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AS CONTRIBUIÇÕES DO DESENHO INFANTIL PARA

PSICOPEDAGOGIA

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 3

2. PSICOPEDAGOGIA ............................................................................... 5

2.1 A Psicopedagogia e o Desenho ...................................................... 9


2.2 A Importância do Psicopedagogo ................................................. 10
3. ESTÍMULOS E MÉTODOS DE INSERÇÃO À ARTE ........................... 13

4. DESENHO COMO INSTRUMENTO PSICOPEDAGÓGICO ................ 15

5. A IMPORTÂNCIA PSICOPEDAGÓGICA DO DESENHO .................... 18

6. AVALIAÇÃO DO DESENHO NA PERSPECTIVA DA

PSICOPEDAGOGIA ...................................................................................... 21

6.1. Espaços e Traçados..................................................................... 21


6.2. A Figura Humana ......................................................................... 23
6.3. Outros desenhos que trazem simbolismo .................................... 24
6.4. As Árvores.................................................................................... 25
6.5. Família ......................................................................................... 25
6.6. Técnicas projetivas – Jorge Visca ................................................ 25
6.6.1. Vínculos Escolares .................................................................... 26
6.6.2. Vínculos Familiares ................................................................... 27
6.6.3. Vínculos Consigo Mesmo .......................................................... 28
7. REFERÊNCIAS .................................................................................... 29

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1. INTRODUÇÃO

As linhas, as cores e os rabiscos são fenômenos verbais, que pode dizer algo
de alguém com base no contexto em que a conhece. As fronteiras entre a arte e a
linguagem são invisíveis, talvez não existam, justamente porque essa relação entre
imagem e palavra ou traço e letra são, na verdade, mais próximas do que se imagina.
A tarefa de compreensão da arte em texto, sua tradução linguística, pode ser
formulada a partir da comunicação e das técnicas de interpretação de adulto
profissional: o psicopedagogo. A tarefa de educar, entre outras definições, pode ser
compreendida por proporcionar caminhos a serem percorridos aos educandos. Estes
caminhos nem sempre são livres, fáceis, mas recorrer a maior compreensão possível
da identidade representada por cada educando, através de índole, gostos pessoais
vivência familiar e social, anseios, interesses peculiares, bloqueios e outras variáveis
críticas, que podem facilitar ou inibir os aprendizados em geral diante da própria
existência e dos estímulos inerentes a formação escolar.

Assim, os temas que vinculam a grande área da educação aos fundamentos de


outras esferas do conhecimento humano dinamizam-se quando se recorre à
psicopedagogia, uma área multidisciplinar. Nela, se leva o psicopedagogo a
planejamentos e trabalhos integrados com outros profissionais, respeitando-se,
contudo, as múltiplas especificidades das clientelas enfocadas, desenvolvendo de
tarefas e atividades que possam eficazmente gerar um aprendizado adequado ao
desenvolvimento integral da criança. A linguagem, na perspectiva psicopedagógica,
utilizando-se do desenho como instrumento de comunicação está presente no
processo de obtenção da formação da linguagem da criança. A criança além de
demonstrar interesse na realização dos seus desenhos também manifesta diversas
coisas através da imagem gráfica, dessa forma, pergunta-se: O desenho infantil pode
ser utilizado como comunicação? É apenas um passatempo da criança ou, também,
terreno fértil para avaliação?

O desenvolvimento do pensamento da criança está ligado à capacidade


representativa, para que o pensamento aconteça é necessário que haja a capacidade
de tornar presente, isto é, de substituir coisas ausentes por meio de palavras e
imagens. A cada representação que a criança faz, o jogo simbólico e o desenho

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passam a ser uma necessidade, e é assim que elas vão se inserindo no processo de
aprendizagem, desde o estágio pré-operatório, onde se inicia o processo de
representação, interagindo com a escrita como se a mesma fosse um jogo que
contém regras e, também o imaginário. Dessa forma a escrita deixa de ser uma
representação mental e passa a ser uma representação gráfica, carregada de
sentidos, assim como o desenho que, primeiro passa pelo plano da representação
mental e só depois a criança passa a representá-lo graficamente.

A valoração do desenho como instrumento de comunicação para a criança, para


tal, recorre-se a alguns autores, Vygotsky (1988), Azenha (1994) e Luquet (2006). Os
desenhos podem ser compreendidos sob a perspectiva de tipologia de livre
manifestação da linguagem, um método de comunicação na infância, essa
manifestação reflete conforme a construção da oralidade (fala) levando-o ainda a
múltiplas descobertas. Acredita-se que eles influenciam de forma direta na
assimilação da linguagem e oralidade da criança. Cabe ressaltar que nesse processo
de aprendizagem da criança faz-se imprescindível ao profissional mediador nesse
percurso ter um olhar sensível para singularidade da cada aprendente percebendo
assim, que a aprendizagem ocorre de maneira distinta na vida de cada indivíduo.

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2. PSICOPEDAGOGIA
Para Lino de Macedo (1992,) Psicopedagogia é um caminho para compreender
melhor os processos de aprendizagem. Já no Novo Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa (1992, p.25) a Psicopedagogia é “a aplicação da psicologia experimental
à Pedagogia.” A Psicopedagogia tem vários conceitos, para cada autor, mas um em
comum é que a Psicopedagogia acaba criando seu próprio objeto de estudos quando
enfatiza seu caráter interdisciplinar. De acordo com Kiguel apud Bossa (1991,) o
objeto de estudos se apresenta no processo de aprendizagem humana que é
influenciada no seu desenvolvimento pela família, sociedade e a escola. Para Neves
(1991,) seria o ato de aprender e ensinar e tudo que está envolvido nesse aprender
e ensinar como aspectos cognitivos, afetivos e sociais, sendo vistos por um mesmo
parâmetro. Então de acordo com esses autores brasileiros percebe-se que a causa e
a razão da Psicopedagogia é a aprendizagem, ou seja, os problemas que há nesse
processo. E nessa mesma linha de pensamento Jorge Visca (1987, p.32) afirma que
o objeto de estudos da Psicopedagogia é “o processo de aprendizagem - e de
recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios. ”

Esse objeto de estudos adquire características diferentes dependendo do tipo de


trabalho: o clínico ou o preventivo. O trabalho clínico se origina da interação que o
sujeito faz com a sua história pessoal buscando entender o porquê do não aprender
do sujeito. E o trabalho preventivo parte do objeto de estudo, a instituição, avaliando
as causas que interferem no processo de aprendizagem que seria o processo
didático-metodológicos e a dinâmica institucional. De acordo com esse parâmetro

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sobre o trabalho preventivo, podemos nos atentar para a alfabetização, onde o
psicopedagogo entrará nesse nível diminuindo a frequência dos problemas de
aprendizagem ou até mesmo encontrando meios de eliminá-los.

No trabalho clínico o sujeito estudando outros sujeitos, por isso o psicopedagogo


precisa se reconhecer dentro de sua subjetividade para poder entender o outro, como
sujeito, por completo tanto na sua vida pessoal como na sua vida escolar tentando
entender como produz conhecimento e aprende. A Psicopedagogia não consegue
absorver e embasar seu objeto de estudos somente na Pedagogia e na Psicologia.
De acordo com Jorge Visca (1987,) ela precisa das contribuições das escolas
psicanalítica, piagetiana e da psicologia de Enrique Pichon-Revière. Dessa forma o
psicopedagogo pode embasar a sua prática para analisar um aluno com dificuldade
de aprendizado através das diversas contribuições que estão envolvidas à
Psicopedagogia e na condição pessoal do psicopedagogo, a qual vem sua formação
e das suas experiências de análise. Essas contribuições são: Psicologia Genética,
Psicologia Social, na Psicolinguística.

O Psicopedagogo ensina como aprender e para que isso ocorra, precisa


apreender o aprender e a aprendizagem, isso caracteriza a Psicopedagogia como
uma área onde o psicológico atua junto com o educacional. Assim Janine Mery
(1985,) afirma que o psicopedagogo sempre terá essa dupla polaridade no seu papel.
Realizará tarefas de pedagogo sem perder a visão terapêutica seja qual tenha sido
sua formação. Isso determinará seu papel perante a criança e a família e também
perante a equipe escolar.

E através desse olhar psicopedagógico, o psicopedagogo não desrespeitará a


escola, pois é aonde o aluno se situa em relação aos seus semelhantes. Mesmo não
desrespeitando a escola o psicopedagogo vem colaborar para a melhoria das
condições de trabalho e na conquista de seus objetivos ajudando o aluno a enfrentar
a escola de hoje, buscando desenvolver o aluno como um todo tanto na sua
personalidade, seus interesses pessoais e respeitando o aluno para que se tenham
atividades de acordo com cada caso analisado. No Brasil o problema de
aprendizagem vem de fatores orgânicos diz Lefévre e Grünspun. Antigamente a
aprendizagem e seus problemas eram tratados por médicos na Europa século XIX e
ainda hoje no Brasil se recorre a esse profissional, pois é a primeira atitude que
educadores e a família que tem crianças com problemas de aprendizagem assume.

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Colares ressalta:

É nas tramas do fazer e do viver o pedagógico quotidianamente nas escolas,


que se podem perceber razões do fracasso escolar das crianças advindas
de meios socioculturais mais pobres. (COLARES,1992, P.78).

A autora completa que se produz o fracasso escolar através da política e do


social. No início a Psicopedagogia era clínica, mas atualmente há um olhar no aspecto
preventivo e na escola. E com esse olhar para o problema de aprendizagem que surge
na década de 70 cursos de especialização em Psicopedagogia no Brasil para
complementar a formação do psicólogo e pedagogo que buscam soluções para tal
problema. Em 1970, iniciaram os cursos de formação de especialistas em
Psicopedagogia Clinica Médico - Pedagógica em Porto Alegre e assim foram
aparecendo outros cursos.

Segundo Sônia Moojen Kiguel (1983,) a Psicopedagogia tem se voltado


historicamente para a Educação mais do que à Medicina e à Psicologia. Nesse
histórico da Psicopedagogia no Brasil temos que citar a professora Genny Golube de
Moraes que estava sempre priorizando o trabalho preventivo para que menos
crianças chegassem às clínicas com problemas escolares. Genny era coordenadora
dos cursos da PUC\ S.P. e o seu trabalho era voltado para a compreensão e no
tratamento dos problemas de aprendizagem. A Psicopedagogia surge no intuito de
contribuir para a compreensão dos processos de aprendizagem e como se identifica
os fatores que comprometem essa aprendizagem com uma visão na intervenção. De
acordo com Scoz:

A Psicopedagogia no Brasil é a área que estuda a lida com o processo de


aprendizagem e suas dificuldades e, em uma ação profissional deve
englobar vários campos do conhecimento, integrando – os e sintetizando-os
(SCOZ apud Bossa,1990, p.80)

Não se pode confundir o trabalho do psicopedagogo com o psicanalista e a sua


prática e também não se pode confundir com uma prática que afirme o sujeito como
uma única face.

Piaget:

que o estudo do sujeito ”epistémico” se refere à coordenação geral das ações


(reunir, ordenar, etc) construtivas da lógica, e não ao sujeito “individual”, que
se refere as ações próprias e diferenciadas de cada indivíduo considerado à
parte.(PIAGET,1970, p.116)

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A atuação do profissional de psicopedagogia é caracterizada pelo processo de
aprendizagem, os fatores que interferem nesse processo e os objetivos tanto
psicanalíticos como ao epistemológico. E essa aprendizagem nos leva a vermos o
homem como sujeito ativo dessa aprendizagem através da interação com o físico e o
social. O trabalho psicopedagógico vem compreendendo o sujeito frente a uma
aprendizagem individual ou em grupo. E cada situação analisada tem uma forma de
atuação por causa da problemática que é individualizada. A psicopedagogia na
instituição tem a prática voltada para a clínica, pois o psicopedagogo procura formas
para se produzir a aprendizagem, identificando os obstáculos e os elementos que
ajudam a produzir essa aprendizagem de forma preventiva. E quando se previne um
problema pode acabar prevenindo outros, por isso que o trabalho clínico se torna
preventivo e vice e versa a Psicopedagogia preventiva também é considerada clínica
ao se observar e analisar profundamente a situação concreta de cada caso. Tanto na
clínica como na instituição devemos considerar a família, a escola, a comunidade, ou
seja, a vida do sujeito.

E Kramer neste sentido afirma:

Os estudos antropológicos exigem que levemos em conta o contexto de vida


mais imediato das crianças e as próprias características específicas dos
professores e da escola como instituição.(KRAMER apud Bossa, 1983,
p.136)

Essas características do professor, da família, e da escola pode ser a causadora


do problema de aprendizagem. E assim o psicopedagogo sabe a hora de intervenção
e qual a melhor forma de atuação.

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2.1 A Psicopedagogia e o Desenho

A psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades,


tendo, portanto, um caráter preventivo e terapêutico. Preventivamente deve atuar não
só no âmbito escolar, mas alcançar a família e a comunidade, esclarecendo sobre as
diferentes etapas do desenvolvimento, para que possam compreender e entender
suas características evitando assim cobranças de atitudes ou pensamentos que não
são próprios da idade. Ela também deve, terapeuticamente, identificar analisar,
planejar e intervir através das etapas de diagnóstico e tratamento.

O diagnóstico sempre poderá confirmar ou não as suspeitas do psicopedagogo,


o profissional poderá identificar outros problemas e aí ele poderá indicar um
tratamento com psicólogos, com fonoaudiólogos, com neurologistas, ou outro
profissional a depender do caso indagado e constatado. Entende-se que o corpo
humano se expressa de diversas maneiras, sendo que o movimento corporal some
no ar e o movimento gestual do traço, das linhas e pontos ficam guardados no papel.
Quando a criança pega no lápis e descobre seus registros, começa a rabiscar
obsessivamente até desgastar toda a ponta do lápis ou quando pega a caneta
esferográfica, o processo é o mesmo.

Ao final do seu primeiro ano de vida, a criança já é capaz de manter ritmos


regulares e produzir seus primeiros traços e gráficos, fase conhecida como a dos
rabiscos ou garatujas. Derdyk (1989) destaca que a permanência da linha no papel
se investe de magia e está estimula sensorialmente a vontade de prolongar este
prazer, a autora diz que isto significa uma intensa atividade interna, que nós adultos

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não conseguimos mensurar. Essas primeiras garatujas básicas classificam-se como
unidades gráficas e estarão contidas em qualquer desenho, seja ele figurativo ou não,
no momento em que desenha, a criança imprime marcas no papel de uma forma
espontânea e em diversas direções, isso ocorre devido a mesma não ter o domínio
de proporção sobre o papel.

Existem também traçados que não são provocados por alguma intenção de
representar algo, ou mesmo que depois de traçados são destituídos de qualquer
significação. No geral, durante essa fase a criança começa a traçar sem qualquer
intenção, só mais tarde é que verificará que os traços produzidos outrora se
assemelham a algo. Luquet diz que a intenção realista encontra ainda um outro
obstáculo, este já não é de gráfica, mas psíquica, ou seja, o caráter ao mesmo tempo
limitado e descontinuo da atenção infantil. Por isso, observa-se que a criança não
desenha os pormenores, na realidade ela apenas tem a intenção, enquanto pensa,
no entanto não realiza seus desenhos, percebe-se essa intenção no instante em que
se pede uma explicação verbal sobre o desenho, percebendo-se essa intenção no
instante em que se pede uma explicação verbal sobre o desenho.

2.2 A Importância do Psicopedagogo


No complexo processo que envolve a aprendizagem, revela-se significante a
atuação preventiva do psicopedagogo no contexto escolar, onde muitas informações
e vários aspectos têm que ser observados e analisados. Ter conhecimento de como
o aluno constrói o seu saber, compreender as dimensões das relações com a escola,
com os professores, com o conteúdo e relacioná-los aos aspectos afetivos e
cognitivos, permite um fazer mais fidedigno ao psicopedagogo. Deve-se considerar
que o desenvolvimento do aprendente se dá de forma harmoniosa e equilibrada nas
diferentes condições orgânica, emocional, cognitiva e social.

O desenvolvimento do desenho requer duas condições, primeiramente o


domínio motor. Assim a criança começa a perceber que pode representar
graficamente um objeto e a relação desenvolvida com a fala existente ao desenhar e
a linguagem verbal é a base da linguagem gráfica. O desenho pode ser na infância,
um canal de comunicação da criança com o seu mundo exterior, segundo os
psicólogos da UDPE de San Salvador, por ética, só uma pessoa especializada, como

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alguns psicopedagogos, pode interpretar os desenhos, seguindo protocolos
estabelecidos para esse fim.

O especialista deve levar em consideração a condição biográfica e familiar da


criança/paciente (sentimentos e emoções), bem como sua história pessoal, que
servirá como marco de referência de quem desenhou. O desenho não é tudo, mas é
um grande contribuinte para a realização dói diagnostico emocional e intelectual da
criança/paciente. Uma das principais ferramentas utilizadas no Diagnóstico
Psicopedagógico é a análise de testes projetivos, cuja finalidade é a projeção de
conteúdos presentes no inconsciente da criança de forma concreta, ou seja, por meio
da utilização de figuras prontas ou de desenhos feitos pela mesma. A partir dessa
análise é possível verificar e levantar hipótese sobre a modalidade de aprendizagem,
o vínculo com o ser que ensina e com a família.

A criança, ao desenhar, tem uma intenção realista. O realismo evolui nas


diferentes fases do desenho infantil até chegar ao realismo visual, que é o realismo
do adulto. Para o adulto, o desenho tem que ser idêntico ao objeto. Já para a criança,
o desenho, para ser parecido com o objeto, deve conter todos os elementos reais do
objeto, mesmo invisíveis para os outros. Assim, a criança desenha de acordo com um
modelo interno: a imagem que sabe do objeto que vê. É isso que difere os testes
projetivos utilizados na Psicopedagogia dos testes utilizados na Psicologia, pois os
últimos são voltados para a investigação da personalidade e comportamento, dentro
do âmbito emocional.

Testes como o par educativo, o desenho da família, da figura humana e outros,


são muito utilizados em consultório; no entanto a aplicação do desenho livre com o
objetivo de avaliar o desenvolvimento cognitivo é pouco utilizado e conhecido. Este
teste pode ser uma ferramenta importantíssima para avaliar e detectar um possível
atraso no desenvolvimento cognitivo da criança, tanto na clínica como em sala de
aula. Aprender a questionar os desenhos infantis é essencial para o
acompanhamento dos avanços em relação à construção do pensamento infantil, é
mediante aos questionamentos que aprendemos a compreender muitas coisas que
as crianças representam através de seus desenhos e que muitas vezes podem ser
interpretadas erroneamente.

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Toda criança desenha. Tendo um instrumento que deixa uma marca: A varinha
na areia, a pedra na terra, o caco de tijolo no cimento, o carvão nos muros e calçada,
o lápis, o pincel com tinta no papel, a criança brincando vai deixando sua marca,
criando jogos, contando histórias. Desenhando, cria em torno de si um espaço de
jogo, silencioso e concentrado ou ruidoso seguido de comentários e canções, mas
sempre um espaço de criação. A criança desenha para brincar.

O desenho permite ao professor uma série de pistas sobre a criança que


encontra no mesmo a sua maneira de ler o mundo. Os professores, muitas das vezes,
não acreditam que o desenho desempenha um papel tão importante na construção
do pensamento da criança não dispensando a ele a sua devida importância em sala
de aula. Mas o que foi observado durante o estudo sobre o desenho infantil e suas
contribuições no processo da aprendizagem é que o conhecimento das etapas
evolutivas do desenho infantil fornece ao professor mais um instrumento para
compreender as crianças, somando esse conhecimento à análise constante dos seus
trabalhos e considerando sempre o significado mais profundo do ato de desenhar
como expressão de ideias e sentimentos, o professor poderá orientar suas ações
pedagógicas.

Ao observar o desenho de uma criança, pode aprender muito sobre o seu modo
de pensar e sobre as habilidades que possui. Quando, em um desenho, os braços de
uma figura humana saem da cabeça e não do tronco, por exemplo, significa que a
criança ainda não tem construído interiormente, em seu pensamento, o esquema
corporal de uma figura humana. Isso nada tem a ver com o fato de ela não estar
enxergando direito, de estar com problemas de motricidade fina, ou ainda, de não
estar apta a desenhar com destreza. Desenhar figuras humanas possibilita à criança
estruturar suas ideias sobre as mesmas. É importante que a criança tenha
oportunidade de desenhar livremente, em papéis e em tamanhos e texturas
diferentes, em posições variadas, com materiais diversos.

Quando a criança vai dominando seus movimentos e gestos, as propostas


devem ser diferentes: desenhar em vários tempos e ritmos, fazer passeios e
expressar o que observou no papel, incentivar o desenho coletivo, desenhar as
etapas percorridas após uma brincadeira ou jogo e muitas outras podem ser feitas
com a criança para ajudá-la a aprimorar suas capacidades de desenhar. Os
educadores que vivem diariamente com essas crianças devem também respeitar o

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ritmo de cada criança, a maneira como sua obra está evoluindo, porque cada criança
tem um tempo e uma maneira de internalizar suas experiências. “A princípio, para a
criança, o desenho não é um traçado executado para fazer uma imagem, mas um
traçado executado simplesmente para fazer linhas”.

3. ESTÍMULOS E MÉTODOS DE INSERÇÃO À ARTE

O desenho tem papel fundamental na formação do conhecimento e requer


grande consideração no sentido de valorizar desde o início da vida da criança,
considerando a bagagem que traz de casa, assim como seu próprio dia-a-dia. O ato
de desenhar deve ser considerado um fator essencial no processo do
desenvolvimento da linguagem, bem como uma espécie de documento que registra
a evolução da criança. A criança ao desenhar desenvolve a auto expressão e atua de
forma afetiva com o mundo, opinando, criticando, sugerindo, através da utilização das
cores, formas, tamanhos, símbolos, entre outros.

São de ressaltar que o professor deve oferecer para seu aluno a maior
diversificação possível de materiais, fornecendo suportes, técnicas, bem como
desafios que venham favorecer o crescimento de seu aluno, além de ter consciência
de que um ambiente estimulante depende desses fatores colocados, permitindo a
exploração de novos conhecimentos. “O ensino de arte constituirá componente
curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o
desenvolvimento cultural dos alunos”. Partindo do pressuposto de que não são
oferecidos tais suportes, a tendência é que o aluno bloqueie sua criatividade, visto

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que não lhe foram oferecidas tais condições. A importância de valorizar o desenho
desde o início da vida da criança se dá pelo fato da necessidade que o universo infantil
tem em ser estimulado, desafiado, confrontado de forma que venha enriquecer as
próprias experiências da criança.

Valorizando a arte, ou seja, o desenho na escola, o professor estará levando o


aluno a se interessar pelas produções que são realizadas por ele mesmo e por seus
colegas, bem como por diversas obras consideradas artísticas a nível regional,
nacional e internacional. A história da arte no Brasil teve início na primeira metade do
século XX com a disciplina de desenho, trabalhos manuais, música e conto orfeônico,
fazendo parte do currículo das escolas primárias e secundárias. Entre os anos 20 e
70 o ensino de arte volta-se para o desenvolvimento natural da criança, no período
que vai dos anos 20 aos dias de hoje vive-se um crescimento cultural tanto dentro
quanto fora das escolas.

Enquanto mediador do conhecimento, o professor é essencial para incentivar o


aluno, seja ele pelo caminho da arte ou por outra área do conhecimento, oferecendo
os melhores suportes, de forma que venha a somar no crescimento e formação do
mesmo. Estes desenhos, no entanto, apresentam através das interpretações, atitudes
negativas e/ou positivas, pois a criança desenha situações e/ou objetos da maneira
que os interpreta, de acordo com a realidade em que vive, da maneira que enfrentam
o desafio de viver dia após dia e da capacidade de ver e explorar o mundo em que
vive. O Psicopedagogo assim como o Psicólogo, tem habilidades para trabalhar com
a criança através do desenho infantil, pois é através de um processo avaliativo e não
só do desenho isolado, que estes profissionais podem detectar algo importante que
a criança esteja tentando nos transmitir. Através deste processo, pode-se detectar,
por exemplo, problemas emocionais, comportamentais, escolares, no âmbito familiar,
depressão, entre outros. Verificado o problema, encaminha-se então a criança ao
profissional habilitado para realização da terapia adequada.

A arte é uma disposição natural do homem, cultivada desde a infância. Nas


escolas, deveria aparecer em todas as matérias, de forma diversificada e está até
ligada com a religião, com o eterno. Por meio do desenho infantil é possível fazer uma
avaliação intelectual na criança e um excelente diagnóstico, se for realizado testes
tipo projetivos, que avalia os vínculos relacionais que podem interferir no processo de
aprendizagem, tais como, Alegoria Animais, Par Educativo, Os quatro momentos do

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dia, Desenho livre, Família Educativa, Plano de minha casa, Desenhos em episódios
e o Dia do meu aniversário. O que demonstrou que falar sobre o desenho infantil é
falar em desenvolvimento, aquisição de conhecimentos, construção de conceitos,
organização de ideias, formulação de opiniões, capacidade intelectual e de
comunicação.

A riqueza do grafismo infantil possibilita à criança não só o prazer em desenhar,


mas também todos esses aspectos da educação infantil. Ao desenhar ela constrói um
espaço ao seu redor. Observá-la é fundamental para que possamos entendê-la, pois
para este pequeno ser, o desenho é a sua linguagem e sua primeira escrita. Nele são
mostrados seus medos, inseguranças, ansiedades, alegrias e descobertas. A criança
não nasce sabendo desenhar, que este conhecimento é construído a partir da sua
relação direta com o objeto, assim são suas estruturas mentais é que definem as suas
possibilidades quanto à representação e interpretação do objeto. Assim a criança é o
sujeito de seu processo, ela aprende a desenhar a partir de sua interação com o meio.

4. DESENHO COMO INSTRUMENTO PSICOPEDAGÓGICO

A psicopedagogia tem por objetivo buscar a explicação do porquê da não


aprendizagem, quais os fatores que influenciam e como proceder para que o aluno
consiga aprender. Para isso, este profissional faz uso de diversos materiais e técnicas
que o auxiliam no processo tanto de diagnóstico como no tratamento. Entre os vários
materiais, como jogos, brincadeiras, observação, intervenção, orientação, também
temos o desenho que é a forma mais antiga de expressão humana. De acordo com

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Iavelberg (2013, p. 08), “O interesse pelo desenho infantil e sua valorização são
recentes na história do ensino”, no entanto, sabe-se que desde as cavernas já
existiam registros das situações e vivências que aconteciam naquela época. O
desenho antecede a escrita e por isso traz consigo muitas informações que de outra
maneira talvez não pudesse ser expresso. Segundo Iavelberg (2013, p. 15),

[...] ao desenhar, a criança passa por diferentes momentos conceituais que


representam a gênese das aprendizagens em desenho, construída a partir
das suas experiências, tanto fora quanto dentro da escola. Essa experiência
não é alienada das imagens que se veem e da educação que se recebe, e
propicia a criança condições para construir ideias sobre o que é desenho, o
que pode aparecer no desenho e para que serve desenhar.

Assim, diante dos dizeres da autora, ao desenhar a criança representa sua


realidade, fatores que a influenciam e aprendizados já adquiridos. Os desenhos
podem ser utilizados e interpretados por profissionais capacitados, que conheçam as
teorias que embasam a interpretação de desenhos, como é o caso de
psicopedagogos. Sobre o desenho, a autora Pereira (2009, p. 25) acrescenta dizendo
que “[...] os alunos frequentemente se utilizam dele em diferentes situações: fazendo
grafismos em seus cadernos, como maneira de registrar uma aula, criando cartazes,
personagens, histórias em quadrinhos, entre outros usos”.

Atualmente, existem vários estudos acerca do desenho que comprovam sua


eficiência nos diagnósticos psicopedagógicos, pois pode ser aplicado a partir da
Educação Infantil até a vida adulta; é uma atividade de baixo custo tendo em vista
que o material necessário é uma folha de papel e lápis; é uma atividade que não
preocupa quem irá realizá-la, pois pode-se considerar comum e rotineira e o relato é
oral ou escrito, o que tranquiliza o aluno. Um dos testes que pode ser considerado na
avaliação do desenho, conforme os autores Nogueira e Leal (2013), como diagnóstico
psicopedagógico, são as Provas Projetivas que buscam compreender os caminhos
que o pensamento percorre, para, assim, buscar maneiras, métodos e materiais que
permitam ao aluno superar as dificuldades de aprendizagem. Conforme Nogueira e
Leal (2013, p. 157, grifo dos autores):

O desenho é analisado em relação ao GRAFISMO (traços, tamanho dos


sujeitos e em relação aos objetos, posição da folha, detalhes, objetos
incluídos na cena etc.), em relação aos VÍNCULOS COM O
CONHECIMENTO e com o outro (aquele que lhe ensina, por exemplo),
analisando como o sujeito se percebe em situações de aprendizagem e os
vínculos afetivos e cognitivos que desenvolve em relação a essas situações,
além dos VÍNCULOS AFETIVOS que representa em relação a família, assim

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como sua MATURIDADE COGNITIVA, OS ASPECTOS MOTORES e
ECONÔMICOS E SOCIOCULTURAIS envolvidos nas cenas.

De acordo com os autores supracitados, as Provas Projetivas possibilitam


analisar os três principais eixos que envolvem o aluno: a escola, a família e consigo
mesmo, assim permitindo que se tenha uma visão completa das relações
estabelecidas na vida do sujeito. Segundo Menezes, Moré e Cruz (2008 apud
NAKANO, 2012, p. 68):

[...] o desenho caracteriza-se como um instrumento de medida de fenômenos


psicológicos que, alem de permitir a representação gráfica dos pensamentos
e sentimentos infantis, constitui-se também como uma forma de
comunicação humana tanto no campo da intervenção, como no da pesquisa
em diferentes contextos.

Assim, diante dos dizeres dos autores acima citados, o desenho permite a
exploração de pensamentos e sentimentos muitas vezes não expressos no cotidiano
do aluno, seja criança ou adulto. Na educação infantil, foco do presente estudo, as
representações por meio do desenho surgem voluntariamente e trazem muitas
informações que de outra maneira não poderiam ser observadas, pois a fala, ainda,
não é totalmente formada, o vocabulário é limitado e a criança ainda não sabe
escrever. Entretanto, mesmo o desenho sendo algo que pode ser voluntário e
espontâneo do aluno, quando utilizado por profissionais psicopedagogos, deve ser
direcionado e orientado conforme as necessidades observadas e deve ser
acompanhado para que não haja outras influências no diagnóstico. Segundo Pereira
(2009, p. 18),

Ao desenhar, a criança parte de imagens mentais e transforma na linguagem


artística do desenho. Portanto, o desenho não é somente imagem mental ou
ação sobre o papel, mas a relação entre as duas instâncias. A criança pensa
e tem de transformar o pensamento em determinada forma gráfica.

De acordo com a autora, expressar-se é inerente ao ser humano, portanto, ao


desenhar o sujeito faz um exercício de pensamento, que deve ser não analisado
somente como um grafismo, mas como uma linguagem, uma escrita que exprime
marcas, sentimentos, emoções e dificuldades de quem o fez. Mostra as vivências e
relações do indivíduo consigo mesmo, com o meio em que vive, com a família,
colegas e professores.

17
5. A IMPORTÂNCIA PSICOPEDAGÓGICA DO DESENHO

A importância psicopedagógica do desenho torna-se necessário saber o que é


psicopedagogia e qual o seu objeto de estudo. Psicopedagogia é uma área de estudo
que se propõe a estudar o processo de aprendizagem e suas dificuldades, ou seja, o
ato de aprender e ensinar, considerando fatores internos e externos. É de caráter
preventivo e terapêutico. O psicopedagogo é o profissional que busca a identificação
e a resolução dos problemas no processo de aprender, está capacitado a lidar com
as mais diversas dificuldades de aprendizagem, com objetivo de diagnosticar o
problema e encontrar possíveis soluções. Muitas vezes as soluções dos problemas
diagnosticados por um psicopedagogo não estão na sua área de atuação, nesse caso
ele deve trabalhar em parceria com outros profissionais tais como: pediatras,
nutricionistas, psicólogos, fonoaudiólogos, neurologistas, oftalmologista, otorrino e
outros.

Para Porto (2007, p.77) “A psicopedagogia é um campo de atuação que integra


saúde e educação e lida com o conhecimento, sua ampliação, sua aquisição, suas
distorções, suas diferenças e seu desenvolvimento por meio de múltiplos processos”.
Como podemos perceber o objeto de estudo da psicopedagogia é a aprendizagem
humana, sabemos que as dificuldades no processo ensino aprendizagem não têm
apenas uma causa, ou um fator gerador, daí a necessidade da atuação
multiprofissional no qual a particularidade e individualidade de cada um deve ser

18
estudada, investigada e priorizada por todos os profissionais envolvidos. Segundo
Porto (2007) o pensamento de Piaget sobre o desenvolvimento do sujeito se dá em
um processo de maturidade orgânica e neurológica que observa determinadas faixas
etárias. Essas fases do desenvolvimento são assim estabelecidas cronologicamente:

• Sensório-motor: fase percebida em crianças de zero a dois anos, na qual a


aprendizagem se desenvolve através do controle motor.

• Intuitivo ou simbólico: crianças de dois a sete anos, a aprendizagem está vinculada


à descoberta de símbolos e aquisição da linguagem.

• Operações concretas: crianças de sete a doze anos, marcadas por atingir um


pensamento lógico sobre coisas concretas e apresentam maior capacidade de
reflexão, bem como maior possibilidade de socialização.

• Operações formais ou hipotético-dedutivas: crianças a partir dos doze anos;


destaca-se nessa fase a capacidade de entender conceitos abstratos.

Observando a Teoria Piagetiana Porto (2007 p.28) afirma que: “Respeitando-se


a maturidade de seu pensamento e a individualidade cada aluno está em um nível de
desenvolvimento e, a partir deste dado, deve o professor respeitar a ação no ritmo,
no tempo peculiar de cada um, sem antecipá-lo na ação, exceto em situações
frustrantes para ele” Percebemos que pedagogos e psicopedagogos devem respeitar
a particularidade de cada criança, reconhecendo que quando a aprendizagem não
acontece na idade cronologicamente esperada cria uma situação frustrante tanto para
o professor como para a criança e familiares. As escolas propõem uma aprendizagem
sistemática seriada e muitas vezes desconsideram as particularidades do eu e suas
relações com o meio.

A escola não pode esquecer que toda prática verdadeiramente pedagógica


tem por finalidade o desenvolvimento da pessoa e o fortalecimento do eu.
Sua intenção, portanto, tem de ser levar o aluno a fortalecer sua autoestima,
ter confiança em si e nos outros, ter respeito próprio. E, assim fortalecido,
pode ser solidário em suas relações (ALMEIDA, 2000 p.85).

Sendo assim, muitas vezes a ação psicopedagógica precisa atender a uma


demanda que não está relacionada apenas e exclusivamente à criança, mas vai muito
além alcançando a instituição, (escola) não apenas o espaço geográfico, mas também
o corpo docente e demais funcionários que direta ou indiretamente relacionam-se com

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a criança. Visitar também a sala de aula, observando vínculos estabelecidos e
relacionamentos com colegas e professores, visitar a família visando a conhecer
hábitos e costumes, bem como os conflitos e dificuldades encontrados nesse espaço
que afetam o desenvolvimento da criança são práticas psicopedagógicas
importantes.

Vigotsky, da mesma forma que Almeida, afirma que: “Não se pode falar em
aprendizagem sem, portanto, considerar todos os aspectos relevantes na vida desse
sujeito que se relaciona e troca, a partir da criação de vínculos”. O desenho é um
importante recurso para o ensinante, pois representa esses vínculos, tornando visível
o invisível e em alguns momentos os segredos existentes no inconsciente do sujeito.
Esses muitas vezes são os principais geradores das queixas, sendo assim, o desenho
coopera com o trabalho do psicopedagogo oferecendo maior clareza ao sintoma e um
diagnóstico mais preciso. Segundo Oliveira (2009, p. 41):

Através da observação do desenho da criança podemos obter dados sobre


seu desenvolvimento geral, assim como levantar hipóteses de
comprometimento afetivo- emocional, intelectual, perceptivo e motor em
suas múltiplas interferências.

O desenho é a representação criativa que revela a totalidade cognitiva e afetiva


das crianças que quando se sente segura se identifica com sua representação. Do
contrário torna visível suas angústias e desprazeres, apresentando insegurança, falta
de autonomia, vergonha, temores. Através da representação gráfica repleta de
significado a criança se percebe como construtora, se conhece, se envolve e se
revela, muitas vezes não está ali à primeira vista, necessário é que o psicopedagogo
faça a leitura atenta da representação gráfica, averigue, sonde, questione, deixe falar
sobre o desenho, mas com muito cuidado dando liberdade para que seja revelado
aquilo que não ficou claro aos olhos do ensinante.

O desenvolvimento da representação gráfica apresenta a primeira infância e


suas grandes conquistas estruturais cognitivas, emocionais e físicas. A
primeira é quando ela percebe a relação gesto-traço, ou seja, quando
percebe que o risco é uma resultante do seu movimento com o lápis. A
segunda é quando compreende que pode representar intencionalmente um
objeto graficamente e, a terceira, quando consegue organizar essas
representações, formando todos significativos, primeiramente muito mágicos

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e subjetivos, e depois, cada vez mais complexos, detalhados e próximos à
realidade objetiva (OLIVEIRA, 2009 p.43).

Essa evolução continua e quanto mais a criança vai se apropriando de


habilidades e organizando suas representações gráficas, essas vão se tornando
coerentes, representando, assim, a evolução do processo de estruturação mental.
Desta forma o psicopedagogo poderá se apropriar das representações, vendo o
aprendente como ele verdadeiramente é e poderá compreendê-lo melhor,
diagnosticando os problemas e indicando as devidas soluções e encaminhamentos
quando necessário.

6. AVALIAÇÃO DO DESENHO NA PERSPECTIVA DA


PSICOPEDAGOGIA

6.1. Espaços e Traçados


Na garatuja se usa os espaços de forma ampla e aleatória e é utilizada quase
toda a folha e ás vezes seu traçado sai da folha. De acordo com o modo de fazer o
desenho, centralizado ou de um lado ou de outro da folha significa diferentes posturas
de vida. No início o desenho é linear depois já utiliza recursos da emoção ou carinho
que tem por aquele personagem. Crotti e Magni (2011, p.69) fazem considerações
sobre a localização das figuras na folha, afirmam que” esta forma de interpretar os
desenhos pode ser entendida como “simbolismo espacial” onde cada área do papel

21
tem um simbolismo. ” De acordo com o local do desenho esse terá um simbolismo
uma forma de ver o mundo, e de se portar nele, seu jeito de ser.

Área superior: Referente ao pensamento ou intelecto e também ao ideal. Do lado


esquerdo desenham algo que remete a recordação, no meio a imaginação e no lado
direito representa sonhos.

Área média: Simboliza a realidade e a maturidade. Se estiver do lado esquerdo e no


meio simbolizam laços de origem, só no meio egocentrismo e no direito o futuro.

Área inferior: Modo de ver a vida pelo lado da materialidade ou inconsciente. Estando
do lado esquerdo pode ser medo, no meio insegurança e no direito desejo.

Piaget estabelece três fases por onde passam as crianças em relação ao espaço
gráfico.

Incapacidade sintética: Apresentam formas com diferenciação. Não há uma


elaboração do desenho e pode ou não apresentar relação entre a figura desenhada.

Realismo Intelectual: Idade de quatro a dez anos. Começa a usar perspectiva


precisando ter noção dela e de que como as mudanças ocorrem na representação.

Realismo Visual: Idade entre oito e nove anos. Se preocupa com a relação projetiva,
relação real sobre as linhas do desenho. Isso origina a verdadeira perspectiva nos
desenhos.

Quando se desenha todo o traçado e a suas formas são importantes e esse traçado
nos revela alguns detalhes. Traçados regulares e nítidos nos aponta uma criança
tranquila e segura. Já os traçados irregulares ou frágeis demonstram crianças
inseguras e tímidas. Dessa forma os traçados nos remetem alguns simbolismos em
suas linhas.

Linhas curvas: Sentimento de alegria e prazer por serem descontraídas e soltas. Já


as quebradas rigidezes.

Círculo: Representa a totalidade, ausência de divisão. Linhas sem paradas e única.

Quadrado: São rígidas e pouco maleáveis. Não surgem de linhas contínuas, por isso
o traçado é mais denso.

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Triângulo: Vértices para cima espiritualidade e divindade. Vértices para baixo maior
ligação com a Terra.

6.2. A Figura Humana


Esse tipo de figura, a humana, começa a parecer logo que a fase da garatuja
termina. Aparecem as figuras girinos até ter traços da figura humana. As crianças
desenham traços como se fossem palitos, pois não tem noção de volume. Mais tarde
passam a ter a noção fazendo duas linhas paralelas parecendo retângulos. A partir
dos seis anos desenham suas realidades inserindo pessoas que convivem com ela.
E os desenhos podem estar de perfil ou de posição frontal aos sete anos mais ou
menos. Aos dez anos aproximadamente, seus desenhos chegam mais perto da
realidade e as crianças começam a fazer críticas deixando de lado a espontaneidade.
Na maioria das vezes, o que a criança desenha é a percepção que ela tem de si em
relação ao mundo. Cada elemento desenhado tem seu simbolismo exemplo:

Cabeça: Crianças menores fazem a cabeça bem grande e no decorrer do


crescimento e amadurecimento a cabeça vai diminuindo e tendo uma proporção com
o resto do corpo.

Olhos: Crianças pequenas desenham olhos grandes e estes simbolizam a percepção


intelectual. Já nas crianças grandes significa que necessitam ficar atentas a tudo ou
pode significar crianças que observam tudo com muita curiosidade. As meninas na
adolescência realçam os olhos iguais quando usam maquiagem. Os meninos já não
o fazem com grandes detalhes.

Boca: Quando não desenham pode significar que não falam ou se sentem carentes.
Boca com traçado pra cima rementem a alegria e boca para baixo a tristeza. Só mais
a frente desenhará a boca com lábios inferiores e superiores.

Dentes: Quase não aparecem e quando aparecem pode demonstrar agressividade.

Nariz: Início da puberdade. Meninos desenham com mais capricho. Já a sua ausência
significa insegurança.

Orelhas: As crianças surdas podem omitir ou não. Se a orelha é grande pode mostrar
um desejo de ouvir. É comum na pré-escola ser omitida as orelhas.

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Braços: Braços longos vontade de abraçar quem amamos. Se o braço tiver garras
pode representar agressividade. Braços curtos pode simbolizar dificuldade de se
relacionar com o outro.

Mãos: Mãos grandes pode ser vontade de se aproximar de alguém ou medo de


apanhar.

Pernas: Nos bonecos girinos elas ainda não aparecem. Pernas curtas podem
demonstrar que as crianças tem o pé no chão. Pernas muito longas parecem pernas
de pau fazendo relação com a vontade de crescer rápido.

Pés: Pés grandes demonstram firmeza e segurança. Pode apresentar fragilidade ou


insegurança quando desenham os pés de maneira diferente ou pequenos ou podem
nem existir.

6.3. Outros desenhos que trazem simbolismo


Certos autores afirmam que por volta dos três anos as crianças já desenham
casas e estes desenhos vão sofrendo transformação até chegar no desenho que
vemos como casa como na figura humana. Para Chevalier e Gheerbrant (1982, p.99)
“a casa é o centro do universo e também considerada símbolo feminino que acolhe,
refúgio, proteção da mãe. ” Quando tem telhado pode significar consciência. Se
relacionado com a figura humana, o telhado é a parte mais alta podendo ser esta a
cabeça da figura humana. Se a casa for apartamento significa, o inconsciente.

Casas grandes: A criança está aberta para o mundo e é acolhedora.

Casas pequenas: A criança não é muito acolhedora, tendo poucos amigos


restringindo-os.

Portas: A passagem do desconhecido para o conhecido, das trevas para a luz. Casas
onde as portas estão fechadas demonstram dificuldades de adquirir novas
experiências Portas abertas busca de novos conhecimentos.

Janelas: Abertas ou fechadas significa que estamos abertos ou fechado para o


mundo. Janelas redondas receptividade de acordo com o nosso olhar para o mundo.
Já janelas quadradas receptividade terrestre.

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Chaminés: Chevalier e Gheerbrant (1982, p.102) afirmam que “as chaminés
simbolizam as nossas vias de comunicação com os seres do alto. Ela é a ligação de
dois mundos da terra e do céu. ”

Caminhos: Caminhos Tortuosos significa a busca para enfrentar as dificuldades da


vida. Caminhos lineares sabe aonde se quer chegar, sem rodeios e tranquila.

6.4. As Árvores
Pode significar árvore da vida, de bem e do mal. Pode simbolizar a mãe quando se
tem frutos e folhas. Árvores bem estruturadas mostram com a criança vê o mundo.

Raízes: simbolizam emoções e sentimentos, nosso eu interior. Árvores sem raízes


indícios de crianças com necessidades de receber afeto.

Troncos: Troncos grossos significa que a criança está segura na sua família ou na
escola. Troncos finos fragilidade, insegurança.

Folhagens: imaginação e criatividade. Árvores frondosas criança criativa pouca


folhas e galhos criança pouco ativa, reservada. Árvores grandes: crianças
extrovertidas já as pequenas são desenhos tímidos que não chama a atenção.

6.5. Família
Segundo alguns autores os desenhos da família são depósitos das fantasias. As
crianças tanto podem desenhar famílias reais ou imaginárias. Quando imaginárias
podem estar sofrendo problemas de relação e cabe investigar se isso for constante.
Temos que observar os desenhos da família como observamos o desenho da figura
humana, Se pinta o desenho, que cores utiliza para cada membro. Isso nos ajudará
a fazer as interpretações corretas por trazer alguns simbolismos.

6.6. Técnicas projetivas – Jorge Visca


Essa técnica investiga os vínculos que as crianças têm com ambiente escolar,
familiar e consigo mesmo. Devemos interpretar as técnicas projetivas de acordo com
o sujeito. Não é preciso utilizar todas as técnicas. Usaremos as forem mais
importantes dentro do que foi observado. O espaço na folha onde a criança define o

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seu desenho pode representar positivamente ou negativamente esse vínculo com a
aprendizagem. Mostraremos agora a posição do desenho na folha e seu significado:

6.6.1. Vínculos Escolares


Os vínculos escolares são três: par educativo, eu e meus colegas e a planta da
casa. De acordo com a idade e a necessidade de realização será pedido três
desenhos de acordo com os vínculos dependendo do grau de dificuldade que essa
criança se encontra. Visca (2013) afirma que no vínculo escolar de par educativo o
desenho que a criança faz é dela e da pessoa ensina. Tudo que se passa na produção
do desenho deve ser levado em conta e analisado, até mesmo o título e o que a
criança fala sobre o mesmo. Também temos o vínculo escolar que é o aluno e seus
colegas. É muito importante esse vínculo, pois a aprendizagem se dá também pela
forma como a criança se vê no grupo.

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Quando o desenho na sua totalidade é grande apresenta uma aprendizagem
boa e quando o tamanho é pequeno a aprendizagem é ruim. Visca (2013) relaciona
o tamanho do aluno em relação aos seus colegas no desenho analisando da seguinte
forma: grande pode ser liderança ou aceitação do ponto de vista dos outros, pequeno
pode ser submissão e tamanho igual demonstra que está pé de igualdade com seus
colegas. O último vínculo escolar é o desenho da planta da sala de aula. Se a criança
desenhar a sala de aula pequena pode representar uma inibição, tamanho desmedido
falta de limites adequados. Os elementos incluídos no desenho demonstram que é
um vínculo positivo e os excluídos que não se estabeleceu vínculos. Quando o aluno
está na frente conexão adequada e participação efetiva. Nos fundos e nas laterais na
maioria das vezes retração com tendência a participação não efetiva. E no meio indica
vínculo mediano. Jorge Visca (2013)

6.6.2. Vínculos Familiares


Sua aprendizagem pode ser comprometida pelo que a criança vivência em casa
e se a família tem uma boa estrutura a aprendizagem não será comprometida e
favorecerá mais aprendizagem. E a sua identidade e o modo de ver o mundo será
construída pela vivência, ou seja, o convívio familiar, através dos valores. E para
entender o mundo onde as crianças vivem os psicopedagogos pede que a criança
desenhe a planta da sua casa. Algumas crianças representam as suas casas no seu
interior se mostrando parte da família, um membro. Quando desenham a casa por
fora, isso demonstra que só admira a casa como se não fizesse parte da família. E
quando se desenha só a parte interna é formal a sua aprendizagem. E quando fazem
espaços fora da casa sua aprendizagem é voltada para a natureza. Visca (2013) A
criança nas suas produções coloca personagens e Visca (2013) dá significados
prováveis a esses personagens que são:

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6.6.3. Vínculos Consigo Mesmo
De acordo com Visca (2013) teste para avaliar o aprendizado do sujeito
consigo mesmo é o desenho em episódios e nele se observa indicadores vinculados
ao tempo, espaço e causalidade. E o dia do aniversário também pode ser
representado através de desenhos e também indica vínculos de aprendizagem que a
criança tem consigo mesma. O tamanho e a posição dos personagens mostram que
de frente se tem importância e vínculos positivo ou negativos (de costas etc). Essa

referência é de quem faz aniversário com os convidados. Os indicadores devem ser


levados em conta de acordo com a situação econômica da criança e sobre as
condições sociais e culturais que está envolvida. Algumas crianças não comemoram
seu aniversário ou fazem de forma particular. Através desse instrumento, a análise
do desenho, Visca mostra que podemos encontrar as possíveis causas dos
problemas de aprendizagem e esse é um instrumento que ajuda o psicopedagogo
nessa jornada de identificar as dificuldades que se encontra o aluno dentro da escola.

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7. REFERÊNCIAS

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