Você está na página 1de 66

Bl Fe no

éo oA
air rr 20
o M ov 22
d

ag iário
gi
Março / Abril 2023 - R$ 39,00

O avanço do agro
Volume crescente de grãos impulsiona as ferrovias
DORMENTES DE CONCRETO CAVAN
A MARCA QUE O TEMPO NÃO APAGA

DORMENTES DE CONCRETO
PARA CARGAS E PASSAGEIROS
DORMENTES PARA AMV
DORMENTES MONOTRILHO
DORMENTES PARA CONTRATRILHO
DORMENTES ESPECIAIS

CAPACIDADE DE
PRODUÇÃO DE
1.000.000 +55 11 3631-4810
www.cavan.com.br
DE DORMENTES POR ANO
editorial

As ferrovias são impulsionadas por cargas e pessoas. No Brasil,

enquanto se observa uma queda no transporte de minério, vislumbra-

se uma crescente participação dos grãos nas ferrovias brasileiras. A

maioria dos projetos em andamento ou planejados tem como alvo a

produção agrícola brasileira. Carga não falta, o que falta é capacidade

nas ferrovias para atender à demanda. Em relação às pessoas, a boa

nova é o edital para o Trem Intercidades ligando São Paulo a Campinas.

Oxalá seja o prenúncio da retomada do transporte de passageiros para

além dos deslocamentos metropolitanos sobre trilhos.

ASSINE www.revistaferroviaria.com.br Anual: R$ 182,00


6 edições, newsletter e acesso ao site

CONSELHO EDITORIAL REDAÇÃO CIRCULAÇÃO

Bianca Rocha Editora: Bianca Rocha Daniel Moreira


Colaboradores: Fábio Nascimento
Claudinei Carvalho assinaturas@revistaferroviaria.com.br
Letícia Chiantia
Regina Perez
Consultor técnico: Henrique Boneti
redacao@revistaferroviaria.com.br DIAGRAMAÇÃO
Ano 84 - Março / Abril de 2023
Fabio Hirata

contato@fabiohirata.com.br

DIRETORA DE REDAÇÃO PUBLICIDADE


Diretor Comercial: Claudinei Carvalho
Regina Perez SEDE
publicidade@revistaferroviaria.com.br
Revista Ferroviária é uma publicação da regina@revistaferroviaria.com.br Av. Marquês de São Vicente, 2.219
Editora Ferroviária Ltda. Ed.Office Time - 5º andar - sala 506
CNPJ: 12.464.344/0001-30
JORNALISTA RESPONSÁVEL São Paulo-SP - 01140-060 - Brasil
Inscrição Municipal: 4.131.725-4
Registro no INPI: 816.399.964 Regina Perez - Mtb 14.194 Tel: (11) 3059-6060

REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023 3


sumário
Ano 84 - Março / Abril 2023 Entrevista
Secretário de Ferrovias,
Leonardo Ribeiro, quer PPPs
para projetos de carga
12

Vagões hopper
da Rumo.

Foto: Lucas M. Rosa

Pág. 34
Prumat
Prumo Engenharia e Matisa

22
formam consórcio para
remodelação da EFVM

Pod nos Trilhos


RF lança videocast voltado à
Trem-bala
A volta do projeto de alta
velocidade Rio-SP, agora sob
ferrovia; Greenbrier Maxion
e Randon estão na estreia 42
o modelo de autorização
26
Todos os vagões
Frota de clientes aumenta com
participação de usuários na
compra de material rodante 48

Pátio Itaquera, do Metrô de São Paulo,


que recebe os trens da Linha 3-Vermelha,
fica próximo à Neo Química Arena, estádio
popularmente conhecido como Itaquerão.
Foto: Márcia Alves
cartas
Monotrilho de Salvador BRTs Ferromodelismo
Uma vergonha esse tipo de obra. Ao que tudo indica e ao que parece, Parabéns à Frateschi por este grande
Eliminaram o trem de subúrbio de os BRTs já construídos no país são lançamento! É o ferreomodelismo
Salvador alegando as obras, mas es- fantasmas invisíveis que não servem brasileiro representando nossas fer-
sas não avançam. Existe algo de po- de exemplo para ninguém, há os que rovias e empresas! Este novo vagão
dre nessa história toda. Em resumo, funcionam pessimamente e os que tanque modelo TCT expõe a nova
a população vai sofrendo as consequ- são implantados em corredores sem tendência de cargas para novas ferro-
ências de uma má gestão do projeto. demanda, onde ônibus comuns (com vias, que é a importância da susten-
Deveriam ter iniciado as obras com o dois eixos), fantasiados de BRT, cir- tabilidade em nossa matriz de com-
trem em funcionamento por meio de culam praticamente vazios, oneran- bustíveis desenvolvidos por meio de
desvios na via permanente. Está pare- do custos operacionais sem nenhu- energia limpa e renovável!
cendo em tese que fizeram de propó- ma serventia, com uma construção Luiz Eduardo Silvino Bueno
sito em benefício de terceiros. que degrada tragicamente o tecido e l.eduardo.sb@hotmail.com
Paulo Roberto Stradiotto a paisagem urbana por onde passa, a
prstradiotto@gmail.com exemplo do tosco e malfadado BRT
Gente que faz na EFC
de Salvador. E assim seguem sacrifi-
cando a mobilidade urbana em busca Parabéns pela trajetória
Polêmico de uma placa comemorativa mais fá- Kelleton! Toda a EFC
Fotos: Divulgação

cil de ser colocada na parede de uma tem orgulho da transfor-


obra mais curta e menos importante. mação que vocês estão
promovendo na manu-
pregopontocom@hotmail.com
tenção de via permanen-
te! Sempre com olhar
KinetiX da Wabtec para as pessoas, meio
Kelleton
ambiente e comunidades. Santos,
Muito orgulho! técnico de
Marcelo Augusto Fazza Manutenção
dos Santos da EFC
O monotrilho foi a maior besteira que
fazza.marcelo@gmail.com
se fez em São Paulo!
Marc Antoine Bussotti Errata RF
mabussotti@gmail.com Na edição Janeiro/Fevereiro de
2023, os números corretos em Esta-
tísticas para o acumulado de janei-
Autorização para o TAV ro a dezembro de 2022 da movimen-
Fui informado que essa Sociedade de tação de carga são 500,8 milhões
Propósito Específico (SPE) "TAV" de toneladas úteis (TU) e 371,06
tem um capital social registrado de Tecnologia excelente. Apenas uma bilhões de toneladas por quilômetro
apenas R$ 100 mil. Seria possível re- observação: quando não se aplica di- útil (TKU). Na comparação com o
ceber o TAV Rio-São Paulo em con- nheiro, recursos, para a ferrovia rodar mesmo período de 2021, houve de-
cessão uma empresa tão pequena? créscimo de 1,2% em TU e 0,1% em
bem os limites e tolerâncias das peças
TKU no transporte de carga pelas
Marcelo Perrupato e Silva começam a mudar. Quando entrei na
ferrovias brasileiras. As tabelas atu-
mperrupato@gmail.com Fepasa a condenação dos frisos das ro-
alizadas estão no site da RF (www.
das era de 22mm e quando chegamos
revistaferroviaria.com.br).
Nota RF: a empresa TAV Brasil pediu nas décadas de 1980 já havia reduzido
autorização à ANTT para implemen- para 17, 16,5 mm. Como diz o Chicó, Para escrever para a Revista Ferroviária
tar uma ferrovia de alta velocidade companheiro de João Grilo: "eu não mande um email para:
redacao@revistaferroviaria.com.br
entre as cidades do Rio de Janeiro e sei como foi, mas sei que foi assim..." ou para as nossas redes sociais
(Instagram, Facebook ou LinkedIn) ou escreva para:
São Paulo. Não se trata, portanto, de José Marques Av. Marquês de São Vicente, 2.219 - Ed.Office Time
uma concessão. jms3000@bol.com.br 5º andar - sala 506 - São Paulo/SP - CEP: 01140-060

6 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


agenda
BRASIL EXTERIOR
MAIO MAIO
GRI INDUSTRIAL E LOGÍSTICA RAILTEX 2023
24/05 — São Paulo, SP 09/05 a 11/05 — Birmingham, Inglaterra
Organização: GRI Club Organização: Mack Brooks Exhibitions
Link: https://www.griclub.org Site: https://www.railtex.co.uk

FÓRUM MOBILIDADE ANPTRILHOS INTERNACIONAL WHEELSET CONGRESS


24/05 — Brasília, DF 08/05 a 11/05 — Chicago, EUA
Organização: ANPTrilhos MxV Rail e Amsted Rail
Site: www.forummobilidade.com.br Site: https://web.cvent.com/event/f51408de-c926-4331-a34f-
400465c5c486/summary
BRASIL LOG - FEIRA INTERNACIONAL LOGÍSTICA 2023
24/05 a 26/05 — Jundiaí, SP TRANSPORT LOGISTIC 2023
Organização: Adelson Eventos 09/05 a 12/05 — Munique, Alemanha
Site: https://www.feiradelogistica.com Organização: Messe München GmbH
Site: https://transportlogistic.de/en/
DESAFIOS LOGÍSTICOS NA MALHA BRASILEIRA. QUAIS
CAMINHOS FAVORECEM O ESCOAMENTO? THE RISE OF IOT & BIG DATA IN RAIL
30/05 – São Paulo, SP 31/05 e 01/06 — Colônia, Alemanha
Organização: GRI Club Organização: Rotaia MediaLtd
Link: https://www.griclub.org Site: https://iotandbigdatainrail.com
expressas Bianca Rocha

Da CCR para o Metrô BH


A recém-formada diretoria do Metrô do Metrô BH conta ain-
BH, que passou a ser chamar assim da com Cláudio Andrade,
depois que a CBTU-BH foi desestati- diretor de Implementação
zada e o Grupo Comporte assumiu a de Sistemas e Operação.
operação, conta com executivos co- Andrade foi diretor pre-
nhecidos do mercado ferroviário. Al- sidente do VLT Carioca
guns vieram da CCR, como Guilher- e diretor de implantação
me Bastos, que agora ocupa a cadeira do Metrô Bahia, ambos

Divulgação
de CEO do Metrô BH. Ele foi diretor sistemas operados pela
de obras no VLT Carioca e na CCR e, CCR. Outro que já atuou Composição do Metrô BH em operação na Linha 1
antes de assumir o metrô da capital no metrô baiano e agora está
mineira, foi presidente da ViaRondon em Belo Horizonte é José Carlos Kako,
(concessionária de rodovia). A equipe que assumiu a gerência de manutenção. Troca de
Obras de expansão dormentes
Pelo contrato, o Grupo Comporte
deverá ampliar a linha 1 em apro-
A nova concessionária herdou as equi-
pes de operação, administrativa e de
na EFVM
A operadora estuda trocar os dormentes
ximadamente 2,45 km e construir a manutenção da antiga CBTU-BH. O de aço por de concreto em toda a exten-
estação Novo Eldorado. Além disso, contrato estipula que os funcionários são da ferrovia. O motivo é o custo, que
precisa implementar uma linha do têm direito a um ano de estabilidade. vem escalando com a alta do preço da
zero, com cerca de 10,5 km e sete es- Não houve, portanto, período de trans- matéria-prima no mercado. No passa-
tações, entre Nova Suíça e Barreiro. ferência de conhecimento, antes de a do, a concessionária fez movimento de
O grupo deverá receber R$ 3,2 bi- empresa assumir a operação. Os fun- troca da dormentação de madeira por
lhões de recursos públicos – R$ 2,8 cionários dormiram CBTU e acorda- de aço em toda a malha. Em 2013, che-
bilhões da União e R$ 440 milhões ram Metrô BH, após o contrato ter sido gou a receber encomenda de 1 milhão
do estado, provenientes de um acordo assinado no final de março. Diferente- de unidades da Hidremec. O contrato
firmado com a Vale em reparação aos mente do que aconteceu em SP, com as assinado com o consórcio Prumat (Pru-
danos pelo rompimento da barragem concessões do grupo CCR nas linhas mo Engenharia e Matisa) foi o primeiro
em Brumadinho. do metrô e trens metropolitanos. passo para essa mudança (página 22),
uma vez que o trabalho previsto é de
Apetite no setor remodelação da via, incluindo a troca
de dormentes em 45 km de linha.
Essa será a segunda experiência da pinas, cujo edital foi publicado no fi-
Comporte no setor metroferroviário. nal de março pelo governo de SP. Em
A empresa já opera o VLT da Baixada 2020, o Grupo Comporte foi o único a
Santista, através da BR Mobilidade, em
sociedade com a Viação Piracicabana. O
apresentar estudo para o VLT de Bra-
sília, a pedido do governo do Distrito
Mercado
Grupo Comporte tem como sócia princi- Federal, por meio de um Procedimen- esfriou
pal a família Constantino, fundadora da to de Manifestação de Interesse. O As empresas de dormentes aguardam a
companhia aérea Gol e uma das maiores projeto não teve avanços. Pelos cor- definição de novos projetos, após uma
empresas de ônibus do país. Em abril de redores, comenta-se que o Metrô BH desacelerada do mercado esse ano.
2021, foi a segunda colocada no leilão já iniciou conversas com fabricantes Com o atraso nas obras da Ferrovia de
das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, de trens, entre elas Alstom e a chinesa Integração Centro-Oeste, entre Mara
dos trens metropolitanos de São Paulo. CRRC, e para sistemas de sinalização Rosa (GO) e Água Boa (MT), a Vale
Nessa licitação, a Comporte participou e energia, com a Siemens. A empresa adiou a encomenda de 50 mil dormen-
do consórcio Mobitrens, junto com a deverá comprar 24 novos trens de qua- tes que deveriam ser entregues no início
CAF e Líder Consben. As linhas acaba- tro carros cada para o metrô mineiro. desse ano. As obras na Malha Paulista
ram sendo arrematadas pela CCR. O prazo de entrega das composições também deram um freio, afirmam fon-
A empresa também estaria interessada é de cinco anos contados a partir da tes do setor, levando a concessionária a
no Trem Intercidades São Paulo-Cam- assinatura do contrato. suspender algumas encomendas.
8 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
RENDIMENTO I PRECISÃO I CONFIABILIDADE

Plasser do Brasil - 50 anos sobre trilhos

A Plasser do Brasil está comemorando 50 anos de excelência na indústria


ferroviária como a principal fornecedora de soluções ferroviárias do país.
Como parte do grupo Plasser & Theurer, líder mundial em tecnologia
ferroviária, somos destaque no mercado nacional desde nossa fundação em
1973.

Nos últimos 50 anos, a Plasser do Brasil cresceu de forma constante e se


tornou uma das principais empresas do setor ferroviário no Brasil e na
América do Sul. Trabalhamos em estreita colaboração com nossos clientes,
desenvolvendo soluções personalizadas para atender às suas necessidades
únicas.
Com foco inabalável em qualidade, excelência e inovação, a Plasser do Brasil
busca constantemente oferecer as melhores opções para atender as
demandas do mercado ferroviário, investindo continuamente em pesquisa e
desenvolvimento para aprimorar produtos e serviços e nos mantendo na
vanguarda da tecnologia no setor.

Nesta importante data, a Plasser do Brasil reafirma o compromisso de


colaborar com a transformação da indústria ferroviária e agradece a todos os
clientes, parceiros e colaboradores que contribuíram para esse sucesso ao
longo dos anos. Temos muito a agradecer e queremos compartilhar essa
conquista com todos aqueles que têm sido parte importante dessa jornada.
Junte-se a nós nas comemorações da Plasser do Brasil e descubra nossas
contribuições inovadoras para o a transformação do futuro da indústria
ferroviária no país.

plassertheurer.com | plasser.com.br
”Plasser & Theurer“, ”Plasser“ e ”P&T“ são marcas registradas internacionalmente
entrevista

PPP para ferrovias de carga


Leonardo Ribeiro diz que foi treinado na (BA) até Figueirópolis (TO) ou até Mara Rosa (GO).
carreira a fazer conta. Economista, provindo da Mas estudamos a possibilidade de o concessionário
área fiscal, atuou como analista legislativo no decidir para onde quer levar a ferrovia”.
Senado Federal durante anos, quando se deparou Sobre a Ferrogrão, existe uma disposição do
com o projeto do senador José Serra que, mais governo de torná-la realidade, mas ainda não se
tarde, daria origem ao Marco Legal das Ferrovias. sabe se por meio de concessão ou PPP. A questão
Foi o seu primeiro contato mais profundo ambiental está sendo discutida. “Muitas vezes
com o universo ferroviário. Agora à frente da colocamos o problema no afirmativo, mas e se
recém-criada secretaria Nacional de Transporte não fizermos a Ferrogrão, o que pode acontecer?
Ferroviário do Ministério dos Transportes, tem a Quais serão os custos ambientais?”, questiona.
complexa missão de aumentar a participação da Já a ligação Sudeste-Nordeste aponta a
ferrovia na matriz brasileira. necessidade de somente ser viável por meio
Sobram desafios, mas faltam recursos nessa de uma PPP, ou seja, com o pagamento de
incumbência. O conhecimento sobre os meandros contraprestações públicas. “O trecho é todo
da área fiscal pode ser um ponto a favor na em bitola métrica, poderia haver a necessidade
inserção de projetos ferroviários na modelagem de rebitolagem para a larga. Quando o
de Parcerias Público-Privadas (PPP), com a qual o projeto precisa de uma contraprestação,
governo Lula pretende destravar obras pelo país. automaticamente falamos da dimensão fiscal”.
Esse caminho, no entanto, depende da aprovação Essa discussão levou a secretaria executiva do
do novo arcabouço fiscal e do estabelecimento de ministério a montar um grupo de trabalho com
garantias públicas para o setor privado. técnicos da área de ferrovias, Infra SA e ANTT,
Enquanto essa definição não vem, Ribeiro para discutir a modelagem econômico-financeira
estuda as possibilidades. Estão na sua mesa a dos contratos de renovações das ferrovias. A
concessão do corredor Fico-Fiol, uma ligação ideia é analisar como foi feita a precificação
ferroviária Sudeste-Nordeste, utilizando a malha de ativos e definido o valor das outorgas.
hoje inoperante da Ferrovia Centro-Atlântica, Segundo o secretário, essa avaliação é necessária
entre Corinto (MG) e Salvador (BA), e a Ferrogrão. porque a política de teto de gastos não apenas
Nos estudos da Fico-Fiol, há indicação de contingenciou recursos, mas também pode ter
que a viabilidade da concessão existe, sem a desestimulado a gestão pública na arrecadação e
necessidade de PPP. utilização de receitas.
O desafio está na construção do trecho 3 da “Gosto de uma frase que diz: ‘o que não pode
Fiol, cujo traçado ainda nem está definido. “A ser medido, não pode ser gerenciado’. Então, não
implementação pode ser feita pela União ou pelo adianta eu estar aqui falando sobre hipóteses.
futuro concessionário. É um assunto que envolve a Estamos fazendo uma gestão técnica nesse
renovação da FCA. Estamos avaliando de Barreiras sentido”, resume.

Leonardo Ribeiro
Secretário Nacional de Transporte Ferroviário do Ministério dos Transportes

12 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


Ricardo Botelho/Ministério dos Transportes

Os investimentos público-privados são importantes,


na verdade, são o meio que nós temos para promover o setor.

REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023 13


entrevista
Revista Ferroviária – Qual é a sua avaliação sobre o setor ferrovias de uma forma funcional e não simplesmente e
ferroviário no Brasil? somente pela ótica dos investimentos. Considerando os
Leonardo Ribeiro – O setor ferroviário é uma aposta em 38 contratos de autorização assinados até o momento e
nível global. Estou confiante que, sob orientações do pre- R$ 15 milhões gastos por quilômetro, estimamos que são
sidente Lula e do ministro Renan Filho, teremos uma prio- R$ 142 bilhões de investimentos para 15 ferrovias estru-
rização da ferrovia nessa questão da infraestrutura. Tanto turantes, com total de 9.491 km; R$ 42 bilhões para 16
é que agora temos uma secretaria específica para o setor. ferrovias alimentadoras, com 2.799 km; e R$ 7 bilhões
Fico muito honrado de ter sido escolhido para liderá-la. para sete ferrovias de carga dedicada, com 472 km. Vemos
Contamos com um grande time de técnicos e espaço para mais viabilidade econômica nas ferrovias alimentadoras e
a retomada de investimentos, uma vez que estamos discu- dedicadas. A primeira visa captar cargas de polos gerado-
tindo o novo arcabouço fiscal. res, concentrando-as nas estruturantes. As dedicadas são
um tipo específico de alimentadoras, focadas em um único
RF – Qual a sua relação com o setor ferroviário? usuário e/ou centro de carga.
LR – Comecei a carreira na área fiscal, depois passei no
concurso público para o Senado Federal e lá eu tive a RF – E como esses números podem ajudar a pensar a polí-
oportunidade de assessorar o senador José Serra por oito tica pública?
anos. Em 2017, fui estudar assuntos fiscais, na Austrália, LR – Essa classificação vai nos ajudar a pensar na funcio-
e no meu retorno, o senador Serra solicitou para a equipe nalidade do sistema, fazendo com que o setor ferroviário
um pacote de projetos estruturantes em diversas áreas: so- se torne mais dinâmico. O objetivo é escoar a produção
cial, ambiental, educação e infraestrutura. O marco regu- para os portos com um custo menor.
latório das ferrovias foi apresentado nesse momento. Foi
um projeto que a equipe estabeleceu como muito impor- RF – O governo pode ajudar de alguma forma nesse processo
tante, enxergamos uma oportunidade. Após mais de três de tirar as ferrovias autorizadas do papel?
anos de discussões, foi aprovado. É interessante porque eu LR – Acho que é importante pensarmos não só na impor-
tive a oportunidade de ver o projeto nascer e tramitar no tância dos investimentos, mas também na funcionalidade
Congresso Nacional e agora estou tendo a oportunidade do sistema. E eu relaciono isso às questões que promovam
de contribuir para tirá-lo efetivamente do papel. segurança jurídica para o investimento privado acontecer
dentro de uma concepção que leve em consideração o
RF – Depois de 100 dias de governo, o que avançou na Plano Nacional de Logística do país. Não adianta a gente
área ferroviária? sair colocando desordenadamente projetos e no final das
LR – Tivemos o lançamento do edital para o ramal ferro- contas, é que nem a gente pegar um quebra-cabeça e sair
viário de Barra Mansa (RJ) que traz mais segurança para a montando de qualquer jeito. A fotografia não vai sair in-
população local; doações de sucatas de vagões e locomoti- teressante. Vemos a possibilidade de avançar em alguns
vas pelo Dnit; fizemos visitas a algumas malhas importan- conceitos no marco regulatório. Por exemplo, na classifi-
tes; tivemos o lançamento de edital para o lote 7F da Fiol cação dessas ferrovias, como acontece nos Estados Uni-
2, estudo no corredor Fico-Fiol; e o início das audiências dos, onde as ferrovias são divididas por classe.
públicas para a relicitação da Malha Oeste. Avançamos
em discussões internas sobre o projeto da Ferrogrão. E RF – O que está sendo pensado em relação a isso?
tivemos também discussões sobre pontos que podem ser LR – Autorizações estruturantes podem não ser viáveis.
revisitados no marco regulatório das ferrovias. Não sendo viável, naturalmente, o setor privado não vai
ter interesse em colocar dinheiro porque não basta ter au-
RF – Que pontos são esses? torização, tem que ter o dinheiro para fazer e também o
LR – Temos o cuidado de pensar no sistema logístico de VPL (Valor Presente Líquido) positivo, porque estamos

Estamos avaliando o uso desse instrumento (PPP) e


também as experiências nos governos estaduais que deram certo.
A grande questão é a previsibilidade fiscal.

14 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


entrevista
falando de projetos que são explorados com risco total- manter esse orçamento para os próximos anos e, quem
mente privado. Agora, para trechos shortlines alimentado- sabe, até aumentá-lo, porque, até então, estávamos orien-
res, percebemos que a viabilidade é mais factível, inclu- tados pelo teto de gastos que, na verdade, acabou virando
sive, temos que pensar num conceito econômico impor- um teto de investimentos.
tante, que é a cooperação. Às vezes a gente pensa muito
na competição, mas se os atores econômicos cooperarem RF – Como vocês pensam a Parceria Público-Privada (PPP) para
entre eles, podem chegar à conclusão de que vale mais a projetos de ferrovia?
pena fazer o compartilhamento de passagens, de tecnolo- LR – Estamos avaliando o uso desse instrumento e tam-
gia. Dentro desses conceitos, podemos ter uma sensibili- bém as experiências nos governos nacionais que deram
dade maior sobre aquilo que vai realmente sair do papel e certo, por exemplo, no estado da Bahia tem um sistema
o que é pura especulação. que funcionou para infraestrutura. A grande questão é a
previsibilidade fiscal para o que chamamos de PPPs espe-
RF – É possível ter alguma política pública que incentive cíficas, aquelas com fundos garantidores e de equalização.
esses projetos? Acreditamos que o novo arcabouço fiscal pode ser dis-
LR – Se o poder público consegue avaliar projetos que se- cutido olhando para essas possibilidades, inclusive para
jam mais viáveis, consegue talvez fazer uma política que as experiências internacionais com fundos garantidores. A
incentive, por exemplo, uma frota verde no país. Ou seja, questão que temos no governo federal é que a Constitui-
permitir uma política que, como a Índia e outros países ção não permite que impostos fiquem vinculados à execu-
estão fazendo, incentive uma transição energética para um ção de despesa com um fundo público.
modelo mais sustentável, do ponto de vista do meio am-
biente. Acho que o mais importante é ter uma mensuração RF – Isso pode ser um limitador?
do que de fato é viável para que a gente possa fazer políti- LR – Sim, entendemos que isso é um limitador, mas, no
cas públicas paralelas a esse marco regulatório, cujo risco caso dos estados, há a possibilidade de fazer uma vincula-
é totalmente do setor privado. ção com o Fundo de Participação Estadual, o FPE. É um
fundo em que governo federal arrecada, reparte as receitas
RF – Uma linha de financiamento específica para esses projetos com os estados e municípios e existe sinalização jurídica
pode ser uma opção? nesse sentido de poder veicular o FPE para viabilizar fun-
LR – O que a gente pode fazer dentro do campo das po- dos garantidores. A grande questão, no âmbito do governo
líticas públicas é promover o setor, mas não há nenhuma federal, é como estruturar um modelo que assegure previ-
sinalização de que terá subsídio específico para autoriza- sibilidade fiscal para que o setor privado tenha confiança
ções, porque elas nasceram dentro de um formato em que de que a contraprestação paga pelo governo federal vai
o setor privado assume os riscos. Não tenho o mapeamento acontecer no médio ou longo prazo. Em ferrovias, esta-
do que pode ser viável ou não. Conseguimos fazer ações mos falando de projetos de longo prazo.
paralelas no sentido de ter uma política pública industrial
para poder viabilizar fornecimento de insumos, enfim, RF – E os fundos de equalização que mencionou?
mas não está sendo discutido subsídio para autorizações. LR – Trata-se de uma experiência que vem sendo adota-
da no México, na Índia e no Paquistão, que é basicamen-
RF – Quanto será destinado pela pasta esse ano ao setor ferroviário? te fazer aportes naqueles projetos que estão com VPL
LR – Pelo Orçamento Geral da União (OGU), temos negativo. É possível fazer uma contraprestação para tor-
previsão de R$ 600 milhões, sendo R$ 500 milhões para nar aquele projeto viável. Essa contraprestação pode ser
a Infra SA e R$ 100 milhões para o Dnit. São recursos feita de imediato ou ao longo dos anos, existem várias
para obras. A grande novidade que pode ter esse ano é o alternativas e, realmente, esses instrumentos se dão por
novo arcabouço fiscal, possibilitando que a gente possa meio de fundos.

O mais importante é ter uma mensuração do que


de fato é viável (autorizações), para que possamos
fazer políticas públicas paralelas ao marco regulatório.

16 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


entrevista
RF – Essa contraprestação poderia ser aplicada somente em Se a gente avança até mesmo na Fiol 3, isso vai ter uma
projetos de concessão? repercussão no modelo da concessão, porque quem for
LR – A legislação brasileira não permite fazer aportes fis- participar dessa concessão vai receber um trecho maior
cais no regime privado, onde estão, por exemplo, as au- concluído. Os estudos estão sendo elaborados, até o fim
torizações ferroviárias. Então, falamos aqui somente de de abril deverão ser entregues para nossa avaliação. O
projetos de concessão. Podemos pensar, por exemplo, no modelo trará opções de cenários para o governo decidir a
transporte de passageiros. É um segmento importante que, melhor forma de levar a concessão ao mercado. Uma das
muitas vezes, olhamos para a experiência internacional, e possibilidades inclui Fiol 2, Fiol 3 e Fico juntas na mesma
enxergamos equalizações para viabilizar projetos de pas- concessão. Existe cenário com construção da Fiol 3 pela
sageiros. Isso precisa ser feito dentro de uma política pú- União ou pelo futuro concessionário. E por isso envolve a
blica nacional para estimular o setor e estamos estudando renovação da FCA.
como que poderíamos tracionar esses empreendimentos.
RF – O corredor Fico-Fiol poderá entrar na modelagem de PPP?
RF – Existe algum projeto em vista que poderia entrar nesse LR – Espera-se que esse corredor tenha viabilidade para
modelo de PPP? uma concessão, ou seja, que tenha VPL zero ou positivo.
LR – Temos alguns projetos, mas que ainda carecem de Mas temos que esperar os estudos. Se determinado VPL
uma avaliação mais específica de viabilidade. Estamos negativo, a gente pode ter aporte público.
justamente agora fazendo um estudo mais apurado em
torno desses projetos. Antes de indicar quais são esses RF – Essa viabilidade poderá ser alcançada mesmo com o fu-
projetos, temos que ter uma visão mais apurada das suas turo concessionário sendo responsável pela construção da Fiol 3,
dimensões econômico-financeiras. Os investimentos pú- com recursos próprios?
blico-privados são importantes, na verdade, são o meio LR – Sim. Os estudos deverão dar essa reposta.
que nós temos para promover o setor. Mas é importante
a gente também destacar a questão da funcionalidade da RF – A Fiol 3 vai se conectar com a Norte-Sul em Figueirópolis (TO)?
malha ferroviária. LR – A Fiol 2, em tese, pode ser encerrada em Barreiros
(BA), o que gera uma discussão de como conectar a fer-
RF – Qual é o avanço físico da Fiol 2 e quanto resta construir rovia com a Norte-Sul. Se em Figueirópolis ou em Mara
para torná-la viável para concessão? Rosa, onde também se conecta com a ponta da Fico. Isso
LR – Temos hoje cerca de 58% concluídos. Vamos fazer está em estudo ainda porque o traçado até Mara Rosa exi-
uma execução totalmente pública de 68% até o fim deste ge um capex maior por conta da distância, existem caver-
ano. Ou seja, vamos conseguir deixar dois terços da Fiol nas e riscos de relevo nesse percurso. É preciso fazer uma
2 prontos. Vamos ter que definir como serão feitos os 30% avaliação da viabilidade, do quanto isso vai envolver em
restantes da ferrovia. Essa decisão depende da renovação termos de investimentos. Por outro lado, Figueirópolis
do contrato da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), se vamos tem uma questão em torno do direito de passagem cobra-
fechar a Fiol com recursos dessa prorrogação ou com OGU. do pela Rumo.

RF – Com 100% da Fiol 2 concluída, o corredor Fico-Fiol é viá- RF – Figueirópolis e Mara Rosa são as duas únicas possibilida-
vel para concessão? des estudadas?
LR – Com 100% da Fiol 2 atingida, existe uma sinali- LR – Há dúvidas em relação ao traçado e ao melhor de-
zação de que há viabilidade no corredor Fico-Fiol (NR: senho para gerar eficiência no transporte de carga. Há
Fico é a Ferrovia de Integração Centro-Oeste, entre Mara também a possibilidade de deixar flexível para o futuro
Rosa-GO e Água Boa-MT, que está sendo construída pela concessionário decidir para onde quer levar a ferrovia.
Vale por meio do mecanismo de investimento cruzado). Tivemos acesso a estudos em que a Fiol 2 poderia subir

Não diria que estamos fazendo uma revisão (das renovações).


É preciso destacar a importância da segurança jurídica
dos contratos, que é fundamental para o país.

18 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


As obras da Fico estão atrasadas. Sentamos com a empresa
num diálogo transparente, para termos um cronograma
de metas para acelerar esses investimentos.

para o Nordeste. Estamos observando tudo que está sendo lagem econômico-financeira dos contratos de renovações
apresentado. Isso pode envolver, inclusive, uma possível ferroviárias. Por exemplo, temos hoje dificuldade de fazer
autorização no caminho. No final das contas, os números medições na questão da devolução de trechos, na precifi-
falam alto, mas é importante dizer que tudo isso está sen- cação dos ativos. Como as renovações foram feitas? Será
do avaliado dentro de uma metodologia de formulação de que o modelo foi apropriado dentro desse contexto de
políticas públicas. não incentivo do gestor público de fazer uma utilização
de receita de outorgas? Estamos fazendo uma gestão ex-
RF – Existem planos para o Nordeste? É uma região que tem tremamente técnica nesse sentido. Fui treinado na minha
enorme malha inoperante. carreira a fazer conta.
LR – Temos recebido propostas no sentido de fazer essa
ligação do Sudeste com o Nordeste dentro de um projeto RF – Há algo que incomoda nesse processo de renovação ante-
que pode inclusive indicar a necessidade de uma Parceria cipada das concessões?
Público- Privada, se verificado um VPL negativo. Trata-se LR – Acho que cabe destacar que essas renovações se de-
do trecho entre Corinto (MG) e Salvador (BA), chegando ram num campo institucional que teve diversos órgãos en-
até Recife (PE), que hoje está com baixa ou nenhuma in- volvidos. Do ponto de vista técnico, estamos olhando para
teração. O trecho é todo em bitola métrica, poderia haver essa modelagem no sentido de encontrar possíveis pontos
a necessidade de rebitolagem para a larga. Quando che- de aprimoramento para as futuras renovações. Não diria
gamos numa dimensão econômico-financeira, em que o que estamos fazendo uma revisão. É preciso destacar a im-
projeto precisa de uma contraprestação, automaticamente portância da segurança jurídica dos contratos, que é fun-
temos que falar da dimensão fiscal. Será que teremos es- damental para o país. A infraestrutura depende disso e de
paço fiscal para isso? Essa mudança de governo foi im- previsibilidade fiscal. Acho que cabe observar quais foram
portante para o setor de infraestrutura, porque existe uma os critérios adotados para o WACC (do inglês, Weighted
sinalização de que teremos uma retomada da participação Average Capital Cost, que na tradução literal significa cus-
no orçamento. Isso é fundamental. to médio ponderado de capital), para definição de receitas
tarifárias e de projeção de demanda. Eu, como economis-
RF – O setor ficou ancorado no investimento privado nos últi- ta, naturalmente vou trazer uma visão econômica e técnica
mos anos... dessa avaliação, que vai ser dada dentro de um ambiente
LR – Em qualquer país isso daí não funciona, esse negó- de governança transparente. Porque temos que considerar
cio de você achar que vai resolver setor ferroviário só com o interesse público dentro dessa modelagem. E também a
o privado. O teto de gastos desestimulou o setor público questão da viabilidade dos projetos para as empresas.
ao utilizar modelos econômico-financeiros para outorga.
Por exemplo, na infraestrutura pode haver um desestímulo RF – Essas melhorias serão consideradas para as próximas re-
para fazer uma utilização de caixa junto ao Tesouro para novações?
que esse recurso volte para o setor. Com uma política de LR – Temos duas questões. A quantitativa que é como
teto de gastos, a arrecadação não importa tanto, concorda? deve ser feita a precificação dos ativos, quais possíveis
Qual é o incentivo que o gestor vai ter para arrecadar e melhorias podem ser feitas na modelagem, olhando para
utilizar o caixa, sendo que existe um teto de gastos que o que foi feito. E temos a questão qualitativa também,
impede o uso desses recursos? porque a legislação é clara, deve haver uma vantajosidade
para não ter licitação. Estamos discutindo isso no grupo
RF – E o que a secretaria pretende fazer a esse respeito? de trabalho, que vai anteceder as audiências públicas da
LR – Gosto de uma frase que diz: “o que não pode ser renovação da FCA. Vamos nos debruçar nesses estudos
medido, não pode ser gerenciado”. Então, não adianta eu econômico-financeiros, além das outras dimensões men-
estar aqui falando sobre hipóteses. Montamos um grupo cionadas anteriormente.
de trabalho com técnicos da secretaria de Transporte Fer-
roviário, da Infra SA e da ANTT para discutir a mode- RF – Temos visto pedidos de alteração de cronogramas de obras
REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023 19
entrevista
de concessionárias que já renovaram seus contratos. Como avalia desses investimentos. Porque não basta só anunciar que
esse movimento? vai fazer, papel aceita tudo. É importante trabalhar, arre-
LR – Esse tema está sendo discutido numa área nova, gaçar as mangas, ir para o campo e fazer a coisa acontecer.
criada no TCU, dedicada ao consenso. Uma iniciativa do
ministro Bruno Dantas que acho de extrema relevância. RF – Mas a Infra SA não está com essa função de diálogo e
Isso mostra que o país está preocupado com o ambiente acompanhamento das obras?
institucional, contratos e segurança jurídica. E nessa ques- LR – Isso não deve ser feito somente pela Infra SA. Eu
tão, dois temas estão sendo discutidos, que é o caderno de acho que o ministério e a própria administração direta
obrigações da Malha Paulista e as algumas devoluções na também têm que acompanhar de perto, fazer um trabalho
Malha Sul. junto com a Infra SA e com a ANTT. Olhando para frente,
agora a gestão vai ser no sentido de fazer visitas periódi-
RF – Como está o avanço da Fico? cas e não deixar de lado, para que o atraso que aconteceu
LR – Nós estivemos na Fico, fomos recebidos pela Vale, no passado não se repita.
fizemos uma visita junto com a equipe da Infra SA e de-
tectamos que dos 30 km que já tinham sido desapropria- RF – Como está sendo tratado o projeto da Ferrogrão dentro
dos, apenas 5% foram executados até o momento. Aca- do Ministério?
bamos de liberar a desapropriação de mais 50 km, são ao LR – A Ferrogrão tem uma questão ambiental em discus-
todo 80 km liberados para as obras. Pelo contrato, a partir são. Houve uma medida provisória no passado recente que
desses 80 km desapropriados é que começa a contar o pra- desafetou as demarcações indígenas. Existe o argumento
zo de cinco anos para a conclusão da ferrovia. Isso está jurídico de que a Constituição não permite que esse tipo
numa cláusula do contrato. Inclusive esse prazo contratual de ato seja feito por meio de medida provisória. Se há uma
é uma cláusula para que a concessão da Estrada de Ferro redução de área, essa decisão teria que ser feita por meio
Vitória a Minas possa se manter de pé. Então, é importante de lei. Isso levou a questão ao STF. No próximo dia 31 de
que se cumpra esse prazo. Por isso, estamos em diálogo maio, deve haver uma decisão. Estamos levantando, nesse
transparente e cordial com a empresa, no sentido de ace- prazo, análises de diagnósticos de viabilidade e, inclusive,
lerar essas obras, esses projetos, definir os cronogramas e iniciando tratativas com o Ministério do Meio Ambiente,
metas. porque entendemos que esse projeto pode ser viável do
ponto de vista econômico-financeiro.
RF – A obra está apenas com 5% prontos até o momento?
LR – Sim, está muito atrasado. O que nós fizemos foi sen- RF – O ministério acredita na viabilidade então?
tar com a empresa num diálogo muito transparente, téc- LR – Com relação à viabilidade, é preciso revisitar os es-
nico, no sentido de a gente ter um cronograma de execu- tudos para tomar decisões sobre concessão pura ou com
ção, metas para acelerar esses investimentos. A intenção é aporte público. Ainda não há conclusões, mas queremos
poder voltar no meio do ano, com o prazo acertado, para manter a dimensão ambiental como um ponto focal nessa
verificar a execução dessas obras. O nosso objetivo é ace- discussão. E aí eu trago uma pergunta: e se não tivermos
lerar para que o país possa contar com essa ferrovia. a Ferrogrão? Muitas vezes a gente coloca o problema no
afirmativo, mas uma questão colocada no polo negativo
RF – Qual é a justificativa para esse atraso? às vezes ajuda a destravar debates e a obter consensos e
LR – Quando fazemos obras em casa, muitas vezes perce- convergências. Se não fizermos a Ferrogrão, o que pode
bemos atrasos que se dão por diversas questões. Eu acho acontecer? Se houver ali uma duplicação da BR-163, a
que foi muito mais uma questão de gestão. Acho que fal- poluição, os efeitos ambientais podem ser importantes e
tou uma gestão mais próxima do ministério com a empre- significativos. Temos que pensar também no contrafactu-
sa, no sentido de se aproximar e promover uma aceleração al. Se aquilo não acontecer, quais são os custos?

Se não fizermos a Ferrogrão, o que pode acontecer?


Se houver duplicação da BR-163, a poluição,
os efeitos ambientais podem ser significativos.

20 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


mercado

Parceria de peso
Matisa e Prumo Engenharia criam consórcio para remodelação de via na EFVM
Fotos: Divulgação/Matisa

Renovadora P190
da Matisa em
operação na EFVM

A
Prumo Engenharia, construtora especializada A parceria da fabricante com a empreiteira concreti-
em obras no setor ferroviário, e a Matisa, fa- zou-se no fim de 2022, após pouco mais de um ano de
bricante suíça de equipamentos de manuten- conversas entre a Matisa e a Vale. A operadora da EFVM
ção de via, se uniram numa parceria inédita. havia sondado a fabricante sobre o interesse de entregar
As duas empresas criaram o consórcio Prumat – nome uma proposta para operar e manter a renovadora. Bruno
que remete às primeiras sílabas de cada uma – para ofe- Bonella, diretor da filial Brasil da Matisa, diz que acei-
recer serviços de remodelação, nos próximos dez meses, tou a proposta – o que já seria um desafio para empresa,
de 45 km de linhas da Estrada de Ferrovia Vitória a Minas uma vez que sua expertise no mercado é na fabricação e
(EFVM). O acordo inclui a troca de aproximadamente 75 manutenção de equipamentos de via. Dias depois, a Vale
mil dormentes de aço por de concreto. A EFVM tem ex- voltou com outra proposta: a de o contrato contemplar
tensão total de 895 km, ligando a região metropolitana de também a organização da parte logística de materiais e o
Belo Horizonte (MG), onde faz conexão com a Ferrovia serviço de remodelação e das obras na via.
Centro-Atlântica, ao Porto de Tubarão, em Vitória (ES). Os contratos recentes assinados pela EFVM com fornece-
O contrato prevê a utilização de uma renovadora modelo dores indicam que a operadora tem direcionado seus esforços
P190, fabricada pela Matisa, mas de propriedade da Vale, na terceirização de alguns serviços de manutenção de via. Em
operadora da EFVM. A fabricante será responsável pelas fevereiro deste ano, a EFVM fechou acordo de cinco anos
partes técnica e de manutenção do equipamento. A Prumo com a Pelicano Construções para trabalhos de correção geo-
entrará com o serviço de remodelação propriamente dito, métrica de via em toda a extensão da ferrovia. A construtora,
ou seja, com a mão de obra responsável pela operação da que tem uma frota própria robusta de equipamentos de manu-
máquina na via. Os trabalhos tiveram início em abril. tenção de via, vai disponibilizar quatro conjuntos de socado-

22 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


ras e reguladoras de las- a Vale iniciou a licita-
tro (Plasser & Theurer), ção do serviço.
que serão utilizados ex- O diferencial de todo
clusivamente na EFVM. o processo vai desde
A Vale foi procurada pela o fato de as empresas
reportagem, mas preferiu já terem um relaciona-
não comentar o assunto. mento de longa data
com a Vale, passando
Formação pelo ineditismo da pro-
do consórcio posta até outras opor-
Prumo e Matisa devem remodelar 45 km de linha nos próximos dez meses
No caso da Matisa, a tunidades que poderão
ideia de firmar um acor- surgir no futuro, diz o
do com a Prumo Engenharia, que já presta serviços há diretor da Matisa. Quatro das 13 máquinas da fabrican-
mais de dez anos para a Vale, surgiu ao longo das nego- te no Brasil estão em operação na Vale atualmente, seja
ciações. “Numa reflexão, resolvemos chamar a Prumo na Estrada Ferro Carajás, seja na EFVM. Essa relevância
para propor, ao invés de uma subcontratação, a formação acabou, inclusive, ajudando a definir a sede da filial Mati-
de um consórcio, seria 50% Matisa e 50% Prumo. Dessa sa no Brasil, em Serra, no Espírito Santo.
forma, toda a demanda que a Vale nos solicitou ficaria “Temos um relacionamento duradouro que vem sendo
sob o guarda-chuva de uma só empresa, no caso a Pru- construído com a Vale há mais de 10 anos. É uma relação
mat”, explica Bonella, sobre o surgimento do consórcio, muito próxima, tanto para o pós-venda e a assistência téc-
deixando claro que as conversas começaram depois que nica, quanto para o atendimento a demandas variadas. Esta-

trilhos
nça de zido:
COMPACTO, ROBUSTO, FLEXÍVEL: m u d a
Rápida ço muito redu
a aterias
em esp vido à b
O ROBO RODOFERROVIÁRIO VLEX +
létrico
100% e áveis
g
- mo

recarre e fácil
ã o s im ples e d
n ç
+ Manute
x e c u ç ão
e nica
ncia téc
+ Assistê zada no Brasil
li
Eduardo Abelar especia
Vollert do Brasil Ltda

Vídeo demonstrativo da
operação na Internet:

Como um parceiro tecnológico de ponta, a Vollert se dedica ao desenvolvimento de


sistemas de manobra econômicos, para pátios internos, terminais de transbordo e
oficinas. Tudo que você espera de um investimento rentável. Made in Germany.
www.vlex-robot.de | info@vollert.com.br | www.youtube.com/vollertshunting
mercado
mos sempre atuando para Vale ou dentro da Vale.” mento de trilhos na bitola larga da ferrovia (malhas Norte
Já a Prumo Engenharia presta serviços para a Vale des- e Paulista). O contrato envolve a disponibilidade de uma
de 2009, mesmo que não continuamente. Atualmente, são esmerilhadora de trilhos pela Loram, que também ficará
11 equipes espalhadas na EFVM. A diferença do trabalho responsável pela operação e manutenção da máquina.
que já vinha sendo executado na ferrovia para esse acor- “O consórcio Prumat não é exatamente um full service,
do com a Matisa é justamente a parceria no processo de mas é um passo para isso. Esse projeto nosso vai ser um
operação e manutenção do equipamento. “A P190 é uma grande laboratório para amadurecermos mais as relações e
renovadora que nenhuma empreiteira tem no Brasil, só as caminhar, sim, para um full service,” diz Lucas. Ele tam-
concessionárias. Ter a oportunidade de operar e manter bém esclarece que essas expectativas futuras estão longe
um equipamento deste é muito importante para ganhar- de serem discutidas no momento, já que vislumbram me-
mos este know-how”, observa o diretor executivo da Pru- tas imediatas relacionadas ao contrato que acabou de ser
mo Engenharia, Endrigo Lucas, que destaca o conheci- assinado com a EFVM.
mento da construtora sobre a ferrovia. Daqui para frente, a Prumo pretende aproveitar boas
práticas e ferramentas que
já estão sendo utilizadas em
projetos de inovação e que
impactam a rotina de traba-
lho das equipes em campo.
Por exemplo, internamente é
desenvolvido aplicativos de
registro de ponto. "Vamos tra-
zer para o consórcio um pro-
cesso 100% mecanizado, um
diferencial para prezar pela
segurança do trabalho e cui-
dar das pessoas, diminuindo
o desgaste físico e o risco de
Prumat está fazendo a troca de dormentes de aço por de concreto em trechos da EFVM acidentes”, acrescenta Lucas.
Bonella também fala sobre o
“Temos uma estrutura montada, conhecemos os quatro diferencial da renovadora P190. “Conseguimos de forma
cantos da EFVM. Isso trouxe um know-how para o con- automática assentar e recolher os dormentes da via. Tudo
sórcio também. Entramos com a operação e a Matisa com no espaçamento programado. Além de tudo, é um proces-
o conhecimento do equipamento”. so que acaba sendo produtivo, seguro, e que entrega uma
linha perfeita e confiável”, explica.
Oportunidades à vista Mas os fluxos de trabalho no dia a dia também têm
Bonella e Lucas enxergam o novo contrato com a Vale seus desafios. “A gente fecha uma das linhas da ferrovia
como uma prévia para oportunidades futuras, que envol- e ela fica inoperante. Temos um tempo para trabalhar ali
vem um modelo mais sofisticado de contratação, conheci- e fazer toda a renovação. Então, o desafio é ter a dis-
do como full service. Os dois observam que esse modelo ponibilidade do equipamento e a operacionalidade no
é uma tendência no mercado. O contrato do Prumat não campo para poder executar o planejado. Precisamos li-
pode ser considerado um full service porque o equipamen- berar a ferrovia o quanto antes, porque a disponibilidade
to é de propriedade da Vale. dela tem um valor imensurável para o cliente”, esclarece
Até o momento, apenas a Rumo contempla esse tipo Lucas, enaltecendo a parceria com a Matisa. “A Prumo
de contrato no portfólio entre as concessionárias de car- está muito satisfeita e enxerga muitos frutos para colher
ga. No ano passado, a operadora assinou com a Loram ainda. O principal é ter a máquina trabalhando o tempo
do Brasil para que, nos próximos 15 anos, a fabricante todo, um equipamento de alto valor agregado e garantir
de equipamentos de manutenção de via faça o esmerilha- a produtividade que a Vale precisa”.

24 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


reportagem

A volta do
trem-bala
Para a TAV Brasil, modelo de autorização
garante mais atratividade ao projeto
de ligação Rio-São Paulo
Por Bianca Rocha

A
autorização dada pela Agência Nacional de
Transportes Terrestres (ANTT), no último
dia 23 de fevereiro, para a construção de uma
ligação ferroviária de alta velocidade entre
as duas maiores capitais do Brasil, Rio de Janeiro e São
Paulo, surpreendeu todos que acompanharam de perto a
ascensão e o fracasso de uma das grandes promessas das
gestões petistas no passado. O trauma da não concretiza- Trem de alta velocidade AGV,
ção do trem-bala pode explicar a rapidez com que o atual da Alstom, em operação na Itália
governo tratou de afirmar que não tem nenhum interesse
nele no momento. Para a TAV Brasil, agora autorizatária
cutir o trem de alta velocidade no governo Lula, em 2007.
do trecho, o fato de o novo projeto não ter qualquer amarra
Antes disso, participou como consultor de um projeto ini-
pública é o que faz aumentar a convicção de que, dessa
ciado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso,
vez, o trem de alta velocidade Rio-São Paulo poderá (fi-
em 1999, em parceria com a alemã Deutsche Bahn.
nalmente) sair do papel.
O estudo tinha o objetivo de apontar soluções para eixo
O desafio, no entanto, continua enorme. E agora está fo-
Rio-São Paulo, e a conclusão foi de que o trem-bala seria a
cado na questão da financiabilidade de um projeto que pre-
melhor opção para o transporte de passageiros entre as duas
cisa se tornar realidade de forma 100% privada, com esti-
cidades. Em 2012, Figueiredo foi indicado pela então pre-
mativas (por alto) de custos de R$ 50 bilhões. Os estudos de
sidenta Dilma Rousseff à presidência da Etav, estatal criada
engenharia, que têm previsão de ficarem prontos no final do
especificamente para estudar e licitar o projeto do trem-bala
ano que vem, vão refinar esses valores e detalhes de exten-
(que mais tarde se tornou EPL-Empresa de Planejamento
são e infraestrutura. O fato é que com capital social de R$
e Logística, e hoje está fundida com a Valec na Infra SA).
100 mil, a TAV Brasil sabe que o projeto depende da che-
“Conversei com todos os agentes, operadores, construto-
gada de investidores dispostos a encarar sua complexidade.
res, empreendedores de trens de alta velocidade no mundo
Segundo o CEO da empresa, Bernardo Figueiredo, a
durante seis anos. Foi um processo muito estudado e dis-
ideia é tentar trazer financiamento de fora do país e vin-
cutido nos mínimos detalhes. Essa experiência me mostrou
culado à prestação do serviço. Por exemplo, fechar acordo
que esse projeto tem toda a lógica do mundo”, afirma Fi-
com uma construtora que possa trazer crédito para a obra.
gueiredo, categórico, acrescentando que poucos dias depois
Com o operador, que traria o financiamento dos equipa-
de assinar o contrato de autorização com a ANTT, a TAV
mentos/material rodante. “Estamos privilegiando buscar
Brasil foi procurada espontaneamente pelos atores que de-
essas linhas associadas ao fornecimento, mas a priori, não
monstraram interesse no projeto brasileiro no passado.
descartamos nada”, afirma Figueiredo.
“Esse projeto é tão conhecido internacionalmente e tão
A empresa não dispõe ainda de alavancagem financeira
atrativo para quem o conhece que a gente já foi procurado
para um projeto dessa magnitude, mas pode-se dizer que
por quase todo mundo. Já estamos em conversas com to-
conhecimento sobre ele, sim. Bernardo Figueiredo foi di-
das as grandes possibilidades. Os principais atores são os
retor-geral da ANTT na época em que se começou a dis-
26 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
nologia implantada. “Pela análise dos estudos de demanda e
de engenharia na época, eu via que o projeto tinha números
consistentes, mostrava viabilidade e repercussão internacio-
nal. Agora, sem essas restrições de concessão pública e com
liberdade empresarial, as condições de atratividade melhora-
ram muito”, acredita Figueiredo.
Por outro lado, o modelo de autorização traz algumas
questões caras à iniciativa privada, como a possibilidade
de mais de uma empresa apresentar uma solicitação para o
mesmo trecho de origem e destino. De acordo com a reso-
lução que regulamenta os pedidos feitos à agência, é possí-
vel existirem duas (ou mais) ferrovias paralelas que ligam
a mesma origem e destino. A justificativa da ANTT é que o
modelo não deve trazer a ideia de que há um vencedor nos
processos de autorização de novas linhas ferroviárias.
É certo que tirar do papel um projeto bilionário como
o trem de alta velocidade Rio-São Paulo é uma missão
árdua para uma empresa, que dirá duas. Mas Figueiredo
reconhece que esse é um problema no modelo de autori-
zação, uma vez que aumenta o risco privado e pode ser um
fator dificultoso na busca por financiamentos. “Eu sempre
defendi que deveria ter um processo de seleção quando
espanhóis, os chineses, os coreanos e os franceses”. houvesse mais de um pedido para o mesmo trecho”, diz.
Nessa empreitada da TAV Brasil estão ainda Marcos Jo- Outro desafio que envolve o projeto do TAV Rio-São
aquim Alves, sócio da M.J. Alves e Burle Advogados, que Paulo é o fato de não haver histórico no mundo para fazer
vem cuidando da parte jurídica e de regulação, e Paulo comparações, uma vez que nos países que dispõem des-
Benites e Daniel Suh, ambos da Global Ace. Benites e Suh sa tecnologia quem construiu o trem-bala foi o governo,
tem uma história profissional ligada ao projeto de trem de para depois repassar a operação para a iniciativa privada
alta velocidade no Brasil. Eles assessoraram os coreanos (ou não). Paulo Benites, da Global Ace, admite que essa
na época em que este se preparava para apresentar uma
Divulgação
proposta na prometida licitação do governo brasileiro.

Atratividade
A convicção de Figueiredo sobre a viabilidade do pro-
jeto vem do fato de que, segundo ele, quando foi estrutu-
rado dentro do modelo de concessão já se mostrava viá-
vel e atrativo mesmo com alguns atributos que geravam
riscos para a inciativa privada. Por exemplo, a reversão
dos ativos para a União após 30 anos e algumas questões
que envolviam interesse público, como tarifa-teto e trans-
ferência de tecnologia de implantação e desenvolvimento
do trem-bala no país.
No modelo de autorização, a empresa tem o direito de ex-
plorar o trecho ferroviário por 99 anos renováveis por igual
período. Os ativos não são revertidos à União, a empresa fica
livre de cobrar qualquer tarifa do passageiro, não há demanda
Bernardo Figueiredo: "Projeto não ter amarra pública me faz ter
mínima e nem obrigatoriedade no sentido de transferir a tec- convicção nele"

REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023 27


reportagem
autorização é um caso inédito, mas pontua que a maior de licitação. Essa foi a lógica econômica do projeto do
parte dos sistemas existentes no mundo já se pagou, ou governo.
seja, foi retornado o capital público investido. “Quando Uma dificuldade na época era o risco de construção,
enxergamos a demanda, a tarifa que gera uma receita e a na visão das empreiteiras nacionais. Essas empresas, que
oportunidade imobiliária temos convicção. Pretendemos estavam em processo de formação de consórcio com as
construir um projeto sólido, robusto, que atraia o investi- fornecedoras estrangeiras da tecnologia, tinham dúvidas
dor privado. Dinheiro privado
existe e muito”, diz. TRAÇADO PROJETADO PELO GOVERNO EM 2013

Sem dinheiro público


Figueiredo conta que o pro-
jeto de trem-bala elaborado
à época pelo governo federal
não incluía em sua estrutura-
ção financeira subsídios pú-
blicos para implementação e
operação do sistema. “Nunca
teve nem promessa nem rei-
vindicação de participação de
dinheiro público. Mas o finan-
ciamento precisava ser atrati-
vo. Os japoneses e os chineses,
por exemplo, pediram na épo- Fonte: Empresa de Planejamento e Logística (EPL), hoje Infra SA
ca que o governo assumisse o
risco de demanda. E ele não ia TRAÇADO PREVISTO PELA TAV BRASIL
assumir. Essa foi uma questão
que afastou os japoneses e os
chineses dos leilões”.
Há algumas nuances em re-
lação a esse assunto. De fato,
aporte público diretamente
aplicado no projeto não era
vislumbrado, mas para tornar
o trem de alta velocidade atra-
ente ao setor privado, o gover-
no criou uma linha de finan-
ciamento específica, que seria
concedida pelo Tesouro Na-
cional, por meio do BNDES.
O valor acordado para fi-
Fonte: ANTT
nanciamento do trem-bala era Obs: o projeto não contém detalhes sobre os trechos em superfície e em túneis

de cerca de R$ 20 bilhões du-


rante 30 anos – em 2010 o projeto estava avaliado pelo em relação à demanda projetada para o trem e ao custo
governo em R$ 34,6 bilhões. Os juros, definidos na an- estimado para a obra. Enquanto o governo falava em um
tiga TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), eram abaixo empreendimento de R$ 33 bilhões, as empreiteiras avalia-
do mercado, e poderiam reduzir ainda mais se houvesse vam um desembolso de até R$ 60 bilhões.
frustração na demanda de passageiros prevista no edital Esse foi um dos motivos que levou o governo a adiar

28 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


to no Brasil, e com a desistência do governo, acabaram
Raio-x do TAV Rio-São Paulo
Fonte: ANTT e TAV Brasil
se retirando do páreo. Em 2011, dois leilões sucessivos
Velocidade foram adiados novamente, devido à falta de garantia de
330 km apresentação de propostas.
Em 2012, foi anunciada uma mudança no edital de licita-
Distância ção. Ao invés de contratar obra e operação juntos, o gover-
378 km no decidiu definir primeiramente a empresa que iria operar
Tempo o sistema. Nesse modelo de contratação, o operador deve-
estimado de ria pagar um valor mínimo pelo uso da infraestrutura. Com
viagem esse dinheiro, o governo faria a obra. O leilão com esse
90 min Início previsto novo modelo seria realizado em setembro de 2013. Mas em
agosto daquele ano foi decidido adiá-lo mais uma vez.
Junho 2032 A essa altura, o trem de alta velocidade já vinha rece-
bendo críticas pelo alto volume de investimento, que po-
deria ser substituído por dezenas de quilômetros de metrô
o primeiro leilão em novembro de 2010. A empreiteiras pelo país. Esse argumento ganhou mais força com as ma-
queriam mais tempo para avaliar o negócio e avançar na nifestações de junho de 2013, que teve como reivindica-
formação dos consórcios com as detentoras da tecnologia. ção inicial a precariedade e as altas tarifas de transporte
O adiamento frustrou os coreanos, que estavam dispostos público nas cidades brasileiras. O trem-bala acabou, en-
a apresentar proposta mesmo que sozinhos. Eles chega- tão, sendo retirado da lista de prioridades do governo fe-
ram a montar uma estrutura robusta de estudos do proje- deral. “Foi uma decisão política, não técnica. Construiu-se

EMPAC. A ESCOLHA CERTA


PARA QUEM PROCURA
DORMENTES DE CONCRETO.

Investimos constantemente em tecnologia de ponta para


garantir sempre o melhor em dormentes de concreto
monoblocos de concreto protendido, bitolas mista, larga,
métrica e universal, blocos LVT e AMVs. Tudo feito com alto
nível de qualidade que só a Empac tem.
Com uma fábrica em MG e outra em Pernambuco, a Empac
possui soluções sob medida para sua empresa. Além do serviço
de fábrica móvel que produz dormentes de concreto dentro da
sua obra. A Empac é certeza de qualidade e agilidade.

Conheça alguns dos nossos clientes:


CPTM (Cia Paulista de Trens Metropolitanos)
CBTU (Cia Brasileira de Trens Urbanos)
VALEC • METRO RIO • METRO SP

empac.com.br | comercial@empac.com.br
32 3574.1580 - 81 3726.1176
reportagem
um ambiente político negativo para o projeto. Agora, não stakeholders. No projeto entregue para a ANTT, o traçado
existe esse componente político, então é menos uma coisa prevê a chegada do trem em Santa Cruz, na Zona Oes-
que atrapalha o negócio”, comenta Figueiredo. te do Rio, onde há uma estação da SuperVia. “A estação
não será em Santa Cruz. Vai haver uma extensão de linha.
Diferente do original Existe um ramal de trem lá. Quem sabe a gente não possa
Paulo Benites está à frente dos estudos da parte técnica usar a faixa de domínio e economizar quilômetros de de-
do novo projeto, que traz diferenças significativas daque- sapropriações? Temos que sentar e conversar”.
le elaborado pelo governo no passado. A intenção da TAV Outra quase certeza é que o trem deverá ter estações
Brasil foi enxugá-lo. A começar pelo traçado: de 511 km em Volta Redonda (RJ) e em São José do Campos (SP).
passou para 378 km (de acordo com o projeto da TAV Bra- Um projeto que cairá como uma luva para o TAV é o Trem
sil entregue à ANTT). O projeto do governo previa a inter- Intercidades até Campinas, hoje em processo de licitação
ligação das cidades do Rio de Janeiro (estação Leopoldina), pelo governo de São Paulo. A ideia é que o trem de alta
São Paulo (Campo de Marte) e Campinas; conexão dos ae- velocidade possa fazer conexão na capital paulista com o
roportos Internacionais do Galeão, de Guarulhos e Viraco- TIC (talvez próximo a uma estação da Linha 7-Rubi da
CPTM). E no meio de toda essas defi-
Trem de alta

Divulgação
nições está o componente imobiliário, o
velocidade em
operação na chamado Real Estate. “Trata-se de uma
Coreia do Sul fonte de recursos fundamental para via-
bilizar o projeto. Vamos buscar ou criar
novas áreas que possam ser interessantes
para esse tipo de exploração. O número
de estações, inclusive, vai depender des-
se tipo de avaliação”, ressalta Benites.
A demanda de passageiros – ponto po-
lêmico do projeto desde os primórdios –
será objeto de estudos mais específicos
por parte da empresa. “Hoje existe uma
demanda bastante ativa. E outra que não
conseguimos nem mensurar ainda. Te-
pos; e a presença de uma estação intermediária no trecho do mos que ter níveis de serviço combinados com uma tarifa
Vale do Paraíba fluminense e outra no trecho paulista. atrativa, para que a gente consiga atrair o usuário do avião,
A TAV Brasil decidiu retirar do traçado a interligação do automóvel e do ônibus”, diz Benites. Para Figueire-
com os aeroportos – o que, segundo Benites, é funda- do, há uma questão que é uma unanimidade nas conversas
mental não só para reduzir custos, como também a com- com players internacionais: “Eles sabem que não existe
plexidade da engenharia e o consequente aumento do lugar no mundo em que 40 milhões de pessoas vivem num
risco do projeto. Para chegar ao Galeão, por exemplo, a eixo de 400 quilômetros”.
ideia no passado era construir um túnel submarino pas- Formalmente, a ANTT exige das autorizatárias a apre-
sando pela Baía de Guanabara. “Isso para nós é um custo sentação da licença prévia do empreendimento em três anos
que não tem justificativa. As pessoas que chegam ao Rio após a assinatura do contrato, sob pena de cassação da au-
querem ir para Barra ou Centro”. Em seu traçado, cuja torização. A TAV Brasil tem, portanto, o prazo até o início
maior parte será em superfície, a TAV Brasil conseguiu de 2026 para conseguir a primeira licença. Essa exigência
retirar quase 20 km de túneis que estavam previstos no não é tão rígida, uma vez que a agência abre espaço para
projeto do governo federal. prorrogação dos prazos mediante justificativa da autorizatá-
Barra da Tijuca e Centro são os bairros cariocas que ria. No projeto entregue à ANTT, a empresa estipulou junho
devem receber estações do TAV, segundo Benites. Como de 2032 como a data de início da operação do trem de alta
isso vai acontecer, ainda não se sabe. O especialista diz velocidade pela TAV Brasil. Por parte dos passageiros que
que é preciso iniciar uma série de conversas com diversos sonham com a ligação, resta aguardar e torcer.
30 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
arquivo ferroviário
A locomotiva a vapor nº 505, da anti-

Lucas M. Rosa
ga Rede Mineira de Viação (RMV), está
em plena atividade no passeio turístico
Campinas-Jaguariúna, operado pela
Associação Brasileira de Preserva-
ção Ferroviária (ABPF), em São Paulo.
Quando termina seu trajeto na estação
de Jaguariúna, a Maria Fumaça ingres-
sa num virador (foto), para que faça um
giro de 180 graus e se posicione no sen-
tido da viagem de volta (em direção a
Campinas). A 505 é a única sobrevivente
de um lote de 15 locomotivas do mes-
mo modelo adquiridas pela RMV. Foi
fabricada na Alemanha, em 1927, pela
L. Schwartzkopff. Sua reforma foi
concluída em 1993 pela ABPF, sendo então destinada ao
trajeto Campinas-Jaguariúna. Nos trilhos desse trem turístico, os
passageiros revivem o que foi um dia a Companhia Mogiana de
Estradas de Ferro, antiga operadora desse trecho ferroviário. VEJA A FOTO AMPLIADA

A TAUROS Transportes é uma empresa dinâmica que


trabalha com idoneidade e transparência profissional,
com 15 anos de experiência, proporciona assessoria de
alto nível e efetivo suporte técnico para seus clientes
desenvolvendo um trabalho de parceria, resultando na
excelência dos serviços prestados.

PORTOS E AEROPORTOS
IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO
TRANSPORTE QUALIFICADO
CERTIFICADO ANVISA
QUÍMICOS E DEDICADOS
PROJETO LOGÍSTICO

comercial@taurostransportes.com.br (11) 3865-9954 www.taurostransportes.com.br


arquivo ferroviário
capa

Agronegócio

Lucas M. Rosa
nos trilhos
Produção agrícola crescente faz com que transporte de grãos
ganhe cada vez mais importância nas ferrovias brasileiras
Por Bianca Rocha

O
agronegócio representou, sucessivos de produção de grãos e tam-
em 2022, quase um terço bém da baixa participação do modal no
do PIB (Produto Interno escoamento dessa carga. Este ano, o vo-
Bruto) do Brasil, chegan- lume de produção deve bater 312,5 mi-
do a US$ 500 bilhões – o equivalente a lhões de toneladas – incremento de 15%
uma Argentina. Toda essa pujança tem (40,1 milhões de toneladas) em relação
impulsionado não só a economia, mas à safra 2021/22, segundo a Companhia
também o setor ferroviário brasileiro. A Nacional de Abastecimento (Conab).
carga agrícola é uma das mais crescem No ano passado, mais da metade dessa
em termos de volume na ferrovia. Nos produção foi escoada por meio de ca-
últimos dez anos, a movimentação de minhões até os portos do Arco Norte ou
grãos (soja, farelo de soja e milho) nos do Sul e Sudeste do país. A ferrovia res-
trilhos dobrou, chegando a 64,5 milhões pondeu pela movimentação de cerca de
de toneladas em 2022, de acordo com 20% de todo o volume.
dados da Agência Nacional de Trans- Há limitações de capacidade nos
portes Terrestres (ANTT). corredores ferroviários existentes, mas
Está certo que o volume de grãos na o que vem restringindo esse aumento
ferrovia é incomparável ao de minério também é a falta de um leque de opções
de ferro, que ainda responde por 70% ferroviárias nas regiões onde a produ-
de tudo que é transportado pelo setor no ção agrícola é mais pujante. Isso talvez
Brasil. Mas a questão está no potencial possa mudar nos próximos anos. Com
de crescimento que vem do agronegó- exceção da Transnordestina (cujo novo
cio. Enquanto a movimentação ferrovi- estudo de demanda está em elabora-
ária de minério decresce (nos últimos ção), três das quatro ferrovias em obras
cinco anos a queda foi de 21,26%), a no país têm a carga agrícola como prin-
de grãos tende a subir. Não por acaso, cipal. Uma é a Ferrovia de Integração
praticamente todos os novos projetos de Centro-Oeste (Fico), entre Mara Rosa
ferrovia no país estão sendo prospecta- (GO) e Água Boa (MT), que deverá
dos ou implementados com o objetivo chegar ao Nordeste de Mato Grosso,
de atender essa demanda. Difícil prever terceira maior região produtora do es-
quais vão vingar dentro do complexo tado. O projeto de 383 km está sendo
setor ferroviário brasileiro, mas o fato implementado pela Vale por meio do
é que o agronegócio tem gerado estímu- mecanismo de investimento cruzado
los para a expansão da malha. (em troca da renovação da concessão da
O potencial desse setor para a ferro- Estrada de Ferro Vitória a Minas).
via é indiscutível diante dos recordes Já a Ferrovia de Integração Oeste-

34 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


Vagões hopper carregados -Leste (Fiol 2), entre Caetité e Barrei- a atender a produção de Mato Grosso e
de grãos chegando no pátio ras (BA), sob responsabilidade do go- da região do Matopiba (Maranhão, To-
Zxh, em Ibaté (SP)
verno federal, deverá buscar o volume cantins, Piauí e Bahia). O pacote con-
de carga agrícola produzido no Oeste tém também uma série de trechos (13
Baiano. Há ainda a extensão da Malha no total) solicitados pela Rumo e pela
Norte, obra que começou no fim do ano VLI, concessionárias que transportam
passado, partindo de Rondonópolis em granéis na ferrovia.
direção a Lucas do Rio Verde, na re- A questão desses projetos está na
gião conhecida como Médio Norte de viabilidade. As autorizações foram da-
Mato Grosso. O projeto é uma autori- das pela ANTT, mas a implementação
zação dada pelo estado à Rumo, e está depende estritamente de recursos pri-
sendo construído 100% com recursos vados e da capacidade de as empresas
privados. A previsão é que seus 743 km autorizadas captarem investidores/fi-
estejam prontos em 2028, ao custo de nanciadores dispostos a encarar proje-
R$ 15 bilhões. tos bilionários.
A região do Médio Norte é onde
está concentrada a maior parte da Risco do negócio
produção de grãos do estado. Nela es- Para Bernardo Figueiredo, ex-con-
tão localizadas cidades como Sinop, sultor da Associação Brasileira das In-
Nova Mutum, Sorriso e Lucas do Ver- dústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e
de, que juntas devem produzir na sa- atualmente CEO da TAV Brasil (página
fra de 2022/23 cerca de 13,2 milhões 42), dificilmente a iniciativa privada en-
de toneladas de soja e milho, segundo traria num investimento em que haveria
o Instituto Mato-grossense de Econo- concorrência com outras malhas já es-
mia Agropecuária (Imea). tabelecidas, como a da Rumo e da VLI.
É também para atender essa demanda “Se expandir a capacidade nos corredo-
de carga que a Ferrogrão, entre Sinop e res ferroviários existentes, vai atender
Porto de Miritituba (PA), com 933 km, essa demanda do agronegócio? E o que
foi projetada. Esse percurso hoje é aten- não conseguir atender, vai para a rodo-
dido apenas por rodovia, a BR-163, por via? São questões que precisam ser pen-
onde caminhões carregam cerca de 11,5 sadas”, diz, ressaltando:
milhões de toneladas por ano. O projeto “Difícil uma autorização concorrer
da Ferrogrão, no entanto, está à espera com um corredor que já está instalado
de uma definição do Supremo Tribunal e conhece o mercado. Competir nesse
Federal (STF) para um imbróglio jurí- cenário traz risco muito grande para um
dico-ambiental relacionado aos limites projeto novo. Comprar locomotivas e
do Parque Nacional de Jamanxin (PA), vagões, fazer desvio ferroviário são in-
onde se prevê parte de seu traçado. O vestimentos marginais. Diferentemente
julgamento está agendado para o próxi- de construir uma ferrovia do zero”, ex-
mo dia 31 de maio. plica Figueiredo, que completa: “Mais
Nesse conjunto de novos projetos de ferrovia gera mais competitividade em
ferrovia chama atenção a quantidade relação ao frete. Isso é bonito como
de autorizações voltadas para atender política pública. Não vejo a iniciativa
a demanda agrícola. Do total de 39 pe- privada investir 100% de recursos num
didos já aprovados pela ANTT, 23 tem projeto para gerar competitividade e,
grãos como cargas previstas (veja o consequentemente, mais risco para o
mapa). Parte dessas ferrovias destina-se negócio”, afirma.
REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023 35
capa
Para a Ferrogrão sair do papel, por exemplo, o gover- Baixa densidade
no terá que fazer uma modelagem que gere atratividade, O Mato Grosso deverá produzir 99,1 milhões de tonela-
segundo Figueiredo. “O governo passado colocou a Fer- das (soja, farelo de soja e milho) na safra 2022/23, ou seja,
rogrão em audiência pública. O projeto está paralisado quase um terço de toda a colheita nacional. É, de longe,
por uma questão legal. Mas tinha investidor com apetite o estado que mais produz grãos e um dos que mais mo-
de entrar nesse projeto do jeito que ele estava desenha- vimentam por ferrovia no país. Mas há uma contradição:
do?”, questiona. é o que apresenta a menor densidade ferroviária entre os
A Rumo, que recebeu autorização do governo fede- estados produtores de grãos, ou seja, a menor extensão de
ral para sete ferrovias, informa que os projetos estão em ferrovia por mil quilômetros quadrados de área.
fases iniciais e são pensados a longo prazo. A empresa A única malha que chega a Mato Grosso é a Norte da
pontua que não fará qualquer estimativa ou prognóstico Rumo, em Rondonópolis, sul do estado, por onde desce-
sobre o tema no momento. ram até Santos 21,5 milhões de toneladas de soja, farelo
O sócio da Grão Pará Multimodal (GPM), Paulo Sal- de soja e milho em 2022. O restante (71,5 milhões de to-
vador, quer colocar uma ferrovia autorizada de Alcân- neladas) chegou aos portos (Arco Norte e do Sul e Sudes-
tara (MA) a Açailândia (MA), de 540 km, em operação te) por meio de rodovia ou hidrovia.
até 2030. A empresa fez parceria com a operadora alemã, A baixa densidade ferroviária em Mato Grosso foi um
Deutsche Bahn, para o desenvolvimento e futura opera- dos pontos levantados no estudo “Logística do Agrone-
ção da ferrovia. No traçado está a conexão com a Ferrovia gócio – Oportunidades e Desafios”, feito pelo coordena-
Norte-Sul, em Açailândia, operada pela VLI – detalhe que dor geral do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística
pode fazer diferença no projeto. Os trens da concessio- Agroindustrial (Esalq-Log) da Universidade de São Pau-
nária precisam hoje ingressar por direito de passagem na lo, Thiago Pêra. No documento, ele expôs as diferenças
Estrada de Ferro Carajás, em Açailândia, para conseguir logísticas entre os estados produtores de grãos.
escoar a carga agrícola no Porto de Itaqui (MA). “Mato Grosso apresenta uma densidade ferroviária
A capacidade reservada da EFC para as composições abaixo de 0,120 km/1.000 km², enquanto Minas Ge-
de grãos da VLI, no entanto, é limitada, girando em torno rais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul apresentam
de 10 milhões de toneladas/ano. Isso acaba restringindo uma relativa alta densidade ferroviária, acima de 5,575
o crescimento da Norte-Sul. O projeto da GPM, portan- km/1.000 km²”, diz, ressaltando que no mundo ideal a
to, surgiria como uma alternativa para o escoamento da infraestrutura deveria crescer num ritmo maior que o de
carga da VLI pelo Arco Norte. “Acreditamos na deman- exportações do agronegócio.
da crescente vinda do Matopiba, Goiás e Mato Grosso, Nos últimos anos, especificamente em ferrovia, aconte-
que são as regiões mais importantes para a nossa ferro- ceu o contrário. Enquanto as exportações agrícolas cres-
via. Vai ter carga para todo mundo. E digo mais, pode até ceram de 43% do total exportado no país em 2010 para
faltar ferrovia para o volume de produção que se avizi- 54,2% em 2020, a participação da movimentação ferro-
nha”, acredita Salvador. viária de grãos em relação ao total exportado passou de
Divulgação/Rumo

Terminal ferroviário de São Simão,


na beira da Malha Central da Rumo

36 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


PROJETOS DE FERROVIAS/EXPORTAÇÕES DE SOJA E MILHO

Fonte: CNA, ANTT e Ministério dos Transportes


*Somente os que têm carga agrícola prevista
Mi/t = milhões de toneladas
Os volumes nos portos dizem respeito às exportações de soja e milho em 2009 e 2022

Sem trilhos, sem asfalto


Exportação de soja e milho (em milhões de toneladas)
A produção agrícola do Mato Gros-
Arco Sul e
Brasil Arco Norte so é escoada através de quatro corre-
Sudeste
dores logísticos: além da Malha Norte
2009 43,4M/t 7,2M/t ou 16,6% 36,2M/t ou 83,4%
da Rumo, são três rodovias: a BR-163,
2022 140,9M/t 52,3M/t ou 37,1% 88,6M/t ou 62,9%
entre Sinop e Miritituba, onde as car-
Variação 97,5M/t 45,1M/t 52,4M/t gas são transbordadas principalmente
Fonte: CNA para os portos de Santarém (PA) e de
46,8% para 42% no mesmo período. Ou seja, houve de- Vila do Conde/Barcarena (PA); a BR-158, que serve tanto
créscimo. “O volume de exportação cresceu mais porque para chegar ao Porto de Vila do Conde quanto para alcan-
a produção aumentou bastante, assim como a demanda çar a Ferrovia Norte-Sul (através de rodovias estaduais
internacional por produtos agrícolas. O modal ferroviário que chegam ao Terminal Palmeirante, no Tocantins); e
não acompanhou no mesmo ritmo essa linha de cresci- a BR-364, que vai até Porto Velho (RO), de onde se faz
mento”, explica Pêra. transbordo para os portos de Itacoatiara (AM), Santarém

REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023 37


capa
Divulgação/Valec
e Vila do Conde. Os volumes que passam pela BR-163 e na BR- A Norte-Sul é a única ferrovia
364 ultrapassam 10 milhões de toneladas/ano. Já na BR-158 esse hoje a embarcar grãos
pelo Arco Norte
número fica em torno de 3 milhões de toneladas/ano.
Em Mato Grosso, faltam trilhos e também rodovias em con-
dições adequadas para uma demanda crescente de carga. “A
BR-158 tem um trecho de quase 120 km de estrada de terra, que
passa por dentro inclusive do Vale do Xingu. É preciso fazer um
contorno, pensar numa estratégica a longo prazo. Já a BR-163
é uma rodovia que necessita o tempo inteiro de manutenção.
Existe um fluxo de carga muito intenso na região Médio Norte
do estado. Inclusive é uma das rodovias que tem mais aciden-
tes”, comenta Vanessa Gasch, coordenadora de Desenvolvimen-
to Regional do Imea.
É difícil entender como a logística atual dará conta dos recor-

“Só falta chegar o trem”


Blairo Maggi conhece como poucos a lo- leira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) importância como carga para as ferrovias do
gística que envolve o agronegócio no país. Foi e é acionista do Grupo Amaggi. A empresa Brasil, levou à escolha de Blairo Maggi como
um dos idealizadores do corredor de expor- foi criada por seus pais na década de 1970, Ferroviário do Ano de 2022, na retomada do
tação de grãos em direção a portos do Norte quando saíram do interior do Paraná rumo ao Prêmio Revista Ferroviária pós-pandemia.
do país, com a utilização de hidrovias dos rios Mato Grosso. Hoje o grupo é um dos maio- Em meio a novos projetos de ferrovia que
Madeira e Amazonas. Mas ainda faltam tri- res produtores de soja do mundo. Em 2022, surgem, ele reafirma o interesse do agrone-
lhos nessa infraestrutura. comercializou 18,6 milhões de toneladas de gócio na Ferrogrão. “Se houver uma estrutura
“As ferrovias precisam avançar para o in- grãos e fibras e conta com mais de 6 mil pro- financeira que mostre boa rentabilidade e se-
terior do Mato Grosso, que é muito carente dutores rurais parceiros. gurança, não tenho dúvida de que muitos pro-
ainda”, declara Maggi, que ocupa o cargo de O fato de ser um legítimo representante do dutores colocariam dinheiro como acionistas
presidente do Conselho da Associação Brasi- agronegócio, setor que ganha cada vez mais ou na compra de ações”.

Revista Ferroviária – Qual a sua percepção sobre o setor ferroviário? RF – Qual é a sua expectativa?
Blairo Maggi – Por muitos anos, o país negligenciou ou fez menos BM – Que as ferrovias continuem avançando para o interior do Mato Grosso,
do que deveria fazer nesse setor, diferentemente do que acontece em que é muito carente ainda. A ferrovia apenas entrou no estado. Ainda tem
outros países onde as ferrovias são a ponta de lança da economia. O mais de 1 mil km para o Norte, Leste e Oeste, para expansão da malha.
avanço ficou muito restrito, mas o Brasil continuou crescendo. A ocu-
pação do Centro-Oeste começou na década de 1970, mas a ferrovia RF – A produção vem crescendo mais rápido que a ferrovia...
saindo de Santos até Rondonópolis só chegou na década de 1990. As BM – Sim. E por quê? Os investimentos nas áreas agrícolas são feitos por
ferrovias chegaram atrasadas e, nesse momento, com um custo muito várias pessoas. São milhares de agricultores e empresas que fazem os seus
elevado para o agronegócio. investimentos. A somatória que dá o volume da produção agrícola. Enquanto
na ferrovia é uma única empresa e o capex é muito alto. Carregar isso no
RF – Como se explica essa questão? balanço financeiro por vários anos é bastante caro. E existe um vácuo na
BM – Diferentemente de outros tempos quando era construída e operada questão do financiamento. Quem financia a chegada das ferrovias? Temos
pela União, a cobrança era pela operação da ferrovia. Hoje, é necessário incluir estruturas de fundos que poderiam colocar dinheiro a longo prazo. Mas aí
no custo o capex desse negócio. Tudo tem que ser amortizado pela tonelada vem a questão da segurança jurídica dos contratos, que afasta o investidor.
transportada. Os benefícios para o setor na escolha entre caminhão e ferrovia Temos a Ferrogrão como exemplo, que está judicializada.
não são nada significativos. Tem épocas em que a ferrovia trabalha preço de
caminhão menos 5%, 3%. Praticamente quem baliza o preço é o caminhão. Se RF – A Ferrogrão para de pé com 100% de recursos privados?
ele estiver muito caro, a ferrovia sobe também. Esse é o lado ruim. Mas o lado BM – Sim, essa sempre foi a ideia, de construí-la com recursos privados
bom é que também não deixa os preços dos fretes explodirem. sem subvenção de governo. Não há dúvida de que ela fica de pé, por-

38 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


des de safra que se aproximam no estado. O Imea prevê movimento que se intensificou nos últimos anos: o esco-
para a safra de 2031/32 aumento de 44% no volume de amento da carga agrícola pelo Arco Norte. Tanto o Mato
soja e de 74% no de milho, o que significa incremento de Grosso, distante cerca de 2 mil km de Santos, quanto a
quase 20 milhões de toneladas para a primeira e 34 mi- região do Matopiba, que engloba estados do Norte, Centro
lhões para o segundo. O gargalo logístico preocupa, mas e parte do Nordeste, vem contribuindo para mudanças na
na opinião de Vanessa, não será impeditivo à expansão da logística de escoamento do país.
produção. “Já temos tido essa expansão ao longo dos últi- Um estudo divulgado este ano pela Confederação da
mos anos e os modais de transporte não têm acompanhado Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostra não só
esse crescimento. Mas existe a questão de competitivida- um crescimento relevante da movimentação de carga
de. Se tivermos oferta de modal ferroviário, diminui-se o para exportação no Arco Norte, como também a criação
custo de transporte”, pontua. de três novos portos na região entre 2009 e 2022 (veja
o mapa). São eles: o sistema de Belém/Barcarena, que
Arco Norte avança hoje recebe 17,4 milhões de toneladas/ano, e ainda os
O custo de transporte está diretamente ligado a um tímidos Santana (AP), com 0,4 milhões de toneladas/

Blairo Maggi é
o Ferroviário
do Ano 2022
do Prêmio que é um volume gigante muitos produtores colocariam dinheiro como acionistas ou na compra de
Revista
de carga. E à medida em ações, porque no futuro estaria beneficiando outro negócio dele. A estru-
Ferroviária
que vai subindo com essa tura financeira para fazer isso não permite que as tradings sejam sócias
ferrovia para o Norte, vai efetivamente. Mas os produtores, sim, com um percentual bem menor.
incorporando novas áreas
prontas para serem utiliza- RF – Existe interesse do agronegócio em investir em ferro-
das. São áreas já ocupadas vias autorizadas?
pela pecuária, não tem des- BM – Em termos de ferrovia, não. Já em termos de portos, logística de
matamento. Se alguém fizer caminhão e barcaça, hidrovias, isso é 100% privado. Todos os portos
as contas e enxergar viabi- que funcionam no Arco Norte é tudo iniciativa privada. Só falta chegar
lidade econômica, a res- o trem. Quando há desregulamentação e não há burocracia impedindo,
ponsabilidade é dele. Não imediatamente as empresas fazem a infraestrutura necessária.
é mais do governo. Só cabe
ao governo criar condições para um projeto desse e colocar na praça. Se RF – Tem carga para todos os projetos de ferrovia que visam
chegar a Ferrogrão, o Mato Grosso está resolvido. o agronegócio?
BM – Acho que tem espaço, sim. O problema da ferrovia é que saí-
RF – Por que o agronegócio, incluindo as tradings, não se mos- mos do monopólio estatal e passamos para um monopólio privado. Não
tram dispostas a entrar como investidoras do projeto? mudou muito. Mas, por outro lado, tem mais eficiência, responde mais
BM – As tradings não participam porque é um investimento de retorno de rápido. Você pode contar com ela mais tempo. A ferrovia é muito bem-
20, 30 anos. As tradings precisam de muito capital no mercado para seus -vinda, mas se ela não existir, vamos sobreviver igual. Mais caro, mas
negócios rodarem. Ela financia produtor, recebe a mercadoria, coloca num ca- vamos sobreviver.
minhão, numa barcaça, põe num navio, entrega na Europa ou na Ásia. Esse
conjunto todo precisa ser financiado por alguém. São necessários milhões de RF – Se aumentasse a capacidade nos corredores existentes,
reais para fazer a companhia operar durante o ano. Se colocar um investimento daria conta?
no balanço de mais de R$ 20 bilhões, a empresa fica impossibilitada de ir ao BM – Se tivéssemos mais vagões e capacidade haveria uma partici-
mercado tomar dinheiro para fazer aquilo que é a essência do negócio dela. pação maior do transporte ferroviário dentro da própria economia bra-
sileira. Isso não acontece hoje. Mas tenho certeza que se não tivesse
RF – E os produtores? também gargalos na Baixada Santista ou nas passagens em nível, com
BM – Os produtores poderiam participar, mas não são eles que têm a mesma quantidade de trens e vagões que se tem hoje se transportaria
que dar a ignição do processo. Se houver uma estrutura financeira que muito mais carga. Aumentaria o caixa da companhia e poderia haver
mostre uma boa rentabilidade e segurança, não tenho dúvida de que uma redução de preço no transporte também.

REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023 39


capa
Divulgação/Valec
ano, e Sergipe/TMIB (SE), operado pela VLI, com 0,2 Três das quatro ferrovias
milhões de toneladas/ano. em construção no país têm a
“As fronteiras agrícolas foram avançando em direção carga agrícola como alvo
ao Norte do país, levando ao aumento da distância até os
portos do Sul e Sudeste. A alternativa foi ampliar a oferta
no Arco Norte para atender a produção cada vez maior
nessas novas regiões”, diz assessora técnica da Comis-
são Nacional de Logística e Infraestrutura da CNA, Eli-
sangela Lopes.
Um dos marcos que contribuiu para a ascensão do Arco
Norte foi a promulgação da Lei 12.815/2013, que auto-
rizou a instalação de terminais de uso privado (TUP) em
áreas fora de um porto organizado, por meio de autoriza-
ção do governo federal ao setor privado. Como exemplo
desse avanço estão TUPs em Barcarena e Miritituba, am-
bos no Pará, que prosperaram depois da lei. Toda a carga ca. Os grãos responderam por 36% dessa movimentação,
que chega a esses dois locais se faz por caminhão e/ou liderando em volume.
barcaças. Não existem trilhos até lá. Já a Rumo diz estar focada na conclusão das obras do
último trecho da Malha Central entre Ouro Verde de Goiás
Operadoras investem e Rio Verde (GO), prevista para o primeiro semestre deste
A única ferrovia hoje que embarca grãos pelo Arco ano. “Para se ter uma ideia, a operação da Malha Central
Norte é a Norte-Sul, operada pela VLI entre Porto Nacio- já representa hoje 30% da exportação de soja e milho de
nal (TO) e Açailândia (MA). Em 2022, a concessionária sua região de influência composta por Goiás e pelo Les-
movimentou 60,1 milhões de toneladas nas duas malhas te de Mato Grosso. O volume total de grãos (soja, farelo
que opera, além da Norte-Sul, a Ferrovia Centro-Atlânti- e milho) exportados por Goiás alcançou 16,1 milhões de
Divulgação/Valec
toneladas em 2022”, afirma Guilherme Penin, vice-presi-
dente de Regulação e Expansão da Rumo.
A MRS cita o terminal em Itutinga (MG), projeto em
andamento que será voltado ao transporte de soja, milho,
café, entre outras cargas do Sul de Minas Gerais, e o Com-
plexo Intermodal de Pederneiras (SP), que entre os obje-
tivos está também a movimentação de grãos. Além disso,
a empresa diz ter investido R$ 173 milhões em aquisição
e transformação de vagões para transporte de produtos
agrícolas. Recentemente, a MRS recebeu uma leva de
800 vagões hopper de aço inox da Greenbrier Maxion e
da Randon.
As concessionárias ressaltam investimentos, mas os
clientes veem mais necessidade de melhorias. Para Vitor
Vinuesa, diretor de Logística da América do Sul da trading
ADM, a capacidade ferroviária já demonstra não atender
a demanda em 2023. “A falta é de uma estrutura como um
todo da operação, que vai desde material rodante até a per-
Fiol 2, em obras,
da de produtividade por conflito em zonas urbanas. Nossa
deve chegar expectativa é que haja aumento de produtividade, redução
próximo ao de custos e mais capilaridade da ferrovia, atendendo corre-
Oeste Baiano
dores que hoje são dependentes do caminhão”, reforça.
40 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
Track more with less.

Contagem de eixos

Frauscher
Advanced
Counter FAdC®
Graças à interface via software, o sistema Contador de Eixos FAdC pode
ser facilmente integrado aos sistemas superiores, fornecendo um design
simples e flexível. Os integradores de sistemas e operadores ferroviários
usufruem de vantagens significativas ao implementar este modelo de
equipamento.

Dados técnicos
Tipos de informação
Interfaces Protocolo vital à escolha do cliente, Protocolo FSE (Frauscher
Seção livre/ocupada (SIL4)
Safe Ethernet) e/ou sinal vital via relé ou optoacoplador
Sentido da composição (SIL4)
Nível de segurança SIL 4 (comunicação em conformidade com a norma EN 50159, Número de eixos
categoria 2)
Comprimento da composição

Temperatura Equipamentos externos: -40 °C a +85 °C (classe climática TX Velocidade


referente a „ambientes externos“ da EN 50125-3) Diâmetro da roda
Equipamentos internos: -40 °C a +70 °C (classe climática T2
Dados de diagnóstico
referente a „em gabinete“ da EN 50125-3)

Umidade Equipamentos externos: 100%, IP68, Aplicações


Equipamentos internos: até 100% (sem condensação ou
formação de gelo em todo o intervalo de temperatura) Indicação de via livre/ocupada
Sistema secundário de
Compatibilidade EN 50121-4 sinalização
eletromagnética Passagem em Nível

Resistência Mecânica 3M2, de acordo com a EN 60721-3 – adequado para uso em


Proteção em AMV
gabinetes compactos e em ambientes externos próximos à via Penalização ao avançar sinal
vermelho
Velocidade 0 a 450 km/h Detector de posição
Automação de pátios
Dimensões Formato: Gabinete de 19 pol. para placas de 100 mm x 160 mm
Largura: gaveta de placas com 42 ou 84 TE
Altura: 3 U Benefícios
Configuração simples e flexível
Dados de alimentação Tensão: +19 a +72 Vcc
Potência: aproximadamente 4,5W por conjunto de sensor com Interface via software
placa de avaliação Arquitetura flexível
Tensão de isolamento: 3,1kV
Baixa manutenção
Alto ciclo de vida

Entre em contato! Frauscher Sensor Technology Brasil Ltda


office@br.frauscher.com | +55 16 3419 6079 www.frauscher.com
reportagem

A indústria fala
RF lança o Pod nos Trilhos; Greenbrier Maxion e Randon são as convidadas de estreia

Fotos: Renan Kaldiris


Da esq. para dir.: Sandro Trentin, da Randon, Eduardo Scolari, da Greenbrier Maxion, e Bianca Rocha, da Revista Ferroviária

A
Revista Ferroviária lançou um novo canal de de 3 mil a 4 mil vagões/ano é a mínima necessária para
comunicação com o setor. É o videocast Pod manter as máquinas de produção funcionando, a sustenta-
nos Trilhos, plataforma de entrevistas com per- bilidade da cadeia de fornecedores e os investimentos em
sonalidades relevantes da ferrovia, para uma inovação de produto, necessários à melhor produtividade
conversa desenvolta e informativa sobre esse mercado no das ferrovias. Mais do que crescimento na demanda, a in-
Brasil. Trata-se do primeiro videocast no país vinculado dústria precisa de previsibilidade de encomendas, concor-
a uma mídia jornalística oficial e voltado exclusivamente daram Scolari e Trentin.
para o setor ferroviário. Os dois executivos chamaram atenção para a dificuldade
No episódio-piloto, a editora da RF, Bianca Rocha, bateu de pequenos e médios empresários manterem a produção
um papo com o CEO da Greenbrier Maxion, Eduardo Sco- de componentes usados na montagem do vagão. A preocu-
lari, e o diretor superintendente da Randon, Sandro Trentin. pação fica maior quando se vislumbra o aumento de pro-
No roteiro, assuntos que vêm permeando o dia a dia nas fá- dução que será necessária quando (e se) os novos projetos
bricas: o difícil momento de baixa nas encomendas e como de ferrovia começarem a se tornar realidade. Sem o forne-
isso tem afetado também a cadeia fornecedora de peças e cimento da parte de peças, haverá um gargalo nas entre-
componentes, a necessidade de novos projetos de ferrovia, gas difícil de mensurar, disseram os executivos. Segundo
de fato, saírem do papel e a resiliência da indústria que, a Scolari e Trentin, já existem problemas com a entrega de
despeito das dificuldades, continua investindo em tecnolo- alguns componentes. Na conversa, eles detalharam o que
gia e novos produtos, segundo os executivos. O episódio vem acontecendo.
está disponível nos canais da RF no YouTube e no Spotify.
Os baixos volumes de produção têm se refletido numa Novo plano
rotina de ociosidade nas fábricas. Atualmente, as plantas da Os executivos opinaram sobre como seria possível me-
Greenbrier Maxion, em Hortolândia, e da Randon, em Ara- lhorar a situação. Segundo eles, a solução precisaria pas-
raquara, ambas em São Paulo, estão produzindo, em média, sar não só pelos interesses da indústria, mas também das
apenas 10% de suas capacidades instaladas, que é de 12 mil concessionárias e do governo. Scolari citou como exemplo
vagões (somando as duas). Scolari estima que a demanda a Frota Verde Ferroviária. Trata-se de um programa insti-
42 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
tuído pela Agência Nacio- A Abifer, por exemplo,
nal de Transporte Terrestre começou a trabalhar em
(ANTT), mas que ainda formas de incentivo a esse
requer regulação. A inicia- tipo de demanda.
tiva propõe o uso de parte Scolari falou ainda dos
da outorga variável, adota- vagões hopper, hoje mais
da nos contratos de reno- A conversa teve momentos de descontração demandados, e explicou as
vação, para a compra de características do gôndola.
material rodante (vagões e locomotivas) mais sustentável “O uso contínuo e a abrasão que a caixa sofre na carga e
pelas ferrovias. na descarga do minério é muito grande. É preciso fazer a
A condição da frota atual foi outro ponto abordado pelos reposição contínua disso. Com serviços ou vagão novo, a
executivos. Dos 132 mil vagões em operação atualmente demanda do gôndola é quase que contínua”, disse, ressal-
nas ferrovias, metade tem mais de 30 anos e 14 mil deles tando também que existe espaço para carga geral. Embora
já passaram dos 50 anos, operando com baixa produtivi- ainda seja tímida, é uma demanda que irá crescer através
dade. “A indústria não é insensível ao montante de dinhei- da intermodalidade, segundo ele.
ro que se tem que aplicar para
fazer uma renovação de frota. "Estamos aguardando o crescimento
A nosso ver, isso tem que ser da demanda. Tivemos um 2022
estudado, de novo, com a par-
bastante tímido, e 2023 também
ticipação essencialmente das
será. Será um ano ponte, porque a
concessionárias, do governo,
da indústria para se achar um
expectativa para 2024 e 2025 nos
equilíbrio em que no final, to-
parece bem mais promissora."
dos ganham”, reforçou Scolari. Eduardo Scolari, CEO da Greenbrier Maxion

"A nossa proposta é que seja muito Toda a inovação da indústria


mais que um plano (de encomendas). tem por trás o trabalho de uma
Seja um acordo entre concessionárias, equipe de engenheiros valio-
governo, fabricantes e fornecedores sos e que não se encontra em
qualquer esquina. Para os exe-
em geral da indústria."
cutivos, essa é outra questão
Sandro Trentin, diretor superintendente da Randon impactada pelo momento de
queda nas encomendas: o desa-
Os assuntos relacionados à tecnologia e à engenharia dos fio de manter motivado um quadro extremamente técnico
vagões logo dominou a conversa. Tanto Scolari como Tren- e voltado para o conhecimento ferroviário. “Temos que
tin falaram sobre as mais recentes inovações que aplicaram proteger esse know-how. Essa luta está acima das empre-
nos produtos e nas fábricas, e como isso vem elevando a sas, ela precisa ser uma luta de país, sabe? Precisa ser uma
eficiência, a segurança e a sustentabilidade nas ferrovias. luta maior. De cadeia produtiva, de negócio ferroviário,
num sentido amplo”, pontuou Trentin.
Clientes finais
Os executivos citaram os modelos de vagões mais de-
mandados pelas ferrovias atualmente e sobre aqueles que Pod nos Trilhos
ainda devem gerar mais interesse nos próximos anos. Acesse através do QR Code o
Outro ponto abordado foi o crescimento das encomendas primeiro episódio do videocast
Pod nos Trilhos.
vindas de usuários finais da ferrovia. Os executivos de-
talharam como esse mercado tem estimulado a indústria.
REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023 43
gente

Gente que faz Profissionais ferroviários que atuam nas operadoras de carga e
de passageiros e na indústria são os destaques nessa coluna.

Tempo de ferrovia mudou. Ser mulher e trabalhar setor metroferroviário e

Passageiros
12 anos dentro do CCO é um reflexo do fiquei deslumbrada. É incrível
tamanho da mudança. acompanhar a rotina diária dos
Ferrovia significa...
passageiros e imaginar o quão
Para mim, a ferrovia vai além Um bom ferroviário é...
importante é para aquela pessoa
do transporte de passageiros. É É o que garante a ida e
estar em algum lugar.
por onde conectamos sonhos, o retorno de milhares de
momentos e pessoas. O destino passageiros todos os dias Expectativa profissional
de cada um que passa pelas com segurança, conforto e Com 12 anos de experiência
nossas linhas está nas nossas mobilidade humana. Reconhece na ViaQuatro, alcancei todos
mãos. E é por este motivo que esse papel e traz consigo a os meus sonhos e objetivos
acordo todos os dias. empatia com cada um deles. profissionais. Hoje lidero um
time incrível que move das
Desafio diário Momento para recordar
zonas Sul ao Centro milhares
A luta pela equidade de Quando entrei na
de pessoas todos os dias.
gênero é contínua e é uma ViaQuatro, em 2010, como
realidade em diversas áreas da agente de Atendimento e
sociedade. Porém, enxergo que Manutenção. Foi minha Nathalia Martins
no setor metroferroviário isso primeira experiência no Gerente de Atendimento da ViaQuatro

Tempo de ferrovia garantindo a segurança Sul. Tenho o compromisso de

Carga
10 anos pessoal e operacional das abrir essas portas para que
pessoas e processos. venham muitas outras.
Ferrovia significa...
Transportar nossas riquezas Um bom ferroviário é... Expectativa profissional
conduzindo o país pelos caminhos Uma pessoa apaixonada Transformar a logística do Brasil,
do desenvolvimento econômico pelo que faz e inspirada pela construindo um legado positivo
e social. São os trilhos que nos vontade de compartilhar valor para as próximas gerações,
conectam à transformação da por onde passa, transportando por meio do nosso trabalho e
logística do Brasil. conexões, valores e dedicação. Abrir caminhos para
histórias por todo o Brasil, e uma ferrovia cada vez mais
Desafio diário
comprometida com a entrega diversa, num ambiente íntegro,
Contribuir para a construção de
para nossos clientes. inclusivo e acolhedor.
uma companhia para todas as
pessoas, formar um ambiente Momento para recordar
de trabalho com maior número Ser a primeira mulher a assumir
Virgínia Dias
Gerente de Operações e Manutenção
de mulheres em nossas a gerência de operações no do Terminal Integrador de
operações. Entregar resultados, tramo norte da Ferrovia Norte- Porto Nacional (TO) da VLI

Tempo de ferrovia Um bom profissional da indústria dicionado na frota série 700


Indústria
22 anos ferroviária é... Mafersa-Supervia.
Aquele que trabalha com
Ferrovia significa... Expectativa profissional
propósito, capaz de enfrentar
Passado, presente e futuro! A Com base no Marco das
as adversidades do setor, com
artéria principal, por onde as Ferrovias e Diretrizes
muita criatividade, proatividade
cidades nasceram, cresceram e do Transporte Público,
e resiliência.
serão cada dia mais eficientes, transformar a mobilidade
sustentáveis e seguras. urbana e intercidades, através
Momento para recordar
da reativação de ferrovias
Desafio diário Foram muitos projetos de
existentes e implantação de
Conhecer a demanda fabricação e modernização
novos ramais shortlines.
operacional de produtos e de TUEs, VLTs e locomotivas.
serviços dos nossos clientes, Com muito orgulho, o projeto Daniel Rodrigues Souza
associadas a políticas de realizado em 2002, moderni- Consultor de Operações
investimento e tributária. zação e instalação de ar-con- Comerciais da Marcopolo Rail

44 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


Sistema LVT - Metrô RJ
Dormentes Monobloco - VL! LOGISTICA

Dormentes Bitola 1600mm


Dormentes AMV - Metrô SP / CPTM VALE - Projeto S11D Sistema LVT para AMV - Metrô da Bahia

O ESTADO DA ARTE EM CONCRETO


Dormentes Monobloco
Monoblock Sleepers
Dormentes para AMV
Sleepers for Turnouts
Dormentes Monotrilho
Monorail sleepers
Dormentes para VLT
Tramway Systems
Sistemas LVT
LVT Systems
Sistema LVT para AMV
LVT System for Turnouts
Passagens em Nível
Level Crossings

Dormentes Monobloco
RUMO - Malha Norte comercial@conprem.com.br
21 2240-9884 / 99601-7929 www.conprem.com.br
estação mobilidade

A retomada dos trens


intermunicipais
SÉRGIO AVELLEDA
de passageiros
*

F
az poucas semanas, o Governo do Estado de res a 1000km, é confiável, é seguro (são mais de 3600
São Paulo lançou o edital de concorrência pú- mortos por ano, só nas estradas federais), é sustentável
blica para a contratação do serviço de público e tem potencial Transformador do uso do solo e do pla-
de transporte de passageiros sobre trilhos, li- nejamento urbano.
gando São Paulo a Campinas, com paradas intermediárias Em distâncias inferiores a 1000km a tecnologia ferro-
em Jundiaí e outras cidades. viária atual, se bem desenhadas as linhas, pode oferecer
É a primeira iniciativa concreta de retomada dos trens viagens em torno de 5 a 6 horas de duração. O avião faz
de passageiros de médias distâncias no Brasil. Conser- essa distância em pouco mais de uma hora, mas é preciso
vamos apenas duas linhas de trens de passageiros, com somar a hora antecedente que temos chegar ao aeroporto,
operação comercial, que não seja uma conexão metropo- a meia hora entre o pouso e a chegada ao saguão de de-
litana: a Linha Vitória-Minas e a Linha Carajás, ambas sembarque e o tempo de deslocamento até aeroportos que,
providas pela Vale. em geral, estão distantes dos centros urbanos. Somados
É sempre triste essa constatação. Já fomos um país fer- esses tempos, o trem pode ser bastante atrativo.
roviário. Segundo o nosso amigo e expert no tema, Ayrton Serviços de trem não são paralisados por questões
Camargo e Silva, “Em 1959 o sistema ferroviário nacio- meteorológicas comuns no Brasil, não sofrem interferên-
nal possuía 38 ferrovias, 38.160 cia nas vias, oferecendo uma alta
km de extensão em tráfego, com A França, recentemente, confiabilidade de partidas e che-
mais de 3.700 estações e paradas, proibiu viagens de avião de gadas nos horários previstos. Não
uma frota de mais de 4.300 carros preciso me estender, aqui, sobre a
curtas distâncias, na sua ação
de passageiros de longo percurso, segurança da operação ferroviá-
tendo transportado nesse ano cer- para combater as mudanças ria quando comparada aos demais
ca de 100 milhões de passageiros, climáticas. Passou da hora modos de transporte.
excluídos os passageiros transpor- de sairmos do discurso sobre A França, recentemente, proibiu
tados pelos trens de subúrbio.” viagens de avião de curtas distân-
Sempre penso na dificuldade que
sustentabilidade e partirmos cias, na sua ação para combater as
tenho de explicar a meus filhos que para ação concreta. mudanças climáticas. Passou da
já tivemos 3700 estações e paradas hora de sairmos do discurso sobre
de trens e hoje temos quase nada. Como pudemos fazer sustentabilidade e partirmos para ação concreta. Nosso
isso com o patrimônio do país? De fato, foi um crime. planeta não está mais na beira do abismo. O painel das
Portanto, o anúncio da licitação de uma linha inter- Nações Unidas para o clima não cansa de alertar que esta-
municipal de passageiros deve ser recebido com alegria mos chegando ao ponto sem retorno em termos de aque-
e entusiasmo e torcemos para que grupos econômicos se cimento do planeta. Parecemos surdos, vez que seguimos
interessem pelo projeto e o coloquem em pé. Torcemos tímidos nas ações para redução das emissões. E se quere-
além: que o sucesso desse primeiro trem embale outros mos reduzir emissões no setor de transporte, é essencial
projetos que se conectem e devolvam ao Brasil a sua pu- acelerarmos os investimentos em ferrovias. Portanto, esse
jança ferroviária. projeto do Trem Intercidades de São Paulo, tem altíssima
E por quê? Ora, porque a ferrovia é um modo de relevância e urgência.
transporte rápido, especialmente em distâncias inferio- Mas um dos aspectos mais relevantes de um trem dessa
46 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
natureza não está exatamente na sua função de transporte misto do solo, criando uma área com residências, serviços
de passageiros. Mas é uma consequência da sua eficiência, e comércios, com demanda equilibrada de entrada e saída
confiabilidade, rapidez e custos ra- de pessoas durante os picos diários.
zoáveis. Consiste no imenso poten- Essa coordenação urbanísti-
Mas um dos aspectos mais
cial que ele tem para ser um indutor ca pode, além de incrementar a
de um novo desenvolvimento urba- relevantes de um trem dessa demanda do trem, promover o
no e metropolitano. natureza não está exatamente desenvolvimento orientado pelo
As cidades lindeiras ao projeto na sua função de transporte transporte, contribuindo para cida-
deveriam se engajar, junto com o des mais sustentáveis, inclusivas,
Governo do Estado, para adaptar
de passageiros. Consiste no seguras e igualitárias.
seus planos diretores a esse novo imenso potencial que ele tem Que a gente não perca a opor-
equipamento e aproveitar a oportu- para ser um indutor de um tunidade oferecida pelo Trem
nidade para, com um novo desenho novo desenvolvimento urbano Intercidades, quer seja para a
urbano, as cidades aumentarem a largada da reconstrução das fer-
densidade populacional, estabelece-
e metropolitano. rovias de passageiros no Brasil,
rem novas centralidades econômi- quer seja para mudar o desenho
cas com projetos urbanísticos que conectem residências, urbano das nossas cidades.
serviços e comércio em uma mesma área. Será plenamen- Vamos torcer e trabalhar para dar certo.
te factível você morar e trabalhar em cidades distintas.
A cidade de Washington desenvolveu um novo bairro a *Sérgio Avelleda é sócio-fundador da Urucuia: Mobilidade Urbana e
coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq.Futuro
partir de uma nova estação de metrô, o NoMa, com uso de Cidades do Insper

ELZA BRUCK
TRADUTORA INGLÊS

30 anos de experiência em traduções comerciais, técnicas, jurídicas e juramentadas;


Foco especial na indústria automotiva e ferroviária;
Dispomos de ferramenta de software Transit;
Ampla experiência com diretrizes do Banco Mundial;
Importação/exportação e incoterms;
Obras de engenharia, mineração e portos;
Equipamentos, manuais, materiais de treinamentos;
Apresentações para cursos/marketing
Ministramos aula de inglês comercial
Clientes de longa data
Mercedes Benz - Comexport - Revista Ferroviária -
Logos Engenharia - RIPASA - CPTM - Plasser & Theurer
Plasser do Brasil - Chrysler - EngeRio

Compromisso de respeito aos prazos, confidencialidade e qualidade.


CONTATO
Telefone: (19) 3849-5560 - WhatsApp: +55 11 99221-1339 - E-mail:elza.bruck@gmail.com
estudo de mercado

Vagões de terceiros
Frota de clientes aumentou entre 2022 e este ano na Ferrovia Norte-Sul, MRS e Rumo

Divulgação/VLI
Vagões da VLI para uso no transporte de carga da LD Celulose

O
estudo de mercado Todos os Vagões, reali- MRS, a frota de vagões fechado de clientes saltou de zero
zado anualmente pela Revista Ferroviária, no ano passado para 67 em 2023. No que diz respeito à
mostra que a frota de clientes aumentou no frota própria, a operadora registrou crescimento de 523
país, passando de 14.771 unidades em março vagões gôndola.
de 2022 para 15.433 em março deste ano – diferença de A Ferrovia Transnordestina Logística (FTL) e a Ferro-
662 vagões. Rumo, MRS e Ferrovia Norte-Sul registraram via Tereza Cristina (FTC) apresentaram aumento da frota
volume maior de vagões de terceiros no período. Entre própria, porém, não são vagões novos. No caso da FTL,
essas operadoras, apenas MRS e Ferrovia Norte-Sul tam- são unidades que estavam inativas no ano passado, foram
bém apresentaram crescimento do número de unidades reformadas e voltaram à operação. A diferença mais rele-
próprias. Esses resultados, no entanto, não foram suficien- vante aconteceu na frota de vagões plataforma, que passou
tes para evitar a queda da frota total de vagões no Brasil: de 226 para 247 (diferença de 22 unidades). Na FTC, o
de 124.942 em 2022, passou para 123.762 este ano – di- aumento foi de 11 vagões no total da frota própria, dos
minuição de 1.180 unidades. A Ferrovia Centro-Atlântica modelos gôndola, hopper e plataforma. As unidades fo-
(FCA) foi a que mais desmobilizou ativos tanto na frota ram locadas para atender a demandas de transportes de
própria quanto na de clientes – no total, são 1.584 vagões contêineres e carvão, além da realização de serviços inter-
a menos em circulação na concessionária. nos de manutenção da ferrovia.
Na Rumo, houve aumento de vagões fechado, hopper Nas ferrovias operadas pela Vale (Estrada de Ferro Vi-
e tanque na frota de clientes. Na própria, a operadora tória a Minas e Estrada de Ferro Carajás) houve uma leve
mudou a classificação de vagões hopper, que passaram a queda nas frotas próprias de vagões gôndola, em função da
ser considerados fechado este ano, o que ocasionou di- retirada de circulação de unidades em situação de aposen-
ferenças de unidades entre 2022 e 2023 nesses modelos. tadoria. A Transnordestina Logística (TLSA), Ferroeste e
A Ferrovia Norte-Sul registrou alta nos modelos fechado, Estrada de Ferro Jari declararam os mesmos números do
hopper e tanque. Entre os de terceiros, unidades hopper e ano passado. A Revista Ferroviária não obteve retorno da
tanque foram acrescidas à malha operada pela VLI. Já na Estrada de Ferro Juruti e da Estrada de Ferro Trombetas.
48 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
TOTAL DE VAGÕES POR OPERADORA
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Rumo 25.233 23.964 7.169 8.072 32.402 32.036
Transnordestina (FTL + TLSA) 1.857 1.876 131 131 1.988 2.007
Ferrovia Centro-Atlântica 18.915 17.737 1.918 1.512 20.833 19.249
Ferrovia Norte-Sul 2.387 2.466 585 683 2.972 3.149
EF Vitória a Minas 18.987 18.967 500 500 19.487 19.467
EF Carajás 22.190 22.183 3.017 3.017 25.207 25.200
Ferrovia Tereza Cristina 284 295 0 0 284 295
MRS 19.715 20.238 1.451 1.518 21.166 21.756
Ferroeste 286 286 0 0 286 286
EF Trombetas 152 152 0 0 152 152
EF Juruti 81 81 0 0 81 81
EF Jari 84 84 0 0 84 84
Total 110.171 108.329 14.771 15.433 124.942 123.762
*Os dados têm como base os meses de março de 2022 e março de 2023. Fonte: Operadoras

RUMO
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 2.281 6.040 1.034 1.501 3.315 7.541
Gôndola 2.030 1.719 7 0 2.037 1.719
Hopper 14.365 10.531 3.554 3.774 17.919 14.305
Plataforma 2.769 3.216 1.155 1.155 3.924 4.371
Tanque 2.367 2.417 1.391 1.642 3.758 4.059
Outros 1.421 41 28 0 1.449 41
Total 25.233 23.964 7.169 8.072 32.402 32.036
Fonte: Rumo

FERROVIA CENTRO-ATLÂNTICA (FCA)


Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 764 633 0 0 764 633
Gôndola 3.927 3.560 0 0 3.927 3.560
Hopper 9.500 9.215 1.620 1.214 11.120 10.429
Plataforma 3.174 2.925 298 298 3.472 3.223
Tanque 1.484 1.364 0 0 1.484 1.364
Outros 66 40 0 0 66 40
Total 18.915 17.737 1.918 1.512 20.833 19.249
Fonte: VLI

FERROVIA NORTE-SUL (Tramo Centro-Norte)


Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 76 78 227 227 303 305
Gôndola 1 1 0 0 1 1
Hopper 1.918 1.923 304 401 2.222 2.324
Plataforma 5 26 0 0 5 26
Tanque 387 438 54 55 441 493
Outros 0 0 0 0 0 0
Total 2.387 2.466 585 683 2.972 3.149
Fonte: VLI
REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023 49
estudo de mercado
EF VITÓRIA A MINAS
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 249 249 46 46 295 295
Gôndola 14.048 14.028 200 200 14.248 14.228
Hopper 2.623 2.623 42 42 2.665 2.665
Plataforma 1.956 1.956 154 154 2.110 2.110
Tanque 100 100 39 39 139 139
Outros 11 11 19 19 30 30
Total 18.987 18.967 500 500 19.487 19.467
Fonte: Vale

FERROVIA TRANSNORDESTINA LOGÍSTICA (FTL)


Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 253 252 85 85 338 334
Gôndola 27 28 0 0 27 28
Hopper 372 372 0 0 372 372
Plataforma 226 247 46 46 272 293
Tanque 371 368 0 0 371 368
Gaiola 4 4 0 0 4 4
Outros 4 8 0 0 4 8
Total 1.257 1.279 131 131 1.388 1.407
Fonte: Transnordestina

TRANSNORDESTINA LOGÍSTICA S.A. (TLSA)


Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 0 0 0 0 0 0
Gôndola 12 12 0 0 12 12
Hopper 305 305 0 0 305 305
Plataforma 150 150 0 0 150 150
Tanque 0 0 0 0 0 0
Outros 2 2 0 0 2 2
Total 469 469 0 0 469 469
Fonte: Transnordestina

EF CARAJÁS
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 12 11 304 304 316 315
Gôndola 20.319 20.313 17 17 20.336 20.330
Hopper 1.183 1.183 2.341 2.341 3.524 3.524
Plataforma 440 440 29 29 469 469
Tanque 196 196 326 326 522 522
Outros* 40 40 0 0 40 40
Total 22.190 22183 3017 3017 25.207 25200
Fonte: Vale

FERROVIA TEREZA CRISTINA


Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 0 0 0 0 0 0
Gôndola 214 218 0 0 214 218
Hopper 8 9 0 0 8 9
Plataforma 62 68 0 0 62 68
Tanque 0 0 0 0 0 0
Outros 0 0 0 0 0 0
Total 284 295 0 0 284 295
Fonte: FTC
50 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
MRS
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 1128 1.128 0 67 1128 1.195
Gôndola 13.237 13.760 565 565 13.802 14.325
Hopper 2.677 2.677 532 532 3.209 3.209
Plataforma 2.611 2.611 1 1 2.612 2.612
Tanque 34 34 353 353 387 387
Outros 28 28 0 0 28 28
Total 19.715 20.238 1.451 1.518 21.166 21.756
Fonte: MRS

FERROESTE
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 229 229 0 0 229 229
Gôndola 47 47 0 0 47 47
Hopper 10 10 0 0 10 10
Plataforma 0 0 0 0 0 0
Tanque 0 0 0 0 0 0
Outros 0 0 0 0 0 0
Total 286 286 0 0 286 286
Fonte: Ferroeste

EF TROMBETAS
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 0 0 0 0 0 0
Gôndola 148 148 0 0 148 148
Hopper 2 2 0 0 2 2
Plataforma 2 2 0 0 2 2
Tanque 0 0 0 0 0 0
Outros 0 0 0 0 0 0
Total 152 152 0 0 152 152
Fonte: Mineração Rio do Norte (MRN)

EF JURUTI
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 1 1 0 0 1 1
Gôndola 72 72 0 0 72 72
Hopper 0 0 0 0 0 0
Plataforma 5 5 0 0 5 5
Tanque 3 3 0 0 3 3
Outros 0 0 0 0 0 0
Total 81 81 0 0 81 81
Fonte: Alcoa

EF JARI
Frota própria Frota de clientes Total
Operadora
2022 2023 2022 2023 2022 2023
Fechado 0 0 0 0 0 0
Gôndola 0 0 0 0 0 0
Hopper 2 2 0 0 2 2
Plataforma 82 82 0 0 82 82
Tanque 0 0 0 0 0 0
Outros 0 0 0 0 0 0
Total 84 84 0 0 84 84
Fonte: EF Jari
REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023 51
suprimentos

Pés no chão
Empresas de manutenção de vagões aguardam novos projetos para voltarem a investir
Por Fábio Nascimento

A
pós o fim da pandemia e o retorno gradual das demanda ainda não chegou com força no segmento de ma-
atividades nas oficinas, o segmento de manu- nutenção ferroviária. É o que diz Leandro Scacheti, sócio
tenção ferroviária de vagões ainda vive um da Man-Fer, uma das principais empresas do ramo no país.
momento de incertezas e cautela. As empresas “Até o momento não sentimos diferença. Vemos que o se-
especializadas nessa área estão preferindo aguardar o de- tor está crescendo, as coisas aconteceram, porém isso ainda
senrolar dos investimentos oriundos das renovações anteci- não gerou frutos para a cadeia como um todo”, afirma.
padas dos contratos de concessões das ferrovias e dos no- Scacheti destaca a inovação como um cartão de visitas
vos projetos de autorização. A expectativa é que a demanda da Man-Fer. Segundo ele, assim que as demandas voltarem
pelos serviços aumente à medida em que o setor como um a atingir um patamar interessante a empresa estará pronta
todo apresente crescimento tanto na extensão da malha para seguir atendendo o setor. “Hoje nossa estrutura é nova
quanto no transporte de carga nos corredores existentes. e moderna, temos maquinário de última geração e sempre
O potencial a ser explorado é grande se os projetos se olhamos para as novidades do setor ferroviário. Nossa área
Fotos: Divulgação/Man-Fer de usinagem, por exemplo, é modelo e
conta com máquinas de alta produção.”
Atualmente, os trabalhos de manuten-
ção ferroviária representam 10% do fa-
turamento total da empresa. “A Man-Fer
tem sua essência no segmento ferroviário,
visto que a empresa foi inaugurada há
quase 20 anos exclusivamente para atu-
ar nesse ramo, o que, inclusive, se refle-
tiu até no próprio nome (Man-Fer é uma
abreviação do termo Manutenção Ferro-
viária). Ao longo do tempo, porém, com
as incertezas e insegurança jurídica no
país, tivemos que nos adaptar/adequar em
novos segmentos”.
Já o sócio da ANX, Eduardo Monteiro,
diz que o investimento em novos espaços
A planta da Man-Fer está localizada em Campinas (SP) e ganhos de estrutura, feito nos últimos
anos, está amparado no fato de que a de-
concretizarem nos médio e longo prazos, afirmam as com- manda vinda das próprias concessionárias tem sido sufi-
panhias. No curto prazo, as expectativas giram em torno ciente para a empresa garantir bons resultados. Por outro
do processo de renovação da Ferrovia Centro-Atlântica lado, a expectativa de novos projetos se concretizarem no
(FCA), ainda em estudo na Agência Nacional dos Trans- país ainda não estimula a companhia a se expandir mais. A
portes Terrestres (ANTT), e na conclusão do trecho Cen- palavra de ordem agora é aguardar as cenas dos próximos
tro-Sul da Ferrovia Norte-Sul – esta última prevista para o capítulos no setor ferroviário, uma vez que faltam garan-
primeiro semestre deste ano. tias de que novas ferrovias realmente sairão do papel.
Mas embora quatro ferrovias já tenham assinado seus “Diante do cenário atual do mercado, a meta da empresa
contratos de concessão (Rumo Malha Paulista, Estrada de é focar no crescimento dentro do mercado já em operação.
Ferro Vitória a Minas, Estrada de Ferro Carajás e MRS), a A ANX tem crescido de forma consistente nos últimos

52 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


anos, muito em função de ganho de espaços já existentes e
não em função de novos projetos”, pontua Monteiro.
Dentro desse planejamento, o objetivo é dobrar o fa-
turamento em 2023 em relação a 2022, “que já foi um
ano em que dobramos de tamanho, quando comparado a
2021”, menciona o empresário. A ANX é especializada
em serviços de manutenções, grandes reformas e fabri-
cação de vagões especiais e seus componentes, tanto na
unidade própria em Paulínia (SP), quanto em plantas dos Componentes de vagões na oficina da Man-Fer
clientes. “Hoje temos equipes distribuídas em mais de 16
localidades nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio negócio. “Temos uma linha de fornecimento de peças de
de Janeiro”. reposição para vagões voltadas às oficinas espalhadas pelo
Monteiro destaca que na ANX as principais inovações Brasil na qual observamos essa redução”.
atualmente estão vinculadas aos modelos de negócio apre- O engenheiro mecânico Marcos Oliveira, que trabalhou
sentados os clientes. “Queremos apresentar propostas que nos últimos anos em algumas empresas do segmento de
viabilizem ganho de volume para as operadoras com baixo manutenção ferroviária e se tornou especialista na área,
investimento em material rodante. Basicamente, aumento endossa o comentário: “O cenário de manutenção está
de produtividade dos ativos atuais”, explica. abaixo do normal desde o início da pandemia”. Para ele, o
ano de 2023 traz ainda uma incógnita: o comportamento
Resquícios da pandemia do governo federal em relação aos investimentos no mo-
Representantes de empresas do setor de manutenção dal. Com a nova administração assumindo o Planalto em
ferroviária são unânimes em apontar a pandemia como um janeiro deste ano, algumas mudanças devem acontecer.
fator importante para o clima de cautela. Embora a situa- Resta saber quais. “As empresas ferroviárias estão segu-
ção tenha se estabilizado no que diz respeito ao contágio, rando recursos ao máximo, devido às incertezas políti-
as empresas ainda enfrentam o impacto causado pela crise cas”, explica.
sanitária nos últimos anos. Eduardo Monteiro, da ANX, aponta que os investi-
“A demanda está muito fraca desde o início da pandemia mentos no setor ferroviário nos últimos anos não contem-
da Covid-19 e o desempenho em 2022 não foi diferente”, plaram toda a cadeia. “O quadro para as operadoras é de
explica Scacheti, da Man-Fer, acrescentando que houve, investimento, principalmente em virtude das renovações.
inclusive, redução de encomendas em algumas linhas do Mas isso ainda não se refletiu na indústria ferroviária”.
nota técnica

Sistemas antifurto para sinalização


ferroviária Estudo de caso aplicado na
Linha 7 – Rubi da CPTM
Artigo finalista da categoria 03 do 9º Prêmio Tecnologia & Desenvolvimento Metroferroviários ANPTrilhos-CBTU,
apresentado na 28ª Semana de Tecnologia Metroferroviária da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (Aeamesp)
Autores: Daniela Bernardino Belém, Allan do Nascimento Silva, Cleberson Michel Felix Silva,
Edison Aparecido Candido, Flávio Luís dos Santos, Flávio de Moraes de Andrade e Francisco das Chagas Cardoso

INTRODUÇÃO tem menos visibilidade na via férrea), na instalação de travas de


Os furtos de cabos de cobre, tem se intensificado nos últi- proteção em locações e de um sistema de alarme sonoro. Todos
mos anos, afetando as indústrias e a sociedade em geral (FER- esses dispositivos atuando em conjunto proporcionaram uma re-
REIRA, 2021). Conforme balanço da (CONEXIS, 2022), no dução de 66 % nos índices de vandalismos e furtos em Botujuru,
ano de 2022 foi registrado um crescimento de 14% no furto preservando a integridade do sistema de sinalização.
de cabos de telecomunicações em relação ao ano de 2021, pre-
judicando em torno de 7 milhões de pessoas em todo o país. DIAGNÓSTICO
O estado de São Paulo é o estado com a maior incidência de O Circuito de Via de Corrente Alternada (CVCA) é uma das
vandalismos, totalizando 1,03 milhões de metros de cabos fur- formas utilizadas pela sinalização ferroviária para realizar a de-
tados. A maleabilidade do cobre e a fácil recepção desse mate- tecção do trem ao longo da via férrea. Seu princípio de funcio-
rial contribuem para ocorrência cada vez mais frequente deste namento se baseia na aplicação de uma tensão alternada em uma
tipo de delito. Com o agravamento dos problemas sociais e do extremidade e na recepção dessa tensão na extremidade oposta,
crescimento das comunidades próximas à via férrea (JÚNIOR, sendo a Junta Isolante Colada (JIC), o dispositivo utilizado para
2020), têm-se registrado o aumento nos índices de vandalismo impedir que essa tensão afete o funcionamento dos CVCAs ad-
e furtos em todos os segmentos da ferrovia, em especial, na jacentes (GRS, 1979). Nesse arranjo, os trilhos são o meio físico
área de sinalização ferroviária. de transporte dessa tensão. O rodeiro do trem, ao percorrer esse
Os vandalismos na área de sinalização impactam diretamente bloco provoca um curto no circuito, interrompendo a alimenta-
a circulação dos trens, pois o Centro de Controle Operacional ção do relé respon-
(CCO) perde a supervisão e o controle do trecho vandalizado. sável pela recepção
Um dos sistemas da sinalização afetado pelo furto e vandalis- da tensão alternada
mo, é o de detecção de trem. Na Linha 7 – Rubi da Compa- (fig. 1).
nhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), o sistema de
detecção de trem é baseado em Circuitos de Via de Corrente Figura 1 – Circuito
Alternada (CVCA). Ao ocorrer o furto dos cabos laterais e cen- de via de corrente
trais, ocorre a ocupação do CVCA. Essa ocupação inesperada alternada (a) livre
provoca lentidão na circulação dos trens, uma vez que, por se- e (b) ocupado.
gurança, a circulação passa a ser realizada com restrições. Além
disso, ocorre a degradação dos equipamentos do sistema, exi- O CVCA possui
gindo a substituição de Junta Isolante Colada (JIC) e do bonde algumas funções
de impedância. Para restabelecer o sistema, é necessária atuação importantes na sina-
das equipes de manutenção preventiva e corretiva de sinaliza- lização, sendo:
ção. Em cada atendimento de falha de furto, são contabilizados a. Realizar a de-
prejuízos financeiros e operacionais para CPTM, com impacto tecção do trem ao longo da via férrea;
direto ao serviço oferecido ao passageiro. b. Informar ao trem a velocidade de tráfego no circuito, quan-
Com o objetivo de inibir os furtos e vandalismos, e preservar do CVCA codificado;
a integridade do sistema de sinalização foi instalado um projeto c. Permitir que a corrente de tração circule pela via.
piloto no trecho de Botujuru, na linha 7 – Rubi da CPTM, no Os equipamentos que se encontram instalados em campo, e
município de Francisco Morato/SP. Consistindo em uma abor- que ficam expostos na via, são os bondes de impedância e os
dagem múltipla e interdisciplinar, envolvendo a instalação de cabos de conexão do circuito, que são conhecidos como cabos
tampas para proteção de cabos centrais, na construção de uma laterais e cabos centrais (fig. 2). O restante dos equipamentos
rede de duto subterrânea para passagem dos cabos, na instala- que compõem o CVCA, encontra-se instalados nas houses ou
ção de terminais antifurto para conexão ao trilho (este terminal locações (BUENO, 2006).

54 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


Ao ocorrer o furto dos cabos de conexão do CVCA, a corren-
te de tração DC é obrigada a passar pela Junta Isolante Colada
(JIC), que se torna o único meio disponível para passagem da
corrente. A corrente de tração, que é da ordem de ≈1500A, dani-
Figura 2 – Cabo central e lateral, e bonde de impedância. fica permanentemente a JIC, pois ocorre a fusão do material iso-
lante e de parte do
Atualmente, utiliza-se cabos de seção nominal de 240mm² ou trilho (fig. 4).
120mm² compostos de cobre e aço, e que são fixados ao trilho
por meio de parafuso. No ano de 2020, a Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM) registrou 69 ocorrências de van- Figura 4 – JIC
dalismos em cabos de circuito de via (CPTM, 2022), sendo que danificada perma-
38 destas ocorrências aconteceram na linha 7 – Rubi (gráfico 1). nentemente após
passagem de cor-
rente de tração.

O furto de cabo
danifica permanentemente as conexões dos bondes de impedân-
cia, pois a corrente de tração funde os elementos de fixação dos
terminais de conexão (fig. 5).

Gráfico 1 – Ocorrências de vandalismos em CVCA,


nas linhas da CPTM.

Ao ocorrer o furto dos cabos laterais e centrais (fig. 3), ocorre


a ocupação do CVCA, que provoca lentidão na circulação dos
trens e a degradação dos equipamentos que compõem o sistema,
exigindo a substituição de equipamentos como a Junta Isolante
Colada (JIC) e o bonde de impedância.
Figura 5– Terminais do bonde de impedância
danificados após vandalismo.

ANÁLISE DOS RESULTADOS


Com a ação conjunta do setor de sinalização (DOFS), do se-
tor de via permanente (DOVF), e do setor de segurança patri-
monial (GOS), foi possível implantar o projeto piloto no trecho
de Botujuru, na linha 7 – Rubi da CPTM, no município de Fran-
cisco Morato/SP. Foi escolhido esse local, pois no ano de 2020,
foi verificado que 13,15% das ocorrências de furto em CVCA
estavam ocorrendo nessa região.
Consistindo em uma abordagem múltipla e interdisciplinar, o
projeto consistiu na instalação de tampas para proteção de cabos
centrais, na construção de uma rede de duto subterrânea para
passagem dos cabos, na instalação de terminais antifurto para
conexão ao trilho (este terminal tem menos visibilidade na via
férrea), na instalação de travas de proteção em locações e de
sistema de alarme sonoro para indicar abertura indevida de bas-
Figura 3 – Furto de cabos de conexão de CVCA (lateral e tidor. Com todos esses dispositivos, atuando em conjunto, foi
central). possível alcançar uma redução de 66% nos índices de vandalis-
mos e furtos em Botujuru, preservando a integridade do sistema

REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023 55


nota técnica
de sinalização nesta região.
Para implantação do projeto, foram necessárias a realização
das seguintes etapas:
1) Estudo técnico do local de instalação do sistema antifurto,
pela equipe de sinalização. Nessa etapa, foi necessário realizar o
levantamento do comprimento dos cabos laterais, da quantidade
de cabos, da distância
entre bondes de im-
pedância e compri-
mento das travessias
subterrâneas. (fig. 6).

Figura 6– Análise
do local de instala-
ção do sistema anti-
furto, em Botujuru. Figura 9 – Abertura de valetas e travessias em Botujuru.

5) Confecção dos cabos laterais com terminal antifurto, pela


2) Obtenção de material para confecção das tampas de pro- equipe de sinalização. Nesta etapa, foram fixados os terminais
teção, pela equipe de segurança patrimonial. Os materiais utili- antifurto ao cabo misto, através de solda exotérmica (fig. 10).
zados para fabricação das tampas, foram cedidos pelo setor de
materiais inservíveis, contribuindo com o reaproveitamento de
recursos internos da empresa (fig. 7).

Figura 7– Materiais utilizados para


confecção das tampas de proteção.
Figura 10 – Confecção de cabos laterais
com terminal antifurto.
3) Confecção das tam-
pas de proteção. Após
6) Instalação dos cabos e tampas em campo, pela equipe de
obtenção dos materiais,
sinalização (fig. 11 e fig. 12).
foi iniciado o processo
de confecção das tampas
de proteção na Oficina de
Presidente Altino (fig. 8).

Figura 8– Confecção
das tampas de proteção.

4) Abertura das valetas e travessias na via, pela equipe de Via


Permanente. Com o apoio da via permanente, foi possível realizar
a abertura de valetas e travessias, para instalação da rede subterrâ-
nea utilizada para passagem dos cabos de CVCA (fig. 9). Figura 11 – Sistema antifurto completamente instalado.

56 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


CONCLUSÕES
Com a instalação do projeto piloto
em Botujuru, foi possível reduzir em
66% as ocorrências de furto em cabos
de CVCA, permitindo a operação do
sistema de sinalização sem interrup-
ções e com ganho de confiabilidade.
Foi verificado, que para se ter o funcio-
namento correto do sistema antifurto,
a via permanente deve estar nivelada e
com a socaria adequada, caso contrário,
Figura 12 – Sistema antifurto completamente instalado. pode ocorrer a quebra prematura do terminal antifurto. O de-
senvolvimento de tecnologias antifurto é um tema em constan-
A instalação do sistema antifurto na região de Botujuru, foi te evolução, pois as formas de vandalismo vão se modificando
iniciada no mês de MARÇO/2021 e teve sua conclusão em NO- conforme são criadas novas formas de proteção, exigindo atua-
VEMBRO/2021 (gráfico 2). Nesse período, nota-se uma frequ- lizações constantes dos mecanismos de proteção. A criação de
ência quase mensal de vandalismos. projetos de leis (PLs) que determinam o aumento das penas para
o furto de equipamentos de energia elétrica e de telecomunica-
ções, pode auxiliar também no processo de redução deste tipo
de delito. Atualmente, encontra-se em discussão no plenário da
câmara as PLs 2214/2021 e 5845/2016 que tratam do agrava-
mento das penas cominadas aos crimes de furto, roubo e recep-
tação de fios, cabos ou qualquer outro equipamento necessário
para o fornecimento dos serviços de telefonia, energia elétrica e
transferência de dados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUENO, Silvio. Manual de sinalização ferroviária CPTM,
São Paulo, 2006.
Gráfico 2 – Ocorrências de vandalismos em CVCA, CONEXIS, Brasil Digital. Volume de cabos de tele-
em Botujuru, no ano de 2021. com roubados ou furtados cresce 14% em 2022.
Ações criminosas afetaram 7 milhões de clientes,
Nos meses seguintes, após instalação do sistema, foi verifi- publicação de 10/04/2023. Acesso em: 16/04/2023.
cada uma redução de 66% dos vandalismos nesse local , sendo Disponível em: https://conexis.org.br/volume-de-
-cabos-de-telecom-roubados-ou-furtados-cresce
registrado apenas ocorrências de tentativa de retirada da tampa
-14-em-2022-acoes-criminosas-afetaram-7-milhoes-
de proteção de cabo central, não afetando o funcionamento do -de- clientes/
sistema de sinalização (gráfico 3).
CPTM, Sistema SICOM. Portal da intranet. Acesso em
26/07/2022.
FERREIRA, André. O furto de cobre e seu impacto na
sociedade. Revista Grandes Construções, publicação
de 29/04/2021. Acesso em: 22/07/2022. Disponível
em:https://grandescons trucoes.com.br/Noticias/Exi-
bir/o-furto-de-cobre-e-o-seu-im pacto-na-sociedade
JÚNIOR, Orlando Gonçalves Faya. Entretrilhos: territó-
rios ferroviários, rompimentos e reconexões. Tese de
dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo
(USP), 2020. Acesso em: 22/07/2022. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16136/
tde-29042021-102821/publico/ME OrlandoGoncal-
vesFayaJunior_rev.pdf
Gráfico 3 – Ocorrências de vandalismos em CVCA,
GRS, General Railway Signal. Elements of railway sig-
em Botujuru, no ano de 2022.
nalling. Rochester New York, 1979.

REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023 57


estatísticas

Mais passageiros
Sistemas têm movimentação maior, mas patamar pré-pandemia está longe para algumas operadoras

A
pós a queda brutal de usuários que ocorreu radora registrava média de 820 mil usuários/dia.
na pandemia, os sistemas de passageiros No VLT Carioca circulam atualmente cerca de 76
sobre trilhos vêm registrando aumento na mil passageiros/dia, alta de 29,6% na comparação com
movimentação nos últimos meses. O início fevereiro de 2022. No mesmo mês em 2020, porém, o
deste ano foi de crescimento no acumulado em relação volume alcançava 110 mil diariamente. Já a SuperVia
ao mesmo período de 2022: de 287.709 passou para não só não recuperou a movimentação anterior à crise
359.222 usuários transportados em janeiro e fevereiro, o (600 mil passageiros/dia), como apresentou uma leve
que corresponde ao aumento de 24,9%. redução no acumulado de janeiro e fevereiro deste ano:
Embora a variação seja positiva entre 2022/2023, a -0,4% na quantidade de usuários/mês.
recuperação do patamar pré-pandemia ainda está longe Nas ferrovias de carga, o início do ano também foi
de acontecer para alguns sistemas. No Rio de Janeiro, de queda, com -0,4% em toneladas úteis e 5% em to-
a situação não é tão crítica como foi no decorrer da cri- neladas por quilômetro útil. Estrada de Ferro Carajás,
se, mas tampouco confortável. O MetrôRio transportou Rumo Malhas Norte e Central apresentaram redução no
em fevereiro 654.916 passageiros/dia nas duas linhas, volume de carga transportada em relação ao acumulado
aumento de 27,5% em relação ao mesmo mês do ano de janeiro e fevereiro do ano passado. Entre as conces-
passado. Em fevereiro de 2020, no entanto, pouco antes sionárias que se destacaram no período estão a EFVM,
do decreto de quarentena em função da Covid-19, a ope- FCA e MRS.
Veja mais em www.revistaferroviaria.com.br
Nas tabelas de transporte urbano sobre trilhos estão contabilizadas as transferências entre as linhas
TRANSPORTE DE CARGA POR FERROVIA - JANEIRO 2023
Δ% Acumulado no ano até Janeiro
01/22 01/23
Operadoras Jan 23/Jan 22 2022 2023 Δ%
TU (10³) TKU (106) TU (10³) TKU (106) TU TKU TU (10³) TKU (106) TU (10³) TKU (106) TU TKU
Rumo - Malha Sul 1.367,9 855,4 1.442,9 915,8 5,5 7,1 1.367,9 855,4 1.442,9 915,8 5,5 7,1
Transnordestina Log. 227,3 52,0 247,7 50,6 9,0 (2,7) 227,3 52,0 247,7 50,6 9,0 (2,7)
E.F. Carajás 14.824,5 13.390,0 12.468,9 11.184,5 (15,9) (16,5) 14.824,5 13.390,0 12.468,9 11.184,5 (15,9) (16,5)
E.F.V.M. 6.292,0 3.474,4 6.640,5 3.678,8 5,5 5,9 6.292,0 3.474,4 6.640,5 3.678,8 5,5 5,9
Rumo - Malha Paulista 516,3 601,2 458,0 571,4 (11,3) (5,0) 516,3 601,2 458,0 571,4 (11,3) (5,0)
Rumo - Malha Norte 2.126,0 3.252,7 1.423,1 2.154,7 (33,1) (33,8) 2.126,0 3.252,7 1.423,1 2.154,7 (33,1) (33,8)
Ferroeste 7,6 1,8 6,5 1,5 (14,5) (16,7) 7,6 1,8 6,5 1,5 (14,5) (16,7)
FCA 1.317,8 776,5 1.691,1 1.170,7 28,3 50,8 1.317,8 776,5 1.691,1 1.170,7 28,3 50,8
FTC 262,2 20,4 230,3 18,0 (12,2) (11,8) 262,2 20,4 230,3 18,0 (12,2) (11,8)
MRS Logística 6.836,0 3.006,8 8.611,3 3.880,4 26,0 29,1 6.836,0 3.006,8 8.611,3 3.880,4 26,0 29,1
Rumo - Malha Oeste 154,0 16,9 206,1 13,7 33,8 (18,9) 154,0 16,9 206,1 13,7 33,8 (18,9)
Rumo - Malha Central 234,2 273,7 177,0 187,3 (24,4) (31,6) 234,2 273,7 177,0 187,3 (24,4) (31,6)
Ferrovia Norte-Sul 315,0 279,3 471,4 422,5 49,7 51,3 315,0 279,3 471,4 422,5 49,7 51,3
Total 34.480,8 26.001,1 34.074,8 24.249,9 (1,2) (6,7) 34.480,8 26.001,1 34.074,8 24.249,9 (1,2) (6,7)
Fonte: ANTT.

TRANSPORTE DE CARGA POR FERROVIA - FEVEREIRO 2023


Δ% Acumulado no ano até Fevereiro
02/22 02/23
Operadoras Fev 23/Fev 22 2022 2023 Δ%
TU (10³) TKU (106) TU (10³) TKU (106) TU TKU TU (10³) TKU (106) TU (10³) TKU (106) TU TKU
Rumo - Malha Sul 1.481,4 949,7 1.415,4 904,6 (4,5) (4,7) 2.849,3 1.805,1 2.858,3 1.820,4 0,3 0,8
Transnordestina Log. 218,8 53,3 214,3 41,2 (2,1) (22,7) 446,1 105,3 462,0 91,8 3,6 (12,8)
E.F. Carajás 12.757,6 11.479,8 10.897,4 9.828,3 (14,6) (14,4) 27.582,1 24.869,8 23.366,3 21.012,8 (15,3) (15,5)
E.F.V.M. 5.227,0 2.877,3 6.445,2 3.623,2 23,3 25,9 11.519,0 6.351,7 13.085,7 7.302,0 13,6 15,0
Rumo - Malha Paulista 409,6 599,3 414,8 557,7 1,3 (6,9) 925,9 1.200,5 872,8 1.129,1 (5,7) (5,9)
Rumo - Malha Norte 2.480,3 3.778,6 2.288,1 3.487,7 (7,7) (7,7) 4.606,3 7.031,3 3.711,2 5.642,4 (19,4) (19,8)
Ferroeste 24,3 5,8 32,9 7,9 35,4 36,2 31,9 7,6 39,4 9,4 23,5 23,7
FCA 1.721,8 1.283,4 2.193,2 1.621,1 27,4 26,3 3.039,6 2.059,9 3.884,3 2.791,8 27,8 35,5
FTC 228,7 17,8 221,9 17,4 (3,0) (2,2) 490,9 38,2 452,2 35,4 (7,9) (7,3)
MRS Logística 8.161,7 3.701,3 8.921,7 4.066,3 9,3 9,9 14.997,7 6.708,1 17.533,0 7.946,7 16,9 18,5
Rumo - Malha Oeste 138,4 6,4 185,7 12,1 34,2 89,1 292,4 23,3 391,8 25,8 34,0 10,7
Rumo - Malha Central 643,6 753,6 598,9 704,5 (6,9) (6,5) 877,8 1.027,3 775,9 891,8 (11,6) (13,2)
Ferrovia Norte-Sul 1.129,6 1.139,5 920,6 908,1 (18,5) (20,3) 1.444,6 1.418,8 1.392,0 1.330,6 (3,6) (6,2)
Total 34.622,8 26.645,8 34.750,1 25.780,1 0,4 (3,2) 69.103,6 52.646,9 68.824,9 50.030,0 (0,4) (5,0)
Fonte: ANTT. *Os dados da Ferroeste não consideram direito de passagem e tráfego mútuo, apenas as cargas geradas na ferrovia.
Continua

58 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023


estatísticas
Continuação
TRANSPORTE URBANO SOBRE TRILHOS - JANEIRO 2023
01/22 01/23 Δ% Acumulado no ano até Janeiro Δ%
Operadora Passag./dia útil Passag.(10³) Passag./dia útil Passag.(10³) Passag./dia útil Passag.(10³) Passag.(10³)2020 Passag.(10³)2021 Passag.(10³)
Metrô-SP 1.977.371 50.235 2.396.424 62.335 21,2 24,1 50.235 62.335 24,1
Via Quatro 381.810 9.745 530.980 13.605 39,1 39,6 9.745 13.605 39,6
Via Mobilidade (Linha 5-Lilás) 364.580 9.286 427.200 10.976 17,2 18,2 9.286 10.976 18,2
CPTM 1.161.608 25.406 1.254.194 28.645 8,0 12,7 25.406 28.645 12,7
MetrôRio 445.740 10.797 593.205 14.946 33,1 38,4 10.797 14.946 38,4
SuperVia 300.876 6.935 319.929 7.590 6,3 9,4 6.935 7.590 9,4
CBTU Recife 152.766 3.888 158.008 4.154 3,4 6,8 3.888 4.154 6,8
Trensurb 86.133 2.120 96.872 2.456 12,5 15,8 2.120 2.456 15,8
CBTU BH 74.238 1.697 80.302 2.065 8,2 21,7 1.697 2.065 21,7
Metrofor 29.370 708 35.426 893 20,6 26,1 708 893 26,1
CBTU João Pessoa 4.418 100 5.760 136 30,4 36,0 100 136 36,0
CBTU Natal 5.156 119 5.333 123 3,4 3,4 119 123 3,4
CBTU Maceió 1.513 35 1.327 36 (12,3) 2,9 35 36 2,9
Metrô DF 90.723 2.359 111.736 3.017 23,2 27,9 2.359 3.017 27,9
VLT do Cariri 1.526 35 1.987 47 30,2 34,3 35 47 34,3
Metrô de Salvador 148.112 3.758 301.524 7.940 103,6 111,3 3.758 7.940 111,3
VLT da Baixada Santista 16.717 399 19.367 505 15,9 26,6 399 505 26,6
VLT de Sobral 2.632 65 2.918 75 10,9 15,4 65 75 15,4
VLT Carioca 52.000 1.159 76.491 1.741 47,1 50,2 1.159 1.741 50,2
Bondes de Santa Teresa 27 1.618 46 0,0 70,4 27 46 70,4
Metrô de Teresina 3.840 81 5.250 116 36,7 43,2 81 116 43,2
ViaMobilidade Linhas 8 e 9 675.500 17.221 0,0 0,0 0 17.221 0,0
Total 5.301.129 128.954 6.425.851 161.447 21,2 25,2 128.954 161.447 25,2
Fonte: Operadoras.
TRANSPORTE URBANO SOBRE TRILHOS - FEVEREIRO 2023
02/22 02/23 Δ% Acumulado no ano até Fevereiro Δ%
Operadora Passag./dia útil Passag.(10³) Passag./dia útil Passag.(10³) Passag./dia útil Passag.(10³) Passag.(10³)2020 Passag.(10³)2021 Passag.(10³)
Metrô-SP 2.327.423 55.102 2.762.958 62.700 18,7 13,8 105.337 125.035 18,7
Via Quatro 450.000 10.885 580.300 13.777 29,0 26,6 20.630 27.382 32,7
Via Mobilidade (Linha 5-Lilás) 426.000 10.180 473.460 11.016 11,1 8,2 19.466 21.992 13,0
CPTM* 1.302.335 28.683 1.454.279 33.293 11,7 16,1 54.089 61.938 14,5
MetrôRio 513.828 11.657 654.916 15.555 27,5 33,4 22.454 30.501 35,8
SuperVia 339.550 7.429 329.002 6.712 (3,1) (9,7) 14.364 14.302 (0,4)
CBTU Recife 163.810 3.839 177.738 3.866 8,5 0,7 7.727 8.020 3,8
Trensurb 96.735 2.144 100.351 2.199 3,7 2,6 4.264 4.655 9,2
CBTU BH 89.946 2.049 95.061 1.084 5,7 (47,1) 3.746 3.149 (15,9)
Metrofor 34.037 784 37.920 776 11,4 (1,0) 1.492 1.669 11,9
CBTU João Pessoa 4.719 103 4.355 96 (7,7) (6,8) 203 232 14,3
CBTU Natal 5.593 124 5.616 109 0,4 (12,1) 243 232 (4,5)
CBTU Maceió 1.631 34 1.252 27 (23,2) (20,6) 69 63 (8,7)
Metrô DF 92.801 2.506 119.627 2.871 28,9 14,6 4.865 5.888 21,0
VLT do Cariri 1679 36 2205 42 31,3 16,7 71 89 25,4
Metrô de Salvador 278.476 6.608 331.076 7.311 18,9 10,6 10.366 15.251 47,1
VLT da Baixada Santista 19.405 451 22.122 497 14,0 10,2 850 1.002 17,9
VLT de Sobral 3.619 83 3.743 79 3,4 (4,8) 148 154 4,1
VLT Carioca 59.000 1.264 76.479 1.515 29,6 19,9 2.423 3.256 34,4
Bondes de Santa Teresa 23 1.373 31 0,0 34,8 50 77 54,0
Metrô de Teresina 3.640 73 4.350 96 19,5 31,5 154 212 37,7
ViaMobilidade Linhas 8 e 9 614.000 14.698 732.670 16.902 19,3 15,0 14.698 34.123 132,2
Total 6.214.227 144.057 7.238.183 180.554 16,5 25,3 287.709 359.222 24,9
Fonte: Operadoras. *Sem as Linhas 8 e 9

APOIE O JORNALISMO
FERROVIÁRIO

ASSINE A REVISTA FERROVIÁRIA


ASSINATURA DIGITAL
R$ 101/ POR ANO
ASSINATURA IMPRESSA
R$ 182 / POR ANO
www.revistaferroviaria.com.br/assine/
artigo

Novo Marco
do Transporte
Público Coletivo
MARCOS DANIEL SOUZA DOS SANTOS
Diretor do Departamento da Infraestrutura de Mobilidade Motorizada e Ativa do Ministério das Cidades

S
ão muitos os desafios a nível federal para a e alta capacidades. Estes passam a ser orientadores do
mobilidade urbana no Brasil. Somos um país desenvolvimento urbano, cabendo ao poder público, nas
com 5.568 municípios, deste total pouco mais três esferas de atuação, prover soluções de financiamen-
de 300 municípios possuem mais de 100 mil to dessa infraestrutura e especialmente da operação, não
habitantes, ou seja, temos uma grande quantidade de cabendo mais ter somente os usuários pagantes como
cidades de pequeno porte com demandas da população fonte de receita para manutenção do sistema, mas sim
quanto à mobilidade urbana. Importante, porém, destacar toda a coletividade.
que as 21 maiores regiões metropolitanas do país con- Os orçamentos públicos dos municípios, estados e da
centram cerca de 40% de toda a população em agrupa- União, passam a ser fonte de financiamento deste servi-
mentos de cidades em extensos territórios. Logo, como ço, assim como ocorre na saúde e educação, desde que
debater soluções de mobilidade urbana a nível federal instituídos mecanismos de transparência e controle social
neste contexto geográfico? sobre esses recursos. Caberá ao poder público se apropriar
Temos a nível federal uma Política Nacional de Mobili- das informações e contas do transporte público demons-
dade Urbana (Lei 12.587/2012), instituída há 11 anos que trando o retorno desses recursos em um serviço de quali-
dá diretrizes nacionais para as diferentes cidades brasileiras dade e adequado a cada realidade local.
e seus sistemas de mobilidade urbana. Com relação ao ser- A minuta de texto não somente estabelece esse compar-
viço de transporte público coletivo, a percepção é de que tilhamento de responsabilidades quanto ao financiamento
essas diretrizes nacionais induziram poucas evoluções. do serviço, mas traz ainda instrumentos legais para per-
A União apresentou final de 2022 uma proposta de le- mitir o custeio de todo o sistema considerando que muitas
gislação federal específica com o novo Marco Legal do cidades e UFs possuem diferentes situações fiscais. Neste
Transporte Público Coletivo para consulta pública. Este sentindo, as fontes extratarifárias e regulações municipais
texto foi construído por várias mãos por meio do Fórum estaduais e federais especificas poderiam ser trabalhadas
Consultivo de Mobilidade Urbana, instituído por Decre- no sentindo de contribuir para o financiamento e manuten-
to, com participação de segmentos do setor de transpor- ção de toda a cadeia do transporte público.
te público e convidados. Espera-se com isso evoluir na Para o setor metroferroviário, entendemos ser agora
compreensão de toda a sociedade, a partir do art 6° da uma excelente oportunidade de induzir neste debate a pro-
Constituição, e especialmente por parte do poder público, moção de soluções e projetos para os centros urbanos que
sobre a urgente necessidade de remodelar nossos sistemas permitam o país avançar na modernização e expansão da
de transporte público com soluções sustentáveis e que rede de transporte de passageiros sobre trilhos como eixos
promovam a inclusão social. estruturadores do território, especialmente nos aglomera-
O texto propõe a formatação nos grandes centros urba- dos urbanos, contribuindo para a melhoria da qualidade
nos de uma rede básica e integrada de transporte público de vida nas cidades, na geração de emprego e renda e na
planejada em eixos estruturantes, com sistemas de média mitigação e adaptação as mudanças climáticas.
60 REVISTA FERROVIÁRIA | Março/Abril DE 2023
OUR HOSTS
12 INTERNATIONAL HEAVY
th

HAUL CONFERENCE
27 – 31 August 2023
Rio de Janeiro, Brazil
Windsor Convention
& Expo Centre

Application of Heavy Haul Innovations for a Sustainable World

12th IHHA Conference 2023


Registration is Now Open!

Sharing technical best practice and re-connecting the


Heavy Haul Community!
See you there!
For more information contact: Conference Secretariate,
E-mail: info@ihhario2023.com • Website: www.ihhario2023.com
O primeiro dos
36 trens adquiridos
pela ViaMobilidade foi
entregue pela Alstom no
fim de fevereiro. A composição
passa por uma série de testes antes
de ingressar na operação comercial
das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda
dos trens metropolitanos de São Paulo,
programada para o próximo mês de maio.
O novo trem, de oito carros, é da série 8900
foto do mês

e tem capacidade para transportar até 2.600


passageiros. Foi produzido com aço inoxidável,
possui janelas e portas mais amplas comparadas
à frota já existente. Segundo a fabricante,
consomem também menos energia elétrica.
Foto: Divulgação/ViaMobilidade
RENDIMENTO I PRECISÃO I CONFIABILIDADE

Plasser do Brasil: Representante Oficial Robel


A Robel é uma empresa do grupo Plasser & Theurer, representada em todo
território nacional pela Plasser do Brasil, com o objetivo de trazer inovações que
proporcionam dinamismo na operação do cliente, através da ergonomia de
excelência dos seus equipamentos.

Essa parceria traz um diferencial aos profissionais que atuam diretamente nas
operações de ferrovia, proporcionando menor impacto durante execução de suas
atividades. O resultado é maior eficiência produtiva e, mais importante, maior
conforto aos operadores.

Oferecemos todo o suporte técnico e administrativo necessário para atender toda e


qualquer demanda do mercado brasileiro.
Entre em contato com a Plasser do Brasil, e saiba mais como a Robel pode ajudar
com soluções de alta qualidade para o setor ferroviário.

plassertheurer.com plasser.com.br
”Plasser & Theurer“, ”Plasser“ e ”P&T“ são marcas registradas internacionalmente

Você também pode gostar