INTRODUÇÃO ROMA: NATUREZA

1. A transformação da visão do ser humano em relação à PROFANADA

natureza ao longo do tempo e seu impacto nos diversos
campos da atividade humana.
2. As relações entre a concepção de natureza e a terapêutica
1. Mudança na concepção de cura em
desde a antiguidade, com destaque para a Grécia e Roma, e
Roma: O texto destaca que,
seus reflexos nos paradigmas de saúde contemporâneos.
diferentemente da concepção grega de
3. A pesquisa é embasada em revisão da literatura e nos
cura como autodesenvolvimento e
trabalhos do grupo de pesquisa "Racionalidades em Saúde:
sistemas médicos e práticas complementares e
exercício de virtude, a medicina
praticada na Roma antiga, representada
integrativas". 1 por Galeno, adotou uma abordagem
4. A hipótese defendida é a ressignificação e retomada do
paradigma vitalista, presente em medicinas tradicionais, diferente. Galeno defendia o uso de
que havia sido deslocado pelo paradigma biomédico, desde remédios que continham uma grande
a década de 1960. quantidade de substâncias, acreditando
Concepções de natureza, que o organismo escolheria aquela mais
paradigmas em saúde e adequada. Essa abordagem diferia dos
GRÉCIA: NATUREZA preceitos mais gerais do Corpus
racionalidades médicas Hipocraticum.
SACRALIZADA
2. A terapêutica de Galeno: Galeno
1. Florescimento da cultura grega: O texto destaca que o período introduziu a theriaka, um antídoto
clássico da Grécia antiga testemunhou o desenvolvimento da 3 contra envenenamentos, composto por
medicina ocidental e a transição da concepção de doença do diversas substâncias e variando de
sobrenatural para o natural. Isso levou ao surgimento dos escritos 2 acordo com o produtor. Essa
hipocráticos, que são considerados marcos importantes para a terapêutica era utilizada de forma
medicina ocidental. profilática durante as pestes, mas
2. Noção de physis: Durante esse período, a cultura grega passou da gradativamente se tornou uma panaceia,
mitologia homérica para uma racionalização progressiva em busca recomendada para quase tudo. Além
de uma compreensão racional do mundo. Nesse contexto, a noção disso, Galeno reforçou o uso de
grega de natureza, conhecida como physis, foi crucial para o catárticos, como sangrias, eméticos,
desenvolvimento da medicina. A physis é entendida como o purgantes e exsudatórios, adotando
princípio que produz o desenvolvimento de um ser e realiza um tipo uma abordagem mais invasiva em
específico, e na medicina, está relacionada à saúde e à harmonia relação ao organismo e diferente dos
com as leis naturais. princípios dos hipocráticos.
3. Vis medicatrix naturae: O texto também destaca a importância da 3. Permanência da terapêutica de Galeno:
divindade Higéia e do conceito de vis medicatrix naturae, que se Mesmo que a terapêutica de Galeno
refere ao poder autorregenerador presente em todos os seres tenha se distanciado dos princípios
vivos. Para a medicina hipocrática, a cura depende não apenas do hipocráticos, ela sobreviveu na Europa
médico, mas também das decisões tomadas pelo indivíduo em até o século XIX. Isso demonstra a
relação ao seu estilo de vida e à harmonia com a ordem natural. influência duradoura do pensamento e
Esse conceito de autorregeneração está presente em outras das práticas médicas romanas.
culturas antigas, como a hindu e a chinesa.
 4 Concepções de natureza,
CRISTIANISMO E
ALQUIMIA: NATUREZA
TRANSMUTADA
1. Com o cristianismo, houve uma
mudança na concepção da natureza,
que passou a ser vista como um palco
para a luta entre o bem e o mal. A
noção de "natura" se distanciou de
"physis", com o corpo humano
separado da alma, sendo apenas esta
última relevante para a salvação.
2. Na escolástica de São Tomás de
Aquino, há uma diferenciação entre
"Natura Naturans" e "Natura Naturata".
A primeira refere-se a Deus e seu
poder criador, enquanto a segunda diz
respeito às criaturas de Deus. Natura
é uma forma de descrever a infinitude
divina em contraste com a fragilidade
humana.
3. A alquimia surgiu como uma busca
por transformação, com substâncias
capazes de realizar mudanças no
corpo e na mente. Influenciada pela
cultura árabe, a terapêutica europeia
incorporou conhecimentos
alquímicos, resultando no uso de
fórmulas metálicas como catárticos. A
cura era buscada em práticas
esotéricas ou religiosas, consideradas
externas ao indivíduo.
paradigmas em saúde e
racionalidades médicas
5 A EPISTEME
HERANÇA RENASCENTISTA
NA MODERNIDADE:
NATUREZA CONTROLADA
1. Mudança do teocentrismo para o
antropocentrismo: Durante o Renascimento,
houve uma mudança na concepção de
natureza, com a ascensão do
antropocentrismo. Deus, homem e natureza
foram separados, e o homem afirmou-se como
herdeiro da natureza.
2. Domínio humano sobre a natureza: Nessa nova
perspectiva, tanto católicos como
reformadores acreditavam que o homem tinha
domínio sobre o restante da natureza. O
conhecimento do mundo natural foi buscado
para controlá-lo e explorá-lo.
3. Visão mecanicista da natureza: Filósofos como
Descartes e cientistas como Newton
contribuíram para uma visão mecanicista da
natureza. O corpo humano passou a ser
concebido como uma máquina, assim como o
mundo.
4. Debate entre vitalismo e mecanicismo na
medicina: Durante o Iluminismo, dois pontos de
vista disputaram a primazia teórica na
medicina. Os defensores do vitalismo
afirmavam que o organismo possui uma força
vital que regula as funções vitais, enquanto os
defensores do mecanicismo consideravam o
corpo humano como uma máquina bem
regulada.
6
CONTEMPORÂNEA:
CONTROLE E IATROGENIA
1. Racionalidade moderna e controle da
natureza: No período contemporâneo, a
racionalidade moderna baseada na
observação e no experimentalismo
tornou-se fundamental para decifrar a
natureza. A tecnologia foi vista como uma
ferramenta para controlar a natureza com
objetivos utilitários.
2. Paradigma biomédico: O paradigma
biomédico deslocou concepções
vitalistas da saúde, focando no corpo
biológico e na doença. O uso de
medicamentos e procedimentos médicos
especializados tornou-se essencial para
a cura.
3. Terapêutica biomédica e iatrogenia: A
terapêutica desenvolvida com base no
paradigma biomédico apresenta
resultados positivos no controle de
infecções e processos crônico-
degenerativos. No entanto, há também
efeitos iatrogênicos que representam
riscos para a saúde humana.
4. Insatisfação e contracultura: O
descontentamento com a valorização
excessiva da ciência e da tecnologia,
assim como a insatisfação com os efeitos
prejudiciais da tecnologia na saúde,
levaram ao surgimento dos movimentos
de contracultura no final dos anos 1960.