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TÓPICOS DE ESTUDO

Objetivos do capítulo
Apresentar os tipos de juntas para INTRODUÇÃO À SOLDAGEM
• Definições
soldagem;
• Histórico
Apresentar os conceitos de tensões e
• Tipos de juntas e preparação de
deformações em soldagem; juntas de soldagem
Apresentar os defeitos em operações • Simbologia de soldagem
de soldagem.

TENSÕES E DEFORMAÇÕES
EM SOLDAGEM
• Análise das tensões em um
dispositivo
• ZAT
• Distorções
• Controle e correção da distorção

DEFEITOS EM OPERAÇÕES
DE SOLDAGEM
• Descontinuidades nas operações de
soldagem
• Critérios de aceitação de defeitos em
soldas
• Falha de componentes estruturais
• Trincas

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Contextualizando o cenário
A soldagem de peças metálicas é um processo de fabricação que permite a união de
chapas e peças em geral, de forma permanente. Esse processo é muito utilizado para a
fabricação de estruturas de grande porte, fixas, como pontes e estruturas prediais, ou
máquinas de mobilidade, como automóveis e navios.
A variedade dos tipos de processos de soldagem é muito grande, visto que as aplicações
são inúmeras dentro do setor industrial mecânico.
Esses processos de soldagem envolvem uma série de detalhes e características, como
temperaturas a serem utilizadas durante o processo, bem como os tipos de metais que
podem ser soldados.
Os processos de soldagem são realizados através de normas técnicas para execução das ope-
rações e de segurança pois, geralmente, envolve fontes de energia com altas temperaturas.
Nesse cenário, surge uma questão importante:
Por que utilizamos processos de soldagem com eletrodo revestido para unir peças, se
podemos usar processos de soldagem mais modernos para realizar as uniões?

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5. Soldagem
Existem diversos processos de fabricação industrial, entre eles, a soldagem. Esse processo
é o responsável pela união de peças metálicas, geralmente chapas, de forma permanente,
sendo um dos processos mais utilizados na indústria naval, automobilística, aeroespacial, bem
como na construção de pontes e estruturas de equipamentos industriais.
Os processos de soldagem podem vir acompanhados de defeitos que podem ser corrigidos
com técnicas e utilização de normas apropriadas.

5.1 Introdução à soldagem


A soldagem é um dos processos de fabricação utilizado para a união permanente de peças,
ou seja, onde a estrutura montada não tenha a necessidade de ser desmontada, como as
uniões feitas por sistemas aparafusados.
As primeiras técnicas de soldar com arco elétrico tiveram início no século XIX, porém, seu
desenvolvimento a nível industrial foi concretizado apenas no século XX.
Atualmente, existem mais de 50 processos diferentes de soldagem aplicados a diversos
ramos industriais.

CURIOSIDADE:
Os robôs industriais aplicados à soldagem foram criados na década de 60, na indústria
automobilística, e eram utilizados na soldagem por resistência, ou seja, solda ponto.

5.1.1 Definições
O processo de soldagem envolve uma fonte de energia capaz de unir peças metálicas, com
ou sem adição de material, e essa união é geralmente feita em peças de mesmo material. As
principais definições do processo de soldagem são:
De acordo com a AWS, a soldagem visa obter coalescência localizada em peças metálicas,
produzida pelo aquecimento até uma temperatura adequada, obtida através de uma fonte de
energia, com ou sem aplicação de pressão e de metal de adição.
Soldagem é um processo de união de materiais metálicos em uma região de contato entre
os materiais a serem unidos, de forças de ligação química, semelhantes e atuantes no interior
dos próprios materiais.

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Principais processos de soldagem
Estima-se que, hoje em dia, mais de 70 processos de soldagem são utilizados mundialmente,
levando-se em consideração que esse é um número dinâmico, pois vários outros processos es-
tão em desenvolvimento em nível de pesquisa, em universidades e empresas de equipamentos
para solda, alterando o mercado de soldagem.
A divisão inicial dos processos de soldagem é realizada em três grandes classes:
1. Soldagem por fusão: processo de soldagem no qual o metal base e o de adição absorvem
energia o suficiente para entrarem em ponto de fusão, onde se encontram processos de solda-
gem como o SMAW e os processos MIG/MAG. Esse processo também é conhecido como fase
líquida-líquida.
2. Soldagem por pressão: processo de soldagem onde as partes a serem unidas entram em
atrito gerando assim a energia suficiente para a união, como, por exemplo, a solda por atrito.
Este processo também é conhecido como fase sólida-sólida.
3. Brasagem: processo de soldagem no qual as partes a serem unidas são soldadas por um
metal de adição, com um ponto menor de fusão do metal base, como, por exemplo, a solda
oxiacetilênica. Esse processo também é conhecido como fase sólida-líquida.

5.1.2 Histórico
As técnicas modernas de soldagem começaram a ser melhor utilizadas a partir da descober-
ta do arco elétrico, e também da sintetização do gás acetileno, em 1836, por Edmund Davy, o
que permitiu que se iniciassem alguns processos de fabricação de peças, utilizando essa nova
fonte de energia.
Com o acontecimento da primeira guerra mundial, as técnicas para soldar começaram a ser
mais utilizada nos processos de fabricação, porém, foi na segunda guerra mundial que os pro-
cessos de soldar ganharam um grande impulso de tecnologia, desenvolvendo novas técnicas e
aperfeiçoando as já existentes.
Na década de 1930, a Associação Americana de Soldagem, AWS, desenvolveu as primei-
ras normas para os eletrodos revestidos. Nessa década, também foram desenvolvidos os pro-
cessos de soldagem com eletrodo não consumível (TIG) e arco submerso.
A partir da década de 1950, alemães e franceses conseguiram desenvolver um método novo
de solda, utilizando um feixe de elétrons. Nesta década também foi desenvolvida a solda com
processo a plasma.
Na década de 60 foram utilizadas as primeiras soldas a laser e na década de 70 foram utili-
zados os primeiros rabos nos processos de soldagem.

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CURIOSIDADE:
Em 1950, em plena era da energia atômica, pesquisadores franceses e alemães desenvol-
veram a primeira solda em câmara de vácuo, denominada de solda por feixe de elétrons.

5.1.3 Tipos de juntas e preparação de juntas de soldagem


Nos processos de soldagem, existem basicamente cinco tipos de juntas para a união entre
duas peças. Essas juntas não são empregadas apenas à soldagem e podem ser aplicadas em
outras técnicas de fixação e união, como, por exemplo, na utilização de parafusos ou rebites.
As juntas (Fig. 1) podem ser definidas como a seguir:
• Junta de topo: é o tipo de junta na qual as peças estão alinhadas em um mesmo plano e
unidas por suas extremidades.
• Junta de canto: as peças a serem soldadas em junta de canto formam um ângulo entre si,
geralmente reto, e são unidas no canto do ângulo.
• Junta sobreposta: é uma junta que consiste em duas peças, arranjadas de maneira que
fique uma sobre a outra.
• Junta em “T”: nesse tipo de junta, uma peça fica perpendicular à outra, formando um
perfil que lembra a letra “T”.
• Junta em aresta: nesse tipo de junta, as extremidades de duas chapas são curvadas em 90°,
e unidas por estas extremidades, de forma paralela, por uma aresta em comum (GROOVER, 2016).

A) B) C)

D) E)

Figura 1. Tipos de juntas.

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5.1.4 Simbologia de soldagem
Nos processos de soldagem, existe uma série de números, símbolos e sinais que represen-
tam o processo utilizado, o formato do cordão de solda, as dimensões, os tipos de chanfro,
o acabamento etc. Esses parâmetros evitar erros de interpretação de projetos e executar os
processos de soldagem de maneira rápida e eficiente. Na Fig. 2, temos o resumo da aplicação
das simbologias em solda, segundo a norma AWS A2.1 e AWS A2.4.

Símbolo de contorno Símbolo de acabamento


Fresta
Ângulo de chanfro
F Comp. da solda
Símbolo básico
A Dist. centro a centro
Dimensão de solda em chanfro (soldas intermitentes)
R
Dimensão de solda/prep. Soldagem no campo
Lado
Especificação,
S (E) oposto L-P
processo ou outro
T
Lado
Lado Lado da
oposto
da seta seta
Cauda
Linha de referência

Figura 2. Resumo da aplicação das simbologias de solda. Fonte: AWS A2.4, 2012. (Adaptado).

Na Fig. 3, podemos observar os principais tipos de símbolos de chanfros e tipos de solda


aplicados aos processos de soldagem utilizados nos desenhos técnicos durante o processo de
fabricação.

1/2 V flangeado V flangeado U ou duplo U 1/2 V ou X J ou duplo J em V ou X em I (Bordas


paralelas)

Outros

Solda de Solda a Solda de Solda por Solda no Solda de


filete ponto tampão costura Soldas de aresta reverso revestimento

Figura 3. Principais tipos de símbolos de chanfros e solda.

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Os símbolos básicos representam, esquematicamente, a seção transversal da solda referencia-
da no desenho utilizado para a produção de uma peça, como podemos ver na ilustração da Fig. 4.

Solda de Filete
mesmo lado

Solda de Filete
lado oposto

Solda de Filete
ambos os lados

Chanfro em V
mesmo lado

Chanfro em
duplo V ou X

Solda de Filete
mesmo lado

Solda de Filete
lado oposto

Solda de Filete
ambos os lados

Figura 4. Representação esquemática dos símbolos básicos.

Quando o símbolo básico é colocado sobre a linha de referência, a solda deve ser feita do lado
oposto em que se encontra a seta, caso contrário, a solda deve ser executada do mesmo lado da
seta, como podemos observar na Fig. 4. Pode ser utilizado mais de um símbolo básico em um ou
dos dois lados da linha de referência.

5.2 Tensões e deformações em soldagem


Durante as operações de soldagem, principalmente as que são realizadas com a fusão do
metal base com o metal de adição, a variação rápida e desuniforme de temperatura geralmen-
te causa tensões residuais e deformações nas juntas soldadas.

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Isso ocorre por conta da alta energia térmica do processo de soldagem, gerando uma di-
latação da região e alterando de forma microestrutural as regiões adjacentes, podendo gerar
distorções.

CURIOSIDADE:
Durante a segunda guerra mundial, foram construídos 4.694 navios, dos quais
1.289 sofreram fratura frágil devido a tensões térmicas causadas pelo processo
de soldagem.

5.2.1 Análise das tensões em um dispositivo


Nos processos de soldagem a arco elétrico, a fonte de energia pode gerar tensões inter-
nas capazes de deformar os componentes de forma definitiva. Para tentarmos resolver esse
problema, podemos fazer uma análise de tensões térmicas. Outra situação que podemos en-
contrar com distorções dos componentes de um dispositivo soldado é por meio de tensões
mecânicas. Nesse caso, uma boa análise antes da soldagem pode evitar muitos problemas
estruturais.
Análise de tensões térmicas
Quando chapas metálicas são aquecidas, suas dimensões são alteradas de forma propor-
cional à variação de temperatura, obedecendo a seguinte equação:

Δl= l – l0 = l0.α.Δt

Onde Δl é a variação do comprimento da peça a ser soldada, l0 o comprimento inicial da


peça, l o comprimento final, Δt a variação de temperatura que ocorre durante o processo e α o
coeficiente de dilatação linear do material a ser soldado.
Caso não exista restrições na dilatação da peça soldada, alterando suas dimensões, as dila-
tações não afetarão o projeto inicial. Porém, quando existirem restrições em relação à expan-
são da peça soldada, podendo inviabilizar sua utilização com segurança, as tensões residuais
da soldagem, relativas da ação térmica, devem ser analisadas.
Quando a temperatura do processo de soldagem se eleva, as chapas que estão sendo sol-
dadas sofrem um esforço de compressão, deformando, elasticamente, até que as tensões in-
ternas atinjam o limite de escoamento do material soldado. A partir dessa fase, a dilatação
térmica é absorvida, gerando uma deformação plástica.

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Análise de tensões mecânicas atuantes em juntas soldadas
Quando uma solicitação, por meio de um esforço, acontece sobre um dispositivo soldado, a
estrutura metálica pode sofrer alterações dimensionais.
Nesse caso, a resistência entre duas peças soldadas deve ser analisada por meio de cálculos
nos quais as propriedades mecânicas dos materiais utilizados do metal base, bem como da
solda, são levadas em consideração. A princípio, podemos calcular a ação de uma tensão sobre
um cordão de solda de topo utilizando a equação abaixo.

F F
σ= =
A l.t

Onde F é a força aplicada sobre a junta soldada, l é o comprimento do cordão de solda e t é


a espessura da chapa e o produto de l por t define a área da seção transversal do cordão de
solda, como podemos observar na Fig. 5.

F I

t
I

A= Ixt

Figura 5. Cordão de solda de topo.

A tensão admissível para dimensionar um cordão de solda de topo é σ = 90 Mpa.

5.2.2 ZAT
A zona afetada termicamente, ou ZAT, como é mais conhecida, é uma região da solda que
não entrou em ponto de fusão durante a soldagem e que sofreu mudanças microestruturais,
devido ao calor gerado pela soldagem. Essa região pode se tornar fraca em uma junta solda-
da, pois a estrutura granular no ZAT não é tão refinada e, portanto, é mais fraca que o metal
circunvizinho da região. Se o ZAT (Fig. 6) resfriar rapidamente, pode, em determinados aços,
formar uma estrutura cristalina muito frágil, denominada martensita.

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Figura 6. Zona afetada termicamente. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 2018.

O ZAT pode conter, também, poros relativamente grandes, gerando locais naturais de cap-
tura de hidrogênio atômico, pois, quando dois átomos de hidrogênio se encontram, há uma
união imediata entre eles para formar o hidrogênio molecular em estado gasoso. Essas molé-
culas de hidrogênio são maiores que a estrutura cristalina do metal e podem ficar impedidas
de migrar livremente. Quanto mais átomos de hidrogênio migram até estes poros mais molé-
culas ficam aprisionadas aumentando a pressão interna e consequentemente geram trincas
ou fissuras, como podemos observar na Fig. 7.

Zona de fusão

Zona afetada
Interface termicamente
da solda

Trincas induzidas
pelo hidrogênio

Figura 7. Trincas induzidas pelo hidrogênio.

Quando a solda é realizada em aços carbono que possuem uma boa plasticidade, as ten-
sões internas são acomodadas, diminuindo a probabilidade do acontecimento de trincas; po-
rém, quando se trata de aços de alta dureza e alta resistência, que não possuem uma boa

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plasticidade para acomodar a pressão, mais o acúmulo de hidrogênio nessa região, poderá
ocorrer fissuras.

PAUSA PARA REFLETIR


As trincas propagadas em peças soldadas podem gerar defeitos catastróficos em navios
e estruturas de grande porte.
Qual o método mais fácil utilizado para evitar trincas em cordões de solda?

5.2.3 Distorções
O aquecimento e resfriamento brusco nas regiões localizadas nas juntas de soldagem por
fusão, especialmente a arco elétrico, resultam em uma expansão térmica e uma contração,
originando tensões residuais em peças soldadas. Essas tensões podem causar distorções e
empenamentos em peças soldadas.
O que ocorre nesse caso é muito complexo, porque o aquecimento é muito localizado, a fu-
são dos metais-base ocorre de forma localizada nessas regiões e há movimentação da região sob
aquecimento e fusão. Como, por exemplo, podemos considerar uma solda de topo entre duas pla-
cas, por meio de soldagem a arco elétrico, como ilustrado na Fig. 8, na qual as letras demonstram:
A: A operação de soldagem da união das chapas inicia em uma das extremidades, deslo-
cando-se para a extremidade oposta. Na sequência, uma poça de fusão é formada a partir do
metal base e do metal de adição, que solidifica de forma rápida, logo após ao arco móvel. As re-
giões vizinhas ao cordão de solda absorvem muita energia térmica e se expandem ao mesmo
tempo que as regiões distantes permanecem relativamente frias. A poça de solda é solidificada
de forma rápida entre a união das duas chapas e, como o metal ao redor está frio, uma tensão
de contração ocorre por toda extensão da solda.
B: As regiões vizinhas ao cordão de solda absorvem muita energia térmica e se expandem,
ao mesmo tempo que as regiões distantes permanecem relativamente frias.
C: A tensão residual no cordão de solda gera tensões de compressão reativas nas regiões
das chapas distantes do cordão de solda. Essas regiões das chapas permanecem relativamen-
te frias e, portanto, não têm suas dimensões alteradas, enquanto que o cordão solidificado a
altas temperaturas contrai na sequência, fazendo com que as tensões trativas residuais per-
maneçam de forma longitudinal no cordão de solda.
D: O resultado final dessas tensões residuais, longitudinal e transversal, podem causar o
empenamento do conjunto soldado (GROOVER, 2016).

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A) B)
Contração transversal
Vareta Junta soldada

V Após
soldagem
Largura
original

C) D)
-0
- +
+ 0 σ
σ
- -
0 0+
+ Modelo de Empenamento
Modelo de distribuição provável
distribuição da tensão
da tensão longitudinal
transversa
Figura 8. Distorções em uma solda de topo. Fonte: GROOVER, 2016. (Adaptado).

PAUSA PARA REFLETIR


Geralmente, utilizamos soldagem elétrica para unir peças metálicas, que podem ficar
com distorções.
Como podemos soldar as peças plásticas sem causar distorções?

5.2.4 Controle e correção da distorção


Tanto a tensão residual induzida termicamente quanto as distorções são problemas que
acontecem na maioria dos processos de soldagem, por conta da alta concentração de energia,
porém, existem técnicas para corrigir ou evitar as distorções.
As principais técnicas de correção de empenamento de um conjunto soldado são:
• Fixadores de soldagem: dispositivos utilizados para fixar as peças durante a soldagem,
com a finalidade de evitar distorções.
• Dissipadores de calor: são utilizados para dissipar o calor de maneira rápida, a partir da
junta soldada, reduzindo as distorções.

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• Soldagem de ponteamento: são vários pontos de solda aplicados ao longo da junção
das chapas, formando uma estrutura mais rígida, antes de ser executado o cordão de solda
definitivo.
• Condições de soldagem: são as condições selecionadas para reduzir o empenamento das
chapas, como, por exemplo, a velocidade de soldagem e a quantidade de metal de adição.
• Peças preaquecidas: processo de aquecimento das peças a serem soldadas, para reduzir
o nível de tensões térmicas, antes de ser realizado a soldagem.

5.3 Defeitos em operações de soldagem


Além de distorções e tensões residuais que ocorrem em peças soldadas, outros defeitos
podem ocorrer. Os principais defeitos em peças soldadas são:
• Trincas: interrupções tipo fraturas na própria solda ou no metal de base adjacente à solda.
• Vazios ou cavidades: são cavidades formadas pela contração térmica durante a solidifica-
ção, na poça de fusão.
• Inclusões sólidas: são materiais sólidos, não metálicos, aprisionados no interior do metal
de solda.
• Fusão incompleta: cordão de solda no qual a fusão não ocorreu ao longo de toda a seção
transversal.
• Forma imperfeita: defeitos que diminuem a resistência mecânica das peças soldadas, pelo
fato de o perfil da solda não ser o mais apropriado, como podemos ver na ilustração da Fig. 9.

PERFIL BOM MORDEDURA

SOBREPOSIÇÃO
FALTA DE MATERIAL

Figura 9. Formas imperfeitas de soldagem.

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5.3.1 Descontinuidades nas operações de soldagem
A descontinuidade nas operações de soldagem é uma interrupção na estrutura típica do
material a ser soldado, que modifica fortemente suas propriedades. Quando isso acontece,
ficam evidentes defeitos operacionais ou de matéria-prima utilizada para a confecção das pe-
ças, afetando as características mecânicas da junta soldada.
As descontinuidades do processo de soldagem podem gerar defeitos nas juntas soldadas,
como a falta de penetração, que é a ausência de profundidade da solda no cordão, ou a poro-
sidade, que é gerada pelo aprisionamento de gases dentro do cordão de solda, após a solidifi-
cação, como podemos observar na Fig. 10.

CORDÕES DE SOLDA

POROSIDADE

Figura 10. Porosidade em cordões de solda.

Tais defeitos podem ser observados macroscopicamente e podem chegar a refugar as pe-
ças após a soldagem, a menos que possam ser reparados. No entanto, só são considerados
defeitos quando superam os limites fixados no projeto de soldagem da peça.

5.3.2 Critérios de aceitação de defeitos em soldas


Os critérios de aceitação em peças soldadas dependem de uma variedade de ensaios e
métodos de inspeção, utilizados para avaliar a qualidade da junta soldada. Tais métodos de
inspeção e ensaios são padronizados e desenvolvidos por instituições e associações, como a
American Welding Society (AWS). A finalidade desses métodos é de inspecionar as peças solda-
das, por meio de procedimentos que podem ser divididos em três categorias: o procedimento
visual, o destrutivo e o não destrutivo.

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• Inspeção visual: é método de inspeção de peças soldadas mais utilizado, no qual um es-
pecialista da área de soldagem examina, visualmente, as peças soldadas, com a finalidade de
verificar as conformidades especificadas nos desenhos da peça, os empenamentos, as trincas,
as cavidades, a fusão incompleta, entre outros defeitos visíveis. O especialista em soldagem
também pode determinar se há necessidade de ensaios adicionais.
• Ensaios destrutivos: ensaios aplicados em peças soldadas, nos quais as peças são destruídas
em máquinas especificas, com a finalidade de verificar a resistência mecânica da junta soldada. Os
principais ensaios destrutivos utilizados em peças soldadas são os de tração e cisalhamento.
• Ensaios não destrutivos: mais conhecidos pela sigla END, nos quais são aplicados méto-
dos que não danificam as amostras inspecionadas. Os principais ensaios não destrutivos para
peças soldadas são:
• Líquidos penetrantes: métodos utilizados em peças soldadas e que detectam
pequenos defeitos, como trincas e cavidades, que se propagam na superfície da peça.
• Ultrassom: ensaio que utiliza ondas sonoras de alta frequência, geralmente aci-
ma de 20 kHz, direcionadas através das amostras. Os defeitos, como trincas e porosi-
dade, são detectados pelas perdas de transmissão do som.
• Radiografia: utiliza raios X ou radiação gama para detectar falhas internas no
local soldado da peça, e pode ser registrado em filme fotográfico.
• Partículas magnéticas: aplicado apenas em materiais ferromagnéticos, no qual
um campo magnético é aplicado na peça e as partículas magnéticas, como as lima-
lhas de ferro, são espalhadas na superfície. Os defeitos, como inclusões e trincas, são
localizados pela distorção do campo magnético.
Após a realização dos ensaios, cabe ao especialista em soldagem classificar os defeitos en-
contrados e realizar os devidos laudos técnicos. Os defeitos podem ser aceitos dentro de uma
faixa estreita de defeitos, quando não oferecerem riscos aos componentes estruturais.

5.3.3 Falha de componentes estruturais


As falhas de componentes estruturais podem ocorrer devido a fatores como desgaste de
um componente, afrouxamento de uniões aparafusadas, trincas nas partes soldadas ou, até
mesmo, a combinação desses fatores.
No caso da soldagem, as principais falhas são geradas por conta de trincas provenientes de
ZAT, ou de tensões internas, devido às distorções térmicas.
As tensões residuais de compressão, afastadas das regiões soldadas, podem reduzir a resis-
tência à flambagem de estruturas soldadas.

CONFORMAÇÃO MECÂNICA E SOLDAGEM 100


Em juntas soldadas de chapas de aço de pequena espessura, a distorção pelo efeito de
flambagem, resultante das tensões térmicas e residuais, pode, também, gerar uma junta de
aspecto irregular enrugado.

5.3.4 Trincas
As trincas fazem parte dos diversos tipos de defeitos que podem aparecer em peças soldadas,
sendo o principal defeito que gera falhas nos componentes estruturais soldados.
As trincas são interrupções semelhante às fraturas dentro dos cordões de solda ou na região
adjacente desses. Possivelmente, é o defeito de soldagem mais grave, pois constitui uma des-
continuidade do metal, reduzindo, de maneira significativa, a resistência da estrutura soldada.
As trincas provenientes de um processo de soldagem podem ser originadas da baixa ductili-
dade da solda ou do metal base, causando uma fragilização localizada durante a contração do
metal. Já as trincas em soldas também podem ocorrer em temperaturas mais amenas, entre
200 ºC e 300 ºC, nos aços ao carbono e de baixa liga.
As trincas a frio são típicas de raiz, e podem ocorrer sob circunstâncias metalúrgicas e me-
cânicas particulares, associadas:
• À temperabilidade das soldas: determinada por uma combinação de composição quími-
ca e da velocidade de resfriamento do cordão de solda.
• À quantidade de hidrogênio difundido nas soldas: varia segundo o tipo de processo de
soldagem, o tipo de metal de adição, contaminantes na superfície da peça, como óleo e umida-
de, e a velocidade de resfriamento da solda.
• Ao grau de limitação das juntas soldadas: varia com o tipo de estrutura a ser soldada,
porém, a espessura do componente estrutural é o fator mais predominante, pois quanto mais
espessa for a chapa, mais alta será a limitação.
• À velocidade de resfriamento das soldas: varia segundo o aporte de calor de soldagem,
a espessura da chapa e a temperatura de pré-aquecimento.
Quanto mais esses fatores aumentarem, mais suscetível fica a trinca na raiz do cordão
de solda.

Proposta de Atividade
Agora é hora de pôr em prática tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Faça uma pesqui-
sa sobre os principais processos de soldagem utilizados na construção naval. A partir dessas
informações, faça um resumo dos tópicos, considerando os conteúdos do capítulo.

CONFORMAÇÃO MECÂNICA E SOLDAGEM 101


Recapitulando
Os processos de soldagem de metais são muito utilizados pela indústria mecânica mun-
dial, com a finalidade de obter estruturas rígidas não desmontáveis. As principais operações
de soldagem são realizadas com fonte de energia elétrica, capaz de fundir o material metálico.
Os processos de soldagem são realizados em juntas, com a finalidade de realizar as uniões
em chapas metálicas de forma permanente. Utilizamos processos de soldagem com eletro-
dos por ser uma técnica segura e de mais fácil aplicação, além de ser mais barata que as téc-
nicas mais modernas de processos de soldagem. A soldagem por ultrassom é um processo
econômico e eficiente para a união de peças em série, feitas de termoplásticos, sem gerar
deformações.
As tensões geradas pela fonte térmica de soldagem podem causar deformações nas peças
ou trincas na zona afetada termicamente, a ZAT. Existem métodos de correção que podem ser
aplicados às peças soldadas, evitando as falhas nos componentes estruturais. O método mais
aplicado para evitar as trincas nos cordões de solda é a escolha da resistência adequada para
o metal de enchimento e o metal base.
Para garantir a realização dos processos de soldagem, devemos utilizar simbologias pró-
prias durante a fabricação das peças, seguindo orientações de normas desenvolvidas por
associações como a AWS.
Ficamos por aqui.
Bons estudos!

CONFORMAÇÃO MECÂNICA E SOLDAGEM 102


Referências bibliográficas
AMERICAN WELDING SOCIETY. AWS A2.4-2012. Standard Symbols for Welding, Brazing, and
Nondestructive Examination. Flórida, 2012.
CALLISTER, W. D. Ciência e engenharia de materiais, uma introdução. Rio de Janeiro: Editora
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CETLIN, P. R. Fundamentos da conformação mecânica dos metais. São Paulo: Editora Artli-
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GROOVER, M. P. Introdução aos processos de fabricação. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2016.
KIMINAMI et al. Introdução aos processos de fabricação de produtos metálicos. São Paulo:
Editora Blucher, 2013.
MELCONIAN, S. Mecânica técnica e resistência dos materiais. São Paulo: Editora Saraiva,
2017.

CONFORMAÇÃO MECÂNICA E SOLDAGEM 103

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