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NOVO PLURAL 12 – LIVRO DO PROFESSOR

Português • 12.º Ano • Ensino Secundário


TESTES SUMATIVOS
NOME: ________________________________________________________________________ ANO: ______ TURMA: ______ N.º
______

TESTE 7 O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago + Crónica de D. João I, Fernão Lopes Unidade 4

GRUPO I
Apresente as respostas de forma bem estruturada.

Texto A
Leia o texto.
Não voltou a ter notícias de Marcenda, Nem uma palavra, eu é que escrevi, há dias, uns versos sobre 1

ela, Duvido, Tem razão, são apenas uns versos em que o nome dela está, quer que lhos leia, Não, Porquê,
Conheço os seus versos de cor e salteado, os feitos e os por fazer, novidade seria só o nome de Marcenda, e
deixou de o ser, Agora é você que não está a ser amável, E nem sequer posso desculpar-me com o estado
dos meus nervos, diga lá o primeiro verso, Saudoso já deste verão que vejo, Lágrimas para as flores dele 5
emprego, pode ser o segundo, Acertou, Como vê sabemos tudo um do outro, ou eu de si, Haverá alguma
coisa que só a mim pertença, Provavelmente, nada. Depois de Fernando Pessoa sair, Ricardo Reis bebeu o
café que lhe deitara na chávena. Estava frio, mas soube-lhe bem.
Alguns dias depois, os jornais contaram que vinte e cinco estudantes das Juventudes Hitlerianas de
Hamburgo, de visita ao nosso país em viagem de estudo e propaganda dos ideais nacional-socialistas, 10
foram homenageados no Liceu Normal, e que, tendo visitado demoradamente a Exposição do Ano X da
Revolução Nacional, escreveram no Livro de Honra esta frase, Nós não somos nada, querendo significar,
com declaração tão perentória, segundo explicava pressuroso o plumitivo 1 de serviço, que o povo nada vale
se não for orientado por uma elite, ou nata, ou flor, ou escol. Ainda assim, não rejeitaríamos esta última
palavra, escol, que vem de escolha, posto o que o teríamos, ao povo, dirigido por escolhidos, se os 15
escolhesse. Mas por uma flor ou nata, credo, afinal de contas a língua portuguesa é de um ridículo perfeito,
viva pois a elite francesa, enquanto não aprendermos a dizer melhor em alemão. Porventura com vistas a
essa aprendizagem se decretou a criação da Mocidade Portuguesa, que, lá para outubro, quando iniciar a
sério os seus trabalhos, abrangerá, logo de entrada, cerca de duzentos mil rapazes, flor ou nata da nossa
juventude, da qual, por decantações sucessivas, por adequadas enxertias, há de sair a elite que nos 20
governará depois, quando a de agora se acabar. Se o filho de Lídia vier a nascer, se, tendo nascido, vingar,
daqui por uns anos já poderá ir aos desfiles, ser lusito, fardar-se de verde e caqui, usar no cinto um S de
servir e de Salazar, ou servir Salazar, portanto duplo S, SS, estender o braço direito à romana, em saudação
[…]. Como amostra do que virá a ser a nossa juventude patriótica, irão a Berlim, já fardados, os
representantes da MP, esperemos que tenham oportunidade de repetir a frase célebre, Nós não somos nada, 25
e assistirão aos Jogos Olímpicos, onde, escusado seria dizê-lo, causarão impressão magnífica, estes belos e
aprumados moços, orgulho da lusitana raça, espelho do nosso porvir, tronco em flor estende os ramos à
mocidade que passa2, Filho meu, diz Lídia a Ricardo Reis, não entra em semelhantes comédias, e com estas
palavras teríamos principiada uma discussão daqui a dez anos, se lá chegássemos.
José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Lisboa, Porto Editora, 2016.
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1. sinónimo irónico de jornalista; 2. últimos versos do hino da Mocidade Portuguesa.

1. Como é sabido, o romance de José Saramago estabelece um permanente diálogo intertextual com a obra pessoana.
• Do primeiro parágrafo do excerto transcrito (iniciado por uma pergunta de Fernando Pessoa) releve os elementos
caracterizadores da relação heteronímica entre Pessoa e Ricardo Reis.
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2. Destaque as informações transmitidas pelo excerto, no que se refere à representação do tempo histórico da obra.

3. «Ainda assim, não rejeitaríamos esta última palavra, escol […], enquanto não aprendermos a dizer melhor em alemão.» (ll.14-17)
Explicite o sentido crítico da intervenção do narrador.

Texto B
Leia o texto.

1 De cima, nom minguava quem bradasse que o Mestre era vivo e o conde João Fernandes morto; mas
isto nom queria nenhum crer, dizendo:
– Pois se vivo é, mostrai-no-lo e vê-lo-emos. Entom os do Mestre, vendo tão grande alvoroço como
este, e que cada vez se acendia mais, disseram que fosse sua mercê 1 de se mostrar àquelas gentes; de outra
5 guisa2 poderiam quebrar as portas, ou lhes poer fogo; e, entrando assi dentro per força, nom lhes poderiam
depois tolher3 de fazer o que quisessem. Ali se mostrou o Mestre a uma grande janela que vinha sobre a
rua, onde estava Álvaro Pais e a mais força de gente, e disse:
– Amigos, apacificai-vos, ca eu vivo e são sou, a Deus graças.
E tanta era a turvação deles e assi tinham já em crença que o Mestre era morto, que tais havia aí que
10 aperfiavam4 que nom era aquele; porém, conhecendo-o todos claramente, houveram grande prazer quando
o viram, e diziam uns contra os outros:
– Oh que mal fez! Pois que matou o tredor do conde, que nom matou logo a aleivosa com ele! Credes
em Deus, ainda lhe há de vir algum mal per ela. Olhai e vede que maldade tão grande! Mandaram-no
chamar onde ia já de seu caminho, pera o matarem aqui per traiçom. Oh aleivosa! Já nos matou um senhor
15 e agora nos queria matar outro! Leixai-a, ca ainda há mal de acabar por estas cousas que faz.
E sem dúvida, se eles entraram dentro, nom se escusara a rainha de morte, e fora maravilha quantos
eram da sua parte e do conde poderem escapar.
O Mestre estava à janela e todos olhavam contra ele, dizendo:
– Oh senhor! Como vos quiseram matar per treiçom! Bento seja Deus, que vos guardou desse tredor!
20 Vinde-vos, dai ao demo esses paços, nom sejais lá mais!
E, em dizendo isto, muitos choravam com prazer de o ver vivo.
Fernão Lopes, Crónica de D. João I, Cap. XI.
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1. fizesse o favor; 2. maneira; 3. impedir; 4. insistiam.

4. A Crónica de D. João I relata um período de particular importância na História portuguesa.


Integre o fragmento transcrito no respetivo contexto histórico.

5. Aponte os elementos indiciadores da afirmação de uma consciência coletiva, complementando a resposta com citações
textuais ilustrativas.

GRUPO II
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e da letra que identifica a opção escolhida.

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Leia o texto.

Maus hábitos
O medo de falar, de exigir os seus direitos, faz parte daquilo a que o filósofo José Gil, no seu incisivo 1

livro Portugal Hoje – O Medo de Existir, chamou a «não inscrição» na vida cívica e que é parte do legado
de António Salazar. A não participação, ou o desinteresse, disse ele, foi herdada por um país que
recentemente, em termos históricos, passou quatro décadas sob uma ditadura e que ainda exibe as suas
cicatrizes. O terror de represálias por se pisar a linha incitou a astúcia e não o confronto. Gil acredita que 5
pouco, na verdade, mudou, «desde o medo, que sobrevive com outras formas, à irresponsabilidade, que
predomina ainda nos comportamentos dos portugueses». Um inquérito de 1997 constatou que apenas 3 por
cento dos portugueses alguma vez escreveram uma carta a um jornal acerca de algo do qual discordam.
Com Salazar, e antes dele, as pessoas eram mantidas longe do poder – o poder que permite a ação, a
afirmação, a tomada de decisão, a autonomia – e mantiveram-se afastadas dele. Gil apelida aberta e 10
iradamente os seus compatriotas de «adultos infantilizados». Os portugueses resistem à mudança e
agarram-se a estratégias de sobrevivência com séculos de existência. A UE trouxe uma nova era, «mas, se a
Europa entrou em nós, nós ainda não entrámos na Europa», conclui Gil.
Barry Hatton, Os Portugueses, tradução de Pedro Vidal, Clube do Autor, S.A. Lisboa 2011, pp. 281, 282.

1. De entre as afirmações seguintes, escolha, identificando-a através da alínea respetiva, a hipótese que corresponde à opção
correta.
1.1 Este excerto de Os Portugueses formula uma opinião sobre
(A) o comportamento dos portugueses.
(B) uma determinada característica dos portugueses.
(C) o livro Portugal Hoje – O Medo de Existir.
(D) os anos da ditadura salazarista.

1.2 Um dos aspetos do «medo de existir» dos portugueses revela-se


(A) no desinteresse generalizado pelas políticas governamentais.
(B) na dificuldade em assumir posições pelas quais possam ser responsabilizados.
(C) na fuga ao pagamento de impostos.
(D) na nostalgia dos tempos de ditadura.

1.3 Na perspetiva citada por Barry Hatton, esse «medo de existir» que subsiste entre os portugueses advém
(A) de danos insanáveis da ditadura.
(B) da falta de maturidade do povo.
(C) de uma certa forma ancestral de «ser» português.
(D) de danos causados pela ditadura e ainda não superados.

1.4 O medo do confronto aberto e responsável conduz, para contornar os problemas,


(A) à corrupção ou outras estratégias astuciosas.
(B) à falta de solidariedade para com os outros.
(C) à desconfiança preventiva das intenções do «outro».
(D) à utilização de estratégias infantis.

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1.5 O autor deste texto apresenta os seus pontos de vista e fundamenta-os com
(A) exemplos diversos.
(B) considerações de um filósofo português.
(C) conclusões de estudos sociológicos.
(D) um estudo sobre o temperamento dos portugueses.

1.6 Indique a afirmação falsa.


Como é próprio do artigo de opinião, o texto apresenta
(A) um discurso valorativo.
(B) clareza e pertinência da perspetiva adotada.
(C) um discurso pessoal e retrospetivo.
(D) a explicitação de um ponto de vista.

2. «O terror de represálias por se pisar a linha incitou a astúcia e não o confronto.» (l. 5)
Identifique a oração subordinante desta frase e respetivo sujeito.

3. «Gil apelida aberta e iradamente os seus compatriotas de “adultos infantilizados”» (ll.10-11)


Especifique a função sintática de «aberta e iradamente».

4. «um país que recentemente, em termos históricos, passou quatro décadas sob uma ditadura e que ainda exibe as suas
cicatrizes.» (ll.3-5
• Identifique os processos de localização temporal usados nesta transcrição.

5. «Com Salazar, (…) as pessoas eram mantidas longe do poder» (l. 9).
Reescreva a frase na forma ativa.

GRUPO III
«Com Salazar, e antes dele, as pessoas eram mantidas longe do poder – o poder que permite a ação, a afirmação, a tomada de
decisão, a autonomia – e mantiveram-se afastadas dele.»
Continuamos até hoje afastados do poder? Está-lo-emos cada vez mais? Haverá sinais de que as novas gerações virão a ter um
papel mais interveniente, no plano cívico, político, social?
Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 300 palavras, defenda um ponto de vista
pessoal sobre a problemática apresentada.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um
exemplo significativo.

OBSERVAÇÕES:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (ex.:/2015/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre 200 e 300 palavras –, há que atender ao seguinte: – um desvio
dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido; – um texto com extensão
inferior a 80 palavras é classificado com zero pontos.
FIM
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