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VENTURINI (2017) Museus e espaços públicos no encontro-desencontro da memória (...

) do corpo

VENTURINI, Maria Cleci. Museus e espaços públicos no encontro/desencontro da memória histórica


e do corpo-memória/corpo-documento. In: VENTURINI, Maria Cleci (Orga.). Museus, arquivos e
produção do conhecimento em (dis)curso. Campinas, SP: Pontes Editores, 2017, p. 51-76.

(p. 55) "[...] os museus como lugares de memória constituídos no encontro/desencontro da memória
histórica e do corpo-memória/corpo-documento são uma presença-ausência no espaço público e
significam no entremeio entre campos disciplinadores. Eles questionam o que esses campos
disciplinares deixam de fora, conforme Orlandi (2004), desconsiderando as fronteiras fechadas e
imóveis ou os fechamentos de sentido. Nosso objeto é o discurso sobre Inês de Castro na cidade de
Coimbra, destacando, nesse espaço, o corpo como referência, pelo qual ressoam memórias e
discursos, podendo-se, por isso, dizer que o corpo inscreve-se em espaços públicos, constituindo
espaços discursivos, lugares de memória."

(p. 56) "Os museus e os espaços públicos possuem existência material na narrativa e que se constitui
como lugar de memória, em espaços que não são fisicamente museus, mas discursivamente, o são,
tendo em vista as redes de memória que se instauram, lingando tempos, acontecimentos, memórias
e argumentos histórico-sociais [...]"

(p. 60) "A divulgação do espaço constitui efeitos por meio de um argumento histórico e pela
referência à passagem do tempo e ao corpo-memória como documento, que faz com que o espaço
signifique e faça parte de um imaginário urbano."

(p. 62) "A relação entre a história e a memória tem dividido os estudiosos, mesmo os historiadores.
Há quem separe a História da Memória pelo compromisso com o referente e com o documento,
sinalizando que a memória não possui essa vinculação, mas indica [...] que tem como matriz o modo
como cada indivíduo se constrói e se constitui em sujeito mitológico. [...] Na perspectiva discursiva, a
memória significa [...] 'nos sentidos entrecruzados da memória mítica, da memória social inscrita em
práticas, e da memória construída do historiador'."

Na perspectiva discursiva, a memória significa [...] 'nos sentidos entrecruzados da memória mítica,
da memória social inscrita em práticas, e da memória construída do historiador." (PÊCHEUX, 1999, p.
51) Procurar referência. Não estava no artigo.

De acordo com Orlandi (2014 ver referência), os museus criam novos sentidos para as coisas e
redefinem a realidade, são espaços de práticas de significação.

(p. 65) "Nesse sentido, o lugar de memória não é significado somente como um espaço físico, mas
como um lugar discursivo que atualiza a memória do corpo em (dis)curso, no espaço do dizer, e
determina visibilidades ou apagamentos em torno do nome ou evento rememorado/comemorado,
constituindo um discurso sobre, que conjuga um antes – um discurso de – que funciona na
atualidade, sustentando, ancorando, retornando no fio do discurso."

Tomar o corpo e o espaço como textos que rementem, que retomam, que interferem mutuamente
nos seus (efeitos de) sentidos não significa assumir que neles residem a priori esses sentidos. São
tomados como textos à medida que, pelas condições de recepção, são interpretados, ou seja,
tomados como materialidades discursivas. Eles não estão lá previamente para serem lidos, assim
como um texto escrito numa folha de papel não está lá antecedendo os sentidos de sua própria
escrita. O corpo e o espaço físico podem ser tomados como texto se pensarmos que o texto em si já
é a materialidade discursiva, logo, ele sucede os sentidos em algum lugar. Ler o corpo e o espaço
físico como textos é buscar responder que possíveis sentidos estão sendo ali materializados: eles são
materialidades de que discursos? Ora, assim como a folha de papel em branco não é o texto em si,
mas um seu possível suporte, corpo e espaço físico não serão textos se o leitor – no caso, o analista –
não colocar em relação ao longo de sua superfície as marcas, os traços, as formas, os signos por
meio dos quais algum sentido se faz possibilidade. Ora, assim como a leitura de um texto escrito é
um percurso do olhar sobre signos já organizados nos limites do papel, a leitura dos corpos e dos
espaços físicos é um percurso semelhante sobre signos que já estão lá, porém dispersos. O que a
proposta de ler corpos e espaços como textos coloca em questionamento não é a natureza dos
significados, ou da atividade de escrita/leitura, mas os limites materiais que tentam, em vão,
estabilizá-los.

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