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MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS


PROCURADORIA DISTRITAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

RECOMENDAÇÃO CONJUNTA Nº 06/2023 – PDDC


Procedimento Administrativo nº 08192.008778/2023-63

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, por intermédio da


Procuradoria Distrital dos Direitos do Cidadão – PDDC, da 2ª e 5ª Promotorias de Justiça
Especial Criminal de Brasília (PEJCrim), e da 1ª Promotoria de Justiça dos direitos Difusos e
Coletivos (Proreg) no uso das atribuições conferidas pelos artigos 127 c/c 129, incisos II, III, VI
e IX, da Constituição Federal c/c os artigos 5º, inciso I, “h”; inciso II, “b”; inciso III, “b” e “e”;
inciso V, “b”; 6º, inciso VII, “b” e “d”; inciso XIV, “a” e “f”; e inciso XX; 7º, inciso I; 11, 14 e
artigo 151 da Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993;

Considerando que o Ministério Público tem o dever constitucional de


promover as ações necessárias, no exercício de suas funções institucionais, para defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis,
zelando pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos
direitos assegurados na Constituição;

Considerando que o lazer é um direito fundamental, consagrado no art. 6º,


caput, da Constituição Federal;

Considerando que é dever do Estado fomentar práticas desportivas formais


e não-formais, como direito de cada um, e que o Poder Público incentivará o lazer, como
forma de promoção social, a teor do art. 217, caput e § 3º, da Constituição Federal;

Considerando que a Lei Geral do Esporte – Lei nº 14.597, de 14 de junho de


2023, possui regras que garantem o bom desenvolvimento das atividades desportivas,
especialmente em relação aos jogos de futebol, garantindo a realização dos eventos com
segurança;

Considerando as relações de consumo em eventos esportivos, em especial


que o artigo 142 da Lei Geral do Esporte estabelece no § 1º que, para todos os efeitos legais
e para fins de aplicação do Código de Defesa do Consumidor, considera-se consumidor o
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espectador do evento esportivo, torcedor ou não, que tenha adquirido o direito de ingressar
no local onde se realiza o referido evento , e fornecedor a organização esportiva responsável
pela organização da competição em conjunto com a organização esportiva detentora do
mando de campo, se pertinente, ou, alternativamente, as duas organizações esportivas
competidoras, bem como as demais pessoas naturais ou jurídicas que detenham os direitos
de realização da prova ou partida.

Considerando que o espectador tem direito à segurança nos locais onde


são realizados os eventos esportivos antes, durante e após a realização das provas ou
partidas (art. 146, da Lei Geral do Esporte).

Considerando que assim estabelece o art. 149 da Lei Geral do Esporte:

Art. 149. Sem prejuízo do disposto nos arts. 12, 13 e 14 da Lei nº 8.078,
de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), a
responsabilidade pela segurança do espectador em evento esportivo será da
organização esportiva diretamente responsável pela realização do evento
esportivo e de seus dirigentes, que deverão:
I - solicitar ao poder público competente a presença de agentes
públicos de segurança, devidamente identificados, responsáveis pela
segurança dos espectadores dentro e fora dos estádios e dos demais locais
de realização de eventos esportivos;
II - informar imediatamente após a decisão acerca da realização da
partida, entre outros, aos órgãos públicos de segurança, de transporte e de
higiene os dados necessários à segurança do evento, especialmente:
a) o local;
b) o horário de abertura da arena esportiva;
c) a capacidade de público da arena esportiva;
d) a expectativa de público;

Considerando que é direito do espectador a implementação de planos de


ação referentes a segurança, a transporte e a contingências durante a realização de eventos
esportivos com público superior a 20.000 (vinte mil) pessoas, os quais serão elaborados pela
organização esportiva responsável pela realização da competição, com a participação das
organizações esportivas que a disputarão e dos órgãos das localidades em que se realizarão
as partidas da competição responsáveis pela segurança pública, pelo transporte e por
eventuais contingências (art. 151, § 1º).
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Considerando que a Portaria nº 1315, de 26 de outubro de 2017, instituiu,
no âmbito do MPDFT, a Comissão que visa acompanhar a prevenção e o combate à violência
nos estádios de futebol;

Considerando as reuniões de alinhamento, promovidas pela Secretaria de


Segurança Pública do Distrito Federal, envolvendo as Forças de Segurança Pública e de
fiscalização do DF, com o apoio das demais Instituições, Órgãos e Agências parceiras, e com
representantes deste Ministério Público, no intuito de planejar e executar ações a partir da
necessidade de atuação preventiva de fiscalização e de segurança para os eventos esportivos
a serem realizadas nesta Capital Federal, garantindo a preservação da ordem pública, da
mobilidade e da prestação dos serviços públicos, conforme atribuições legais de cada
Instituição, Órgão ou Agências;

Considerando o teor das Atas referentes às reuniões preparatórias


realizadas para o planejamento do jogo entre as agremiações do Flamengo x Santos, pelo
Campeonato Brasileiro, ocorrido no dia 1º de novembro do corrente ano, no Estádio
Nacional de Brasília – Mané Garrincha;

Considerando que reiteradamente os organizadores de eventos esportivos


têm colocado à disposição do público ingressos excedentes ao inicialmente informado à
Secretaria de Segurança Pública e à Administração Regional local, o que resulta na
intempestividade da realização de novas vistorias, e alocação desse acréscimo de público em
áreas não vistoriadas, além de não permitir o aumento efetivo das forças de segurança para
a realização do evento;

Considerando que a ausência das devidas comunicações e solicitações aos


órgãos competentes, em tempo hábil, provoca insegurança na realização desses eventos de
grande porte, sendo motivo de extrema preocupação por parte deste Órgão Ministerial, caso
comprovada a existência de público maior ao que fora, inicialmente, proposto;

Considerando as condutas anteriores de desrespeito à saúde e segurança


do público presente em eventos, nos quais ficou evidenciado danos diversos, notadamente
de índole coletiva, e que a presente recomendação não inibe e nem isenta os autores de
suas devidas responsabilidades;
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Considerando que o Procedimento Administrativo nº 08192.008778/2023-
63 , instaurado por esta Procuradoria Distrital, tem por finalidade, entre outros, acompanhar
a fiscalização das condições de uso dos estádios de futebol, no âmbito do Distrito Federal;

Considerando, por fim, a supremacia da vida acima de todos os princípios


que regem os demais valores, a proteção à integridade física, além da segurança dos
torcedores e demais presentes às arenas, respaldado na legislação pátria, que deve ser
priorizada em relação aos interesses particulares e econômicos;

RECOMENDA

Ao representante da Metrópoles Sports e demais entidades responsáveis


que tenham por objeto a promoção e organização de eventos, a serem realizados no Estádio
Nacional de Brasília – Mané Garrincha, que:
a) informem imediatamente à Secretaria de Segurança Pública a
respeito da realização do evento no ato de sua confirmação, comunicando
o número exato de ingressos a serem disponibilizados ao público, visando
atender integralmente o que estipula a Lei Geral de Esportes, o Decreto
Distrital nº 35.816/2014, e demais normas distritais em vigor, seja para
eventos desportivos ou não, a fim de que o evento/festividade/celebração
seja realizado de forma segura;
b) não obstante o cumprimento do prazo de antecedência mínimo
estipulado por lei em 30 dias1, em caso de eventual majoração do número
de pessoas que podem ascender aos grandes eventos, e demais
eventualidades e alterações ao planejamento proposto inicialmente, que
seja noticiado às autoridades competentes, Secretaria de Segurança
Pública e Administração Regional de Brasília, no prazo mínimo de 05
(cinco) dias úteis, antecedentes ao evento, para propiciar que os Órgãos
Públicos se organizem com a expectativa concreta de público, de forma a

1 Conforme disposto no art. 8º do Decreto nº 35.816, de 16.09.2014


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não impactar nos planejamentos prévios estabelecidos pelas Forças de
Segurança, e assim garantir a segurança do público.

Ao Senhor Secretário de Segurança Pública do DF:


a) que não autorize a ocupação do local por público superior ao
limite inicialmente registrado pela entidade organizadora do evento, em
caso de não comunicação prévia da majoração do número de pessoas
presentes, no prazo mínimo estipulado de 05 (cinco) dias úteis
antecedentes ao evento ;

Ao Administrador Regional do Plano Piloto:


que exijam dos organizadores e patrocinadores dos eventos as
garantias e contrapartidas estabelecidas pela legislação, sobretudo ao que
dispõe o Decreto Distrital nº 35816, e que não conceda o respectivo alvará
de licenciamento, em caso de não comunicação prévia da majoração do
número de pessoas presentes ao evento, no prazo de 48h;

Ao Senhor Secretário de Esporte e Lazer do Distrito Federal:


que envide esforços, junto às entidades que tenham por objeto a
promoção e organização de eventos futebolísticos, a serem realizados
nesta Capital Federal, visando atender integralmente o que estipula a Lei
Geral de Esportes, o Decreto Distrital nº 35.816/2014, e demais normas
distritais em vigor, no sentido de observar o teor desta Recomendação;

Ao Presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal e à Confederação


Brasileira de Futebol para que:
adotem, no âmbito de suas respectivas competências, as
providências necessárias atinentes ao teor da presente Recomendação, e
comuniquem às empresas responsáveis pela organização e patrocínio do
evento, bem como aos dirigentes dos respectivos clubes, em caso de
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realização de eventos desportivos no Estádio Nacional de Brasília – Mané
Garrincha.

Por fim, o Ministério Público requisita, com fundamento nos artigos 127 e
129, inciso VI, da Constituição Federal e no artigo 8º, inciso II, da Lei Complementar nº
75/1993, que informe ao Ministério Público, no prazo de 30 (trinta) dias corridos, as
providências que serão adotadas para o cumprimento da presente Recomendação.

Brasília, 20 novembro de 2023.

JOSÉ EDUARDO SABO PAES


Procurador Distrital dos Direitos do Cidadão
MPDFT/PDDC

BRUNO OSMAR VERGINI DE FREITAS


Promotor de Justiça
1ª PJEC

MARCEL NÓBREGA DE ARAÚJO


Promotor de Justiça
2ª PJEC

CLÁUDIO JOAO MEDEIROS MIYAGAWA FREIRE


Promotor de Justiça
4ª PROREG

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