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ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NA

artigo de revisão
PREVENÇÃO E CONTROLE DA MUCOSITE
ORAL EM PACIENTES SUBMETIDOS À
QUIMIOTERAPIA: uma revisão de literatura

Caline Novais Teixeira Oliveira*


Jussara Pereira Lima**
Regina Neves Ribeiro***
Allexsandra Guerra Domingues****
Verbênia Lebrão de Amorim Moreira*****
Márcio Vasconcelos Oliveira******
RESUMO
A mucosite oral é uma das complicações mais comuns do
tratamento antineoplásico, afetando cerca de 40% dos
pacientes submetidos à quimioterapia. Caracteriza-se por
uma alteração na estrutura das mucosas que leva a uma
série de conseqüências, desde o comprometimento da
nutrição/hidratação até aumento do tempo de hospitalização
por quadros infecciosos gerando importantes custos em
saúde. O objetivo desta revisão foi evidenciar as principais
intervenções realizadas no âmbito da prevenção e controle
da mucosite abordando o papel da Enfermagem nas ações.
Trata-se de um estudo realizado a partir de revisão
envolvendo artigos publicados no período de 2001 a 2013 As
fontes utilizadas foram Literatura Internacional em Ciências
da Saúde, Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde, IBECS, Biblioteca Cochrane, Scientific
Eletronic Library on-line. Também foi utilizada a versão em
inglês da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados *Enfermeira especialista em
Unidos da América e documentos de instituições Urgência e Emergência, mestranda
governamentais como Organização Mundial da Saúde e em Biociências pela Universidade
Federal da Bahia, professora do
Ministério da Saúde. Foram analisados 23 estudos que curso de enfermagem da Faculdade
compararam dados relatando: sucesso ou fracasso na de Tecnologia e Ciências. E-mail:
terapêutica preventiva para mucosite; atuação preventiva da calinenovais@yahoo.com.br
enfermagem para mucosite; ocorrência de formas evolutivas **Acadêmica de enfermagem da
Faculdade de Tecnologia e Ciências.
mais brandas com instituição de medidas preventivas. Os E-mail: sara_limma@hotmail.com
estudos apontaram vários agentes farmacológicos que ***Acadêmica de enfermagem da
podem ser utilizados com sucesso e segurança na mucosite, Faculdade de Tecnologia e Ciências.
como aplicação de laser de baixa potência e medidas de E-mail:
reginaribeirobdo@hotmail.com
higiene bucal sendo de grande importância na prevenção da ****Acadêmica de enfermagem da
mucosite, como também para minimizar ocorrência de Faculdade de Tecnologia e Ciências.
complicações destas lesões. Os artigos foram unânimes em E-mail: sandrinha.gd1@hotmail.com
apontar a enfermagem tendo papel central na condução e *****Acadêmica de enfermagem da
Faculdade de Tecnologia e Ciências.
muitas vezes na adoção de medidas preventivas combinadas E-mail:
ou não, capazes de reduzir a incidência da mucosite e de verbenia_lebraomoreira@hotmail.co
suas complicações, podendo contribuir substancialmente m
para aumento de qualidade para os pacientes submetidos à ******Professor do curso de Farmácia
da Universidade Federal da Bahia,
quimioterapia além de contribuir sobremaneira na redução de mestre em Desenvolvimento
custos em saúde. Regional e Meio Ambiente, doutor
Palavras-chave: Mucosite Oral. Prevenção. Enfermagem. em Saúde Pública e Epidemiologia.
E-mail: marciomvo@ig.com.br.
Quimioterapia.

94 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.1, p.94-107, jan./jun. 2014
Caline N. T. Oliveira, Jussara P. Lima, Regina N. Ribeiro, Allexsandra G. Domingues, Verbênia L. A. Moreira, Márcio V. Oliveira

1 INTRODUÇÃO

A mucosite oral é uma complicação dolorosas ao contato, o terceiro grau, tem


relativamente comum, atingindo em média como característica marcante o
40% dos pacientes que realizam aparecimento de crostas epiteliais e
tratamentos antineoplásicos envolvendo exsudato fibrinoso que levam à formação
quimioterapia. É definida como uma de pseudomembranas e ulcerações. O
inflamação com ou sem ulceração da quarto grau - forma mais severa da
mucosa bucal que pode expor o seu mucosite, ocorre quando há a exposição
portador a infecções diversas. A mucosite de estroma do tecido conjuntivo
é mais prevalente nos pacientes em subjacente (COSTA et al., 2007;
tratamento para tumores de cabeça e ALBUQUERQUE; CAMARGO, 2007;
pescoço e nos pacientes submetidos a VOLPATO et al., 2007).
transplante de medula óssea (VOLPATO A sequência fisiopatológica de
et al., 2007). inflamação da mucosa oral em pacientes
Inicialmente o quadro sintomatoló- a partir da instituição de terapia
gico da mucosite inclui: eritema, edema, antineoplásica perpassa por cinco fases:
sensação de ardência e aumento da 1) Iniciação: fase assintomática em que
sensibilidade a alimentos quentes ou ocorrem lesões diretas no DNA das
ácidos, esses sintomas, quando não células basais do epitélio, também
tratados podem evoluir com ulcerações aparecem radicais oxidativos; 2) Up-
dolorosas recobertas por exsudato regulação e geração de sinais
fibrinoso de coloração esbranquiçada ou mensageiro: através da geração de
opalescente, caracterizadas por lesões espécies reativas de oxigênio o DNA é
múltiplas e extensas (SANTOS et al., danificado resultando subsequentemente
2009). em morte celular; 3) Sinalização e
A mucosite pode ser classificada Amplificação: ocorre uma produção
em 4 graus evolutivos. O primeiro grau exacerbada de citocinas inflamatórias,
caracteriza-se apenas pela presença de lesionando ainda mais o tecido; 4)
eritema, o segundo, pelo aparecimento de Ulceração: esta fase é caracterizada pela
placas brancas descamativas que são deterioração e degradação da mucosa,

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literatura

servindo de foco para colonização podendo desaparecer lentamente entre


bacteriana e é altamente sintomática; 5) duas a três semanas após o término do
Cura: renovação celular com proliferação mesmo. O grau e o local de aparecimento
e diferenciação somado ao restabeleci- dependem de cada paciente com seus
mento da microbiota local (SONIS et al., fatores associados (COSTA et al., 2007).
2004). As principais consequências desta
De acordo com Gondim e Gomes e afecção são: dor, desconforto, disfagia e
Firmino (2010), o aparecimento e o grau em casos mais importantes pode levar a
de comprometimento da mucosite debilidade sistêmica, que normalmente
depende de diversos fatores, tais como: está associada à infecção e pode implicar
tipo de radiação ou quimioterápico, em comprometimento do estado geral
técnica utilizada, volume de tecido, levando inclusive a aumento no tempo de
número de doses e esquema de hospitalização, interrupção da terapêutica
fracionamento. antineoplásica e elevação de custos com
Alguns quimioterápicos são mais gastos adicionais relacionados à hotelaria,
agressivos às mucosas, entre eles: medicamentos e procedimentos, além
fluorouracil, methotrexate, bleomicina, disso, causa impacto negativo na
doxorrubicina e ciclofosfamida, sendo a qualidade de vida do paciente (COSTA et
combinação destes um fator al., 2007; ALBUQUERQUE; CAMARGO,
potencializador para ocorrência de 2007).
mucosite. Fatores individuais como: idade, Diante do exposto e, a
condições clínicas e estado dental, Enfermagem é a profissão mais
consumo de álcool, tabaco, ingerir qualificada cientificamente para a
frequentemente bebidas e comidas muito instituição e administração de meios
frias ou quentes e infecções orais pré- preventivos e terapêuticos para mucosite
existentes, podem contribuir para o (GONDIM; GOMES; FIRMINO, 2010).
agravamento da mucosite (SANTOS et al., Aliado a inexistência consensual na
2009; GONDIM; GOMES; FIRMINO, literatura sobre os meios mais eficazes a
2010). serem empregados, o presente estudo
A mucosite comumente surge após teve como objetivo realizar uma revisão
alguns dias do início do tratamento, extensiva da literatura para apontar as

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formas mais utilizadas na prevenção da A pesquisa nas bases de dados


mucosite associando aos resultados LILACS, IBECS, Biblioteca Cochrane e
clínicos e às individualidades dos SciELO foi realizada a partir do formulário
pacientes, vislumbrando auxiliar avançado enquanto que no PubMed
profissionais e estudantes na condução utilizou-se o “Mesh” como recurso de
mais coerente de pacientes em risco ou pesquisa. Os descritores utilizados foram:
portando esta afecção. “mucositis”, or “Oncology Nursing” ,and
“Chemotherapy” . Foram utilizados os
2 MATERIAL E MÉTODOS idiomas inglês, português e espanhol na
busca.

Realizou-se uma busca na Foram recuperados 66 artigos

literatura científica disponível através de científicos de periódicos para análise,

bases de dados nacionais e internacionais destes 43 foram excluídos, pois

consultados no período de Outubro a descreviam isoladamente protocolos de

Dezembro de 2013, contemplando tratamento da mucosite ou não estavam

estudos publicados entre os anos de 2001 disponíveis.

a 2013, este período foi determinado com Os critérios de inclusão foram

o objetivo de obter medidas preventivas sucesso ou fracasso na terapêutica

mais recentes para a mucosite. As fontes preventiva para mucosite; atuação

utilizadas foram MEDLINE (Literatura preventiva da enfermagem para mucosite;

Internacional em Ciências da Saúde), ocorrência de formas evolutivas mais

LILACS (Literatura Latino-Americana e do brandas com instituição de medidas

Caribe em Ciências da Saúde), IBECS, preventivas. Desta forma foram incluídos

Biblioteca Cochrane, SciELO (Scientific e analisados 23 estudos.

Eletronic Library on-line). Também foi


utilizada a versão em inglês do PubMed 3 RESULTADOS

(Biblioteca Nacional de Medicina dos


Estados Unidos da América) e Na busca inicial, utilizando os

documentos de instituições governamen- descritores predeterminados, foram

tais como Organização Mundial da Saúde selecionados 66 estudos. Destes, 23

(OMS) e Ministério da Saúde. foram selecionados a partir da leitura dos

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literatura

resumos que previamente preencheram complicações do tratamento antineoplási-


os critérios de inclusão, 43 estudos foram co, responsável pela debilidade e
excluídos, pois descreveram isoladamente comprometimento do estado geral do
protocolos de tratamento, sem abordar paciente, tendo uma relação direta com a
meios de prevenção da mucosite e redução da qualidade de vida (VOLPATO
atuação do profissional de Enfermagem. A et al., 2007; COSTA et al., 2007; RUIZ-
partir da leitura completa dos artigos foi ESQUIDE et al., 2011; KELNER;
confirmado que os 23 artigos atenderam CASTRO, 2007; BOLIGON; RUTH, 2011;
aos critérios predefinidos para inclusão no KOSTLER et al., 2001).
estudo. Todos os estudos que avaliaram
No rol de artigos para análise, 18 meios de prevenção da mucosite, foram
foram publicados em Português, no Brasil consonantes em tratar que ainda existe a
(ALBUQUERQUE; CAMARGO, 2007; necessidade de se pesquisar mais sobre
ALBUQUERQUE; SOARES; SILVA, 2010; os agentes usados na prevenção dessa
BOLIGON; HUTH, 2011; BORGES; afecção, no entanto os meios de
ANJOS, 2011; COSTA et al., 2007; prevenção citados nos artigos
FERREIRA et al., 2011; GONDIM; demonstraram sucesso em sua
GOMES; FIRMINO, 2010; HESPANHOL terapêutica, reduzindo incidência da
et al., 2010;KELNER; CASTRO, 2007; mucosite. As principais técnicas e agentes
LOPES; MAS; ZÂNGARO, 2006; LUIZ et citados pelos autores foram: uso de
al., 2008; MORAES, 2009; PINHO et al., Crioterapia (SANTOS et al., 2009;
2010; RAMPINI et al., 2009; SANTOS et FERREIRA et al., 2011; GONDIM
al., 2009; SANTOS; MAGALHÃES, 2006; GOMES; FIRMINO, 2010; LUIZ; et al.,
VIEIRA; LOPES, 2006; VOLPATO et al., 2008), Gluconato de clorexidina (SANTOS
2007), 04 estudos em Inglês (KOSTLER et al., 2009; FERREIRA et al., 2011;
et al., 2001; KHOURI et al., 2009; ALBUQUERQUE; CAMARGO, 2007;
SILVERMAN, 2007; SONIS et al., 2004) e ALBUQUERQUE; SOARES; SILVA, 2010;
01 estudo em Espanhol (RUIZ-ESQUIDE GONDIM; GOMES; FIRMINO, 2010;
et al., 2011). RAMPINI et al., 2009), Bicarbonato de
A maioria dos estudos definiu a sódio (SANTOS et al., 2009;
mucosite oral como sendo uma das ALBUQUERQUE; SOARES; SILVA, 2010;

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GONDIM; GOMES; FIRMINO, 2010), al., 2009; FERREIRA et al., 2011; COSTA
Glutamina (FERREIRA et al., 2011; et al., 2007; ALBUQUERQUE;
ALBUQUERQUE; CAMARGO, 2007; CAMARGO, 2007; GONDIM; GOMES;
GONDIM; GOMES; FIRMINO, 2010; FIRMINO, 2010; LUIZ et al., 2008;
RUIZ-ESQUIDE et al., 2011), VIEIRA; LOPES, 2006; MORAES, 2009;
Benzidamida (ALBUQUERQUE; PINHO et al., 2010; HESPANHOL et al.,
CAMARGO, 2007; GONDIM; GOMES; 2010).
FIRMINO, 2010; SILVERMAN, 2007; Muitos dos agentes de prevenção
VIEIRA; LOPES, 2006), Amifostina estudados, também foram citados como
(VOLPATO et al., 2007; FERREIRA et al., eficazes na ocorrência de formas
2011; ALBUQUERQUE; CAMARGO, evolutivas mais brandas da mucosite, tais
2007; RAMPINI et al., 2009; SILVERMAN, como as medidas de higiene oral, o uso
2007; VIEIRA; LOPES, 2006), de gluconato de clorexidina, glutamina e a
Queratonócitos/Palifermina (SANTOS et laserterapia (FERREIRA et al., 2011;
al., 2009; FERREIRA et al., 2011; GONDIM; GOMES; FIRMINO, 2010;
SILVERMAN, 2007; LUIZ et al., 2008), SILVERMAN, 2007; LUIZ et al., 2008;
Laser de baixa intensidade (VOLPATO et KELNER; CASTRO, 2007; BOLIGON;
al., 2007; SANTOS et al., 2009; RUTH, 2011; VIEIRA; LOPES, 2006;
FERREIRA et al., 2011; ALBUQUERQUE; KOSTLER et al., 2001).
SOARES; SILVA, 2010; RUIZ-ESQUIDE No que diz respeito à atuação
et al., 2011; RAMPINI et al., 2009; LUIZ et preventiva da enfermagem para mucosite,
al., 2008; KELNER;CASTRO, 2007; todos os estudos que tratavam a temática,
SANTOS; MAGALHÃES, 2006; LOPES; foram determinantes ao ressaltar a
MAS; ZÂNGARO, 2006; HESPANHOL et importância do enfermeiro na instituição
al., 2010; KHOURI et al., 2009), Fator de de um plano assistencial que busque
estimulação de colônia macrófago- analisar os fatores de risco de cada
granulócito (SANTOS et al., 2009; indivíduo, bem como estabelecer, orientar
FERREIRA et al., 2011; ALBUQUERQUE; e supervisionar os cuidados preventivos
CAMARGO, 2007; RAMPINI et al., 2009; da mucosite (ALBUQUERQUE;
SILVERMAN, 2007) e Medidas de Higiene CAMARGO, 2007; GONDIM; GOMES;
Bucal (VOLPATO et al., 2007; SANTOS et

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FIRMINO, 2010; MORAES, 2009; PINHO LOPES; MAS; ZÂNGARO, 2006; LUIZ et
et al., 2010; BORGES; ANJOS, 2011). al., 2008; RAMPINI et al., 2009; SANTOS
et al., 2009; SANTOS; MAGALHÃES,
4 DISCUSSÃO 2006; VIEIRA; LOPES, 2006; VOLPATO
et al., 2007; KOSTLER et al., 2001;

A mucosite não pode ser encarada KHOURI et al., 2009; SILVERMAN, 2007;

como um fenômeno simples, mas sim RUIZ-ESQUIDE et al., 2011).

como um complexo multifatorial associado Existe ampla consonância nos

ao tratamento antineoplásico. O impacto estudos que a higiene oral é uma das

negativo que a mucosite provoca no principais estratégias de prevenção da

conforto, na capacidade de alimentação, mucosite, porque reduz o

comunicação e no bem-estar geral do desenvolvimento de microorganismos e,

portador, além do comprometimento portanto diminui risco de mucosite, por

significativo em sua qualidade de vida, controlar o nível microbiano oral. Os

neste sentido, é de fundamental cuidados orais efetivos para atingir este

importância a busca de ações preventivas objetivo incluem: limpeza dos dentes com

para esta alteração (PINHO et al., 2010; escova macia, uso de creme dental com

COSTA et al., 2007). flúor, cuidados com próteses caso

É pacífico na literatura a existam, avaliação da presença de cáries,

importância de se estudar técnicas controle da alimentação - evitando

preventivas para mucosite oral associada alimentos ácidos, condimentados e ricos

aos tratamentos antineoplásicos, em açúcar, bem como ingesta hídrica

inúmeros autores tratam sobre esta adequada (VOLPATO et al., 2007;

temática, no entanto trazem muitas SANTOS et al., 2009; FERREIRA et al.,

técnicas não consensuais 2011; COSTA et al., 2007;

(ALBUQUERQUE; CAMARGO, 2007; ALBUQUERQUE; CAMARGO, 2007;

ALBUQUERQUE; SOARES; SILVA, 2010; GONDIM; GOMES; FIRMINO, 2010; LUIZ

BOLIGON; HUTH, 2011; COSTA et al., et al., 2008; VIEIRA; LOPES, 2006;

2007; FERREIRA; et al., 2011; GONDIM; MORAES, 2009; PINHO et al., 2010;

GOMES; FIRMINO, 2010; HESPANHOL HESPANHOL et al., 2010).

et al., 2010;KELNER; CASTRO, 2007;

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Uma intervenção importante para a Verificou-se na literatura analisada,


prevenção da mucosite oral que está plena consonância quanto à
associada à higiene oral inclui a indicação recomendação para realizar bochechos
dos bochechos com gluconato de com bicarbonato de sódio visando
clorexidina, este fármaco atua na obtenção de alívio para sintomatologia da
desorganização geral da membrana mucosite. O bicarbonato cria um ambiente
celular microbiana, inibindo suas enzimas alcalino que dificulta a multiplicação
específicas, no entanto a existência de bacteriana, contudo da mesma forma que
efeitos colaterais, tais como, mudança na a clorexidina, pode provocar impacto
coloração dos dentes, aumento dos negativo no paladar e sensação
depósitos calcificados supragengivares e desagradável ao longo de seu uso
alterações no paladar tem contra indicado (SANTOS et al., 2009; ALBUQUERQUE;
o uso prolongado (SANTOS et al., 2009; SOARES; SILVA, 2010; GONDIM;
FERREIRA et al., 2011; ALBUQUERQUE; GOMES; FIRMINO, 2010).
CAMARGO, 2007; ALBUQUERQUE; Alguns estudos têm demonstrado a
SOARES; SILVA, 2010; GONDIM; eficácia da administração de fator de
GOMES; FIRMINO, 2010; RAMPINI et al., crescimento para queratinócitos-1
2009). (Palifermin®). O mecanismo de ação
O uso da crioterapia (utilização de deste agente consiste em induzir a
gelo) tem sido amplamente divulgado para proliferação celular, aumentado a
prevenção ou redução da mucosite oral espessura do epitélio, reduzindo as
em pacientes oncológicos, observou-se possibilidades de dano ao DNA, além de
que a utilização dessa terapia resulta em promover o aumento das enzimas
um efeito protetor e também terapêutico, desintoxicantes que protegem o tecido da
evidenciando uma diminuição da ação dos agentes oxidantes, resultando
severidade da mucosite quando já numa diminuição dos níveis de citocinas
instalada (SANTOS et al., 2009; inflamatórias e de apoptose, implicando
FERREIRA et al., 2011; GONDIM; em diminuição de ocorrência da lesão ou
GOMES; FIRMINO, 2010; LUIZ et al., sendo eficaz na terapêutica em pacientes
2008). já afetados (SANTOS et al., 2009;

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FERREIRA et al., 2011; SILVERMAN, principal combustível oxidativo da célula


2007; LUIZ et al., 2008). epitelial. Ela é utilizada em altas doses por
Neste caso a grande limitação células de divisão rápida uma vez que
talvez seja o acesso ao medicamento uma fornece energia e favorece a biossíntese
vez que tem um custo muito mais elevado de nucleotídeos. Neste sentido a
do que outros agentes convencionalmente utilização deste componente pode implicar
utilizados. no aumento da proliferação epitelial,
A aplicação de laser de baixa sendo muito útil no processo de
potência consiste em uma técnica simples reepitelização rápida o que pode evitar
e não-traumática que pode ser utilizada ocorrência de lesões significativas e, em
tanto para a prevenção quanto para o pacientes com a lesão instalada pode
tratamento da mucosite oral em pacientes contribuir em uma recuperação rápida
submetidos a tratamentos evitando danos maiores (FERREIRA et
antineoplásicos, sendo capaz de reduzir al., 2011; ALBUQUERQUE; CAMARGO,
a gravidade e a duração da mucosite. 2007; GONDIM; GOMES; FIRMINO,
Seus resultados mostraram uma redução 2010; RUIZ-ESQUIDE et al., 2011).
da dor e uma melhora na habilidade de O uso da benzidamina e da
ingestão dos alimentos, sendo observada amifostina tem sido recomendado para a
uma diminuição na morbidade dos prevenção da mucosite oral. A
indivíduos tratados, gerando importante benzidamina é um agente com efeito
melhora na qualidade de vida (VOLPATO antiinflamatório, não esteróide, que é
et al., 2007; SANTOS et al., 2009; aplicado topicamente, apresentando ainda
FERREIRA et al., 2011; ALBUQUERQUE; efeitos analgésicos, anestésicos e
SOARES; SILVA, 2010; RUIZ-ESQUIDE antimicrobianos (ALBUQUERQUE;
et al., 2011; RAMPINI et al., 2009; LUIZ et CAMARGO, 2007; GONDIM; GOMES;
al., 2008; KELNER; CASTRO, 2007; FIRMINO, 2010; SILVERMAN, 2007;
SANTOS; MAGALHÃES, 2006; LOPES; VIEIRA; LOPES, 2006). Já a amifostina
MAS; ZÂNGARO, 2006; HESPANHOL et possui o potencial de proteger diversos
al., 2010; KHOURI et al., 2009). órgãos e tecidos contra a toxicidade dos
A glutamina é um nutriente tratamentos antineoplásicos, estudos já
imunomodulador considerado como apontaram que o uso deste agente está

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associado a uma diminuição oral são importantes, podendo subsidiar a


estatisticamente significativa para possibilidade de o enfermeiro descrever
ocorrência de mucosite, no entanto ficou com precisão possíveis alterações em
demonstrado que seus efeitos adversos, lábios, gengiva, mucosa, língua, dentes e
tais como reações alérgicas, náuseas, saliva.
vômitos e hipotensão podem constituir O resultado da avaliação deve
como fatores limitantes ao seu uso nortear os diagnósticos de enfermagem
(VOLPATO et al., 2007; FERREIRA et al., ou problemas colaborativos que estão
2011; ALBUQUERQUE; CAMARGO, ligados ao possível aparecimento da
2007; RAMPINI et al., 2009; SILVERMAN, mucosite em pacientes sob risco.
2007; VIEIRA; LOPES, 2006). As intervenção devem apontar e
O fator de estimuação de colônia indicar os cuidados orais seguidos de
macrófago-granulócito (GM-CSF) é uma orientações e ensinamentos que devem
citocina que induz a proteção da mucosa ser estendidos aos familiares ou
durante o tratamento antineoplásico, responsáveis com a perspectiva de
oferecendo resultados parcialmente efetivação das práticas para que seja
satisfatórios na prevenção e tratamento verificada diminuição da ocorrência de
da mucosite. O mecanismo de ação desse lesão oral (ALBUQUERQUE; CAMARGO,
medicamento tem o objetivo de recuperar 2007; GONDIM; GOMES; FIRMINO,
a medula óssea do indivíduo, levando a 2010; MORAES, 2009; PINHO et al.,
uma posterior produção dos elementos 2010; BORGES; ANJOS, 2011).
desta, promovendo uma melhora no Em pacientes com a lesão bucal
quadro do paciente (SANTOS et al., 2009; instalada, cabe ao enfermeiro utilizar de
FERREIRA et al., 2011; ALBUQUERQUE; seus conhecimentos técnicos e científicos
CAMARGO, 2007; RAMPINI et al., 2009; para interferir diretamente na evolução do
SILVERMAN, 2007). quadro, utilizando para isso de adoção de
Ao enfermeiro cabe a supervisão e medidas e planos terapêuticos.
implantação de todos os cuidados a um As ações devem envolver a
paciente assistido, então em pacientes combinação ou não de agentes e
sob tratamento quimioterápico antineoplá- condutas farmacológicas ou não
sico, as avaliações físicas da cavidade farmacológicas, levando em consideração

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Atuação da enfermagem na prevenção e controle da mucosite oral em pacientes submetidos à quimioterapia: uma revisão de
literatura

aspectos individuais, custos envolvidos e realização de vários estudos que


os efeitos esperados (ALBUQUERQUE; consigam apontar formas eficazes que
CAMARGO, 2007; GONDIM; GOMES; envolvam a diminuição de sua incidência.
FIRMINO, 2010; MORAES, 2009; PINHO A presente revisão revelou diversos
et al., 2010; BORGES; ANJOS, 2011). meios comprovadamente eficientes na
prevenção e no tratamento da mucosite,
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ademais apontou a Enfermagem como a
profissão que possui papel central nesta
A mucosite oral constitui um empreitada, que ao coordenar com
problema comum e significativo em grande competência as ações implicadas
indivíduos em tratamento quimioterápico na prevenção e tratamento da mucosite,
para câncer, pois pode trazer uma série contribui efetivamente na adesão
de comprometimentos para o paciente terapêutica antineoplásica, elevação da
que podem variar de um simples qualidade de vida dos pacientes e
desconforto a episódios infecciosos de contribui para a diminuição de custos com
grande monta. internamentos prolongados e gastos
A importância de prevenir a adicionais com medicamentos e
instalação da mucosite oral e do procedimentos.
tratamento dos casos existentes, é
inquestionável e tem impulsionado a

NURSING ACTION IN THE PREVENTION AND CONTROL OF ORAL MUCOSITIS IN


PATIENTS UNDERGOING CHEMOTHERAPY: a review of the literature

ABSTRACT
Oral mucositis is one of the most common complications of
anticancer treatment , affecting about 40 % of patients undergoing
chemotherapy. It is characterized by a change in the structure of the
mucosa which leads to a series of consequences , from the
compromised nutrition / hydration to increased length of
hospitalization for infectious conditions producing significant health
costs . The objective of this review was to highlight the main
interventions in the prevention and control of mucositis addressing
the role of nursing in the actions . This is a study from review

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Atuação da enfermagem na prevenção e controle da mucosite oral em pacientes submetidos à quimioterapia: uma revisão de
literatura

involving articles published between 2001-2013 The sources used


were the International Literature on Health Sciences , Latin
American and Caribbean Literature on Health Sciences , IBECS ,
Cochrane Library , Scientific Electronic Library online . The English
version of the National Library of Medicine of the United States of
America documents and government institutions such as the World
Health Organization and Ministry of Health 23 studies that compared
data were analyzed reporting was also used : success or failure in
preventive therapy for mucositis ; preventive nursing activities for
mucositis ; occurrence of milder developmental forms with
implementation of preventive measures . The studies showed
various pharmacological agents that can be successfully and safely
used in mucositis as application of low power laser and oral hygiene
measures is of great importance in the prevention of mucositis , but
also to minimize the occurrence of complications such lesions . The
articles were unanimous in pointing nursing having a central role in
driving the adoption and often combined or not , can reduce the
incidence of mucositis and its complications preventive measures ,
can contribute substantially to improving quality for patients
undergoing chemotherapy and contribute greatly in reducing health
costs.

Keywords: Oral Mucositis. Prevention. Nursing. Chemotherapy.

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