Você está na página 1de 17

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/336871151

Grada Kilomba e o Grau Zero de Tudo

Article · June 2019

CITATIONS READS

0 1,003

1 author:

António Castanheira
Universidade NOVA de Lisboa
1 PUBLICATION 0 CITATIONS

SEE PROFILE

All content following this page was uploaded by António Castanheira on 29 October 2019.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 1

antónio castanheira

Temas da Arte Contemporânea


Docente Liliana Coutinho

Pós-Graduação em Curadoria de Arte 2018/2019


Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
Universidade Nova de Lisboa

antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019


Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 2

Avant-propos
Este ensaio procura entender a questão decolonial como uma actualização semi-
ológica do conceito de grau zero, analisando os lugares do discurso num sistema
de significação profundamente enraizado na Retórica. Fá-lo usando como campo
de exploração e de evidência o trabalho da artista Grada Kilomba, entendendo
também a sua produção escrita — falsamente mais prosaica — como um gesto
artístico. O trabalho tem por princípio aglutinador a dualidade normalidade/des-
vio, com a base epistemológica que isso implica, dá conta do modo como os
enunciados são construídos e recebidos na oposição denotação/conotação e
torna evidente que o projecto colonial foi sempre secundado por uma semântica
desenhada por valores (ideológicos, morais, económicos ou políticos).

Mais do que um projecto terminado, este trabalho aponta um caminho e serve


de indutor de apetite para uma investigação mais aprofundada que nos venha a
permitir entender a questão decolonial, não só enquanto tema da arte, mas em
toda a extensão das suas implicações sociológicas e epistemológicas.

antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019


Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 3

Setting the ground

«There is a mask of which I heard many times during my childhood. It was the
mask Escrava Anastácia was made to wear. The many recounts and the detailed
descriptions seemed to warn me that they were not simple facts of the past, but
living memories buried in our psyche, ready to be told. Today, I want to re-tell
them. I want to speak about that brutal mask of speechlessness.

This mask was a very concrete piece, a real instrument, which became a part of
the European colonial project for more than three hundred years. It was compo-
sed of a bit placed inside the mouth of the Black subject, clamped between the
tongue and the jaw, and fixed behind the head with two strings, one surrounding
the chin and the other surrounding the nose and forehead. Formally, the mask
was used by white masters to prevent enslaved Africans from eating sugar cane or
cocoa beans while working on the plantations, but its primary function was to
implement a sense of speechlessness and fear, inasmuch as the mouth was a pla-
ce of both muteness and torture.

In this sense, the mask represents colonialism as a whole. It symbolizes the sadis-
tic politics of conquest and its cruel regimes of silencing the so-called ‘Others:’
Who can speak? What happens when we speak? And what can we speak about?»

Grada Kilomba. Plantation Memories, p. 12.

Todas as narrativas decoloniais se iniciam com uma de duas opções: a primeira


diacrónica, materializada no acto de reescrever a história do mundo depois de
mil e quinhentos, com um novo ponto de vista e com uma terminologia total-
mente refeita; a segunda sincrónica, ou seja, uma proposta de nova definição de
conceitos pertinentes, como racismo, normalidade, etc. Grada Kilomba, em Plan-
tation Memories opta pela segunda hipótese e dedica a primeira parte do livro a
reescrever conceitos.

antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019


Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 4

Why do I write?
‘Cause I have to
‘Cause my voice,
in all its dialects,
Has been silent too long
(Jacob Sam-La Rose)

O poema escolhido por Grada Kilomba para epígrafe do seu livro Plantation
Memories: episodes of everyday racism é também perfeito para iniciar a nossa
travessia decolonial do seu trabalho artístico. Grada começa por estabelecer as
bases de toda a problemática que se vai seguir e por nos fornecer uma pista so-
bre a essência do projecto colonial: «It is also a poem about resistance, about a
collective hunger to come to voice, to write and to recover our hidden history.» 1
Trata-se de uma questão de linguagem, mais precisamente de uma questão de
Pragmática da Linguagem, e é esta capacidade que a palavra tem de fazer existir,
de fazer acontecer, que irá conduzir todo o trabalho de Grada, desde Plantation
Memories até hoje.

Loquor ergo sum


Todo o projecto colonial assenta na imposição de uma matriz linguística. A pri-
meira vaga colonial transportava três línguas que estavam a consolidar a sua for-
ma mas que ainda estavam apenas a desprender-se do Latim. Os primeiros colo-
nizadores falavam português, espanhol e italiano mas, com eles, levavam o Cristi-
anismo, que não era mais do que uma grande narrativa latina extremamente con-
veniente porque aglutinava todo um sistema de pensamento que, no interior do
seu elenco de conceitos, incluía uma Lógica e uma Moral próprias, muitíssimo
bem delineadas e perfeitamente adaptadas ao projecto colonial. Uma língua não
é uma ferramenta de comunicação neutra, é um sistema de conceitos amplo e
complexo que, antes dos actos de fala2 , estrutura o pensamento e, acima de
tudo, define o que pode existir e o que não pode. Uma língua é composta por
um paradigma de conceitos partilhados pelos seus utilizadores, um repertório
mais ou menos finito a que a fala vai buscar unidades para construir o discurso3 .
Tudo o que existe tem nome e, consequentemente, o que não tem nome não
existe. Assim, a imposição das línguas colonizadoras era mais do que uma facili-
dade prática e administrativa para facilitar ingenuamente a comunicação, era a
circunscrição de um universo de existências que condenava ao seu exterior os
conceitos indígenas que não faziam parte do paradigma do colonizador. Era um
projecto de silenciamento, de normalização e de imposição de uma matriz domi-
nante que remetia ao silêncio as sociedades dominadas.

A imposição das línguas europeias não condenou à mudez o indivíduo coloniza-


do, que aprendeu a nova língua e conseguiu continuar a exprimir-se, o que ela
condenou à mudez foi a cultura do povo a que pertencia esse indivíduo obrigan-
do-a a uma de duas coisas: anular-se e condenar-se ao apagamento da memória
ou integrar-se e dissolver-se no universo do colonizador.

1 Plantation Memories, p. 12.


2Cfr. SEARLE, John R. Speech Acts - An essay in the philosophy of language, 1969 . Os Actos
de Fala. Coimbra: Almedina, 1983.
3 Cfr. SAUSSURE, Ferdinand. Cours de linguistique générale, 1916.
antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019
Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 5

O Homem só existe na Linguagem, é nela que se define, que se afirma e que


conquista o seu “direito à existência” e à identidade.

«A “subjectividade” de que tratamos aqui é a capacidade do locutor se


colocar como “sujeito”. Define-se, não pelo sentimento que cada um tem
de si mesmo (este sentimento, na medida em que podemos contar com
ele, não é senão um reflexo), mas pela unidade psíquica que transcende a
totalidade das experiências vividas que reúne, e que assegura a perma-
nência da consciência. Ora esta “subjectividade”, em nosso entender,
quer a definamos em fenomenologia, quer em psicologia, como se verá,
não é senão a emergência no ser de uma propriedade fundamental da
linguagem. É “ego” quem diz “ego”. Encontramos aqui o fundamento da
“subjectividade”, que se determina pelo estatuto linguístico da
“pessoa”.4

Para Grada Kilomba, enquanto pessoa negra numa sociedade contemporânea, o


problema é de natureza epistemológica (onde sujeito e objecto se separam pela
racionalidade) e de Direito (do acesso ao centro). O negro tem sido sempre ob-
jecto num discurso branco e é pelo direito à voz que Grada se insurge, é pelo
direito à voz que irá conquistar o direito à subjectividade, que passará de objecto
negro num discurso do sujeito branco a sujeito num discurso do centro5. «This
work is a place to perform subjectivity, to acknowledge Black Women in particular
and Black people in general as subjects of this society — in all the senses of the
word.» 6 E, obviamente, o discurso evidencia as marcas de um historial, de um
passado que deixou marcas, que abriu feridas que levarão o seu tempo a cicatri-
zar:

«…our discourses embody not only words of struggle, but also of pain —
the pain of oppression. And when hearing our discourses, one can also
hear the pain and emotion contained within its brokenness , she argues, of
still being excluded from places at which we had just ‘arrived’, but can
hardly ‘stay’.7

4Cfr. BENVENISTE, Émile. L´homme dans la langue in Problèmes de Linguistique Générale,


1966. O Homem na Linguagem. Lisboa: Arcádia, 1976. Pág. 59.
5 Este enquadramento não está isento de problemas e de reservas. A sua discussão ultrapassa o
âmbito deste ensaio mas é importante assinalar que esta atitude, esta luta por conquistar um
lugar no discurso do centro, saindo das margens a que negros e indígenas têm estado confina-
dos nos últimos quinhentos anos, tem sido uma luta para conquistar um lugar no sistema e nas
instituições coloniais em vez de ser uma luta pelo reconhecimento de um lugar próprio que tem
o direito de coexistir e de ser respeitado. A luta pragmática dos povos indígenas do Brasil, por
exemplo, tem sido por conquistar um lugar nas instituições políticas do poder branco de matriz
colonial em vez de lutar pelo direito à coexistência de um sistema diverso e seu. O filme Índio
Cidadão?, de Rodrigo Arajeju, mostra-nos a demanda indígena por um lugar na Assembleia
Nacional, por um lugar que confere uma voz mas que, política e administrativamente, é pouco
mais do que insignificante e inconsequente, pelo fraco poder legislativo que permite. A maioria
branca continua a ter o poder de impor o seu sistema sobre o outro, o sistema democrático é
totalitário em relação às minorias e só por benevolência tolera a coexistência de sistemas onto-
logicamente distintos (o que acabou por acontecer com a concessão que foi feita com a criação
das reservas índias). A luta por lugares no parlamento pode ser compreendida por razões simbó-
licas e por uma estratégia faseada de afirmação mas é manifestamente insuficiente para aco-
modar a existência e o respeito por sociedades e cosmogonias profundamente distintas, como
ficou bastante claro nas intervenções esclarecidas de Aílton Krenak nas conversas da Mostra
Ameríndia na Gulbenkian, em que demonstrou que a necessidade real é que as comunidades
indígenas vejam reconhecido o seu direito à diferença, com o direito à coexistência que isso
implica, e não o direito a um lugar proporcional e improcedente no sistema parlamentar.
6 Plantation Memories, p. 45.
7 Plantation Memories, p. 32.
antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019
Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 6

«Colonialism not only meant the imposition


of Western authority over indigenous lands,
indigenous modes of production and indi-
genous law and government, but the imposi-
tion of Western authority over all aspects of
indigenous knowledges, languages and cul-
tures.»

Irmingard Staeuble

Epistemologia
O projecto colonial foi muito mais do que um projecto de dominação económica
e social. Ainda que a motivação original tenha sido extractiva — no sentido
abrangente de recolher e trazer para a metrópole tudo o que pudesse ter valor,
incluindo pessoas —, a sua concretização só foi possível pela implementação de
uma dimensão cultural, pela imposição de um modelo global. Enquanto o Impé-
rio Romano se instalou através de um procedimento de miscigenação, onde os
ocupantes impunham o seu sistema legal, tributário e administrativo de um modo
consideravelmente impositivo, mas eram bastante flexíveis e permeáveis em to-
dos os outros aspectos, incluindo a língua e a religião — que por norma se fundi-
am com as tradições de cada povo — o Império Colonial foi muito mais inflexível
no seu contacto com os povos e civilizações conquistados.

De todas as construções do projecto colonial, a mais perfeita para a implantação


do seu poder e para a manutenção do seu domínio foi a construção de uma epis-
temologia blindada, desenhada para resistir a todas as investidas externas e co-
locada no lugar mais alto da sociedade.

«Due to racism, Black People experience a reality different from white pe-
ople and we therefore question, interpret and evaluate this reality differen-
tly. The themes, paradigms am methodologies used to explain such reality
might differ from the themes, paradigms an methodologies of the domi-
nant. It is this ‘difference’, however, that is distorted from what counts as
valid knowledge. Here, I inevitably have to ask how I, as a Black woman,
can produce knowledge in an arena that systematically constructs the dis-
courses of Black scholars as less valid.»8

O início da colonização foi apoiado pelo Cristianismo. A narrativa religiosa era,


por definição, inquestionável e todo o processo foi conduzido em função da
evangelização, criando um universo polarizado com um interior humanizado,
onde o indígena convertido passava a ser incluído, e um exterior bárbaro onde
permaneciam os proscritos, os infiéis, a mole inferior da civilização, aqueles a
quem a humanidade era negada. Cristianismo e Civilização identificavam-se. Este
era um sistema profundamente violento, um sistema apoiado na Inquisição, que
recorria ao terror, à morte e à tortura com naturalidade. O Iluminismo na Europa,
nos séculos seguintes, acabou por conquistar terreno à igreja e por instaurar uma
ordem superior fundada na primazia exclusiva da razão. A Filosofia e as Ciências
Naturais uniram-se na construção de um paradigma que se instalou silenciosa-

8 Plantation Memories, p. 29.


antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019
Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 7

mente no poder e acabou por conduzir ao refreamento da metodologia repressi-


va da igreja e a uma repartição diplomática do poder. O Racionalismo servia na
perfeição o projecto colonial e acabou rapidamente por se tornar a base da Ma-
triz Colonial do Poder9 , relegando a acção repressiva da igreja para um conjunto
menos expressivo de focos de domínio e instaurando uma nova ordem, também
ela fechada e dotada de uma fronteira implacável que mantinha no exterior, já
não apenas os infiéis que se recusavam a acreditar na narrativa cristã, mas todos
os indígenas que não abraçavam o método, que tinham cosmogonias distintas e
diversas.

Do racionalismo à epistemologia10 foi um passo muito curto.

A primeira tarefa do projecto colonial foi a imposição da ideia de natureza, como


tinha sido enunciada por Francis Bacon no Novum Organun, em 1620, onde, ao
propor uma organização totalmente nova do conhecimento, declarou que a natu-
reza estava ali para ser dominada pelo homem. Esta ruptura violenta da ordem
do mundo, em que o homem se desprendia do seu contexto, se tornava sujeito
face aos objectos, observador, agente externo, manipulador, estudioso, era in-
compatível com os conceitos indígenas em que o homem e a natureza eram uma
só coisa indissociável, como o/a pachamama dos Quíchuas e dos Aimarás, entre
tantas outras cosmogonias nativas.

A partir daqui, a epistemologia ganhou a forma definitiva que hoje lhe conhece-
mos. Começa por definir o que deve ou não ser questionado — os temas —; fixa
os requisitos de análise e de explicação dos fenómenos — os paradigmas — e,
finalmente, estabelece as regras de condução da investigação e do raciocínio —
o método. Este modelo exclui imediatamente uma parte significativa e ameaça-
dora do conhecimento indígena ao negar-lhe o interesse, a legitimidade, o valor
e a verdade, ou seja, em última instância, nega-lhe o direito à existência.

Esta dominação epistemológica, que precede a dominação capitalista — que


chegará mais tarde — foi uma ferramenta de poder inestimável e impôs a mo-
dernidade de uma forma avassaladora fora da Europa que a tinha inventado.

A Epistemologia ainda é um obstáculo na era pós-colonialista. O racismo no pre-


sente é um problema complexo e intrincado. O fim do colonialismo não deu ori-
gem instantaneamente a uma sociedade decolonial, como se, de um momento
para o outro, o mundo inteiro fosse um palco de coexistências sem hierarquias,
uma vasta planície de respeito e de aceitação mútuos. As migrações ao longo
dos últimos séculos, bem como a instalação de elites de descendentes de colo-
nos fora da Europa, criaram sociedades racialmente heterogéneas organizadas na
esteira da matriz colonial onde o racismo se faz sentir em todos os campos do
quotidiano.

9 MIGNOLO, Walter D. Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade


10Epistemologia utiliza-se aqui no singular por dizer respeito ao tronco comum, ao conjunto de
invariantes presentes nas inúmeras nuances que caracterizaram a evolução da epistemologia.
Estas características omnipresentes são as que, de facto, interessam ao entendimento do pro-
jecto colonial, sendo, não só possível mas aconselhável, descartar os traços distintivos que
caracterizam as iterações da epistemologia no espaço e no tempo e considerar a sua identidade
disciplinar apenas pelos traços comuns.
antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019
Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 8

Topica
A Matriz Colonial do Poder é um poderoso processo retórico11. Já o era no pe -
ríodo religioso mas acentuou-se no período científico. A sua implantação faz uso
de todo o corpus da Retórica mas tem o seu ponto de apoio mais importante na
primeira parte — a Inventio —, mais precisamente no seu corpo de valores prefe-
renciais — a Topica. Para entender o funcionamento da argumentação a favor da
Epistemologia, mobilizemos a definição de valor implícita no conceito de com-
portamento preferencial fixado por Charles Morris na sua proposta da Axiologia:

«Pode-se dizer que que um organismo apresenta um comportamento


preferencial positivo em relação a um objecto ou situação, quando actua
de modo a manter esse objecto ou situação, ou de modo a criar esse ob-
jecto ou situação quando não está presente. Apresenta um comportamen-
to preferencial negativo quando tenta afastar-se desse objecto ou situa-
ção, ou destruir ou evitar a ocorrência dessa situação ou objecto.»12

Toda a argumentação se funda na preexistência de um corpo socialmente defini-


do e tacitamente aceite de valores preferenciais positivos e negativos, que serve
de matriz para validar e recusar argumentos — são aquilo que na Retórica de
Aristóteles, e dos retores latinos que se lhe seguiram, se chamava lugares comuns
e que eram os grandes trunfos do discurso da persuasão, eram aquele repertório
de valores em que toda uma sociedade está de acordo e aos quais se podia
sempre recorrer para fazer valer um argumento. Esta ligação entre a palavra e o
valor nunca foi ingénua.

«É por isso que o poder ou a sombra do poder acaba sempre por consti-
tuir uma escrita axiológica, em que o trajecto que separa habitualmente o
facto do valor é suprimido no próprio espaço da palavra, dada sempre
como descrição e como juízo.»13

A Matriz Colonial do Poder, confundida com o projecto moderno, elegeu a ciên-


cia que se desenvolveu na Europa como o referencial exclusivo para aferir o co-
nhecimento, para conferir voz aos colonizadores e para silenciar quem se manti-
nha no exterior.

Grada Kilomba, no segundo capítulo “Who can Speak?” de Plantation Memories


é clarividente em relação à topica que sustenta a defesa da Epistemologia. Fá-lo
para explicar o silenciamento imposto à voz negra mas o conjunto de lugares do
preferível é exactamente o mesmo para todos os discursos que legitimam o co-
nhecimento.

11As últimas décadas do século vinte viram surgir um movimento de constatação e estudo dos
mecanismos retóricos nos processos de comunicação e legitimação do trabalho científico, lan-
çando uma névoa de suspeição sobre a neutralidade e a objectividade da ciência e, mais lata-
mente, do projecto moderno. O grande dinamizador desta linha de pensamento entre nós foi
Manuel Maria Carrilho, com inúmeras publicações sobre o assunto (A Filosofia das Ciências,
Razão e Transmissão da Filosofia, Itinerários da Racionalidade ou Réthoriques de la modernité) e
a organização do Colóquio Internacional sobre Retórica e Comunicação na Fundação Calouste
Gulbenkian, em 1992, em que estiveram presentes algumas das mais importantes figuras inter-
nacionais (Stephen Toulmin, Michel Meyer, Jaakko Hintikka, Anthony Cascardi e Oswaldo Por-
chat Pereira), do qual resultou uma publicação.
12 MORRIS, Charles. Signos e Valores, p. 35.
13 BARTHES, Roland, O Grau Zero da Escrita, pág. 25.
antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019
Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 9

«They allow the white subject to place our discourses back at the margins,
as deviating knowledge, while their discourses remais at the centre, as the
norm. When they speak it is scientific, when we speak it is unscientific;
universal / subjective;
objective / subjective;
rational / emotional;
impartial / partial;
they have facts, we have opinions
they have knowledge, we have experiences
These are not simple semantic categorizations; they possess a dimension
os power that maintains hierarchical positions and upholds white supre-
macy, We are not dealing here with a “peaceful coexistence of words”, as
Jacques Derrida (1981: 41) emphasizes, but rather a violent hierarchy that
defines who can speak.»14

O estabelecimento dos lugares do preferível da retórica que sustenta a primazia


inabalável da epistemologia foi de tal maneira eficaz que, nas sociedades ociden-
tais contemporâneas, tudo o que se passa fora do território da ciência é destituí-
do de relevância e validade. O que não é universal, objectivo, racional ou impar-
cial é relegado para os campos menores do infantil, do primitivo, do incivilizado,
até do animal, e deixa de ser levado a sério, deixa de ser tido em conta para fina-
lidades relevantes e é tolerado apenas como uma actividade meramente lúdica
ou mística. É nesta dualidade retórica que se ancora o racismo contemporâneo e
é nesta encruzilhada do valor da razão moderna que a presença da Matriz Colo-
nial do Poder se mostra ainda presente e pujante.

14 Plantation Memories, p. 28.


antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019
Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 10

O Grau Zero
Esta é uma questão fundamental para entender o racismo na sua expressão mais
lata, na evidência da permanência da Matriz Colonial do Poder nas sociedades
ocidentais contemporâneas. Temos de começar por considerar a importância de
um lugar do preferível mobilizado da Topica em que se funda o discurso retórico
da epistemologia: a denotação é preferível à conotação. Este enunciado axioló-
gico é a coluna vertebral da Epistemologia. A verdade pura é sempre preferível à
especulação. Na ciência, no conhecimento, não há lugar para a especulação,
para a divagação poética. Este valor identifica-se regularmente com um outro
mais evidente — a objectividade é preferível à subjectividade. Ortodoxamente,
na Epistemologia não há, sequer, lugar para a subjectividade. A subjectividade é
relegada para os territórios subalternos da arte, da emocionalidade, e é apenas
tolerada na infância pré-epistemológica e a estratégia é de tal modo refinada que
a subjectividade pode, até, ser considerada desde que o sujeito seja considerado
como objecto, como elemento descontínuo que pode ser isolado e descrito,
sendo o resultado contabilizado, não como um enunciado geral ou universal, mas
como um caso “subjectivo” com a sua validade circunscrita ao universo individual
de um sujeito, com o interesse limitado que isso tem para o conhecimento geral.
É fascinante o grau de protecção que a Epistemologia logrou desenvolver para
se defender dos ataques, tanto exteriores como interiores.

A despersonalização na Epistemologia é uma teia vasta. Há uma desresponsabili-


zação clara que fica evidente, por exemplo, quando no discurso científico e aca-
démico o indivíduo usa o plural majestático. Há uma dissolução do sujeito enun-
ciador no colectivo da epistemologia. O discurso da ciência não é pessoal e sub-
jectivo, nunca é a expressão de quem o escreve mas apenas a humilde expressão
de um discurso geral e tutelar. Nisto em nada se distingue do discurso da igreja,
que não é a expressão individual do oficiante mas apenas a transmissão, neutra e
objectiva, de uma narrativa superior e inquestionável que foi recebida de uma
fonte hierarquicamente superior e na qual o mensageiro não tem qualquer res-
ponsabilidade para além da fidelidade ao original (a objectividade como anula-
ção do sujeito). O homem de ciência não cria, descobre ou transforma.

Esta existência de uma verdade geral e impessoal estabelece as bases morais e


epistemológicas para a fundação de uma matriz alegadamente neutra, um grau
zero15 de tudo — é o sonho Hawkinguiano a tomar conta do mundo. Este grau
zero passa a ser a bitola a partir da qual se mede tudo e a medida corresponde
— aqui reside o busílis da colonialidade — ao desvio. A noção de grau zero, de-
senvolvida por Roland Barthes para resolver a diferença entre escritores e escre-
ventes, entre escrita literária e escrita técnica, foi alargada pelos Estruturalistas
para se estender a toda a Poética, das artes visuais à arquitectura, ou seja, para
medir a amplitude do desvio que os discursos exo-científicos mantêm com a
epistemologia. Este entendimento criou uma noção silenciosa que se enraizou
tacitamente na Axiologia do mundo ocidental, uma noção que, aparentemente,
não tinha condições de existir no mundo profundamente plural e diversificado
das culturas indígenas: a noção de normal. Normal é uma forma vazia, como a

15 BARTHES, Roland. O Grau Zero da Escrita, 1953. Barthes, na sua clareza didáctica sem pa-
ternalismo, formalizou um sistema capaz de dar conta da realidade, um sistema formal, uma
rede de lugares vazios e das suas respectivas relações, que nos permite descrever, explicar e
compreender a realidade muito para além da literatura e da linguística. Barthes cumpriu o sonho
de Saussure e ofereceu-nos a Semiologia completamente independente dos estudos linguísticos
e literários, como uma ferramenta insubstituível para dar conta do sentido em qualquer área.
antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019
Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 11

entendiam os formalistas16, um nó num sistema relacional, um lugar, e foi a Epis -


temologia quem se encarregou de a preencher, secundada na sombra pela Moral
ocidental. Assim, a normalidade assumiu-se como uma espécie de autoridade
sem rosto, propagada pela Civilização, e tornou-se o valor preferencial mais ele-
vado da Tópica euro-americana dos últimos séculos. Nasceu assim o racismo con-
temporâneo (o racismo moderno era muito menos subtil e apenas subsiste nas
franjas das sociedades actuais que apresentam deficits relevantes de desenvolvi-
mento moral17 e de literacia básica).

Grada é particularmente clarividente neste aspecto:

«Racism is attended by three simultaneous features: first, the construction


of difference; one is seen as ‘different’ due to ones racial and/or religious
belonging. Here, we have to ask: Who is ‘different’ from whom? Is the
Black subject ‘different’ from the white subject, or the way around, the
white ‘different’ from the Black? One only becomes ‘different’ because
one ‘differs’ from a group who has the power to define itself as the norm -
the white norm. All those who are not white are constructed as ‘different,’
and whiteness constructed as the reference point from which all racial
‘Others’ ‘differ.’ In this sense, one is not ‘different,’ one becomes ‘different’
through the process of discrimination.»18

A diferença, que deveria ser um conceito relativo e implicar invariavelmente dois


termos de valor equivalente, irrompe como um valor absoluto que tem implícito
um referencial fixo, um grau zero, que estabelece a base da aferição. No racismo,
a diferença não se constata, como na Lógica, na comparação de dois objectos ao
mesmo nível, mas sim pelo desvio de um objecto a um referencial tácito, silencio-
so, que é o grau zero branco.

«Second, these constructed differences are inseparably linked to hierarchi-


cal values. Not only is the individual seen as ‘different,’ but also this diffe-
rence is articulated through stigma, dishonor and inferiority. Such hierar-
chical values implicate a process of naturalization, as they are applied to
all members of the same group who come to be seen as “the
problematic,” “the difficult,” “the dangerous,” “the Iazy,” “the exotic,”
“the colorful” and “the unusual.” These two last processes - the construc-
tion of difference and its association with a hierarchy - form what is also
called prejudice.» 19

Esta construção preconceituosa da diferença tem engastado em si um sub-siste-


ma axiológico que atribui valores preferenciais negativos ao “diferente”. Os ca-
sos são recebidos num sistema de valores prévio e é-lhes exigido que ajam acti-
vamente para demonstrar o contrário. Nos casos mais dramáticos isto chega a
configurar um caso grave de presunção de culpa e está na génese de alguns mo-
vimentos sociais vibrantes, particularmente nos Estados Unidos.

«Finally, both processes are accompanied by power - historical, political,


social and economical power. It is the combination of both prejudice and
power that form racism. And in this sense, racism is white supremacy.

16 HJELMSLEV, Louis. Prolegómenos a uma Teoria da Linguagem, 1943.


17 Cfr. Georg Kohlberg e a sua teoria dos estádios de desenvolvimento moral.
18 Plantation Memories, p. 42.
19 idem.
antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019
Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 12

Other racial groups can neither be racist nor perform racism, as they do
not possess this power. The conflicts between them or between them and
the white dominant group have to be organized under other definitions,
such as prejudice. Racism instead includes the dimension of power and is
revealed through global differences in the share of and access to valued
resources such as political representation, policies, media, employment,
education, housing, health, etc.»20

Como seria inevitável, foi um pequeno passo para que da construção de um sis-
tema hierárquico de valores se passasse a um complexo e poderoso sistema de
poder, com o controlo do acesso a ser feito por quem constituía a norma, um
sistema que oprimiu a diferença e que chegou tão longe a ponto de, retorica-
mente, conseguir legitimar o racismo.

20 Idem.
antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019
Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 13

A arte é um conceito colonial


À semelhança do que se passou com a ciência, a estética renascentista modificou
profundamente a ideia de arte e estabeleceu uma fronteira, quer queiramos quer
não, bastante estanque, um sistema de guarda de um território muito pouco
permeável a corpos estranhos, que se organizou de modo a que o trabalho plás-
tico indígena fosse mantido no exterior, criando-se para tal uma nova categoria
— o exótico — que assim aparentava poder ser tolerado, mas com um carácter
paternalista que o obrigava a permanecer no exterior do sistema elevado, do
sistema de uma casta à parte a que não se conseguia aceder com facilidade e,
assim, blindou a arte ao contacto com os povos que os europeus foram encon-
trando nas suas viagens intercontinentais. O exótico tinha um valor preferencial
negativo quando confrontado com o seu contrário. A pintura, a escultura e a ar-
quitectura, que haviam permanecido abertas a qualquer praticante com talento
manual proveniente de uma aprendizagem informal desde sempre, tornaram-se
disciplinas fechadas e elitistas, disciplinas a que só era possível aceder com o
consentimento de quem já estava no seu interior. A teknè, que era o conceito
grego mais próximo da arte (pelo menos nas suas disciplinas visuais) para Alberti
e para os outros pensadores renascentistas, correspondia a um estádio subse-
quente à empeiria. Do conhecimento empírico dos casos e das experiências indi-
viduais, que caracterizaram a arte medieval, é generalizado num elenco de regras
colectivas e transmissíveis que a vão racionalizar, generalizar e institucionalizar.
Nasce aqui a Academia enquanto corpo prescritivo de regras, enquanto sistema
fechado que exclui a diferença e relega para o exterior todo o desvio. Foi com
este sistema blindado que o projecto colonial embarcou à conquista de novos
mundos. O Renascimento, na arte, não foi um período mas sim um estilo que
precedeu inúmeros outros e, enquanto estilo, era fechado e não admitia outras
modalidades. Mesmo se considerarmos o Barroco brasileiro, que tem um alcance
e uma identidade consideráveis, constatamos que as incorporações que foram
feitas são contributos menores da elite colonial e não uma real abertura às mani-
festações artísticas autóctones. O que era produzido pelos indígenas, mesmo
quando se tratava de trabalho plástico relevante, era mantido fora da circunscri-
ção da arte e tratado como folclore antropológico.

A arte moderna não mudou nada neste aspecto. No tempo dos movimentos abo-
licionistas oitocentistas em França, em que se empenhou Théodore Géricault, a
arte passou a incorporar o negro apenas como objecto, como peça exótica numa
composição, e nunca lhe concedeu o papel de sujeito. Picasso, algum tempo
mais tarde, deixou-se fascinar pelas expressões plásticas das colónias mas, apesar
de serem conhecidas algumas posições suas em defesa do primitivismo (que as-
sociava a um desejável estádio infantil do desenho), o certo é que o modernismo
se desenvolveu em estilos sucessivos que eram ocidentais, fechados e, conse-
quentemente, continuavam a manter no exterior as expressões exóticas. Só o
Pós-Modernismo, na sua senda do pluralismo, com a importância que o feminis-
mo teve ao abrir a arte a grupos sub-representados e com a imposição do con-
ceptualismo a toda a arte futura abriu um espaço às expressões até então proscri-
tas, mas tratava-se de um lugar virtual que dificilmente podia ser ocupado, pelas
limitações que os negros e os indígenas enfrentavam na sua inserção social, com
acesso deficitário à educação, às instituições e aos lugares de visibilidade.

Ironicamente, nem a proposta de Duchamp, que defendia que, para ser artista
bastava declará-lo, abriu a arte ao colonizado, uma vez que o conceito de arte e
de artista, como é entendida no Ocidente colonial, não existia nas línguas indí-
genas.
antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019
Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 14

Considerações finais
D Mignolo21 e o seu grupo de pensadores, que se ocupam militantemente de
disseminar o projecto decolonial, advertiram-nos para um problema que pode ter
grandes repercussões no olhar que temos dirigido à modernidade, um problema
que deve questionar ou, em última instância, inverter a percepção do mundo
ocidental. A Epistemologia, como grande discurso suprematista, é um sistema de
uma perfeição absoluta, construído sem falhas nem vulnerabilidades, um sistema
inatacável a partir do seu interior, indestrutível com as regras do método científi-
co, mas é um sistema edificado sobre um axioma, sobre uma premissa impossível
de verificar que os seus defensores pediram, a priori, que fosse aceite sem neces-
sidade de demonstração. Provavelmente, em virtude do deslumbramento que a
euforia do progresso e a inebriação com sucesso dos seus resultados — que nos
ofereceu o ofuscante mundo tecnológico da sociedade de consumo — a neces-
sidade de provar a premissa inicial acabou por ficar adiada sine dia ou, simples-
mente, esquecida e desvalorizada.

O mais certo é este problema não ter solução no interior da epistemologia e a


única possibilidade de o resolver passar por admitir o recurso a algum tipo de
ferramenta não científica, o que, do ponto de vista epistemológico, significa abrir
o caminho a alguma forma de pensamento religioso. A ser levado a sério, isto
pode abrir uma crise de identidade e pode questionar a solidez de toda a civili-
zação ocidental, deixando-nos sem referências e obrigando-nos a alargar o hori-
zonte para direcções que até aqui constituíam tabus epistemológicos, como os
universos de conhecimento indígena e extra-europeu.

O facto de a legitimação da Epistemologia se fazer com recurso à Retórica tam-


bém esconde um problema que, mais tarde ou mais cedo, terá de ser enfrentado
e resolvido. A Retórica, enquanto sistema de persuasão que se funda em crenças
não necessariamente verificáveis e falsificáveis (a condição que Karl Popper im-
põe ao conhecimento científico), com enunciados muitas vezes deliberadamente
enviesados em função da sua agenda, enunciados assentes no verosímil e não no
verdadeiro, com a consciência de que o grande motor da Retórica reside no Ethè
(o carácter aparente do orador) e no Pathè (os afectos do auditório22) não é a
ferramenta epistemologicamente mais legítima para legitimar a Epistemologia.

Mas não deixa de ser curioso constatar o facto de ser a arte a apontar o caminho
que, até aqui, pertenceu à ciência.

21 Conferência Decolonialidade depois da Guerra Fria. Lisboa Culturgest, 17 de Maio de 2019


22 BARTHES, Roland. A Aventura Semiológica, pág. 74.
antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019
Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 15

Bibliografia
ARISTÓTELES. Organon (vol I — Categorias). Lisboa: Guimarães Editores, 1974
(3ª ed., 1985).

ARISTÓTELES. Poetics. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press,


1995.

ARISTÓTELES. Retórica, Lisboa: INCM, 1998.

BARTHES, Roland. Le degré zero de l’écriture. Paris: Seuil, 1953. O Grau Zero da
Escrita. Lisboa: Edições 70, 1981.

BARTHES, Roland. Élements de semiologie. Paris: Seuil, 1963. Elementos de Se-


miologia. Lisboa: Edições 70, 1981

BARTHES, Roland. A Retórica Antiga, Memorandum in A Aventura Semiológica.


Lisboa: Edições 70, págs. 19-94

BENVENISTE, Émile. L´homme dans la langue in Problèmes de Linguistique Gé-


nérale, 1966. O Homem na Linguagem. Lisboa: Arcádia, 1976.

DESCARTES, René. O Discurso do Método. Lisboa: Guimarães Editores, 1989.

KILOMBA, Grada. Plantation Memories: episodes of everyday racism. Münster:


Unrast, 2008.

KILOMBA, Grada. Introdução a Memórias da Plantação. Lisboa: Orfeu Negro,


2019.

KILOMBA, Grada. Apresentação de Memórias da Plantação. Lisboa, Hangar, 17


de maio de 2019, 22h.

MIGNOLO, Walter D. Conferência Decolonialidade depois da Guerra Fria. Lisboa


Culturgest, 17 de Maio de 2019, 18h.

MIGNOLO, Walter D. «Desobediência Epistêmica: a opção descolonial e o signi-


ficado de identidade em política.» Caderno de Letras da UFF — Dossiê: Literatu-
ra, línguas e identidade, nº 34, p. 287-324, 2008

MIGNOLO, Walter D. Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. RBC,


Vol. 32, nº 94, junho de 2017.

MORRIS, Charles. Signos e Valores, Lisboa: Via Editora, 1978.

SAUSSURE, Ferdinand. Cours de linguistique générale, 1916. Curso de Linguísti-


ca Geral, Lisboa, D. Quixote, 1995.

SEARLE, John R. Speech Acts - An essay in the philosophy of language, 1969 . Os


Actos de Fala. Coimbra: Almedina, 1983.

antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019


Grada Kilomba
e o grau zero de tudo pag 16

Trabalhos de Grada Kilomba considerados

Plantation Memories — livro

Plantation Memories — leitura encenada, Teatro Ballhaus Naunynstrasse 2015

Who can speak? Decolonizing Knowledge — Conferência/performance

Table of Goods (2017) — peça na ArtBasel e na Frieze Art Fair

Illusions (2016) — performance com vídeo | 32ª Bienal de S. Paulo | FCG

The Desire Project (2015-2016) | 32ª Bienal de S. Paulo


While I Speak
While I Write
While I Walk

The Most Beautiful Language, Galeria Av. Da Índia, 2017

Secrets to Tell, Maat, 2017

antónio castanheira domingo, 23 de Junho de 2019

View publication stats

Você também pode gostar