Você está na página 1de 8

215

A luta pela saúde é a luta por um mundo mais


equitativo, u
j sto e solidário
Deação clr da Quart Asleiasmb undialM da Saúde dos Povos –
ASP 4
Sa,rav ,hsedalgnB 15 a 19 ed o rbmevn ed 2018

ESTA DECLARAÇOÃ FOI INSPIRADA NA MEMÓRIA e on otirípse ed Amti Se,atpugn ajuc oãçacide
absolut à luta por um mundo mais ,tojus mais elsaudáv e mais solidár seguirá andoispr
osfutr tasiv do vimento M pela Saúde dos Poosv (MSP).

Nossas lutas

Após mes de mobilzaçã por meio de asembli nacios e ,egionasr ,nós mais de 1.400
sativ ad edúas ed 37 seíap ed sadot sa seõigr od ,odnum omi-nuer son me Sa,rav ,hsedalgnB
sei anos após a Assemblia ,anterio na Cidae do Ca,bo apr eafirm nos omiscpr
com a luta pela ,saúde ,que segundo as asvr pl de Amit Sengupta, emosv com a luta por um
mundo mais ,oequitav tojus e .solidár
A oãsiv euq mecrfo a Deoãçarlc arp a Saedú sod Posov 2 ( 000) e a Deoãçarlc ed Cuacne
(2005) é mais pertin que nuca, uma ezv ,que ,elmntv a as caus aistrue dos
oblemaspr de saúde e a desigual aind temprsi e ecisampr ser .ertidasv Essa caus
aistrue tãoes ofundametpr aizdsenr no ,cadoptri temasi de ,tasc ,acismor fun -
damentliso ,eligosr discrmnação acontr pesoa com capides ,entsdifr ansfobitr
e hetor normativd,e e erfoçads pelo atul pardigm de desovlni,mt cartei -
zado pelo indvual,smo antorpceism e capitlsmo neolibar. As comunidaes de
t o d o m u n d o p e dr m c a d ev z m a i s o a c e s o à t e r a , à á g u a e a o s m e i o s d e s u b i t ê n c a ,
ao meso tempo em que entfarm o aumento do ,miltarso da violênca e da .espãro
Esse adigmpr tem impulsonad elmntv acosidr a influêca das açõescorp anstr -
nacio,s o que ersulto em uma enorm inflação de benfícios particules e na criação
d e u m a c l a s e d e e x c u t i o v s e a c i o n st t a r n s c i o c u j a r i q u e z a e p o d e r s ã o a m e ç s
etasdir à ,equida à tiçajus e à saúde do planet. Os esintr que olamcntr o capitlsmo
corpativ corem sitemacn a sobaenri de nos ervgno,s que desa maneir
cedm os diertos e privlégos de seu povs aos inters do .lucor As corpações per -
mite a dtersuição desanfr dos ecostima e da ,erdsiva amger andgers olumves
de esíduro tóxicos e colam em perigo as identas ,cauilstr a ersdiva e as formas
de vida. A complxeida dos conflits emgrnts e crônio,s as mudançs climáta,s as
ameçs à ,acideprv apr citar alguns ,emplosx esntampr osvn desafio tods os .dias

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 44, N. ESPECIAL 1, P. 215-222, JAN 2020


216 Sanders D

Tudo isso, junto com políticas econômicas deriva da justiça social, econômica e am-
e comerciais injustas, tanto nacionais como biental. Visualizamos um mundo em que a
globais, promove um paradigma de desen- empatia, a solidariedade e o respeito pelas
volvimento insustentável e desigual e cria pessoas e pelo meio ambiente são fundamen-
um complexo tecido de determinantes que tais para a comunidade mundial, nacional
impede que a ‘saúde para todos e todas’ se e local; um mundo sem discriminação nem
torne realidade. opressão com base em gênero, raça, casta,
É nesse contexto que situamos nossa luta etnia, diferentes capacidades, sexualidade,
pelo direito à saúde, por um novo modelo de religião, ocupação e cidadania; um mundo
sociedade, com mais solidariedade, empatia, onde os direitos humanos, o empodera-
equidade e humanidade, que proteja a vida mento e a saúde de todas as comunidades
e os ecossistemas. são respeitados e promovidos, juntamente
com a dignidade e os direitos de todos os
A crise da saúde é uma crise do elementos da natureza.
modelo capitalista Exigimos que os governos, as institui-
ções financeiras internacionais e agências
Os países de alta renda, que trabalham em do Sistema das Nações Unidas, incluindo
estreita colaboração com as corporações a Organização Mundial da Saúde (OMS),
transnacionais, promovem políticas neoli- prestem contas à população, não às corpora-
berais para enfrentar a crise contemporânea ções transnacionais e seus agentes. Exigimos
do capitalismo globalizado por interesse da que garantam os direitos relacionados à
classe capitalista transnacional. Com a ajuda saúde e ao meio ambiente, por meio de leis
de uma rede de acordos unilaterais de ‘comér- e regulamentos executáveis. Exigimos que
cio e investimento’, essas políticas são aceitas protejam aqueles que lutam para defender
ou impostas aos governos de países de baixa seus direitos e ponham fim à impunidade
e média renda. As políticas nacionais resul- com que as corporações ameaçam, prejudi-
tantes têm consequências de largo alcance cam e matam as pessoas e a natureza.
para as condições sociais que influenciam a Queremos sistemas de saúde públicos,
saúde da população e também para o enfoque equitativos, que sejam universais, apropria-
e o financiamento de um sistema de saúde dos ao contexto, integrados e integrais, que
integral. Essas políticas pioram os determi- não sejam discriminatórios, incapacitan-
nantes fundamentais da saúde e paralisam tes, privados ou lucrativos. Sistemas que
progressivamente a infraestrutura do sistema proporcionem uma plataforma para ações
de saúde e a prestação de serviços. Essas apropriadas sobre os determinantes da
políticas incentivam os governos nacionais saúde, incluindo uma mudança radical nas
a renunciarem à sua responsabilidade pela estruturas de poder existentes.
saúde pública, marcando o início dos regimes
de privatização e seguros. Nosso compromisso

Visão alternativa do MSP: equida- Como afirmamos no Chamado à Ação na


de, sustentabilidade ecológica e Cidade do Cabo (2012), nenhuma mudança é
saúde para todos e todas possível sem a mobilização popular a partir
da construção do poder social e político
Nossa visão é a de um mundo em que a entre as pessoas e as comunidades. Os/as ati-
equidade entre os países e dentro deles seja vistas do MSP se comprometem a construir
alcançada e a saúde para todos e todas seja pontes para conectar todos os movimentos
uma realidade. Reafirmamos que a saúde que lutam pelo direito à saúde com outros

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 44, N. ESPECIAL 1, P. 215-222, JAN 2020


A luta pela saúde é a luta por um mundo mais equitativo, justo e solidário 217

movimentos sociais que defendem a terra, a de desigualdade, discriminação e violência


água e os meios de subsistência das pessoas, de gênero é universal, embora se manifeste
bem como os direitos das comunidades in- de diferentes maneiras, em diferentes níveis
dígenas e os direitos contra a agressão de e em diferentes contextos. O MSP reconhece
corporações transnacionais e governos que que, além das mulheres, outras vítimas de vio-
representam interesses corporativos. lência de gênero incluem crianças, pessoas
Comprometemo-nos a fortalecer o MSP, com orientações sexuais ou identidades não
garantindo que nossa governança seja trans- normativas de gênero, e que a vulnerabilida-
parente, democrática e justa em sua pers- de à violência é exacerbada pela presença de
pectiva de gênero. Comprometemo-nos com deficiências, estado civil, raça, casta, religião,
a construção de novos círculos nos países, origem, etnia, ocupação, situações de conflito
fortalecendo os já estabelecidos, ampliando e posição social e econômica.
os laços e a solidariedade com outras orga- A justiça de gênero e a saúde se entrecru-
nizações, redes e movimentos populares zam firmemente e são fundamentais para
relacionados e incentivando a participação que o objetivo da saúde para todos e todas
de novas pessoas, especialmente jovens, em possa ser uma realidade. O MSP examina
nível nacional, regional e global. Assim, a criticamente as implicações de gênero na
diversidade do nosso movimento estará mais macroeconomia e nas políticas, e o atual
representada. paradigma de desenvolvimento, que, em
Nosso trabalho, no curto prazo, será or- conjunto com as políticas e leis nacionais, é
ganizado em torno de seis áreas temáticas discriminatório e injusto, e segue impedindo
e de ação, com objetivos específicos, mas a realização da saúde para todos e todas.
permaneceremos abertos a novos temas no Para avançar em direção à justiça de
médio e longo prazo. Por exemplo, a impor- gênero, o MSP se compromete a:
tância do conhecimento popular tradicional
sobre ecossistemas e saúde, como uma forma • Promover serviços de saúde e atenção
de resistência sustentável e fortalecedora à em saúde sexual e reprodutiva com ênfase
abordagem biomédica, hegemônica e domi- especial em mulheres, meninas, comuni-
nante da saúde. dades LGBTQI, transgêneros e pessoas
com deficiências.
Justiça de gênero e saúde
• Promover e sustentar ações contra siste-
O MSP promove a compreensão e a análise mas políticos, econômicos e sociais injus-
de gênero como uma questão transversal, tos e desiguais por razões de gênero que
presente em todos os círculos temáticos do impactam a saúde e os direitos humanos
MSP. Vai além da lógica binária homem-mu- nos níveis local, regional e global.
lher e inclui comunidades LGBQI (lésbicas,
gays, bissexuais, queer e intersex) e comuni- • Consolidar evidências, por meio de pes-
dades transgêneros, mediante a integração quisas, testemunhos, estudos de caso e
da compreensão e análise da dimensão de experiências de diferentes regiões, para
gênero não binário em todas as discussões, fortalecer o ativismo global e as ações
atividades e assembleias do MSP. sobre justiça de gênero nas políticas de
O MSP acredita que a opressão de gênero saúde e prestação de contas.
está intrincadamente ligada a outros siste-
mas de opressão, e essas interseccionalidades • Forjar e fortalecer vínculos e solida-
comprometem ainda mais o bem-estar e o riedade com grupos de mulheres, grupos
acesso aos serviços de saúde. A experiência de saúde, coalizões, redes, movimentos

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 44, N. ESPECIAL 1, P. 215-222, JAN 2020


218 Sanders D

populares, campanhas e grupos com in- saúde.


teresse especial em relação aos desafios
e preocupações identificados quanto a • Apoiar organizações que se opõem ao
questões de justiça de gênero e saúde. projeto extrativista global e fortalecer
os vínculos entre movimentos populares
• Monitorar e resistir às agendas globais pelo direito à terra, direitos ambientais e
que diminuem os direitos à saúde sexual direitos humanos.
e reprodutiva, por exemplo, a Lei Global
da Mordaça (Global Gag Rule). • Condenar a criminalização, a repressão
e as execuções extrajudiciais de ativistas
• Mobilizar e construir conhecimento e na luta pela justiça ambiental.
capacidade, especialmente dos/das jovens,
sobre justiça e saúde de gênero, por meio • Promover sistemas de saúde que não
da Universidade Internacional de Saúde sejam prejudiciais ao meio ambiente e
dos Povos (Uisp) e outros processos. apoiem ecossistemas saudáveis.

Saúde do meio ambiente e dos • Apoiar modelos que promovam sistemas


ecossistemas de trabalho e produção seguros e saudáveis.

O enfoque dominante das políticas neoli- Alimentação e soberania alimentar


berais para maximizar os lucros com um
mínimo de responsabilidade incentiva o O MSP acredita que nosso sistema alimentar
consumo excessivo e estilos de vida insus- insustentável e desigual é um determinan-
tentáveis, além de tecnologias e indústrias te da saúde precária, que se manifesta, em
poluidoras. Estas afetam irreversivelmente particular, no que é chamado de carga tripla
a qualidade do solo, as reservas de água sub- da desnutrição, bem como na pandemia
terrânea e a biodiversidade, com extração de doenças não transmissíveis. A origem
excessiva de recursos florestais e pesquei- comum subjacente à desnutrição e supernu-
ros, proliferação de operações de mineração trição em nosso mundo globalizado pertence
e expansão da agricultura moderna para o ao impacto das práticas atuais relacionadas
mercado global, para citar alguns exemplos. à produção, processamento, manufatura,
Essa visão de desenvolvimento é evidente- distribuição e comércio de alimentos, bem
mente responsável pela destruição genera- como aos diferenciais de poder entre os
lizada do meio ambiente e pela geração de que são os mais afetados e aqueles que se
imensas quantidades de resíduos – nucle- beneficiam com o atual sistema alimentar.
ares, químicos, tóxicos e pesticidas – que A penetração não regulada das empresas de
causam severa contaminação do solo e da alimentos e bebidas e o mercado agressivo
água, esgotamento da camada de ozônio e de alimentos processados e ultraprocessa-
mudanças climáticas, todos tendo efeitos de dos têm agravado enormemente o problema
grande alcance na saúde dos povos. da desnutrição e a insegurança alimentar
Para promover a saúde dos ecossistemas, subjacente.
com a visão de que nossa saúde é a saúde O MSP propõe:
da natureza como um todo, o MSP se com-
promete a: • Criar um sistema alimentar, ‘da semente
ao garfo’, que seja equitativo, justo e com
• Desenvolver uma campanha global contra base no direito inalienável à alimentação
o impacto das indústrias extrativas na e nutrição adequada.

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 44, N. ESPECIAL 1, P. 215-222, JAN 2020


A luta pela saúde é a luta por um mundo mais equitativo, justo e solidário 219

• Criar a politização apropriada dos pro- governos anfitriões. O regime estabelecido


blemas de alimentação e nutrição, p. ex. dessa maneira tem consequências de longo
aumentar o conhecimento sobre a econo- alcance para o acesso a serviços de saúde
mia política de alimentos e nutrição. integrais e para as condições sociais que
influenciam a saúde das pessoas.
• Criar consciência dos vínculos negati- A fim de colocar a saúde à frente do lucro,
vos entre os sistemas alimentício e finan- o MSP se compromete a:
ceiro, incluindo a influência corporativa
indevida, bem como os erros contidos nas • Por fim à negociação dos tratados de in-
‘soluções’ das múltiplas partes interessa- vestimento e comércio, projetados para
das; por exemplo, a iniciativa Scaling Up expandir e fortalecer ainda mais o regime
Nutrition (SUN) adotada pelas agências neoliberal, e retirar-se das convenções vi-
do Sistema das Nações Unidas e por ONGs gentes que resguardam esse regime.
selecionadas.
• Trabalhar para criar uma nova ordem
• Resistir ao crescente poder da indústria econômica internacional que incorpore a
alimentícia transnacional. discriminação positiva em favor dos países
de baixa e média renda e que se oriente em
• Resistir à visão técnica e individualizada torno a uma civilização ecologicamente
da nutrição, corrigindo as informações sustentável, baseando-se mais em viver
erradas fornecidas ao público sobre como bem do que em ganâncias corporativas.
tornar o sistema alimentar mais equita-
tivo. Construir pontes entre o MSP e o • Reformar a regulamentação de medica-
movimento agroecológico para alcançar mentos com a garantia de que se baseie na
a soberania alimentar. soberania nacional e esteja direcionada no
sentido de assegurar qualidade, segurança,
• Criar consciência sobre e prevenir o uso acessibilidade e uso racional e eficaz.
massivo de agrotóxicos e pesticidas em
alimentos, na água e no solo, em oposição Sistemas de saúde equitativos
ao discurso hegemônico do agronegócio.
O MSP reitera seu compromisso com a
Comércio e saúde Atenção Primária à Saúde (APS) para al-
cançar a saúde e o bem-estar para todos e
Quase todos os países representados nesta todas, a fim de conquistar a equidade nos
assembleia concluíram ou estão em nego- desfechos de saúde. Isso é fundamental,
ciações de tratados regionais ou bilaterais porque enfrentamos uma crise de saúde
de investimento e comércio, geralmente global caracterizada por desigualdades re-
conduzidos pelos EUA ou União Europeia, lacionadas a uma série de determinantes
visando impulsionar os interesses das em- sociais, econômicos, comerciais, ambientais
presas transnacionais. De fato, são tratados e políticos da saúde e ao acesso e à qualidade
de integração econômica, que incluem não dos serviços de saúde nos países e entre
apenas a liberalização do comércio de bens, os mesmos. Em muitas regiões do mundo,
mas também a liberalização do comércio os sistemas de saúde são mal projetados,
de serviços, proteção extrema da proprie- carecem de recursos suficientes e oferecem
dade intelectual, harmonização regulatória serviços de baixa qualidade, resultando em
e novas disposições para proteger as cor- taxas inaceitáveis de mortalidade e mor-
porações transnacionais da regulação dos bidade. O MSP também reconhece que os

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 44, N. ESPECIAL 1, P. 215-222, JAN 2020


220 Sanders D

sistemas de saúde são instituições marcadas • Documentar as lutas e resistências à pri-


por discriminação baseada em gênero, castas vatização da saúde e construir experiências
e raça, que reforça as desigualdades, com positivas baseadas na organização dos ser-
políticas e práticas discriminatórias que são viços de saúde e atenção primária à saúde.
enormes obstáculos para acessar informa-
ções e serviços de saúde em todo o mundo. • Estabelecer uma iniciativa de observa-
A questão de gênero também desempenha tório corporativo para serviços de saúde
um papel fundamental na força de trabalho em todas as regiões do mundo, em parceria
em saúde e determina a localização e as com outras redes que realizam trabalhos
experiências dos/das profissionais de saúde. semelhantes.
O MSP também lastima a tendência global
de privatização dos serviços de saúde, a • Criar consciência sobre a importância
implementação de planos de seguro (espe- dos trabalhadores e trabalhadoras da linha
cialmente na Ásia e na África) em nome da de frente como agentes de mudança social
obtenção de cobertura universal de saúde, o e extensão dos sistemas de saúde e forta-
que reforça a privatização e comercialização lecer seu papel de assegurar a saúde de
da saúde. São promovidas parcerias público- todos e todas por meio de programas mais
privadas e a terceirização de serviços pú- bem delineados, trabalho justo e digno e
blicos, inclusive na área da saúde, apesar remuneração adequada.
das evidências irrefutáveis de fracassos e
do seu impacto adverso na equidade e nas • Destacar o importante papel dos traba-
condições de trabalhadores/as da saúde. lhadores e trabalhadoras da saúde para
Essa questão causou uma acentuada resis- o funcionamento dos sistemas de saúde
tência dos movimentos populares. e criar consciência sobre os efeitos das
O MSP propõe: políticas neoliberais em suas condições
de trabalho.
• Instituir ações para promover sistemas
universais de saúde, financiados com re- • Promover trabalho digno nos sistemas de
cursos públicos e prestados por serviços saúde e para todos os/as profissionais de
públicos, equitativos e de boa qualidade, saúde, incluindo remuneração adequada,
com base na atenção primária à saúde, con- proteção social e condições de emprego.
forme definido na Declaração de Alma-Ata. Ressaltar os vínculos entre o trabalho in-
Os sistemas públicos de saúde, gratuitos formal ou irregular com a qualidade dos
na oferta de serviços, financiados através serviços de saúde.
de impostos, focados na atenção primária
à saúde, constituem a maneira mais eficaz • Apoiar o direito dos trabalhadores e das
e eficiente de promover a equidade e a trabalhadoras da saúde de organizarem-
realização do direito universal à saúde. -se e negociarem coletivamente, criando
vínculos com sindicatos progressistas que
• Fornecer evidências sobre o fracasso dos lutam pelos seus direitos.
seguros de saúde financiados com recursos
públicos em países de baixa e média renda, Guerra e conflito, ocupação e mi-
da privatização e das parcerias público-pri- gração forçada
vadas para melhorar a saúde da população,
o que fortalecerá a campanha ao expor o A insaciável sede de lucro, juntamente com
marco neoliberal usado para justificar a as aspirações imperialistas de muitos países,
privatização dos sistemas de saúde. incluindo a Europa e os EUA, causam não

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 44, N. ESPECIAL 1, P. 215-222, JAN 2020


A luta pela saúde é a luta por um mundo mais equitativo, justo e solidário 221

apenas guerra e insegurança em todo o desarmamento, pelo fim da ocupação e


mundo, mas também pobreza e degradação pela mobilização segura e livre.
ambiental. Desestabilizam países inteiros
por meio de políticas econômicas, inter- • Mobilizar organizações locais e inter-
venções políticas, o comércio de armas, o nacionais da sociedade civil, grupos hu-
tráfico de drogas e a extração desenfreada manitários e voluntários da saúde para
de recursos. Tudo isso cria as condições proporcionar alívio imediato e atenção
que causam a movimentação massiva de médica às pessoas deslocadas.
populações em todo o mundo.
A migração forçada pelos conflitos • Pressionar os governos locais correspon-
armados, limpeza étnica, projetos de de- dentes para que forneçam alimento, abrigo,
senvolvimento ou mudanças climáticas são roupas e assistência médica às pessoas
realidades do momento, cujas sementes deslocadas.
germinam em desigualdades e políticas de
neoliberalismo. Além disso, a “moderni- • Mobilizar organizações como a ONU e
zação” e a inclusão forçada de mercados organizações e redes relevantes, no caso
locais tradicionais no mercado mundial re- de migração transfronteiriça, para exercer
presentam de longe a força mais poderosa pressão multilateral nos respectivos países,
que causa expulsão e deslocamento social reconhecer as pessoas deslocadas como re-
no mundo de hoje. fugiadas e vigiar para que todos os direitos
Grandes populações perdem seu direito e privilégios que tenham sejam cumpridos.
básico de cidadania quando forçadas a
emigrar para um país estrangeiro. Mesmo • Assegurar que os direitos de saúde de
o deslocamento dentro do país causa muita migrantes e refugiados sejam respeitados.
tensão e incerteza. Embora o deslocamento
afete a população como um todo, as experi- • Fazer campanha para acabar com a pes-
ências dos povos afetados são multifacetadas quisa e o desenvolvimento militar com o
e geralmente são baseadas no gênero, com dinheiro dos contribuintes.
consequências para a saúde sexual e repro-
dutiva e para a saúde mental. Fortalecimento do nosso Movimen-
O MSP denuncia o impacto direto e to pela Saúde dos Povos
indireto da guerra, da ocupação e da mi-
litarização na saúde. Também destaca as Para alcançar os objetivos que estabele-
implicações para a saúde da migração e das cemos em áreas temáticas, devemos for-
políticas migratórias que não respeitam os talecer nosso Movimento pela Saúde dos
direitos humanos. O MSP também denuncia Povos através de esforços coletivos para de-
a indústria militar e de segurança, por ser senvolver e aplicar uma ampla visão global
uma ameaça à saúde pública, como uma e uma estratégia que seja baseada em uma
causa contínua de conflito e, portanto, de avaliação correta de nossos parceiros estra-
sofrimento humano, além de ser das indús- tégicos em todos os níveis – global, nacional
trias mais poluidoras do meio ambiente e e local. É urgente que fortaleçamos nossa
emissoras de carbono do mundo. capacidade, para pesquisa, análise e ação, por
O MSP propõe: meio de mais capacitações que levem a mais
mobilização social, para campanhas e para a
• Pressionar organizações internacionais elaboração de estratégias de ação. Precisamos
para advogar por políticas equitativas, re- construir alianças com sindicatos, organiza-
solução de conflitos, construção da paz, ções, movimentos sociais que representam

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 44, N. ESPECIAL 1, P. 215-222, JAN 2020


222 Sanders D

mulheres, camponeses e camponesas, traba- em ambientes perigosos e que muitas vezes


lhadores e trabalhadoras da linha de frente, são os primeiros alvos dos órgãos repressi-
comunidades indígenas e jovens. vos do Estado.
Por fim, cada um de nós precisa apoiar Nós, como MSP, nos comprometemos
ativamente nossos parceiros/as em suas com esta declaração.
lutas, para que possamos construir uma
cultura alternativa e instituições alterna-
tivas. Somente assim poderá haver esperan- Colaborador
ça para o futuro da humanidade e da mãe
terra. Isso implica, ademais, na defesa das Sanders D (0000-0003-1094-7655)* é respon-
pessoas do nosso movimento que trabalham sável pela elaboração do manuscrito. s

Referência

*Orcid (Open Researcher


1. People’s Health Movement. The People’s Charter for ponível em: https://phmovement.org/wp-content/
and Contributor ID). Health [internet]. 2000 [acesso em 2019 mar 19]. Dis- uploads/2018/06/phm-pch-english.pdf.

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 44, N. ESPECIAL 1, P. 215-222, JAN 2020

Você também pode gostar