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Acompanhamento farmacoterapêutico com paciente portador da síndrome de Sjögren:

relato de caso

Bruna Caroline da Silva1


Gabrieli Giordani1
Mônica Santin Zanatta Schindler2
Graduandas em Farmácia pela Universidade do Oeste de Santa Catarina
2
Docente do curso de Farmácia Universidade do Oeste de Santa Catarina

RESUMO
A Síndrome de Sjögren é uma doença autoimune inflamatória, com sintomas comumente
sentidos nas glândulas salivares e lacrimais, mas também há manifestações sistêmicas
importantes que podem levar a outras doenças, como a artrite reumatóide, por exemplo.O
objetivo desse estudo é demonstrar a importância do acompanhamento farmacoterapêutico a
uma paciente acometida pela Síndrome de Sjögren e o papel do farmacêutico nesse quesito. A
metodologia utilizada para realizar esse acompanhamento foi uma entrevista elaborada pelas
autoras e inspirada no Método Dáder, foi selecionada uma paciente com histórico clínico e
relato de dificuldade na organização e armazenamento de seus medicamentos. Ao final da
análise, após identificado o principal problema relacionado a farmacoterapia, foi elaborado
um material de intervenção: uma caixa personalizada para o armazenamento dos
medicamentos. O resultado obtido foi positivo e prontamente aceito pela paciente. Conclui-se
que o atendimento individualizado realizado durante os encontros, foi de extrema importância
para a qualidade de vida do paciente e adesão ao tratamento.

PALAVRAS-CHAVE: Método dáder, acompanhamento farmacoterapêutico, síndrome de


sjogren, artrite reumatóide, atenção farmacêutica.

ABSTRACT
Uma tradução ao Inglês do resumo feito acima.
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KEYWORDS: Tradução das palavras-chave.

INTRODUÇÃO
A Síndrome de Sjögren (SS) é uma doença inflamatória e autoimune, comum em
mulheres e frequentemente ocorre em associação com outras doenças autoimunes como lúpus
eritematoso sistêmico e a artrite reumatóide. (VALIM et al., 2015)
A Síndrome de Sjögren (SS) é uma doença sistêmica que afeta diversos órgãos do
corpo humano. As glândulas salivar e lacrimal são comumente afetadas, resultando em
sintomas como boca seca (xerostomia) e olhos secos. A SS pode desencadear manifestações
em outras partes do corpo, incluindo sintomas musculoesqueléticos, respiratórios, vasculares,
cutâneos e genito-urinários. Além disso, o desequilíbrio psiquiátrico, incluindo depressão e
ansiedade, também pode ocorrer como uma manifestação da doença. (FELBERG; DANTAS,
2006)
Dentre as manifestações oculares associadas a SS, o glaucoma tem recebido crescente
atenção da pesquisa clínica. O glaucoma é uma doença ocular, que afeta o nervo óptico
levando a danos irreversíveis e por consequência a perda de visão. No estudo foi comparado a
espessura de camada de fibras nervosas oculares de pacientes com SS com um grupo controle,
em comparação pacientes com SS apresentaram acentuado afinamento dessas fibras,
sugerindo que são propensos a desenvolver glaucoma quando expostos a fatores de risco
como aumento da pressão intraocular ou desregulação vascular. (BABAN;
GOLUBNITSCHAJA, 2017)
Ainda não há cura para a SS, o tratamento preconizado tem como objetivo o alívio dos
sintomas e melhora da qualidade de vida do paciente. Como opções de tratamento são
inclusas terapias substitutivas e de retenção, estimulação da produção de lágrima e saliva,
redução da inflamação local, modulação da resposta imune e medidas ambientais. Em casos
graves a administração de corticosteróides e outros imunomoduladores pode ser necessária.
(FELBERG; DANTAS, 2006)
A artrite reumatóide (AR) é uma doença reumática, inflamatória, autoimune que atinge
as articulações sinoviais, levando a deformidade e destruição das mesmas. A ocorrência dessa
doença é alta em mulheres na faixa dos 30-50 anos de idade. (COSTA et al.,2014)
É comum o acometimento de articulações das mãos e dos pés levando a limitação
funcional do paciente e causando deformidades irreversíveis, diminuindo a capacidade laboral
e a qualidade de vida do indivíduo acometido pela AR. (HENRIQUE DA MOTA et al., 2013)
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De acordo com as Diretrizes para o tratamento da artrite reumatoide publicada na


Revista Brasileira de Reumatologia (2013), a orientação da terapia medicamentosa inclui o
uso de anti-inflamatórios não hormonais, corticosteroides, drogas imunossupressoras, drogas
modificadoras do curso da doença (DMCD) sintéticas e biológicas.
A DMCD sintética mais conhecida e usada no tratamento da AR de fase inicial e com
sintomas leves, é o sulfato de hidroxicloroquina, que possui principalmente atividade anti-
inflamatória e interferência na produção de prostaglandinas. Os efeitos colaterais incluem
intolerância gastrointestinal, como náuseas e dor abdominal, cefaleia, tontura, doenças
musculoesqueléticas, distúrbios oftalmológicos e outros. (HENRIQUE DA MOTA et al.,
2013)
Por muitas vezes os efeitos colaterais, por serem desagradáveis, impedem a adesão do
paciente ao tratamento, levando a progressão da doença e aumento dos sintomas. A atenção
farmacêutica para pacientes portadores da Síndrome de Sjogren e Artrite Reumatóide se prova
cada vez mais necessária, tendo um impacto importante na qualidade de vida dos pacientes.
Esse serviços podem incluir conselhos sobre tratamentos farmacológicos e não
farmacológicos, maneiras de lidar com a doença no cotidiano, uso seguro de medicamentos
etc. (BONFIM; PORTELA; FREITAS, 2022)
Este estudo tem como objetivo apresentar as atividades realizadas durante o período de
estágio, demonstrando o aprendizado, os resultados alcançados e as contribuições para o
desenvolvimento profissional.

2 METODOLOGIA
Este estudo de caso possui caráter qualitativo e descritivo, empregando a metodologia
dáder como referencial para conduzir a entrevista e o acompanhamento farmacoterapêutico.
O estudo foi conduzido durante o período de março a junho de 2023, e consistiu como
atividade obrigatória do componente de Estágio Supervisionado I do curso de Farmácia, 3º
período, da Unoesc Chapecó. A paciente concordou voluntariamente em participar da
pesquisa, tendo assinado um termo de consentimento que garantiu a confidencialidade de suas
informações.
Utilizando um questionário elaborado pelas autoras e inspirado no Método Dáder, no
primeiro encontro com a paciente foram coletados dados acerca de medicamentos em uso
contínuo, medicamentos utilizados anteriormente, problemas de saúde, condições clínicas e
avaliação da qualidade de vida.
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Com base nas informações coletadas, prosseguiu-se ao estudo de caso, onde foi
analisado os problemas de saúde associados aos medicamentos utilizados, incluindo a data de
início dos sintomas e do tratamento medicamentoso, bem como a dose e posologia.
A seleção da paciente para este estudo de caso foi motivada pelo seu histórico clínico,
e o relato da dificuldade de armazenamento e organização dos medicamentos que utiliza. Essa
dificuldade pode gerar problemas na adesão e continuidade do tratamento, sendo um risco na
eficácia do tratamento.
Diante deste cenário, foi elaborado um material de intervenção farmacêutica que visou
abordar as limitações relacionadas à terapia medicamentosa e proporcionar suporte à paciente.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 HISTÓRICO CLINÍCO
S.F.F.G, sexo feminino, 53 anos, IMC 27,69 (sobrepeso),
3.2 REGISTRO DOS MEDICAMENTOS UTILIZADOS
3.3 ESTUDO FARMACOLÓGICO
Prosseguiu-se o estudo de interações medicamentosas baseado nas informações
coletadas. A pesquisa foi realizada nos sites DrugBank e Drugs.com (2023) e está descrito na
tabela 02.

Medicamento Tipo ou Risco Interações Medicamentosas


Bupropiona 150 mg Maior Bupropiona+
Hidroxicloroquina
Hidroxicloroquina 400 mg Moderado Hidroxicloroquina +
Maleato de timolol

Tartarato de brimonidina Moderado Tartarato de brimonidina /


0,2% / Maleato de timolol Maleato de timolol +
0,5% bupropiona

Omeprazol 40 mg Moderado Omeprazol + Maleato de


timolol
Tartarato de brimonidina Menor Tartarato de brimonidina
0,2% +Maleato de timolol
Tabela 02.Interações medicamentosas relacionadas a farmacoterapia da paciente.

Fonte: as autoras,2023.
O metabolismo da hidroxicloroquina pode ser diminuído quando o uso é combinado
com a bupropiona, aumentando as concentrações séricas e consequentemente o risco de
efeitos adversos. Isso ocorre devido a bupropiona ser um inibidor do CYP2D6, que é
responsável por metabolizar a hidroxicloroquina.
A solução oftalmológica Maleato de timolol 0,5% obteve o maior número de
interações com os outros medicamentos utilizados pela paciente. O Maleato de timolol 0,5%
pode ter sua metabolização diminuída pela hidroxicloroquina bupropiona e o omeprazol,
aumentando a exposição ao timolol, levando a efeitos adversos como a bradicardia,
dificuldades respiratórias, depressão, pressão arterial baixa.
A combinação Tartarato de brimonidina +Maleato de timololol, pode gerar efeitos
colaterais como: dor de cabeça, tontura, desmaio, alterações no batimento cardíaco. Isso
ocorre porque o tartarato de brimonidina 0,2% pode aumentar as atividades anti-hipertensivas
do maleato de timolol 0,5%, esses efeitos são mais prováveis de acontecer no início do
tratamento. Durante a entrevista, a paciente não relatou tais efeitos, visto que havia sido
diagnosticada recentemente com glaucoma e havia iniciado o tratamento com ambas as
soluções há pouco tempo.
A interação entre o Tartarato de brimonidina + bupropiona tem risco moderado, pois a
brimonidina pode potencializar os efeitos depressores do SNC da bupropiona.

3.4 INTERVENÇÕES
A adesão ao tratamento é um fator importante no manejo de doenças como a síndrome
de sjogren, a dificuldade da paciente em manter a organização e armazenamento representa
um desafio para a adesão ao tratamento e controle adequado da doença, e o papel do
farmacêutico é crucial nesses casos. Segundo o Conselho Federal de Farmácia (2016) os
serviços farmacêuticos incluem, dentre outros, acompanhamento farmacoterapêutico, revisão
da farmacoterapia, educação em saúde e organização dos medicamentos.
A organização dos medicamentos envolve medidas educativas, tais como tabelas de
horários, etiquetas, organizadores de comprimido, entre outros. Visando simplificar a
utilização e diminuir erros de administração, tudo isso adaptando-se a rotina do paciente.
(CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA,2016)
Na tabela 03, está especificado duas propostas de intervenção em dificuldades que
foram identificadas no estudo.
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Tabela 03. Propostas de intervenções


Fornecer a paciente informações detalhadas sobre os possíveis efeitos colaterais das
interações medicamentosas
Estruturar uma caixa para organização e armazenamento dos medicamentos utilizados
pela paciente.
Fonte: as autoras,2023.

O material foi entregue a paciente, e durante esse momento foi orientado a forma de
utilização, e prontamente acolhido pela mesma, que se comprometeu a seguir as orientações.
A figura 1, demonstra a melhora na organização proporcionada pela intervenção, os
medicamentos estão armazenados em local adequado. Nota-se também que a forma de
armazenamento anterior dificultava a leitura dos princípios ativos dos medicamentos, e que
outros produtos não medicamentosos também estavam no mesmo local.

Fonte:
Figuraas1-autoras,2023.
Antes e depois da intervenção farmacêutica.

4 CONCLUSÃO
Com base nesse relato, concluiu-se que o farmacêutico desempenha um papel crucial
na promoção da saúde, auxiliando o paciente na superação em dificuldades relacionadas a
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terapia medicamentosa, fornecendo orientações, soluções práticas e por muitas vezes apoio
emocional ao paciente.
Foi demonstrado também a importância do atendimento individualizado ao paciente,
identificando suas necessidades específicas, que foram supridas com sucesso pelo material de
intervenção elaborado.

REFERÊNCIAS

BABAN, Babak; GOLUBNITSCHAJA, Olga. The potential relationship between Flammer


and Sjögren syndromes: the chime of dysfunction. EPMA Journal, v. 8, n. 4, p. 333-338,
14 ago. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s13167-017-0107-5. Acesso em: 8 jun.
2023.
BONFIM, Lana Luiza Santos; PORTELA, Fernanda Santos; FREITAS, Sofia Pereira.
Atenção farmacêutica direcionada à pacientes com artrite reumatoide e lúpus eritematoso
sistêmico: levantamento de um perfil farmacoterapêutico. Research, Society and
Development, v. 11, n. 16, p. e203111638026, 5 dez. 2022. Disponível
em: https://doi.org/10.33448/rsd-v11i16.38026. Acesso em: 8 jun. 2023.
CFF. Conselho Federal de Farmácia. Serviços farmacêuticos diretamente destinados ao
paciente, à família e à comunidade: contextualização e arcabouço conceitual. Brasília:
Conselho Federal de Farmácia, 2016. 200 p. . Disponível
emhttps://www.cff.org.br/userfiles/Profar_Arcabouco_TELA_FINAL.pdf. Acesso em: 8 jun.
2023.
COSTA, Juliana de Oliveira et al. Tratamento da artrite reumatoide no Sistema Unico de
Saude, Brasil: gastos com infliximabe em comparacao com medicamentos modificadores do
curso da doenca sinteticos, 2003 a 2006. Cadernos de Saúde Pública, v. 30, n. 2, p. 283-295,
fev. 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311x00017913. Acesso em: 13 maio
2023.
FELBERG, Sergio; DANTAS, Paulo Elias Correa. Diagnóstico e tratamento da síndrome de
Sjögren. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, v. 69, n. 6, p. 959-963, dez. 2006.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/s0004-27492006000600032. Acesso em: 13 maio
2023.
HENRIQUE DA MOTA, Licia Maria et al. Diretrizes para o tratamento da artrite
reumatoide. Revista Brasileira de Reumatologia, v. 53, n. 2, p. 158-183, mar. 2013.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/s0482-50042013000200004. Acesso em: 13 maio
2023.
VALIM, Valéria et al. Recomendações para o tratamento da síndrome de Sjögren. Revista
Brasileira de Reumatologia, v. 55, n. 5, p. 446-457, set. 2015. Disponível
em: https://doi.org/10.1016/j.rbr.2015.07.004. Acesso em: 13 maio 2023.

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