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A “chuva” de OVNIS

Olá querida e belíssima Ana, sou a Fulana. Sou estudante de Direito,


nordestina, artista, vocalista, cervejeira, 24 anos, e moro no Rio Grande do Sul.
No presente relato, venho contar uma história que ocorreu com meu tio-avô e
minha avó.

Todos os nomes estarão trocados.

Para que entenda o contexto, devo salientar que minha avó paterna, meu tio,
minha bisavó e toda essa parte da família são paraguaios, incluindo o meu avô
paterno também, que minha avó conheceu depois, já morando aqui no Brasil.
Também gostaria de explicar o contexto histórico, o ano era 1967, ou seja,
tanto o Brasil quanto o Paraguai passavam por regimes.

Bem, voltando a história após esta breve explicação, basta dizer que minha
avó, que vou chamar de Irene, era uma rebelde, defendia a liberdade sexual
das mulheres, o direito ao divórcio, entre outros; e já meu tio-avô, seu irmão,
que vou chamar de Juan, era militar, um homem muito cético e de feições
duras, que ia à igreja apenas por obrigação, porque na época era uma
convenção social, mas que em seu íntimo, , não acreditava em nada,
assombrações, santos, entre outros. Logo, eles dois nunca se deram bem,
sempre foram completamente opostos, inclusive, dizia minha bisavó, que
desde a infância os dois já não se davam, eram como gato e rato. Mas, apesar
de diferentes, os dois compartilhavam o sentimento fraterno, aquela idéia de
que “afinal, é irmão”.

Ana, uma observação, o ano era 1967, ou seja, para os padrões da época,
minha vó era uma maluquete.

Quando Juan terminou seu tempo de serviço militar no Paraguai, deu baixa, e
veio para o Brasil em busca de uma vida melhor, chegando aqui ele se instalou
em Curitiba e abriu um pequeno negócio. Ele vivia bem, e depois de um tempo
constituiu família com uma brasileira, a Cármen, com quem teve dois filhos.

A vida corria bem para Juan, até que em um fatídico dia recebeu um
telefonema do Paraguai, de minha outra tia-avó, Rosa, irmã mais velha dele e
da Irene, pois desde que minha bisavó Maria havia morrido muito jovem de um
AVC aos 40 anos, Rosa, por ser a mais velha, assumiu o “papel de mãe” dos
outros 13 irmãos, incluindo meu tio Juan e minha avó Irene. Ao atender o
telefone, Juan tomou um susto aos escutar a voz chorosa e desesperada de
Rosa, aos prantos e aos gritos, dizendo :
“É a Irene!! Socorro Juan!! Não sei mais o que fazer, vão mata-la!”

Acontece que minha avó exagerou um pouco em suas intervenções, e em uma


de suas militâncias, acabou por arrumar confusão com um certo general lá no
Paraguai, e lhe deferiu um tapa no rosto, na frente de todos os seus homens...
Ana, ela irritou tanto o cara, ele se sentiu tão humilhado, que jurou mata-la,
bem ali, na frente de todos. Ao saber disso, meu tio ficou em choque, pois ele
sabia quem era esse tal general, e que ele não era de brincadeira, era um cara
realmente ruim, que torturava pessoas para obter informações, e também agia
com requintes de crueldade. Mesmo meu tio-vô e minha avó tendo suas
diferenças, ele a amava,como eu disse antes, era sua irmã, e ele não queria
que ela fosse morta.

Bem, não preciso nem dizer que meu tio entrou no seu fusquinha na mesma
hora e veio correndo até o Paraguai buscar a minha avó às escondidas, no
meio da noite. Ele dirigiu horas e sem parar, passando por vários estados, e
mesmo quando chegou ao Mato Grosso do Sul, não se sentia cansado, pois a
adrenalina e o pavor da iminente morte da irmã eram tão grandes, que ele não
conseguia sequer bocejar. Pesadelos terríveis lhe passavam pela cabeça,
cenas pavorosas, do que poderia acontecer com sua irmã caso o general a
pegasse primeiro que ele.

Ao chegar no Paraguai, ele já havia falado com alguns amigos que o


consideravam muito, desde a época de serviço, chegou em sua antiga casa,
botou minha avó no carro, e os dois sumiram na calada da noite.

Agora vem a parte sobrenatural da história.

Bem, naquela época, as estradas, as cidades, as próprias casas eram muito


mais escuras do que são hoje, rede elétrica era um privilégio, logo, era bem
mais comum ver as estrelas, então as pessoas, mesmo as mais simples,
conheciam mais ou menos como eram os mapas estrelares, até mesmo o
nome de algumas constelações, como o cruzeiro do sul, as três Marias, a ursa
maior, entre outros. Ana, o que viria a seguir, não eram, de forma alguma, e
nem poderiam ser confundido com simplórias estrelas.

Então, naquela situação de clima péssimo, dentro do fusquinha, eles vinham


em silêncio, Juan olhando o pouco que o farol do fusca conseguia iluminar da
estrada, Irene, olhando o céu. Claro, eles haviam acabado de discutir, tanto
pela situação, quanto pelo que ralhavam sempre, e, além disso, meu tio havia
dito que qualquer coisa que acontecesse com a família, inclusive Rosa, que
havia ficado no Paraguai, que seria tudo, tudo culpa de Irene. O assunto
morreu ali, deixando lugar para um silêncio pesado e magoado.

Quando, de repente, Irene irrompeu a quietude com um berro:


“Juan olha! Para o carro!”

Juan, já sem paciência e irritado pelo susto, que quase fez com que ele
perdesse o controle do volante, disse:

“O que é mulher?! Pelo amor de Deus!”

Ela disse:

“Ali seu tapado!”

Então ele olhou pela janela da frente do carro, e lá estava a cena mais
inacreditável de toda sua vida:

Ana, não havia uma, nem duas, mas centenas e centenas de luzes cruzando o
céu, e não como uma chuva de meteoros, pois os meteoros cruzam o céu em
uma única direção e caem na terra. Não era assim. Essas luzes dançavam no
céu, faziam formas elípticas e circulares, umas ao redor das outras. Juan falou
bem baixinho “eu não acredito”. Mal ele terminou de sussurrar e o carro
enlouqueceu, o rádio que estava desligado, pois não havia clima para música,
ligou sozinho e aumentava e diminuía o volume, trocando de estações,
oscilando entre vozes e chiados, os limpa-vidros se ativaram sozinhos e a
própria luz do farol ficou instável, até que, de repente o carro morreu, e Juan só
conseguiu ali, apenas com o volante funcionando, encostar o fusca na beira da
estrada e esperar que as pedras e os atritos parassem o carro.

Quando o carro parou, ele puxou o freio de mão e eles dois desceram para
contemplar melhor aquela visão, pois não estavam apavorados, estavam
maravilhados! Quando eles me contavam essa história na minha adolescência,
diziam que a noite parecia dia de tantas luzes, e que os movimentos delas
eram tão complexos, que se assemelhavam aqueles jogos e efeitos de luz que
vemos em shows, baladas e festas, pois as luzes também faziam, além de
círculos e formatos elípticos, aquele formato de “jogo da velha” que os filtros de
gelatina fazem, e mais, além disso, as luzes brilhavam em várias tonalidades,
azul, verde, vermelho, laranja, branco, cores muito vivas, isso tudo sem emitir
qualquer som. Era um espetáculo astral, de cores e luzes, em absoluto
silêncio.

Ana, eles contavam essa história juntos, e seus olhos brilhavam, e eu escutava
com atenção, igualmente maravilhada. Eles diziam que era tudo muito
organizado, muito sincronizado, e que, naquela época, talvez até nos dias de
hoje, os aviões de caça não teriam tecnologia para imitar os movimentos, pois
como fariam? Sem barulho? Sem fumaça? Com todas aquelas cores? Com
toda aquela precisão? É completamente impossível Ana, mesmo com a
tecnologia de hoje, imagine naquela época, em plena da década de 60, se
encaminhando para os anos 70.
Aquele espetáculo durou cerca de 20 minutos, e depois, como em um passe de
mágica, as luzes rapidamente desapareceram, sem deixar qualquer rastro,
apenas devolvendo o palco celeste para as nossas simplórias estrelas.
Automaticamente, quando as misteriosas luzes sumiram, o carro ligou. Eles
seguiram estrada afora, pela madrugada, rumo ao Brasil.

Ana, meu tio e minha avó não tinham nada em comum, além dos laços de
sangue, até então. Daquele dia em diante, eles leram, pesquisaram e
debateram muito sobre o assunto “vida extraterrestre”, sobre o universo, o
cosmos, virou o lance deles, e sabe, aquele incidente os aproximou muito.
Posso afirmar, com toda certeza, que essa história é real, foi testemunhada
pelos dois, e nenhum deles jamais fez uso de drogas, meu tio sequer bebia,
nem socialmente, e mesmo minha avó, que era a mais despojada dos dois,
jamais fez uso de drogas, apenas tomava uma biritinha quando saía com as
amigas.

Quando ela chegou ao Brasil, a família dele a acolheu, e ela só saiu da casa
dele para se casar com meu avô, e mesmo assim ia visita-lo sempre. Se
tornaram vizinhos de bairro em Curitiba. Mesmo sendo tão diferentes, eles
tinham o amor de irmãos, que aflorou para salvar minha avó de um grande mal,
e também, desde aquela noite, esse lindo e maravilhoso segredo, que com a
autorização dos dois, venho aqui dividir com você e com os assombrados.

Tenho muitos outros relatos, meus e da família para contar, e vou te mandando
ao longo do tempo.

Forte abraço Aninha, Deus te abençoe e a sua Família linda!!

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