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artigo inédito

Avaliação da posição dos incisivos inferiores na sínfise mandibular


de indivíduos Padrão II, Classe II
Djalma Roque Woitchunas1, Leopoldino Capelozza Filho2, Franciele Orlando3, Fábio Eduardo Woitchunas4

Objetivo: este estudo tem como objetivo avaliar a posição dos incisivos inferiores na sínfise mandibular de indiví-
duos Padrão II.

Métodos: a amostra estudada foi constituída de 40 indivíduos Padrão II, Classe II, selecionados a partir de docu-
mentações existentes do Curso de Especialização em Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade de
Passo Fundo, leucodermas, sendo 20 do sexo masculino e 20 do sexo feminino, com idade entre 10 e 18 anos e idade
média de 12,84 anos. As grandezas cefalométricas utilizadas nesse estudo foram: lineares — 1- AP de Ricketts; linha
I de Interlandi; 1-VT de Vigorito; Angulares — IMPA de Tweed.

Conclusão: após a análise estatística, verificou-se que indivíduos Padrão II, Classe II apresentam como tendência
os incisivos inferiores inclinados para vestibular e protruídos.

Palavras-chave: Diagnóstico. Má oclusão de Angle Classe II. Circunferência craniana.

1
Especialista e Mestre em Ortodontia, UMESP-SP. Coordenador e Professor do Como citar este artigo: Woitchunas DR, Capelozza Filho L, Orlando F, Woitchunas
Curso de Especialização em Ortodontia, FOUPF. FE. Evaluation of the position of lower incisors in the mandibular symphysis of in-
dividuals with Class II malocclusion and Pattern II profiles. Dental Press J Orthod.
2
Doutor em Ortodontia, USP-Bauru. Membro do setor de Ortodontia do HRAC - 2012 May-June;17(3):125-31.
USP/Bauru.
Enviado em: 09 de outubro de 2009 - Revisado e aceito: 03 de maio de 2011
3
Especialista em Odontopediatria e Ortodontia, Universidade de Passo Fundo/RS.
Mestre em Ortodontia, UMESP-SP. » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou
financeiros, que representem conflito de interesse nos produtos e companhias des-
4
Especialista e Mestre em Ortodontia, UMESP-SP. Professor de Ortodontia dos critos nesse artigo.
Cursos de Graduação e Especialização em Ortodontia, Universidade de Passo
Fundo/RS. » Os pacientes que aparecem no presente artigo autorizaram previamente a publica-
ção de suas fotografias faciais e intrabucais.

Endereço para correspondência: Djalma Roque Woitchunas


R. Uruguai, 2001, Sala 606, Bloco A – CEP: 99010-112
Passo Fundo/RS – E-mail: woitchunasortodontia@hotmail.com

© 2012 Dental Press Journal of Orthodontics 125 Dental Press J Orthod. 2012 May-June;17(3):125-31
artigo inédito Avaliação da posição dos incisivos inferiores na sínfise mandibular de indivíduos Padrão II, Classe II

INTRODUÇÃO a natureza propicia inclinações compensatórias dos


A análise morfológica da face é o principal re- incisivos superiores e inferiores, visando possibilitar
curso de diagnóstico para a determinação do pa- a harmonia da oclusão dentária25.
drão facial. Os indivíduos podem ser classificados Reconhecendo que a posição em que os incisivos
como Padrão I, Padrão II, Padrão III, Face Curta ou inferiores se encontram na má oclusão é uma posição
Face Longa9. O indivíduo Padrão II é caracterizado de equilíbrio, ao modificá-la deve-se buscar uma posi-
pela discrepância sagital positiva entre a maxila e ção que também seja de equilíbrio e, para isso, será ne-
mandíbula9,18 e suas características faciais guardam cessário avaliar as características anatômicas, funcio-
correlação com as duas variáveis que podem deter- nais, cefalométricas, periodontais e estéticas, que são
minar o padrão: a protrusão maxilar e a deficiência fatores que limitam a sua posição28. As tábuas ósseas,
mandibular. Na maioria dos indivíduos, ela é deter- vestibular e lingual, ao nível do ápice dos incisivos, re-
minada pela deficiência mandibular6,9,14. presentam os limites anatômicos da movimentação
Dentre as características dentárias do Padrão II, é desses dentes e, em consequência, também os limites
importante considerar a posição dos incisivos inferio- do tratamento ortodôntico12.
res, alvos de preocupação por sua pretensa grande im- A literatura não relata muitos trabalhos sobre as
portância na estética facial e estabilidade dos resulta- inclinações dentárias individuais, tanto para verifi-
dos após tratamento ortodôntico3,5,8,15,19,23,26,27. Até hoje, car diferenças entre oclusões normais em diferentes
o parâmetro mais utilizado para avaliação do correto etnias e populações, como para verificar finalização e
posicionamento desse segmento é a interpretação das impressão dos torques e angulações propostas pelas
medidas cefalométricas, que relacionam os incisivos diferentes prescrições10.
inferiores com linhas e planos que variam de acordo Devido a isso, o objetivo desse estudo é verificar as
com a preferência de cada autor, sendo que essas men- inclinações dentárias dos incisivos inferiores de indi-
surações foram desenvolvidas a partir de indivíduos víduos Padrão II, Classe II, sem tratamento ortodôn-
com oclusão normal e harmonia facial, e em muitas tico anterior, para analisar a sua posição na má oclusão
análises de indivíduos não brasileiros13,19,23,26. e permitir ilações determinando metas para sua movi-
A estabilidade dos resultados dos tratamentos or- mentação nesses indivíduos.
todônticos será maior quando o ortodontista respeitar
a situação morfológica individual, as funções de cada MATERIAL E MÉTODOS
indivíduo13 e, também, a variação individual, além de A amostra foi constituída de 40 indivíduos, sele-
muitos outros fatores. A morfologia individual não cionados a partir de documentações existentes do
permite metas fixas para nenhuma grandeza cefalo- Curso de Especialização em Ortodontia da Faculdade
métrica isoladamente, pois, o que existe é uma inte- de Odontologia da Universidade de Passo Fundo, leu-
gração das diversas estruturas da face e do crânio. As- codermas, sendo 20 do sexo masculino e 20 do sexo
sim, não se pode pretender tratar todos os indivíduos feminino, com idade entre 10 e 18 anos, com idade mé-
e suas más oclusões, colocando os incisivos inferiores dia de 12,84 anos. O presente estudo foi devidamente
sempre em uma mesma posição na base óssea27. aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Uni-
Deve-se citar, também, a compensação dentoal- versidade de Passo Fundo (CEP 065/2006). Os 40 in-
veolar. Entende-se como compensação todas aquelas divíduos foram selecionados por terem sido definidos
modificações espontâneas na posição e inclinação dos como portadores de Padrão II na avaliação morfológi-
incisivos, no intuito de conseguir uma oclusão na re- ca da face, através de fotografias de perfil e de frente, e
gião anterior e uma projeção funcionalmente aceitá- apresentarem relação molar de Classe II no exame clí-
vel, quando existe uma desarmonia esquelética sagi- nico. As fotografias da face foram realizadas com uma
tal. Portanto, a compensação é um fenômeno inverso máquina Nikon Digital SLR, com 6,1 mega pixels efeti-
à desarmonia esquelética. Em geral, os incisivos infe- vos e 6,24 mega pixels total, formato Nikon DX. Como
riores possuem um papel mais importante nessa com- critério de inclusão, nenhum dos indivíduos havia sido
pensação do que os incisivos superiores4,8,9. Para as submetido a tratamento ortodôntico e/ou ortopédico
diversas relações anteroposteriores das bases apicais, anterior e não apresentavam síndromes.

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As telerradiografias cefalométricas laterais dos As grandezas utilizadas nesse estudo foram:


indivíduos da amostra foram realizadas no Servi- » Lineares: 1- AP de Ricketts, linha I de Interlandi,
ço de Radiologia da Faculdade de Odontologia da 1-VT de Vigorito.
Universidade de Passo Fundo com o aparelho Or- » Angulares: IMPA de Tweed.
thophos 5, (OrthophosPlus, Siemens, Alemanha) Os resultados foram submetidos à avaliação esta-
e digitalizadas por meio de um scanner, sendo as tística, calculando-se as médias, medianas e desvios-
imagens submetidas à análise do programa Ra- -padrões, bem como os valores mínimos e máximos de
diocef Studio 2, seguindo as normas especificadas todas as variáveis mensuradas. Com o objetivo de veri-
pelo fabricante. Para a obtenção das grandezas ce- ficar as diferenças entre os sexos, utilizou-se o teste t
falométricas, os pontos cefalométricos foram de- de Student para dados independentes, estabelecendo
marcados por um único observador. 5% de significância.

Figura 1 - Fotografia de perfil e frontal de um indivíduo Padrão II selecionado na amostra.

Figura 2 - Fotografias intrabucais da paciente da amostra, Classe II.

Figura 3 - Fotografias intrabucais oclusais da paciente da amostra, Classe II.

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Inclinação do
incisivo inferior
Inclinação do
A incisivo inferior

Go

Po
Me

Figura 4 - Medida Linear 1-AP de Ricketts. Figura 5 - Medida angular IMPA de Tweed.

Inclinação
Longo eixo da Sínfise
do incisivo
inferior

P’

Go B

E E
Me

Figura 6 - Medida linear 1-VT de Vigorito. Figura 7 - Linha I de Interlandi.

dentes apresentaram uma tendência definida a valo-


RESULTADOS res iguais ou maiores que o considerado a média nor-
Relações dentárias com suas bases apicais mal, sendo que grande parte da amostra está concen-
Os resultados referentes às médias, mediana, des- trada em valores superiores à média.
vio-padrão, valor mínimo e valor máximo das grande- Para a linha I de Interlandi na amostra avaliada, os
zas estudadas encontram-se na Tabela 1. resultados mostraram uma média de -3,69±2,99mm,
Conforme os resultados descritos na Tabela 1, para como demonstra a Tabela 1, mostrando que os incisi-
os indivíduos Padrão II com más oclusões de Classe II vos estão mais protruídos do que em indivíduos com
desse estudo, o incisivo inferior em relação à linha AP oclusão normal. Sendo que, para a outra medida ava-
de Ricketts apresentou um valor médio de 2,69mm, liada (1-VT de Vigorito), a média foi de 7,40±2,74mm),
com um desvio padrão de ±3,28, sendo que os valores identificando sua inclinação vestibular.
obtidos na amostra foram, na maioria, superiores à Na Tabela 2, encontra-se a comparação entre os
norma preconizada pelo autor. sexos masculino e feminino das grandezas cefalomé-
Enquanto isso, para a medida IMPA com uma tricas estudadas, onde verificou-se que não houve di-
média 95,70±5,83°, os resultados mostram que esses ferença estatística entre os sexos.

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Tabela 1 - Grandezas cefalométricas mensuradas nos indivíduos Padrão II.

Média Mediana Desvio-padrão Valor mínimo Valor máximo


1-AP de Ricketts (mm) 2,69 3,01 3,28 -3,16 11,85
IMPA de Tweed (°) 95,70 95,96 5,83 85,41 109,98
Linha I- Interlandi (mm) -3,69 -4,20 2,99 -10,05 1,52
1-VT de Vigorito (mm) 7,40 6,95 2,74 0,2 16,25

Tabela 2 - Comparação entre os sexos feminino e masculino das grandezas cefalométricas nos indivíduos Padrão II.

Média sexo Média sexo Teste t de


Desvio-padrão Desvio-padrão p
feminino masculino Student
1-AP de Ricketts (mm) 3,04 3,63 2,32 2,94 0,4911 > 0,05*
IMPA de Tweed (°) 96,04 6,30 95,37 5,46 0,7208 > 0,05*
Linha I- Interlandi (mm) -3,75 3,24 -3,63 2,81 0,9012 > 0,05*
1-VT de Vigorito (mm) 7,14 2,69 7,65 2,83 0,5679 > 0,05*
*Sem diferença estatística.

DISCUSSÃO os incisivos inferiores inclinam em compensação na


Os pacientes Padrão II são aqueles que, avaliados mesma direção, enquanto o contrário acontece quan-
pela análise morfológica da face, apresentam discre- do o perfil tende a reto. Em 1994, em sua dissertação,
pância sagital maxilomandibular positiva, ou seja, um Woitchunas27 selecionou uma amostra da região de
perfil mais convexo e outras alterações consequen- Passo Fundo, sul do Brasil, composta por indivíduos
tes9,18. Os indivíduos selecionados para compor a amos- leucodermas com oclusão normal e verificou uma mé-
tra desse trabalho apresentavam uma relação esquelé- dia de 2,41±1,68mm, similar à encontrada no presente
tica Padrão II com relação oclusal ou relação dentária estudo para indivíduos da mesma região, mas Padrão
sagital de Classe II, segundo a classificação de Angle. II. Assim, para ambas as amostras, em indivíduos Pa-
De acordo com os objetivos desse trabalho, serão drão II e indivíduos com oclusão normal da mesma re-
comparados os resultados num primeiro momento gião, os incisivos encontram-se protruídos e diferem
com uma amostra da mesma região de Passo Fundo dos dados obtidos por Ricketts19. Os dados encontra-
em indivíduos leucodermas com oclusão normal e, dos no presente estudo mostram que os incisivos es-
num segundo momento, com pesquisas realizadas em tão mais protruídos do que na amostra de McNamara
pacientes com relação molar de Classe II, e as normas Jr.14, que verificou uma média de 1,3±2,5mm, para pa-
propostas pelos autores. cientes Classe II e de Vale e Martins23, que avaliaram
Na Tabela 2, encontra-se a comparação entre os brasileiros leucodermas e de origem mediterrânea,
sexos masculino e feminino das grandezas cefalomé- Classe II, Divisão I e encontraram um valor médio de
tricas estudas, em que não houve diferença estatística 1,70±3,21mm para o sexo masculino e 1,48±2,85mm
entre os sexos. Esses resultados corroboram com os para o sexo feminino.
estudos de Vale e Martins23; Aramaki et al.2; Woitchu- O incisivo inferior em relação à linha I de In-
nas27; Tukasan21 e Reis et al.17 Dessa forma, durante a terlandi foi de, em média, -3,69±2,99mm, com um
apresentação e discussão dos resultados, não se fará valor mínimo de -10,05mm e um valor máximo de
menção ao fator sexo. 1,52mm, sendo que a norma proposta por Interlan-
O incisivo inferior em relação à linha AP de Ric- di13 é de 0mm para uma oclusão normal. Em 2002,
ketts, apresentou um valor médio de 2,69±3,28mm, Interlandi13 citou um trabalho com indivíduos de
com um valor mínimo de -3,16mm e um valor máxi- oclusão excelente e perfil com característica de nor-
mo de 11,85mm. Ricketts19, em seu estudo, em oclusão malidade, em que a média da linha I foi de -1,28mm,
normal, verificou uma média de 0,5±2,5mm e citou com valores extremos de +0,50mm e -2,50mm.
que em indivíduos com grande convexidade facial Woitchunas27, em seu estudo, observou que a linha
a inclinação do plano A-Pogônio é para frente, e que I teve média de -2,96±2,96mm em indivíduos com

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oclusão normal. Os indivíduos Padrão II desse estu- por Vigorito26, foi obtida em estudo feito em indiví-
do possuem os incisivos em relação à linha I de In- duos leucodermas com oclusão normal. Woitchunas27
terlandi mais protruídos do que em indivíduos com obteve uma média de 6,17±1,36mm em indivíduos com
oclusão normal, mas repetem a similaridade já de- oclusão normal, com um valor mínimo de 2,00mm e
monstrada para 1-Ap com a amostra de indivíduos um valor máximo de 9,00mm. Da mesma maneira que
normais da mesma região. os valores mínimos do IMPA, existem valores 1-VT
O valor médio do IMPA foi de 95,70±5,83°, com que devem ser avaliados para definir melhor as ca-
um valor mínimo de 85,41° e um valor máximo de racterísticas dos indivíduos que compõem a amostra.
109,98°, sendo que a norma em indivíduos nor- Os valores para essa grandeza mostram que os incisi-
mais, segundo Tweed22, é de 90°. Aramaki et al.2 vos estão mais vestibularizados em pacientes Padrão
avaliou indivíduos brasileiros leucodermas, Classe II. Isso é absolutamente compatível com os conceitos
II, Divisão 1, e obteve uma média de 99,4±6,0° pré- contemporâneos que regem a prática ortodôntica.
-tratamento para o grupo que iria ser tratado com Uma visão mais abrangente de todos esses resul-
extrações de pré-molares, e 99,6±5,8° para o grupo tados e comparações sugere que indivíduos com más
que iria ser tratado sem extrações de pré-molares. oclusões do Padrão II tendem a apresentar uma in-
Tukasan21 realizou um estudo em brasileiros com clinação de incisivos inferiores maior que a dos por-
Classe II, Divisão 1 de Angle e verificou um IMPA de tadores de más oclusões Classe II, pelo simples fato
94,38±6,90°. Os valores encontrados por Tukasan21 de que eles sempre apresentam erro esquelético na
estão próximos aos valores encontrados na presen- relação sagital maxilomandibular, enquanto os ou-
te pesquisa, e Aramaki et al.2 encontraram os inci- tros, em muitos casos, apresentam apenas um erro
sivos mais inclinados para vestibular. Essa amos- dentário como responsável pela relação de Classe II.
tra, provavelmente, era composta por indivíduos Afinal, 30% das más oclusões Classe II não têm cor-
com discrepâncias na relação sagital maxiloman- relação com discrepância sagital maxilomandibular18.
dibular mais severas que a do presente trabalho. Desse modo, as más oclusões de Classe II do Padrão II
Interessante considerar que para Impa, medida exigem uma compensação dentária frequentemente
universalmente utilizada para caracterizar a posição explícita pela inclinação vestibular dos incisivos, en-
anteroposterior dos incisivos inferiores, os resul- quanto que isso, não necessariamente, deve acontecer
tados obtidos para a amostra de portadores de más nas más oclusões descritas como Classe II.
oclusões do Padrão II nesse estudo permitem con- Por outro lado, o fato de dois grupos de indiví-
cluir que esses dentes apresentaram uma tendência duos da mesma região, um com oclusão normal28
definida a valores iguais ou maiores que o considera- e outro com má oclusão Padrão II e más oclusões
do média normal. Note que o limite inferior do des- Classe II (amostra do presente artigo), apresenta-
vio padrão foi 89,87mm, valor muito próximo à mé- rem a mesma tendência a inclinação mais vestibular
dia preconizada por Tweed. Portanto, grande parte dos incisivos prova que a compensação pode ter su-
da amostra de indivíduos Padrão II está concentrada cesso e gerar oclusão normal. Certamente, na amos-
em valores superiores à média. É fácil compreender tra de oclusão normal havia indivíduos com degrau
esses valores excessivos para Impa encontrados na sagital maxilomandibular aumentado de modo mo-
amostra e é necessário avaliar por que alguns indi- derado e que apresentaram compensação suficiente
víduos apresentaram valores como o mínimo. Uma e eficiente para criar relações oclusais normais. Re-
explicação pode estar relacionada à presença de in- petindo, quando a compensação é bem sucedida, a
divíduos com protrusão maxilar na amostra Padrão oclusão é normal. Os consultórios dos ortodontistas
II, fato que limita ou impede a inclinação vestibular estão repletos de indivíduos tratados de modo com-
compensatória dos incisivos inferiores9. Esse fato pensatório e com oclusão normal.7
deve ser elucidado em futuras investigações. A comparação da posição do incisivo inferior na
O valor médio para a medida 1-VT foi de amostra discutida nesse artigo e as outras norma-
7,40±2,74mm, com um valor mínimo de 0,2mm e um tivas descritas para a população brasileira, mos-
valor máximo de 16,25mm. A norma de 6mm proposta tram diferença expressiva para serem clinicamente

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significativas apenas para Linha I13. Embora com mé- amostra discutida nesse artigo e as outras normativas
dia maior, a diferença é mais sutil quando comparada descritas para uma população não brasileira, mostram
com o valor médio de avaliação 1-VT27. Isso pode ser que para a grandeza cefalométrica IMPA grande parte
devido à característica da medida, mais do que à carac- da amostra concentra valores iguais ou superiores à
terística da amostra, já que o método de avaliação para média preconizada por Tweed23. Para a grandeza cefa-
definir a Linha I é muito semelhante à 1-AP, com am- lométrica 1-AP de Ricketts, os incisivos encontram-se
bos apresentando discrepâncias similares e as maio- protruídos em comparação à média preconizada por
res entre as avaliadas em relação à posição dos incisi- Ricketts19. E, para uma população brasileira, mostram
vos inferiores da amostra Padrão II. diferenças expressivas para serem significativas clini-
camente apenas para Linha I13.
CONCLUSÕES Portanto, é razoável admitir que sempre que o
Os resultados obtidos nesse estudo permitem con- tratamento adotado para as más oclusões Classe II
cluir que os incisivos inferiores em indivíduos Padrão do Padrão II for compensatório, as metas terapêuti-
II, Classe II apresentam-se inclinados para vestibular. cas devem incluir uma posição mais vestibular dos
A comparação da posição do incisivo inferior na incisivos inferiores.

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