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Ficha formativa – VIVER EM PORTUGUÊS – UFCD 6654 – Ler a imprensa escrita

2.º Técnico de Manutenção de Máquinas de Calçado e Marroquinaria

Grupo I

É sempre agradável ler um texto que, com humor, nos fala de aspetos importantes.

A MAIS VELHA PROFISSÃO DO MUNDO


(MESMO MAIS VELHA QUE A OUTRA)

O primeiro jornalista chamava-se Adão. Mas não tinha ninguém a quem dar notícias. Um
dia, graças a Deus, chegou Eva e trazia, com a sua curiosidade e outras graças de mulher, a
cura para o tédio em que Adão vivia no Paraíso da Terra.
Então, Adão começou a informar e a comunicar: “Aquilo além é uma montanha, na
vertente onde bate o sol ao nascer há riachos e flores, árvores de frutos bons, peixes e
aromas”.
Foi esta a primeira notícia de que há notícia. Mais tarde, foram aparecendo novos
homens e mulheres que davam, uns aos outros, notícias, comentários, reportagens e as
primeiras análises políticas.
Tendo aumentado a população, tornou-se inviável a troca direta de informações. Um dia,
Sapino, bisneto de Eva e de bisavô incógnito, começou a riscar a vida na pedra. Havia uma
esquina de lajedos que era ponto de passagem da Humanidade de então. E nas grandes
faces de granito do basalto, Sapino talhava sinais sobre a caça que andava nas redondezas
ou acerca das sarrafuscas que começavam entre os homens.
Foram os primeiros jornais de parede.
Mas o aumento de conhecimentos e consequente volume de informações a prestar tornaram
impossível que Sapino se encarregasse de toda a tarefa. É dele, na sua forma original, a
frase que se repercutiria no comboio dos séculos: “Eu não posso fazer o jornal sozinho!”.
Assim se arranjaram postos de trabalho para os primeiros escribas, ficando Sapino, ao que se
supõe, como chefe de redação. Dia após dia, chamava os redatores à pedra, o que ainda
hoje ocorre.
Desconhecia-se, então, o cesto dos papéis, não por carência de cestos, mas por falta de
papéis. Todavia há indícios de que os escribas, prezados colegas, nem sempre tiveram
liberdade de expressão. Isto é: Sapino fazia já a sua pauta de censura. Não por vontade, mas
porque o encostavam à parede. Com efeito, começaram a aparecer os primeiros poderosos
pretendendo ver os escritos à sua feição. E o jornal de Sapino esteve para ser encerrado mil
vidas antes da ANOP¹
A imprensa escrita, pasme-se, estava então em grande crise, não só devido à elevada
taxa de analfabetismo, como pela exiguidade do subsídio de pedra. O primeiro ensaio para
uma distribuição falhou rotundamente: ninguém foi capaz de transportar pedra sobre pedra.
Também o primeiro enviado especial não conseguiu levar a bom termo a sua tarefa:
sucumbiu ao peso do bloco-notas.
Com embaraços tais, não surpreende que, ao longo de uma imensidade de anos, o
jornalismo mais eficaz e atuante fosse praticado pela generalidade de homens e mulheres
que, na sua troca de notícias, criaram a comunicação social. E as próprias crianças quando,
ao articularem as primeiras palavras, dirigiam ao pai perguntas ou protestos, estavam, sem
saber, a inaugurar a secção de longo futuro: as Cartas ao Diretor.
Desde esses primeiros jornalistas não se inovou por aí além a essência do jornalismo. E
quando se aponta outra como a mais velha das profissões esquece-se que, antes da primeira
pecadora, já a informação circulava nas bocas do Mundo.
Muito antes do mau porte e do porte pago.
Mário Zambujal, in Notícias da Tarde, 05-10-1982
1. ANOP – Agência Noticiosa Portuguesa, hoje Agência Lusa.

COMPREENDER O TEXTO

1. Identifica o assunto desta crónica.


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2. Retira do texto todas as palavras e expressões relacionadas com o jornalismo.


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3. Propõe uma divisão do texto em partes lógicas, segundo o desenvolvimento do assunto.


Justifica essa divisão.
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4. O que mudou do tempo do jornalista Adão para o tempo do jornalista Sapino?


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5. O humor que atravessa todo o texto reside, por vezes, na forma como o cronista vai
surpreendendo o leitor, criando expectativas “sérias” que são quebradas na continuidade das
frases.
5.1. Transcreve duas situações que ilustrem esta constatação.

5. 2. Comenta os diversos contextos em que aparece a palavra” pedra”.


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6. Ao longo da história que vai contando, o cronista assume, também, um tom crítico.

6.1. Sinaliza as passagens em que a crítica é mais evidente.


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7. Presta atenção ao título.


7.1. Comenta a expressividade do título.
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7.2. Relaciona-o com os dois últimos parágrafos do texto.


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Grupo II

Com base no texto, e também com a ajuda de transcrições, esclarece, num comentário
com cerca de cem palavras, a frase:

A forma como o Homem tem usado o poder da comunicação


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O formador,

António Azevedo

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