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Sintaxe da

Donis A. Dondis
A sintaxe visual existe. Há linhas gerais para a criação
de composições. Há elementos básicos que podem ser

linguagem visual
aprendidos e compreendidos por todos os estudiosos
dos meios de comunicação visual, sejam eles artistas
ou não, e que podem ser usados, em conjunto com
técnicas manipulativas, para a criação de mensagens
visuais claras. O conhecimento de todos esses fatores
pode levar a uma melhor compreensão das
mensagens visuais.

PONTO A sintaxe visual existe, e sua característica dominante


é a complexidade. A complexidade, porém, não se
opõe à definição. O alfabetismo visual jamais poderá
ser um sistema tão lógico e preciso quanto a
linguagem. As linguagens são sistemas inventados
pelo homem para codificar, armazenar e decodificar
Unidade visual mínima e irredutível, o indicador
LINHA informações. Sua estrutura, portanto, tem uma lógica
que o alfabetismo visual é incapaz de alcançar.
e marcador de espaço. Rotundidade é a
formulação mais comum da natureza. Tem
grande poder de atração visual. Se ligam e são
capazes de dirigir o olhar, além de, se
justapostos em grande número, criam a ilusão Pontos próximos entre si que se tornam TOM
de tom ou cor. Poder de conduzir o olhar indistinguíveis ou ponto em movimento.
aumenta com a proximidade dos pontos. Articulador fluido e incansável da forma, seja na
soltura vacilante do esboço seja na rigidez de um
projeto técnico. Nunca é estática, é decisiva, tem
propósito, direção, etc. Não representa outra
coisa, mas captura a informação visual e a reduz a Intensidade da obscuridade ou claridade de
FORMA um estado em que apenas o essencial permanece. qualquer coisa vista. Apesar de serem inúmeros
na natureza, nas artes gráficas e fotografia
existe um número limitado de possibilidades
tonais, fazendo necessário o uso de tom relativo
à composição. O tom é uma das formas mais
DIREÇÃO comuns de expressar dimensão e profundidade.
Formas básicas e suas infinitas variações,
combinações, permutações de planos e
dimensões. São figuras planas e simples,
fundamentais, que podem ser facilmente
descritas e construídas, tanto visual quanto Impulso de movimento que incorpora e reflete o
verbalmente. A partir da combinação de círculos,
quadrados e triângulos e suas variações derivam
caráter das formas básicas. Todas as formas básicas
expressam as direções visuais básicas e significativas:
COR
todas as formas da natureza e da imaginação. o quadrado (horizontal e vertical), o triângulo (a
diagonal) e o círculo (curva). Cada uma tem um
significado associativo. A diagonal é oposta à ideia de
estabilidade (vertical e horizontal): é instável e
Enquanto o tom está associado a questões de
provocadora. As curvas são associadas a abrangência,
sobrevivência, a cor tem mais afinidade com as
repetição e calidez.
TEXTURA emoções. O amarelo é a cor que mais se aproxima da
luz, do calor; o vermelho é mais ativo e emocional; e
o azul é passivo e calmo. Cores quentes tendem a
expandir e as frias a contrair. A cor tem 3 dimensões:
matiz/croma é a cor em si (frequência), saturação é a
ESCALA OU pureza relativa da cor e brilho/valor é a presença ou
Óptica ou tátil, o caráter de superfície dos PROPORÇÃO ausência de luz.
materiais visuais. Onde há uma textura real, as
qualidades táteis e ópticas coexistem, não como
tom e cor, que são unificados em um valor
comparável e uniforme, mas de uma forma única
e específica, que permite à mão e o olho
experiências individuais.
Todos os elementos visuais são capazes de se DIMENSÃO
modificar e definir uns aos outros, a
justaposição relaciona-os entre si. A medida e o
tamanho relativos. A escala mais famosa é a
seção áurea grega. Aprender a relacionar o
tamanho com o objetivo e o significado é
MOVIMENTO essencial na estruturação da mensagem visual. A representação da dimensão em formatos
visuais bidimensionais também depende da
ilusão: nas representações a dimensão não é
real, é implícita. O principal artifício para simulá-
la é a perspectiva, que pode ser intensificada
pela manipulação tonal.
Tal como a dimensão, o elemento visual do
movimento frequentemente não é real, mas
implícito. É uma das forças visuais mais
dominantes da experiência humana.

Equilíbrio
A mais importante influência tanto psicológica como
física sobre a percepção humana, a base consciente

Contraste Harmonia
e inconsciente para fazer avaliações visuais. Na
expressão ou interpretação visual, esse processo de
estabilização impõe a todas as coisas vistas e
Instabilidade Equilíbrio planejadas um "eixo" vertical, com um referente
Simetria horizontal secundário, os quais determinam, em um
Assimetria conjunto, os fatores estruturais que medem o
Irregularidade Regularidade equilíbrio. Esse eixo visual também é chamado de
Complexidade Simplicidade eixo sentido, que melhor expressa a presença
invisível mas preponderante do eixo no ato de ver.
Fragmentação Unidade Trata-se de um constante inconsciente.
Profusão Economia
Exagero Minimização Tensão
Espontaneidade Previsibilidade
A falta de equilíbrio e regularidade é um fator de
Atividade Estase desorientação. A tensão visual decorre da
Ousadia Sutileza perturbação do equilíbrio relativo, quando os
Ênfase Neutralidade elementos não se ajustam aos "eixos visuais"
invisíveis. O inesperado, o irregular, o complexo, o
Transparência Opacidade instável por si só não dominam o olhar. Estabelecer
Variação Estabilidade o eixo vertical e a base horizontal atraem o olho
com muito mais intensidade.
Distorção Exatidão
Profundidade Planura
Justaposição Singularidade Nivelamento e aguçamento
Acaso Sequencialidade O poder do previsível empalidece diante da
Agudeza Difusão surpresa. A estabilidade e a harmonia (nivelamento)
Episodicidade Repetição são polaridades daquilo que é visualmente
inesperado e daquilo que cria tensões na
composição (aguçamento). Existe, além disso, um
terceiro estado: a ambiguidade. Neste caso, a
intenção compositiva e o significado são
obscurecidos, não é claramente em harmonia ou
constraste e exige uma análise mais profunda.
Ângulo inferior esquerdo
O olho favorece a zona inferior esquerda de qualquer campo visual (talvez influenciado
pelo modo ocidental de imprimir e da leitura da esquerda para a direita). A existência de
diferenças de peso alto-baixo e esquerda-direita tem grande valor nas decisões Positivo e negativo
compositivas. Positivo e negativo não se referem absolutamente à
obscuridade, luminosidade ou imagem especular. O
que domina o olho na experiência visual seria visto
como um elemento positivo, e como elemento
Atração e agrupamento negativo consideraríamos tudo aquilo que se
apresenta de maneira passiva. O conhecimento em
Uma condição visual que cria uma circunstância de concessões mútuas nas relações que profundidade dos processos perceptivos que regem
envolvem interação: quanto maior for a proximidade de elementos iguais, maior será sua a resposta aos estímulos visuais intensifica o
atração e, em decorrência, seu agrupamento. Além disso, a proximidade permite uma controle do significado.
maior complexidade das formas que esses elementos podem delinear. Na linguagem
visual, opostos se repelem e similares se atraem (olho completa as conexões que faltam).
Muitas afinidades regem a lei do agrupamento no ato de ver: forma, tamanho, textura,
tom, etc.

Reprodução Simbolismo Abstração


A realidade é a experiência visual básica A abstração para simbolismo requer a A abstração não é necessariamente
e predominante. Um objeto pode ser redução do detalhe viisual ao seu ligada à criação de símbolos quando os
identificado através de uma forma geral, mínimo irredutível. Para ser eficaz, um símbolos têm significado apenas porque
e de características lineares e símbolo não deve ser apenas visto e lhes é imposto. A redução de tudo aquilo
detalhadas. Em termos reconhecido, mas lembrado e que vemos aos elementos visuais
predominantemente representacionais, reproduzido. O símbolo deve ser simples básicos também é um processo de
no entanto, os objetos se inserem em e referir-se a um grupo, ideia, atividade abstração. Em termos visuais, a
classificações individuais, e o comercial, instituição, partido político, abstração é uma simplificação que
conhecimento de detalhes mais sutis de etc. Às vezes é extraído da natureza. busca um significado mais intenso e
cor, proporção, tamanho, movimento e Para a transmissão de informações, condensado. Quanto mais
sinais específicos que o excluem de será ainda mais eficiente quando for representacional for a informação
determinadas categorias. Toda essa uma figura totalmente abstrata. visual, mais específica será sua
informação visual é facilmente obtida referência; quanto mais abstrata, mais
através dos diversos níveis da geral e abrangente. A abstração é
experiência direta do ato de ver. O fundamental para o desenvolvimento de
processo d abstração é também um um projeto visual. É extremamente útil
processo de destilação, de redução dos no processo de exploração
fatores visuais múltiplos aos traços descompromissada de um problema e
mais essenciais e característicos do no desenvolvimento de opções e
objeto representado. Esse processo soluções visíveis, já que libera
pode seguir dois caminhos: a abstração visualizador das exigências de
para simbolismo, com um significado representar a solução final e
identificável ou arbitrariamente consumada.
atribuído; ou a abstração pura, que não
conserva relação alguma com qualquer
representação.

Contraste e harmonia O papel do contraste na visão


No processo de articulação visual, o contraste é uma força vital para a
A luz é a chave da nossa força visual. Em seu estado visual elementar, a
criação de um todo coerente. Em todas as artes, o contraste é um
luz é tonal, e vai do brilho à obscuridade através de etapas degradações
poderoso instrumento de expressão, o meio para intensificar o
sutis. Lembrando que a ausência de cor não afeta os valores tonais, que
significado e simplificar s comunicação. Embora a harmonia seja
são constantes e tem uma importância infinitamente maior que a cor,
colocada como polaridade de contraste, é preciso enfatizar muito que
tanto para ver quanto para conceber e realizar. O que vemos pode
a importância de ambos tem um significado mais profundo na
investir-se das duas propriedades dos valores tonais, a qualidade
totalidade do processo visual. Harmonia, um estado de tranquilidade e
pigmentária da brancura ou do negror relativos do tom, e a qualidade
resolução. Contraste, desequilibra, choca, estimula, chama a atenção.
física da luminosidade ou da obscuridade. O contraste de tom é de
importância tão vital quanto a presença da luz.

O papel do contraste na composição


A visão está fortemente ligada a padrões. Por padrão entendemos um Contraste de tom e cor
certo conjunto de inputs que atingem o receptor no espaço ou no
tempo. Ver significa classificar os padrões , com o objetivo de O tom supera a cor em nossa relação com o meio ambiente, sendo,
compreendê-los ou reconhecê-los (ambiguidade é seu inimigo portanto, muito mais importante que a cor na criação de contraste.
natural). Aguçamento pode equivaler a contraste, e nivelamento pode Entre tom, matiz e croma, o tom é a característica dominante (oposição
ser associado a harmonia. Lei da pregnância > A organização claro-escuro, seguido de quente-frio). A cor oposta (complementar) não
psicológica será sempre tão 'boa' quanto o permitam as condições é apenas uma coisa que se experimenta perceptivamente como uma
vigentes. Como estratégia visual para aguçar o significado, o imagem posterior; a experiência que dela temos é simultânea, através
contraste não só é capaz de estimular e atrair a atenção do de um processo de neutralização, associado ao impulso aparente de
observador, mas pode também dramatizar esse significado, para reduzir todos os estímulos visuais a sua forma mais neutra e
torná-lo mais importante e dinâmico. Ao compararmos o simplificada possível. O contraste é o antídoto principal contra essa
dessemelhante, aguçamos o significado de ambos os opostos. tendência.

Contraste de forma e escala


Se o objetivo for atrair a atenção do observador, a forma regular, simples e resolvida, é dominada pela forma irregular, imprevisível. Ao
serem justapostas, as texturas desiguais intensifícam o caráter único de cada uma.
A distorção de escala pode chocar o olho ao manipular à força a proporção dos objetos e contradizer tudo aquilo que, em função de nossa
experiência, esperamos ver. A ideia ou mensagem subjacente ao uso do contraste através de uma escala distorcida deveria ser lógica;
deveria haver um motivo racional para a manipulação de objetivos visuais conhecidos. Esse contraste pode ser intensificado pela
justaposição de meios.

Susanne Langer em Problems of Art: "Faz-se um quadro distribuindo-se


pigmentos sobre um pedaço de tela, mas a imagem criada não é a somatória
A mensagem e o método
do pigmento e da estrutura da tela. A imagem que emerge do processo é A mensagem e o método de expressá-la dependem da compreensãoe
uma estrutura de espaço, e o próprio espaço é um todo emergente de da capacidade técnica visual e seus instrumentos. O objetivo é
formas, de volumes coloridos e visíveis." A mensagem e significado não se encontrar a melhor solução possível para expressar o conteúdo.
encontram na substância física, mas sim na composição. A forma expressa o Basicamente, o pictório ou visual é determinado pela informação visual
conteúdo. "Artisticamente bom é tudo aquilo que articula e apresenta um observada, pela interpretação e percepção de dados e pistas visuais,
sentimento a nossa compreensão."
pela totalidade da manifestação visual.
Vemos o que precisamos ver. Através da influência da disposição
mental, das preferências e do estado de espírito em que eventualmente
nos encontramos. W. H. Auden reflete em seu poema In Memory of W. B.
Inteligência visual aplicada Yeats: "As palavras de um homem morto são modificadas nas
entranhas dos vivos". A missão da composição visual é, através do
O que chamamos de intuição na arte é uma coisa extremamente
entendimento dos procedimentos pelos quais o organismo humano vê,
ilusória. Nas questões visuais, a apreensão imediata de significado faz
influenciar respostas por meio de técnicas visuais.
com que tudo pareça mais fácil para ser levado a sério
intelectualmente. E comete-se com o artista a injustiça de privá-lo de
seu gênio especial. A inspiração súbita e irracional não é uma força
aceitável no design.
Paul Stern em seu ensaio On The Problems of Artistic Form: "Somente Técnicas de comunicação visual
quando todos os fatores de uma imagem e todos os seus efeitos As técnicas de comunicação não devem ser pensadas em termos de
individuais estão em completa sintonia com o sentimento vital, opções mutuamente excludentes para a construção ou a análise de
intrínseco e único que se expressa no todo -- quando, por assim dizer, tudo que vemos. Os extremos de significado podem ser transformados
a clareza da imagem coincide com a clareza do conteúdo interior -- é em graus menores de intensidade, a exemplo da gradação de tons de
que se alcança a 'forma' verdadeiramente artística." cinza entre o branco e o negro.
Segundo Louis Sullivan, "a forma segue a função", seria lógico ampliar
seu pensamento e acrescentar "a forma segue o conteúdo".

Estilo
Estilo é a síntese visual de elementos, técnicas, sintaxe, inspiração, expressão e finalidade básica. Talvez a melhor definição seja vê-lo como uma
categoria ou classe de expressão visual modelada pela plenitude de um ambiente cultural. Padrões sociais e o comportamento de grupos entre si
exerce uma forte influência sobre a percepção e a expressão.l
Segundo Louis Sullivan, "Você não pode expressar-se, a menos que tenha um sistema de expressão, a menos que tenha um sistema anterior de
pensamento e percepção; mão pode ter um sistema de pensamento e percepção, a menos que tenha um sistema básico de vida."
Os requintes e as variantes técnicas podem servir para identificar a individualidade artística de um artista específico, mas uma análise a partir de
um ponto de vista mais amplo irá efetivamente definir o estilo de toda uma escola ou de todo um período que abrange sua obra.

Função e mensagem
Em qualquer nível de avaliação sempre inconstante do que constitui arte aplicada ou belas-artes, toda forma visual concebível tem uma
capacidade incomparável de informar o observador sobre si mesma e o seu próprio mundo, ou ainda sobre outros tempos e lugares, distantes e
desconhecidos.

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