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Março / Abril 2023 - R$ 39,00
O avanço do agro
Volume crescente de grãos impulsiona as ferrovias
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A MARCA QUE O TEMPO NÃO APAGA
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da Rumo.
Pág. 34
Prumat
Prumo Engenharia e Matisa
22
formam consórcio para
remodelação da EFVM
Divulgação
de CEO do Metrô BH. Ele foi diretor sistemas operados pela
de obras no VLT Carioca e na CCR e, CCR. Outro que já atuou Composição do Metrô BH em operação na Linha 1
antes de assumir o metrô da capital no metrô baiano e agora está
mineira, foi presidente da ViaRondon em Belo Horizonte é José Carlos Kako,
(concessionária de rodovia). A equipe que assumiu a gerência de manutenção. Troca de
Obras de expansão dormentes
Pelo contrato, o Grupo Comporte
deverá ampliar a linha 1 em apro-
A nova concessionária herdou as equi-
pes de operação, administrativa e de
na EFVM
A operadora estuda trocar os dormentes
ximadamente 2,45 km e construir a manutenção da antiga CBTU-BH. O de aço por de concreto em toda a exten-
estação Novo Eldorado. Além disso, contrato estipula que os funcionários são da ferrovia. O motivo é o custo, que
precisa implementar uma linha do têm direito a um ano de estabilidade. vem escalando com a alta do preço da
zero, com cerca de 10,5 km e sete es- Não houve, portanto, período de trans- matéria-prima no mercado. No passa-
tações, entre Nova Suíça e Barreiro. ferência de conhecimento, antes de a do, a concessionária fez movimento de
O grupo deverá receber R$ 3,2 bi- empresa assumir a operação. Os fun- troca da dormentação de madeira por
lhões de recursos públicos – R$ 2,8 cionários dormiram CBTU e acorda- de aço em toda a malha. Em 2013, che-
bilhões da União e R$ 440 milhões ram Metrô BH, após o contrato ter sido gou a receber encomenda de 1 milhão
do estado, provenientes de um acordo assinado no final de março. Diferente- de unidades da Hidremec. O contrato
firmado com a Vale em reparação aos mente do que aconteceu em SP, com as assinado com o consórcio Prumat (Pru-
danos pelo rompimento da barragem concessões do grupo CCR nas linhas mo Engenharia e Matisa) foi o primeiro
em Brumadinho. do metrô e trens metropolitanos. passo para essa mudança (página 22),
uma vez que o trabalho previsto é de
Apetite no setor remodelação da via, incluindo a troca
de dormentes em 45 km de linha.
Essa será a segunda experiência da pinas, cujo edital foi publicado no fi-
Comporte no setor metroferroviário. nal de março pelo governo de SP. Em
A empresa já opera o VLT da Baixada 2020, o Grupo Comporte foi o único a
Santista, através da BR Mobilidade, em
sociedade com a Viação Piracicabana. O
apresentar estudo para o VLT de Bra-
sília, a pedido do governo do Distrito
Mercado
Grupo Comporte tem como sócia princi- Federal, por meio de um Procedimen- esfriou
pal a família Constantino, fundadora da to de Manifestação de Interesse. O As empresas de dormentes aguardam a
companhia aérea Gol e uma das maiores projeto não teve avanços. Pelos cor- definição de novos projetos, após uma
empresas de ônibus do país. Em abril de redores, comenta-se que o Metrô BH desacelerada do mercado esse ano.
2021, foi a segunda colocada no leilão já iniciou conversas com fabricantes Com o atraso nas obras da Ferrovia de
das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, de trens, entre elas Alstom e a chinesa Integração Centro-Oeste, entre Mara
dos trens metropolitanos de São Paulo. CRRC, e para sistemas de sinalização Rosa (GO) e Água Boa (MT), a Vale
Nessa licitação, a Comporte participou e energia, com a Siemens. A empresa adiou a encomenda de 50 mil dormen-
do consórcio Mobitrens, junto com a deverá comprar 24 novos trens de qua- tes que deveriam ser entregues no início
CAF e Líder Consben. As linhas acaba- tro carros cada para o metrô mineiro. desse ano. As obras na Malha Paulista
ram sendo arrematadas pela CCR. O prazo de entrega das composições também deram um freio, afirmam fon-
A empresa também estaria interessada é de cinco anos contados a partir da tes do setor, levando a concessionária a
no Trem Intercidades São Paulo-Cam- assinatura do contrato. suspender algumas encomendas.
8 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
RENDIMENTO I PRECISÃO I CONFIABILIDADE
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”Plasser & Theurer“, ”Plasser“ e ”P&T“ são marcas registradas internacionalmente
entrevista
Leonardo Ribeiro
Secretário Nacional de Transporte Ferroviário do Ministério dos Transportes
RF – Com 100% da Fiol 2 concluída, o corredor Fico-Fiol é viá- RF – Figueirópolis e Mara Rosa são as duas únicas possibilida-
vel para concessão? des estudadas?
LR – Com 100% da Fiol 2 atingida, existe uma sinali- LR – Há dúvidas em relação ao traçado e ao melhor de-
zação de que há viabilidade no corredor Fico-Fiol (NR: senho para gerar eficiência no transporte de carga. Há
Fico é a Ferrovia de Integração Centro-Oeste, entre Mara também a possibilidade de deixar flexível para o futuro
Rosa-GO e Água Boa-MT, que está sendo construída pela concessionário decidir para onde quer levar a ferrovia.
Vale por meio do mecanismo de investimento cruzado). Tivemos acesso a estudos em que a Fiol 2 poderia subir
para o Nordeste. Estamos observando tudo que está sendo lagem econômico-financeira dos contratos de renovações
apresentado. Isso pode envolver, inclusive, uma possível ferroviárias. Por exemplo, temos hoje dificuldade de fazer
autorização no caminho. No final das contas, os números medições na questão da devolução de trechos, na precifi-
falam alto, mas é importante dizer que tudo isso está sen- cação dos ativos. Como as renovações foram feitas? Será
do avaliado dentro de uma metodologia de formulação de que o modelo foi apropriado dentro desse contexto de
políticas públicas. não incentivo do gestor público de fazer uma utilização
de receita de outorgas? Estamos fazendo uma gestão ex-
RF – Existem planos para o Nordeste? É uma região que tem tremamente técnica nesse sentido. Fui treinado na minha
enorme malha inoperante. carreira a fazer conta.
LR – Temos recebido propostas no sentido de fazer essa
ligação do Sudeste com o Nordeste dentro de um projeto RF – Há algo que incomoda nesse processo de renovação ante-
que pode inclusive indicar a necessidade de uma Parceria cipada das concessões?
Público- Privada, se verificado um VPL negativo. Trata-se LR – Acho que cabe destacar que essas renovações se de-
do trecho entre Corinto (MG) e Salvador (BA), chegando ram num campo institucional que teve diversos órgãos en-
até Recife (PE), que hoje está com baixa ou nenhuma in- volvidos. Do ponto de vista técnico, estamos olhando para
teração. O trecho é todo em bitola métrica, poderia haver essa modelagem no sentido de encontrar possíveis pontos
a necessidade de rebitolagem para a larga. Quando che- de aprimoramento para as futuras renovações. Não diria
gamos numa dimensão econômico-financeira, em que o que estamos fazendo uma revisão. É preciso destacar a im-
projeto precisa de uma contraprestação, automaticamente portância da segurança jurídica dos contratos, que é fun-
temos que falar da dimensão fiscal. Será que teremos es- damental para o país. A infraestrutura depende disso e de
paço fiscal para isso? Essa mudança de governo foi im- previsibilidade fiscal. Acho que cabe observar quais foram
portante para o setor de infraestrutura, porque existe uma os critérios adotados para o WACC (do inglês, Weighted
sinalização de que teremos uma retomada da participação Average Capital Cost, que na tradução literal significa cus-
no orçamento. Isso é fundamental. to médio ponderado de capital), para definição de receitas
tarifárias e de projeção de demanda. Eu, como economis-
RF – O setor ficou ancorado no investimento privado nos últi- ta, naturalmente vou trazer uma visão econômica e técnica
mos anos... dessa avaliação, que vai ser dada dentro de um ambiente
LR – Em qualquer país isso daí não funciona, esse negó- de governança transparente. Porque temos que considerar
cio de você achar que vai resolver setor ferroviário só com o interesse público dentro dessa modelagem. E também a
o privado. O teto de gastos desestimulou o setor público questão da viabilidade dos projetos para as empresas.
ao utilizar modelos econômico-financeiros para outorga.
Por exemplo, na infraestrutura pode haver um desestímulo RF – Essas melhorias serão consideradas para as próximas re-
para fazer uma utilização de caixa junto ao Tesouro para novações?
que esse recurso volte para o setor. Com uma política de LR – Temos duas questões. A quantitativa que é como
teto de gastos, a arrecadação não importa tanto, concorda? deve ser feita a precificação dos ativos, quais possíveis
Qual é o incentivo que o gestor vai ter para arrecadar e melhorias podem ser feitas na modelagem, olhando para
utilizar o caixa, sendo que existe um teto de gastos que o que foi feito. E temos a questão qualitativa também,
impede o uso desses recursos? porque a legislação é clara, deve haver uma vantajosidade
para não ter licitação. Estamos discutindo isso no grupo
RF – E o que a secretaria pretende fazer a esse respeito? de trabalho, que vai anteceder as audiências públicas da
LR – Gosto de uma frase que diz: “o que não pode ser renovação da FCA. Vamos nos debruçar nesses estudos
medido, não pode ser gerenciado”. Então, não adianta eu econômico-financeiros, além das outras dimensões men-
estar aqui falando sobre hipóteses. Montamos um grupo cionadas anteriormente.
de trabalho com técnicos da secretaria de Transporte Fer-
roviário, da Infra SA e da ANTT para discutir a mode- RF – Temos visto pedidos de alteração de cronogramas de obras
REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023 19
entrevista
de concessionárias que já renovaram seus contratos. Como avalia desses investimentos. Porque não basta só anunciar que
esse movimento? vai fazer, papel aceita tudo. É importante trabalhar, arre-
LR – Esse tema está sendo discutido numa área nova, gaçar as mangas, ir para o campo e fazer a coisa acontecer.
criada no TCU, dedicada ao consenso. Uma iniciativa do
ministro Bruno Dantas que acho de extrema relevância. RF – Mas a Infra SA não está com essa função de diálogo e
Isso mostra que o país está preocupado com o ambiente acompanhamento das obras?
institucional, contratos e segurança jurídica. E nessa ques- LR – Isso não deve ser feito somente pela Infra SA. Eu
tão, dois temas estão sendo discutidos, que é o caderno de acho que o ministério e a própria administração direta
obrigações da Malha Paulista e as algumas devoluções na também têm que acompanhar de perto, fazer um trabalho
Malha Sul. junto com a Infra SA e com a ANTT. Olhando para frente,
agora a gestão vai ser no sentido de fazer visitas periódi-
RF – Como está o avanço da Fico? cas e não deixar de lado, para que o atraso que aconteceu
LR – Nós estivemos na Fico, fomos recebidos pela Vale, no passado não se repita.
fizemos uma visita junto com a equipe da Infra SA e de-
tectamos que dos 30 km que já tinham sido desapropria- RF – Como está sendo tratado o projeto da Ferrogrão dentro
dos, apenas 5% foram executados até o momento. Aca- do Ministério?
bamos de liberar a desapropriação de mais 50 km, são ao LR – A Ferrogrão tem uma questão ambiental em discus-
todo 80 km liberados para as obras. Pelo contrato, a partir são. Houve uma medida provisória no passado recente que
desses 80 km desapropriados é que começa a contar o pra- desafetou as demarcações indígenas. Existe o argumento
zo de cinco anos para a conclusão da ferrovia. Isso está jurídico de que a Constituição não permite que esse tipo
numa cláusula do contrato. Inclusive esse prazo contratual de ato seja feito por meio de medida provisória. Se há uma
é uma cláusula para que a concessão da Estrada de Ferro redução de área, essa decisão teria que ser feita por meio
Vitória a Minas possa se manter de pé. Então, é importante de lei. Isso levou a questão ao STF. No próximo dia 31 de
que se cumpra esse prazo. Por isso, estamos em diálogo maio, deve haver uma decisão. Estamos levantando, nesse
transparente e cordial com a empresa, no sentido de ace- prazo, análises de diagnósticos de viabilidade e, inclusive,
lerar essas obras, esses projetos, definir os cronogramas e iniciando tratativas com o Ministério do Meio Ambiente,
metas. porque entendemos que esse projeto pode ser viável do
ponto de vista econômico-financeiro.
RF – A obra está apenas com 5% prontos até o momento?
LR – Sim, está muito atrasado. O que nós fizemos foi sen- RF – O ministério acredita na viabilidade então?
tar com a empresa num diálogo muito transparente, téc- LR – Com relação à viabilidade, é preciso revisitar os es-
nico, no sentido de a gente ter um cronograma de execu- tudos para tomar decisões sobre concessão pura ou com
ção, metas para acelerar esses investimentos. A intenção é aporte público. Ainda não há conclusões, mas queremos
poder voltar no meio do ano, com o prazo acertado, para manter a dimensão ambiental como um ponto focal nessa
verificar a execução dessas obras. O nosso objetivo é ace- discussão. E aí eu trago uma pergunta: e se não tivermos
lerar para que o país possa contar com essa ferrovia. a Ferrogrão? Muitas vezes a gente coloca o problema no
afirmativo, mas uma questão colocada no polo negativo
RF – Qual é a justificativa para esse atraso? às vezes ajuda a destravar debates e a obter consensos e
LR – Quando fazemos obras em casa, muitas vezes perce- convergências. Se não fizermos a Ferrogrão, o que pode
bemos atrasos que se dão por diversas questões. Eu acho acontecer? Se houver ali uma duplicação da BR-163, a
que foi muito mais uma questão de gestão. Acho que fal- poluição, os efeitos ambientais podem ser importantes e
tou uma gestão mais próxima do ministério com a empre- significativos. Temos que pensar também no contrafactu-
sa, no sentido de se aproximar e promover uma aceleração al. Se aquilo não acontecer, quais são os custos?
Parceria de peso
Matisa e Prumo Engenharia criam consórcio para remodelação de via na EFVM
Fotos: Divulgação/Matisa
Renovadora P190
da Matisa em
operação na EFVM
A
Prumo Engenharia, construtora especializada A parceria da fabricante com a empreiteira concreti-
em obras no setor ferroviário, e a Matisa, fa- zou-se no fim de 2022, após pouco mais de um ano de
bricante suíça de equipamentos de manuten- conversas entre a Matisa e a Vale. A operadora da EFVM
ção de via, se uniram numa parceria inédita. havia sondado a fabricante sobre o interesse de entregar
As duas empresas criaram o consórcio Prumat – nome uma proposta para operar e manter a renovadora. Bruno
que remete às primeiras sílabas de cada uma – para ofe- Bonella, diretor da filial Brasil da Matisa, diz que acei-
recer serviços de remodelação, nos próximos dez meses, tou a proposta – o que já seria um desafio para empresa,
de 45 km de linhas da Estrada de Ferrovia Vitória a Minas uma vez que sua expertise no mercado é na fabricação e
(EFVM). O acordo inclui a troca de aproximadamente 75 manutenção de equipamentos de via. Dias depois, a Vale
mil dormentes de aço por de concreto. A EFVM tem ex- voltou com outra proposta: a de o contrato contemplar
tensão total de 895 km, ligando a região metropolitana de também a organização da parte logística de materiais e o
Belo Horizonte (MG), onde faz conexão com a Ferrovia serviço de remodelação e das obras na via.
Centro-Atlântica, ao Porto de Tubarão, em Vitória (ES). Os contratos recentes assinados pela EFVM com fornece-
O contrato prevê a utilização de uma renovadora modelo dores indicam que a operadora tem direcionado seus esforços
P190, fabricada pela Matisa, mas de propriedade da Vale, na terceirização de alguns serviços de manutenção de via. Em
operadora da EFVM. A fabricante será responsável pelas fevereiro deste ano, a EFVM fechou acordo de cinco anos
partes técnica e de manutenção do equipamento. A Prumo com a Pelicano Construções para trabalhos de correção geo-
entrará com o serviço de remodelação propriamente dito, métrica de via em toda a extensão da ferrovia. A construtora,
ou seja, com a mão de obra responsável pela operação da que tem uma frota própria robusta de equipamentos de manu-
máquina na via. Os trabalhos tiveram início em abril. tenção de via, vai disponibilizar quatro conjuntos de socado-
trilhos
nça de zido:
COMPACTO, ROBUSTO, FLEXÍVEL: m u d a
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Eduardo Abelar especia
Vollert do Brasil Ltda
Vídeo demonstrativo da
operação na Internet:
A volta do
trem-bala
Para a TAV Brasil, modelo de autorização
garante mais atratividade ao projeto
de ligação Rio-São Paulo
Por Bianca Rocha
A
autorização dada pela Agência Nacional de
Transportes Terrestres (ANTT), no último
dia 23 de fevereiro, para a construção de uma
ligação ferroviária de alta velocidade entre
as duas maiores capitais do Brasil, Rio de Janeiro e São
Paulo, surpreendeu todos que acompanharam de perto a
ascensão e o fracasso de uma das grandes promessas das
gestões petistas no passado. O trauma da não concretiza- Trem de alta velocidade AGV,
ção do trem-bala pode explicar a rapidez com que o atual da Alstom, em operação na Itália
governo tratou de afirmar que não tem nenhum interesse
nele no momento. Para a TAV Brasil, agora autorizatária
cutir o trem de alta velocidade no governo Lula, em 2007.
do trecho, o fato de o novo projeto não ter qualquer amarra
Antes disso, participou como consultor de um projeto ini-
pública é o que faz aumentar a convicção de que, dessa
ciado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso,
vez, o trem de alta velocidade Rio-São Paulo poderá (fi-
em 1999, em parceria com a alemã Deutsche Bahn.
nalmente) sair do papel.
O estudo tinha o objetivo de apontar soluções para eixo
O desafio, no entanto, continua enorme. E agora está fo-
Rio-São Paulo, e a conclusão foi de que o trem-bala seria a
cado na questão da financiabilidade de um projeto que pre-
melhor opção para o transporte de passageiros entre as duas
cisa se tornar realidade de forma 100% privada, com esti-
cidades. Em 2012, Figueiredo foi indicado pela então pre-
mativas (por alto) de custos de R$ 50 bilhões. Os estudos de
sidenta Dilma Rousseff à presidência da Etav, estatal criada
engenharia, que têm previsão de ficarem prontos no final do
especificamente para estudar e licitar o projeto do trem-bala
ano que vem, vão refinar esses valores e detalhes de exten-
(que mais tarde se tornou EPL-Empresa de Planejamento
são e infraestrutura. O fato é que com capital social de R$
e Logística, e hoje está fundida com a Valec na Infra SA).
100 mil, a TAV Brasil sabe que o projeto depende da che-
“Conversei com todos os agentes, operadores, construto-
gada de investidores dispostos a encarar sua complexidade.
res, empreendedores de trens de alta velocidade no mundo
Segundo o CEO da empresa, Bernardo Figueiredo, a
durante seis anos. Foi um processo muito estudado e dis-
ideia é tentar trazer financiamento de fora do país e vin-
cutido nos mínimos detalhes. Essa experiência me mostrou
culado à prestação do serviço. Por exemplo, fechar acordo
que esse projeto tem toda a lógica do mundo”, afirma Fi-
com uma construtora que possa trazer crédito para a obra.
gueiredo, categórico, acrescentando que poucos dias depois
Com o operador, que traria o financiamento dos equipa-
de assinar o contrato de autorização com a ANTT, a TAV
mentos/material rodante. “Estamos privilegiando buscar
Brasil foi procurada espontaneamente pelos atores que de-
essas linhas associadas ao fornecimento, mas a priori, não
monstraram interesse no projeto brasileiro no passado.
descartamos nada”, afirma Figueiredo.
“Esse projeto é tão conhecido internacionalmente e tão
A empresa não dispõe ainda de alavancagem financeira
atrativo para quem o conhece que a gente já foi procurado
para um projeto dessa magnitude, mas pode-se dizer que
por quase todo mundo. Já estamos em conversas com to-
conhecimento sobre ele, sim. Bernardo Figueiredo foi di-
das as grandes possibilidades. Os principais atores são os
retor-geral da ANTT na época em que se começou a dis-
26 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
nologia implantada. “Pela análise dos estudos de demanda e
de engenharia na época, eu via que o projeto tinha números
consistentes, mostrava viabilidade e repercussão internacio-
nal. Agora, sem essas restrições de concessão pública e com
liberdade empresarial, as condições de atratividade melhora-
ram muito”, acredita Figueiredo.
Por outro lado, o modelo de autorização traz algumas
questões caras à iniciativa privada, como a possibilidade
de mais de uma empresa apresentar uma solicitação para o
mesmo trecho de origem e destino. De acordo com a reso-
lução que regulamenta os pedidos feitos à agência, é possí-
vel existirem duas (ou mais) ferrovias paralelas que ligam
a mesma origem e destino. A justificativa da ANTT é que o
modelo não deve trazer a ideia de que há um vencedor nos
processos de autorização de novas linhas ferroviárias.
É certo que tirar do papel um projeto bilionário como
o trem de alta velocidade Rio-São Paulo é uma missão
árdua para uma empresa, que dirá duas. Mas Figueiredo
reconhece que esse é um problema no modelo de autori-
zação, uma vez que aumenta o risco privado e pode ser um
fator dificultoso na busca por financiamentos. “Eu sempre
defendi que deveria ter um processo de seleção quando
espanhóis, os chineses, os coreanos e os franceses”. houvesse mais de um pedido para o mesmo trecho”, diz.
Nessa empreitada da TAV Brasil estão ainda Marcos Jo- Outro desafio que envolve o projeto do TAV Rio-São
aquim Alves, sócio da M.J. Alves e Burle Advogados, que Paulo é o fato de não haver histórico no mundo para fazer
vem cuidando da parte jurídica e de regulação, e Paulo comparações, uma vez que nos países que dispõem des-
Benites e Daniel Suh, ambos da Global Ace. Benites e Suh sa tecnologia quem construiu o trem-bala foi o governo,
tem uma história profissional ligada ao projeto de trem de para depois repassar a operação para a iniciativa privada
alta velocidade no Brasil. Eles assessoraram os coreanos (ou não). Paulo Benites, da Global Ace, admite que essa
na época em que este se preparava para apresentar uma
Divulgação
proposta na prometida licitação do governo brasileiro.
Atratividade
A convicção de Figueiredo sobre a viabilidade do pro-
jeto vem do fato de que, segundo ele, quando foi estrutu-
rado dentro do modelo de concessão já se mostrava viá-
vel e atrativo mesmo com alguns atributos que geravam
riscos para a inciativa privada. Por exemplo, a reversão
dos ativos para a União após 30 anos e algumas questões
que envolviam interesse público, como tarifa-teto e trans-
ferência de tecnologia de implantação e desenvolvimento
do trem-bala no país.
No modelo de autorização, a empresa tem o direito de ex-
plorar o trecho ferroviário por 99 anos renováveis por igual
período. Os ativos não são revertidos à União, a empresa fica
livre de cobrar qualquer tarifa do passageiro, não há demanda
Bernardo Figueiredo: "Projeto não ter amarra pública me faz ter
mínima e nem obrigatoriedade no sentido de transferir a tec- convicção nele"
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reportagem
um ambiente político negativo para o projeto. Agora, não stakeholders. No projeto entregue para a ANTT, o traçado
existe esse componente político, então é menos uma coisa prevê a chegada do trem em Santa Cruz, na Zona Oes-
que atrapalha o negócio”, comenta Figueiredo. te do Rio, onde há uma estação da SuperVia. “A estação
não será em Santa Cruz. Vai haver uma extensão de linha.
Diferente do original Existe um ramal de trem lá. Quem sabe a gente não possa
Paulo Benites está à frente dos estudos da parte técnica usar a faixa de domínio e economizar quilômetros de de-
do novo projeto, que traz diferenças significativas daque- sapropriações? Temos que sentar e conversar”.
le elaborado pelo governo no passado. A intenção da TAV Outra quase certeza é que o trem deverá ter estações
Brasil foi enxugá-lo. A começar pelo traçado: de 511 km em Volta Redonda (RJ) e em São José do Campos (SP).
passou para 378 km (de acordo com o projeto da TAV Bra- Um projeto que cairá como uma luva para o TAV é o Trem
sil entregue à ANTT). O projeto do governo previa a inter- Intercidades até Campinas, hoje em processo de licitação
ligação das cidades do Rio de Janeiro (estação Leopoldina), pelo governo de São Paulo. A ideia é que o trem de alta
São Paulo (Campo de Marte) e Campinas; conexão dos ae- velocidade possa fazer conexão na capital paulista com o
roportos Internacionais do Galeão, de Guarulhos e Viraco- TIC (talvez próximo a uma estação da Linha 7-Rubi da
CPTM). E no meio de toda essas defi-
Trem de alta
Divulgação
nições está o componente imobiliário, o
velocidade em
operação na chamado Real Estate. “Trata-se de uma
Coreia do Sul fonte de recursos fundamental para via-
bilizar o projeto. Vamos buscar ou criar
novas áreas que possam ser interessantes
para esse tipo de exploração. O número
de estações, inclusive, vai depender des-
se tipo de avaliação”, ressalta Benites.
A demanda de passageiros – ponto po-
lêmico do projeto desde os primórdios –
será objeto de estudos mais específicos
por parte da empresa. “Hoje existe uma
demanda bastante ativa. E outra que não
conseguimos nem mensurar ainda. Te-
pos; e a presença de uma estação intermediária no trecho do mos que ter níveis de serviço combinados com uma tarifa
Vale do Paraíba fluminense e outra no trecho paulista. atrativa, para que a gente consiga atrair o usuário do avião,
A TAV Brasil decidiu retirar do traçado a interligação do automóvel e do ônibus”, diz Benites. Para Figueire-
com os aeroportos – o que, segundo Benites, é funda- do, há uma questão que é uma unanimidade nas conversas
mental não só para reduzir custos, como também a com- com players internacionais: “Eles sabem que não existe
plexidade da engenharia e o consequente aumento do lugar no mundo em que 40 milhões de pessoas vivem num
risco do projeto. Para chegar ao Galeão, por exemplo, a eixo de 400 quilômetros”.
ideia no passado era construir um túnel submarino pas- Formalmente, a ANTT exige das autorizatárias a apre-
sando pela Baía de Guanabara. “Isso para nós é um custo sentação da licença prévia do empreendimento em três anos
que não tem justificativa. As pessoas que chegam ao Rio após a assinatura do contrato, sob pena de cassação da au-
querem ir para Barra ou Centro”. Em seu traçado, cuja torização. A TAV Brasil tem, portanto, o prazo até o início
maior parte será em superfície, a TAV Brasil conseguiu de 2026 para conseguir a primeira licença. Essa exigência
retirar quase 20 km de túneis que estavam previstos no não é tão rígida, uma vez que a agência abre espaço para
projeto do governo federal. prorrogação dos prazos mediante justificativa da autorizatá-
Barra da Tijuca e Centro são os bairros cariocas que ria. No projeto entregue à ANTT, a empresa estipulou junho
devem receber estações do TAV, segundo Benites. Como de 2032 como a data de início da operação do trem de alta
isso vai acontecer, ainda não se sabe. O especialista diz velocidade pela TAV Brasil. Por parte dos passageiros que
que é preciso iniciar uma série de conversas com diversos sonham com a ligação, resta aguardar e torcer.
30 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
arquivo ferroviário
A locomotiva a vapor nº 505, da anti-
Lucas M. Rosa
ga Rede Mineira de Viação (RMV), está
em plena atividade no passeio turístico
Campinas-Jaguariúna, operado pela
Associação Brasileira de Preserva-
ção Ferroviária (ABPF), em São Paulo.
Quando termina seu trajeto na estação
de Jaguariúna, a Maria Fumaça ingres-
sa num virador (foto), para que faça um
giro de 180 graus e se posicione no sen-
tido da viagem de volta (em direção a
Campinas). A 505 é a única sobrevivente
de um lote de 15 locomotivas do mes-
mo modelo adquiridas pela RMV. Foi
fabricada na Alemanha, em 1927, pela
L. Schwartzkopff. Sua reforma foi
concluída em 1993 pela ABPF, sendo então destinada ao
trajeto Campinas-Jaguariúna. Nos trilhos desse trem turístico, os
passageiros revivem o que foi um dia a Companhia Mogiana de
Estradas de Ferro, antiga operadora desse trecho ferroviário. VEJA A FOTO AMPLIADA
PORTOS E AEROPORTOS
IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO
TRANSPORTE QUALIFICADO
CERTIFICADO ANVISA
QUÍMICOS E DEDICADOS
PROJETO LOGÍSTICO
Agronegócio
Lucas M. Rosa
nos trilhos
Produção agrícola crescente faz com que transporte de grãos
ganhe cada vez mais importância nas ferrovias brasileiras
Por Bianca Rocha
O
agronegócio representou, sucessivos de produção de grãos e tam-
em 2022, quase um terço bém da baixa participação do modal no
do PIB (Produto Interno escoamento dessa carga. Este ano, o vo-
Bruto) do Brasil, chegan- lume de produção deve bater 312,5 mi-
do a US$ 500 bilhões – o equivalente a lhões de toneladas – incremento de 15%
uma Argentina. Toda essa pujança tem (40,1 milhões de toneladas) em relação
impulsionado não só a economia, mas à safra 2021/22, segundo a Companhia
também o setor ferroviário brasileiro. A Nacional de Abastecimento (Conab).
carga agrícola é uma das mais crescem No ano passado, mais da metade dessa
em termos de volume na ferrovia. Nos produção foi escoada por meio de ca-
últimos dez anos, a movimentação de minhões até os portos do Arco Norte ou
grãos (soja, farelo de soja e milho) nos do Sul e Sudeste do país. A ferrovia res-
trilhos dobrou, chegando a 64,5 milhões pondeu pela movimentação de cerca de
de toneladas em 2022, de acordo com 20% de todo o volume.
dados da Agência Nacional de Trans- Há limitações de capacidade nos
portes Terrestres (ANTT). corredores ferroviários existentes, mas
Está certo que o volume de grãos na o que vem restringindo esse aumento
ferrovia é incomparável ao de minério também é a falta de um leque de opções
de ferro, que ainda responde por 70% ferroviárias nas regiões onde a produ-
de tudo que é transportado pelo setor no ção agrícola é mais pujante. Isso talvez
Brasil. Mas a questão está no potencial possa mudar nos próximos anos. Com
de crescimento que vem do agronegó- exceção da Transnordestina (cujo novo
cio. Enquanto a movimentação ferrovi- estudo de demanda está em elabora-
ária de minério decresce (nos últimos ção), três das quatro ferrovias em obras
cinco anos a queda foi de 21,26%), a no país têm a carga agrícola como prin-
de grãos tende a subir. Não por acaso, cipal. Uma é a Ferrovia de Integração
praticamente todos os novos projetos de Centro-Oeste (Fico), entre Mara Rosa
ferrovia no país estão sendo prospecta- (GO) e Água Boa (MT), que deverá
dos ou implementados com o objetivo chegar ao Nordeste de Mato Grosso,
de atender essa demanda. Difícil prever terceira maior região produtora do es-
quais vão vingar dentro do complexo tado. O projeto de 383 km está sendo
setor ferroviário brasileiro, mas o fato implementado pela Vale por meio do
é que o agronegócio tem gerado estímu- mecanismo de investimento cruzado
los para a expansão da malha. (em troca da renovação da concessão da
O potencial desse setor para a ferro- Estrada de Ferro Vitória a Minas).
via é indiscutível diante dos recordes Já a Ferrovia de Integração Oeste-
Revista Ferroviária – Qual a sua percepção sobre o setor ferroviário? RF – Qual é a sua expectativa?
Blairo Maggi – Por muitos anos, o país negligenciou ou fez menos BM – Que as ferrovias continuem avançando para o interior do Mato Grosso,
do que deveria fazer nesse setor, diferentemente do que acontece em que é muito carente ainda. A ferrovia apenas entrou no estado. Ainda tem
outros países onde as ferrovias são a ponta de lança da economia. O mais de 1 mil km para o Norte, Leste e Oeste, para expansão da malha.
avanço ficou muito restrito, mas o Brasil continuou crescendo. A ocu-
pação do Centro-Oeste começou na década de 1970, mas a ferrovia RF – A produção vem crescendo mais rápido que a ferrovia...
saindo de Santos até Rondonópolis só chegou na década de 1990. As BM – Sim. E por quê? Os investimentos nas áreas agrícolas são feitos por
ferrovias chegaram atrasadas e, nesse momento, com um custo muito várias pessoas. São milhares de agricultores e empresas que fazem os seus
elevado para o agronegócio. investimentos. A somatória que dá o volume da produção agrícola. Enquanto
na ferrovia é uma única empresa e o capex é muito alto. Carregar isso no
RF – Como se explica essa questão? balanço financeiro por vários anos é bastante caro. E existe um vácuo na
BM – Diferentemente de outros tempos quando era construída e operada questão do financiamento. Quem financia a chegada das ferrovias? Temos
pela União, a cobrança era pela operação da ferrovia. Hoje, é necessário incluir estruturas de fundos que poderiam colocar dinheiro a longo prazo. Mas aí
no custo o capex desse negócio. Tudo tem que ser amortizado pela tonelada vem a questão da segurança jurídica dos contratos, que afasta o investidor.
transportada. Os benefícios para o setor na escolha entre caminhão e ferrovia Temos a Ferrogrão como exemplo, que está judicializada.
não são nada significativos. Tem épocas em que a ferrovia trabalha preço de
caminhão menos 5%, 3%. Praticamente quem baliza o preço é o caminhão. Se RF – A Ferrogrão para de pé com 100% de recursos privados?
ele estiver muito caro, a ferrovia sobe também. Esse é o lado ruim. Mas o lado BM – Sim, essa sempre foi a ideia, de construí-la com recursos privados
bom é que também não deixa os preços dos fretes explodirem. sem subvenção de governo. Não há dúvida de que ela fica de pé, por-
Blairo Maggi é
o Ferroviário
do Ano 2022
do Prêmio que é um volume gigante muitos produtores colocariam dinheiro como acionistas ou na compra de
Revista
de carga. E à medida em ações, porque no futuro estaria beneficiando outro negócio dele. A estru-
Ferroviária
que vai subindo com essa tura financeira para fazer isso não permite que as tradings sejam sócias
ferrovia para o Norte, vai efetivamente. Mas os produtores, sim, com um percentual bem menor.
incorporando novas áreas
prontas para serem utiliza- RF – Existe interesse do agronegócio em investir em ferro-
das. São áreas já ocupadas vias autorizadas?
pela pecuária, não tem des- BM – Em termos de ferrovia, não. Já em termos de portos, logística de
matamento. Se alguém fizer caminhão e barcaça, hidrovias, isso é 100% privado. Todos os portos
as contas e enxergar viabi- que funcionam no Arco Norte é tudo iniciativa privada. Só falta chegar
lidade econômica, a res- o trem. Quando há desregulamentação e não há burocracia impedindo,
ponsabilidade é dele. Não imediatamente as empresas fazem a infraestrutura necessária.
é mais do governo. Só cabe
ao governo criar condições para um projeto desse e colocar na praça. Se RF – Tem carga para todos os projetos de ferrovia que visam
chegar a Ferrogrão, o Mato Grosso está resolvido. o agronegócio?
BM – Acho que tem espaço, sim. O problema da ferrovia é que saí-
RF – Por que o agronegócio, incluindo as tradings, não se mos- mos do monopólio estatal e passamos para um monopólio privado. Não
tram dispostas a entrar como investidoras do projeto? mudou muito. Mas, por outro lado, tem mais eficiência, responde mais
BM – As tradings não participam porque é um investimento de retorno de rápido. Você pode contar com ela mais tempo. A ferrovia é muito bem-
20, 30 anos. As tradings precisam de muito capital no mercado para seus -vinda, mas se ela não existir, vamos sobreviver igual. Mais caro, mas
negócios rodarem. Ela financia produtor, recebe a mercadoria, coloca num ca- vamos sobreviver.
minhão, numa barcaça, põe num navio, entrega na Europa ou na Ásia. Esse
conjunto todo precisa ser financiado por alguém. São necessários milhões de RF – Se aumentasse a capacidade nos corredores existentes,
reais para fazer a companhia operar durante o ano. Se colocar um investimento daria conta?
no balanço de mais de R$ 20 bilhões, a empresa fica impossibilitada de ir ao BM – Se tivéssemos mais vagões e capacidade haveria uma partici-
mercado tomar dinheiro para fazer aquilo que é a essência do negócio dela. pação maior do transporte ferroviário dentro da própria economia bra-
sileira. Isso não acontece hoje. Mas tenho certeza que se não tivesse
RF – E os produtores? também gargalos na Baixada Santista ou nas passagens em nível, com
BM – Os produtores poderiam participar, mas não são eles que têm a mesma quantidade de trens e vagões que se tem hoje se transportaria
que dar a ignição do processo. Se houver uma estrutura financeira que muito mais carga. Aumentaria o caixa da companhia e poderia haver
mostre uma boa rentabilidade e segurança, não tenho dúvida de que uma redução de preço no transporte também.
Contagem de eixos
Frauscher
Advanced
Counter FAdC®
Graças à interface via software, o sistema Contador de Eixos FAdC pode
ser facilmente integrado aos sistemas superiores, fornecendo um design
simples e flexível. Os integradores de sistemas e operadores ferroviários
usufruem de vantagens significativas ao implementar este modelo de
equipamento.
Dados técnicos
Tipos de informação
Interfaces Protocolo vital à escolha do cliente, Protocolo FSE (Frauscher
Seção livre/ocupada (SIL4)
Safe Ethernet) e/ou sinal vital via relé ou optoacoplador
Sentido da composição (SIL4)
Nível de segurança SIL 4 (comunicação em conformidade com a norma EN 50159, Número de eixos
categoria 2)
Comprimento da composição
A indústria fala
RF lança o Pod nos Trilhos; Greenbrier Maxion e Randon são as convidadas de estreia
A
Revista Ferroviária lançou um novo canal de de 3 mil a 4 mil vagões/ano é a mínima necessária para
comunicação com o setor. É o videocast Pod manter as máquinas de produção funcionando, a sustenta-
nos Trilhos, plataforma de entrevistas com per- bilidade da cadeia de fornecedores e os investimentos em
sonalidades relevantes da ferrovia, para uma inovação de produto, necessários à melhor produtividade
conversa desenvolta e informativa sobre esse mercado no das ferrovias. Mais do que crescimento na demanda, a in-
Brasil. Trata-se do primeiro videocast no país vinculado dústria precisa de previsibilidade de encomendas, concor-
a uma mídia jornalística oficial e voltado exclusivamente daram Scolari e Trentin.
para o setor ferroviário. Os dois executivos chamaram atenção para a dificuldade
No episódio-piloto, a editora da RF, Bianca Rocha, bateu de pequenos e médios empresários manterem a produção
um papo com o CEO da Greenbrier Maxion, Eduardo Sco- de componentes usados na montagem do vagão. A preocu-
lari, e o diretor superintendente da Randon, Sandro Trentin. pação fica maior quando se vislumbra o aumento de pro-
No roteiro, assuntos que vêm permeando o dia a dia nas fá- dução que será necessária quando (e se) os novos projetos
bricas: o difícil momento de baixa nas encomendas e como de ferrovia começarem a se tornar realidade. Sem o forne-
isso tem afetado também a cadeia fornecedora de peças e cimento da parte de peças, haverá um gargalo nas entre-
componentes, a necessidade de novos projetos de ferrovia, gas difícil de mensurar, disseram os executivos. Segundo
de fato, saírem do papel e a resiliência da indústria que, a Scolari e Trentin, já existem problemas com a entrega de
despeito das dificuldades, continua investindo em tecnolo- alguns componentes. Na conversa, eles detalharam o que
gia e novos produtos, segundo os executivos. O episódio vem acontecendo.
está disponível nos canais da RF no YouTube e no Spotify.
Os baixos volumes de produção têm se refletido numa Novo plano
rotina de ociosidade nas fábricas. Atualmente, as plantas da Os executivos opinaram sobre como seria possível me-
Greenbrier Maxion, em Hortolândia, e da Randon, em Ara- lhorar a situação. Segundo eles, a solução precisaria pas-
raquara, ambas em São Paulo, estão produzindo, em média, sar não só pelos interesses da indústria, mas também das
apenas 10% de suas capacidades instaladas, que é de 12 mil concessionárias e do governo. Scolari citou como exemplo
vagões (somando as duas). Scolari estima que a demanda a Frota Verde Ferroviária. Trata-se de um programa insti-
42 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
tuído pela Agência Nacio- A Abifer, por exemplo,
nal de Transporte Terrestre começou a trabalhar em
(ANTT), mas que ainda formas de incentivo a esse
requer regulação. A inicia- tipo de demanda.
tiva propõe o uso de parte Scolari falou ainda dos
da outorga variável, adota- vagões hopper, hoje mais
da nos contratos de reno- A conversa teve momentos de descontração demandados, e explicou as
vação, para a compra de características do gôndola.
material rodante (vagões e locomotivas) mais sustentável “O uso contínuo e a abrasão que a caixa sofre na carga e
pelas ferrovias. na descarga do minério é muito grande. É preciso fazer a
A condição da frota atual foi outro ponto abordado pelos reposição contínua disso. Com serviços ou vagão novo, a
executivos. Dos 132 mil vagões em operação atualmente demanda do gôndola é quase que contínua”, disse, ressal-
nas ferrovias, metade tem mais de 30 anos e 14 mil deles tando também que existe espaço para carga geral. Embora
já passaram dos 50 anos, operando com baixa produtivi- ainda seja tímida, é uma demanda que irá crescer através
dade. “A indústria não é insensível ao montante de dinhei- da intermodalidade, segundo ele.
ro que se tem que aplicar para
fazer uma renovação de frota. "Estamos aguardando o crescimento
A nosso ver, isso tem que ser da demanda. Tivemos um 2022
estudado, de novo, com a par-
bastante tímido, e 2023 também
ticipação essencialmente das
será. Será um ano ponte, porque a
concessionárias, do governo,
da indústria para se achar um
expectativa para 2024 e 2025 nos
equilíbrio em que no final, to-
parece bem mais promissora."
dos ganham”, reforçou Scolari. Eduardo Scolari, CEO da Greenbrier Maxion
Gente que faz Profissionais ferroviários que atuam nas operadoras de carga e
de passageiros e na indústria são os destaques nessa coluna.
Passageiros
12 anos dentro do CCO é um reflexo do fiquei deslumbrada. É incrível
tamanho da mudança. acompanhar a rotina diária dos
Ferrovia significa...
passageiros e imaginar o quão
Para mim, a ferrovia vai além Um bom ferroviário é...
importante é para aquela pessoa
do transporte de passageiros. É É o que garante a ida e
estar em algum lugar.
por onde conectamos sonhos, o retorno de milhares de
momentos e pessoas. O destino passageiros todos os dias Expectativa profissional
de cada um que passa pelas com segurança, conforto e Com 12 anos de experiência
nossas linhas está nas nossas mobilidade humana. Reconhece na ViaQuatro, alcancei todos
mãos. E é por este motivo que esse papel e traz consigo a os meus sonhos e objetivos
acordo todos os dias. empatia com cada um deles. profissionais. Hoje lidero um
time incrível que move das
Desafio diário Momento para recordar
zonas Sul ao Centro milhares
A luta pela equidade de Quando entrei na
de pessoas todos os dias.
gênero é contínua e é uma ViaQuatro, em 2010, como
realidade em diversas áreas da agente de Atendimento e
sociedade. Porém, enxergo que Manutenção. Foi minha Nathalia Martins
no setor metroferroviário isso primeira experiência no Gerente de Atendimento da ViaQuatro
Carga
10 anos pessoal e operacional das abrir essas portas para que
pessoas e processos. venham muitas outras.
Ferrovia significa...
Transportar nossas riquezas Um bom ferroviário é... Expectativa profissional
conduzindo o país pelos caminhos Uma pessoa apaixonada Transformar a logística do Brasil,
do desenvolvimento econômico pelo que faz e inspirada pela construindo um legado positivo
e social. São os trilhos que nos vontade de compartilhar valor para as próximas gerações,
conectam à transformação da por onde passa, transportando por meio do nosso trabalho e
logística do Brasil. conexões, valores e dedicação. Abrir caminhos para
histórias por todo o Brasil, e uma ferrovia cada vez mais
Desafio diário
comprometida com a entrega diversa, num ambiente íntegro,
Contribuir para a construção de
para nossos clientes. inclusivo e acolhedor.
uma companhia para todas as
pessoas, formar um ambiente Momento para recordar
de trabalho com maior número Ser a primeira mulher a assumir
Virgínia Dias
Gerente de Operações e Manutenção
de mulheres em nossas a gerência de operações no do Terminal Integrador de
operações. Entregar resultados, tramo norte da Ferrovia Norte- Porto Nacional (TO) da VLI
Dormentes Monobloco
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21 2240-9884 / 99601-7929 www.conprem.com.br
estação mobilidade
F
az poucas semanas, o Governo do Estado de res a 1000km, é confiável, é seguro (são mais de 3600
São Paulo lançou o edital de concorrência pú- mortos por ano, só nas estradas federais), é sustentável
blica para a contratação do serviço de público e tem potencial Transformador do uso do solo e do pla-
de transporte de passageiros sobre trilhos, li- nejamento urbano.
gando São Paulo a Campinas, com paradas intermediárias Em distâncias inferiores a 1000km a tecnologia ferro-
em Jundiaí e outras cidades. viária atual, se bem desenhadas as linhas, pode oferecer
É a primeira iniciativa concreta de retomada dos trens viagens em torno de 5 a 6 horas de duração. O avião faz
de passageiros de médias distâncias no Brasil. Conser- essa distância em pouco mais de uma hora, mas é preciso
vamos apenas duas linhas de trens de passageiros, com somar a hora antecedente que temos chegar ao aeroporto,
operação comercial, que não seja uma conexão metropo- a meia hora entre o pouso e a chegada ao saguão de de-
litana: a Linha Vitória-Minas e a Linha Carajás, ambas sembarque e o tempo de deslocamento até aeroportos que,
providas pela Vale. em geral, estão distantes dos centros urbanos. Somados
É sempre triste essa constatação. Já fomos um país fer- esses tempos, o trem pode ser bastante atrativo.
roviário. Segundo o nosso amigo e expert no tema, Ayrton Serviços de trem não são paralisados por questões
Camargo e Silva, “Em 1959 o sistema ferroviário nacio- meteorológicas comuns no Brasil, não sofrem interferên-
nal possuía 38 ferrovias, 38.160 cia nas vias, oferecendo uma alta
km de extensão em tráfego, com A França, recentemente, confiabilidade de partidas e che-
mais de 3.700 estações e paradas, proibiu viagens de avião de gadas nos horários previstos. Não
uma frota de mais de 4.300 carros preciso me estender, aqui, sobre a
curtas distâncias, na sua ação
de passageiros de longo percurso, segurança da operação ferroviá-
tendo transportado nesse ano cer- para combater as mudanças ria quando comparada aos demais
ca de 100 milhões de passageiros, climáticas. Passou da hora modos de transporte.
excluídos os passageiros transpor- de sairmos do discurso sobre A França, recentemente, proibiu
tados pelos trens de subúrbio.” viagens de avião de curtas distân-
Sempre penso na dificuldade que
sustentabilidade e partirmos cias, na sua ação para combater as
tenho de explicar a meus filhos que para ação concreta. mudanças climáticas. Passou da
já tivemos 3700 estações e paradas hora de sairmos do discurso sobre
de trens e hoje temos quase nada. Como pudemos fazer sustentabilidade e partirmos para ação concreta. Nosso
isso com o patrimônio do país? De fato, foi um crime. planeta não está mais na beira do abismo. O painel das
Portanto, o anúncio da licitação de uma linha inter- Nações Unidas para o clima não cansa de alertar que esta-
municipal de passageiros deve ser recebido com alegria mos chegando ao ponto sem retorno em termos de aque-
e entusiasmo e torcemos para que grupos econômicos se cimento do planeta. Parecemos surdos, vez que seguimos
interessem pelo projeto e o coloquem em pé. Torcemos tímidos nas ações para redução das emissões. E se quere-
além: que o sucesso desse primeiro trem embale outros mos reduzir emissões no setor de transporte, é essencial
projetos que se conectem e devolvam ao Brasil a sua pu- acelerarmos os investimentos em ferrovias. Portanto, esse
jança ferroviária. projeto do Trem Intercidades de São Paulo, tem altíssima
E por quê? Ora, porque a ferrovia é um modo de relevância e urgência.
transporte rápido, especialmente em distâncias inferio- Mas um dos aspectos mais relevantes de um trem dessa
46 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
natureza não está exatamente na sua função de transporte misto do solo, criando uma área com residências, serviços
de passageiros. Mas é uma consequência da sua eficiência, e comércios, com demanda equilibrada de entrada e saída
confiabilidade, rapidez e custos ra- de pessoas durante os picos diários.
zoáveis. Consiste no imenso poten- Essa coordenação urbanísti-
Mas um dos aspectos mais
cial que ele tem para ser um indutor ca pode, além de incrementar a
de um novo desenvolvimento urba- relevantes de um trem dessa demanda do trem, promover o
no e metropolitano. natureza não está exatamente desenvolvimento orientado pelo
As cidades lindeiras ao projeto na sua função de transporte transporte, contribuindo para cida-
deveriam se engajar, junto com o des mais sustentáveis, inclusivas,
Governo do Estado, para adaptar
de passageiros. Consiste no seguras e igualitárias.
seus planos diretores a esse novo imenso potencial que ele tem Que a gente não perca a opor-
equipamento e aproveitar a oportu- para ser um indutor de um tunidade oferecida pelo Trem
nidade para, com um novo desenho novo desenvolvimento urbano Intercidades, quer seja para a
urbano, as cidades aumentarem a largada da reconstrução das fer-
densidade populacional, estabelece-
e metropolitano. rovias de passageiros no Brasil,
rem novas centralidades econômi- quer seja para mudar o desenho
cas com projetos urbanísticos que conectem residências, urbano das nossas cidades.
serviços e comércio em uma mesma área. Será plenamen- Vamos torcer e trabalhar para dar certo.
te factível você morar e trabalhar em cidades distintas.
A cidade de Washington desenvolveu um novo bairro a *Sérgio Avelleda é sócio-fundador da Urucuia: Mobilidade Urbana e
coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq.Futuro
partir de uma nova estação de metrô, o NoMa, com uso de Cidades do Insper
ELZA BRUCK
TRADUTORA INGLÊS
Vagões de terceiros
Frota de clientes aumentou entre 2022 e este ano na Ferrovia Norte-Sul, MRS e Rumo
Divulgação/VLI
Vagões da VLI para uso no transporte de carga da LD Celulose
O
estudo de mercado Todos os Vagões, reali- MRS, a frota de vagões fechado de clientes saltou de zero
zado anualmente pela Revista Ferroviária, no ano passado para 67 em 2023. No que diz respeito à
mostra que a frota de clientes aumentou no frota própria, a operadora registrou crescimento de 523
país, passando de 14.771 unidades em março vagões gôndola.
de 2022 para 15.433 em março deste ano – diferença de A Ferrovia Transnordestina Logística (FTL) e a Ferro-
662 vagões. Rumo, MRS e Ferrovia Norte-Sul registraram via Tereza Cristina (FTC) apresentaram aumento da frota
volume maior de vagões de terceiros no período. Entre própria, porém, não são vagões novos. No caso da FTL,
essas operadoras, apenas MRS e Ferrovia Norte-Sul tam- são unidades que estavam inativas no ano passado, foram
bém apresentaram crescimento do número de unidades reformadas e voltaram à operação. A diferença mais rele-
próprias. Esses resultados, no entanto, não foram suficien- vante aconteceu na frota de vagões plataforma, que passou
tes para evitar a queda da frota total de vagões no Brasil: de 226 para 247 (diferença de 22 unidades). Na FTC, o
de 124.942 em 2022, passou para 123.762 este ano – di- aumento foi de 11 vagões no total da frota própria, dos
minuição de 1.180 unidades. A Ferrovia Centro-Atlântica modelos gôndola, hopper e plataforma. As unidades fo-
(FCA) foi a que mais desmobilizou ativos tanto na frota ram locadas para atender a demandas de transportes de
própria quanto na de clientes – no total, são 1.584 vagões contêineres e carvão, além da realização de serviços inter-
a menos em circulação na concessionária. nos de manutenção da ferrovia.
Na Rumo, houve aumento de vagões fechado, hopper Nas ferrovias operadas pela Vale (Estrada de Ferro Vi-
e tanque na frota de clientes. Na própria, a operadora tória a Minas e Estrada de Ferro Carajás) houve uma leve
mudou a classificação de vagões hopper, que passaram a queda nas frotas próprias de vagões gôndola, em função da
ser considerados fechado este ano, o que ocasionou di- retirada de circulação de unidades em situação de aposen-
ferenças de unidades entre 2022 e 2023 nesses modelos. tadoria. A Transnordestina Logística (TLSA), Ferroeste e
A Ferrovia Norte-Sul registrou alta nos modelos fechado, Estrada de Ferro Jari declararam os mesmos números do
hopper e tanque. Entre os de terceiros, unidades hopper e ano passado. A Revista Ferroviária não obteve retorno da
tanque foram acrescidas à malha operada pela VLI. Já na Estrada de Ferro Juruti e da Estrada de Ferro Trombetas.
48 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
TOTAL DE VAGÕES POR OPERADORA
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Rumo 25.233 23.964 7.169 8.072 32.402 32.036
Transnordestina (FTL + TLSA) 1.857 1.876 131 131 1.988 2.007
Ferrovia Centro-Atlântica 18.915 17.737 1.918 1.512 20.833 19.249
Ferrovia Norte-Sul 2.387 2.466 585 683 2.972 3.149
EF Vitória a Minas 18.987 18.967 500 500 19.487 19.467
EF Carajás 22.190 22.183 3.017 3.017 25.207 25.200
Ferrovia Tereza Cristina 284 295 0 0 284 295
MRS 19.715 20.238 1.451 1.518 21.166 21.756
Ferroeste 286 286 0 0 286 286
EF Trombetas 152 152 0 0 152 152
EF Juruti 81 81 0 0 81 81
EF Jari 84 84 0 0 84 84
Total 110.171 108.329 14.771 15.433 124.942 123.762
*Os dados têm como base os meses de março de 2022 e março de 2023. Fonte: Operadoras
RUMO
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 2.281 6.040 1.034 1.501 3.315 7.541
Gôndola 2.030 1.719 7 0 2.037 1.719
Hopper 14.365 10.531 3.554 3.774 17.919 14.305
Plataforma 2.769 3.216 1.155 1.155 3.924 4.371
Tanque 2.367 2.417 1.391 1.642 3.758 4.059
Outros 1.421 41 28 0 1.449 41
Total 25.233 23.964 7.169 8.072 32.402 32.036
Fonte: Rumo
EF CARAJÁS
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 12 11 304 304 316 315
Gôndola 20.319 20.313 17 17 20.336 20.330
Hopper 1.183 1.183 2.341 2.341 3.524 3.524
Plataforma 440 440 29 29 469 469
Tanque 196 196 326 326 522 522
Outros* 40 40 0 0 40 40
Total 22.190 22183 3017 3017 25.207 25200
Fonte: Vale
FERROESTE
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 229 229 0 0 229 229
Gôndola 47 47 0 0 47 47
Hopper 10 10 0 0 10 10
Plataforma 0 0 0 0 0 0
Tanque 0 0 0 0 0 0
Outros 0 0 0 0 0 0
Total 286 286 0 0 286 286
Fonte: Ferroeste
EF TROMBETAS
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 0 0 0 0 0 0
Gôndola 148 148 0 0 148 148
Hopper 2 2 0 0 2 2
Plataforma 2 2 0 0 2 2
Tanque 0 0 0 0 0 0
Outros 0 0 0 0 0 0
Total 152 152 0 0 152 152
Fonte: Mineração Rio do Norte (MRN)
EF JURUTI
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 1 1 0 0 1 1
Gôndola 72 72 0 0 72 72
Hopper 0 0 0 0 0 0
Plataforma 5 5 0 0 5 5
Tanque 3 3 0 0 3 3
Outros 0 0 0 0 0 0
Total 81 81 0 0 81 81
Fonte: Alcoa
EF JARI
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 0 0 0 0 0 0
Gôndola 0 0 0 0 0 0
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Fonte: EF Jari
REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023 51
suprimentos
Pés no chão
Empresas de manutenção de vagões aguardam novos projetos para voltarem a investir
Por Fábio Nascimento
A
pós o fim da pandemia e o retorno gradual das demanda ainda não chegou com força no segmento de ma-
atividades nas oficinas, o segmento de manu- nutenção ferroviária. É o que diz Leandro Scacheti, sócio
tenção ferroviária de vagões ainda vive um da Man-Fer, uma das principais empresas do ramo no país.
momento de incertezas e cautela. As empresas “Até o momento não sentimos diferença. Vemos que o se-
especializadas nessa área estão preferindo aguardar o de- tor está crescendo, as coisas aconteceram, porém isso ainda
senrolar dos investimentos oriundos das renovações anteci- não gerou frutos para a cadeia como um todo”, afirma.
padas dos contratos de concessões das ferrovias e dos no- Scacheti destaca a inovação como um cartão de visitas
vos projetos de autorização. A expectativa é que a demanda da Man-Fer. Segundo ele, assim que as demandas voltarem
pelos serviços aumente à medida em que o setor como um a atingir um patamar interessante a empresa estará pronta
todo apresente crescimento tanto na extensão da malha para seguir atendendo o setor. “Hoje nossa estrutura é nova
quanto no transporte de carga nos corredores existentes. e moderna, temos maquinário de última geração e sempre
O potencial a ser explorado é grande se os projetos se olhamos para as novidades do setor ferroviário. Nossa área
Fotos: Divulgação/Man-Fer de usinagem, por exemplo, é modelo e
conta com máquinas de alta produção.”
Atualmente, os trabalhos de manuten-
ção ferroviária representam 10% do fa-
turamento total da empresa. “A Man-Fer
tem sua essência no segmento ferroviário,
visto que a empresa foi inaugurada há
quase 20 anos exclusivamente para atu-
ar nesse ramo, o que, inclusive, se refle-
tiu até no próprio nome (Man-Fer é uma
abreviação do termo Manutenção Ferro-
viária). Ao longo do tempo, porém, com
as incertezas e insegurança jurídica no
país, tivemos que nos adaptar/adequar em
novos segmentos”.
Já o sócio da ANX, Eduardo Monteiro,
diz que o investimento em novos espaços
A planta da Man-Fer está localizada em Campinas (SP) e ganhos de estrutura, feito nos últimos
anos, está amparado no fato de que a de-
concretizarem nos médio e longo prazos, afirmam as com- manda vinda das próprias concessionárias tem sido sufi-
panhias. No curto prazo, as expectativas giram em torno ciente para a empresa garantir bons resultados. Por outro
do processo de renovação da Ferrovia Centro-Atlântica lado, a expectativa de novos projetos se concretizarem no
(FCA), ainda em estudo na Agência Nacional dos Trans- país ainda não estimula a companhia a se expandir mais. A
portes Terrestres (ANTT), e na conclusão do trecho Cen- palavra de ordem agora é aguardar as cenas dos próximos
tro-Sul da Ferrovia Norte-Sul – esta última prevista para o capítulos no setor ferroviário, uma vez que faltam garan-
primeiro semestre deste ano. tias de que novas ferrovias realmente sairão do papel.
Mas embora quatro ferrovias já tenham assinado seus “Diante do cenário atual do mercado, a meta da empresa
contratos de concessão (Rumo Malha Paulista, Estrada de é focar no crescimento dentro do mercado já em operação.
Ferro Vitória a Minas, Estrada de Ferro Carajás e MRS), a A ANX tem crescido de forma consistente nos últimos
O furto de cabo
danifica permanentemente as conexões dos bondes de impedân-
cia, pois a corrente de tração funde os elementos de fixação dos
terminais de conexão (fig. 5).
Figura 6– Análise
do local de instala-
ção do sistema anti-
furto, em Botujuru. Figura 9 – Abertura de valetas e travessias em Botujuru.
Figura 8– Confecção
das tampas de proteção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUENO, Silvio. Manual de sinalização ferroviária CPTM,
São Paulo, 2006.
Gráfico 2 – Ocorrências de vandalismos em CVCA, CONEXIS, Brasil Digital. Volume de cabos de tele-
em Botujuru, no ano de 2021. com roubados ou furtados cresce 14% em 2022.
Ações criminosas afetaram 7 milhões de clientes,
Nos meses seguintes, após instalação do sistema, foi verifi- publicação de 10/04/2023. Acesso em: 16/04/2023.
cada uma redução de 66% dos vandalismos nesse local , sendo Disponível em: https://conexis.org.br/volume-de-
-cabos-de-telecom-roubados-ou-furtados-cresce
registrado apenas ocorrências de tentativa de retirada da tampa
-14-em-2022-acoes-criminosas-afetaram-7-milhoes-
de proteção de cabo central, não afetando o funcionamento do -de- clientes/
sistema de sinalização (gráfico 3).
CPTM, Sistema SICOM. Portal da intranet. Acesso em
26/07/2022.
FERREIRA, André. O furto de cobre e seu impacto na
sociedade. Revista Grandes Construções, publicação
de 29/04/2021. Acesso em: 22/07/2022. Disponível
em:https://grandescons trucoes.com.br/Noticias/Exi-
bir/o-furto-de-cobre-e-o-seu-im pacto-na-sociedade
JÚNIOR, Orlando Gonçalves Faya. Entretrilhos: territó-
rios ferroviários, rompimentos e reconexões. Tese de
dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo
(USP), 2020. Acesso em: 22/07/2022. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16136/
tde-29042021-102821/publico/ME OrlandoGoncal-
vesFayaJunior_rev.pdf
Gráfico 3 – Ocorrências de vandalismos em CVCA,
GRS, General Railway Signal. Elements of railway sig-
em Botujuru, no ano de 2022.
nalling. Rochester New York, 1979.
Mais passageiros
Sistemas têm movimentação maior, mas patamar pré-pandemia está longe para algumas operadoras
A
pós a queda brutal de usuários que ocorreu radora registrava média de 820 mil usuários/dia.
na pandemia, os sistemas de passageiros No VLT Carioca circulam atualmente cerca de 76
sobre trilhos vêm registrando aumento na mil passageiros/dia, alta de 29,6% na comparação com
movimentação nos últimos meses. O início fevereiro de 2022. No mesmo mês em 2020, porém, o
deste ano foi de crescimento no acumulado em relação volume alcançava 110 mil diariamente. Já a SuperVia
ao mesmo período de 2022: de 287.709 passou para não só não recuperou a movimentação anterior à crise
359.222 usuários transportados em janeiro e fevereiro, o (600 mil passageiros/dia), como apresentou uma leve
que corresponde ao aumento de 24,9%. redução no acumulado de janeiro e fevereiro deste ano:
Embora a variação seja positiva entre 2022/2023, a -0,4% na quantidade de usuários/mês.
recuperação do patamar pré-pandemia ainda está longe Nas ferrovias de carga, o início do ano também foi
de acontecer para alguns sistemas. No Rio de Janeiro, de queda, com -0,4% em toneladas úteis e 5% em to-
a situação não é tão crítica como foi no decorrer da cri- neladas por quilômetro útil. Estrada de Ferro Carajás,
se, mas tampouco confortável. O MetrôRio transportou Rumo Malhas Norte e Central apresentaram redução no
em fevereiro 654.916 passageiros/dia nas duas linhas, volume de carga transportada em relação ao acumulado
aumento de 27,5% em relação ao mesmo mês do ano de janeiro e fevereiro do ano passado. Entre as conces-
passado. Em fevereiro de 2020, no entanto, pouco antes sionárias que se destacaram no período estão a EFVM,
do decreto de quarentena em função da Covid-19, a ope- FCA e MRS.
Veja mais em www.revistaferroviaria.com.br
Nas tabelas de transporte urbano sobre trilhos estão contabilizadas as transferências entre as linhas
TRANSPORTE DE CARGA POR FERROVIA - JANEIRO 2023
Δ% Acumulado no ano até Janeiro
01/22 01/23
Operadoras Jan 23/Jan 22 2022 2023 Δ%
TU (10³) TKU (106) TU (10³) TKU (106) TU TKU TU (10³) TKU (106) TU (10³) TKU (106) TU TKU
Rumo - Malha Sul 1.367,9 855,4 1.442,9 915,8 5,5 7,1 1.367,9 855,4 1.442,9 915,8 5,5 7,1
Transnordestina Log. 227,3 52,0 247,7 50,6 9,0 (2,7) 227,3 52,0 247,7 50,6 9,0 (2,7)
E.F. Carajás 14.824,5 13.390,0 12.468,9 11.184,5 (15,9) (16,5) 14.824,5 13.390,0 12.468,9 11.184,5 (15,9) (16,5)
E.F.V.M. 6.292,0 3.474,4 6.640,5 3.678,8 5,5 5,9 6.292,0 3.474,4 6.640,5 3.678,8 5,5 5,9
Rumo - Malha Paulista 516,3 601,2 458,0 571,4 (11,3) (5,0) 516,3 601,2 458,0 571,4 (11,3) (5,0)
Rumo - Malha Norte 2.126,0 3.252,7 1.423,1 2.154,7 (33,1) (33,8) 2.126,0 3.252,7 1.423,1 2.154,7 (33,1) (33,8)
Ferroeste 7,6 1,8 6,5 1,5 (14,5) (16,7) 7,6 1,8 6,5 1,5 (14,5) (16,7)
FCA 1.317,8 776,5 1.691,1 1.170,7 28,3 50,8 1.317,8 776,5 1.691,1 1.170,7 28,3 50,8
FTC 262,2 20,4 230,3 18,0 (12,2) (11,8) 262,2 20,4 230,3 18,0 (12,2) (11,8)
MRS Logística 6.836,0 3.006,8 8.611,3 3.880,4 26,0 29,1 6.836,0 3.006,8 8.611,3 3.880,4 26,0 29,1
Rumo - Malha Oeste 154,0 16,9 206,1 13,7 33,8 (18,9) 154,0 16,9 206,1 13,7 33,8 (18,9)
Rumo - Malha Central 234,2 273,7 177,0 187,3 (24,4) (31,6) 234,2 273,7 177,0 187,3 (24,4) (31,6)
Ferrovia Norte-Sul 315,0 279,3 471,4 422,5 49,7 51,3 315,0 279,3 471,4 422,5 49,7 51,3
Total 34.480,8 26.001,1 34.074,8 24.249,9 (1,2) (6,7) 34.480,8 26.001,1 34.074,8 24.249,9 (1,2) (6,7)
Fonte: ANTT.
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FERROVIÁRIO
Novo Marco
do Transporte
Público Coletivo
MARCOS DANIEL SOUZA DOS SANTOS
Diretor do Departamento da Infraestrutura de Mobilidade Motorizada e Ativa do Ministério das Cidades
S
ão muitos os desafios a nível federal para a e alta capacidades. Estes passam a ser orientadores do
mobilidade urbana no Brasil. Somos um país desenvolvimento urbano, cabendo ao poder público, nas
com 5.568 municípios, deste total pouco mais três esferas de atuação, prover soluções de financiamen-
de 300 municípios possuem mais de 100 mil to dessa infraestrutura e especialmente da operação, não
habitantes, ou seja, temos uma grande quantidade de cabendo mais ter somente os usuários pagantes como
cidades de pequeno porte com demandas da população fonte de receita para manutenção do sistema, mas sim
quanto à mobilidade urbana. Importante, porém, destacar toda a coletividade.
que as 21 maiores regiões metropolitanas do país con- Os orçamentos públicos dos municípios, estados e da
centram cerca de 40% de toda a população em agrupa- União, passam a ser fonte de financiamento deste servi-
mentos de cidades em extensos territórios. Logo, como ço, assim como ocorre na saúde e educação, desde que
debater soluções de mobilidade urbana a nível federal instituídos mecanismos de transparência e controle social
neste contexto geográfico? sobre esses recursos. Caberá ao poder público se apropriar
Temos a nível federal uma Política Nacional de Mobili- das informações e contas do transporte público demons-
dade Urbana (Lei 12.587/2012), instituída há 11 anos que trando o retorno desses recursos em um serviço de quali-
dá diretrizes nacionais para as diferentes cidades brasileiras dade e adequado a cada realidade local.
e seus sistemas de mobilidade urbana. Com relação ao ser- A minuta de texto não somente estabelece esse compar-
viço de transporte público coletivo, a percepção é de que tilhamento de responsabilidades quanto ao financiamento
essas diretrizes nacionais induziram poucas evoluções. do serviço, mas traz ainda instrumentos legais para per-
A União apresentou final de 2022 uma proposta de le- mitir o custeio de todo o sistema considerando que muitas
gislação federal específica com o novo Marco Legal do cidades e UFs possuem diferentes situações fiscais. Neste
Transporte Público Coletivo para consulta pública. Este sentindo, as fontes extratarifárias e regulações municipais
texto foi construído por várias mãos por meio do Fórum estaduais e federais especificas poderiam ser trabalhadas
Consultivo de Mobilidade Urbana, instituído por Decre- no sentindo de contribuir para o financiamento e manuten-
to, com participação de segmentos do setor de transpor- ção de toda a cadeia do transporte público.
te público e convidados. Espera-se com isso evoluir na Para o setor metroferroviário, entendemos ser agora
compreensão de toda a sociedade, a partir do art 6° da uma excelente oportunidade de induzir neste debate a pro-
Constituição, e especialmente por parte do poder público, moção de soluções e projetos para os centros urbanos que
sobre a urgente necessidade de remodelar nossos sistemas permitam o país avançar na modernização e expansão da
de transporte público com soluções sustentáveis e que rede de transporte de passageiros sobre trilhos como eixos
promovam a inclusão social. estruturadores do território, especialmente nos aglomera-
O texto propõe a formatação nos grandes centros urba- dos urbanos, contribuindo para a melhoria da qualidade
nos de uma rede básica e integrada de transporte público de vida nas cidades, na geração de emprego e renda e na
planejada em eixos estruturantes, com sistemas de média mitigação e adaptação as mudanças climáticas.
60 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
OUR HOSTS
12 INTERNATIONAL HEAVY
th
HAUL CONFERENCE
27 – 31 August 2023
Rio de Janeiro, Brazil
Windsor Convention
& Expo Centre
Essa parceria traz um diferencial aos profissionais que atuam diretamente nas
operações de ferrovia, proporcionando menor impacto durante execução de suas
atividades. O resultado é maior eficiência produtiva e, mais importante, maior
conforto aos operadores.
plassertheurer.com plasser.com.br
”Plasser & Theurer“, ”Plasser“ e ”P&T“ são marcas registradas internacionalmente