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Resumo
Uma eficaz apresentação gráfica do conteúdo pedagógico no livro didático infantil dependerá
do conhecimento prévio dos elementos estruturais da linguagem visual. Para isso, buscou-se
neste artigo, investigar os parâmetros de produção gráfica, legibilidade e ergonomia
informacional, além de identificar as divergências, através da análise dos livros adotados em
duas escolas do Recife (Pernambuco, Brasil) no ano de 2005. Os resultados apontam a
necessidade em se adequar forma e conteúdo, interagindo profissionais da área de Design e
de Educação, para que o processo de aprendizagem, nesses livros, seja eficiente e satisfatório.
Palavras-chave: linguagem visual, legibilidade, aprendizagem.
Abstract
An efficient graphic presentation of pedagogical content in children's textbooks will depend on
previous knowledge of visual language structural elements. To that end, this paper aimed to
investigate the parameters of graphic production, legibility and informational ergonomics,
identifying divergences through the analysis of textbooks adopted by two schools in Recife
(Pernambuco, Brazil) in 2005. The results point out to the need of adjusting form and content,
and the promotion of professional interaction in the fields of design and education so that the
learning process in these books turns out to be efficient and satisfactory.
Keywords: visual language, legibility, learning.
Introdução
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com o avanço tecnológico e com a velocidade de emissão da informação, o
sentido da visão está cada vez mais sendo requisitado. Tal qual a linguagem
verbal, é preciso tornar a visual um dos meios de comunicação que constitua
um conjunto de normas, códigos e preceitos para se alcançar uma ‘experiência
visual’ plena, defendido por Dondis (1999) como “alfabetismo visual”. Na busca
desse ‘alfabetismo’ e no aperfeiçoamento de regras para a composição da
mensagem visual, ele nos afirma que:
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da harmonia, sua técnica oposta, em decorrência do tipo de mensagem a ser
composta graficamente (DONDIS, 1999).
Percepção visual
Princípios da Gestalt
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estão calcados no princípio de Max Wertheimer, que em 1912 publica um
ensaio sobre percepção visual, onde afirma que “o olho humano tem a
tendência natural de agrupar as várias unidades para formar um todo e isso
conceitua a visão como uma experiência criativa” (HURLBURT, 1986, p. 136).
Em seguida, apresentaremos sinteticamente, os princípios mais
relevantes da psicologia da Gestalt, tão importantes para a ‘experiência visual’
plena:
• Atração e agrupamento
A lei do agrupamento tem grande valor para a composição gráfica, pois
proporciona a força de atração nas relações visuais, onde o homem tem
a necessidade de construir conjuntos a partir de unidades, ligando pontos
próximos (Figura 1A). No contexto desta lei, a ligação é feita por atração,
por proximidade ou por similaridade das formas, tamanho, textura ou tom
(Figura 1B).
• Positivo e negativo
Em linguagem visual, podemos dizer que o que domina a visão humana,
ou seja, o que mais chama a atenção na composição gráfica é
considerado como elemento positivo. Ao contrário, o que se apresenta de
maneira mais passiva, considera-se de elemento negativo. Mas há
momentos em que há pouco predomínio de um elemento sobre o outro e,
na busca pela solução mais simples do que se vê, o olho pode confundir
ou ter ambigüidade na tradução da mensagem (Figura 1C).
• Fechamento
Segundo Wertheimer (apud Gomes Filho, 2004) outro princípio da Gestalt
que é fundamental para a formação de unidades, além de possuir um
fator organizador da forma, é o fechamento. O senso de organização
espacial do olho humano faz com que exista uma tendência à unidade,
segregando uma superfície do resto do campo. Ou seja, esse princípio
traz no ser humano uma pré-disposição psicológica de unir intervalos e
estabelecer ligações por meio de formas já conhecidas do repertório
visual. Também estabelece unidades diferentes de intervalos (Figura 1D).
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Figura 1
Cor:
Um projeto de comunicação visual bem elaborado trabalha com
compensações, levando em consideração o comportamento do olho humano
de acordo com a idade do leitor. A capacidade de acomodação do cristalino
diminui com o avanço da idade, provocando a presbiopia (dificuldade em ver
mais de perto), que solicita o uso de cores mais sóbrias e escuras para um
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maior relaxamento dos músculos ciliares. No caso contrário, o emprego de
cores luminosas, intensas e contrastantes, exige uma maior participação do
leitor, sendo adequado para leitores com pouca idade, caso específico das
crianças (GUIMARÃES, 2002).
Tipografia:
Dentre os vários estudos realizados entre os anos de 1902 a 1959, sobre
legibilidade nos livros infantis, iremos apresentar as diretrizes estabelecidas
pelas pesquisas de Burt (1959), que foram adotadas como referência para a
investigação realizada por Costa (2003) sobre legibilidade e tipografia nos livros
infantis.
Os padrões estabelecidos por Burt (1959) são referentes aos tamanhos
adequados do corpo da tipografia para determinada idade, considerando que
palavras para crianças com menos de nove anos devem ser bem espacejadas,
levando a uma melhor compreensão do conteúdo (Tabela 1).
Nº DE LETRAS POR
IDADE CORPO COLUNA ENTRELINHA
LINHA
(anos) (pontos) (cm) (cm)
(linha 10,16 cm)
Imagem Pictórica:
Lins (2002) destaca o caráter da ilustração como característica peculiar
do livro infantil, pois assim como o texto - e, em alguns casos, até mais -, ela
possui grande importância às interpretações produzidas pelas crianças. Isso
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aliado a técnicas e recursos gráficos que enriquecem visualmente, atraindo o
olhar e aprimorando a percepção de seu público.
A importância das ilustrações nos livros infantis supera a condição única
de auxiliar o texto e passa a desempenhar uma função mais ativa na leitura, na
compreensão e no desenvolvimento da criança leitora (WERNECK, 1998).
Metodologia e análise
Pesquisa exploratória:
A pesquisa exploratória foi realizada no período de 7 a 29 de julho de
2005, através de visitas realizadas a duas escolas (uma da rede pública
municipal e uma da privada), com o objetivo de reunir o material para a análise.
O critério adotado para a escolha destes estabelecimentos foi o da
representatividade e/ou aceitação que cada um tem na sua respectiva rede de
ensino. Para a análise dos livros da rede pública, foi escolhida a Escola
Municipal Padre José de Anchieta2 e para a análise dos livros da rede privada,
o Colégio Boa Viagem3.
Os livros de 1ª série (Ensino Fundamental) coletados para análise,
adotados para o ano letivo de 2005 pela Escola Padre José de Anchieta (que,
para efeito do estudo, será considerada como Escola (1) foram os seguintes:
Português - Uma proposta para o letramento (Ed. Moderna); Caminhos da
Ciência – uma abordagem sócio-construtiva (Ed. IBEP); História e Geografia
(Ed. Ática); Vivência e Construção – Matemática (Ed. Ática). Já os livros do
mesmo nível escolar, adotados em 2005 pelo Colégio Boa Viagem Escola (2)
foram: Português - Uma proposta para o letramento (Ed. Moderna);
Redescobrir Ciências (Ed. FTD); História (Ed. Moderna); Geografia (Ed.
Moderna); Aprendendo e Compreendendo Matemática (Ed. Solução).
Para complementar a pesquisa exploratória foi realizada entrevista com a
coordenação pedagógica de cada escola com o objetivo de compreender o
processo de seleção, conhecer os profissionais envolvidos e os critérios
utilizados à escolha dos livros adotados.
A análise dos oito livros da amostra adotados pelas escolas 1 e 2, para o
ano letivo de 2005, foi realizada em duas etapas: a primeira, nomeada de
Análise Macro, contemplou os aspectos da produção gráfica e dos elementos
estruturais que compõem o livro como um todo; a segunda, chamada de
Análise Micro, fez uma abordagem mais específica e detalhada dos elementos
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que fazem parte da composição gráfica nas páginas características do livro
(capa, folha de rosto, sumário, unidade, capitular, página tipo).
Figura 3
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Para a realização dessa análise, foi elaborada a Ficha 3 (Figura 3), na
qual pode ser registrado o comportamento gráfico dos elementos acima
citados. Com o objetivo de identificar (ao comparar com os parâmetros e
padrões gráficos pré-determinados da linguagem visual, aliados às
considerações dos profissionais da área educacional), as possíveis falhas dos
projetos gráficos presentes no livros.
Partindo da informação de que cada livro possui, aproximadamente 200
páginas, a seleção destas foi elaborada seguindo os seguintes critérios:
1) As páginas que fazem parte da estrutura comum a todos os livros:
capa, folha de rosto, sumário, unidade e/ou capitular.
2) As páginas correspondentes ao conteúdo e atividades dos capítulos
foram chamadas de “páginas tipo”. Foram analisadas pelo menos quatro
‘páginas tipo’ da cada livro, escolhidas a partir da freqüência com que a
estrutura gráfica mais se repete. O posicionamento ou a numeração destas
páginas esteve distribuído ao longo do livro, contemplando os diferentes
momentos do conteúdo.
Após a análise individual das páginas e a análise geral dos livros, os
resultados obtidos foram tabulados, revelando o nível de ocorrência dos
diferentes aspectos gráficos já mencionados.
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Profª Maria Aparecida da Costa - “é feita diretamente pela instituição e
conseqüentemente, possui autonomia junto às editoras”. Já na rede pública, de
acordo com a Profª Coema Maria Oliveira de Santana, coordenadora
pedagógica da Escola (1), essa aquisição acontece de maneira diferente: “os
livros devem estar na lista do PNLD (Plano Nacional do Livro Didático) do
Ministério da Educação e, além disso, indicados pela equipe técnica da
prefeitura”. Isso evidencia que o tratamento de produção gráfica dado aos livros
didáticos da rede pública está condicionado, ou deve se adequar, aos recursos
orçamentários do Governo Federal Brasileiro.
Introduzindo, agora, os aspectos pertencentes à Análise Micro, observa-
se através da Tabela 2, que todos os livros da amostra, foram utilizadas fontes
com corpo maior que 14 pontos e número de letras por linha entre 41 e 60. A
partir destas informações, verifica-se que o tamanho da letra está coerente
para os alunos da 1ª Série, já que Burt (1959) recomenda o corpo dos
caracteres entre 14 e 18 pontos com o objetivo de acomodar ou proporcionar
um maior conforto à leitura.
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Outro aspecto importante que deve ser registrado nesta discussão é o
uso da cor nos livros da amostra. Quanto à tonalidade, 62,5% deles
apresentaram a cor opaca (pura, forte) e, na mesma proporção, matizes frias
prevalecendo sobre as quentes. Este último resultado demonstra que esses
livros podem distanciar as crianças na medida em que se excede o emprego de
cores frias. Guimarães (2002, p.43) justifica essa afirmativa quando diz que: “o
emprego de cores luminosas, intensas e contrastantes, exige uma maior
participação do leitor, sendo adequado para leitores com pouca idade, caso
específico das crianças.”Se faz necessário, então, que nesses livros as cores
quentes tenham considerada participação, seja nas ilustrações ou com a
função de destacar e organizar a leitura.
Quanto à ocorrência dos tipos de simbolização do modo pictórico
encontrados nos livros da amostra, constatou-se que a fotografia foi bem mais
utilizada quando comparada com a ilustração (desenho), principalmente nos
livros de Ciências, História e Geografia. O uso exagerado de fotografias nesses
livros pode distanciar ou desestimular o aprendizado da criança, pois Lins
(2002, p.45) aconselha que “os livros destinados às crianças pequenas, em
fase inicial de aprendizagem, devem ser mais
coloridos, contendo bastantes ilustrações e com
pouca massa de texto para que o aprender caminhe
em conjunto com o prazer”. Ainda a esse respeito,
Cordeiro (1987) acredita que o livro para criança
deve ser diferenciado do livro para adulto, através
do uso de ilustrações próximas do seu repertório.
Seguindo o raciocínio dos autores citados
nesta discussão, ainda foram identificados
Figura 4: Capa Livro problemas consideráveis de legibilidade e atração
Matemática
(Fonte: editora SOLUÇÃO). visual na capa do livro de Matemática (Figura 4),
bem como a ausência de um projeto gráfico consistente no livro de Ciências da
Escola (2), possuindo vários desenhos, texturas, tamanhos e cores da
tipografia.
Conclusões
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a criança da 1ª série do Ensino Fundamental, devido à participação qualitativa
deste profissional que utiliza, de forma lógica e criativa, os recursos legíveis e
funcionais da linguagem visual.
Através das análises da amostra, foi possível identificar a existência de
um acabamento gráfico diferenciado entre o livro oriundo da rede pública e o da
privada. As diferenças na qualidade e gramatura do papel, no revestimento da
capa (inexistente nos livros coletados na escola municipal) se deve ao fato de
que a instituição privada tem mais autonomia na compra desses livros,
enquanto que a pública depende dos recursos do Ministério da Educação.
Alguns aspectos relevantes da linguagem visual, obtidos na amostra: o
tamanho da coluna de texto é superior ao recomendado; a linguagem pictórica
predominante é a fotografia; e, as cores mais presentes são de matizes frias.
Esse resultado demonstra que os livros didáticos para crianças podem estar
perdendo o fator lúdico que tanto atraem sua atenção. Este é um dos pontos
que pode ser aprofundado, em pesquisa posterior, abrangendo um número
representativo de livros didáticos, para se chegar a um resultado significante
sobre esta questão.
Referências Bibliográficas
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HURLBURT, Allen. Layout: o Design da página impressa. 1. ed. São Paulo:
Nobel, 1986.
LINS, Guto. Livro infantil? Projeto gráfico, metodologia, subjetividade. São
Paulo. Rosari, 2002.
OLIVEIRA, Marina. Produção Gráfica para Designers. Rio de Janeiro: 2AB
Editora, 2000.
TINKER, Miles. A. Print for children´s text books, 1959. University of Chicago
Press, 1931.
TWYMAN, Michael. A schema for the study of graphic language, In: Paul A.
Kolers, MeraldE. Wrolstad & Herman, Processing visible language. New York:
Bouma, vol. 1, p. 117-150, 1979.
WALKER, Sue. How it looks: a teacher’s guide to typography in children’s
books. Reading, UK: University of Reading, 1992.
WERNECK, Regina. A importância da imagem nos livros. In: Laura Sandroni e
Luiz Raul Machado (Org.) A criança e o livro: guia prático de estímulo à
leitura. 4. ed. São Paulo: Ática, 1998. 144p.
Currículos Resumidos
Notas
1
Para o estudo da linguagem gráfica, adotamos os conceitos propostos por Twyman (1979,
p.118), sendo ‘gráfico’ aquilo que é desenhado ou feito visível em resposta a decisões
conscientes e ‘linguagem’ como o veículo de comunicação.
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Endereço: Rua Capitão Adolfo Taquis, s/nº, Mustardinha - Recife - PE - Telefone: 81 3232-
2273.
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Endereço: Rua Professor Eduardo Wanderley Filho, 539, Boa Viagem - Recife - PE -
Telefone: 81 3465-4444.
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