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*CTC02~00P432* . .
Prática de Implantação e Disseminação de
Tecnologias Apropriadas ao Meio Rural
1983-1984

Projeto JURAMENTO

$ Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais/CETEC


6.002.2 FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLOGICO DE MINAS
F981 p GERAIS - CETEC.
Prática de implantação de dissemi-
nação de tecnologias apropriadas
ao meio rural. Belo Horizonte, 1985.
57 p. ilust.
Projeto:
Prática de Implantação e Disseminação de
Tecnologias Apropriadas ao Meio Rural

Trabalho realizado através do Contrato de Cooperacão Técnica


e Financeira, assinado entre o CETEC e a FINEP

Belo Horizonte / 1985


FUNDAÇÃO CENTRO TECNOL0GICO DE MINAS GERAIS/CETEC

Presidente
Milton de Lima Filho

Djretor Geral
João Nelson de Senna

Diretor de Relações Externas


Evaldo Abdala

Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento


Geraldo de Queiroz Cançado Sobrinho

Diretor Administrativo e Financeiro


carlos Armando Gontijo César

Superintendência de Desenvolvimento TecnolÓgico


Rubem Braga

EQUIPE T~CNICA

• Ricardo Mendes Mineiro - (Coordenador)


• Cássio Humberto Versiani Velloso
• Alceu Castello Branco
• Eustáquio Lembi de Faria - (Gestor Financeiro)
• Jorge Enrique Mendoza Posada - (Consultor)
-------APRESENTAÇÃO-----------------------------------------

Viajando a cavalo, dormindo em pequenos povoados, discutindo projetos


com a população rural, trabalhando junto com lavradores como
pedreiros ou marceneiros, um grupo de técnicos do CETEC parece querer
mostrar que é possível descentralizar determinada parcela da produção
tecnolÓgica e colocá-la ao alcance do povo.

t o término de uma época em que os limites do pesquisador sao paredes


de laboratórios herméticos. O CETEC hoje reconhece a dimensão social
da tecnologia, e, ao abrir suas portas, firma a intenção de estender
os beneficios de sua produção a outros segmentos da sociedade.

No projeto que se apresenta, o saber popular emerge enriquecendo o


conhecimento de técnicos especializados e os valores tecnolÓgicos
s~ defrontam com valores culturais, num processo que acabou por
caracterizar uma OBRA APROPRIADA como aquela que, al~m de sÓlida e
economicamente adequada, seja principalmente socialmente justa.

Agradecemos aos agricultores por terem compartilhado conosco desta


experiência de progresso.

~~~~Pk~~
~ NELSON DE SENNA
-----AGRADECIMENTOS-------------------------------------------------

Agnaldo Quintela, Aluísio Marri, Cordélia Alves Rios,


Domingos Sávio Lara, Eduardo Barroso Neto, Elizabeth Pinto
Guedes, Fernando Nierland Ribeiro, Hygina Bruzzi de Mello,
Juliana do Couto Bemfica, Luiz Marcos Magalhães Gomes,
Marcelo de Resende, Maurício Andrés Ribeiro, Maurício
Galinkin, Octávio Elísio Alves de Brito, Patrícia Mascarenhas
Lanari, Pe. Ozanan/Paróquia de Juramento, Rodrigo Mineiro,
Rosemary Bichara, Rubem Braga, Sandra Rosa Nankran, Terezinha
Elisa Ferreira Lopes, toda população dos povoados, e em
especial a quem sempre esteve presente neste projeto:
Cláudio Francisco Martins Teixeira.
------INTRODUÇÃO-------------------------------------------

Esta publicação fala dos trabalhos do CETEC no rrn.micÍpio de Juramento - norte


do Estado de Minas Gerais - onde buscou-se investigar, na prática, questões
envolvendo a adoção de tecnologias apropriadas ao meio rural.

Ao relatar a experlencia, o que se espera é que transpareçam sugestões


metodolÓgicas capazes de iluminar iniciativas semelhantes que venham a ser
empreendidas.

Um primeiro aspecto, talvez marcante, é a forma como o trabalho segue escrito:


à semelhança de uma revista, descuida-se da linearidade em favor da
simultaneidade, esta mais fiel aos acontecimentos.

A linguagem jornalÍstica, associada à fotografia, utilizada intensamente nos


momentos de documentação técnica, tenta retratar a importância do relacionamento
pessoal e das emoções que o acompanham, em cada decisão ou ação levadas a
efeito.

A "qualidade" das interações entre os grupos - CEI'EC/Comunidade/Estado/Igreja,


etc. - foi fator determinante nas ações desencadeadas, assim cano foram
fundamentais as tecnologias materiais e Ol'ganizacionais para que estas ações
se transformassem em produtos.

Descartou-se o tradicional jargão técnico para adotar uma linguagEm que tentasse
expressar, com mais fidelidade, dois componentes indissociáveis: a tecnologia e
o homem.

Prucurou-se enfatizar 11TIDmentos" e "climas" em que as ações transcorreram, pela


crença de que os acontecimentos que possibilitaram ao CEI'EC experimentar e
implantar tecnologias em Juramento foram inteiramente dependentes da maneira
como se deram relacionamentos pessoais e entre grupos.

Pode serque muitas vezes fique difícil canpreender porque, em se tratando de


uma publicação voltada para a implantação de "tecnologias apropriadas", nao
se descreve a simples e curiosa tecnologia que associa o tijolo ao adobe,
aplicada na construção das fossas no povoado de Rio das Pedras, ou perdoar o
pouco espaço reservado à escola construÍda em Laranjão, já que ela foi uma
situação exemplar da Tecnologia Apropriada, viabilizada a partir de um
impressionante envolvimento popular. Talvez também pareça desproporcional a
curta referência feita ao trabalho em Glaucilândia, frente ao empenho e à
perseverança de seus habitantes: mesmo "fracos" e pobres, conseguiram '::ffi
terreno de 12.000 m2 dentro da cidade, onde, com a construção do armazem,
esperam sanar o problema endêmico da fome de crianças.

Por fim, se as coisas não parecem estar bem distribuÍdas, é porque ainda não é
possível alinhar, cano metodologia, fatores que foram e que são vitais a estes
projetos: variações climáticas, particularidades da cultura regional,
relacionamentos pessoais ...
JURAMENTO

p / BOCAIUVA

Mapa Municipal de Juramento · MG


J 2 1s 5;0 7j5 IOjOkm

ESCAL A APROXIMA DA I : 250000


Juramento é um desses pequenos seguindo a estrada, porém, é possível
municípios no norte do Estado, um dos entrever os trechos irrigados das
lugares mais pobres do sertão mineiro. propriedades dos dezessete grandes
A sede do município é uma ''rua fazendeiros locais. são eles os
principal", que é a continuação da responsáveis por quase toda a renda do
estrada que vem de Montes Claros. Nela municÍ:;JiO, que tem seu orçamento
se alinha um punhado de pequenos atrelado às atividades da pecuária e
estabelecimentos onde se encontra ''de agricultura.
tudo": desde artefatos de couro, sacos
de arroz , gcc~afas de cachaça e vinho ~stes fazendelros , em sua maioria,
''Precioso", rolos de fwno, até estão ausentes, morando em Montes
alfinetes, xampus e outras Claros ou Belo Horizonte. Presentes
quinquilffi.rias. Uma série de t:otequi ns estão os 5.7 00 habitantes de Juramento,
recebe rápidos frequentadores e a pequenos agricultores insistindo no
impressão é de ausência e lentidão, sob cultivo de mii.ho e fei jão , em
um sol forte nas calçadas sem árvores. propriedades que não u~trapassam dez
O adro da igrej a se abre para a ''rua'' e hectares.
a prefeitura, a escola e o destacamento
policial estão concentrados nesse eixo O ponto mais alto da reg1.c10 2 c povoado
simples. de Pau d' Óleo. Depois dele, se sucedem
lugares de romes estranhos cano Rio das
Uma porta e duas janelas simétricas , Pedras , Laranj ão, G:Laucilândia , Tabocal,
modo que se repete nas moradias de Aperto . Estes povoados iniciam uma
adobe, escondeo os fatos: numa casa experiência em que a força obtida
assim, mora uma velhinha que reclarrB. através da urt.._ão da J=üpulação consegue
prov idências para as paredes do fundo, que a paisagem social e cultural se
prestes a ruírem. Muda para o quarto da modifique numa reação coletiva à
frente, com medo de acordar esmagada situação de miséria.
numa noite de chuva.
7
A terra é seca, as árvores estão sem
folhas apÓs dois anos sem chuvas;

Cidade de J u rame n ~o.


Nessa cidade de Juramento, no início de Bn seu texto justificativo, encontra-se:
1977 , aporta uma equipe de técnicos do ". . . A implantação de modelos
CETEC/Fundação Centro TecnolÓgico de altet"'nativos para aproveitamento de
Minas Gerais, interessados num local recursos naturais e adoção de técnicas
que se preste a ser área expet"'imental apropriadas , aliados a formas de
de um projeto de Ecodesenvolvimento, organização ccmunitâria que garantam a
baseado nas teorias do economista população contra a ação de
franco-polonês Ignacy Sachs. intermediários, podem constituir-se em
fatores de grande importância econômica.
As propostas de Sachs têm cano elemento
conceitual uma "tecnologia al tern.ativa", O municÍpio de Juramento, na região
pela qual se rEdefinem as estratégias norte mineira, pode representar a
de desenvolvimento. Levam em conta oportunidade de se colocar em prática
contextos ecolÓgicos e econômicos conceitos que, entre nós, não
particulares , num caminho intermediário alcançaram sequer um lugar de destaque
entre o "economismo" e suas ações no discurso acadêmico. Propõe-se uma
prEdatórias e o "ecologismo" postura metodolÓgica que exige a
simplesmente preservador da natureza. intet"'disciplinaridade como forma de
trabalho, sem a separação entre uma
O município foi descoberto pelos lÓgica instrumental e urna lÓgica das
técnicos do CETEC a partir de uma finalidades. Ai está a grande
reportagem publicada logo apÓs as contribuição que os recentes estudos,
eleições de 1976 em que o prefeito que se situam no quadro da chamada
recén-enpossado, Fialho Pacheco, se "teoria do Ecodesenvolvirnento",
propunha a fazer uma administração com apresentam tanto para os que se dedicam
a participação da ccmunidade. Além aos trab<7lhos a~adêmicos , como também,
disso, rewsava qualquer tipo de e com maJ.or razao, para os que se
desenvolvimento industrial que não encontram no interior de urna
tivesse uma "vocação regional": organização estatal, com
responsabilidades diretas no processo
"Numa Jteuni.ão de. p'Le..d,e.-LtoJ em que. ;todoJ de desenvolvimento.
bJL.i.gavam peioJ b e.ne.fi-<.c.io~ da SUVENE e
8 da bui1L6:tiU..a..lizaçã.o, Pac.he.c.o c.aMava A proposta do Projeto de Tecnologia
uc.ânda-to poJt .tr..enega!t M c.hamin"M e. a Apropriada se norteia pelo seguinte:
pofui~ã.o 1 a~..úunando que. em J eu
mLUÚup.i.o Jo haveJL.i.a fuga!L p1.tr..a a a) aproveitamento dos recursos locais ;
ag.tr..ic.uUwta e. o J aneam e.n:to bâõic.o. b) utilização social desses recursos
Comida. pa!ta. o povo e. gu e.Jr..Jr..a ab eJt;ta a.o para a população local;
"ba..tr..beüw" 1 o :teJttclvet bta.MrniJM.tr.. do
Ma-t de. ChagM 1 doenç.a e.ndêmic.á. da c) desenvolvimento de tecnologias
Jtegião". {"0 V.dado de. Sã.o Pa.ulo" - apropriadas ao contexto ecolÓgico
10/1/82) e social;
d) fortalecimento de urna estrutura
Idéias que fundamentavam um plano de institucional que possibilite a
governo perfeitamente afinado com os participação efetiva da população;
pressupostos básicos do
Eccx:iesenvolvirnento defendido por Ignacy e) aumento das oportunidades econômicas
Sachs ••. e do nível de renda da população;
f) formulação de programas de educação,
* * * visando a melhoria das condições
ambientais.
O projeto Juramento(*) visa, a priori,
o aproveitamento da enet"'gia eólica
(dos ventos) e o uso de biodigestores , . A existência de potencial para
isto quando o paÍs incentiva a busca de mobilização da população em mutirões
alternativas energéticas. Propõe também fornece as condições básicas para se
iniciativas corno c revestimento de experimentar em Juramento um projeto de
habitações, hortas comunitárias ou tecnologia apropriada; a atual
granjas ecológicas (sistema integrado a.d.Jni?istração municipal de Juramento
mdeas sobras de um determinado tipo esta introduzindo sistema de mutirão
de produção são insumos para outros). para as construções da cidade ... "

(* l Proje~o. Jur~ento - "Projeto !:ispecial de Ecodesenvol.ri:nento em Pequenas corr.l!nidades", financiado pela


SuperJ.n~e::dencia de A:ticulaçao cor:1 os Municípios/SAREM, Clrgão da SEPLIIN/Secretaria de Planejamento
da Pres1dencia da Republica.
Inici~das ~s ~iagens de reconhecimento, os m~io~ de atuação, identificando
a equl~e. tecnl ~a encontra inteiro apoio pos~lVels projetos . A equipe prevê,
da admlnlstraçao municip:ll . entao , a neces s idade de perceber 0
desenho cultural do local - a
Bem recebidos , são frequentes os or ganiza9ão ~~cial , o comportamento , as
churrascos e f es tas e grande a tecnologlas Ja existentes - antes de
distância do povo :
desencadear qualquer atividade prática.
"0-6 moJtadO!Le/.J da udade. -6ão home.YIJ.J ~m ~evantamento sócio-econômico deveria
eafado-6, vagam na !Lua e.nt!Le. ~avafo-6 lndlc~ os recursos potenciais a s erem
mag!Lo-6,~po!Leo-6 e. eãe.-6. Quando eonve.!L-6am, a proveltados economicament e para e l evar
-6e. man~e.m a6a-6~ado-6 un-6 ~o-6 out!Lo-6 e. a renda do município.
fog o _d e.po~-6, eo~nuam a eaminhada e;mo
~e. .Uve/.J-6e.m uma !Latina e.-6;tab e.fe.e..lda. Ênfa se es pecial merece o conhecimento
E um quad!Lo de. m..é-6Vúa e. !Le.-6~gnaç_ão." das f ormas como a população local
(Re.fa~Õ~o I~e.JL no) t rabal ha seus recursos e de como cOT!l
,, od
s eus m o~ ~e ~a zer e usar'' garante
~·_ta sobrevl vencla.

No caso , um modo de t ri lhar um caminho


. .
perrrutlsse -
que conduzi sse a infurrr,ações concretas
ao cor po tecnico chegar mais'
perto da vi da do homem rurG.l e
oferecesse uma vlsa o geral da
capacidade manufat ur eira da regi ão .

Neste moment o , é mui to importante saber


o que fazem e como fazem , para que seja
poss í vel adequar as pretensões t écnicas
do.projeto às habi l ~dades da população ,
evltando a transferencia de tecnologias
Distanciada , a maior parte· dos culturalment e agressivas . 9
habitantes permanece obediente ao
sistema a que foi habituada : autoridade Passam- se , com isto , doze meses de
e povo não se misturam . O projeto , levantamentos e pesquisas . Técnicos de
entretanto , prevê sua participação em várias especi alidades viajam e traz6n
todos os momentos : uma reviravolta no consigo dados sobre sua área de
costume . interesse . Descobre - se que muitos
daqueles agricultores são também
Os técnicos do CETEC são "os doutores" artesãos: nas horas vagas , manipc1lam e
representantes do Estado e , por isto, fabricam ferramentas , constroem objetos
vistos com um sentimento misto de medo , utilitários e necessários ao s eu
desconfiança e respeito . cotidiano .

A aproximação deverá ser feita Conversando , fotografando e medindo,


lentamente e com cautela polÍtica, uma apreende- se a arquitetura utilizada,
vez que o prefeito já havia desistido entende- se a engenharia predominante na
de tomar qualquer iniciativa de região e seus probl6nas .
mobilizar a população . (Abandonou o
que para o CETEC , era o mais atraente Nessa fase, ocorrem os primeiros
em sua plataforma ). contatos eficientes: relacionamentos
interpessoais que acabam nas vendas em
Como seria , enTão , possível ouvir o torno de mesas de sinuca , jogos onde os
povo , se na cidade não havia nenhuma parceiros se revezam entre uma cachaça
forma de organização que o congregasse? e outra . Estava aberto o caminho .

Uma primeira tentativa é a de deslocar CorrD su~erpor informações tão diversas


um técnico para residir em Juramento : :: especlfi~as - informações técnicas -
s eria o " Contato Permanente com a as impressoes pessoais recolhidas por
Corrunidade" - uma forma de estreitar o mais de 15 profissionais durante seus
relacionamento através do convívio , trabalhos em campo e transformá - las em
aproximando-o da realidade , localizando objetivos?
10
I': conum encontrar solre as bancadas
feitos de sobra de rraterial.

Dn redaçÕes escolares os meninos expressaram o _que tem, o


Des dobramento manua l de made ira. 11
que sentem e o que querem .
I\ 1\ \
_).- ]{ ·;f
I
l
(I ,

Um aro de bicicleta é a princ ipal roldana de um


torno manual .
-··
.. ·_..:.----

A cadeira cheia de mecanismos inteligentes e a e s pingarda Um triturador doméstico para um lugar onde não há
são produtos de um só artesão. energia elétri ca.
Didi Cesteiro, conhecido das pescrüsas ,
En Belo Horizonte, realiza- se o 19 Zezão, dos bares,e Seu Durvalino mor~
SimpÓsio Internacional de Tecmlogia numa mesma encosta na periferia da
Apropriada e Ecodesenvolvimento - cidade . Ali, oito famÍlias , p3.ra terem
SINI'N7 8 . O Projeto Juramento tema água, sobem o rrorro até o chafariz e
caráter internacioral e p3.ssa a ser descem com a l ata cheia na cabeça . Duas
conhec ido oos princi pais centros de viagens p:w dia bastam, acostumados que
pesquisa e tecnologia mundiais . Nesse são a usar a mesma p:Jrção de água para
SimpÓsio , evidenciou- se a necessidade vários fins .
de serem iniciados imediatamente
trabalhos práticos que :r:udessem mostrar A existência do chafari z , a topografia
se era possível passar o do lugar , a má utilização da água e , em
frodesenvolvimento da teoria para a particular, o fato de serem pessoas
prática. conhecidas constitui uma oportunidade
bastante favorável para a implantação
O Projeto Juramento era a primeira de um dos mais fascinantes exemplos de
tentativa dirigida neste sentido , no "Tecnologia Alternativa '': um sistema de
Brasil. adução de água onde o condutor é o
bambu .
A amizade com a população havia
crescido em Juramento e era bom o Por que o bambu ? As pessoas conhecem ,
relacionamento com a Igreja , os existem bambuzais p:Jr perto e é um
v6"eadores e a polÍcia . O di to ''povo e material mais barato que o PVC .
autoridade não se misturam'' estava
pronto para ser desmentido . O CETEC Procurados , Didi , Zezão e seu Durvalino
seria a ponte. marcam uma reunião com todos os
moradores. Apems os "!tomens comparecem .
Explica- se a intenção do projeto como
um todo . Eles manifestam suas
aspirações: reforma de telhados ,
12 revestimento de casas , pintura .. . Todas
elas relacionadas com a habitação .
Assim , procedeu- se a um estudo , o mais A ques tão da água é abordada pelo CETEC
sistemático possível , das informações e , como é necessidade geral , t os se
recolhi das : um grupo de propostas vem à rrobili?am . Divide- se o grup:J em dois :
tona e nele incluem- se uma Lagoa de uma metade trabalha no revestimento das
Estabilização (tratamento de esgoto com casas e a outra, na c nalização . l"Iesrro
algas antes que chegue ao rio) , a sem saberem corro é p:Jssivel transpor ar
otimização do uso dos recursos vegetais água pelo bambu - "ele é: .ú dup-tdo de
da região , medidas de saneamento , vtÕ" - o projeto de canalização é uma
granja ecolÓgica. Pdota- se , enfim, atividade que deslancha l
várias das sugestões que a teoria do
Ecodesenvolvimento distribuía mundo
afora . A implantação fÍsica destes
projetos seguiria um Plano do Uso do
Solo e da Água, elaborado para orientar
o desenvolvimento espacial da cidade ,
na medida em que as inovações fossem
ocorrendo .

Cerca de dez pessoas trabalham todo o


ài~, d&sàe a hora em que o sol nasce
até quando ele se põe . Todos opinando ,
chega - se a um sistema que soluciona as
dificul dades mais comuns neste tipo de
• • • · A.II'I!AS41ft'lltiCAII
tubulação, ou seja , as relaciomdas com
• · IQIU,t,II[AI~AAAOCU~
"" IUIIQOI OlllllrTA 00 1t10 j: o sistema de perfuração dos nós
internos e a vedação das conexões em
''T''.
A simples ligação de um tubo em outro não foi resolvida satis f atoriament e .
As duas casas mais próximas sao Como material, foi us ada a massa com a
servidas r::or urra rede de 7 5 m. de qual t i nham costume de trabalhar. Seus
extensão . No entanto , a inclinação do componentes eram o pÓ de estrada, areia,
terreno é muito grande e são constantes esterco de gado e água . Com exceção da
os vazamentos em conexões . areia , doada pelo CETEC, todos os
outros materiais encontravam-se
Uma extensa bibliografia internaci ona l disponíveis nas proximidades .
da como certa a :p::rformance do bambu
.coTTD condutor de á gua r::or um longo A pro_pJrção de c ada um destes
perÍcx:lo de temr::o . Eln sua maiori a , es t as componentes foi determinada livremente
teorias consideram o bambu um material pelo morador, segundo sua preferência ,
uniforme , indeformável e que cabendo ao grur::o segui-la .
pror::orciona uma tubulação regular . Na
realiclade , r::orén , as peças são
diferentes umas das outras , os
diâmetros variam e as soluções r::arecem
muito difÍ ceis . são tentadas as
alternativas cons ideradas mais viáveis,
r::orém nada dá certo . Q.linze dias de
trabalho e não é possível controlar os
vazamentos . A maior parte do serviço
executado deveria ser destruída p:ira
que fossem adaptadas caixas de alÍvio
de pressão . Eram mais quinze di as de
trabalho e não havia disposição para
isto . Além do mais, o dinheiro que o
CETEC gastava :p::tra manter seus técnicos
em camr::o era suficiente r::ara fazer a O bar be i ro d e c haga s s e a l oja nas fr e stas
adução em PVC e, ao mesmo tempo , entre os adobes
revestir 50 casas , ou seja , todas as Elnbora algumas misturas se mostrassem
casas que necessitavam de revestimento aparentemente melhores do que outras ,
14 na cidade . o fato de não interferir dava aos
técnicos a condição de avaliar
Esta. primeira experiência concreta não posteriormente o comportamento de cada
deu c erto . Apesar de tecnicament e uma. A .equipe, trabalhando junto, teria
viável , nunca havia sido tentada a oportunidade de aprender e exercitar
anteriormente , nem r::or eles , nem pel a a antiga tecnologia utilizada para
equ1pe . revestimento das habitações da região .

Seu fracasso s0 não resultou na


completa descrença da população no
projeto do CETEC e , consequentemente ,
na sua saí da da região porque , ao mesmo
tempo em que se tentava o sistema de
canalização, uma outra r::art e dos
moradores trabalhava , também em mutirãO ,
no revestimento das casas .
O fato deixa trans:p::trecer o risco
corrido ao se tentar , numa primeira
abordagem , uma experiência rova da qual
não s e domina a tecnologia e se agrava
mais quando não s e trata de uma
sugestão que tenha partido da
comunidade .
A atividade é essencialmente masculina
Simultaneamente à canali zação da água , e , como exceção, uma viúva trabalha à
os técnicos s e reuniram ao restante dos r::arte do grupo, ajudada apenas pelo
moradores ro revestimento das casas . filho.
O adobe , material usado na construção ApÓs o revestimento, a casa é pintada
das moradias l ocais , aloja em suas com cal. A viúva compra uma lata de
fre stas o ''barbeiro '' , resr::onsável pela tinta vermelha , mistura à cal e faz com
grande incidência da Doença de Chagas , que sua casa fique cor-de- rosa,
e o revestimento evita sua proliferação. destacando-se das outras, todas brancas .
A cal foi cedida pelo CETEC pelas suas disseminador das cas as pintadas .
vantagens saneadoras , entre elas , a Localizadas no alto do morro , vis íveis
possibilidade de se ter maior controle para pr2ticamente toda a cidade ,
de frestas e o fato do barbeiro chamaram a atenção da população . A
dificilmente passar despercebido sobre partir daÍ , foram inÚmeras as
uma parede clara e uniforme . solicitações : queriam dinheiro para
~urpreenceu , entretanto , o efeito comprar , construir e reformar casas .
15
-
À medida em que os ob jetivos do
projeto foram sendo esclarecidos ,
surgiram grup:Js organizados buscando
apoi o para seus projetos . Todas estas
iniciativas tinham um ponto em comum :
não necessitavam do CETEC para serem
consumadas :

"Passando pela estrada, João Cutileiro p§.ra o carro: quer ajuda


para colocar uma torneira de uso comum no seu morro. Ele e seus
v izinhos não têm água, embora o cano da rede de distribuição passe
em frente às suas casas.
Haviarn se reunido e decidido se cotizarem para oomprar a torneira
e pagar as despesas necessárias:
"- 'I\.ldo unido, tem o que não pede sozinho; agora tarno na
derendença do senhor pra água".
Mas , por que, se tudo já está r esolvido?
O CETEC não atende o [€dido e o plano morre. Passados dois meses,
o CETEC, entretanto, volta atrás e promove duas reuniões. Nelas,
discutem-se os procedimentos necessários para a obtenção da
concessão e o estabelecimento da forma como o consumo poderá ser
medido prra evitar que aquele que gaste p:JUca água nãc pague igual
àquele que consome muita. A torneira foi instalada."
(Relatório Interno)

(Oito meses depois, a conces~ão f oi cassada. A legislação da


canpanhia de abastecimento nao permite o usufruto da água pelo
sis tena de condanínio) .
A dependência da ~esença do CETEC em superar necessidades ime::iiatas. H3.viam
iniciativas deste tir:o r:ode ser ercontrado uma forma de não adiar mais
explicada de várias maneiras. Seja qual o atendimento de algumas aspirações
for o rrotivo que se encontre para essenciais.
justificá-la, não se deve esquecer que
a conclusão dos trabalhos só foi Sempre exigindo a presença do CETEC,
possível na medida em que foi dado a construíram fossas, revestinam casas e
esses grupos o apoio que queriam: obtiveram água, até que alguns
algurras vezes, apems a presença foi fazendeiros a donos de venda passaram a
suficiente para desencadear os cha:rrar os têchicos de "cc:munistas" e,
pr'ocessos . para o pequeno agricultor da região,
"c.omuY!rÚta apeia do d.-úc.o voad011., Jz.ouba
Esta observação talvez contenha uma a pv.,l.loa e. põe. ;te.Jz.mo 11e.la e.m São Pa.ul.o".
objetividade muito importante no
desenvolvimento de trabalhos A reação espalha-se, chega em Montes
p3.rticipativos: quando a tarefa é Claros e Belo Horizonte.
valiosa e justa, convém não perder
tenr:o en especulaçÕes intelectuais ; O técnico residente na cidade é
melhor executá-la. Ganha-se temr:o. chamado de volta a Belo Horizonte.
Opta por Juramento e fica sem o
Desta fonra, rasceram em Juramento as em~ego.
primeiras organizações inforrrais. En 1979, muda o Guverno. A Secretaria
Pessoas mobilizando-se temporariamente de Ciência e Tecnologia desinteressa-se
ra busca de, juntas , conseguirem do projeto e ele r:âra.

ib te.'ltar fazer um :t:alanço do projeto, o Jornal ''O Estado de Silo


Paulo" p.1blica :
"Mas hcuve quem, no Governo de Minas e fora dele, tivesse certa
16 apreensão cem tais trabalhos i se desse certo, argumentavam alguns,
o trabalho ccmunitário seria esten:lido a tantos pequenos
numicipios, em Minas e no país tcdo, que logo a coisa se tornaria
uma espécie de }:eriqosa coo,ueluche: "não seria o primeiro passo
p:rra o carunisrno?", indagava, no sossEgo de seu gabinete, um velho
rolitico mineiro".

"Eles querem recorreçar. Mas, se de~nder do Governo de Minas -


confessa um alto funcionário do Esta:lo, contrário à exoeriência -
o Projeto Juramento jamais será reativado. Fatalista, apertamo o
nó da gravata, franzindo a testa cheio de comiseração, ele fecha
uma pasta cheia de relatórios e, grave, sentencia: "no pa:r:el, era
tudo muito bonito, o inicio da redenção. NÓs nos esquecemos,
r:orérn, da natureza humana. Não ia dar certo i e não deu."
(10 de janeiro de 1982) .
Haveria resistência para aceitar a
Dois mrários :por dia, entre livros e volta do CETEC?
quatro p3.redes , sobre a prancheta, na
ofi cina ou de guarda-rx) em laboratórios
assépticos ... a tecnologia pode ser O município tem duas povoações
desenvolvida em vários cenários e com principais: Juramento, sede municipal,
figurinos diversos. O tre.balho de e Glaucilândia, nascida em função da
Juramento tre.zia para o técnico a Estação Ferroviária.
novidade de poder desenvol ver sua
tecnologia bem perto do problema.
Oferec ia-lhe uma oportunidade que as
condições acadêmicas negavam.

Acostumados a dar soluções como quem


corrige defeitos mecânicos , tendem a
desligar o problema do homem e de seu
contexto social . Ao não considerar a
circunstânci~ social, r oubam a
identidade de cada caso , colocando-se
próximo da imposição e alienação ...
Conhecer , sentir o problerm, vê-lo ir
sendo superado aos poucos e comemorar,
era diferente de ouvi-lo , lê-lo,
entendê-lo , reso l vê-lo à distância e
pegar o salário .

Naquele momento, as dificuldades da


realidade eram mais interessantes do
que a f i cção lÚdica.
Além dessas ''cidades 11 , existem alguns
É inegável que as duas s ituações têm povoados dispersos no interior: são 17
seus momentos e sua c onveniênc ia. aglomerados de poucas edificações , em
Conseguem- se resultados positivos nos geral pequenos estabelecimentos que
dois casos , mas o novo caminho estava prestam alguns servi ços l::Bsicos ã
repleto de informações novas. po:pJlação de uma área circunscrita. De
difÍc il acesso e castigados pela
pobreza , esses lugarejos encarregam-se,
(1981) - Técnicos do CETEC ins istem e, entretanto, da distribuição dos
por conta prÓpria, continuam produtos necessários à população , sendo
frequentando a região em busca de também centralizadores de relações
informações p3.ra a fundamentação de produtivas .
uma nova Proposta de Projeto, a ser
sutmetida à FH!EP/Financiadora de Apesar das moradias serem dispersas,
Estudos E Projetos . algumas di s tantes até 7 km, a igreja, a
escola e as vendas contribuem para
desenhar os povoados e fazê-los suporte
O principal destE projeto é, então , o de uma vida coletiva . Nas festas,
interesse em gerar uma metodologia que comemorações e nos "dias de folga '',
permita mior eficiência nos programas congregam os pequenos agricultores da
de implantação de tecnologias vizinhança e ''viram cidade''.
apropriadas ao meio rural. Seu
desenvolvimento prevê um extenso Os tnnes de futerol têm o nome dos
tral:Blho em campo - levantamentos e lugares e as pessoas se dizem de lá.
obras - e, consequentemente, um intenso Assim, apesar de não constarem dos
conví vio can a poPJlação rural do mpas , chegam a ter uma população de
municÍpio . Nesta tentativa de 800 habitantes. Interligados por
coexistência de realidades distintas caminhos de trânsito precário,
(cano reconhecer, apreender ou proror - apresentam muitas vezes um
o que é importante para o técnico pode comportamento coletivo personalizado:
não sê- lo para a comunidade), o projeto os hábitos de um são l:Bstante diversos
esbarra numa dificuldade: a experiência daqueles encontrados em outro.
anterior do CETEC gerou uma expectativa
e foi interrompida de repente.
Povoado d e Pau d ' Úleo .

Pau d ' 6leo , o povoado mai s proxi.Jm da Trata- se de uma obra ambiciosa que
cidade de J uramento - 17 km - é um sempre foi alvo de promessas pol Í ticas
18 amont oa do disperso de 4 0 ou 50 casas . e, lÊ tenpos , ven desafiando inúmeras
Vive- s e ali o sonho de Antonio Soares administrações: levar a Pau d ' Ôleo a
de Abreu, o "Tonho" • Empregado numa água da Chapada do Catuni - divisora
empresa ref lorestadora, convive com a s dos Vales do Jequitinhonha e são
ver eda s , cuj os ol hos d'água vão formar Frarcisco. são 4 . 8 OO m de tubul ação
o Rio Verde . Ao mesmo tempo em que o que deverão atravessar a s plores
emprego lhe ensina novas técnicas de condições t opográficas - uma obra
construção , "Tonho" visualiza a tecnicamente arroj ada :
possibilidade de concretizar o sonho
11
antigo de seu povo - a água. A partir Vuo e.vzge.nhe.-iJ1.o, ac.ho qu e. de. Montu
disso , passou a r eunir-se C.taJtol.), 6a.tou que. não tinha c.ondição e.
periodicament e com outros moradores de que. ptLe.wava de. uma t oMe. de. 80 me.tJtol.) .
Pau d '6leo. Ac.abaJtam c.om noM o p.tano, mM nÓ!.) não
paJtamol.) de. pe.n.l.)aJt na água boa! 11
Seja por necessidade de assegurar o (Joaql.Um Gahüno - CECOMP - 11 E/.)tad o de.
f inanciamento da FINEP, através do MinM 11 ~ 79 de. ju.tho de. 198 3) •
Embasament o decorrente de um maior
conhecimento da região, seja pelo A verdade é que os lugares por onde a
desafio de al:::a s t ecer de água um povoado, rede passaria eram, em sua rraioria , de
a través da uniã o popular, os técnicos - difÍcil acesso e ninguém os conhec i a
do CETEC participam com frequência das cano os peque.ros agricultores , "filhos
r euniões nas guai s a população discute da terra''. Eles achavam que era
os meio s posslveis de s e fazer a obra possÍvel ter aquela água ; para ist o ,
da adução . En consequência, traba.lham estavam somando o que tinham :
com os moradores , executando com eles necessidade, vontade e o conheciment o .
os primeiros l evantamentos e medições
da r ede :
11
O c.hamado c.he.g ou po!t c.a.Jcta. Como dM
ou..bta.l.) v e.ze.-6, um gJtUpo de. pe.-6.60M !.) e.
Jte.urU.a e.m toJtno de. uma ne.c.e.M-úiade. e.
l.)olic.itava ajuda do têc.nic.o do CETEC
p:Vz.a .te.vaJt o p!to j e.to a te.Jtmo. 11
"O carreteiro Zé Costa me es:p=rava na cidade de Juramento, cano foi
canbinado. Na estrada que leva a Pau d 'Óleo, ele não pira de falar:

- "Moço de estudo ajudando pobre ... tan menino que sabe que nem o
senhor, san nunca ter tirado o ré da terra ... que eu vi no colo ...
Tem muitos medos de aprender. Comum aqui é o ensino da idade.
A dificulidade é pr-ofessora. Pois, drutor, minha idade é minha
r::otença."

A fala do zé Costa, 50 anos, 9 filhos e analfabeto, era cheia de mn


sentimento incnmum.
A insegurança aumentou; além do mais, eu não conhecia ninguém no
:p:::>voado para onde estava indo . "

"Ehl Pau d 'óleo, já de noite, os agricultores me rodearam e contaram


da água. Marcamos a mErlição para o dia seguinte. Chegou sanfona,
frango assado e mui ta gente. Tcdo o mundo falando, eu não guardava
os nanes e confurrlia as caras . As quatro horas da manhã, eles
conversavam alto, cortando os piquetes debaixo de minha janela.
Duas caminhonetes esperavam na porta com as carrocerias já c heias
de lavradores com suas ferramentas . Subimo s para a nascente d'água.
Vinte hanens trabalh:mdo, a medição ficou pronta em dois d i a s
corridos. Como não havia teodolito, foi utili zado um clinâmetro
associado a uma híssola, um bastão e uma trena."
(Relatório Interno)

19

necessidade, vontade e conhecimento.


Trabalho executado, resta saber como Este projeto tem por suporte a busca de
conseguir 4.800 metros de tubulação, tecnologias de construção civil
respiros, registros e o material apropriadas à região e prevê a
necessário para a construção das caixas aplicação das tecnologias desenvolvidas
d 'ágta. em obras de interesse comum. Para isto,
espera conseguir o envolvimento de
P.ara tornar possível o acesso a parte considerável da comunidade. O
finan::::iamentos oficiais, o CEI'EC, ·:çovo deverá determiror o que será
juntamente can a Igreja, orienta a construído: igreja, posto de saúde,
população ro sentido de se formar uma armazéns de estocagem, silos, escola,
Associação Canuni tária com qualquer coisa, desde que na área da
personalidade jurÍdica prÓpria. construção civil, a espinha dorsal
A entidade nasce: desta tentativa de transferência de
tecnologia.
"O moç.o do CETEC .6e. ju.YLtou. ã IJunã
E.6pVta.nç.a e. dvr..am a .6u.ge..6,tâo da Além disso, p:rr>a que esta transferência
A6.6oeiaç.ão. Falanam da impo4tância se efe-t;ive e sua disseminação seja
del-a pOJr.qu.e., a.btavé6 da M.6ouaç.ão, :r;:ossível, ê importante gue a população
.6 eJÚa mai.6 6â.ú.f.. adquiJÚ!t u.m d-i.nheJJr.o trabalhe junto com os tecnicos. O
pa.M pode.4 paga4 a c.anaüzaç.ão da trabalho em rrutirão , pela sua
água. . . PIVÚrleúc.o no-6 4e.wúmo.6 e.m característica participativa, facilita
a.6.6embféia e. e..6c.ofhe.mo.6 o.6 c.and-i..dato-6. os processos de assimilação e
MMc.amo.6 o d-i.a da el.uç.ão e. todo mundo disseminação de tecnologias.
votou.."
["Tonho" - Vic.e.- P4e..6-i.de.nte. do CECOMP) • Durante as viagens feitas p:rr>a o
acompanhamento dos "trata.lhos da água,
várias foram as oportunidades de
Os membros do Centro Comuni târio de Pau visitar outros povoados.
d'Úleo/CECOMP fazem uma proposta a ser
enviada ao Programa de Desenvolvimento "Colli p4atic.ame.nte todo o mu.niclpio
de Comunidades/PRODECOM, Órgão sob a .6e.mp4e c.ond.uúdo e ap4e..6e.n:tado pe..f.o Zê
20 administração da SEPIAN/MG. Co.6ta." ( Re.fatâtúo In:teJtno)
Aprovada a proposta, é liberada a verba. Via -se agora corro Juramento era grame
para aquisição do material e o quanto havia sido tímida a
(Cr$ 3.096.000) e a comunidade se experiência com o Ecodesenvolvimento:
canpranete a trabalhar em sistema de concentrada na sede municipal,
mutirão: desenvolvera-se longe da maior parte
dos trabalhadores rurais.
"Mu..túz.ão a gente. .õabia o que. e..4a.
PMe.c.e. que. e: u.m mode..f.o antigo, não é.? O ''Projeto Juramento'' em sua primeira
Ajuntava todo mundo pMa ma.t:M u.m boi." fase ., com seus
.., .erros e desencontros,
-
(Anta nio SoMe..-6 de. Ab4e.u. - Lav4ado4) . servlu, no mlnlmo, para que nao se
repetisse a experiência em sua segunda
A administração municip:ü se rrantém fase. O novo projeto haveria de ter uma
ausente de qualquer uma destas inversão na forma de trabalro : ele se
jniciativas populares: desenvolveria agora a partir dos ·
povoados que, com a característica que
"Q.u.i-6 eJtam que. a gente. a.M inaM e. o tÊm de congregar as pessoas em um
c.ontM.to na ~e..6e.nç.a do ~e.6e.ito. P4a espaço reduzido, tor.namais acessível o
quê? A única c.oi.6a que. a gente. tinha de. caminm da organização popular. O
gMan.tia eM o noMo tJtabafho." desenvolvimento participativo seria -
tentado através de Associações e
(Vita-Uno - Come.fho Fil.lc.af do CFCOiviP). Conselhos Comunitários. Com
personalidade jurídica própria, estas
* * * entidades seriam um meio da p::>pulação
manifestar suas aspirações, além de
Neste clima de m::>bilização, é que ê dar legitimidade à participação
aprovada a proposta encaminffida à FINEP popular.
pelo CEI'EC, viabilizando o Projeto
''Prática de Implantação e Disseminação
de Tecmlogias Apropriadas ao Meio
Rural''. Restava saber corro iniciar o processo.
"ro meio-dia an :ponto, Zé Costa apareceu : iarros a uma "fogueira" -
festa em que são feitos leilões para arrecadar fundos para o Dia do
Padroeiro - que organizava em Congonhas, na Chapada do Catuni.
Er'a um largo na beira da estrada. Não havia ninguÉm e, no fundo,
via-se apenas um galpão de madeira san panrles, can a cobertura de
palmeiras verdes. Debaixo da cobertura, urnas tál::uas velhas
atravessadas formavam uma grarrle mesa.
Bem à frente do galpão, uma pilha. de madeira molha.da fcmnava a
fogueira, único indício de que haveria festa.
Ficamos os dois sentados na grama durante 4 horas, canendo farinha
de mandioca e tanarrlo cachaça. Vez por c:utra, passava alguém na
estrada, cumprimentava, parava, ficava olharrlo de longe para derois
seguir viagEm.
Caneçc:u a escurecer. Zé Costa levantou, tirou o revólver da cintura
e disparou cinco tiros pausadamente. Foi até o carro, buscc:u uma
toalha. branca e a estendeu sobre a mesa.
As pessoas não pararam mais de chegar. C,ente de todos os lugares.
Todos os povoados estavam representados. O sanfoneiro tocoo a no i te
toda e ninguém deixoo de dançar .
Ali, muito longe de casa, Zé Costa mais uma vez era dono do mundo:
o mais abraçado, o mais festejado e o mais alegre.
No leilão, arrematamos um frango e as duas únicas cervejas da
festa. ELa um presente prep:rrado [€lo Zé."

21

Zé Costa mais uma v ez era dono do mundo.

Neste dia , ficou resolvido: Zé Costa disposição do CETEC por oito meses,
(José dos Santos Costa), conhecido por recebendo o salário mínimo e mais as
sua popularidade, festeiro antigo, despesas de carreto. Nega- se a qualquer
agricultor e carreteiro na entressafra , documentação :
seria contratado pelo projeto como -
acompanhante e apresentador da equiEe " Pal_avM de. h.om em Vl.ao p!te.c.~a
técnica à população rural. Ficaria a a.õ.ó.iVLa;tww."
O retorno oficial do CETEC a Juramento (pesquisar até ) saber corro eles fazem
deu- se em 22 de fevereiro de 1983, seus projetos e como utilizam e sentem
quando foi autorizado o inÍ cio dos seus espaços .
traffilh::l s .
• Para se sugerir um processo constru lVO
O rovo projeto , apesar de alternativo e adequado , é preciso
fundamentalmente diferente do anterior, (pesquisar até) saber a tecnologia que
trazia a mesma estrutura metodolÓgica , utilizam em suas construções e o
ordenada de forma lÓgica e repertório tecnolÓgi co de que dispÕ~ .
convencional: inicia- se com exaustivas Assim por diante, até que as
pesquisas de fill'damentação informações traffilhadas permitam a ação.
(levantamentos e reconhecimento da
região ) , a pós o que procede- se à Cam uma metodologia r í gida busca- se
seleção e análise dos dados recolhidos , outra que perceba a quem vai servir ,
num esforço de objetivação que deve definindo- se como tecnologia a serviço
levar ao desenho de uma metodologia e , do homem. Ao invés de impor- se como
por fim , ao teste da mesma em obras solução acabada , seja sensível a um
concretas . contexto de características prÓprias .
Retrata- se a rigidez do comportamento
acadêmico : O levantamento da tecnologia de
fundamentar ~ analisar e ponderar -----;. arquitetura é considerado prioritário .
executar . Espera- se que ele dê as diretrizes para
que as obras sejam conduzidas "de forrrB
O conhecimento precedendo a açao ou condizente com a cultura local''. Como
ainda "é preciso conhecer para poder nasce uma arquitetura naqu ela roça?
fazer ": Afinal, ali não existem nem engenheiros ,
nem arquitetos ...
• Para . sugerir uma t~cnolo~ia de.
arqUltetura aproprlada, e prec lso
22
o
111
.....
o
'O
::l
~

23
TIPOL03IAS IDENTIFICADAS DURANTE OS LEVANTPMENTOS
Estas tipologias foram determinadas apenas para efeito de ordenação de pesquisa .

SEMI - URBANO SEMI - RURAL RURAL

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o
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u
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w...

(/)

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H
N
o
u
Procede-se ta.rrbém a liD1 inventário de objetos. Urra forina. de se
Obter 11 lll'l1 retrato" do habitat. Analisando os dados, talvez se
alcance o íntirro da arquitetura: a relação do horrem com o espaço
ambiental dorrésticx:>.

J'OR1.l.S L JM" [LAS

Foi has - rat . - nad ('i

IT13rco - ;,1d
rt-!' . - pní·l

... ;...
25
í "" ~ .. ' ' ·.·
_;... •• . •.t ' ·'· f ,J.

L t i li~aco rar a bolos


Cor. H ruçii c er at!ob('.
! ' , I ,• 1 \ , t ,'• I l'

:I ' • I ~ i

Em Pau d ' Ôlro, o sisteJ1'B. de adução -


O t:rB.l::alro de al:::astecimento de agua
encontra- se em fase de conclusão . desenvolvia, mais uma vez, com a
participação do CETEC.
11
••• não 6aúa .õe.ntido .óa.Á.A puquüando
de. c.a.ó a em c.a.ó a, e.nquan;to ;to do.ó e..õ;tão 11
••• ele..ó não c.onhec.iam o ;te.Jtmo TALUDE.
.õub-tndo pa!1.a a c.ovt.ó.t!tução do aç.ude.. E, )XJ!t mai.õ que eu expüc.a.6.6e, não
Mum o não M.ndo um da.ó ;té_c.I'U_c.O.ó que. en;tende.Jtam. No dia .õegtU.nte., An;torU_o,
c.uidwúam da.ó o bJta.ó no p!to j e;to, .6 ubi a Zê. Co.õ;ta, ÃR.vMo e eu 6omo.6 ve.Jt .õe o
.óe.JVW... c.om Zê. Co.ótiC • • 11 ladJtão do aç.ude e.õmva 6unc.ionando.
I.õ;to .6igrU_6ic.ava que o.ó pequeno.ó
(R efa;tôtúo de viagem) .
vazamento.õ que haviamo.ó deixado não
c.om~ome;te.Jtiam o aba.õ;tec__,{_men;to. E.õc.oava
água pelo .tadJtão e c.omemoJtam0.6 p.dando
de Jtoupa e ;tudo na lagoa ... 11
(Re..ta;tõuo in;te.Jtno ) .
Obra.s de const:ruç".io do açude de captação.

26

Enquanto os homens traba lham , as mulheres prepara m a carne seca .

Com a partici_pação en tral:::alho s deste alterações no contato com a organização


tiro , começa-se a perceber que , apesar social . Trabalhando com a comunidade ao
de todos os cuidados na elaroração da mesmo tempo em qu e sobre UJTt cronograma ,
metodologi a , os fatos correm fora de é de se esperar que este traduza as
qualquer ordem :prevista . possibilidades dos dois lados .

Se o :projeto conta com a participação A metodologia inicial passou a ser uma


r:opular , as etapas da pror:osta não linha- mestra e que teve de ser superada,
:çodem ser seguidas rigidamente . O acabando por constituir- se apenas em
dimensiornmento do temJXl (vinculado às SUJXlsição . Nada além de um :çonto de
eTBpas metodolÓgicas) sofre profundas p:J.rtida .
"A água cheg01 até o miolo de Pau d 1 6leo de uma distância de 4.800
metros, orrle fica a nascente, e para ligar os canos gastamos 1.260
dias. Mui tos trechos de canalização passaram :r-ela Serra da Gangorra
e ali, a vários metros do chão, os hanens trabalharam amarrados em
cordas, ccrn sérios riscos de vida."
(Antonio Soares de Abreu - Pau dI 6leo - "Folha de são Paulo" - 5 de
agosto de 1984) .

"Varros deixar o Horácio falar em nosso nane:


Meu narre é Horácio Alves de Abrru, nascido aqui, no Barreirinho.
Na pr-esença dos meus amigos, em tcda reunião. :t: uma grande
satisfação que eu trago no meu coração e estes d01tores que
chegaram aqui para nos dar tanta união! E depois, nossa alegria,
desta água chegar. Meus filhos trabalharam tanto, nós precisamos
lcuvar e dar graças a Deus para sanpre nos salvar. E no mais,
nossos amigos, a felicidade da água que agora aqui está!"
("Estado de Minas" - 19 de julho de 1983).

A chegada da água é inevitavelmente A p:trtir do trab:ilh:J de ab:istecimento


associada à presença do CETEC : os de água , a atuação do CETEC vai aos
rroradores sentem que , unidos , podem poucos se estendendo a outros povoados :
realmente construir coisas e melhorar
as condições de suas vidas , desde que
tenham alguma ajuda de fora . O CETEC
vence as possíveis resistências .

28

"Ai, Pau d óleo correçcu a fundar umaAss~iação e caneç..amos a


1

acordar junto com eles. Nós procuramos entender o que é uma


Associação e, depois de dois anos, furrlamos a nossa."
(Dionlsio - Centro Ccrnunitário do Povoado de Laranjão) .
Como . ~proximação inicial, rrarca- se wna Agindo de forma independente , cada
reunlao entre os habitantes e expÕe- se técnico forma em torno de si um rol de
o projeto . A primeira questão que se amizades pessoais sem perder as
apresenta á a de saber se na concepção características individuais de seu
dos moradores existe algum problema . comportamento. Ao se relacionar , cada
Problema identificado, a idéia é membro da equipe tem preservada sua
dli~ensionar uma tecnologia adequada pessoalidade e profissionalidade . Não
para a situação . mais como ocorrera no primeiro projeto
onde , sempre agindo em grupo, todos
Desta vez , o Ecodesenvolvimento , como acabavam sendo CETEC .
teoria, é objeto de uma lei ra rrais
ampla: a tecnologia apropriada é
associada ao uso de materiais rudes A possibilidade de ação individual foi ,
cQT\o o barro, o bambu, rras pode sem dÚvida , um grande trunfo do projeto.
acontecer também do concreto arrrado ser Tomando iniciativas , o técnico se
" 1prop::>j ado '' ao contexto. O conceito se sentiu responsável pelos resultados .
expressa na medida em que a tecnologia, Tinha constante avaliação de seus
além de apropriada , passe também a ser projetos , já que cada membro da equipe
apreensível para a comunidade . recebia das pessoas impressões do
trabalm do outro .
O segundo passo é saber se a solução do
problema é uma aspiração coletiva a Entre outras tantas vantagens , talvez a
ponto da população se propor a m~is importante : as ações individuais
participar can seu único recurso : o dao melhor contorno à atividade de
abalm , e que este possa agregar o coordenação - de chefia , passa a ser de
máximo possível de pesroas . apoio e direcionamento de objetivos -
uma tarefa estritamente polÍ tica .
Esta aproxirração li1icial foi facilitada
pelo trabalm da água e , em grande A valorização do trabalho coletivo , o
parte, pelo Zé Costa - uma opção que se desejo de uma gestão livre e a
mostrou acertada . socialização de benefÍ cios t i nham 29
implicações não previstas .
O projeto é desenvolvido por um grupo
de seis técnicos e a maioria não Quando se quer que as vantagens do
conhece Juramento . É preciso trabalm sejam distribuÍ das com isenção
acompanhá- los aos povoados e a uma sociedade inteira , não se pode
apresentá- los aos moradores . conviver com nenhuma circunstância de
submissão . Assim , para que tivessem
A liberdade de deslocamento que a livre utilização , as construções teriam
contratação do Zé Costa proporciona que ser feitas em terrenos pÚblicos ,
permite que cada um mantenffi sua forma ''p::iblico" aí significando "pertencente
própria de trabalhar , tenha _ ao povo" ; p::>r isto , terrenos da
op::>rtunidade de J::uscar suas informaçoes prefei tum não serviam . Uma iniciativa
livremente , quando e aonde queiram , e pop..1lar não poderia estar sob a tutela
de desencadear as ações que achem da administração municipal : m DTB. troca
ecessarlas . de prefeitos , mudam- se as mãos e
corre- se o risco de perder o trabalho .
Por outro lado , terra é muito difÍ cil
num meio onde só existem pequenos
agricultores . Tin cada povoado , um tipo
de negociação diferente acabaria por
resolver o probl ema .
A aquisição do terreno foi a primeira
manifestação associativa . Todos
contrituímm e agora tinham um terreno
comum. Junto com o terreno , um
compromisso : como entidades jurídicas,
as Associações teriam de pagar impostos,
o que , de certa forma, é o
reconhecimento oficia] de sua
:xistência .
Junho de 1983 - Os moradores de Pau á gua , de difÍ ci l acesso . O processo é
d ' Õleo se reúnem e identifi cam como desconhecido na região . A disposição da
problema imediato a fa l ta de uma pensão comunidade em tral::Blhar , devido talvez
p:rr'a as pessoas de for a - corro os à credi bi lidade obtida pelo CETEC com
soldados que vêm fazer o policiamento as obras do sistema de adução , não
das festas - um local p:rr'a r euniões da impede que a experiência seja mal
Associação ou para se fazer leilões , sucedi da .
enfim , uma casa canuni t ári a que supra
este tipo de necessidade . Depois da fase de reconhecimento e
i dent ificação de problemas , a
O CETEC se propõe a desenvolver uma tecno l ogia escolhida deveria ser
tecnolo ia muito antiga : a taipa de desenvolvida em ní vel de laboratório .
pilão . um sistema construtivo que Não hcuve tempo para isso ' rnis o
consiste em uma fôrma de madeira com perÍ odo de entressafra (quardo os
duas fileiras de tábuas p=iralelas , na agri cultores disp1nham de tempo ) esta v
qual se vai jogando terra e socando . A no fim . O processo apresentou defei os
adequação de tal sistema aos mat eriais de forma e de adequabilidade da
regionais estaria em usar a terr a que mat éria- prim utilizada . A obra foi
estava ali mesmo , com ta.ixo consumo de p:3.ralisada .

30
Sistema de peneiramento e s ecagem de terra.

Inicio do levantamento das paredes.

Uma olhada para trás e vê- se r epetid ~


experiênci a vivida no proj eto de
Ecodesenvolvimento . PD lado de uma
intensa pesquisa , t entava - se a
aplicação de uma t ecnologia não
dominada . Para quem busca uma
metodol ogia , o fato é i naceitá vel .

É necessária uma revisão de rnstura : ou


atua - se com prepotênc ia t écnica ou em
conformida de com a comunidade ,
seguindo-a , mas acrescentamo
i nformações , contribuirdo p3.ra sua
or gani zação e esclarecendo os mei os
poss í veis que ten de usufruir dos
benef í c i os pÚblicos .
EStado das obras paralisadas.
Enquanto em Pau d ' Ôleo a obra da casa
·comunitária se arrastava por sobre
erros , a necessidade do CETEC não se
desmoralizar perante a população era
cada vez mais urgente .

Como o revestimento das casas havia


compensado o fracasso da tubulação em
bambu , iniciar a construção de fossas
no povoado de Rio das Pedras surge como
uma alternativa para o equí voco da
taip:~. de pilão .

31
"Para a construção das fossas é necessar1o fabricar adobes.
Escolhemos uma casa que estivesse construida com um adobe que eles
considerassem de l:x:a qualidade. Procurarros a pessca que os havia
fabricêdo e ela foi oontratêda para repetir o traba.lho na mesrra
olaria. Desta vez, porÉm, na frente da máquina fotográfica e oob
perguntas.
O oleiro preveniu-nos lcx:,:ro da inutilidade de ir trabalhar em adol::e
no mês em que estávamos: o oorreto seria aguardar o mês de maio e,
de preferência, na segurrla quinzena, em que haveria lua nova.
Insistimos e ele se dispôs a careçar o trabalho. As dificuldades
foram aparece.rrlo. Foi necessário cx:mtratar um carreto para levar
água, que ser ia dispensável em maio, quando a terra se encontra
úmida. Os adobes sairam fracos. Colocou-se, então , aditivos
estabilizantes (capim e areia) para aumentar sua qualidade. Para
esta adição, foi necessário medir-se a quantidade de areia
existente na terra e, para a correção da proporção, foi preciso
encornerrlar carretos de areia. Várias proporções tiveram que ser
tentadas, até que tanto esforço tecnológico acabcu por vencer o mês
e a lua.
A conclusão deles é Óbvia para nós: se há um tempo próprio para se
fazer adobe, para que ter tanta despesa e trabalho? Eles têm seu
pr-óprio ritmo, firmado num fazer repetido há séculos e uma nova
tecnolcx:,:ria, para ser aceita, não deve quebrá-lo. Principalmente se
tem contra si o fato de ser desvantajosa."
(Relatório Interno).
Destorroamento.

32 Umedecimento. Homogeneizaçã o com a pa.

Homogene ização com os

Corte de ca('im
Corte do capim

lavagem da forma para facilitar a desmoldagem.


33

Enchimento manual da fôrma.

Corte.

O empilhamento protege o aaobe da chuva.


Duas fossas-modelo são construídas lado cobertura abotBdada em tijolos. Um
a lado, com o objetivo de registrar, de pedreiro do lugar é contratado p3ra
um lado, a tecnologia de construção acompanhar a obra e aprender a
usual e, de outro, prorrover adaptações tecnologia, visando, neste caso, s11a
tecnolÓgicas visando maior durabilidade, posterior disseminação.
salubridade e diminuição de custos. Uma
fossa segue os :p3.drões convencionais da A 11 performance" deste ti}D de
região, corrigidos apenas os aspectos tecnologia frente às intempéries
referentes à salubridade; a outra }DSsibilita sua aceitação, mesmo tendo
apresenta as inovações: sobre as uma forma estranha para a cultura da
paredes convencionais de adobe, região.
coloca-se uma cinta de concreto que
possibilita o assentamento de uma

"O WGAR DA VIDA ASSCCIADA É TAMBH1 O WGAR DA DIFERENÇA.

Na form da Asrociação, considera-se a diferenc..a cano expressão de


fertilidade nas relações interr.;essoais, condi~o vital de mmança.

A Associação se re:íne ao ar livre diante da casa p:rr<XJt.lial, depJis de


um dia quente can prcmessas de vento ao entardecer.

Os char:éus dos hanens se alinham em circulo e as coisas caneçam a


acontecer devagar. Hoje, muito devagar.

O espaçn Centro canunitário airrla não foi apropriado. Seu significado


mal caneça a se est.oçar e sua form é uma ra:la àe chapéus em torno de
um asrunto. Qle é: a construção de vinte e cinco fossas no pavc:ado. Os
enterrlimentos se arrastam e não se chega a um acordo sobre a
34 rEmJ.neraçao.
- Trabalho de empreitada, diz o presidente.
- são vinte e cinco fossas, seis dias para cada, dá doze mil para
cada uma •••
- Mas , se é empreitada ...
O dinheiro é p::>uco e precisa rerrler. O CEI'EC é um arquiteto nem se1t:pre
paciente. cano acelerar esse terrq:::o? Entre os cálculos da proÍessora e
listas de material, a reunião quase desmaia, para, de repente, reviver
na reação madura de Antonio ·Preto, que ameaça:
- Se continuar assim, voo mudar deste lugar.

Tudo é simultâneo nessa hora. A frase foi detonada. Os olhares se


trocam, atentos.

O rrovimento passa a depender de Antonio Preto daqui "[X) r diante. Ele


sabe e o assume cano r.;essoal e intransferível. Antonio Preto, alto, 61
anos, é a voz que difere. O resto, pJr enquanto, é mesnice.

É assim que um hanem se torna insubstituível. Amanhã será ootro, num


processo de superação constante."
(Relatório de Observador). (1)

(1) Para evitar que o intenso envolvimento da equipe com o projeto prejudicasse sua visão
critica e analitica, promoveram-se, durante seu anda~ento, visitas de outros técnicos, que,
com visão isenta, estimulavam a equipe à reflexão. Eles foram cha~ados de observadores.

..
de escavação.

6m de ~;rofundiàade).

35

~~­
Execução de laje com fôrna escavada.

Suporte para andaimes. Fossa regional sem revestimento.

Fossa inovada, sem a cobertura e o revestimento.


A fossa tem uma forma estranha para a cultura da região.

Além do repasse da tecnologia aos terminadas , percebe- se que algumas


pedreiros locais , a construção das duas coberturas foram executadas com telha
fossas foi fator de indução de uma convencional , o que p::>de ser
proposta da Ps rociação ao PRODECOM ( 2 ) e interpretado como restrição à forma .
ao PITA/CNFq (3 ) p::tra a construção de t preciro mais tempo para que as
outras 24 fossas danes t icas . Foi também vantagens do novo tip::> de cobertura
36 lUn modo de mobilizar a Associação e , p::>ssam transparecer . Thtre elas , a de
can ela , a canunidade . Liberado o que a abÓbada dispensa m:mutenção , pela
f i nanciamento , e can as obras ausência de madeira e telhas .

(2) PRODECOM/Programa de Desenvolvimento de Comunidades - Secretaria do Trabalho e Ação Social


do Estado de Minas Gerais/SETAS.
(3) PTTA/Programa de Transferência de Tecnologias Apropriadas ao Meio Rural - Conselho Nacional
de Desenvolvimento Cientifico e •.recnológico/CNPq.
ultrapassa o simples fato tecnológico e
A essa altura, o tempo já havia se recai sobre a conjuntura
mostrado uma variável muito flexível : sócio- econômica . Mostrar à população
"Che.guu q!Un.:ta-6e.Lta. pMa. :toc.alt a que é possível fa zer melhor utiliza~ão
obJta. VMde. an.:te-6 da rrU.n.ha c.he.gada, a da matéria- prima de que dispõe não e
";tuJuna" havia c.ombin.ado 6azeJt um suficiente . Para que a che uma s2Ída e
muwão pMa. c.olhe.Jt a Mç.a de. milho do assim desfrute de uma sobrevivência
Ã.tvalto, que., n.o :Vr..a:to de. um gaJtJto:te., tranquila , é preciso despertá-la para
havia ac.ide.n.;tado a mão d-i.Jtuta. seus direitos , estimulá-la a negociar e
a cobrar o que lhe cabe ms meios
Eu , de. min.ha paJt:te., tin. ha duM opç.Õ v.. : }Úblicos, municipais e estaduais . O
ou 6ic.aJt paJtado, ve.n.do o ;tempo pM.6aJt, CETEC, um dia , irá embora e a
ou e.n.:tltaJt n.o mu:t-i.Jtão c.om o pe..6.6 oa..t, sobrevivência das Associações passará a
mumo .6e.m c.on.he.c.e.Jt aque.le. tipo de. depender da capacidade de negociação
.6 e.Jtviç.o . que detêm .
Fomo.6 c.e.d-i.n.ho palta .tâ. UmM :t.Jte.ze.
pe.6.60ct6 :tJtaba.lhaJtam o dia ;todo n.uma Inseri-las nos trâmites pÚblicos seria
lida danada. Não é: polt n.ada n.ão, mct6 dotá-las de autonomia e capacidade de
n.ão 11 6iz óuo": ac.ompanhú a "-5;ultma" reivindicação. E elas fazem, então, da
n.o me.J.>mo Jt-i.:tmo de..ta. Paltamo.6 .60 palta a forma como foi preciso ao CETEC para
"bô-i.a Jte.gada ã p_(_n.ga . .. " estar ali: elaboram propostas de
projeto . Os técnicos assessoram. Os
O dia .6 e.guin.:te. e.Jta dia de. San.:to tenros "técnicos" são substituídos por
An.:ton.-i.o que., palta o pe..6.60al, ê 6e.Jt-i.ado. seus conceitos.
A obJta 6ic.ou .tâ paltada e. a ge.n.:te. ve.n.do
o ;te.mpo pcu.6alt. POR MAIS ENERVANTE QUE O OBJETIVO é "o que queremos'', a
POSSA SER PARA NUS, TINHA VE SER ASSIM". JUSTITICATIVA, ''J:ürque queremos'', a
(Relatório Interno). METODOLCGIA, ''caro varros fazer'' e, por
fim , a ESPECIFICAÇÃO DE OJSTOS, "quanto
custa ".
Dn Pau d ' Óleo, a rede de água precisa 37
de uma conexão . Um técnico desembolsa o Assim, foi fácil escrevê-la.
dinheiro p3.ra ccmprá-la ao mesrro temj:O
em que , diante do preço, questiona as A proj:üsta vai seguida da assim tura de
j:üss i bi l i dades de manutenção da obra . todos os ffibi tantes : uma fama de
divisão de resj:ünsabilidades e de
Vem à ! ona , como sol~~ão , um sistema de divulgação dos propÓsitos. Segue
produçao auto- gerenclavel e escrita à mão livre porque, por aqueles
auto- su stentável: surge a idéia de um lados, não há rráquina de datilografar.
moinho. O agricultor da região, ao
utili zar o moinho de particulares , é O presidente do CECCMP ?ai as s11n , pela
obrigado a deixar, como pagamento,parte primeli'a vez, da sua terra para
de sua produção, o que, as vezes , negociar a proj:üsta na Secretaria de
chega à metade dos grãos levados para Estado do Trabalho e Pção . Social,
moagem. Um moinho pertencente à em Eelo Fbriwnte.
Assoc iação , ao mesmo temj:O em que
sanaria esta situação ao cobrar pouco
de quem tem pouco , manteria a
Assoc iação viva, além de poder
constituir-se numa J:üssibilidade de
exercí cio econômico, através da gestão
c omunitária dos rendimentos que o
s istema pudesse gerar . No caso, os
r esíduos da moagem j:üderiam alimentar
uma j:ücilga, também comunitária. E, em
Juramento, J:ürco é dinheiro vivo.

O projet o do CETEC não j:üde continuar


arcando com as despesas das obras . Seu
objetivo é uma ''tecmlogia apropriada''
e , J:ür ''apropriada '', entende-se
"J:üssí vel''. O conceito, neste m:)mento ,
Proposta de projeto elaborada pelo Centro Comunitário de Pau d'Ôleo.

.67 .
~--------------------~

38
39

Pocilga comu ni~ âria. Unida de de produção completa.


19 plano - moinho
29 plano - pocilga
O CECC11P consegue a verta junto ao del::aixo daquele sol da região de Montes
PRODECOM para a compra do equipamento, Claros . A comunidade alega que o
e a tecnolo~ia para a construção da processo demanda muita mão- de- obra e
"Casa de Moulho '' experimentada pelo isto nl.IDla época Em que o agricultor vem
CETEC ê a de solo- cimento , urna mistura diretaoente da plantação para o
onde cimento entra como estabilizador trab3.lho em mutirão . .Aprova , porém, a
da terra, além da cobertura de atóbada nova cobertura . Consorciada ao moinho ,
utilizada res fossas. é construída a pocilga comunitária , que
completa o sistema de produção .
A técnica do solo- cimento é facilmente
assimilada , mas não é apropriada ro Entre as dificuldades previstas , e stá a
sentido de adotada pela comunidade: capacidade do moí nro Em a liment ar os
quando os técnicos estão ausentes , a porcos , urna vez que a produção de miloo
obra não anda . .A.pesar de mais simples , tem sido prejudicada pela falt a de
quando comparado à taipa de pilão , o chuvas .
novo método de levantamento de paredes
não deixa de ser 1.IDl tral::a.lho pesado,
"O Jte.fuuo nam e.rdo da e.qu.ipe. .té.c.rU.c.a c.om Can o passar do temro, vai - se
a população d0.6 povoado.6 vai be.m. 0.6 conhecendo a história de cada povoado e
lid e.Jte.-6 ..i.n6 oltmai-6, "do no.6 do.6 po v oad0.6 ·~, nela encontram-se algurras razões - IBO
au.tolt..i.zam o CETEC a :tJtaba.th.M e.m .6uM cordições - que justificam o poder
.te.JtltM. Ac.ham que., "c.omo 6.{..tho.6, J.Jão desses homens : as terras do municÍpio,
lte.-6 pe...i..ta.doJte.-6 e. Ve.u.6 que. guaJtde. e..te.-6 ". Em sua maioria, pertenciam à famÍlia
Matarazzo, de são Paulo. Vendidas a
(HoJtâc.io de AbJte.u - Pau d'u.te.o). dois fazendeiros, e estes querendo suas
terras livres, desencadearam um
Estes chefes não foram procurados no processo de desapropriação . Expulsavam
inÍcio do projeto porque não se tinha a tiros todo morador que não dispusesse
conhecimento de sua existência . de dinheiro suficiente para pagar a
terra que ocupava . Aqueles, porém , can
O convívio permanente com os maior capacidade de produção, que
agricultores cuidou de esclarecer como tivessem dinheiro, poderiam adquirir as
o poder é distribuÍdo em suas terras m.s quais plantavam - um
sociedades. processo de seleção .

Aos poucos, estas autoridades foram se Casando- lhes os filhos , dão-lhes um


revelando e, quando notadas, já havia local onde possam construir casa e uma
uma amizade em formação. Contribuiu área para exploração : a conta de
para isto a maneira como os técnicos se fazerEm sua agricultura de subsistência.
relacionavam com os agricultores: Assim por diante' m.scem as rovoações.
sempre ouvindo , emitindo opiniões A população tem origem em apenas duas
pessoais , mas deixan:lo que a ou três famÍlias .
consideração prevalecesse. Nada foi
feito sem ouvi-los e nenhuma atitude Os lÍderes sempre estão numa faixa
foi tomada sem que houvesse uma etária alta, o que os coloca entre
participação livre da população . aqueles que, produzindo mais do que os
outros , t i veram terras para distribuir
40 Um fato não pode escapar: mesmo que nao
existam nonnas para detectar um
aos filhos . são , portanto, os ''pais da
população''. Sobreviveram a uma época em
comportamento singular, estes lÍderes, que a violência predomim.va e têm
sem exceção, são carismáticos: pouco invariavelmente um temperamento e uma
presentes, bravos e "sistemáticos". história caracterizados pela valentia .
Agem em defesa do povoado e de Têm poder polÍtico e ditam à população
seus habitantes . A polícia conta com a posição que deverá ser tanada na
sua ajuda para a manutenção da ordem . época das eleições .
Localizado a apenas 7 km de Rio das "João Ra.{.mun.do, p!te...õide..rr,te.. do CECOL,
Pedras e a 13 km de Pau d ' Ôleo, o c.he..gou ptta m.{.m n.o Rio dM Pe..d!ta-6 e.
povoado de laranjão possui urna diMe..:
Associação, o Centre Comunitário de
Laranjão/CECOL, bem diferente das "-NÓ.ó que..Jte..mo-6 uma e..õc.o.ta •.. .6 e..n.ão, a
outras . Ali, os agricultores são AMoc.iaç.ão vai ac.abM. Sem n.e..n.hum
bastante politizados . Ligados à Igreja,
tJtabalho a.6.6.{.m, o povo jâ n.ão .tâ
à Comissão Pastoral da Terra/ CPT, ac.Jte..di.tan.do n.e...ta. "
introduziram o Partido da Oposição Pito pitO j e...to, e..Jta muito bom. "
nas eleições municipais de 1982.
IJ<e...ta.to!tio r rr,te..Jtn.o J •
sâ:o homens de trinta a quarenta anos ,
que exercem sua a<Jtoridade de forma Os agricultores negociam o projeto com
moderna. Não como os lÍderes a Secretari~ de Estado da Educação. E
"histôricostr dos outros povoados , cuja é aprovado pelo PRONASEC RURAL. (4)
idade varia entre os sessenta e
setenta anos . Executa- se o projeto arquitetônico da
melhoria das instalações escolares -
Dinâmicos e ativos, mas desconfiados , construção de uma sala de aula, um
foram resistentes ao CETEC, um Ôrgão pátio coberto , uma cantina e
do governo. instalações sanitârias. A ampliação
vai evitar que as crianças viajem
Além disto, o CETEC já havia estado diariamente ao povoado vizinho -
com eles em 1979: Tabocal - distante seis quilômetros
"ApCVte..c.e.u., 6alou mtU-to e. .óumhl". de Laranjão :

O clima tenso em que transcorrerem as "No .6 egun.do an.o, o.6 me..rU.n.o.ó c.ome..ç.am a
primeiras reuniões fez com que o an.dM."
técnico do CETEC incumbido da Uoão Ra.{.mun.do - P!te...õ..<.de..rr,te.. do CECOL).
organização dos pr>imeiros tral:alhos se
afastasse e desistisse de Laranjão como 41
urna área possível de tral:alhar. Os técnicos prop)em teto de abÓffid.a e
parede convencional. Com os trB.ffilhos
O empenho que a equipe técnica vinha de Pau d ' Óleo , aprenderam que o
disperlSê'l.ndo ' ms tral:alms em Juramento pedreiro local vive do que faz e não
e a conclusão de algumas obras nos _pJde ser ocupado de graça. Entra um
outros povoados talvez tenham dado rovo : o pedreiro vai ser pago e o
contribuÍdo para que aqueles lÍderes restante dos moradores se revezará em
revissem sua posição: mutirão .

Povoado de taranjão.
"No dia do inicio da obra, h:l.via uns trinta cal::x::x::los por lá, gente
com p3., enxada e picareta na mão, doido pra trabalhar. Eu ia
abrirrlo uma frente e, enquanto outros trabalhavam, eu abria outra. "
"O pessca.l tanbava pedra, quebrava pedra. Un chegava e dizia: essa
não sai. E saia. No final do dia, oitenta por cento das valas
estavam cavadas. "

O técnico, entusiasmado, vê nascer urra das obra mais "apropriadas"


entre as leva:ias pelo CEI'EC ao municipio de Jurarrento.

(4) PRONASEC - Frogral'.a N:icioml de PçÕes sôcio-Fàucativas e O.llb..:rais :ç:ara a Zona Rural.
42

Os lÍderes de Laranjão, inicialmente resistentes ao CETEC, fizeram sua escola.


o processo é plenamente
absorvido. Um vendeiro local faz
sua casa utilizarrlo o teto em
abóbada. Sua fonna, tx>rán, é
disfarçada pelo acréscimo do
frontal e dos beirais. ~ o caso
de se pensar num "p::rlrão estético
vigente"?.

O Centro Canuni târio de Laranjão/ CECOL, além de reformar sua própria


escola, estende o trabalho às unidades dos lugarejos de Curral
Queimado, Tabocal, Gameleira e Caiçara. Não tendo autorização para
constituírem suas :pr'Ôprias Associações, o CECOL, demonstrando
espíritc de solidariedade, ultrapassou seus limites
legais de atuação .

Os técnicos participam das reuniões Na tentativa de não agredir


decisivas e estimulam a realização dos culturalmente o local, a pesquisa , cano
desejos comunitários. Contribuem para o ação técnica, nega a manifestação
esclarecimento dos objetivos, ajudam na JDpular como verdadeira expressão
e~boração e ne~ocia~Õe~ das propos~as. cultural e elemento indutor de
Dlscutem as opçoes tecnlcas e os melos resultados práticos . O exemplo do
rrais conveniPntes ao andamento das arquiteto que vai projetar urra casa
obras, trabalhando junto cano pedreiros clareia bem a dificuldade . O técnico, à
ou marceneiros. distância, perde tempo pesquisando os
gostos, os hâbi tos do futuro morador,
"TJtaba.lha!t ju.YIÂXI c.om a c.omu.rvúiade. no ao invés de , junto com ele , ir criando
a:te.nd.úne.nto de. inte.Jte6.6e.J.J ge.Jta.L6 e. a obra, descobrindo-a à medida em que
ime.dia.:to-6 tytopoltc.iona, e.ntJr.e. ou.:t!LM as paredes se levantam.
c.oii.JaJ.J, o c.onhe.c.ime.nto do voc.abu.~o
:{é.c.rtic.o utilizado na Jte.giã.o, a O exagero da pesquisa trava o
pe.Jtc.e.pç.ão dM habilidade~.> do.6 desenvolvimento ao negar a 43
agltic.u.UoJte~.>, a.lê.m de. du pe/l.:ta!t uma possibilidade de ação imediata.
c.on6.[anç.a mú..tu.a qu.e. vem do Jtel.a.c.ioname.nto
pe6.6 oa.l em .toJt no de. u.m :t!taba.tho
c.ompaA:tl.ehado". (Tê.c.rtic.o do CETEC). ~~~~~
Reconhece- se , neste manento, que num
trabalho compartilhado can a população, ~~W,.o~o~
obtém- se as informações que as atividades
de pesquisa expostas na Proposta de
Projeto enviada à FINEP pretendem
~~~~-to~
alcançar.
lb fim de oi to meses , tem-se um elenco
A pesquisa representa ai um corte na de obras. Algt..Uias fracassadas , outras
dinâmica da prü}X)Sta: um enorme esforço tecnicamente incovenientes e aquelas
para entender o espaço a ser que retratam a tecnologia realmente
"experimentado", ao invés de se trabalhar apro:pr'iada: e/tlto.6 admitido.6, ac.e.Jt.to-6
a obra junto com a comunidade. c.ompvc.li.ehado.6. ·

"Metodologia: o Caos Necessário.

Os parâmetros meto:ioló:Jicos oferecidos pelos pr-incípios básicos do


Eco:lesenvolvimento foram oonservérlos. De resto, tcda metdiologia que
instrumentaliza o hanen, colocarrlo-o cano objeto de análise, sul:meta.l-se
à negação ccntínua, em troca de um significérlo que se imp:>s. ~
urgente uma metodologia aberta à "desordem".
Num processo dialético, o caminho é, a cada instante, reinaugurado, tx>r
assim dizer. Este é o método da provocação criativa. A crítica pennanente
aoolhe a realidérle e imp:rle que ela assuma as fonnas instib.lÍdas da
racionalidade.
Optar fOr urna "metodolcgia do caos" mais de acordo can a ordem da vida e
das relações sociais é um mdio de ser revolucicnário."
(Relatório de Cbservérlor).
O técnico roda as IDVCB.çÕes numa carninh::mete , indo nas casas ,
tirando fotografias, convivendo can as pessoas , comendo na mesma.
mesa.

Troca a caminhonete pelo cavalo:


"A po bJte.za. bJta.va. n.ão .6 e. vê de. c.a.JtJto. "
Estava escolhido o veículo apropriado:
"V..Wita.va. muLto ma.i-6 pe.Moa.-6, me. pe.Jtdia., me. a.c.ha.va. de. n.ovo."

Dentro da filosofia de criar um sistema


de pDDdução que sustente a Associação
local e penni ta a execução de rovos
pr'Ojetos canuni tários, o CONDRIP -
Conselho de Desenvolvimento de Rio das
Pedras elabora urna proposta que é
enviada ao PITA! CNPq e ao PRODECCH/
SEI'AS-MG. Constrói - se tarnbÊm aqui urna
casa de rnoínro . Bn Rio das Pedras, o
moinho será consorciado à criação de
frangos caipiras .

44
"O contato entre ordem institucional e cammidade se faz através
de indivíduos e as relações se tecem a partir daÍ.

"Zé Costa espera no últ.irro p::>sto de gasolina can sua Rural verde e
branca. Atrasarrcs quase t.nna hora e ele já conheceu duas ou três
doses de cachaça, sua energia. M::>ra nurra casa em Juramento pintada
de verde, can gradil desenhado. Olmprimenta já do seu jeito,
empinarrlo o corp::> e jogarrlo a cabeça para trás, o sorriso cortês.
Dep::>is, c:x::meça a relatar."

t; na proximidade dessa ordem que se impÕe o signif icad.o do


"projeto". Os interesses ora se crocam, ora se superam, a ordem
existindo aqui na fama de pessoas bEm definidas: o agente pastoral
(Igreja) , o agente ccm.mi tário (PRCDOCCM) , o vereador, o
<XJOrdenador do projeto (CEI'EC). A p::>lÍtica passa a ser um exercício
dessas forças e desses imp.llsos. O limite é a convivência.

Transferência de tecnologia, cc::rro a querenos, só é p::>ssível na


.imerliatez dessa ordem. :t; uma questão que requer uma ciência do
hanen, envolve ideologia e dinâmica de p::xier, numa relação de
reciprocidades. Esta é a passagem de urra ordem para outra e o
primeiro passo nos caminhos da autogestão.

GENTE t; IGUAL EM TOOA PARI'E: DIFERENTES SÃO PS FALAS. IDUCACÃO:


CPESI'ÃO DE L:m:;uAGEM. SUPERAÇÃO DA LíNGUA CCM) INSI'RUMENI'O DE
DCMINAÇÃO. TRANSPCSIÇÃO: FAIJ\MOS A MESMA L!N:;uA.

A passagem de urra linguagem a mtra de mooo que se supere a língua


CCilP instrumento de daninação, 'IRAPAI.HANDO a:M OS SIGNIFICN>OS, é
muito mais oue uma técnica: é tcxlo um processo educativo ... "
(Relatório de Observador) .
Relacionando- se com um número cada vez os habitantes vão dividir as
maior de pessoas , os técnicos do CETEC responsabilidades de um plano que pode
já rão são ''pessoas estranhas '', mas se constituir numa grande realização
também não passam despercebidos . OU n1JJ!la frustração . tln qualquer dos
Sanpre cercados de agricultores , dois casos , o imrortante é a união que
destoam do [7'Uro na maneira de vestir , precede o projeto. Ela é o primeiro
falar , no jeito apressado de tara.r passo para superar- se o que , rn
decisões . Corro uma informação que não Tecnologia Apropriada , parece ser uma
se conseguiu assimilar inteiramente 2 o das principais dificuldades : a
técnico não deixa de ser uma ''atraçao" adequação cultural .
interessante . Bn torno dele , forrTB. - se
uma ''roda de prosa " onde se fala Visto deste ângulo , tudo parece certo :
"sol to '' sobre mui tos assuntos , mas os projetos têm origem na expressão
onde é rossível acontecer de as ropular e são concretizados com seu
esforço . É o povo trabalhando para a
atenções , de uma hora para outra ,
satisfação de suas necessidades . Mas ,
concentrarem- se num problema do lugar
o ponto de vista da Igreja não é bem
e de iniciarem- se , ali mesmo , as
este . A Igreja procura a realização
primeiras articulações para sua
pela fé . Através de Cristo , procura
solução: a prorosição de um novo
plano que , rB. certa , será tema da chegar à solidariedade e cooperação
próxima reunião da Associação . É nas mútua . Analisando a realidade
conversas simples que levantam - se os ins alada no camro e nas relações de
problerras : através delas , obtém- se trabalho - um processo exclusivamente
material para reflexão . Talvez sem a reflexivo - ela busca formar um
cristão participante , ao mesrro tempo
liberdade de expressão que as
q e um cidadão crítico . E, neste
caracteriza não tivesse sido possível
momento , prega a fraternidade que
ao CETEC conquistar a confiança da
envolve a participação de todos rB.
população .
obra social , tendo a fé como a força
F.ste tip::> de "encontro '' tornou - se , com malor .
o tempo , uma prática indispensável . O CETEC tem planos de construções e
Uma inforTJBlidade produtiva , menos es imula a negociação para a
s'Jjei a a "desvios de inforrração '' do satisfação imediata dos principais 45
que , por exanplo , rn s Assembléias , desejos comunitários . Para a Igr~ja , o
onde a formalidade e o número de trabalho que vem desenvolvendo ha dez
-p=sscas acal:.Bm por prov ar uma serle a~os na região encontr a- se ameaçado
de mal - entendidos . justamente pela velocidade de ação e
As idéias vão amadurecendo em conversas pela forma de mobilização do CETEC . A
simples e depois são levadas à reunião força da f é antagonizando-se com a
com as direções das e tidades . Estas dinamizaçao dos recursos financeiros
repassam as informações aos demais aplicados .
membros da população , usando seus Além disso , o CETEC aparece como
prÓprios canais e sua linp;uagem . oportunista , saindo apés o término do
Assiste-se a um processo de financiamento e a Igreja tem de
transmissão verbal, no qual a continuar . Receberia assim como herança
informação é passada rapidamente e , uma população habituada a resolver seus
num cÓdigo próprio , corre obedecendo a problemas com o uso do dinheiro .
uma malha de relações interpessoais
que se estende por distâncias muito Quando os efeitos das diver gências
grandes . (CETEC/Igreja ) sobre a população
tornaram- se insustentá veis , foram
Por estes caminhos , as propostas sao promovidas reuniões entre os dois . As
submetidas ao parecer dos habi tantes e conclusões podem ser r esumidas :
é ainda por eles que se obtém a - A ~eja defende a conscientização
resposta : de forma impercept í vel , a pela fé , o CETEC , pelo trabalho ;
po.PJlação avalia a prorosta , troca - O CETEC tem pressa e a Igreja , com
idéias , soma sugestões e , 6T\ rouco mui to tempo pela frente , se sente
tenro , tem- se recolhida a ''impressão sufocada pela "ação r ápida e não
p;eral", · que será o veredicto final da conscientizante";
reunião onde os presentes são poucos , - O Padre continua trabalhando pela
mas a ''resrosta '' é a de mui tos . união e f ortalecimento das
Associações , permanecendo ao l ado
De certa forma compactuados em função do CETEC , mas as Irmãs t êm um s enão :
das articulações iniciais , o CETEC e não confiam no "povo do CITEC" .
O trabalho com Associações tem um lado Marca -se a reuruao. Hâ um equilÍbrio
curioso . Os projetos são realmente quanto à presença de mmens e mulheres,
implantados, bastando para isto ao contrário dos outros povoodos, onde
mostrar-lhes os caminhos. Nem sempre, os homens sempre prevalecem. O
entretanto, se "realizam" da mesma presidente do Centro Comunitário de
forma . Enquanto em alguns povoados as Glaucilândia/CECOG é uma mulher: a
obras são simplesmente executadas, em vereadora mais votada do município,
outros a população participa muito religiosa, tem uma tendência
intensamente do processo com um caritativa: "teros de ajudar os
envolvimento tal que o trabalho acaba pequenos" .
daninando grande parte das conversas de
venda. logo na quarta reunião, verifica-se que
tinha razão: "os pequenos são
Contagiante , a conversa vai-se praticamente toda a população de
estendendo aos povoados vizinhos e , no Glaucilândia . Explorados por dois
fim, desperta em todos o desejo de comerciantes locais,vivem em constante
montar sua Associação . Solicitações dÍvida :
deste tipo vêm até dos municÍpios
vizinhos de Itacarnbina e Bocaiúva. "Eu c.omp!t.o hoje. pJta. paga!t daqui a
Em Junamento, os lugarejos t!t.inta d~a~, pelo p!t.e.ço que. o
movimentam- se em torno da idéia ma~e.nto va~ vale.Jt. vtU~a data. Se.
associativa, contrariando, em alguns aÂJl..MM, a1 é um pOILc.e.nto pO!t dia."
casos, fazendeiros que, sem desejarem
ver seu poder dividido, tentam inibir Em sucessivas reunloes , o projeto do
as iniciativas. No povoado de CECOG já nasce ma.C:uro. Vai ser um
Glaucilândia, no entanto, os habitantes '' Sistema de Al::astecimento Cooperado":
já se decidiram e esforçam- se no sentido
de registrar sua entidade . "Uma gaJta.vt~ de. que. vamo~ dM c.ovtta de.
alime.Vl.ta!t. vtMM~ 6ilho~. Se a gente.
Começar do princÍpio é alguma coisa que p!t.odu~, ve.vtde. e toJt.~a a c.ompJta.!t., po!t.
atrai os técnicos do CITEC . Os que. 11ao c.omp~t.amo~ vto~ me.~mo~ pMa
46 trabalhos desenvolvidos até agora não ve.vtde.Jt. ~Õ um pouc.o mM~ c.Mo ?"
oferecem nenhuma segurança quanto a
possibilidade de se repetir a Fara isto, dão andamento no registro da
experiência . Até então, o CETEC tem Associação , conseguem um terreno de
convivido com comunidades influenciadas 15.000 metros quadrados dentro da
pelo sucesso da água de Pau d ' Óleo . cidade e elaboram uma propostü a ser
Glaucilândia é uma nova cidade onde não enviada ao PRODECOM/SETAS.
se conhece ninguém; suas caracterí sticas
são tão diversas que é como tentar A proposta é aprovada .
aplicar em outro municÍpio o que se
está aprendendo em Juramento .

Povoado de Glaucilândia.
A obre. encontra- se Em fase final. O Caso os "donos da venda '' se si ntam de
início das atividades está previsto alguma forma ameaçados , :pJdem , cano
para agosto de 198 5 . A pJpulação vem romens ricos , estabilizar os preços das
promovendo leilÕes e festas , esperando mercadorias que vendem e assim iniciar
assim acumular o capital necessário um processo de concorrência que será,
para sustentar "um nlvel. de ptteç.o bom na certa , desleal .
paJta. o pequen.o e podeJt tVt 6oll.ç.M paJLa.
en.&ll. en.ta!z. o.6 c.om ell.C-ffi n.te.-6 " • -
. -
Espera - se, no entanto , que , ao mves de
disputarem, os comerciantes decidam
pela diversificação de s uas
mercadorias .

47

Obras do Centro de Abastecimento Cooperado.

As viagens são feitas geralmente aos O roteiro dessas viagens é s empr e o


sáb3.dos , daningos e feriados , :pJrque é mesmo : de Belo Hor izont e , segue- se a
a ocasião em que os agricultores não se Juramento de Ônibus . De Juramento , Zé
encontram no trabalho , sendo possível Costa leva a Pau d ' Óleo . É lá que s e
reunir um T!B.ior número de pessoas para dorme , se pega os cavalos pela manhã ,
·traçarem- se os objetivos e para acanpanhar os trabalhos em outro
estabelecerem as metas que serao povoado , e retorna- se à noite.
seguida dali pra frente . Faramente , esta rotina é quebrada.
Na medida do andamento das obras , os
técnicos revezam- se aproximadamente de
dez Em dez dias , procurando rranter
sempre constante a sua presença .
Com seus técnicos "morando no mter1or ,
. . "
comunicação que poderia ter sido mui to
o CETEC acaba se mantendo distant~_da Útil se descoberto mais cedo.
administração municipal. Nas reurooes
Se grame parte das informações do
~omovidas em Mo~tes Claros com o
projeto 0 obtida nos relaciornrnentos
novo prefeito , nao se chegou a um
pessoais nas vendas e nos canteiros de
acordo: obras, agora elas vêm também de
"Pode.Jt tJta.balhaJt lado a. .ta.do c.om a. conversas de cozinha e da intimidade da
PJte.f,~a.-~Õ tll.CVÚC!; be.ne.6Z0-o~ a.o casa . O fato da rrbdução ser orientada
pJtoje.to e. a. poputa.ça.o e.nvolv~da. que., por urna estagiária mulher abre para a
a. Mta. a.,Uutta., já. ~oma.va. quMe. -~ ~eJtço equipe um outo universo. Mu1her se
do to:ta.l do~ ha.bd:a.Ytt~ de;_ muMu~o. entendendo me1hor com mu1her resulta na
Há. que. ~ e. c. onú..d eJta.Jt , pott e.m , que. ne.m revelação de hábitos e comportamentos
;todM M f,oJtmM de. goveJtYLO .6e. a.da.ptam sociais desconhecidos, regidos por
a.o pJtoc.M.60 de. d~e.nvofv.{me.~o. outra escala de valores que conforma
pa.Jttic.ipctU.vo. No c.M o M pe.uf,~c.o de. aspirações e ansiedades diferentes
]U/lilme.nto, a. polZt.ic.a. que. vinha. .6 e.ndo daquelas -expressas pelo pequeno
a.do.ta.da. nã.o M~-Únila.va. o.6 p~toc.M.60.6 de. agricultor .
gM.tã.o populaJt que. Mta.vam .6uJtgindo. Para o projeto, a não exploração deste
Com o ternpq_, na. me.dÁ;da. _e.m que. M "campo de atuação'' significa urna fa1ha.
ma.rtif,~ta.ço~ M.6ouab:.vM. Qo~am
a.ume.Ytta.ndo, M.6a. inc.ompa.Ub~~~e. Numa sociedade tradicional e
f,oi-~e. a.gJta.va.ndo, toJtrta.ndo ~nv~a.ve.l conservadora, atividades diferentes
qualque.Jt liEo de. ·~ e.ryte.rtf,úne.Ytto" c.om a. discriminam homens, mulheres e
ã.dmirti.6tlta.ça.o muMu)Xll . crianças . Não teria errado o CETEC ao
compor sua equipe inicial apenas com
romens?
11
Ao pa.Jttic.ipaJte.m da. Jte.urú.ão ge.Jtal, M
mulhe.Jt~ Jte.age.m: 11 pOJt que. ~Õ o.6 home.~
têm pJtoj e.to Mc.Jtito YtO pa.pe.l?" Como
48 Jt~po.6ta., .6uge.Jte.-.6e. a. e.la.boJta.ção de.
wna. yYtopMta. p~te.ve.ndo a. monta.ge.m de.
uma. of,ic.ina. de. pJtodução paJta. .6ua. ma.ioJt
yYtof,i.6.6iona.üza.ção e. a.ume.nto do
Jte.nd.{me.nto do .6i.6te.ma.. 11
(R e..ta.t a!ti o r rtt.e.JtYLO J •
----~~~~~------~--,

Pelas características das atividades


que vem desenvolvendo até agora, o
CETEC encontre -se, rn sua prática,
afastado da pop.llação feninirn de
Juramento, que permanece corro
observadora. fln l.aranjão, a Associação. consegue da
Secretaria de Educação I..IJIB verta de
A primeira tentativa de aproximação 230 .0 00 cruzeiros para a compra de
mais efetiva dá-se em Pau d'Óleo: carteiras escolares. As carteiras
procura -se criar condições de individuais que o Estado vende custam
participação das mulheres do povoado 15.000 cruzeiros càda urna. Surge,
no processo econânico da Associação, então, a proposta de se projetar novas
através de atividades que possibilitem carteiras e o técnico tre.l:alha tendo em
o aumento da rerrla familiar. Inicia -se vista a raciornlidade, o custo e a
a prcdu~ão artesarnl de san::iálias em facilidade de confecção (simplicidade).
''rnacrB.rne" (barb:mte tingido) e ~ projetada uma carteira para dois
pa.Jmilha de couro. O-projeto, alunos, a um custo firnl de 6. 000
integralmente f irnnciado pelo CETU:, cruzeiros. Poder-se-ia perguntar o
desenvolve-se bem e a perspectiva é a p::>rquê de não se fazer uma carteira
de fabricação de outros produtos . para três ou mais alunos: a sabe::l.oria
das professoras locais pressente que o
Can o andamento do tral:B.lho, urna aluno do meio não faria nada além de
surpresa: obtÊm-se um novo canal de beliscar os dois a seu lado.
O marceneiro sabe fazer e sab~ consertar se ela estragar.

A comunidade reúne-se e constrói


dezoito carteiras. Ainda sobraram
algumas tábuas para fazer uma mesa e um
annârio .

"Foi a1 que. c..ome.ç_ou a me.l.hoJtaJt, poi.ó a.6


c..Jtianç.M de.ixaJtam de. e.~.>tudaJt du.to..dM. "
49
(Dia nl.6io - CECO L) .
Um problema de difícil solução neste
tipo de projeto é o vÍnculo de
dependência que tende a ser criado
entre a população e o Órgão pÚblico que
desenvolve o trabalho:

"0 que. te. 6az pe.YLóa!l. que., c.om a -6alda


do CETEC de. Ju~ame.nto, o-6 ~abaiho-6
c.on..ti.nua!l.ão?" .
Depósito em construção - Laranjão.

A pergunta é repetida por todos os que Com exceção do acompanhamento das obras
questionam o projeto. Na realidade, é
em andamento , a atuação do CETEC é toda
uma garantia impossível 'de se ter: uma voltada }Bra -a organização desse
dÚvida com a qual se tem que conviver .
trabalho e para o estímulo à
llitretanto, para reduzir as constituição dessa sociedade que deverá
possibilidades da sua ocorrência, foi chamar-se ''Conselho das Associações dos
preocupação predominante ao longo de Trabalhadores de Juramento'' . Uma
todo o projeto procurar manter a
Tecnologia Organizacional Apropriada?
autonomia do agricultor nas ações e
decisões. Isto não é suficiente : a sua Não se constrói nenhuma máquina com
continuidade só estará garantida se matéria-prima local e tecnologia
forem capazes de pleitear verbas
assimilável que reflita a cultura
pÚblicas e souberem cumprir as rústica da região. Compram-se , sim,
condições legais que o repasse de moinhos modernos , com dois anos de
verbas exige. Para isto, é preciso que garantia e com assistência técnica em
conheçam os caminhos que levam às
Montes Claros . Máquinas de tecnologia
verbas (programas e projetos do resolvida e empacotada, IIB.S que lh2s
Governo) e também entendam os processos
proporcionam um trabalho eficiente e a
de prestação de contas. Assim , terão
oportunidade de planejarem o seu futuro. garantia de um bom produto final.
50 Ao lado da autonomia tecnolÓgica e da O que se conclui é que a melhoria da
capacidade de reinvidicação de verbas qualidade de vida no meio rural de
pÚblicas, têm responsabilidades sobre Juramento seja possível como
um terreno comum, com um sistema de consequência da sua· capitalização.
produção em funcionamento gerando a Socializante é o processo organizativo
renda de todos . 0-6 -6-Üte.mM de. ptwduç.ão e a distribuição dos benefÍcios.
e.m 6unc.ioname.nto de.v~ão mantM M
M-6oc.iaç.õu vJ..vM. A capitalização deve ser feita dentro
É nesta hora que se vê como o projeto
de limites tecnolÓgicos compatíveis com
anda diferente do imaginado. Envolvido os recursos humanos e materiais da
hoje com cerca de 4.000 habitantes, o sociedade .
CETEC é requisitado em todos os Para que a autonomia da organização
povoados para participar de reuniões popular persista, cuidados devem ser
onde são levantados problemas e tomados quanto à sua participação nos
discutidos os caminhos a serem seguidos . planos, projetos e programas destinados
Não há Granja EcolÓgica, nem estão a distribuição de bens e recursos,
funcionando Moínhos de Vento; pensa-se sejam eles priva9os ou governamentais,
na implantação de urna "Sementeira de de modo a evitar que um outro extremo
Milho" irrigada em Rio das Pedras, na seja alcançado, ou seja : de uma
produção de adubo em Pau d'6leo e na situação de carência absoluta, a
estocagem das sementes no armazém população se veja , de repente ,
(depÓsito) que está sendo construído em envolvida com recursos que não consiga
l.aranjão. ainda controlar . Urna situação dessas
pode torná-la submissa aos prÓprios
organisrros que repassam verbas, além
Cem a gestão comum - todas as de acrescentar uma nova forma de
Associações participam destes dependência: a burocrática, que se
benefÍcios - não precisarão mais imp3e crescentemente na medida em que
adquirir sementes e estarão a um passo crescem os recursos alocados. O acesso
da constituição de urna Sociedade às verbas é cano a implantação de um
que congregue a maioria dos pequenos sistema de produção: tem que ser
agricultores de Juramento. corretamente dimensionado.
Os limites do dimensionamento
tecnolÓgico são bastante variáveis . Um
exemplo interessante é a Unidade MÓvel
de Marcenaria . Montada sobre carroça e
p.1xada por animais , desloca- se pelas
estradas , atendendo os povoados segundo
sua demanda . Pertencente a tcxias as
Associações , propicia - lhes o apoio
ferramental , de f<JrJTB. a diminuir os
custos de prcxiução das peças em madeim
necessárias às construções , além de
oferecer condições de trata lho
remunerado . Seu temJD ocioso será
utilizado em cursos , visando a formação
de mão- de- obre .

É o primeiro p3.trimônio canum das


Associações , o embrião da Sociedade que
se quer f<JrJTB.r . Esta oficina , associada
a wna outra prÓpria para o trabalho can
metal, deverá constituir- se , no futuro ,
num sistema de manutenção e prcxiução de
implementos agricolas simplificados .

51
Familiarizados com os programas da
QJ.ando as obras não se destinavam a Secretaria de Estado da Educação,
manter as Associações de pé, através da assinando convênios e em contatos
mobilização dos associados - caso da frequentes com seus furcionârios, os
cons~~ã~ de foss~.e.ho~tas dirigentes de Pau d 'Óleo são informados
comun1tar1as - as 1n1Clat1vas se da devolução feita pela prefeitura de
direcionavam para a questão do ensino e urra verba de Cr$ 1.0 00 . 000 (um milhão
da produção. Foi quando se construíram de cruzeiros ), destinada à ampliação da
ou ampliaram escolas, ou quando se escola de seu povoado.
pensou no sistema de produção composto Sabem da necessidade de ampliação dessa
pelo moínho e pocilga . escola que , m sua precariedade, não
aten::ie ao grande nÚmero de alunos : eles
Ps primeiras obras foram excêntricas e são obrigados a recorrer a escolas de
todas elas receberam críticas; isto outros povoados ou a desistir da
porque a tecnologia distanciou-se do possibilidade de estudarem.
fator cultural . A Última obra foi feita
exatamente como se fazia antes do CETEC "Pevúe do.6 afuno.6 e.ótu.dava num
chegar, ou seja, não havia praticamente ~omodozinho muito ap~ado, onde a
nada a alterar, a não ser o nível de pJtoó e-6.6 ofla botava u.m qu.ad!to lã na
conscientização da população sobre os {)!tente , edu.~ava 0.6 men.ino.6 e voltava de
problemas que enfrentavam: o negócio Jtê. po!tqu.e ela não podia óaze_Jt a valia."
era quebrar o bloqueio; fazendo uma vez ,
existiria sempre a possibilidade de se (Tonho - Pau. d 'Uleo).
continuar fazendo.
Vão à prefeitura - a escola e -
As pessoas, reunidas em Associações, municipal - e canunicam sua intenção :
passaram a se mobilizar e a ter acesso se autorizassem , ampliariam a escola .
direto aos órgãos Estaduais e a uma Recebem , verbalmente , uma resposta
tecnologia organizacional apropriada, positi va .
sem terem que passar pelos velhos e
tortuosos caminhos como o vereador, o Assimm o convênio com a Secretaria da
52 prefeito ou o deputado majoritário ._A Educação , fazem a planta e iniciam as
população cresce tecnologicamente, a obras . Eln mutirão, constroem uma sala
medida em que cresce politicamente. de aula, uma cantina, instalações
~a nitárias e um pátio coberto .
Durante as obras , os carretos tornam-se Numa reflexão, a fosoc i ação percebe que
onerosos: a escola é apenas mais um compromisso
cumprido dentre uma série de outros
"O cünh.e.-<Ao da ge.IU:e. não dá! assumijos desde sua criação há três
Quem .óabe. a PJte.ó e.~·ta.... " anos. Tcdos os trabalhos estão prontos .
Falta apenas o posteamento , pela
A solução, como das outras vezes, era Prefeitura, para funcionamento do
fazer uma "juyyta de. cünfte,i.,•w", onde moinho. Pau d ' Óleo reúne - se para
todos "..i.n.,twavam a y.::a.,Hagem'', e ir a comemorar. A festa é na sala nova:
Belo Horizonte tentar a negociação de "uma ..i.naug u.Jtaç.ão ..i. nó oJuna..t" •
uma verba complementar junto à
Secretaria de Estado da Educação. Uma semana de preparativos: as mulheres
fazem quitutes, as crianças preparam
A obra é concluÍda. enfeites, os homens conseguem prendas e
fazem cartazes , os técnicos dão o vinho.

Pare:les, piso, telffido ..• o espaço em que dançavam era deles.


Envolvente cano tinha sido, o trarelho havia lhes roobado "o
pe.YL6ame.n.,to e. o .tempo" durante os três ú ltimos aros. A festa
servia p:rra que desçertassan.

A ~:;gria, o orgulho e a sensação de força estavam estamr:ados nas


felçoes de todos: mulheres, agricultores, crianças e velhos.
Estava tudo muito bonito e ali a presença de autoridades lembrava
a tcrlos que, sem dúvida, fazemo tudo sozinhos, o tral::Blho havia
sido mui to pesado:

"MAS TÃ TUDO EM Pt E BEM GRANDE PRO MUNDO VER".


------CONSIDERAÇ~ES FINAIS-----------------------------------------

Fncerra-se o tempo do projeto e o CETEC retira-se


tão rápido quanto entrou. O estado é de
perplexidade. De lá, mandam recados ; querem saber
o que aconteceu. De cá, o dia-a-dia do escritório
é rrais caJ.nD ; a inquietação de Juramento acabou.
Espera-se, de longe, o tempo passar até que os
acontecimentos tomem seus lugares e que seja
possível enxergar com clareza o que foi feito,
para se tentar, então, numa visão geral isenta de
detalhes e emoções de campo, procurar descrever
cano foram provocados e executados os tral:::alms
en Juramento e retirar dessa memória alguns
parâmetros metodológicos - objetivo final do
projeto.

Tudo começou quando o CETEC, com apenas o projeto no papel e sem


contato com a população, programou as atividades de reconhecimento do
município, estabelecendo para isto áreas de interesse aparentemente
prioritárias e dando inicio aos trabalhos de pesquisa. Enquanto eram
feitos estudos sócio-econômicos, ambientais, ecológicos, etc.,
procedia-se ao levantamento das atividades produtivas realizadas no
município e da forma como eram feitas: a construção civil, a confecção
de objetos, as unidades de beneficiamento de produtos, etc.
Levantamentos que não eram simples inventários ou interpretações de
54 quadros estatísticos, mas que olhavam de perto atividades realizadas
com técnicas de caráter artesanal, por isso diretamente relacionadas
com o homem, seu produtor e consumidor. Assim, o objeto em estudo
(produto ou processo) não pode ser entendido se estudado isoladamente,
porque o homem é elemento indissociável. Quando se quis estudar um
produto, procurou-se seu criador. Entrevistando-o pessoalmente,
conheceu-se, ao mesmo tempo, produto, produtor e dinâmica de mercado.

A maneira informal corno foram feitas as pesquisas - através de


indagaç?es pessoais - e a convivência que os trabalhos em campo
proporclonaram foram os principais fatores que permitiram a aproximação
do CETEC com a população.

Aquelas ocasiões foram aproveitadas também para que se prestassem os


primeiros esclarecimentos relativos ao projeto: os objetivos, as
principais metas e as condições operacionais - o mutirão.

Foi a partir dessa aproximação que o projeto, oralmente como decostume,


foi sendo disseminado entre os moradores
Nas frequentes viagens à região, o CETEC empenhou-se, de certa forma a
força, em identificar junto à população as áreas onde fosse possível
uma atuação prática imediata que pudesse mostrar a utilidade de seus
trabalhos. E assim é que forem feitos a rede de água com bambu e o
revestimento das casas.

AtraÍda pelos trabalhos e parecendo entender a atuação do CETEC, a


população começou a manifestar-se, solicitando ajuda para seus planos.
Um projeto de adução de água no povoado de Pau d'Ôleo e o interesse da
Igreja no problema foram elementos gue induziram a constituição da
primeira Associação de Moradores; so através de uma entidade
devidamente registrada, poderiam pleitear recursos necessários para
realizarem suas aspirações.
Nesta fase, foram muitas as reunloes de reflexão. A presença da Igreja
mostrou-se fundamental para congregar as pessoas na discussão de temas
relativos ao papel das Associações: vantagens, sua força política, sua
força de negociação, seu estÍmulo à solidariedade como meio de superar
determinadas dificuldades, etc.
Com o apoio, providenciaram o registro da Associação, dimensionaram o
projeto, elaboraram a proposta, negociaram pessoalmente com o agente
financiador, executaram os trabalhos e prestaram contas da verba
conseguida.
Bem sucedido o trabalho da Associação, estava dado o exemplo e outras
eram mais facilmente constituídas.

A situação repetiu-se daÍ para a frente durante todo o projeto e uma


das funções da equipe técnica era auxiliar) orientar ou questionar a
nova Associação.
Neste ponto, atingiu-se o nível máximo de participação popular. Daí
para frente, o tempo todo da equipe do CETEC foi tomado com problemas
localizados, de interesse de uma ou outra Associação: problemas
técnicos de uma obra ou problemas pessoais com um ou outro.

A atuação do CETEC diminuiu à medida em que os trabalhos foram sendo


concluÍdos e, o mais importante: a autonomia das Associações foi
aumentando. Necessitavam cada vez menos da interferência do CETEC.
Muitas decisões passaram a ser tornadas independentemente e, com o
trabalho realizado, outros Órgãos Estaduais e Federais se aproximaram
com propostas novas que eram cuidadosamente estudadas e submetidas
votação em assembléia geral, antes de serem aceitas.

Esta expressão associativa pesou nos resultados do projeto.


55

Ao chegar em Juramento pela segunda vez, o CETEC pensava na seguinte


linha de trabalho: em primeiro lugar, era necessário conhecer
profundamente a região, seu povo, seus produtos, seu potencial e
mercado; em segundo, seria delineada uma metodologia condizente com a
realidade esboçada para, enfim, com a segurança possível, iniciar um
processo de implantação de ''tecnologias apropriadas''.

Com uma metodologia bastante lÓgica, procurar-se-ia chegar a outra


igualmente clara.

No perc~rso do projeto 2 .ocorreu uma al teY'ação de enfoque. Quando o


relacio'narnento com os agricultores se aprofundou' e, em particular,
diante da possibilidade de se desenvolver um trabalho participativo,
deixou-se pelo meio as pesquisas de fundamentação e começou-se
imediatamente a implantar tecnolo~ias. As sugestões metodolÓgicas,
objetivo do projeto, seriam extraldas depois de efetivados os trabalho~
no momento em que a tecnologia, já em utilização, se confirmasse
"apropriada''. Foi uma quebra definitiva na linha de pensamento que
vinha norteando o projeto desde sua origem.

Tinha-se em mente a metodologia como algo normatizante, passível de


controle a qualquer momento e dotada de mecanismos de correção de rota
que l~e proporcionassem a flexibilidade necessária para torná-la
adaptavel a outras situações semelhantes - outros projetos.
Ao se iniciarem as atividades em campo, verificou-se que cada
iniciativa tomada acabava por se constituir no inicio de um processo
novo, diferente dos outros, não dimensionável, de resultados
imprevisíveis e de futuro incerto. Resultados que só seriam conhecidos
aos poucos, na medida em que os trabalhos fossem se concretizando.
O fato de ter sido possível trabalhar com uma população de forma
realmente participativa colocou grande parte do destino do projeto nas
mãos da com~nidade. O qu·e iria ser feito, quando, como, onde e porquê
foram decisoes que couberam exclusivamente às comunidades. O controle
do andamento do projeto pela equipe técnica foi assim bem menor que
aquele que, a princÍpio, imaginava-se necessário.

Ao trabalhar com os agricultores num clima onde a liberdade de


expressão de idéias prevaleceu sobre qualquer autoridade, qualquer
intenção de traçar rumos caiu no vazio. Todos puderam falar: vozes
ouvidas e levadas a sério.
Nesta situação, cada projeto permitiu visualizar inÚmeros fatores que
influenciaram sua condução, o que acabou por caracterizá-los como
"processos'' onde foi impossível se proceder a uma seriação das atitudes,
de forma a obter uma metodologia convencional.

Implantar, em duas localidades, projetos tidos como idênticos não


garante que tenham andamento semelhante. As atividades necessárias
podem ser as mesmas, porém transcorrerão num tempo e de forma
completamente diversos. Os fatores que provocam estas diferenças vão
dos simples aos mais complexos: disponibilidade de tempo do pessoal
envolvido, capacidade de organização, habilidade profissional,
temperamento pessoal, etc. são variáveis que diferenciam e dão
identidade a cada trabalho.

As atividades a serem desenvolvidas vão surgindo de acordo com o


desencadeamento do processo, que não pode ser previsto: trabalha-se com
uma realidade em constante modificação.
56
Nestas circunstâncias, enunciar parâmetros metodolÓgicos claros pode
atender à ansiedade em ver o projeto concluÍdo e deixar a falsa
impressão de que em algum tempo possa existir situação semelhante e
mais, que esta possa ser dominada e submetida à lÓgica dos
procedimentos técnicos.
EQUIPE T:t:CNICA

e PROJETO:
Prática de Implantação e Disseminação de Tecnologias
11

Apropriadas ao Meio Rural".

e EXECUTOR:
. Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais/CETEC.
e EQUIPE T~CNICA:

. Ricardo Mendes Mineiro - (Coordenador)


. Cássio Humberto Versiani Velloso
. Alceu Castello Branco
. Eustáquio Lernbi de Faria - (Gestor Financeiro)
. Jorge Enrique Mendonza Posada - (Consultor)

e COLABORADORAS:
. Margarete Maria de Araújo Silva
. Maria Edwirges Sobreira Leal
. Raquel Manna Julião

e ESTAGI11.RIAS:
. Maria Auxiliadora Afonso Alvarenga
. Eleonora Sad Assis
. Dalila Andrade Oliveira
. Maria Alice Moura

e PATROC1NIO:
. Financiadora de Estudos e Projetos/FINEP
. Programa de Desenvolvimento de Comunidades/SETAS-MG
. Programa de Transferência de Tecnologias Apropriadas
ao Meio Rural /PTTA-CNPq
. Programa Nacional de Ações Sócio-Educativas e
Culturais para a Zona Rural-PRONASEC/SEE-t1G
e TEXTO:
. Ricardo Mendes Mineiro
. Carmen Bianca Costa Alves (colaboração)

e FOTOS:
. Ricardo Mendes Mineiro
. Alceu Castello Branco

e 11
LAY-OUT":
. Guydo José Rossi Cardoso de l1eneses - (Coordenador)
. Rose Mary Rangel
. Sinésio Ribeiro Bastos Filho
. Alan Felisberto Rodrigues
. Lisle Vieira de Siqueira
FUNDAÇÃO CENTRO TECNOL6GICO DE MINAS GERAIS/CETEC
Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais

Av. José Cândido da Silveira 2000/Caixa Postal 2306/


telefone: (031) 461-7 933/Telex: (031) 1031
30.000- Belo Horizonte- MG
Projeto JURAMENTO
~ Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais/ CETEC

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