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CONTA-NOS A TUA CIÊNCIA

Porquê a divulgação científica? “A ciência


não é uma ilha”
Recolhemos cinco depoimentos sobre a importância de comunicar a ciência para toda a
gente e o que ainda falta fazer em Portugal a este respeito.

Teresa Firmino
12 de Abril de 2023, 21:19

Tubos num laboratório de investigação científica STEFAN WERMUTH/REUTERS

Maria Amélia Martins-Loução (bióloga), Carlos Fiolhais (físico), David Marçal


(bioquímico), Miguel Crespo ( jornalista e investigador em comunicação digital) e Mariana
Alves (investigadora em educação e comunicação de ciência) deixam aqui os seus
depoimentos sobre a relevância de disseminar o conhecimento científico pela sociedade.
Gostam de fazer divulgação científica
(https://www.publico.pt/2023/04/12/ciencia/noticia/concurso-3-minutos-tese-2045884)
ou têm-na mesmo como objecto de estudo e reflexão.
“Informar e inspirar o público” Oferecer assinatura

A comunicação científica é fundamental para a prática de informar e inspirar o público


sobre o conhecimento científico. Envolve partilhar informações juntamente com a
incerteza (https://www.publico.pt/2020/04/09/ciencia/noticia/lidar-incerteza-1911486)
que as cerca ou fornecer detalhes suficientes e apoiá-las com dados experimentais.

No momento actual, com as informações e desinformações constantes veiculadas pelas


redes sociais e os problemas ambientais e de desenvolvimento que a sociedade enfrenta,
cabe ao comunicador tornar a ciência mais transparente em termos de opinião pública
(demonstrando a importância do dinheiro público investido), dar a conhecer à sociedade
as descobertas científicas, divulgar o conhecimento científico
(https://www.publico.pt/2021/11/08/ciencia/noticia/maria-amelia-martins-loucao-vence-
premio-ciencia-viva-2021-1984085) aos decisores políticos, para além de inspirar os
jovens e motivar as comunidades.

A bióloga Maria Amélia Martins-Loução DR


Em Portugal falta investir em comunicação de ciência, não apenas a nível de formação,
mas sobretudo a nível profissional. Um comunicador de ciência temOferecer
de ser,assinatura
e mostrar
que é, um importante e crucial meio de conexão com o público, que sabe ouvir e
partilhar. Não pode ser uma actividade secundária que se exerce em paralelo para
comunicar o que se investiga.
Maria Amélia Martins-Loução (https://www.publico.pt/autor/maria-amelia-loucao),
professora catedrática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e presidente da
Sociedade Portuguesa de Ecologia

“Melhorar o acesso dos jornalistas aos cientistas”


A pandemia de covid-19 (https://www.publico.pt/2020/03/15/ciencia/noticia/pandemia-
novo-coronavirus-tambem-pandemia-desinformacao-1907707)foi um motor de mudança
na comunicação de ciência. Por um lado, as pessoas ficaram cansadas de tanta
informação (https://www.publico.pt/2020/05/15/ciencia/noticia/equipa-iscte-cria-site-
conter-infodemia-desinformacao-covid19-1916644), por outro ficaram confusas ao ver
tanta ciência a ser feita em directo. O cidadão está habituado a lidar com a ciência
quando ela apresenta resultados, não enquanto está em processo. A maior queixa que
vimos foi porque num dia os “cientistas” nos diziam uma coisa e no dia seguinte nos
diziam algo diferente, até o oposto, não percebendo que isso faz parte do método
científico (https://www.publico.pt/2021/06/26/ciencia/noticia/covid19-ha-100-artigos-
cientificos-retirados-corrigidos-1967862) e da produção científica.

Ficou claro que quando se comunica para o público em geral é necessário começar a
explicar o processo científico (https://www.publico.pt/2020/11/14/ciencia/noticia/naomi-
oreskes-ignoramos-dados-cientificos-pomonos-perigo-1939041?
ref=pesquisa&cx=page__content), as fases e os processos, e não apresentar apenas os
resultados. Por outro lado, é preciso dar uma cara mais humana à ciência, mostrar as
múltiplas faces da ciência (para desconstruir a ideia de que a ciência é feita por alguém
ao serviço de interesses obscuros ou parte de uma qualquer conspiração) e que a ciência
é plural.
O jornalista e investigador Miguel Crespo MARTA CRESPO
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Para melhor comunicar ciência para o público em geral, é preciso melhorar o acesso dos
jornalistas aos cientistas, e as instituições são fundamentais. A contrário de outros
países, é impossível encontrar os investigadores e professores das instituições nos sites.
Se um jornalista precisa de um especialista num assunto, não é fácil encontrá-lo e, se o
encontrar, dificilmente tem resposta em tempo útil.

Mas os cientistas também são culpados e preferem culpar o jornalista-mensageiro de


eventuais erros publicados do que assumir que o erro é seu, ao não se preocuparem em
comunicar e em contribuir para a difusão de ciência
(https://www.publico.pt/2021/08/11/opiniao/opiniao/promocao-cultura-cientifica-nao-so-
politica-simpatica-urgencia-1973721). Isso poderia melhorar com mais formação em
comunicação de ciência: deveria haver mais cientistas a aprender jornalismo
(https://www.publico.pt/2017/01/12/sociedade/noticia/jornalismo-este-caminho-esta-a-
levar-nos-a-autodestruicao-1757968)e jornalistas a aprender a comunicar ciência.
Miguel Crespo, jornalista e investigador em comunicação digital no MediaLab do Centro de
Investigação e Estudos de Sociologia do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa

“A ciência não é dos cientistas, mas de toda a


comunidade humana”
A ciência não é uma ilha nem os cientistas são Robinsons Crusoe. A ciência é o esforço
humano para compreender a Natureza, da qual fazemos parte, e os cientistas são apenas
aqueles que, em nome de todos, empreendem esse esforço. A ciência não é dos
cientistas, mas de toda a comunidade humana, sem distinção de etnia, idade, religião,
condição económica, etc.
O físico Carlos Fiolhais ADRIANO MIRANDA
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Os cidadãos mandatam os cientistas para saber mais, um impulso básico derivado da


curiosidade humana e também uma condição para vivermos mais e melhor. É crucial
que os cientistas dêem conta a todos da compreensão que vão alcançando do mundo e
também do método que usam para a alcançar. O uso de um modo mais geral desse
método, onde entram a observação, a experimentação, a lógica e a crítica, permite uma
maior racionalidade na nossa vida. No mundo de hoje, repleto de mentiras, a
racionalidade afigura-se cada vez mais necessária.

Com algum atraso na educação, Portugal não é dos países da Europa com mais cultura
científica (http://www.publico.pt/2018/11/23/ciencia/noticia/divulgacao-cientifica-
1852075), isto é, interiorização da ciência pela sociedade. Torna-se necessário reforçar o
esforço, convocado por Mariano Gago
(https://www.publico.pt/2015/04/17/ciencia/noticia/morreu-mariano-gago-1692766?
ref=pesquisa&cx=page__content) e outros, de afirmação da ciência na sociedade, o que
passa pelas escolas, pelos meios de comunicação social, pelos museus e parques, pelas
artes, etc. É pena que a boa iniciativa que foi o Ciência Viva tenha caído na modorra.
Fechou-se em si, não tem representantes da comunidade científica nem do público, não
está atenta a grandes problemas contemporâneos. A cultura científica
(https://www.publico.pt/2022/11/24/ciencia/noticia/governo-apresenta-apoios-
investigadores-dia-nacional-cultura-cientifica-2028964) devia ser assunto de políticas
públicas em constante actualização. Também nesta área há governantes muito
distraídos.
Carlos Fiolhais, professor de Física da Universidade de Coimbra (aposentado)

“Ajuda-nos a discernir melhor o nível de fundamento


científico”
Se perguntarmos quais deverão ser os limites à edição genética de seres humanos ou se
devemos colocar um travão ao desenvolvimento dos sistemas de inteligência artificial,
muitas pessoas terão uma opinião. Mas para se ter uma opinião informada
(https://www.publico.pt/2015/01/20/ciencia/noticia/david-marcal-nos-remedios-
homeopaticos-nao-ha-nada-a-nao-ser-agua-e-acucar-1682691?
ref=pesquisa&cx=page__content) é necessário um conhecimento, ainda que superficial,
dos princípios subjacentes a essas tecnologias.
O bioquímico David Marçal FILIPA FERNANDEZ
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A divulgação científica (https://www.publico.pt/aovivo/detalhe/assim-fala-ciencia-


conversa-carlos-fiolhais-david-marcal--248) ajuda-nos a discernir melhor o nível de
fundamento científico (https://www.publico.pt/2017/04/25/ciencia/opiniao/semear-a-
duvida-e-por-tudo-no-mesmo-saco-1769875) de uma determinada ideia, serviço ou
produto, quais são as suas limitações, riscos e potenciais. Isso permite a cada um de nós
tomar melhores decisões pessoais e assumir posições mais bem fundamentadas no
espaço público. E os investigadores científicos, não sendo os únicos com essa
responsabilidade, estão numa posição privilegiada para ajudarem na divulgação da
ciência.
David Marçal, bioquímico e divulgador de ciência

“Evita perpetuar estereótipos”


A ciência é um processo de construção de conhecimento sobre o mundo que impacta as
nossas vidas — em todas as áreas, desde a bioquímica às ciências da educação ou à
filosofia, seja através de novos medicamentos ou novas formas de pensar. Comunicar
ciência é essencial para dar oportunidade à sociedade fora da comunidade científica de
conhecer e participar neste processo.
A investigadora Mariana Alves MASSIMO DEL PRETE
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Estudos mostram que jovens de comunidades menorizadas, como contextos


socioeconómicos mais baixos, ingressam menos em carreiras científicas. A comunicação
de ciência pode combater estas tendências e contribuir para que cada pessoa considere
que a ciência pode ser para si — como carreira
(https://www.publico.pt/2022/02/11/ciencia/noticia/lancado-livro-115-raparigas-ciencia-
estao-perguntar-1995064?ref=pesquisa&cx=page__content) ou como ferramenta para
entender o mundo. Para tal, é importante que a comunicação de ciência se baseie em
evidências, ou seja, estudos sobre a própria comunicação de ciência, e que seja
pluricêntrica e equitativa. É necessário que as instituições desestigmatizem a
comunicação de ciência como opção de carreira.

Uma comunicação de ciência honesta e reflexiva evita perpetuar estereótipos e


evangelismos de ciência, ao mesmo tempo que contraria silenciamentos — de diferentes
tipos de cientistas e conhecimentos (como o conhecimento indígena).

Em Portugal, penso que faltam sobretudo políticas de financiamento para valorizar a


comunidade vibrante de comunicação de ciência que efectivamente existe. Gostaria
também que as comunidades de comunicação de ciência em língua portuguesa de outros
países fossem mais valorizadas e que se praticasse mais a escuta e a reflexividade.
Mariana Alves, investigadora em educação e comunicação de ciência no Centro de
Investigação em Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da
Universidade de Aveiro e co-directora da iniciativa Cartas com Ciência
(https://www.publico.pt/2021/05/03/p3/noticia/cartas-ciencia-ja-formou-500-cientistas-
escrita-divulgacao-cientifica-1960922)

Abrir portas onde se erguem muros


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