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EPA e DHA: eficácia terapêutica do ômega 3 em pequenos animais-

REVISÃO
Franciele Monteiro do Amaral1

Paloma Cristina Santos Carvalho2

Paula Cambraia Marinho Magalhães3

RESUMO
O aumento da expectativa de vida dos animais de companhia vem sendo
constantemente estudada. E medicina veterinária preventiva, desde da neonatologia
a geriatria implica a utilização de terapias auxiliares no combate e tratamento de
doenças crônicas, onde não é mais aceito somente o medicamentoso, mas sim um
conjunto de ações de várias áreas sendo a nutrição uma das de destaque para
tratamento e prevenção das enfermidades. O objetivo desta revisão de literatura, além
de elucidar o conceito de ácidos graxos poli insaturados de cadeia longa (PUFAs) em
específico o ômega 3 (ω-3), que é classificado como um nutracêutico e pontuar as
diferenças com alimentos funcionais, é demonstrar aplicação clínica dos compostos
do ômega 3 como o ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA)
que além de possuir propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes demonstram a
necessidade de mais estudos para elucidar as aplicações práticas na clínica nas áreas
cardiologia, neurologia, dermatologia, ortopedia e na oncologia

Palavras-chave: Ácidos graxos. Antioxidante. Nutracêutico. Tratamento.

1. INTRODUÇÃO

A longevidade dos animais de companhia como cães e gatos se estende nas


preocupações dos seus proprietários (OLIVEIRA e ROSA; 2020).

Porém, essa longevidade contribui para que eles também sofram com doenças e
distúrbios que comumente afetam seres humanos como, doenças cardíacas,
morbidades que afetam sistema imune, diabetes, obesidade, dermatopatias, doenças
renais e articulares, câncer, além de distúrbios cognitivos (SAVIOLI. A.N; 2022).

1
Graduando (a) do curso de medicina veterinária, Centro Universitário Newton Paiva, Belo
Horizonte/MG, e-mail: francielle_monteiro1998@hotmail.com
2
Graduando (a) do curso de medicina veterinária, Centro Universitário Newton Paiva, Belo
Horizonte/MG, e-mail: paloma_dos@yahoo.com
3
Orientador: Professora do curso de medicina veterinária, Centro Universitário Newton Paiva, Belo
Horizonte/MG, e-mail: paula.magalhaes@newtonpaiva.br
2

Segundo Carciofi (2010), o desafio neste cenário é a intervenção, não só


medicamentosa ou clínica, mas, sim um conjunto de ações onde o destaque fica para
a nutrição que por meio da alimentação se busca retardar ou tratar doenças, mantendo
em equilíbrio o que é inerente ao estado fisiológico dos animais.

A utilização de nutracêuticos que são compostos alimentares e tem como atributo agir
em protocolos terapêuticos ou profiláticos vem sendo mais comum (OLIVEIRA e
ROSA; 2020; FREITAS et al., 2020). Exemplos de nutracêuticos são, fibras dietéticas,
proteínas, vitaminas antioxidantes (como retinol –vitamina A; tocoferol- vitamina E;
ácido ascórbico- vitamina C) temos a parte mais enérgica da dieta, os lipídeos, em
específico os ácidos graxos (AG) (CASE et al.,2011; FACCHI, 2019).

Estes nutrientes lipídicos atuam como palatabilizantes, e são fontes de ácidos graxos
essenciais (AGE) além de serem carreadores de vitaminas lipossolúveis. Os ácidos
graxos poli-insaturados (AGP) são incorporados à estrutura dos fosfolipídios e assim,
possuem papel essencial para que a membrana celular mantenha fluidez e
permeabilidade adequadas. Responsáveis pela secreção e regulação dos hormônios
hipotalâmicos e da pituitária, e são “compostos – chave” nos processos inflamatórios
possuem propriedades antioxidantes e atuam no curso de doenças crônicas,
principalmente ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (PUFA), sendo
exemplos o ômega 3 e ômega 6 em que o primeiro é composto pelo ácido
eicosapentaenoico (n-3) (EPA); e ácido docosahexaenoico (n-3) (DHA) de maior
importância clínica (LOTAL, 2008).

O objetivo desta revisão é elucidar a aplicação clinica dos nutracêuticos lipídicos em


especifico o ácido graxo poli insaturado de cadeia longa (PUFA) ômega 3, em
pequenos animais por ter propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, nas áreas
que afetam principalmente animais com doenças crônicas como na cardiologia,
neurologia, dermatologia, ortopedia e na oncologia.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Nutracêuticos: conceito, finalidades e diferenças


3

Nutracêutico de modo genérico seria a contração dos termos nutrientes e


farmacêuticos sendo a mais aceita dentre as definições que são compostos
alimentares. E possuem a finalidade o apelo médico, para tratamento e/ou prevenção
de doenças (MACHADO, PUTON e BERTOL, 2019; SANTANA, 2022). Tanto na
medicina humana quanto na medicina veterinária as formas de apresentação destes
se dão desde dos nutrientes isolados até em outras formas não alimentícias como
cápsulas, comprimidos e apresentam uma forma concentrada de bioativos como
vitaminas e ácidos graxos (MORAES, 2006).

E ainda há discussões conforme levantado por Moraes (2006) a diferença entre os


termos: nutracêuticos e alimentos funcionais. A principal diferença é a finalidade, uma
vez que, além de cumprir função básica de um alimento que é fornecer energia e os
nutrientes necessários para a dieta, os alimentos funcionais atuam como redutor de
riscos para desenvolvimento de doenças e não no tratamento/prevenção destas.
Outra diferença é que os alimentos funcionais devem estar na forma de alimento
comum e serem parte da dieta usual (REIS, 2017).

Quanto aos nutracêuticos são representados pelas fibras dietéticas, ácidos graxos
poli-insaturados (ômega 3 e 6), outros ácidos graxos, proteínas, vitaminas
antioxidantes (C e E), minerais (cromo, magnésio) (DAVI et al., 2010).

2.2 O que são ácidos graxos: Ômega 3 x Ômega 6

Os ácidos graxos são substancias orgânicas e estes podem ser classificados quanto
ao seu tamanho como ácidos graxos de cadeia curta, longa ou média e quanto a sua
composição saturados, insaturados, monoinsaturados ou poli-insaturados
(ALEXANDRINO, 2014).

Os ácidos graxos são ácidos carboxílicos e sua composição varia de 2 átomos de


carbono (ácido acético) a 24 átomos de carbono (ácido lignocérico). São classificados,
de acordo com a saturação das ligações entre os carbonos, em saturados (todas as
ligações entre carbonos são ligações simples), 3 monoinsaturados (uma dupla
ligação) e poli-insaturados (mais de uma dupla ligação) (ACKERMAN, 1995). De
4

importância na medicina veterinária, têm-se os PUFAs, ômega 3 e ômega 6 (FREITAS


et al., 2020; BARROS, 2018).

Os mamíferos não possuem a capacidade de sintetizar ácidos graxos poli-insaturados


de cadeia longa (PUFA), o ômega 6 e ômega 3 e corroborado por Calder (2003), faz-
se necessário a suplementação dietética destes animais.

Segundo Calder (2001), o ácido graxo essencial mais conhecido é o ácido linoleico
(AL) (C18:2), encontrado no óleo de girassol e de soja ou sementes de algodão e
pertence ao grupo do ômega 6, assim chamados por apresentarem a primeira dupla
ligação da cadeia no sexto átomo de carbono, contando-se a partir do grupamento
metil no final da cadeia de carbonos. O alfa linolênico (ALA) é um membro do grupo
de ácidos graxos essenciais chamados ômega 3, é composto de 18 átomos de
carbono e 3 duplas ligações (C18:3), podendo ser encontrado em alguns óleos
vegetais (sua fonte principal de óleo de peixe, canola e linhaça), mas em menor
quantidade que o AL, e possui sua primeira dupla ligação entre o terceiro e o quarto
átomos de carbono, após o grupamento metil.

O ácido linoleico, ômega 6 é percursor de ácido araquidônico (AA) possui


propriedades pró-inflamatórias e pró-trombóticos e responsável pelo início da cascata
da inflamação (FREITAS et al.,2020). Em contrapartida a ação do ômega 6, a ação é
anti-inflamatória do ômega 3 que constantemente é associada a qualidade de vida em
pacientes que apresentam doenças crônicas, sendo este um assunto a ser discutido
na geriatria veterinária (MESQUITA et al. 2011).

2.3 Ômega 3: EPA e DHA

O ômega 3 recebe este nome por ser formado por três ácidos graxos com ações
fisiológicas: α-linolênico (ALA), eicosapentaenoico (EPA) e docosahexaenoico (DHA).
De maior importância clínica são respectivamente DHA e EPA. A partir do ALA,
através de enzimas, o organismo sintetiza esses ácidos graxos, o ômega 3 e pelo fato
dessa conversão ser limitada no cão e não ocorrer nos gatos, a suplementação
dietética deve ser realizada, seja ela através da ração ou de suplementos (LLOYD;
THOMSETI, 1989).
5

Segundo Nestel (2000), na medicina, o ômega 3 em específico DHA, recém-nascidos


está relacionado a função do aprendizado que além desta função também se citou
outras como, ação vasodilatadora e redução de triglicérides.

O EPA é um nutriente que ajuda a manter os triglicerídeos em níveis saudáveis. Este


efeito favorece a saúde cardiovascular e previne problemas circulatórios. O DHA é um
ácido graxo ômega-3 natural essencial no desenvolvimento do cérebro e do sistema
nervoso em mamíferos jovens, constituindo um importante bloco de construção do
cérebro e um elemento crítico no desenvolvimento da visão e do sistema nervoso
central (HEINEMANN et al., 2005).

2.4 Principais benefícios do omega3 para cães e gatos

Segundo Freitas et al. (2020), os principais benefícios comprovados do ômega 3 para


cães e gatos estão relacionadas várias patologias.

O EPA compete com o ácido araquidônico (exemplo de um ômega 6) na cascata de


inflamação, modulando a resposta inflamatória, dando origem aos eicosanóides
(principalmente prostaglandinas) que são menos inflamatórios e de menor capacidade
quimiotática (substâncias químicas que atraem ou repelem células) que os ácidos
graxos da família ômega 6 (LLOYD; THOMSETI, 1989).

Ademais, o ômega 3 por ser um macronutriente, também atua na prevenção da


isquemia ventricular fatal induzida por arritmias em animais (MCLENNAN, 1993);
diminuição no controle do prurido em atopias; é precursor de ceramidas, que auxilia
na hidratação cutânea e proporcionam o brilho da pelagem (FREITAS et al., 2020);
redução da pressão arterial e do processo inflamatório; modulação da expressão de
proteínas no tecido adiposo, tendo possibilidade de atuar como reguladores
transcricionais de alguns genes interligados ao metabolismo de lipídios, além da
diminuição da concentração de trigliceróis, devido à redução da lipogênese hepática,
causada devido à inibição de duas enzimas envolvidas na síntese desse lipídio pelo
fígado; e proteção renal (BROWN et al., 1998).

2.5 Alimentação: fontes de ômega 3


6

As dietas para cães e gatos são compostas principalmente de AGPs ômega 6. No


entanto, a modificação dietética ou a suplementação com AGPs ômega 3 pode
aumentar significativamente as concentrações de ômega 3 no sangue e nos tecidos.
Como o ômega 3 e ômega 6 competem entre si pelas enzimas necessárias para seu
metabolismo significa que quanto mais ômega 3 na dieta, maior quantidade será
utilizada e incorporada nas membranas celulares. Os cães e os humanos podem
converter o ALA em DHA, mas a taxa de conversão é baixa (BARROS, 2018).

No entanto, por causa da pequena quantidade da enzima hepática Δ-6-desaturase


que é sintetizada pelos gatos, não ocorre a conversão de ácidos graxos das famílias
ômega 3 e 6 o que torna, o ácido linoleico e araquidônico (AA), ácidos graxos
essenciais a espécie (HAND et al., 2000).

Os alimentos mais empregados para suplementação de pequenos animais são os


óleos de peixe de água marinha. As fontes de ômega 3 derivadas de pescados de
águas salgadas, frias e profundas e/ou óleos produzidos a partir destes, são
especialmente importantes devido suas altas concentrações (MORAIS e COSTA,
2008).

Segundo Fediaf (2018) - European Pet Food Industry Federation - recomenda para
cães e gatos em crescimento o consumo mínimo de 0,08g e 0,02g de ácido alfa-
linolênico (ALA) por 100g de matéria seca (MS). Recomenda ainda, para cães e gatos
em crescimento, o mínimo de 0,05g e 0,01g de EPA+DHA por 100g de MS. Para cães
e gatos adultos, esses ácidos graxos não são considerados essenciais, mas já
existem diferentes estudos comprovando que podem trazer vários benefícios se
adicionados à dieta. As recomendações variam, mas ficam em torno de 0,2% a 1% de
EPA+DHA na dieta de cães e gatos adultos. É provável que os níveis mais próximos
de 0,6% a 1% de EPA+DHA sejam indicados, especialmente, para os animais com
problemas inflamatórios crônicos, como insuficiência renal, artrose e alergias

2.6 Indicações terapêuticas para uso do ômega 3

A primeira vez que foi reportado em humanos como conduta terapêutica o uso do óleo
de peixe em pacientes com reumatismo foi em 1783 já evidenciando a aplicação
7

medicinal, evidenciandoo potencial nutracêutico de macronutriente. Logo anos depois


em 1991, publicado uma revisão bibliográfica sobre a utilização do ômega 3 para cães
e gatos, já com um preludio da investigação cientifica dos benefícios deste AG para a
medicina veterinária como protocolo terapêutico (BARROS, 2018).

2.6.1 Cardiopatias

As cardiopatias são muito comuns em pequenos animais, por conta da longevidade


que se perpetua nas espécies caninas e felinas. Sendo que mesmo não sendo
totalmente definidos as ações do ômega 3, têm-se função de antiarrítmico, anti-
inflamatório, redução de triglicérides, anti-aterosclerose, melhora a
morfofuncionalidade cardíaca na função endotelial e possui efeito antitrombótico
(VINCENZI, 2009).

A principal consequência das doenças cardíacas (adquiridas ou não) nos animais é


insuficiência cardíaca (IC), no entanto outras doenças como cardiomiopatia dilatada,
complexos ventriculares prematuros e algumas arritimias demonstram aplicação
pratica de uso de ômega 3 (PANTOJA et al., 2018).

Os cães com insuficiência cardíaca apresentam deficiência plasmática relativa de EPA


e DHA em comparação a animais saudáveis e suplementa-los aumenta ou normaliza
por assim dizer, estas concentrações de EPA e DHA no plasma. As principais fontes
de ômega 3 como já dito anteriormente são: óleos de linhaça, canola e peixe
(CALDER, 2003).

O uso de óleo de peixe é o mais comumente usado como terapia adjuvante nestes
casos que segundo Smith et al.,(2007), onde fora realizado estudo com cães da raça
boxer acometidos por cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito, onde houve
cães suplementados com vários óleos oriundos do ômega 3 (óleo de peixe, linhaça
ou girassol – tendo como um grupo controle) e demonstrou que apenas os animais
suplementados de forma oral com óleo peixe tiveram uma queda no número de
arritmias, em especifico redução dos complexos ventriculares prematuros.
8

Quanto a estudos realizado em gatos a abordagem ainda é pouca elucidada


(BRUNETTO, 2019). Apontado apenas um experimento feito em 1998 por Saker et.al.,
em gatos cederam resultados pouco expressivos em relação do uso do ômega 3 no
pós-cirúrgico, quanto tempo de sangramento, pico de agregação plaquetária e
relevância antitrombótica do uso terapêutico deste nutracêutico, onde não foi tão bem
elucidado as alterações cardíacas, como mostrado em outros estudos relacionado a
cães.

Quanto a aplicação clínica em cães e gatos cardiopatas, a dose do ômega 3 ideal


ainda não foi determinada, mas autores concordam entre si é de 40mg/kg de EPA e
25mg/ kg de DHA por dia e dependendo do tamanho do animal e quantidade de
alimento ingerido (PETRUS, 2020 e MOTA, 2009). Além disso, segundo Brunetto
(2019), a formulação mais comumente encontrada é de 180mg de EPA e 120mg de
DHA por cápsula de 1g, nesta concentração, o óleo de peixe como suplementação
pode ser administrado na dose de uma cápsula para cada 4,5 kg de peso corporal por
dia tanto para cães quanto gatos.

2.6.2 Dermatopatias

O dos PUFA (em especifico ômega 3), são explorados com maior frequência na
terapêutica das doenças cutâneas e é efetivo nos quadros inflamatórios e alérgicos
que corroboram a ação do ômega 3 (BARROS, 2018).

Para o tratamento de dermatopatias alérgicas tanto em cães quanto em gatos, como


dermatite alérgica a picada da pulga (DAPP), hipersensibilidade alimentar e atopia.
(BARROS, 2008); O uso do ômega 3 é amplamente aplicado na clínica desde do
início de pesquisas sobre o uso dos AGPs no final dos anos 1980 e incio dos anos
1990, atuando no controle e diminuição do prurido em atopias, ao qual mecanismo de
ação principalmente a atuação anti-inflamatória do ômega 3 que é reduzir o processo
inflamatório instalado, inibindo citocinas pro-inflamatórias , modulando a produção de
eicosanoides que está aumentada, que por sua vez diminui o prurido; reduz alopecia
e auxiliam na melhora da qualidade do pelame, uma vez que ômega 3 é percursor de
ceramidas logo, auxiliam na hidratação cutânea e proporcionam o brilho da pelagem
(ALEXANDRINO, 2014).
9

A dose proposta atualmente segundo Brunetto (2019), varia de 40-85mg de EPA/kg e


25-55mg de DHA/kg por dia para cães e gatos com para melhora aspectos
dermatológicos e demais afecções cutâneas.

2.6.2 Outras aplicações terapêuticas

Quanto a aplicações do ômega 3 na clínica de pequenos animais temos as artropatias,


por serem doenças degenerativas do sistema locomotor e que afetam animais com
mais tempo de vida, temos um exemplo que é a osteoatrtite. A ação do ômega 3,
sobre estas doenças osteodegenerativas é controle de dor, decorrente da sua ação
anti-inflamatória consequentemente diminuição de claudicação em cães. Em
contrapartida não pode se aplicar esse “resultado” ou explicação aos gatos por haver
apenas um estudo clínico com a espécie, portanto, se faz necessário mais pesquisas
para elucidar os efeitos do ômega 3 em artropatias em gatos (VANDEWEERD 2012).

A dose em estudos recentes aponta 230mg de EPA+DHA/kg de peso metabólico


(peso corporal)0,75, para cães e (peso corporal)0,67 para gatos). (BRUNETTO, 2019)
Outra aplicação se dá na nutrição do paciente oncológico, quanto as suas
particularidades e necessidades. Segundo Bonotto (2010), é comprovado o uso de
EPA e o DHA quanto as propriedades de crescimento tumoral e agir preventivamente
a caquexia (síndrome paraneoplásica comum em animais com algum tipo de câncer),
retardar a incidência metastática, consequentemente melhorando a resistência destes
animais aos efeitos colaterais do tratamento quimioterápico. Que em conjunto da ação
anti-inflamatória e principalmente antioxidante do ômega 3, justifica a inclusão deste
nutracêutico na dieta para com pacientes oncológicos (LEITE e VIRAQUE, 2020;
CASE et.al, 2011). A dose atualmente em cães e gatos é de100mg de ômega-3 para
cada 5 a 10 kg de peso animal, uma vez por dia, no tratamento de pacientes
oncológicos (PIBOT et al.,2006; COELHO, 2018).

Contudo, mesmo com algumas diferenças apontadas por alguns autores em cada
espécie a utilização do ômega 3 é constante. (Tabela 1).
10

TABELA 1. Resumo de alguns autores sobre efeitos clínicos do ω-3 em cães e gatos
EFEITOS CLÍNICOS DO Ω-3 EM CÃES E GATOS
CÃES GATOS
CARDIOVASCULAR / ALTERAÇÕES
ENDÓCRINO E HEMOLÍTICAS Como fator para controle de Não há muitos estudos da espécie
arritmias fatais que se desenvolvem felina, mas 1 na parte de coagulação
em frequências cardíacas (FC) sanguínea, onde gatos
elevadas a suplementação oral de suplementados na dieta com ω-3,
cães de ω-3, diminui a FC em quanto tempo de sangramento,
repouso e após exercício se faz pico de agregação plaquetária no
eficiente (BILLMAN, 2012). pós cirúrgico (SAKER et al., 1998).

A deficiência de ácido araquidônico


ASPECTO NUTRICIONAL em gatos pode ser suprida pelo
----------------------- acréscimo de AA pré-formado ou
pela inclusão de ácido γ-linolênico
percursor do AA na dieta e mantem
os níveis de AA exigidos gatos
adultos (TREVIZAN; KESSLER,
2009).

IDADE Em filhotes apresentam melhor acuidade visual e melhora cognitiva na fase


de crescimento (BAUER, 2007 e 2016).

O organismo do animal idoso apresenta incapacidade de metabolizar os


lipídeos e por isso o percentual de gordura corporal tende aumentar (CASE
et al., 2011).
ONCOLOGIA
Suplementar com DHA e EPA cães e gatos com câncer evita lipólise e
degradação de proteínas, comuns na caquexia paraneoplasica (contribui
para reduzir a perda de peso, que nestes casos de paciente oncológicos
pode ser irreversível (HAND et al., 2000; CASE et al., 2011)

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, a busca por terapias adjuvantes em variadas enfermidades que


podem acometer os animais de companhia na rotina clínica da medicina veterinária é
frequente e fica evidente seus benefícios.

Os compostos do ômega 3 de importância clínica são DHA e o EPA. Sendo o primeiro


importante para todas as fases da vida do animal, em filhotes permite
desenvolvimento cognitivo, visão e relaciona-se ao aprendizado e em animais idosos
auxilia principalmente como suporte cardiovascular e controle de inflamação cutâneas
e sistêmicas além do sistema imune.
11

E a facilidade de administração, suplementação do ômega 3 pela dieta permite aos


proprietários conviver mais tempo com seus animais de estimação já que a ideia de
longevidade se relaciona ao tratamento e prevenção de doenças.

No entanto, ainda há necessidade de pesquisas para elucidação de boa parte das


aplicações terapêuticas e preventivas dos AGPs quanto a dosagem na nutrição de
cães e gatos sendo a área do segundo mais carente de estudos.

EPA and DHA: therapeutic efficacy of omega 3 in small animals-


REVIEW
ABSTRACT
The increased life expectancy of companion animals has been constantly studied. And
preventive veterinary medicine, from neonatology to geriatrics implies the use of
auxiliary therapies in the combat and treatment of chronic diseases, where it is no
longer accepted only the drug, but rather a set of actions from various areas being
nutrition one of the most prominent for treatment and prevention of diseases. The
objective of this literature review, in addition to elucidating the concept of long chain
polyunsaturated fatty acids (LC-PUFAs) specifically omega 3 (Ω-3), which is classified
as a nutraceutical and punctuate the differences with functional foods, is to
demonstrate clinical application of omega-3 compounds such as Eicosapentaenoic
acid (EPA) and docosahexaenoic acid (DHA) that in addition to possessing anti-
inflammatory and antioxidant agents demonstrate the need for further studies to
elucidate the practical applications in cardiology, neurology, dermatology, orthopedics
and oncology.

Key-Words: Fatty acids. Antioxidant. Nutraceutical. Treatment

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