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Influência do Cristianismo
O cristianismo surgiu na época do Império Romano, em que «os valores de amor ao próximo, de
auxílio aos necessitados, de cuidados aos enfermeiros mais do que uma opção se transformam em
“deveres”» - obras de misericórdia e caridade. (Esses princípios influenciaram as atitudes e ações
das pessoas na sociedade romana).
- As mulheres foram afastadas da prática religiosa, mas sendo autorizadas a cuidar dos
enfermos e desvalidos. Destacando uma mudança na participação das mulheres em
atividades caritativas e de assistência.
- Fabíola (uma matrona romana - mulher respeitável e casada) fundou em Travastere-Roma
um hospital – demonstrando a prática concreta dos princípios cristãos de caridade e
cuidados aos doentes, deste modo foi considerada a mais zelosa das enfermeiras.
Idade Média
- Na idade média os cuidados de saúde eram centralizados nas congregações religiosas, mosteiros,
entre outras instituições religiosas.
- Nesta época existiram também inúmeras guerras, conquistas pelos territórios, a luta pela Terra
Santa e extrema pobreza que afetava significativamente a qualidade de vida e saúde das pessoas. A
Fundamentos de Enfermagem I
tríade: Guerra, Peste e Fome refere-se aos desafios interconectados que assolaram a Europa
Medieval. As guerras frequentes contribuíram para a instabilidade, deslocamento populacional e
destruição, afetando negativamente as condições de vida, as epidemias de peste, como a Peste
Negra dizimaram populações inteiras e a falta de recursos e a má gestão agrícola levaram a
períodos de fome generalizada.
- Também na idade média surgiram diversas ordens religiosas, de cariz católico, com um foco
especial em cuidados de saúde: Ordem dos Hospitalários (ou dos Enfermeiros Militares),
dominicanos, franciscanos, entre outros.
- Foram criadas as gafarias (ou leprosarias) e hospitais destinados ao atendimento específico de
doentes, como por exemplo doentes com lepra. Estas instituições eram frequentemente
administradas por ordens religiosas.
- Predominavam os valores que ainda hoje se consideram legado de Enfermagem: «abnegação, o
espírito de sacrifício, a obediência», destacando a continuidade de certos princípios ao longo da
história.
Portugal era uma exceção a estas realidades uma vez que o país, sendo de domínio
católico, possuía cuidados sob a responsabilidade de alguns religiosos, mas também de
enfermeiros laicos, indivíduos que não pertenciam ao clero ou à hierarquia religiosa.
Modernidade
Em países católicos sentiu-se a influência de S. João de Deus, com a inspiração para a fundação da
Ordem Hospitaleira de S. João de Deus. Os irmãos hospitaleiros dedicavam-se ao cuidado dos
enfermos, à administração de hospitais e à promoção de obras de caridade. O legado de São João
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de Deus e sua ordem continuou ao longo dos séculos, desempenhando um papel importante na
história da assistência à saúde.
- No final do séc. XVII, nos hospitais, ainda se assistia a défices no funcionamento: 3 ou 4 doentes
por cama, moribundos e agudos, abrigo de enjeitados, grávidas solteiras, órfãos, etc.
- Nem tudo era mau, uma vez que, nesta altura se deu a consolidação de diversas descobertas e
técnicas, como o uso do termómetro, técnicas de cirurgia, entre outros.
-Mantinham-se «acesas» as discussões relativas aos produtos da investigação e das experiências
em laboratório (especialmente no que dizia respeito a éticas e morais).
→ Manual para Enfermeiros
Em 1741 foi concebido a primeiro manual conhecido, em português para enfermeiros, intitulado
de “Postilla Religiosa e Arte de Enfermeiros”.
Este manual possui tanto descrições de práticas, como conceitos importantes para as práticas de
enfermagem.
Contemporaneidade
- Grandes descobertas e grandes investigadores: Pasteur, Lister, Koch, etc. Estas importantes figuras
destacaram grandes avanços na microbiologia e na compreensão das causas das doenças.
- Dá-se a Revolução Industrial. A introdução de máquinas, urbanização e mudanças nas condições
de trabalho teve impacto na saúde e na qualidade de vida, exigindo novas abordagens para os
cuidados de saúde e condições sanitárias.
- Em 1820 nasceu Florence Nightingale, figura central na história da enfermagem moderna. O seu
trabalho na Guerra da Crimeia e as suas contribuições para a reforma hospitalar e prática de
enfermagem tiveram um impacto significativo na profissão.
- Por volta de 1836 nasceu Dasha Sevastopolskaya, uma importante enfermeira russa na Guerra da
Crimeia, que representa a contribuição internacional para o cuidado aos feridos durante conflitos
armados.
- Em 1857 nasceu Ethel Fenwick, inglesa, casada, que defendia a Enfermagem como profissão e
não como vocação. O seu posicionamento reflete a crescente profissionalização da enfermagem.
- Fundação da Cruz Vermelha Internacional (1863), por Jean Henri Dunant. Destaca o ínicio de
organizações internacionais de ajuda humanitária, reconhecendo a importância de prestar
assistência em tempos de conflitos e desastres.
→ Influencia de Florence Nightingale
Florence nasceu em Florença e era elemento de uma família rica inglesa, com contactos na
sociedade e na política.
Fundamentos de Enfermagem I
Estudou, com o pai, com tutoras e tutores, artes, matemática, filosofia, história, política e
economia. Apresentava um forte sentido espiritual, sendo que Deus ocupava uma grande parte na
sua vida.
Antes de se dedicar à enfermagem, Florence viajou por vários países, aprendendo a ser enfermeira
(com religiosas e com o Pastor Fliedner). Durante a Guerra da Crimeia (1854-1856) apresentou
uma ação essencial, a elaboração de um gráfico chamado “O diagrama de Rosa de Nightingale”, em
que o principal resultado a destacar foi a diminuição da taxa de mortalidade dos soldados ingleses
de 42% para 2%.
Florence entendia a enfermagem como uma vocação, num sentido de total dedicação. Defendia
ainda a profissão como feminina, diferenciada e independente do conhecimento médico.
A enfermagem devia ser ensinada nos hospitais e não nas universidades, com gestão independente
da administração hospitalar.
Não casou, mas tendo diversos pretendentes ao longo da sua vida, dedicando-se de forma
exclusiva à enfermagem. Escreveu dois livros e inúmeros relatórios/registos. Privou com o
primeiro-ministro da época e foi recebida pela rainha Vitória, que a protegeu. Faleceu em 1910.
Resumindo Florence estudou por toada a Europa, seguindo as últimas descobertas da época, tanto
com religiosas católicas como no instituto do Pastor Fliedner. Através da sua participação na Guerra
da Crimeia, consolidou-se a necessidade de formação e preparação formal das enfermeiras.
Em 1860 nasceu a primeira Escola de Enfermagem, um marco importante para a profissionalização
da enfermagem e para o início da enfermagem científica e moderna.
Durante o início do século XX foram surgindo outras Escolas de Enfermagem a nível internacional,
com desenvolvimento do conhecimento formal e baseando a Enfermagem nos progressos técnicos
e científicos.
A enfermagem foi integrada no ensino superior/universitário, e desenvolveram-se licenciaturas,
mestrados e doutoramentos nesta área da ciência.
- Em 1899 foi fundado o International Council of Nurses – ICN (através da ação de Ethel Fenwick)
- Em 1911 foi denominado o American Nurses Association – ANA
→ Em Portugal
1881 – Abre a primeira escola para enfermeiros, nos Hospitais Universitários de Coimbra, sob a
mão de Costa Simões.
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1899-1909 – Surto de peste bubónica no Porto, que levou ao falecimento de muitas enfermeiras
devido ao contacto com os doentes. Às enfermeiras são atribuídas medalhas de ouro, prata e cobre
graças à sua dedicação.
1910-1919 – Continuaram a surgir Cursos de Enfermagem. No terreno os enfermeiros deixam de
fazer tantas atividades relacionadas com a lida doméstica e assiste-se a uma progressiva
demarcação profissional.
D. Ana Guedes destacou-se como enfermeira no apoio aos militares portugueses da Grande
Guerra, após as suas ações caritativas aos pobres no Porto (durante as epidemias de tifo e
pneumónica).
Rita Machado, uma das filhas de Bernardino Machado, assim como as irmãs, Maria e Francisca,
fazem parte do movimento Cruzadas das Mulheres Portuguesas (fundado por Elzira Dantas, sua
mãe), em especial na preparação de enfermeiras para enviar para a Grande Guerra.
O Decreto n.º 4: 563 de 9 de julho de 1918 cria a Escola Profissional de Enfermagem dos Hospitais
Civis de Lisboa, estabelecendo igualmente o Curso Geral e o Curso Complementar de Enfermagem,
este último destinado aos lugares de chefia de Enfermagem
No ano seguinte, o Decreto-lei n.º 5739 de 10 de maio de 1919 cria a Escola de Enfermagem dos
Hospitais da Universidade de Coimbra.
→ Em Braga
Em 1912 é fundada a Escola de Enfermagem do Hospital de S. Marcos, que passou, em 1948 a
denominar-se de Escola de Enfermagem Dr. Henrique Teles.
Em 1971, veio a denominar-se de Escola de Enfermagem Calouste Gulbenkian e, posteriormente,
em 1988-1989, passou a ser Escola Superior de Enfermagem Calouste Gulbenkian. Em 2005, foi
integrada na Universidade do Minho, sendo, atualmente, a Escola Superior de Enfermagem da
Universidade do Minho.
«É necessário saber quem somos para saber onde vamos, visto que, ainda existe
um longo caminho a percorrer»
- Pessoa: A pessoa é um ser social e agente intencional de comportamentos baseados nos valores,
nas crenças e nos desejos da natureza individual, o que torna cada pessoa num ser único, com
dignidade própria e direito a autodeterminar-se.
- Os comportamentos da pessoa são influenciados pelo ambiente no qual ela vive e se desenvolve.
- Toda a pessoa que interage com o ambiente: modifica-o e sofre a influência dele durante todo o
processo de procura incessante do equilíbrio e da harmonia. Na medida em que cada pessoa, na
procura de melhores níveis de saúde, desenvolve processos intencionais baseados nos valores,
crenças e desejos da sua natureza individual, podemos atingir um entendimento no qual cada um
de nós vivencia um projeto de saúde.
- A pessoa pode sentir-se saudável quando transforma e integra as alterações da sua vida
quotidiana no seu projeto de vida, podendo não ser feita a mesma apreciação desse estado pelo
próprio e pelos outros.
- A pessoa é também centro de processos não intencionais. As funções fisiológicas, enquanto
processos não intencionais, são fator importante no processo de procura incessante do melhor
equilíbrio. Apesar de se tratar de processos não intencionais, as funções fisiológicas são
influenciadas pela condição psicológica das pessoas, e, por sua vez, esta é influenciada pelo bem-
estar e conforto físico. Esta inter-relação torna clara a unicidade e indivisibilidade de cada pessoa,
assim, a pessoa tem de ser encarada como ser uno e indivisível.
- A tomada de decisão do enfermeiro que orienta o exercício profissional autónomo implica uma
abordagem sistémica e sistemática. Esta requer que o enfermeiro identifique as necessidades de
cuidados de enfermagem da pessoa individual ou do grupo (família e comunidade). Após efetuada
a identificação da problemática do cliente, as intervenções de enfermagem são prescritas de forma
a evitar riscos, detetar precocemente problemas potenciais e resolver ou minimizar os problemas
reais identificados.
- No processo da tomada de decisão em enfermagem e na fase de implementação das
intervenções, o enfermeiro incorpora os resultados da investigação na sua prática. Reconhece-se
que a produção de guias orientadores da boa prática de cuidados de enfermagem baseados na
evidência empírica constitui uma base estrutural importante para a melhoria contínua da
qualidade do exercício profissional dos enfermeiros.
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- Do ponto de vista das atitudes que caracterizam o exercício profissional dos enfermeiros, os
princípios humanistas de respeito pelos valores, costumes, religiões e todos os demais previstos no
código deontológico enformam a boa prática de enfermagem.
- Neste contexto, os enfermeiros têm presente que bons cuidados significam coisas diferentes para
diferentes pessoas e, assim, o exercício profissional dos enfermeiros requer sensibilidade para lidar
com essas diferenças, perseguindo-se os mais elevados níveis de satisfação dos clientes.
→ Enunciados Descritivos
Estes enunciados visam explicitar a natureza e englobar os diferentes aspetos do mandato social da
profissão de enfermagem. Constituem um instrumento importante para precisar o papel do
enfermeiro junto dos clientes, dos outros profissionais, do público e dos políticos. Trata-se de uma
representação dos cuidados que deve ser conhecida por todos os clientes, quer ao nível dos
resultados mínimos aceitáveis, quer ao nível dos melhores resultados que é aceitável esperar.
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1. Satisfação do cliente:
2. Promoção da Saúde:
3. Prevenção de Complicações:
- A identificação, tão rápida quanto possível, dos - A referenciação das situações problemáticas
problemas potenciais do cliente, relativamente identificadas para outros profissionais, de acordo
aos quais o enfermeiro tem competência para com os mandatos sociais dos diferentes
prescrever, implementar e avaliar intervenções profissionais envolvidos no processo de cuidados
que contribuam para evitar esses mesmos de saúde;
problemas ou minimizar-lhes os efeitos -A supervisão das atividades que concretizam as
indesejáveis; intervenções de enfermagem e que foram
-A prescrição das intervenções de enfermagem delegadas pelo enfermeiro;
face aos problemas potenciais identificados; - A responsabilização do enfermeiro pelas
- O rigor técnico / científico na implementação decisões que toma, pelos atos que pratica e que
das intervenções de enfermagem; delega.
Fundamentos de Enfermagem I
4. Bem-estar e autocuidado:
- A identificação, tão rápida quanto possível, dos - A referenciação das situações problemáticas
problemas do cliente, relativamente aos quais o identificadas para outros profissionais, de acordo
enfermeiro tem conhecimento e está preparado com os mandatos sociais dos diferentes
para prescrever, implementar e avaliar profissionais envolvidos no processo dos cuidados
intervenções que contribuam para au - mentar o de saúde;
bem-estar e suplementar / complementar - A supervisão das atividades que concretizam as
atividades de vida relativamente às quais o intervenções de enfermagem e que foram
cliente é dependente; delegadas pelo enfermeiro;
- A prescrição das intervenções de enfermagem - A responsabilização do enfermeiro pelas
face aos problemas identificados; decisões que toma, pelos atos que pratica e pelos
- O rigor técnico / científico na implementação que delega.
das intervenções de enfermagem;
5. Readaptação funcional:
3. Do ponto de vista das atitudes que caracterizam o exercício profissional dos enfermeiros,
relevam os princípios humanistas, de respeito pela liberdade e dignidade humanas e pelos
valores das pessoas e grupos. No seu desempenho, os enfermeiros respeitam os deveres
previstos no Código Deontológico e a regulamentação do exercício da profissão, que
enformam a boa prática da Enfermagem.
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→ Finalidades
1. O perfil de competências do enfermeiro de cuidados gerais visa prover um enquadramento
regulador para a certificação das competências e comunicar aos cidadãos o que podem
esperar.
2. Pela certificação destas competências assegura-se que o enfermeiro possui um conjunto de
conhecimentos, capacidades e habilidades que mobiliza em contexto de prática clínica que
lhe permitem ponderar as necessidades de saúde do grupo-alvo e aturar em todos os
contextos de vida das pessoas, em todos os níveis de prevenção.
→ Conceitos Importantes
“Domínio de Competência” – uma esfera de ação compreendendo um conjunto de competências
com linha condutora semelhante e um conjunto de elementos agregados;
“Norma ou Descritivo de Competência” – a competência em relação aos atributos gerais e
específicos, sendo decomposta em segmentos menores, podendo descrever os conhecimentos, as
habilidades e operações que devem ser desempenhadas e aplicadas em distintas situações de
trabalho;
“Critérios de Competência” – os elementos que devem ser entendidos como evidência do
desempenho profissional competente.
→ Domínios das Competências
- Responsabilidade profissional, ética e legal NOTA: Cada domínio apresenta:
- Prestação e gestão dos cuidados competências, descrição e
critérios de competências.
- Desenvolvimento profissional
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Domínio da responsabilidade, ética e legal
Competências:
1. Desenvolver uma prática profissional com responsabilidade.
- Descritivo: Demonstra um exercício seguro, responsável e profissional, com consciência do
seu âmbito de intervenção. A competência assenta num corpo de conhecimento e na
avaliação sistemática das melhores práticas, permitindo uma tomada de decisão
fundamentada.
- Critérios: Aceita a responsabilidade e responde pelas suas ações e pelos juízos profissionais
que elabora. Reconhece os limites do seu papel e da sua competência. Consulta peritos em
Enfermagem, quando os cuidados de enfermagem requerem um nível de perícia que está
além da sua competência atual ou que saem do âmbito da sua área de exercício.
Conhecimento de Enfermagem
O que é uma ciência? O que é um conhecimento?
O conhecimento científico é o único “tipo” de conhecimento aceite pela comunidade científica.
Utiliza-se o método científico para a aquisição deste conhecimento.
O conhecimento, do latim cognoscere – ato de conhecer, é uma preposição verdadeira que
descreve um fenómeno ou realidade. A realidade é vista do mundo de acordo com a visão ou
perceção ou capacidade para ver essa realidade, isto é, de acordo com o “paradigma” em que nos
situamos. Até ao século quinze a realidade era explicada a partir da experiência sensorial e com
base em crenças.
Uma ciência é um sistema de conhecimento que busca compreender o mundo por meio da
observação, experimentação e análise lógica. Ela baseia-se em métodos sistemáticos e rigorosos
para investigar fenômenos naturais, sociais e até mesmo artificiais. A ciência visa explicar padrões,
formular leis, prever eventos e, assim, aumentar nosso entendimento do universo.
Qual a diferença entre saberes e conhecimentos?
- O conhecimento é uma representação do saber que é coletivamente partilhado, julgado por
padrões e critérios de verdade e partilhado pela comunidade científica. É um termo amplo que
abrange uma variedade de entendimentos e habilidades – saberes (conhecimentos mais
específicos relacionados a práticas).
- A passagem de padrões de saber a padrões de conhecimento depende de um processo de
nomeação, de partilha e de sujeição dos sabres pessoais a critérios aceites por uma comunidade
científica.
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As disciplinas práticas são disciplinas orientadas para a prática profissional e seguindo a sua
perspetiva única e os seus processos próprios de análise, concetualização e investigação, tem
por objetivo desenvolver o conhecimento que servirá para definir e orientar a prática
profissional.
A enfermagem é uma disciplina prática que, dada a sua natureza (prática), precisa da profissão
para se desenvolver e vice-versa.
A enfermagem é uma disciplina? Porquê?
Para Meleis, a enfermagem é uma disciplina porque ela inclui as teorias desenvolvidas para
descrever, explicar e prescrever bem como os resultados da investigação relacionados com os
fenómenos centrais da disciplina e o conhecimento de disciplinas relacionadas.
O domínio de enfermagem, a sua essência, é dotada de elementos de estabilidade:
1. Os conceitos centrais e os problemas da sua esfera de atividades;
(Refere-se aos temas e questões fundamentais que são essenciais para a enfermagem.
Conceitos centrais relacionados ao cuidado, à promoção da saúde, à prevenção de doenças e
ao apoio ao paciente)
2. O processo de avaliação, diagnóstico e intervenção;
(Envolve as fases fundamentais do trabalho do enfermeiro, incluindo a avaliação da condição do
paciente, o diagnóstico de problemas de saúde, e a intervenção para promover a saúde e tratar
as condições existentes)
3. Os instrumentos para avaliação, diagnóstico e intervenção.
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(Refere-se às ferramentas, técnicas e abordagens utilizadas pelos profissionais de enfermagem
para realizar avaliações, diagnosticar problemas de saúde e implementar intervenções.
Protocolos clínicos, escalas de avaliação, etc.)
Características da Ciência de Enfermagem:
1. É uma ciência humana;
(Na medida em que o seu foco principal está na interação entre o enfermeiro e a pessoa.
Envolve compreensão das dimensões físicas, emocionais, sociais e espirituais do ser humano.
Reconhece a singularidade de cada paciente e a importância de considerar o contexto cultural e
social em que o cuidado é fornecido.)
2. É uma ciência prática;
(A enfermagem é uma ciência prática porque vai além da teoria e envolve a aplicação de
conhecimentos na prática clínica. Os enfermeiros utilizam habilidades práticas para realizar
procedimentos, administrar cuidados diretos aos pacientes, e tomar decisões clínicas em
ambientes de saúde diversos.)
3. Foca-se na relação de cuidado entre o enfermeiro e a pessoa;
(Este foco é central na enfermagem. Envolve estabelecer uma comunicação eficaz, construir
empatia, e garantir que as necessidades físicas, emocionais e sociais do paciente sejam
atendidas. A enfermagem não se limita apenas à prestação de cuidados físicos, mas também
inclui aspetos relacionados ao apoio emocional e à promoção do bem-estar geral.)
4. É uma disciplina orientada para a saúde.
(A enfermagem é uma disciplina que se concentra na promoção da saúde e na prevenção de
doenças. Os enfermeiros desempenham um papel fundamental na educação em saúde, na
promoção de estilos de vida saudáveis e na prevenção de complicações.)
Estas características são fundamentais para compreender o âmbito desta disciplina e a natureza
holística e integrada da ciência de enfermagem que vai além da simples aplicação de técnicas
médicas, incorporando aspetos humanos, práticos e de cuidado.
Do Conhecimento ao Saber de Enfermagem
Período Paradigmático
Diz respeito à disciplina/profissão com objeto e técnicas definidas, realizando investigação
científica e produzindo conhecimento.
Durante o período paradigmático a enfermagem passou do cuidado técnico ao cuidado profissional
científico.
Cuidado técnico: identificação da prática de cuidados com a mulher enfermeira auxiliar do médico;
Cuidado profissional científico: corpo de conhecimento próprio. Conceitos fundamentais: saúde,
ser humano, meio ambiente, cuidados de enfermagem. Formação teórica de enfermeiros.
Metodologia racional e lógica como processo de enfermagem. Investigação em enfermagem.
Surgimento de escola.
Suzanne Kérouac
O desenvolvimento do conhecimento em enfermagem deu-se a par da evolução histórica e dos
cotextos sociais. Inspirada nos trabalhos de Newman, B., identificou três paradigmas que teráo
condicionado a concetualização da enfermagem:
- Paradigma da Categorização;
- Paradigma da Integração;
- Paradigma da Transformação.
→ Paradigma da Categorização
O paradigma da categorização divide todos os fenómenos em categorias, classes ou grupos
definidos. Os fenómenos, por sua vez, são considerados elementos isolados ou manifestações
simplificáveis, sendo descritos e analisados independentemente do contexto.
Todas as mudanças que ocorrem num fenómeno ocorrem na sequência de condições previas, ou
seja, em condições que devem ser atendidas para se dar essa alteração.
O resultado desta mudança está ligado ao anterior por relações lineares ou causais. Os resultados
possuem características bem definidas e mensuráveis (tem capacidade de serem medidos), podem
ser ordenados entre si, por relações definidas no tempo e de relação. São previsíveis.
Relativamente à enfermagem este paradigma possuí duas orientações diferentes:
→ Orientação para a saúde pública (atenção às condições de salubridade e ambientes clínicos):
- O cliente é o grupo/população;
- O ambiente é, regra geral, hostil para o ser humano-constituído pelo espaço físico, cultural
e social onde o individuo vive;
- A saúde é sinonimo de ausência de doença, um estado de equilíbrio;
- Os enfermeiros ocupam-se com o controlo das causas de doença, estudo epidemiológicos.
→ Orientação para a doença:
- A pessoa é entendida como a soma das partes, identificáveis;
Fundamentos de Enfermagem I
- O ambiente é, regra geral, hostil para o ser humano-constituído por uma dimensão física, cultural
e social;
- A saúde é sinonimo de ausência de doença, um estado de equilíbrio;
- Os cuidados de enfermagem são orientados para o controlo da doença, problemas ou
incapacidades; as enfermeiras substituem o doente.
→ Paradigma da Integração
Segundo o paradigma da integração, os cuidados de enfermagem tem como objetivo, manter a
saúde da pessoa, em todas as suas dimensões.
Nesta época a enfermeira era responsável por avaliar as necessidades da pessoa tendo em conta a
sua perceção e a sua globalidade. O processo de cuidados passava por agir com a pessoa para dar
resposta às suas necessidades.
A maioria das conceções teóricas emergiram a partir da orientação para a pessoa – início da
construção de modelos teóricos de enfermagem.
Deu-se o início da organização do trabalho dos enfermeiros por equipas. Todas as enfermeiras
tinham formação e ocupavam-se essencialmente com atos delegados pelos médicos.
A pessoa* – é um ser bio-psico-socio-cultural e espiritual, podendo influenciar os fatores
determinantes da sua saúde se se tiver em conta o contexto.
A Saúde – entidade distinta da doença é uma entidade dinâmica.
O ambiente* – constituído por diversos contextos (histórico, social e político) onde a pessoa vive e
se insere.
*As interações entre o ambiente e a pessoa ocorrem sob a forma de estímulos positivos ou
negativos e de reações de adaptação. Estas interações são circulares.
Dá continuidade ao paradigma anterior, na medida em que os fenómenos são entendidos como
multidimensionais e o contexto já integra a explicação do fenómeno. As “mudanças” são
entendidas como resultado de múltiplos fatores (desenvolvimento das ciências sociais e humanas:
ser humano no centro da sociedade). Dá-se a mesma valorização aos dados objetivos como aos
dados subjetivos.
→ Paradigma da Transformação
Aparece na sequência da abertura das fronteiras e da relação económica ocidente/oriente. Na
conferência de Alma Ata foi reconhecida a capacidade da pessoa de participar nas decisões da sua
saúde.
Este paradigma perspetiva os fenómenos como únicos e em interação com o que os rodeia.
Representa a base da abertura da enfermagem ao mundo. As mudanças ocorrem por estádios de
organização e desorganização, mas sempre em direção a níveis de organização superior.
Segundo o paradigma da transformação, os cuidados de enfermagem:
- Visam manter o bem-estar tal como a pessoa o define;
Fundamentos de Enfermagem I
- A enfermeira coloca ao dispor de cada pessoa os seus conhecimentos e acompanha-a nas suas
experiências de saúde, no seu ritmo e segundo o caminho que ela própria escolher;
- Intervir significa ser com a pessoa;
- A enfermeira e a pessoa são parceiras nos cuidados;
- A enfermeira coresponsabiliza-se com a pessoa no processo de cuidados.
➔ A pessoa:
- É um todo indissociável e maior do que a soma das suas partes;
- É um ser com carácter único em relação a si próprio e ao universo;
- A pessoa evolui na procura da qualidade de vida que ela define de acordo com as suas
capacidades, potencialidades e prioridades.
➔ A saúde:
- É um valor e uma experiência vivida segundo a perspetiva de cada pessoa;
- Esta experiência é marcada pelo bem-estar e a realização do potencial de criação individual
(a experiência de doença faz parte desta experiência)
➔ O ambiente:
- Compreende o conjunto de todo o universo, sendo que a pessoa é parte integrante deste
ambiente – embora distinto ele coexiste com a pessoa;
- Pessoa e ambiente estão em constante mudança, mútua e simultânea.
→ Quadro Resumo