Você está na página 1de 33

Fundamentos de Enfermagem I

Evolução Histórica da Enfermagem


A evolução histórica da enfermagem é marcada por uma trajetória que reflete o desenvolvimento
da sociedade, das práticas de saúde e do papel das enfermeiras ao longo do tempo.
Fases da evolução histórica da enfermagem
Período Pré-paradigmático:
⎯ Primitiva
⎯ Evolutiva (Idade da Florence)
Período Paradigmático:
⎯ Aprimoramento
Pré-história à antiguidade
“Os seres humanos sempre precisaram de cuidados, quer para manter a vida, quer para lutar
contra o mal que os ameaça constantemente”
O período que vai da pré-história à antiguidade é caracterizada por práticas/execução de cuidados
primitivos, muitas vezes marcadas por uma ocupação predominantemente feminina e uma
preocupação fundamental pela sobrevivência e bem-estar dos indivíduos, ou seja, uma
preocupação pelo abrigo dos enfermos.

Ocupação predominantemente feminina: As práticas de cuidados eram frequentemente


realizadas por mulheres, que desempenhavam um papel central na atenção à saúde,
incluindo o cuidado durante o parto e a assistência em doenças. O conhecimento sobre
ervas medicinais e práticas de cura era transmitido de geração em geração, muitas vezes
de mãe para filha.
Preocupação pelo abrigo dos enfermos: Os cuidados eram prestados em ambientes
simples, como cavernas, tendas ou outros abrigos primitivos. A preocupação em oferecer
abrigo aos enfermos era uma resposta à necessidade de proteger os indivíduos
vulneráveis contra as intempéries e ameaças externas.
Execução de técnicas primitivas: Práticas médicas e de enfermagem eram
frequentemente baseadas em técnicas rudimentares, como a trepanação (remoção
cirúrgica de uma parte do crânio), que era realizada em alguns casos para tratar
condições como dores de cabeça ou transtornos neurológicos. Outras técnicas incluíam o
uso de ervas, rituais religiosos e práticas místicas para tratar doenças e promover a cura

Influência de vários locais do mudo na melhoria dos cuidados e práticas


Egito Antigo
- Os cuidados de saúde eram dominados pela religião: os sacerdotes eram os médicos e os templos
eram os hospitais.
- As práticas de mumificação desenvolveram os conhecimentos de anatomia.
- Registavam farmacopeias (um termo utilizado para se referir a um resumo conciso de
informações que listam e descrevem as substâncias medicinais, as suas propriedades, métodos de
preparação e padrões de qualidade) em Papiros de Ebers (antigo documento médico que contêm
informações sobre diversas práticas médicas, incluindo descrições de doenças, tratamentos e
fórmulas medicinais).
Fundamentos de Enfermagem I
O Egito Antigo desempenhou um papel significativo no desenvolvimento dos cuidados de saúde,
com a sua abordagem única, fortemente entrelaçada com a religião e a cultura.
Mesopotâmia
- Os cuidados de saúde eram assentes na superstição: as doenças eram frequentemente
interpretadas como castigo divino ou resultado da influência de maus espíritos…
- Surgimento de especialistas e médicos não sacerdotes: ao longo do tempo, especialistas e
médicos não ligados ao sacerdócio começaram a surgir, o que marcou a transição e separação
gradual das práticas religiosas pra uma abordagem mais secular na prática de enfermagem.
- Diagnóstico de doenças de acordo com os sintomas: o diagnóstico de doenças era
frequentemente realizado com base nos sintomas observados. Por exemplo, a palavra “Amuricanu”
era associada à cor amarela, indicando icterícia, uma condição caracterizada pelo amarelamento
de pele e olhos.
- Aparecimento de legislação médica (Código de Hamurabi): este código foi uma das notáveis
contribuições da mesopotâmia, na medida em que este incluía disposições relacionadas à prática e
estabelecia padrões de responsabilidade e compensação para médicos, continha leis específicas
que regulamentavam a prática.
Índia
- O conceito de saúde e doença estava influenciado pelos filosóficos, o bramanismo e o budismo:
estes últimos desempenham um papel crucial na moldagem das crenças sobre a saúde e doença.
- Importância do equilíbrio corpo e mente: a tradição indiana valoriza a harmonia entre o corpo e
a mente como um elemento essencial para manter a saúde e o bem-estar.
- Para além das influências religiosas, que desempenham um papel importante nos cuidados de
saúde, reconheciam que a transmissão de doenças específicas poderia estar relacionada com
outros fatores, como por exemplo, mosquitos, insetos portadores de doenças que indicavam /
estimulavam um reconhecimento precoce de vetores de transmissão (organismos vivos que podem
transportar e transmitir agentes infeciosos, como vírus, bactérias ou parasitas, de um hospedeiro
para outro).
China
- A saúde era considerada como o resultado de um estado de harmonia entre o espírito e o
universo. A saúde tradicional chinesa é vista como o resultado de um estado de harmonia entre o
corpo, o espírito e o universo. Manter este equilíbrio era extremamente fundamental para prevenir
doenças e promover o bem-estar.
- Técnicas aplicadas na Medicina Tradicional Chinesa: fitoterapia (uso de ervas medicinais para
equilibrar as energias Yin e Yang no corpo), Tui Na (massagem terapêutica que envolve pressão e
manipulação para aliviar bloqueios de energia), acupuntura (inserção de agulhas em pontos
específicos do corpo para regular o fluxo de energia vital), etc.
- A natureza era regida por uma dualidade básica o Yin e o Yang, conceito central na filosofia
chinesa, representa a dualidade e interdependência de forças opostas, como luz e escuridão.
Manter estas forças em equilíbrio é essencial para a saúde.
Palestina
- Preocupação pela higiene, pelo seu cumprimento e pelo risco de contágio: lepra. A prática de
isolar pessoas com lepra era uma medida tomada para evitar a propagação da doença.
- Pureza ritual valorizada a nível da religião judaica: igualmente para evitar o contágio.
Fundamentos de Enfermagem I
- Surgimento de médicos estudiosos não sacerdotes, afastando-se da religião. Ao longo do tempo,
houve um afastamento gradual da prática de enfermagem exclusivamente ligada ao sacerdócio.
Surgiram estudiosos que não eram necessariamente sacerdotes, indicando uma secularização na
abordagem à enfermagem.
Grécia
- Relação entre a mitologia/deuses com a saúde. Na Grécia Antiga, a mitologia e a religião
desempenhavam um papel significativo na compreensão da saúde e na prática da enfermagem. Os
deuses e deusas eram frequentemente associados a aspetos específicos da saúde, representando
diferentes facetas da cura e do bem-estar. (Asclépio - saúde e medicina; Epione - acalmava a dor;
Hygeia – personificava a higiene e o conceito de saúde e bem-estar; Jaso – aquele que cura;
Panaceia – cura todas as doenças; Telésforo – convalescença, fase de recuperação e
restabelecimento após doença)
- Pitágoras, Empéclodes e Alcmeão dissecavam cadáveres, para conhecer a anatomia humana.
- Existiu a separação entre os cuidados de saúde místicos e sacerdotais, e surgiram os cuidados de
saúde e a prática da medicina com base na experiência, observação e raciocínio lógico –
Hipócrates.
Roma
- Adoração por Esculápio (deus da medicina e cura, também conhecido como Asclépio), embora
considerando a arte dos cuidados de saúde desprezível e estrangeira.
- Notável avanço na introdução de medidas sanitárias e higiénicas nas cidades: termas, esgotos,
redes subterrâneas de águas, …, por todo o império romano para promover a saúde pública e
melhorar as condições de vida nas cidades.
- Destacou-se a obra de Galeno, como investigador e cirurgião. As suas contribuições abrangiam
áreas como anatomia, filosofia e farmacologia, influenciando as práticas em saúde por séculos.

Influência do Cristianismo
O cristianismo surgiu na época do Império Romano, em que «os valores de amor ao próximo, de
auxílio aos necessitados, de cuidados aos enfermeiros mais do que uma opção se transformam em
“deveres”» - obras de misericórdia e caridade. (Esses princípios influenciaram as atitudes e ações
das pessoas na sociedade romana).

- As mulheres foram afastadas da prática religiosa, mas sendo autorizadas a cuidar dos
enfermos e desvalidos. Destacando uma mudança na participação das mulheres em
atividades caritativas e de assistência.
- Fabíola (uma matrona romana - mulher respeitável e casada) fundou em Travastere-Roma
um hospital – demonstrando a prática concreta dos princípios cristãos de caridade e
cuidados aos doentes, deste modo foi considerada a mais zelosa das enfermeiras.

Idade Média
- Na idade média os cuidados de saúde eram centralizados nas congregações religiosas, mosteiros,
entre outras instituições religiosas.
- Nesta época existiram também inúmeras guerras, conquistas pelos territórios, a luta pela Terra
Santa e extrema pobreza que afetava significativamente a qualidade de vida e saúde das pessoas. A
Fundamentos de Enfermagem I
tríade: Guerra, Peste e Fome refere-se aos desafios interconectados que assolaram a Europa
Medieval. As guerras frequentes contribuíram para a instabilidade, deslocamento populacional e
destruição, afetando negativamente as condições de vida, as epidemias de peste, como a Peste
Negra dizimaram populações inteiras e a falta de recursos e a má gestão agrícola levaram a
períodos de fome generalizada.
- Também na idade média surgiram diversas ordens religiosas, de cariz católico, com um foco
especial em cuidados de saúde: Ordem dos Hospitalários (ou dos Enfermeiros Militares),
dominicanos, franciscanos, entre outros.
- Foram criadas as gafarias (ou leprosarias) e hospitais destinados ao atendimento específico de
doentes, como por exemplo doentes com lepra. Estas instituições eram frequentemente
administradas por ordens religiosas.
- Predominavam os valores que ainda hoje se consideram legado de Enfermagem: «abnegação, o
espírito de sacrifício, a obediência», destacando a continuidade de certos princípios ao longo da
história.

Idade Média e Transição para a Modernidade


- No século XV português, D. Leonor, esposa de D. João II, fundou as Misericórdias, organizações de
assistência social que se dedicavam a fornecer cuidados aos doentes, órfãos e pobres,
desempenhando assim um papel crucial na prestação de serviços de saúde e assistência durante
esse período de transição.
- O estudo da saúde passou da observação do doente para o estudo direto do corpo humano.
Figuras como Leonardo da Vinci, William Harvey e Marcelo Malpighi contribuíram para avanços
notáveis na compreensão da anatomia, do sistema circulatório e do uso do microscópio,
respetivamente.
- Deu-se a Reforma Protestante, que teve implicações significativas nos hospitais e nas práticas de
enfermagem, como a expulsão das religiosas dos hospitais. Daqui se adquiriu uma nova imagem da
enfermeira, que antes estava frequentemente ligada a ordens religiosas e a partir da reforma
passou a possuir uma imagem negativa associada à profissão, sendo chamada de “mulher devassa”
→ promíscuas, imorais ou que desafiavam as normas sociais estabelecidas em termos de
comportamento sexual.

Países de Domínio Protestante: Países de Domínio Católico:


Cuidados sob a responsabilidade de Cuidados sob a responsabilidade de
civis e mulheres de má vida. ordens religiosas.

Portugal era uma exceção a estas realidades uma vez que o país, sendo de domínio
católico, possuía cuidados sob a responsabilidade de alguns religiosos, mas também de
enfermeiros laicos, indivíduos que não pertenciam ao clero ou à hierarquia religiosa.

Modernidade
Em países católicos sentiu-se a influência de S. João de Deus, com a inspiração para a fundação da
Ordem Hospitaleira de S. João de Deus. Os irmãos hospitaleiros dedicavam-se ao cuidado dos
enfermos, à administração de hospitais e à promoção de obras de caridade. O legado de São João
Fundamentos de Enfermagem I
de Deus e sua ordem continuou ao longo dos séculos, desempenhando um papel importante na
história da assistência à saúde.
- No final do séc. XVII, nos hospitais, ainda se assistia a défices no funcionamento: 3 ou 4 doentes
por cama, moribundos e agudos, abrigo de enjeitados, grávidas solteiras, órfãos, etc.
- Nem tudo era mau, uma vez que, nesta altura se deu a consolidação de diversas descobertas e
técnicas, como o uso do termómetro, técnicas de cirurgia, entre outros.
-Mantinham-se «acesas» as discussões relativas aos produtos da investigação e das experiências
em laboratório (especialmente no que dizia respeito a éticas e morais).
→ Manual para Enfermeiros
Em 1741 foi concebido a primeiro manual conhecido, em português para enfermeiros, intitulado
de “Postilla Religiosa e Arte de Enfermeiros”.
Este manual possui tanto descrições de práticas, como conceitos importantes para as práticas de
enfermagem.

Modernidade e transição para a contemporaneidade


Nos finais do séc. XVIII, o Pastor Fliedner, juntamente com a sua esposa, Friederike, fundam em
Kaiserswerth, na Alemanha, uma escola de diaconisas para hospitais, devido à falta de preparação
das enfermeiras. Esta iniciativa marca uma mudança no modo como a sociedade percebe e aborda
a enfermagem, passando de uma prática menos formalizada para a criação de instituições
educacionais específicas para a formação de enfermeiras. Este período histórico representa um
avanço significativo na profissionalização da enfermagem, contribuindo para os fundamentos da
prática contemporânea.

Contemporaneidade
- Grandes descobertas e grandes investigadores: Pasteur, Lister, Koch, etc. Estas importantes figuras
destacaram grandes avanços na microbiologia e na compreensão das causas das doenças.
- Dá-se a Revolução Industrial. A introdução de máquinas, urbanização e mudanças nas condições
de trabalho teve impacto na saúde e na qualidade de vida, exigindo novas abordagens para os
cuidados de saúde e condições sanitárias.
- Em 1820 nasceu Florence Nightingale, figura central na história da enfermagem moderna. O seu
trabalho na Guerra da Crimeia e as suas contribuições para a reforma hospitalar e prática de
enfermagem tiveram um impacto significativo na profissão.
- Por volta de 1836 nasceu Dasha Sevastopolskaya, uma importante enfermeira russa na Guerra da
Crimeia, que representa a contribuição internacional para o cuidado aos feridos durante conflitos
armados.
- Em 1857 nasceu Ethel Fenwick, inglesa, casada, que defendia a Enfermagem como profissão e
não como vocação. O seu posicionamento reflete a crescente profissionalização da enfermagem.
- Fundação da Cruz Vermelha Internacional (1863), por Jean Henri Dunant. Destaca o ínicio de
organizações internacionais de ajuda humanitária, reconhecendo a importância de prestar
assistência em tempos de conflitos e desastres.
→ Influencia de Florence Nightingale
Florence nasceu em Florença e era elemento de uma família rica inglesa, com contactos na
sociedade e na política.
Fundamentos de Enfermagem I
Estudou, com o pai, com tutoras e tutores, artes, matemática, filosofia, história, política e
economia. Apresentava um forte sentido espiritual, sendo que Deus ocupava uma grande parte na
sua vida.
Antes de se dedicar à enfermagem, Florence viajou por vários países, aprendendo a ser enfermeira
(com religiosas e com o Pastor Fliedner). Durante a Guerra da Crimeia (1854-1856) apresentou
uma ação essencial, a elaboração de um gráfico chamado “O diagrama de Rosa de Nightingale”, em
que o principal resultado a destacar foi a diminuição da taxa de mortalidade dos soldados ingleses
de 42% para 2%.
Florence entendia a enfermagem como uma vocação, num sentido de total dedicação. Defendia
ainda a profissão como feminina, diferenciada e independente do conhecimento médico.
A enfermagem devia ser ensinada nos hospitais e não nas universidades, com gestão independente
da administração hospitalar.
Não casou, mas tendo diversos pretendentes ao longo da sua vida, dedicando-se de forma
exclusiva à enfermagem. Escreveu dois livros e inúmeros relatórios/registos. Privou com o
primeiro-ministro da época e foi recebida pela rainha Vitória, que a protegeu. Faleceu em 1910.

Fatores de influência no pensamento Nightingaliano:


- A religião.
- A ciência.
- A guerra.
- A participação na luta pelos direitos da mulher.

Resumindo Florence estudou por toada a Europa, seguindo as últimas descobertas da época, tanto
com religiosas católicas como no instituto do Pastor Fliedner. Através da sua participação na Guerra
da Crimeia, consolidou-se a necessidade de formação e preparação formal das enfermeiras.
Em 1860 nasceu a primeira Escola de Enfermagem, um marco importante para a profissionalização
da enfermagem e para o início da enfermagem científica e moderna.

Durante o início do século XX foram surgindo outras Escolas de Enfermagem a nível internacional,
com desenvolvimento do conhecimento formal e baseando a Enfermagem nos progressos técnicos
e científicos.
A enfermagem foi integrada no ensino superior/universitário, e desenvolveram-se licenciaturas,
mestrados e doutoramentos nesta área da ciência.
- Em 1899 foi fundado o International Council of Nurses – ICN (através da ação de Ethel Fenwick)
- Em 1911 foi denominado o American Nurses Association – ANA
→ Em Portugal
1881 – Abre a primeira escola para enfermeiros, nos Hospitais Universitários de Coimbra, sob a
mão de Costa Simões.
Fundamentos de Enfermagem I
1899-1909 – Surto de peste bubónica no Porto, que levou ao falecimento de muitas enfermeiras
devido ao contacto com os doentes. Às enfermeiras são atribuídas medalhas de ouro, prata e cobre
graças à sua dedicação.
1910-1919 – Continuaram a surgir Cursos de Enfermagem. No terreno os enfermeiros deixam de
fazer tantas atividades relacionadas com a lida doméstica e assiste-se a uma progressiva
demarcação profissional.
D. Ana Guedes destacou-se como enfermeira no apoio aos militares portugueses da Grande
Guerra, após as suas ações caritativas aos pobres no Porto (durante as epidemias de tifo e
pneumónica).
Rita Machado, uma das filhas de Bernardino Machado, assim como as irmãs, Maria e Francisca,
fazem parte do movimento Cruzadas das Mulheres Portuguesas (fundado por Elzira Dantas, sua
mãe), em especial na preparação de enfermeiras para enviar para a Grande Guerra.
O Decreto n.º 4: 563 de 9 de julho de 1918 cria a Escola Profissional de Enfermagem dos Hospitais
Civis de Lisboa, estabelecendo igualmente o Curso Geral e o Curso Complementar de Enfermagem,
este último destinado aos lugares de chefia de Enfermagem
No ano seguinte, o Decreto-lei n.º 5739 de 10 de maio de 1919 cria a Escola de Enfermagem dos
Hospitais da Universidade de Coimbra.

→ Em Braga
Em 1912 é fundada a Escola de Enfermagem do Hospital de S. Marcos, que passou, em 1948 a
denominar-se de Escola de Enfermagem Dr. Henrique Teles.
Em 1971, veio a denominar-se de Escola de Enfermagem Calouste Gulbenkian e, posteriormente,
em 1988-1989, passou a ser Escola Superior de Enfermagem Calouste Gulbenkian. Em 2005, foi
integrada na Universidade do Minho, sendo, atualmente, a Escola Superior de Enfermagem da
Universidade do Minho.

1920-1929 – Aparecimento das primeiras publicações profissionais destinadas a enfermeiros, que


estão relacionadas coma expansão associativa registada nesta fase, e.g. «Arquivo do Enfermeiro» e
«O Enfermeiro Português».
1947 – Criação de dois níveis de formação, o Curso de Enfermagem Geral (3 anos) e o Curso de
Auxiliares (18 meses).
1962 – Maria Fernanda Resende assume um cargo de Gestão na Direção Geral dos Hospitais.
1964-1972 – Passagem do ensino para a tutela dos enfermeiros.
1973 – O primeiro Congresso Nacional de Enfermagem.
1974 – Extinção dos cursos de Auxiliares.
1988 – O ensino da enfermagem foi integrado no Ensino Superior Politécnico, com o grau de
bacharel.
Fundamentos de Enfermagem I
1990 – Criação dos Mestrados em Ciências da Enfermagem.
1996 – Publicado o REPE → Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros
1998 – Criação da Ordem dos Enfermeiros.
1999 – O curso de Enfermagem passou a ser Licenciatura.
2001 – Primeiro Doutor em Ciências de Enfermagem.

«É necessário saber quem somos para saber onde vamos, visto que, ainda existe
um longo caminho a percorrer»

Ordem dos Enfermeiros


É uma instituição profissional que representa os enfermeiros em determinada jurisdição. A sua
principal função é regulamentar a prática da enfermagem, promover padrões éticos e profissionais,
e defender os interesses dos enfermeiros.
Atribuições
1- Zelar pela função social, dignidade e prestígio da profissão de enfermeiro, promovendo a
valorização profissional e científica dos seus membros;
2- Assegurar o cumprimento das regras de deontologia profissional;
3- Contribuir, através da elaboração de estudos e formulação de propostas, para a definição da
política de enfermagem;
4- Regular o acesso e o exercício da profissão;
5- Definir o nível de qualificação profissional e regular o exercício profissional;
6- Acreditar e creditar ações de formação contínua;
7- Regulamentar as condições de inscrição na Ordem e do reingresso ao exercício da profissão,
nos termos legalmente aplicáveis;
8- Verificar a satisfação das condições de inscrição;
9- Atribuir o título profissional de enfermeiro e de enfermeiro especialista com emissão da
inerente cédula profissional;
10- Efetuar e manter atualizado o registo de todos os enfermeiros;
11- Proteger o título e a profissão de enfermeiro, promovendo procedimento legal contra quem o
use ou exerça a profissão ilegalmente;
12- Exercer jurisdição disciplinar sobre os enfermeiros;
13- Participar na elaboração da legislação que diga respeito à profissão de enfermeiro;
14- Promover a solidariedade entre os seus membros;
15- Fomentar o desenvolvimento da formação e da investigação em enfermagem e pronunciar-se
sobre os modelos de formação e a estrutura geral dos cursos de enfermagem;
16- Prestar a colaboração científica e técnica solicitada por qualquer entidade nacional ou
estrangeira, pública ou privada, quando exista interesse público;
Fundamentos de Enfermagem I
17- Promover o intercâmbio de ideias, experiências e conhecimentos científicos entre os seus
membros e entidades congéneres, nacionais ou estrangeiros, que se dediquem às áreas da
saúde e da enfermagem;
18- Colaborar com as organizações de classe que representam os enfermeiros em matérias de
interesse comum, por iniciativa própria ou por iniciativa daquelas organizações;
19- Participar nos processos oficiais de acreditação e na avaliação dos cursos que dão acesso à
profissão de enfermeiro;
20- Reconhecer as qualificações profissionais obtidas fora de Portugal, nos termos da lei, do
direito da União Europeia ou de convenção internacional;
21- Quaisquer outras que lhe sejam cometidas por lei.

Quadro de Referência do Enfermeiro


- Regulamento do Exercício Profissional do Enfermeiro (REPE)
- Código Deontológico do Enfermeiro
- Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem
- Competências do Enfermeiro de Cuidados Gerais
Regulamento do Exercício Profissional do Enfermeiro (REPE)
Documento essencial para a prática do exercício profissional de enfermagem;
Abrange aspetos como padrões éticos, requisitos para licenciamento, responsabilidades
profissionais, competências necessárias e outras diretrizes para a prática segura e eficaz da
enfermagem.
“Salvaguarda, no essencial, os aspetos que permitem a cada enfermeiro fundamentar a sua
intervenção enquanto profissional se saúde, com autonomia”
Código Deontológico do Enfermeiro
Enuncia os deveres dos profissionais, enraizados nos direitos dos cidadãos e das comunidades a
quem se dirige os cuidados de enfermagem.
Enuncia as responsabilidades que a profissão assumiu.
Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem
Constitui uma reflexão para a melhoria dos cuidados de enfermagem a fornecer aos cidadãos e
sobre o exercício.
Instrumento importante para a implementação de sistemas de melhoria contínua da qualidade.
→ Enquadramento Conceptual
- Saúde: A saúde é o estado e, simultaneamente, a representação mental da condição individual, o
controlo do sofrimento, o bem-estar físico e o conforto emocional e espiritual. Na medida em que
se trata de uma representação social mental, trata-se de um estado – subjetivo; portanto, não
pode ser tido como conceito oposto ao conceito de doença.
Fundamentos de Enfermagem I
- A representação mental da condição individual e do bem-estar é variável no tempo, ou seja, cada
pessoa procura o equilíbrio em cada momento, de acordo com os desafios que cada situação lhe
coloca. Neste contexto, a saúde é o reflexo de um processo dinâmico e contínuo; toda a pessoa
deseja atingir o estado de equilíbrio que se traduz no controlo do sofrimento, no bem-estar físico e
no conforto emocional, espiritual e cultural.

- Pessoa: A pessoa é um ser social e agente intencional de comportamentos baseados nos valores,
nas crenças e nos desejos da natureza individual, o que torna cada pessoa num ser único, com
dignidade própria e direito a autodeterminar-se.
- Os comportamentos da pessoa são influenciados pelo ambiente no qual ela vive e se desenvolve.
- Toda a pessoa que interage com o ambiente: modifica-o e sofre a influência dele durante todo o
processo de procura incessante do equilíbrio e da harmonia. Na medida em que cada pessoa, na
procura de melhores níveis de saúde, desenvolve processos intencionais baseados nos valores,
crenças e desejos da sua natureza individual, podemos atingir um entendimento no qual cada um
de nós vivencia um projeto de saúde.
- A pessoa pode sentir-se saudável quando transforma e integra as alterações da sua vida
quotidiana no seu projeto de vida, podendo não ser feita a mesma apreciação desse estado pelo
próprio e pelos outros.
- A pessoa é também centro de processos não intencionais. As funções fisiológicas, enquanto
processos não intencionais, são fator importante no processo de procura incessante do melhor
equilíbrio. Apesar de se tratar de processos não intencionais, as funções fisiológicas são
influenciadas pela condição psicológica das pessoas, e, por sua vez, esta é influenciada pelo bem-
estar e conforto físico. Esta inter-relação torna clara a unicidade e indivisibilidade de cada pessoa,
assim, a pessoa tem de ser encarada como ser uno e indivisível.

- Ambiente: O ambiente no qual as pessoas vivem e se desenvolvem é constituído por elementos


humanos, físicos, políticos, económicos, culturais e organizacionais, que condicionam e influenciam
os estilos de vida e que se repercutem no conceito de saúde. Na prática dos cuidados, os
enfermeiros necessitam de focalizar a sua intervenção na complexa interdependência pessoa 
ambiente.

- Cuidados de Enfermagem: O exercício profissional da enfermagem centra-se na relação


interpessoal de um enfermeiro e uma pessoa/grupo que possuem quadros de valores, crenças e
desejos da natureza individual.
- No âmbito do exercício profissional, o enfermeiro distingue-se pela formação e experiência que
lhe permite compreender e respeitar os outros numa perspetiva multicultural, num quadro onde
procura abster-se de juízos de valor relativamente à pessoa, cliente dos cuidados de enfermagem.
- A relação terapêutica promovida no âmbito do exercício profissional de enfermagem caracteriza-
se pela parceria estabelecida com o cliente, no respeito pelas suas capacidades e na valorização do
Fundamentos de Enfermagem I
seu papel. Desenvolve-se e fortalece-se ao longo de um processo dinâmico, que tem por objetivo
ajudar o cliente a ser proactivo na consecução no seu projeto de saúde.
- Várias são as circunstâncias em que a parceria deve ser estabelecida, envolvendo as pessoas
significativa para o cliente individual (família, convivente significativo).
- Os cuidados de enfermagem tomam por foco de atenção a promoção dos projetos de saúde que
cada pessoa vive e persegue. Neste contexto, procura-se, ao longo de todo o ciclo vital, prevenir a
doença e promover os processos de readaptação, procura-se a satisfação das necessidades
humanas fundamentais e a máxima independência na realização das atividades da vida, procura-se
a adaptação funcional aos défices e a adaptação a múltiplos fatores – frequentemente através de
processos de aprendizagem do cliente.
- Os cuidados de enfermagem ajudam a pessoa a gerir os recursos da comunidade em matéria de
saúde, prevendo-se ser vantajoso o assumir de um papel de pivot no contexto da equipa.
- Na gestão dos recursos de saúde, os enfermeiros promovem, paralelamente, a aprendizagem da
forma de aumentar o reportório dos recursos pessoais, familiares e comunitários para lidar com os
desafios de saúde.
- As intervenções de enfermagem são frequentemente otimizadas se toda a unidade familiar for
tomada por alvo do processo de cuidados, nomeadamente quando as intervenções de
enfermagem visam a alteração de comportamentos, tendo em vista a adoção de estilos de vida
compatíveis com a promoção da saúde.
- O exercício profissional dos enfermeiros insere-se num contexto de atuação multiprofissional.
Assim, distinguem-se dois tipos de intervenções de enfermagem:

Iniciadas por outros técnicos: Iniciadas pela prescrição do enfermeiro:


O enfermeiro assume a responsabilidade Este assume a responsabilidade pela prescrição
pela implementação da prática. e pela implementação técnica da intervenção.

- A tomada de decisão do enfermeiro que orienta o exercício profissional autónomo implica uma
abordagem sistémica e sistemática. Esta requer que o enfermeiro identifique as necessidades de
cuidados de enfermagem da pessoa individual ou do grupo (família e comunidade). Após efetuada
a identificação da problemática do cliente, as intervenções de enfermagem são prescritas de forma
a evitar riscos, detetar precocemente problemas potenciais e resolver ou minimizar os problemas
reais identificados.
- No processo da tomada de decisão em enfermagem e na fase de implementação das
intervenções, o enfermeiro incorpora os resultados da investigação na sua prática. Reconhece-se
que a produção de guias orientadores da boa prática de cuidados de enfermagem baseados na
evidência empírica constitui uma base estrutural importante para a melhoria contínua da
qualidade do exercício profissional dos enfermeiros.
Fundamentos de Enfermagem I
- Do ponto de vista das atitudes que caracterizam o exercício profissional dos enfermeiros, os
princípios humanistas de respeito pelos valores, costumes, religiões e todos os demais previstos no
código deontológico enformam a boa prática de enfermagem.
- Neste contexto, os enfermeiros têm presente que bons cuidados significam coisas diferentes para
diferentes pessoas e, assim, o exercício profissional dos enfermeiros requer sensibilidade para lidar
com essas diferenças, perseguindo-se os mais elevados níveis de satisfação dos clientes.

Resumindo o enquadramento conceptual dos padrões de qualidade dos cuidados de


enfermagem:
A saúde é definida como o estado e a representação mental da condição individual, abrangendo
o controle do sofrimento, bem-estar físico e conforto emocional e espiritual. É um conceito
subjetivo, variável no tempo, refletindo um processo dinâmico e contínuo de busca pelo
equilíbrio, envolvendo controle do sofrimento e bem-estar em diversas dimensões da vida.
A pessoa é considerada um ser social e agente intencional de comportamentos baseados em
valores, crenças e desejos individuais. Cada pessoa é única, com dignidade própria e direito à
autodeterminação. Os seus comportamentos são influenciados pelo ambiente, ambos
interagem constantemente na busca do equilíbrio e harmonia. A pessoa é vista como uno e
indivisível, envolvendo processos intencionais e não intencionais.
O ambiente é composto por elementos humanos, físicos, políticos, econômicos, culturais e
organizacionais, que condicionam estilos de vida e impactam o conceito de saúde. A
interdependência pessoa-ambiente é destacada, exigindo que os enfermeiros foquem em
intervenções que considerem essa complexa relação.
O exercício profissional da enfermagem é centrado na relação interpessoal entre enfermeiro e
pessoa/grupo. Destaca-se pela parceria, respeitando valores e promovendo o entendimento
multicultural. Os cuidados visam à promoção dos projetos de saúde individuais, envolvendo
prevenção, readaptação, satisfação de necessidades humanas fundamentais e independência.
Intervenções são otimizadas quando envolvem a família e são parte de uma abordagem
multiprofissional. A tomada de decisão do enfermeiro é sistemática, incorporando evidências
científicas e princípios humanistas, reconhecendo a diversidade nas perceções de bons
cuidados.

→ Enunciados Descritivos
Estes enunciados visam explicitar a natureza e englobar os diferentes aspetos do mandato social da
profissão de enfermagem. Constituem um instrumento importante para precisar o papel do
enfermeiro junto dos clientes, dos outros profissionais, do público e dos políticos. Trata-se de uma
representação dos cuidados que deve ser conhecida por todos os clientes, quer ao nível dos
resultados mínimos aceitáveis, quer ao nível dos melhores resultados que é aceitável esperar.
Fundamentos de Enfermagem I
1. Satisfação do cliente:

- O respeito pelas capacidades, crenças, valores e - O envolvimento dos conviventes significativos do


desejos da natureza individual ao cliente; cliente individual no processo de cuidados;
- A procura constante da empatia nas interações - O empenho do enfermeiro, tendo em vista
com o cliente; minimizar o impacto negativo no cliente,
provocado pelas mudanças de ambiente forçadas
- O estabelecimento de parcerias com o cliente no pelas necessidades do processo de assistência de
planeamento do processo de cuidados; saúde.

2. Promoção da Saúde:

- A promoção do potencial de saúde do cliente


- A identificação da situação de saúde da
através da otimização do trabalho adaptativo aos
população e dos recursos do cliente / família e
processos de vida, crescimento e
comunidade;
desenvolvimento;
- A criação e o aproveitamento de oportunidades - O fornecimento de informação geradora de
para promover estilos de vida saudáveis; aprendizagem cognitiva e de novas capacidades
pelo cliente

3. Prevenção de Complicações:

- A identificação, tão rápida quanto possível, dos - A referenciação das situações problemáticas
problemas potenciais do cliente, relativamente identificadas para outros profissionais, de acordo
aos quais o enfermeiro tem competência para com os mandatos sociais dos diferentes
prescrever, implementar e avaliar intervenções profissionais envolvidos no processo de cuidados
que contribuam para evitar esses mesmos de saúde;
problemas ou minimizar-lhes os efeitos -A supervisão das atividades que concretizam as
indesejáveis; intervenções de enfermagem e que foram
-A prescrição das intervenções de enfermagem delegadas pelo enfermeiro;
face aos problemas potenciais identificados; - A responsabilização do enfermeiro pelas
- O rigor técnico / científico na implementação decisões que toma, pelos atos que pratica e que
das intervenções de enfermagem; delega.
Fundamentos de Enfermagem I
4. Bem-estar e autocuidado:

- A identificação, tão rápida quanto possível, dos - A referenciação das situações problemáticas
problemas do cliente, relativamente aos quais o identificadas para outros profissionais, de acordo
enfermeiro tem conhecimento e está preparado com os mandatos sociais dos diferentes
para prescrever, implementar e avaliar profissionais envolvidos no processo dos cuidados
intervenções que contribuam para au - mentar o de saúde;
bem-estar e suplementar / complementar - A supervisão das atividades que concretizam as
atividades de vida relativamente às quais o intervenções de enfermagem e que foram
cliente é dependente; delegadas pelo enfermeiro;
- A prescrição das intervenções de enfermagem - A responsabilização do enfermeiro pelas
face aos problemas identificados; decisões que toma, pelos atos que pratica e pelos
- O rigor técnico / científico na implementação que delega.
das intervenções de enfermagem;

5. Readaptação funcional:

- A continuidade do processo de prestação de


cuidados de enfermagem; - A otimização das capacidades do cliente e
- O planeamento da alta dos clientes internados conviventes significativos para gerir o regímen
em instituições de saúde, de acordo com as terapêutico prescrito;
necessidades dos clientes e os recursos da - O ensino, a instrução e o treino do cliente sobre
comunidade; a adaptação individual requerida face à
- O máximo aproveitamento dos diferentes readaptação funcional
recursos da comunidade;

6. Organização dos cuidados de enfermagem:

- A existência de um quadro de referências para o - A satisfação dos enfermeiros relativamente à


exercício profissional de enfermagem; qualidade do exercício profissional;
- A existência de um sistema de melhoria - O número de enfermeiros face à necessidade de
contínua da qualidade do exercício profissional; cuidados de enfermagem;
- A existência de um sistema de registos de - A existência de uma política de formação
enfermagem que incorpore sistematicamente, contínua dos enfermeiros, promotora do
entre outros dados, as necessidades de cuidados desenvolvimento profissional e da qualidade;
de enfermagem do cliente, as intervenções de - A utilização de metodologias de organização dos
enfermagem e os resultados sensíveis às cuidados de enfermagem promotoras da
intervenções de enfermagem obtidos pelo qualidade.
cliente;
Fundamentos de Enfermagem I
7. A relação psicoterapêutica:

- Estabelecimento de confiança; - Estabelecimento de metas colaborativas;


- Comunicação Eficaz; - Apoio emocional contínuo;
- Empatia e Compreensão; - Promoção do Autocuidado;
- Respeito à autonomia; - Culturalmente sensível;
- Avaliação holística; - Avaliação contínua da relação

8. A redução do estigma e a promoção da inclusão social


Destaca a importância de os cuidados de enfermagem serem prestados em um ambiente livre de
estigma, onde cada indivíduo é tratado com dignidade, respeito e é apoiado em sua participação
ativa na sociedade, contribuindo para uma prática de enfermagem centrada no paciente e
orientada para a inclusão social.

Competências do Enfermeiro de Cuidados Gerais


Enuncia os deveres dos profissionais, enraizados nos direitos dos cidadãos e das comunidades a
quem se dirige os cuidados de enfermagem
→ Princípios
1. O exercício profissional da Enfermagem centra-se na relação interpessoal entre um
enfermeiro e uma pessoa, ou entre um enfermeiro e um grupo de pessoas (família ou
comunidades). Quer a pessoa enfermeiro, quer as pessoas clientes dos cuidados de
Enfermagem, possuem quadros de valores, crenças e desejos da natureza individual - fruto
das diferentes condições ambientais em que vivem e se desenvolvem. Assim, a relação
terapêutica promovida no âmbito do exercício profissional de Enfermagem caracteriza-se
pela parceria estabelecida com o cliente, no respeito pelas suas capacidades;

2. A tomada de decisão do enfermeiro, que orienta o exercício profissional, implica uma


abordagem sistémica e sistemática - na tomada de decisão, o enfermeiro identifica as
necessidades de cuidados de Enfermagem da pessoa individual ou do grupo (família e
comunidade); após efetuada a correta identificação da problemática do cliente, as
intervenções de Enfermagem são prescritas de forma a evitar riscos, detetar precocemente
problemas potenciais e resolver ou minimizar os problemas reais identificados. No processo
da tomada de decisões em Enfermagem e na fase de implementação das intervenções, o
enfermeiro incorpora os resultados da investigação na sua prática;

3. Do ponto de vista das atitudes que caracterizam o exercício profissional dos enfermeiros,
relevam os princípios humanistas, de respeito pela liberdade e dignidade humanas e pelos
valores das pessoas e grupos. No seu desempenho, os enfermeiros respeitam os deveres
previstos no Código Deontológico e a regulamentação do exercício da profissão, que
enformam a boa prática da Enfermagem.
Fundamentos de Enfermagem I

→ Finalidades
1. O perfil de competências do enfermeiro de cuidados gerais visa prover um enquadramento
regulador para a certificação das competências e comunicar aos cidadãos o que podem
esperar.
2. Pela certificação destas competências assegura-se que o enfermeiro possui um conjunto de
conhecimentos, capacidades e habilidades que mobiliza em contexto de prática clínica que
lhe permitem ponderar as necessidades de saúde do grupo-alvo e aturar em todos os
contextos de vida das pessoas, em todos os níveis de prevenção.
→ Conceitos Importantes
“Domínio de Competência” – uma esfera de ação compreendendo um conjunto de competências
com linha condutora semelhante e um conjunto de elementos agregados;
“Norma ou Descritivo de Competência” – a competência em relação aos atributos gerais e
específicos, sendo decomposta em segmentos menores, podendo descrever os conhecimentos, as
habilidades e operações que devem ser desempenhadas e aplicadas em distintas situações de
trabalho;
“Critérios de Competência” – os elementos que devem ser entendidos como evidência do
desempenho profissional competente.
→ Domínios das Competências
- Responsabilidade profissional, ética e legal NOTA: Cada domínio apresenta:
- Prestação e gestão dos cuidados competências, descrição e
critérios de competências.
- Desenvolvimento profissional
Fundamentos de Enfermagem I
Domínio da responsabilidade, ética e legal
Competências:
1. Desenvolver uma prática profissional com responsabilidade.
- Descritivo: Demonstra um exercício seguro, responsável e profissional, com consciência do
seu âmbito de intervenção. A competência assenta num corpo de conhecimento e na
avaliação sistemática das melhores práticas, permitindo uma tomada de decisão
fundamentada.
- Critérios: Aceita a responsabilidade e responde pelas suas ações e pelos juízos profissionais
que elabora. Reconhece os limites do seu papel e da sua competência. Consulta peritos em
Enfermagem, quando os cuidados de enfermagem requerem um nível de perícia que está
além da sua competência atual ou que saem do âmbito da sua área de exercício.

2. Exercer a sua prática de acordo com os quadros ético, deontológico e jurídico.


- Descritivo: Demonstra uma prática assente na Deontologia profissional e nos referenciais
legais. Analisa e interpreta em situação especifica de prestação de cuidados gerais.
- Critérios: Exerce de acordo com Código Deontológico (CD). Envolve-se de forma efetiva nas
tomadas de decisão éticas. Atua na defesa dos direitos humanos, tal como descrito no CD.
Respeita o direito dos clientes ao acesso à informação. Garante a confidencialidade e a
segurança da informação, escrita e oral, adquirida enquanto profissional. Respeita o direito
do cliente à privacidade e o direito do cliente à escolha e à autodeterminação referente aos
cuidados de Enfermagem e saúde. Aborda de forma apropriada as práticas de cuidados que
podem comprometer a segurança, a privacidade ou a dignidade do cliente. Identifica
práticas de risco e adota as medidas apropriadas. Reconhece as suas crenças e os seus
valores e a forma como estes podem influenciar a prestação de cuidados. Respeita os
valores, os costumes, as crenças espirituais e as práticas dos indivíduos e grupos. Presta
cuidados culturalmente sensíveis. Pratica de acordo com a legislação aplicável e de acordo
com as políticas e normas nacionais e locais, desde que estas não colidam com o CD dos
enfermeiros. Reconhece e atua nas situações de infração ou violação da Lei e/ ou do Código
Deontológico, que estão relacionadas com a prática de Enfermagem.
Domínio da prestação e gestão de cuidados
Competências:
1. Atua de acordo com os fundamentos da prestação e gestão de cuidados
- Descritivo: O enfermeiro age de forma fundamentada, mobilizando e aplicando os
conhecimentos e técnicas adequadas, procurando realizar as melhores práticas assentes em
resultados de investigação e outras evidências.
- Critérios: Aplica os conhecimentos e as técnicas mais adequadas, na prática de
Enfermagem. Incorpora, na prática, os resultados da investigação válidos e relevantes, assim
como outras evidências. Inicia e participa nas discussões acerca da inovação e da mudança
na Enfermagem e nos cuidados de saúde. Aplica o pensamento crítico e as técnicas de
resolução de problemas. Ajuíza e toma decisões fundamentadas, qualquer que seja o
contexto da prestação de cuidados. Fornece a fundamentação para os cuidados de
Fundamentos de Enfermagem I
Enfermagem prestados. Organiza o seu trabalho, gerindo eficazmente o tempo. Demostra
compreender os processos do direito associados aos cuidados de saúde. Atua como um
recurso para os indivíduos, para as famílias e para as comunidades que enfrentam desafios
colocados pela saúde, pela deficiência e pela morte. Apresenta a informação de forma clara
e sucinta. Interpreta, de forma adequada, os dados objetivos e subjetivos, bem como os
seus significados, tendo em vista uma prestação de cuidados segura. Demonstra
compreender os planos de emergência para situações de catástrofes.

2. Contribuí para a promoção da saúde


- Descritivo: O enfermeiro mobiliza os seus conhecimentos técnico-científicos na definição
de diagnósticos de situação, no estabelecimento de planos de ação atendendo às políticas
de saúde e sociais, bem como os recursos disponíveis no contexto em que está inserido. O
enfermeiro no âmbito da educação para a saúde, dota os cidadãos de conhecimentos,
capacidades, atitudes e valores que os ajudem a fazer opções e a tomar decisões adequadas
ao seu projeto de saúde.
- Critérios: Demonstra compreender as políticas de saúde e sociais. Trabalha em
colaboração com outros profissionais e com outras comunidades. Vê o indivíduo, a família e
a comunidade numa perspetiva holística que tem em conta as múltiplas determinantes da
saúde. Participa nas iniciativas de promoção de saúde e prevenção da doença, contribuindo
para a sua avaliação. Aplica conhecimentos sobre recursos existentes para a promoção e
educação para a saúde. Atua de forma a dar poder ao indivíduo, à família e à comunidade,
para adotarem estilos de vida saudáveis. Fornece informação de saúde relevante para
ajudar os indivíduos, a família e a comunidade a atingirem os níveis ótimos de saúde e de
reabilitação. Demonstra compreender as práticas tradicionais dos sistemas de crenças sobre
a saúde dos indivíduos, das famílias ou das comunidades. Proporciona apoio/educação no
desenvolvimento e/ou na manutenção das capacidades para uma vivência independente.
Reconhece o potencial da educação para a saúde nas intervenções de Enfermagem. Aplica o
conhecimento sobre estratégias de ensino e de aprendizagem nas interações com os
indivíduos, as famílias e as comunidades. Avalia a aprendizagem e a compreensão acerca
das práticas de saúde.

3. Utiliza o Processo de Enfermagem


- Descritivo: O enfermeiro diagnostica e prioriza os problemas, procurando recolher e
analisar os dados mais relevantes que lhe permitem estabelecer objetivos e um plano de
cuidados fundamentado no e para o qual assume a parceria efetiva do cliente/cuidadores.
Cria momentos de avaliação em todo o processo e procede às respetivas alterações sempre
que considera necessário, visando a qualidade dos cuidados.
- Critérios: Efetua, de forma sistemática, uma apreciação sobre os dados relevantes para a
conceção dos cuidados de Enfermagem. Analisa, interpreta e documenta os dados com
exatidão. Formula um plano de cuidados, sempre que possível, em colaboração com os
clientes e/ou cuidadores. Consulta membros relevantes da equipa de cuidados de saúde e
sociais. Garante que o cliente e/ou os cuidadores recebem e compreendem a informação na
qual baseiam o consentimento dos cuidados. Estabelece prioridades para os cuidados,
sempre que possível, em colaboração com os clientes e/ou cuidadores. Identifica resultados
Fundamentos de Enfermagem I
esperados e o intervalo de tempo para serem atingidos e/ou revistos, em colaboração com
os clientes e/ou cuidadores. Revê e reformula o plano de cuidados regularmente, sempre
que possível, em colaboração com os clientes e/ou cuidadores. Documenta o processo de
cuidados. Implementa os cuidados de Enfermagem planeados para atingir resultados
esperados. Pratica Enfermagem de uma forma que respeita os limites de uma relação
profissional com o cliente. Documenta a implementação das intervenções. Responde
eficazmente em situações inesperadas ou em situações que se alteram rapidamente, em
emergências ou catástrofe. Avalia e documenta a evolução, no sentido dos resultados
esperados. Colabora com os clientes e/ou com os cuidadores na revisão dos progressos, face
aos resultados esperados. Utiliza os dados da avaliação para alterar o planeamento dos
cuidados.

4. Estabelece comunicação e relações interpessoais eficazes


- Descritivo: O enfermeiro estabelece relações terapêuticas com o cliente, através da
utilização de comunicação apropriada e capacidades interpessoais.
- Critérios: Inicia, desenvolve e suspende relações terapêuticas com o cliente e/ou
cuidadores, através da utilização de comunicação apropriada e capacidades interpessoais.
Comunica com consistência informação relevante, correta e compreensível, sobre o estado
de saúde do cliente, de forma oral, escrita e eletrónica, no respeito pela sua área de
competência. Assegura que a informação dada ao cliente é apresentada de forma
apropriada e clara. Responde apropriadamente às questões, solicitações e aos problemas
dos clientes, no respeito pela sua área de competência. Comunica com o cliente e/ou
familiares, de forma a dar-lhes poder de decisão. Utiliza a tecnologia de informação
disponível, de forma eficaz e apropriada. Demonstra atenção sobre os
desenvolvimentos/aplicações locais, no campo das tecnologias da saúde.

5. Promove um ambiente seguro


- Descritivo: O enfermeiro focaliza a sua intervenção na complexa interdependência
pessoa/ambiente, procurando conhecer com acuidade o seu campo de ação, utilizando
estratégias de garantia da qualidade e de gestão do risco.
- Critérios: Cria e mantém um ambiente de cuidados seguro, através da utilização de
estratégias de garantia da qualidade e de gestão do risco. Utiliza instrumentos de avaliação
adequados para identificar riscos reais e potenciais. Garante a segurança da administração
de substâncias terapêuticas. Implementa procedimentos de controlo de infeção. Regista e
comunica à autoridade competente as preocupações relativas à segurança.

6. Promove cuidados de saúde interprofissionais


- Descritivo: O enfermeiro assume o seu papel de interlocutor privilegiado da equipa
pluriprofissional estando no centro dos cuidados com o cliente/cuidadores, com estratégias
de articulação assentes numa comunicação eficaz e que permitem a elaboração e execução
de planos de cuidados nos quais participa de forma contínua e sistemática.
- Critérios: Aplica o conhecimento sobre práticas de trabalho interprofissional eficazes.
Estabelece e mantém relações de trabalho construtivas com enfermeiros e restante equipa.
Contribui para um trabalho de equipa multidisciplinar e eficaz, mantendo relações de
Fundamentos de Enfermagem I
colaboração. Valoriza os papéis e as capacidades de todos os membros da equipa de saúde
e social. Participa com os membros da equipa de saúde na tomada de decisão respeitante
ao cliente. Revê e avalia os cuidados com os membros da equipa de saúde. Tem em conta a
perspetiva dos clientes e/ou cuidadores na tomada de decisão pela equipa interprofissional.

7. Delega e supervisiona tarefas


- Descritivo: O enfermeiro avalia a necessidade e o tipo de cuidados a prestar ao cliente, e
na priorização dos mesmos, assume a delegação de tarefas e a respetiva supervisão a
pessoal funcionalmente dependente de si, mantendo total responsabilidade pelos cuidados
prestados.
- Critérios: Delega noutros, atividades proporcionais às suas capacidades e ao seu âmbito de
prática. Utiliza uma série de estratégias de suporte quando supervisa aspetos dos cuidados
delegados a outro. Mantém responsabilidade quando delega aspetos dos cuidados noutros.

Domínio da prestação e gestão de cuidados


Competências:
1. Contribui para a valorização profissional
- Descritivo: O enfermeiro assume o seu papel imprescindível nos cuidados de saúde aos
cidadãos, criando e dando visibilidade ao seu espaço no trabalho pluriprofissional,
assumindo a liderança dos processos sempre que for o profissional melhor colocado para tal
- Critérios: Promove e mantém a imagem profissional da Enfermagem. Defende o direito de
participar no desenvolvimento das políticas de saúde e no planeamento dos programas.
Contribui para o desenvolvimento da prática de Enfermagem. Valoriza a investigação como
contributo para o desenvolvimento da Enfermagem e como meio para o aperfeiçoamento
dos padrões de qualidade dos cuidados. Atua como um modelo efetivo. Assume
responsabilidades de liderança quando for relevante para a prática dos cuidados de
Enfermagem e dos cuidados de saúde.

2. Contribui para a melhoria contínua da qualidade dos cuidados de Enfermagem


- Descritivo: O enfermeiro participa em programas de melhoria da qualidade, atuando
simultaneamente como promotor e executor dos processos, mobilizando e divulgando
continuamente novos conhecimentos sobre boas práticas.
- Critérios: Utiliza indicadores válidos na avaliação da qualidade de Enfermagem. Participa
em programas de melhoria contínua da qualidade e procedimentos de garantia da
qualidade.

3. Desenvolve processos de formação contínua


- Descritivo: O enfermeiro adota uma atitude reflexiva sobre as suas práticas, identificando
áreas de maior necessidade de formação, procurando manter-se na vanguarda da qualidade
dos cuidados num aperfeiçoamento contínuo das suas práticas.
- Critérios: Leva a efeito uma revisão regular das suas práticas. Assume responsabilidade
pela aprendizagem ao longo da vida e pela manutenção e aperfeiçoamento das
Fundamentos de Enfermagem I
competências. Atua no sentido de ir ao encontro das suas necessidades de formação
contínua. Contribui para a formação e para o desenvolvimento profissional de estudantes e
colegas. Atua como um mentor/tutor eficaz. Aproveita as oportunidades de aprender em
conjunto com os outros, contribuindo para os cuidados de saúde.

Teorias do Desenvolvimento das Ciências


Conceitos
Ciência – corpo de conhecimentos sistematizados adquiridos via observação, identificação,
pesquisa e explicação de determinadas categorias de especificidades. Além disso a ciência é
caracterizada por uma abordagem metódica e racional na formulação de teorias e na realização de
experimentos para testar essas teorias.
Filosofia – amor pela sabedoria, experimentando apenas pelo ser humano consciente de sua
própria ignorância. No platonismo, investigação da dimensão essencial e ontológica do mundo real,
ultrapassando a opinião irrefletida do senso comum que se mantém cativa da realidade empírica e
das aparências sensíveis.
Ciência X Disciplina – a ciência concentra-se no conhecimento científico, enquanto a disciplina
também inclui o conhecimento não científico. A ciência é objetiva. A disciplina também inclui o que
não é verificável e, por isso, o seu caráter é subjetivo. A ciência parte de um método sistematizados
e ordenado que busca explicar a realidade. A disciplina é aplicada a um ramo do conhecimento e
busca aprender um método.
Ontologia – segundo o aristotelismo, parte da filosofia que tem por objeto o estudo das
propriedades mais gerais do ser, apartada da infinidade de determinações que, ao qualificá-lo
particularmente, ocultam sua natureza plena e integral. No heideggerianismo, reflexão a respeito
do sentido abrangente do ser, como aquilo que torna possível as múltiplas existências (opõe-se à
tradução metafísica que, em sua orientação teológica, teria transformado o ser geral num mero
ente com atributos divinos).
Epistemologia – reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano,
espelhado nas relações que se estabelecem entre o sujeito que questiona e o objeto inerente, as
duas polaridades tradicionais do processo cognitivo - teoria do conhecimento. Estudos dos
postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico, ou das teorias e
práticas em geral, avaliados em sua validade cognitiva, ou descritas em suas trajetórias evolutivas,
seus paradigmas estruturais ou suas relações com a sociedade e a história – teoria da ciência.

Teoria da Revolução (Kuhn, T.)


→ Crítica ao positivismo lógico
O Positivismo lógico defende que a produção de conhecimento científico começa com a
observação neutra, dá-se por indução, é acumulativa e linear. O conhecimento científico daí obtido
é definitivo.
Fundamentos de Enfermagem I
Kuhn acreditava que a observação era antecedida por teorias, e, portanto, não era neutra, pois era
no entanto influenciada por pressupostos teóricos que moldam a maneira como os cientistas veem
e interpretam o mundo → inseparabilidade entre a observação e os pressupostos teóricos
Já Ostermann, F. acreditava que não existia uma justificação lógica para o método indutivo e
reconhecia assim o carácter construtivo, inventivo e não definitivo do conhecimento. Esta posição,
mais tarde, configurar-se-á como o que existe de consenso entre os filósofos contemporâneos da
ciência.
Atualmente, existem muitos modelos de desenvolvimento científico diferentes, tendo todos em
comum uma oposição à postura empirística-indutiva, oferecendo perspetivas alternativas sobre o
modo como a ciência avança.
→ Modelo de Desenvolvimento de Kuhn
Para Kuhn a ciência segue o seguinte modelo de desenvolvimento: uma sequência de períodos de
ciência normal, nos quais a comunidade de pesquisadores adere a um paradigma, interrompidos
por revoluções científicas (ciência extraordinária). Os episódios extraordinários são marcados por
anomalias/crises no paradigma dominante, culminando com a sua rutura.
(Período de ciência normal regidos por um determinado paradigma são interrompidos por
revoluções científicas que levam à decadência do paradigma anterior, iniciando outro paradigma
num posterior período de ciência normal)
→ Conceitos Chave para o Modelo de Desenvolvimento de Kuhn
- Ciência Normal: É a tentativa de forçar a natureza a encaixar-se dentro dos limites pré-
estabelecidos e relativamente inflexíveis fornecidos pelo paradigma, ou seja, modelar a
solução de novos problemas segundo os problemas exemplares. A pesquisa científica
normal está dirigida para a articulação daqueles fenômenos e teorias já fornecidos pelo
paradigma. A ciência normal restringe drasticamente a visão do cientista, pois as áreas
investigadas são certamente minúsculas. Mas essas restrições, nascidas da confiança no
paradigma, revelam-se essenciais para o desenvolvimento científico.
- Revolução Científica / Ciência extraordinária: período histórico de transformações
significativas na compreensão do mundo natural / ciência normal, marcando uma transição
de paradigmas científicos antigos para novas abordagens e conceções.
- Incomensurabilidade: descreve a natureza das mudanças de paradigma durante a
revolução científica. sugere que teorias científicas em diferentes etapas de desenvolvimento
podem ser tão distintas e incompatíveis entre si que não podem ser completamente
comparadas ou traduzidas uma na outra de maneira direta, ou seja, defensores de
diferentes paradigmas podem ter dificuldades em se entender mutuamente uma vez que
operam em estruturas conceituais distintas.
- Paradigma: O termo paradigma possuí um sentido geral e um sentido restrito (para Kuhn).
Na ciência e na filosofia, um paradigma é um conjunto distinto de conceitos ou padrões de
pensamento, incluindo teorias, métodos de pesquisa, postulados e padrões para que
constituem contribuições legítimas para um campo. A palavra “paradigma” é de origem
grega e significa “padrão”, sendo usada para ilustrar ocorrências semelhantes. Para Kuhn
Fundamentos de Enfermagem I
designa todo o conjunto de compromissos de pesquisas de uma comunidade científica
(constelação de crenças, valores técnicas partilhadas pelos membros de uma determinada
comunidade) – Matriz Disciplinar.

→ Matriz Disciplinar proposta por Kuhn (1996)


Os elementos que compõem a matriz disciplinar são:
- As generalizações simbólicas que se assemelham a leis da natureza. Algumas vezes, são
encontradas sob a forma simbólica (por exemplo: F=m.a) outras vezes, são expressas em palavras
(por exemplo: a uma ação corresponde uma reação igual e contrária).
- A crença compartilhada sobre a validade de certas afirmações: são modelos ontológicos ou
heurísticos que fornecem as metáforas e as analogias aceitáveis (por exemplo: as moléculas de um
gás comportam-se como pequenas bolas de bilhar elásticas movendo-se ao acaso).
- Valores que podem variara de indivíduo para indivíduo: são valores aos quais todos os cientistas
aderem – predições devem ser acuradas; predições quantitativas são preferíveis às qualitativas;
qualquer que seja a margem de erro permissível, esta deve ser respeitada regularmente numa área
dada. Existem também valores que devem ser usados para julgar teorias completas: devem ser
simples, dotadas de coerência interna, plausíveis, compatíveis com outras teorias disseminadas no
momento.
- Exemplos compartilhados de soluções para problemas comuns que são referências comuns e
regularmente mobilizados pelo coletivo.

→ Matriz Disciplinar da Enfermagem


Fundamentos de Enfermagem I
Epistemologia Evolucionista de Stephen Toulmin
- O problema da compreensão humana é duplo. O homem conhece e é consciente ao mesmo
tempo de que conhece. Adquirimos, possuímos e fazemos uso do conhecimento, mas ao mesmo
tempo somos conscientes da nossa própria atividade como sujeitos cognitivos → Além de
simplesmente processar informações, os seres humanos têm a capacidade única de refletir sobre
seu próprio pensamento e conhecimento.
- Toulmin, Popper, Kunh, Lakatos, Feyerabend, entre outros, criticam a conceção positivista sobre a
natureza da ciência.
- A complexidade da análise epistemológica proposta por Toulmin manifesta-se principalmente na
aplicação do conceito de ecologia conceitual na evolução dos conceitos.
- A questão básica sobre a compreensão humana que Toulmin levanta é a seguinte: como podemos
conciliar a necessidade de imparcialidade na avaliação do conhecimento tendo em vista o fato
histórico e psicossocial da enorme diversidade de normas racionais aceitas nos diferentes meios
sociais e culturais?

Conhecimento de Enfermagem
O que é uma ciência? O que é um conhecimento?
O conhecimento científico é o único “tipo” de conhecimento aceite pela comunidade científica.
Utiliza-se o método científico para a aquisição deste conhecimento.
O conhecimento, do latim cognoscere – ato de conhecer, é uma preposição verdadeira que
descreve um fenómeno ou realidade. A realidade é vista do mundo de acordo com a visão ou
perceção ou capacidade para ver essa realidade, isto é, de acordo com o “paradigma” em que nos
situamos. Até ao século quinze a realidade era explicada a partir da experiência sensorial e com
base em crenças.
Uma ciência é um sistema de conhecimento que busca compreender o mundo por meio da
observação, experimentação e análise lógica. Ela baseia-se em métodos sistemáticos e rigorosos
para investigar fenômenos naturais, sociais e até mesmo artificiais. A ciência visa explicar padrões,
formular leis, prever eventos e, assim, aumentar nosso entendimento do universo.
Qual a diferença entre saberes e conhecimentos?
- O conhecimento é uma representação do saber que é coletivamente partilhado, julgado por
padrões e critérios de verdade e partilhado pela comunidade científica. É um termo amplo que
abrange uma variedade de entendimentos e habilidades – saberes (conhecimentos mais
específicos relacionados a práticas).
- A passagem de padrões de saber a padrões de conhecimento depende de um processo de
nomeação, de partilha e de sujeição dos sabres pessoais a critérios aceites por uma comunidade
científica.
Fundamentos de Enfermagem I

Definições de ambos os conceitos


Conhecimento: Refere-se ao entendimento e à consciência adquiridos por meio da experiência,
estudo ou treinamento. Pode abranger informações, fatos, teorias, habilidades e compreensões
sobre diversos temas. É mais amplo e pode ser aplicado a diferentes campos, como ciência,
cultura, filosofia, entre outros. Pode ser explícito, como dados e fatos concretos, ou tácito,
incorporado em habilidades práticas e experiências.
Saberes: Frequentemente se refere a um tipo específico de conhecimento relacionado a
práticas, tradições e experiências culturais. Pode incluir conhecimentos tradicionais transmitidos
oralmente, habilidades práticas e compreensões profundas de aspetos específicos da vida.
Muitas vezes, está associado a conhecimentos mais situacionais, contextuais ou subjetivos.

O que é uma disciplina? Que tipos de disciplina existem?


Uma disciplina pode ser definida como uma perspetiva única, uma forma distinta de olhar os
fenómenos, a qual define os limites – teóricos e práticos, e a natureza da sua investigação.
Existem dois tipos de disciplina: disciplinas teóricas (física, história) e disciplinas práticas ou
profissionais (medicina, direito, educação, enfermagem).

As disciplinas práticas são disciplinas orientadas para a prática profissional e seguindo a sua
perspetiva única e os seus processos próprios de análise, concetualização e investigação, tem
por objetivo desenvolver o conhecimento que servirá para definir e orientar a prática
profissional.
A enfermagem é uma disciplina prática que, dada a sua natureza (prática), precisa da profissão
para se desenvolver e vice-versa.
A enfermagem é uma disciplina? Porquê?
Para Meleis, a enfermagem é uma disciplina porque ela inclui as teorias desenvolvidas para
descrever, explicar e prescrever bem como os resultados da investigação relacionados com os
fenómenos centrais da disciplina e o conhecimento de disciplinas relacionadas.
O domínio de enfermagem, a sua essência, é dotada de elementos de estabilidade:
1. Os conceitos centrais e os problemas da sua esfera de atividades;
(Refere-se aos temas e questões fundamentais que são essenciais para a enfermagem.
Conceitos centrais relacionados ao cuidado, à promoção da saúde, à prevenção de doenças e
ao apoio ao paciente)
2. O processo de avaliação, diagnóstico e intervenção;
(Envolve as fases fundamentais do trabalho do enfermeiro, incluindo a avaliação da condição do
paciente, o diagnóstico de problemas de saúde, e a intervenção para promover a saúde e tratar
as condições existentes)
3. Os instrumentos para avaliação, diagnóstico e intervenção.
Fundamentos de Enfermagem I
(Refere-se às ferramentas, técnicas e abordagens utilizadas pelos profissionais de enfermagem
para realizar avaliações, diagnosticar problemas de saúde e implementar intervenções.
Protocolos clínicos, escalas de avaliação, etc.)
Características da Ciência de Enfermagem:
1. É uma ciência humana;
(Na medida em que o seu foco principal está na interação entre o enfermeiro e a pessoa.
Envolve compreensão das dimensões físicas, emocionais, sociais e espirituais do ser humano.
Reconhece a singularidade de cada paciente e a importância de considerar o contexto cultural e
social em que o cuidado é fornecido.)
2. É uma ciência prática;
(A enfermagem é uma ciência prática porque vai além da teoria e envolve a aplicação de
conhecimentos na prática clínica. Os enfermeiros utilizam habilidades práticas para realizar
procedimentos, administrar cuidados diretos aos pacientes, e tomar decisões clínicas em
ambientes de saúde diversos.)
3. Foca-se na relação de cuidado entre o enfermeiro e a pessoa;
(Este foco é central na enfermagem. Envolve estabelecer uma comunicação eficaz, construir
empatia, e garantir que as necessidades físicas, emocionais e sociais do paciente sejam
atendidas. A enfermagem não se limita apenas à prestação de cuidados físicos, mas também
inclui aspetos relacionados ao apoio emocional e à promoção do bem-estar geral.)
4. É uma disciplina orientada para a saúde.
(A enfermagem é uma disciplina que se concentra na promoção da saúde e na prevenção de
doenças. Os enfermeiros desempenham um papel fundamental na educação em saúde, na
promoção de estilos de vida saudáveis e na prevenção de complicações.)
Estas características são fundamentais para compreender o âmbito desta disciplina e a natureza
holística e integrada da ciência de enfermagem que vai além da simples aplicação de técnicas
médicas, incorporando aspetos humanos, práticos e de cuidado.
Do Conhecimento ao Saber de Enfermagem

Dados: São os fatos brutos ou


informações não processadas.
Sabedoria
Informação: Refere-se aos dados
Conhecimento organizados e contextualizados de
maneira significativa.
Imformação Conhecimento: Surge quando a
informação é compreendida e
relacionada a conceitos pré-existentes.
Dados
Sabedoria: Envolve a capacidade de
aplicar o conhecimento de maneira ética
e eficaz em situações práticas.
Fundamentos de Enfermagem I
Qual o Saber de Enfermagem?
Existem quatro tipos de saberes de enfermagem:
1. Saber Empírico
2. Saber Ético
3. Saber Pessoal
4. Saber Estético
→ Saber Empírico ou Ciência de Enfermagem (Empírico – que é baseado na experiência)
Está relacionado com as ideias tradicionais de ciência: a realidade é algo conhecível pela
observação;
Engloba o saber dos enfermeiros competentes, que agem, prestam cuidados fundamentados na
teoria. O enfermeiro utiliza um raciocínio logico e tem capacidade de resolução de problemas
concretos a partir de conhecimentos científicos.
Expressa-se na prática através da competência científica dos enfermeiros;
É um saber verificável, objetivo, factual, observável, passível de medir, baseado na investigação -
decorre das teorias desenvolvidas - descrição, explicação, predição dos fenómenos de enfermagem
e prescrição de intervenções.
O saber empírico na enfermagem está relacionado à capacidade de resolver problemas concretos.
Este processo designado por “Processo de Enfermagem” é traduzido por meio de três etapas:
1. Necessidades não-satisfeitas das pessoas – diagnósticos de enfermagem;
2. As repostas a essas necessidades – intervenções de enfermagem;
3. A avaliação da efetividade destas intervenções após a sua implementação – resultados de
enfermagem
Como é que os Enfermeiros adquirem a Competência Científica Útil para as suas
Práticas Clínicas?
Os enfermeiros adquirem a competência científica útil para a prática clínica por meio de um
processo contínuo de educação e formação. A competência científica na enfermagem envolve o
desenvolvimento de um conhecimento disciplinar específico da área, da enfermagem
Fundamentos de Enfermagem I

• Distingue a enfermagem das restantes disciplinas do


conhecimento
• Pelo objeto de estudo, teorias e conceitos próprios que estão em
permanente processo de discussão e evolução face às novas descobertas
por via da investigação;
Conhecimento • Pela utilização de uma linguagem própria;
disciplinar da • Pela utilização de diferentes metodologias de investigação;
Enfermagem • Pela existência de pessoas qualificadas para discutir as (novas) ideias e
espaços próprios de discussão (academia) que permita a organização,
estabilidade e continuidade na evolução do conhecimento;
• Pela capacidade em conseguir encontrar respostas aos (novos)
problemas que vão surgindo ao longo do tempo, por via de novos
conceitos e novas teorias;
• Pela existência de revistas especializadas no domínio da enfermagem.

→ Saber Ético ou Componente Moral da Enfermagem


- A ética é a dimensão basilar da enfermagem: os cuidados ocorrem num contexto de interação
entre duas pessoas que deverá sempre ser entendida e conduzida por princípios ético-morais.
O enfermeiro precisa a cada momento de fazer julgamentos e decidir com base nos princípios de
justiça e de verdade, para tomar as decisões eticamente mais corretas.
O saber ético não é um dado adquirido e imutável, resulta de um processo continuo de procura de
saber a partir da reflexão critica dos cuidados que presta. Este saber manifesta-se e deve continuar
a manifestar-se nos comportamentos dos enfermeiros, pois é considerado um pré-requisito para a
prestação de cuidados.
O enfermeiro deve tomar decisões clínicas baseadas em princípios de justiça e equidade. Deve
também desenvolver este saber intencionalmente realizando uma reflexão critica e sistemática
sobre os cuidados que presta. Os seus comportamentos são avaliados pelas pessoas de quem
cuidam e observados pelos pares (restantes elementos da equipa de saúde).
A enfermagem possuí um Código Deontológico que é comum a todos os enfermeiros portugueses,
que se baseia neste saber ético e deve ser respeitado por todos os enfermeiros.
→ Saber Pessoal em Enfermagem
Compreende a experiência interior de tomar-se um todo, um “eu” consciente, pois só através do
conhecimento de si é possível conhecer outro ser como pessoa.
O desenvolvimento do saber pessoal resulta da atividade construtiva do próprio, ou seja, resulta
das interações que decidir estabelecer com os outros e com o meio envolvente e da sua
capacidade de refletir sobre as mesmas (interações) procurando os significados que estas tem par
si próprio. A autoconsciência é considerada fundamental para a compreensão profunda do
cuidado.
O conhecimento pessoal é expresso pela existência da pessoa, profissional de enfermagem. O
enfermeiro, ao conhecer-se, conhece-se no outro – elemento essencial do cuidado humano.
Fundamentos de Enfermagem I
Deste modo o saber pessoal é a capacidade que cada enfermeiro tem de se conhecer a si próprio,
sabedoria pessoal, conhecimento subjetivo. O saber pessoal é a natureza específica da relação de
cuidados, interação enfermeiro - pessoa → cada enfermeiro usa o seu “eu” como instrumento
terapêutico, para avaliar as condições de saúde das outras pessoas. Esta abordagem individualizada
e centrada na pessoa é fundamental na avaliação das condições de saúde dos pacientes.
→ Saber Estético ou a Arte de Enfermagem
O saber estético é a compreensão do significado, de forma única e subjetiva, da relação de cuidado
ao outro, o cuidado que é a relação entre duas subjetividades (o enfermeiro e o paciente). O
cuidado é uma experiência humana extrema, de grande significado para todos os que nela
participam, reconhece a importância emocional e pessoal da relação de cuidado na enfermagem.
O cuidado vai além de simples procedimentos técnicos e envolve uma expressão única de
compaixão, empatia e criatividade por parte dos enfermeiros, é uma ciência humana prática. O
cuidado de enfermagem é artístico em si mesmo porque é criativo por natureza, é único.
➔ Como se articulam estes quatro Saberes?
Sabemos que a enfermagem é constituída por um conjunto de saberes (empírico, ético, pessoal
e estético) que se originam na prática e aí mesmo se recriam em cada cuidado. Ou seja, os
saberes provem da prática e sempre que dispostos com um problema/situação diferente
rearranjam-se e articulam-se de forma diferente para que sejam prestados os melhores
cuidados de enfermagem possíveis.
O que é a prática?
Para Aristóteles a atividade humana era dividida em três áreas: theoria, poiesis e praxis e cada uma
destas atividades implicava formas de conhecimento diferentes:
⎯ A Theoria estava relacionada com o conhecimento teórico;
⎯ A Praxis com o conhecimento prático;
⎯ A Poiesis com o conhecimento artístico.
Para MacIntyre, A. a expressão “prática” significa: qualquer atividade humana cooperativa,
coerente, complexa e socialmente estabelecida. Todas as atividades humanas com estas
características possuem bens internos (virtudes) que são realizados na tentativa de se alcançarem
os padrões de excelência apropriados e definidos para essa forma de atividade.

Há habitualmente alguma distância entre teoria e prática….


A enfermagem evoluiu a partir do olhar de forma diferente para as competências práticas, os
saberes da experiência, os saberes informais, as habilidades adquiridas na ação e pela ação, os
saberes da ação ou os saberes relativos à transformação do real. São estes novos saberes que, ao
integrarem o corpo de conhecimentos da disciplina dão corpo e sentido àquilo que alguns teóricos
designam como disciplinas-práticas.
Fundamentos de Enfermagem I
→ Em que consistem estes saberes?
Os "novos saberes" na enfermagem englobam uma variedade de conhecimentos que vão além das
competências práticas tradicionais.
O exercício de uma atividade profissional exige aos seus atores uma atitude que lhes permita, em
cada momento, responder às solicitações, sempre diferentes, que a realidade com que lidam lhes
coloca. A esta capacidade de responder de modo complexo e dinâmico, vários autores chamam de
competência.
Segundo Manuel Lopes o que a competência tem de interessante é que:
1. Só existe na prática, portanto em contexto;
2. É fruto da atividade construtiva do sujeito em interação consigo próprio e com os que o
rodeiam;
3. É resultado da relação entre diferentes saberes, de natureza diversa;
4. Os próprios atores podem não ter consciência plena de alguns desses saberes.
Estrutura Concetual da Disciplina
Para Meleis uma disciplina pode ser definida como uma forma distinta de olhar os fenómenos, a
qual define os limites e a natureza da sua investigação.
A disciplina de enfermagem inclui:
- Os conteúdos e os processos relacionados com todos os papeis que o enfermeiro desenvolve;
- As teorias desenvolvidas para descrever, explicar e prescrever, bem como os resultados da
investigação relacionados com os fenómenos centrais da disciplina e o conhecimento de disciplinas
relacionadas.
De acordo com Meleis os conceitos centrais de Enfermagem são: Cliente, Transição, Interação,
Processo de Enfermagem, Intervenções Terapêuticas, Ambiente, Saúde.

O foco da Enfermagem é a “facilitação dos processos de transição, no sentido de o


cliente alcançar uma maior sensação de bem-estar”

Correntes de Pensamento/ Paradigmas em Enfermagem

Evolução da enfermagem como ciência

Período pré-paradigmático Período paradigmático


A enfermagem não é uma A enfermagem passa a ser
ciência. considerada uma ciência.
Fundamentos de Enfermagem I

Período Paradigmático
Diz respeito à disciplina/profissão com objeto e técnicas definidas, realizando investigação
científica e produzindo conhecimento.
Durante o período paradigmático a enfermagem passou do cuidado técnico ao cuidado profissional
científico.
Cuidado técnico: identificação da prática de cuidados com a mulher enfermeira auxiliar do médico;
Cuidado profissional científico: corpo de conhecimento próprio. Conceitos fundamentais: saúde,
ser humano, meio ambiente, cuidados de enfermagem. Formação teórica de enfermeiros.
Metodologia racional e lógica como processo de enfermagem. Investigação em enfermagem.
Surgimento de escola.
Suzanne Kérouac
O desenvolvimento do conhecimento em enfermagem deu-se a par da evolução histórica e dos
cotextos sociais. Inspirada nos trabalhos de Newman, B., identificou três paradigmas que teráo
condicionado a concetualização da enfermagem:
- Paradigma da Categorização;
- Paradigma da Integração;
- Paradigma da Transformação.
→ Paradigma da Categorização
O paradigma da categorização divide todos os fenómenos em categorias, classes ou grupos
definidos. Os fenómenos, por sua vez, são considerados elementos isolados ou manifestações
simplificáveis, sendo descritos e analisados independentemente do contexto.
Todas as mudanças que ocorrem num fenómeno ocorrem na sequência de condições previas, ou
seja, em condições que devem ser atendidas para se dar essa alteração.
O resultado desta mudança está ligado ao anterior por relações lineares ou causais. Os resultados
possuem características bem definidas e mensuráveis (tem capacidade de serem medidos), podem
ser ordenados entre si, por relações definidas no tempo e de relação. São previsíveis.
Relativamente à enfermagem este paradigma possuí duas orientações diferentes:
→ Orientação para a saúde pública (atenção às condições de salubridade e ambientes clínicos):
- O cliente é o grupo/população;
- O ambiente é, regra geral, hostil para o ser humano-constituído pelo espaço físico, cultural
e social onde o individuo vive;
- A saúde é sinonimo de ausência de doença, um estado de equilíbrio;
- Os enfermeiros ocupam-se com o controlo das causas de doença, estudo epidemiológicos.
→ Orientação para a doença:
- A pessoa é entendida como a soma das partes, identificáveis;
Fundamentos de Enfermagem I
- O ambiente é, regra geral, hostil para o ser humano-constituído por uma dimensão física, cultural
e social;
- A saúde é sinonimo de ausência de doença, um estado de equilíbrio;
- Os cuidados de enfermagem são orientados para o controlo da doença, problemas ou
incapacidades; as enfermeiras substituem o doente.
→ Paradigma da Integração
Segundo o paradigma da integração, os cuidados de enfermagem tem como objetivo, manter a
saúde da pessoa, em todas as suas dimensões.
Nesta época a enfermeira era responsável por avaliar as necessidades da pessoa tendo em conta a
sua perceção e a sua globalidade. O processo de cuidados passava por agir com a pessoa para dar
resposta às suas necessidades.
A maioria das conceções teóricas emergiram a partir da orientação para a pessoa – início da
construção de modelos teóricos de enfermagem.
Deu-se o início da organização do trabalho dos enfermeiros por equipas. Todas as enfermeiras
tinham formação e ocupavam-se essencialmente com atos delegados pelos médicos.
A pessoa* – é um ser bio-psico-socio-cultural e espiritual, podendo influenciar os fatores
determinantes da sua saúde se se tiver em conta o contexto.
A Saúde – entidade distinta da doença é uma entidade dinâmica.
O ambiente* – constituído por diversos contextos (histórico, social e político) onde a pessoa vive e
se insere.

*As interações entre o ambiente e a pessoa ocorrem sob a forma de estímulos positivos ou
negativos e de reações de adaptação. Estas interações são circulares.
Dá continuidade ao paradigma anterior, na medida em que os fenómenos são entendidos como
multidimensionais e o contexto já integra a explicação do fenómeno. As “mudanças” são
entendidas como resultado de múltiplos fatores (desenvolvimento das ciências sociais e humanas:
ser humano no centro da sociedade). Dá-se a mesma valorização aos dados objetivos como aos
dados subjetivos.
→ Paradigma da Transformação
Aparece na sequência da abertura das fronteiras e da relação económica ocidente/oriente. Na
conferência de Alma Ata foi reconhecida a capacidade da pessoa de participar nas decisões da sua
saúde.
Este paradigma perspetiva os fenómenos como únicos e em interação com o que os rodeia.
Representa a base da abertura da enfermagem ao mundo. As mudanças ocorrem por estádios de
organização e desorganização, mas sempre em direção a níveis de organização superior.
Segundo o paradigma da transformação, os cuidados de enfermagem:
- Visam manter o bem-estar tal como a pessoa o define;
Fundamentos de Enfermagem I
- A enfermeira coloca ao dispor de cada pessoa os seus conhecimentos e acompanha-a nas suas
experiências de saúde, no seu ritmo e segundo o caminho que ela própria escolher;
- Intervir significa ser com a pessoa;
- A enfermeira e a pessoa são parceiras nos cuidados;
- A enfermeira coresponsabiliza-se com a pessoa no processo de cuidados.
➔ A pessoa:
- É um todo indissociável e maior do que a soma das suas partes;
- É um ser com carácter único em relação a si próprio e ao universo;
- A pessoa evolui na procura da qualidade de vida que ela define de acordo com as suas
capacidades, potencialidades e prioridades.
➔ A saúde:
- É um valor e uma experiência vivida segundo a perspetiva de cada pessoa;
- Esta experiência é marcada pelo bem-estar e a realização do potencial de criação individual
(a experiência de doença faz parte desta experiência)
➔ O ambiente:
- Compreende o conjunto de todo o universo, sendo que a pessoa é parte integrante deste
ambiente – embora distinto ele coexiste com a pessoa;
- Pessoa e ambiente estão em constante mudança, mútua e simultânea.
→ Quadro Resumo

Você também pode gostar