Ele reconheceu a importante relação entre o su-
ços de energia relacionados, os cientistas estabeleceram em primento e a demanda de água local como um elemento climá-
1988 um ensaio denominado Ciclo da Água e Energia Global, tico essencial. De fato, o emprego inicial dessas técnicas foi para
ou Global Energy and Water Cycle Experiment (GEWEX); desenvolver um sistema de classificação climática.
que integra o Programa de Pesquisa sobre o Clima Mundial,
ou World Climate Research Program. Como parte desse es-
forço, um projeto em particular, o Projeto de Previsão Amé- A equação do balanço hídrico
ricas do GEWEX, ou GEWEX Americas Prediction Projetc Para compreender a metodologia do balanço hídrico de
(GAPP), investiga a hidrometeorologia multiescalar do ciclo Thornthwaite e os procedimentos dessa “contabilidade”, de-
hidrológico (http://www.ogp.noaa.gov/mpe/gapp/). O vemos primeiramente entender alguns termos e conceitos. A
objetivo é correlacionar os modelos da superfície terrestre, Figura 9.2 ilustra os aspectos essenciais de um balanço hídri-
circulação geral, clima regional e hidrológico para melhorar co. A precipitação (majoritariamente chuva e neve) fornece a
as previsões sazonais e anuais das mudanças nos recursos hí- entrada de umidade.
dricos. Agora que você está familiarizado com o ciclo hidro- O objetivo, como num balanço financeiro, é demonstrar
lógico, vamos examinar o conceito de balanço de hídrico do os meios pelos quais esse suprimento é distribuído: a água
solo como um método de avaliar recursos hídricos. real retirada pela evaporação e transpiração vegetal, a água
extra que sai em rios e água subsuperficial e a recarga ou uti-
lização do estoque de umidade do solo.
Conceito de balanço hídrico A Figura 9.3 organiza os componentes do balanço hídrico
O balanço hídrico pode ser estabelecido para qualquer numa equação. Como em todas as equações, os dois lados de-
área da superfície da Terra – um continente, um país, uma vem se equilibrar; isto é, a receita de precipitação (lado esquer-
região, um campo ou um jardim. O fundamental é medir o do) deve ser totalmente igualada pelas despesas (lado direito).
“suprimento” de entrada e distribuição da precipitação para Siga essa equação de balanço hídrico à medida que você lê os
satisfazer a “demanda” de saída da água para a vegetação, parágrafos seguintes. Para ajudá-lo a aprender esses conceitos,
evaporação e armazenamento de umidade do solo, para uma utilizamos abreviações (como PRECIP) para os componentes.
Capítulo 9 Recursos Hídricos 247

Equação PRECIP = ETR + SUP ± ΔSTRGE


do balanço
hídrico: (precipitação) Evapotranspiração (superávit) (mudança no
real estoque de
umidade
do solo)

ETP – DEFIC)

(evapotranspiração (déficit)
potencial)

Explicação: Suprimento Demanda real Suprimento exce- Reserva de


de umidade = de umidade + dente de umidade
± umidade

(chuva, água-neve, (aporte de umidade (uso [–] ou


neve e granizo) que excede a recarga [+]
ETP, quando o da umidade
Demanda Escassez armazenamento do solo)
de umidade – de umidade está repleto)
(evaporação (aporte de ETP não
potencial e satisfeito; a demanda
transpiração não é atendida pela
Global Water
se há umidade PRECIP nem pela
disponível) umidade do solo) Balance
SATÉLITE Components
Figura 9.3 A equação do balanço hídrico explicada.
A retirada de água (componentes à direita do sinal de igualdade) refere-se ao balanço das despesas com a entrada do suprimento de
precipitação (à esquerda).

Tabela 9.1 Tipos de precipitação


Tipo Características Aportes típicos

Orvalho Condensação em superfícies, especialmente na vegetação; geada 0,1 a 1,0 mm por noite, aporte d’água peque-
branca quando congelado, formado pela deposição direta no, pode ser significativo localmente
Gota de neblina Depositada na vegetação e outras superfícies pela neblina; Aporte d’água pequeno; pode ser significa-
denominado escarcha, quando congelada tivo em climas de muito nevoeiro
Garoa (névoa) Gotas d’água, numerosos e uniformes Precipitação leve: 0,3 mm/h; moderada:
0,3–0,5 mm/h; densa: > 0,5 mm/h; chu-
va, se acima de 1 mm/h
Granizo Aglomerados irregulares e esféricos de gelo irregulares, com Aporte altamente variável, podendo cobrir
> 5 mm de diâmetro, o corte transversal apresenta uma o solo; um granizo pode ter mais de 15
estrutura interna de camadas de gelo claro a opaco; gerado cm de diâmetro
em nuvens convectivas, quase sempre cumulonimbus
Chuva Gotas d’água > 0,5 mm de diâmetro, ou gotas amplamente Precipitação leve: leve: < 0,25 cm/h; modera-
distribuídas podem ser menores da: 0,26–0,76 cm/h; pesada: > 0,76 cm/h
Flocos de neve Aglomerado de cristais de gelo ou um cristal simples que cai das Altamente variável
nuvens; um aglomerado pode exceder a 6 cm de diâmetro
Grãos de neve Grãos pequenos de gelo, achatados, opacos, planos, peque- Altamente variável
(água-neve) nos; equivalente sólido da garoa
Pelotas de neve Pelotas opacas de gelo, aproximadamente arredondadas, com Altamente variável
(granizo macio) 2 a 5 mm de diâmetro que caem em chuvaradas; normal-
mente antes ou ao mesmo tempo que a neve
Pelotas de gelo Gelo transparente encapsulando um floco aglomerado de Altamente variável
cristais de neve; pelotas transparentes de gelo < 5 mm de
diâmetro
Água-neve (Es- Mistura de chuva e neve parcialmente derretida; denominado Altamente variável
tados Unidos e Precipitação congelada, no Canadá; pode formar uma cama-
Reino Unido) da no solo abaixo do ponto de congelamento
248 Parte II A Água e os Sistemas Meteorológico e Climático

Figura 9.4 Um pluviômetro.


Um pluviômetro padrão é cilíndrico. Um funil guia a água para dentro de
um medidor, colocado sobre um dispositivo eletrônico de pesagem. O
bocal reduzido do medidor minimiza a evaporação, o que levaria a leitu-
ras menores. O anteparo, contra o vento em torno do medidor, minimiza
as perdas produzidas pelo vento. [Foto de Bobbé Christopherson.]

Entrada de precipitação (PRECIP) O suprimento de


umidade para a superfície da Terra é a precipitação (PRE-
CIP ou P). Ela chega de diversas formas dependendo da tem-
peratura e suprimento de umidade. A Tabela 9.1 resume os
diferentes tipos. Ao ler esta tabela, relembre quais os tipos
que você já presenciou – chuva, garoa, neve e granizo são os
mais comuns.
A precipitação é medida com o pluviômetro, essencial-
mente, um grande copo de medição, que recolhe a Precipita-
ção de chuva e neve, de modo que pode-se medir a profundi-
dade, o peso ou o volume da água coletada (Figura 9.4).
O vento pode provocar uma coleta imprecisa se as go-
tas ou flocos de neve não caírem verticalmente. Por exemplo,
um vento de 37 km/h produz uma imprecisão na coleta de até
40%, ou seja, 10 mm de pluviosidade real poderiam ser medi-
dos/observados como 0,6 mm. O anteparo contra o vento na
parte superior do medidor reduz esse tipo de erro, ao captar
a Precipitação que chega ao medidor, a um ângulo. Segundo a
Organização Meteorológica Mundial (OMM), ou World Mete-
orological Organization (http://www.wmo.ch/), mais de 40.000
estações meteorológicas estão em operação ao redor do mundo,
mantendo mais de 100.000 postos que observam a Precipitação.

150° 80° 60° 50°

50
° Baía
Hudson °
50

OCEANO

40
°
PACÍFICO
°
40

OCEANO

ATLÂNTICO

Precipitação Anual (cm)


cm
30°
Acima de 200

150–199
100–149 0 200 400 QUILÔMETROS
50–99
25–49
r
Golfo do México ânce
Menos de 25 co de C
Trópi
110° 90° 80° 70°

Figura 9.5 A precipitação (PRECIP) na América do Norte – a oferta.


Precipitação anual (oferta de água, PRECIP) nos Estados Unidos, no Canadá e no nor- Global Water Balance
te do México. [Adaptado de NWS, U.S. Department of Agriculture e Environment Canada.] SATÉLITE
Components
Capítulo 9 Recursos Hídricos 249

A Figura 9.5 apresenta mapas padrões de Precipitação muito alta (no ponto de saturação ou próximo), ambas as ati-
para os Estados Unidos e Canadá. Observe os padrões de vidades aumentam quando o ar está quente (capacidade de
umidade e seca que fazem lembrar a nossa discussão sobre absorver mais umidade) e seco (abaixo do ponto de saturação).
massas de ar e seus mecanismos de elevação no Capítulo 8 A evaporação e a transpiração podem ser combinadas em
(a Figura 10.2 do Capítulo 10 apresenta um mapa da Pre- um único termo – evapotranspiração. No ciclo hidrológico,
cipitação mundial). A PRECIP é o principal insumo para a 14% da evaporação e transpiração advêm do solo e das plan-
equação de balanço hídrico (Figura 9.3). tas, Figura 9.1. Agora, vamos analisar os modos de estimar a
Todos os componentes discutidos a seguir são saídas ou evapotranspiração.
demandas desta água.
Evapotranspiração potencial (ETP) A evapotranspira-
Evapotranspiração real (ETR) A evaporação é o mo- ção é o gasto real de água. Em contraste, a evapotranspira-
vimento de moléculas de água livres, que se afasta de uma ção potencial (ETP) é a quantidade de água que evaporaria e
superfície úmida até a atmosfera menos saturada. A transpi- transpiraria, sob condições ótimas (ideais) de umidade, quando
ração é um mecanismo de resfriamento das plantas. Quando os suprimentos adequados de precipitação e umidade do solo
uma planta transpira, a água se move pelos pequenos orifícios estiverem presentes. O preenchimento de um recipiente com
(estômatos) na parte de baixo das folhas. A água, ao evaporar, água e o tempo de evaporação dessa água ilustra esse conceito.
resfria a planta, assim como a transpiração resfria o corpo Quando o recipiente ficar seco, ainda existirá uma demanda de
humano. A transpiração é parcialmente regulada pelas plan- evaporação? Naturalmente, a demanda continuará, indepen-
tas. Ao redor dos estômatos, existem células de controle, que dentemente do recipiente esvaziado. Se o recipiente for man-
conservam ou liberam a água da planta. As quantidades de tido sempre com água, a quantidade que evapora ou transpira
água transpirada podem ser significativas: em um dia quente, é a ETP, ou a demanda ideal, dado uma oferta constante de
uma única árvore pode transpirar centenas de litros de água; água. Se for permitido que a água seque, então a quantidade
uma floresta, milhões de litros. ETP não atendida é a escassez de água, ou déficit (DEFIC).
Evaporação e transpiração são elementos importantes Observe que na equação do balanço hídrico, quando o déficit é
do balanço hídrico e ambos os fenômenos respondem dire- subtraído da Evapotranspiração em Potencial, obtêm-se o que
tamente à temperatura e umidade do ar. Essas atividades di- realmente aconteceu – ETR.
minuem quando o ar está frio (capacidade de absorver menos A Figura 9.6 apresenta valores da ETP para os Estados
umidade) ou quando a presença de umidade no ambiente é Unidos e Canadá, derivados da abordagem de Thornthwaite.

160° 150° 60° 50°


4.3 cm (11 in.) Mar de
50

Golfo do
°

Labrador
Alasca

°
Baia 50

Hudson

OCEANO
40
°
PACÍFICO
°
40

Potencial de
Evapotranspiração
Anual (cm)
cm OCEANO
30
°
Acima de 152 ATLÂNTICO
137 30°
122
107
91
76
20°
61
Menos de 46 Trópi
co de
Cân cer 20°
0 250 500 QUILÔMETROS

130° 120° 110° 90° 80° 70°

Figura 9.6 Evapotranspiração em potencial (ETP) para os Estados Unidos e Canadá – a demanda.
[Segundo C.W. Thornthwaite, “An approach toward a rational classification of climate”, Geographical Review 38 (1948): 64. Adaptado
com permissão da American Geographical Society. Dados canadenses adaptados de
M. Sanderson, “The climates of Canada according to the new Thornthwaite classifi- Global Water Balance
cation”, Scientific Agriculture 28 (1948): 501-17.]
SATÉLITE
Components
250 Parte II A Água e os Sistemas Meteorológico e Climático

Observe que os valores mais elevados ocorrem em áreas ao Uma tela sobre o tanque protege a lâmina d’água contra o
Sul, com os valores mais elevados no setor sudoeste, onde a vento, que aceleraria a evaporação.
temperatura média do ar é elevada e a umidade relativa do Um dispositivo de medição mais elaborado é o lisímetro
ar é mais baixa. Os valores mais baixos para a ETP são en- – um tanque com cerca de um metro cúbico (ou mais) de tama-
contrados em latitudes altas e áreas mais elevadas, as quais nho, enterrado no solo, mas com a sua parte superior exposta.
apresentam temperaturas médias do ar mais baixas. O lisímetro isola um volume representativo da cober-
Compare esse mapa das ETP (demanda) com o mapa da tura vegetal, solo e subsolo, permitindo a medição da umi-
PRECIP (oferta) da Figura 9.5. A relação entre os dois deter- dade que se movimenta por essa amostragem da área. Um
mina os demais componentes da equação do balanço hídrico lisímetro de pesagem incorpora na sua base uma balança de
na Figura 9.3. A partir dos dois mapas, é possível identificar pesagem (Figura 9.7a). Um pluviômetro ao lado do lisímetro
regiões onde a PRECIP é maior que a ETP (por exemplo, o mede a entrada de Precipitação (veja Agricultural Research
setor leste dos Estados Unidos)? Ou onde a ETP é maior do Service em http://www.ars.usda.gov/).
que a PRECIP (por exemplo, do setor sudoeste dos Estados O número de lisímetros e evaporímetros nos Estados Uni-
Unidos)? Onde você mora, a demanda por água é normal- dos é relativamente limitado. Mesmo assim, esse conjunto ofe-
mente atendida pelo volume da precipitação? Ou existe uma rece um banco de dados que possibilita estimar a ETP. Outros
escassez natural na sua região? Como seria possível respon- instrumentos remotos medem os componentes da ETP e ba-
der essas questões? lanço hídrico, a exemplo dos instrumentos instalados no Vale da
Determinação da ETP Embora a medição exata seja di- Morte, Califórnia, EUA, apresentados na Figura 9.7b. Os cien-
fícil, um método para medir a ETP emprega um tanque de tistas estão tentando estimar a quantidade de água subterrânea
evaporação, ou evaporímetro. À medida que ocorre a evapo- que evapora do leito seco quente desse vale.
ração, a água (em quantidades medidas) é automaticamente Diversos métodos de estimar a ETP com base em mete-
substituída, igualando a quantidade que evaporou no tanque. orológicos são amplamente utilizados e são facilmente imple-

O
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S O
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Tampa
de
escoa-
mento
Tampa
de perco- 2
latos 2 1
2
1
1
2
1 1
00
Escala em
centímetros
(a)

Figura 9.7 Lisímetros e estação meteorológica automática.


(a) Um lisímetro de pesagem, para medir evaporação e trans-
piração. A água segue os seguintes destinos: uma parte dela
permanece como umidade no solo, outra parte é incorporada
ao tecido vegetal, outra parte drena da base do lisímetro, o
restante da umidade corresponde à evapotranspiração. Dadas
as condições naturais do ambiente, o lisímetro mede a evapo-
transpiração real. (b) Instrumentos meteorológicos colocados
próximo a Badwater, no Vale da Morte, a menor elevação do
Hemisfério Ocidental (-86 m, abaixo do nível do mar), registra
as condições extremas do balanço hídrico. O USGS estuda as
condições de temperatura, ventos e evaporação-transpiração,
como parte da análise regional das águas subterrâneas. [(a)
Ilustração cortesia de Lloyd Owens, Agricultural Research Service,
USDA, Coshocton, Ohio, EUA (b) Foto de Bobbé Christopherson.]
(b)

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