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A A PL I C A Ç Ã O D OS I N C O TE R M S 2020 N OS C ON T R AT OS I NT E RN A CI ON AI S
T HE U S E O F I N C O TE R MS 2020 I N I N TE R NA T I ONA L C ON TR A C TS
RESUMO
O presente artigo traz um estudo sobre os Incoterms, em especial sua mais nova
edição de 2020, bem como sua aplicabilidade aos contratos internacionais. O artigo
busca analisar os diversos instrumentos que visam facilitar a aplicação dos
Incoterms e as técnicas de redação contratual que fazem com que a apl icação destas
regras nos contratos internacionais seja mais efetiva. Também busca analisar os
métodos aplicáveis para que estes instrumentos sejam melhor utilizados pelos
operadores do direito internacional.
ABSTRACT
The present article presents a study regarding the Incoterms, especially its newest
edition of 2020, as well as its applicability to international contracts. The article
seeks to analyze the various instruments that aim to facilitate the application of the
Incoterms and the techniques of contractual drafting that make the application of
these rules in international contracts more effective. It also seeks to analyze the
methods for these instruments to be better used by operators of international law.
1
Me str an d a em Re laçõ e s Eco n ô m ica s e In t ern ac i o n ai s p e la Po n t if íci a Un iv er sid ad e Ca tó l ica d e
São Pau lo ( PU C /S P) . Ad v o g ad a.
S UM Á RI O
1. I NT R O DU Ç Ã O
2. OS CONTRATOS INTERNACIONAIS
2
B AP TIS TA, Lu iz O lav o . Co n t ra to s in te rn a c io n a is . S ão P au lo : L ex Ed i to ra, 2 0 1 0 , p . 1 5 .
3
Ib id .
4
BA S SO, Mar is te la. Cu r so d e d i re ito in te rn a ci o n a l p r iva d o . São Pau l o : At la s, 2 0 2 0 , p . 2 1 0 .
BA PTI ST A. Lu iz O lav o . Fo r ma çã o d o co n t ra to in te rn a c io n a l , in R ev i s t a d e Dir ei to Pú b li co , v .
19, nº 80, 1986, p. 152.
5
B AP TIS TA, Lu iz O lav o . o p . ci t. , 2 0 1 0 , p . 1 6 .
6
B AP TIS TA, Lu iz O lav o . o p . ci t. , 2 0 1 0 , p . 1 9 3 .
7
Ig u alm en te d if íc il é a tar ef a d e d ef in ir co n tra to in tern a cio n al, m a s p ara o s f in s d e ss e ar tig o
p o d e - s e ad o tar a d ef in i ç ão d ad a p o r Str en g er: “ S ã o co n t ra to s in t ern a ci o n a is d o co mé rc io to d a s
a s ma n if es ta çõ es b i o u p lu r ila te ra i s d a v o n ta d e l iv re d a s p a rt e s, o b j et iva n d o re la çõ e s
p a tr imo n ia i s o u d e se rvi ço s, cu jo s e le men to s s ej a m vin cu la n te s d e d o i s o u ma i s si s tema s ju ríd ico s
ext ra t er r ito ria i s, p e la f o rça d o d o mi cíl io , n a ci o n a lid a d e, s ed e p rin cip a l d o s n eg ó cio s, lu g a r d o
co n t ra to , lu g a r d a e xec u çã o , o u q u a lq u e r ci r c u n stâ n cia q u e exp ri ma u m lia me in d i ca t ivo d e
d ir ei to a p l icá vel .” S TR ENG ER , I r in eu . Co n t ra t o s In te rn a c io n a i s d o Co mé rcio . 4 ª ed . S ão Pau lo :
LTr, 2 0 0 3 , p . 9 3 .
8
A d o u tr in a d ef in e so ft la w s co m o : “Fa la - s e a q u i n a ca t eg o r ia e sp e cia l d e fo n t es m a te ria is o u
d e in sp i ra çã o n o co n ju n to d a s fo n te s n o rma ti va s d o d i rei to in te rn a cio n a l p riva d o . Ne la p o d e m
se r in clu íd a s a s re co me n d a çõ es , d i r et ri ze s, có d ig o s d e co n d u ta , le i s - m o d elo s e p r in c íp io s q u e
n ã o sã o , à p r im ei ra vi s t a , d o ta d o s d e ef ei to s v in cu la t ivo s im ed ia to s, is to é, ef ei to s q u e o b rig u e m
d ete rm in a d o s co mp o rta men to s d o s in d iv íd u o s; sã o n o r ma s q u e in flu e m e in sp i ra m o p ro c es so
leg i s la t ivo in t e rn o n o s Est a d o s e n eg o c ia çã o d e t ra ta d o s e co n ven çõ e s, e ta mb ém se rve m d e
re fe ren c ia l p a ra a a tu a ç ã o d o ju i z n a cio n a l e d a s p a r te s n o ca so co n c re t o . Imp ro p ria men te e ssa s
fo n te s sã o co n h e cid a s co mo fo n te s d e so f t la w, e co mp re en d em te m a s r ela cio n a d o s a vá ri o s
se to r es d o d ir ei to in te r n a cio n a l p ú b l ico , d i re it o in t ern a cio n a l p ri va d o e d ir ei to d o co m ér cio
in te rn a c io n a l .” B A SS O, Mar is te la. o p . ci t., 2 0 2 0 , p . 1 3 0 .
9
A d o u trin a d ef in e l ex m erca to ria co m o : “ u m co n ju n to d e n o r ma s (t ra n s n a cio n a i s) q u e reg u la m
a o rg a n i za çã o e a t iv id a d e me rca n ti l in te rn a c i o n a l b a s ea d a n o s u so s e co stu me s co me rcia i s
in te rn a c io n a i s, c lá u su l a s c o n t ra tu a i s, co n tra to s - tip o e reg ra s ema n a d a s d e O rg a n i za çõ e s
I n te rn a cio n a i s. ” G UI M AR ÃE S, An tô n io M árc io d a Cu n h a ; G UIM A RÃ ES , Ari an n a S tag n i
( Co o rd .) . Di re ito d o Co mé rcio I n te rn a c io n a l: E stu d o s e m Ho m en a g em a o Pro f. Dr. Ge ra ld o Jo s é
Gu i ma rã es d a S i lva . São Pau lo : Lex , 2 0 1 3 , p . 6 4 .
10
No in g lê s é ch am ad a d e I n ter n a tio n al Ch am b er o f Co m m erc e (“I C C”) .
11
No in g lê s é ch am ad a d e Th e I n t er n a tio n al In s ti t u te fo r th e Un if ic at io n o f Pr iv at e La w.
12
No in g lê s é ch am ad a d e Th e Un it ed N at io n s Co m m i ss io n o n In tern a tio n al Tr ad e L aw.
13
Ta is in fo r m açõ es en co n tr am - se d i sp o n ív ei s n o s it e d a C CI: h t tp s :/ /i cc wb o .o rg / ab o u t - u s/ wh o -
we - ar e/h is to ry / ( ú l tim o ace s so em 0 4 /0 6 /2 0 2 2 )
14
Informações sobre a missão da CCI estão disponíveis em: https://iccwbo.org/about-us/who-we-are/our-mission/ (último
acesso em 04/06/2022)
sediada em Paris, a CCI conta com escritórios em outros locais ao redor do mundo,
dentre eles no Brasil 15.
15
A CCI Brasil foi criada em 2014 e sua criação representou um importante avanço para a comunidade empresarial
brasileira junto a governos e organismos internacionais, além de demonstrar o prestígio e grande atuação do país neste
organismo. Também nesta oportunidade, o Brasil recebeu uma Secretaria da Corte de Arbitragem apta para administrar
os procedimentos arbitrais no país. Mais informações sobre a CCI Brasil estão disponíveis em:
https://www.iccbrasil.org/icc-brasil/# (último acesso em 20/06/2022).
16
O dicionário Collins define Incoterms como: “Expressões padronizadas, utilizadas na prática do comércio
internacional, que indicam quais as responsabilidades do comprador e do vendedor no processo de compra e venda
internacional (mais concretamente, no que respeita à entrega das mercadorias e aos encargos daí resultantes). O termo
Incoterm é uma abreviatura da expressão anglo-saxónica international commerce term. Sua existência deriva da
necessidade de unificação legislativa nesta matéria, por forma a que se reduzam os obstáculos jurídicos e regulamentares
ao desejável desenvolvimento das trocas comerciais internacionais”. COLLINS. Incoterms. English language
dictionary: complete & unabridged 2012 digital edition. Londres: William Collins Sons & Co. Ltd.: Harper Collins, 2012.
17
JOLIVET, Emmanuel. Incoterms e Técnica Contratual. Revista Brasileira de Arbitragem, Porto Alegre, v. 7, n. 25, p.
84-103, 2010. BAPTISTA, Luiz Olavo. op. cit., 2010, p. 21.
18
“Les Incoterms se définissent eux-mêmes comme un ensemble de règles internationales pour l’interpretation des termes
commerciaux les plus couramment utilizes dans le commerce in te rn a tio n a l. Ain si, so n t évi tée s le s
in ce rt itu d es d ’ in t erp r ét a tio n d e t el s t er me s d a n s d e s p a ye s d i ffé r en t s ”. Tr ad u ção liv r e: “ O s
I n co te r ms d ef in e m a s i p ró p rio s co mo u m co n ju n to d e r eg ra s in t ern a cio n a is p a ra a in te rp re ta çã o
d o s t er mo s co me rc ia i s ma i s u t il i za d o s n o co mé rcio in t e rn a cio n a l. As si m, a s in ce rt eza s n a
in te rp re ta çã o d e t a i s te r mo s em d if er en te s p a í se s sã o ev ita d a s ” G UÉ DO N, Jean . Le s In co te r m s e t
menção a qualquer uma destas cláus ulas, estará estabelecido com clareza o momento
em que o risco e o custo de uma operação de transporte de mercadoria são
transferidos de uma parte para a outra. Toda vez que um contrato internacional faz
referência a um Incoterm, ele está optando pela apli cação de determinado regime
jurídico 19.
Os Incoterms são, dentre as regras editadas pela CCI , as mais famosas e
mais utilizadas. Segundo a CCI, os Incoterms facilitam o comércio global de trilhões
de dólares a cada ano 20. Ou seja, esses termos são utiliz ados cotidianamente em
incontáveis contratos internacionais 21, sendo que seu uso é até mesmo recomendado 22
como forma de simplificar os contratos e harmonizar o direito (em especial o direito
internacional e a lex mercatoria) 23.
Apesar de existirem ferramentas cuja sistemática era semelhante à dos
Incoterms antes de sua edição 24, foi o uso reiterado, clareza e qualidade do texto dos
Incoterms que proporcionaram sua aceitação. Isto porque sua validade e eficácia
decorrem da vontade das partes. Assim, apesar de tratar -se de uma ideia
aparentemente simples, sua relevância, importância e eficácia no cenário
internacional são extremas 25.
26
LOPES VAZQUEZ, José. Comércio exterior brasileiro. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 35.
27
ZIEGLER, Alexander Von; RONOE, Jette H.; DEBATTISTA, Charles; e PLEGAT-KERRAULT, Odile. Transfer of
ownership in international trade. Kluwer Law International (CCI): Haia, vol. 546, 1999.
28
Sobre os Incoterms e sua função consultar: https://iccwbo.org/resources-for-business/incoterms-rules/incoterms-2020/
(último acesso em 05/06/2022)
29
Para mais informações sobre as mudanças introduzidas nos Incoterms 2020: https://iccwbo.org/resources-for-
business/incoterms-rules/what-are-the-key-changes-in-incoterms-2020/ (último acesso em 05/06/2022)
30
JOLIVET, Emmanuel. op. cit., 2010, pp. 84 a 103.
local dessa indicação, mas por razões de facilidade da leitura do contrato é indicado
que seja feito após a expressão escolhida 31.
Neste sentido, a versão dos Incoterms de 2020 abrange 11 regras, conform e
expostas abaixo 32:
Regras aplicáveis para qualquer modalidade de transporte :
31
LOPES VAZQUEZ, José. op. cit., 2015, p. 35.
32
Para mais informações sobre cada um dos termos, consultar: SOUSA, José Meireles de. Fundamentos do comércio
internacional: Comércio exterior (volume 2). São Paulo: Saraiva, 2009, pp. 203 a 215.Todavia, o autor aborda os
Incoterms 2010.
33
I n tro d u ção d o s I n co ter m s 2 0 2 0 .
importadores e exportadores para cada regra 34. Além disso, a introdução aos
Incoterms 2020 inclui uma explicação mais detalhada sobre como escolher a regra
certa para o seu contrato e a mais apropriada para uma determinada transação . A
CCI também disponibilizou um aplicativo de celular sobre os Incoterms 35.
Esta preocupação de tornar as regras mais acessíveis e evitar seu uso de
forma inadequada não parece ser exclusiva da CCI, na medida em que o governo
brasileiro, por meio do Sistema Integrado de Comércio Exterior (“Siscomex”), criou
sua própria tabela resumo 36 para elucidar o tema, já abordando a nova versão das
regras (Incoterms 2020).
Além disso, adicionalmente aos esforços que vêm sendo tomados por
diversos órgãos para que t ais regras sejam usadas de forma adequada, existem
diversas precauções que as partes podem tomar na redação do contrato internacional
para evitar problemas com a aplicação dos Incoterms.
Uma primeira precaução ao empregar os Incoterms que as partes podem
tomar na redação do contrato internacional, conforme já exposto acima, é fazê -lo de
forma expressa e indicando a versão destas regras que está sendo referenciada, ainda
que seja admitida a incorporação dos termos de forma tácita 37.
Assim, os erros são evitados quando as partes optam por uma redação
concisa e realizam a cópia na íntegra do Incoterm escolhido, fazendo menção
expressa à versão das regras escolhida. Apesar de parecer simples, conforme já
pontuado, essa técnica é mal -empregada na prática, ge rando uma grande dificuldade
para os aplicadores dos contratos internacionais na identificação do regime jurídico
ao qual as partes desejaram submeter o seu contrato 38.
De igual forma, na adoção expressa dos Incoterms, também não se
recomenda que seja utilizada ou feita a tradução dos termos 39. Conforme
mencionado, a CCI trabalha com essas regras em 29 idiomas, de forma que se
recomenda que seja utilizada uma destas versões. A tradução dos termos pode gerar
34
Tai s g r áf i co s en co n tr am - se d isp o n ív ei s no seg u in te s ite :
h ttp s: // icc wb o .o r g /p u b l i cat io n / in co t er m s - 2 0 2 0 - p ract ica l - fre e - w al lch ar t/ ( ú lti m o ace s so em
0 5 /0 6 /2 0 2 2 ).
35
O Do wn lo ad d o ap li cat iv o p o d e ser fe ito em : h t tp s: //ap p s. ap p le .co m /u s/ ap p / in co term s -
2 0 2 0 /id 1 4 7 1 4 9 7 0 5 3 ( ú lt i m o ace s so em 0 5 /0 6 /2 0 2 2 ).
36
A tab e la re su m o d o Si sco m ex es tá d isp o n ív el e m : h t tp : // s is co m e x .g o v .b r/ap r en d en d o - a -
ex p o rtar /n eg o c ian d o - co m - o - im p o r tad o r / in co ter m s/ in co term s - 2 0 2 0 - tab e la - re su m o / (ú lt im o ace s so
em 0 5 /0 6 /2 0 2 2 ) .
37
JO LIV ET, E m m an u e l. o p . ci t., 2 0 1 0 , p p . 8 4 a 1 0 3 .
38
Ib id .
39
Ib id .
40
JO LIV ET, E m m an u e l. o p . ci t., 2 0 1 0 , p p . 8 4 a 1 0 3 .
41
Ib id .
42
Os te rm o s “N a o r ig em ” , “F O B”, “ CI F ” e “ Cu s to e fre te” en fren tam e ss e tip o d e p ro b l em a.
43
JO LIV ET, E m m an u e l. o p . ci t., 2 0 1 0 , p p . 8 4 a 1 0 3 .
44
Ib id .
45
Ib id .
46
Ib id .
5. CONCLUSÃO
47
“ Os “ co mb it er m s” sã o u m si st ema in ic ia l men t e co n ceb id o p a ra o a g ru p a men to d e me rca d o r ia s ,
q u e a t rib u i a o ven d ed o r e a o co mp ra d o r, p a ra ca d a In co t er m e ca d a tip o d e cu s to , o s cu s to s
re la cio n a d o s a o s co n t r a to s d e ven d a s in t e rn a cio n a i s su b me tid o s a o s In co t er m s. ” JO LIVE T,
Em m an u e l. o p . ci t., 2 0 1 0 , p p . 8 4 a 1 0 3 .
48
“ T ra ta - se d a s co n d i çõ es d e t ra n sp o r te d a s lin h a s ma rí ti ma s reg u la r e s. Nã o e xi st e d ef in i çã o
u n ifo rm e d a n o çã o n o p l a n o in te rn a cio n a l.” J OL IVET, Em m an u el. o p . c i t., 2 0 1 0 , p p . 8 4 a 1 0 3 .
49
JO LIV ET, E m m an u e l. o p . ci t., 2 0 1 0 , p p . 8 4 a 1 0 3 .
R E F E RÊ NCI A S
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