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Lara Matos
Juliana Rego da Silva (Orientação)
5 Onde queres revólver, sou coqueiro/E onde queres dinheiro, sou paixão/Onde queres descanso,
sou desejo/E onde sou só desejo, queres não
6 FREUD, 2013 p 19
Linalizando o vai e vem das pulsões que faziam de um e de outro objeto7. A
pulsão, isso que escapa, pois não há como “aprender o total que também não
há”8. Esse percurso ambivalente dos afetos na cena que descrevi expressava o
descolamento do representante ideativo que, recalcado, Linalmente escoava
naquela ação conjunta “sublimativa”.
Pensando no momento histórico em que Freud desenvolveu seu trabalho,
que em linhas gerais era ambiente de um fazer artístico muito mais inacessível,
talvez por isso a sublimação pode ter sido relegada a esta “aura” inata de certas
almas dadas ao fazer artístico. Hoje é possível perceber que a arte é uma
capacidade de todos, e o que falta normalmente é coragem, ou meios, para dar
vazão à expressão na sociedade.
No caso dos dois amantes a concordância com a necessidade do fechamento
da relação não podia ser apenas consciente, pois é possível que a cena do piano
não acontecesse se os dois estivessem dominados pela razão da necessidade. Na
cena descrita há algo do saber (aquele que não diz respeito à inteligência), saber
tanto o desejo quanto o recalque, somados à capacidade de instrumentalizar
essas sensações através da música, sublimação possibilitada pela vontade de agir
em arte, que é base da formação de quem usa da sensibilidade para viver e
erguer-se no mundo. Assim, é possível que sublimar seja uma capacidade
daquele que faz arte pois ele se instrumentaliza para isto, nem sempre surte
efeito em todas as esferas da vida do sujeito, mas é um caminho provável no
percurso. Saber-se e saber o instrumento não é um dom, mas é uma sorte, e neste
ponto lembro de outra canção de Caetano Veloso:
7 ibidem, p 26-27
8 O quereres estares sempre a Lim/ Do que em mim é de mim tão desigual/Faz-me querer-te bem,
querer-te mal
E eu querendo querer-te sem ter Lim/E, querendo-te, aprender o total/Do querer que há, e do que
não há em mim
Referências bibliográLicas:
______. Além do princípio de prazer. (1920) In: História de uma neurose infantil:
(“O homem dos lobos”): além do princípio do prazer e outros textos (1917-1920).
Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. (Obras
completas: 14).