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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE SINTOMAS


DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA CAPÍTULO 16
EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE SINTOMAS ....

Chapter · February 2022

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5 authors, including:

Lucas De Carvalho Siqueira


Centro Universitário de Patos, Brazil, Paraíba
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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

CAPÍTULO 16

EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E


TRATAMENTO DE SINTOMAS
DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO
CICLO DE VIDA
Lucas de Carvalho SIQUEIRA 1
Rafael Ferreira LIMA 2
Waleska Gualberto da SILVA 3
Erika Epaminondas de SOUSA 4
Sabrina Bezerra da SILVA 5
1 Graduando em Nutrição pelo Centro Universitário de Patos – UNIFIP.2 Mestrando em

Sistemas Agroindustriais pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG.3 Pós-


graduada em Nutrição Clínica e Funcional do Centro Universitário de Patos – UNIFIP. 4
Professora de pós-graduação do Centro Universitário de Patos – UNIFIP. 5 Professora Centro
Universitário de Patos – UNIFIP.
lucas-carvalho64@hotmail.com

RESUMO: A depressão segundo a Organização Mundial de


Saúde (OMS) é considerada o transtorno mental mais comum
durante os últimos 30 anos, sendo uma das doenças com maior
índice de prevalência mundial para todas as faixas etárias,
dentre os diversos fatores de risco associados ao acometimento
do transtorno depressivo, encontra-se a ausência de uma
alimentação saudável, que inclua nutrientes essenciais para
prevenção de doenças e a manutenção do bom estado de
saúde mental. Diante disso este trabalho tem como objetivo
investigar acerca dos efeitos da ingestão de ácidos graxos poli-
insaturados (PUFAs) do tipo ômega-3 na prevenção e
tratamento de sintomas depressivos em diferentes fases do
ciclo de vida. Foram selecionados 27 artigos científicos dentro
do tema, publicados em espanhol, inglês e português, no
período entre 2015 e 2020. Observou-se que a utilização de
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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

ômega-3 como terapia exclusiva ou estratégia complementar


para prevenção e tratamento de distúrbios depressivos nos
diferentes grupos variou em relação a seus efeitos, sendo
relatado casos que apresentaram benefícios e outros que não
se obteve efeitos relevantes. A partir do levantamento
bibliográfico foi possível identificar um consenso quanto a
utilização de PUFAs ômega-3 do tipo DHA desempenhar um
efeito benéfico conveniente na sintomatologia da depressão
nos diferentes estágios da vidas, além de ser mais eficaz seu
uso como estratégia complementar de tratamento ao invés de
uma monoterapia.

Palavras-chave: Ômega-3. Depressão. Prevenção.


Tratamento. Ciclo de vida.

INTRODUÇÃO

É sabido que os hábitos alimentares saudáveis é um


importante contingente que integra um melhor estilo de vida,
uma boa nutrição contribui para proporcionar ao ser humano
benefícios fisiológicos e sociais, uma população sadia está
diretamente relacionada a uma nação mais desenvolvida, com
menores índices de Doenças Crônicas Não-Transmissíveis
(DCNT). Desta forma órgãos de saúde em âmbito nacional e
internacional, como a Organização Mundial de Saúde (OMS)
preconizam que a população siga diretrizes alimentares, que de
modo geral aconselham a adoção de uma dieta rica em
nutrientes, variada e balanceada, com abundância em frutas e
verduras, proteínas de alto valor biológico, grãos e cereais,
fibras e também boas gorduras (RIDDER et al., 2017).
Ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs), são compostos
essenciais para uma alimentação mais equilibrada, são eles:
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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

popularmente conhecido como ômega-3 (ω- 3), ômega-6 (ω- 6)


e ômega-9 (ω- 9). Nas últimas décadas foram conduzidos
inúmeros estudos, experimentais in vitro e in vivo, acerca da
gama de benefícios proporcionados para a saúde através da
inclusão adequada dos PUFAs na alimentação cotidiana. Há
registros na literatura sobre melhoras significativas em diversos
quadros patológicos após incorporar em uma dieta balanceada
níveis recomendados de PUFAs, em especial o ômega-3.
Dentre algumas dessas morbidades clínicas são mencionadas
doenças cardiovasculares, diabetes, doença de Alzheimer e os
transtornos de humor, e até mesmo doenças envolvendo o
sistema nervoso (SHAHIDI; AMBIGAIPALAN, 2018).
Segundo a OMS, entre os anos de 1990 e 2020 a
depressão foi considerada o transtorno mental mais comum,
estimando-se que atualmente, na escala global cerca de 264
milhões de indivíduos de diferentes gêneros e idades são
acometidos pela doença. Registrada na OMS pela
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados com a Saúde (CID) sob o código CID 10 – F33, a
depressão é definida como sendo uma doença psiquiátrica
crônica que produz alterações persistentes do humor
caracterizadas por tristeza profunda, e associada a outros
aspectos como alterações cognitivas, psicomotores e
vegetativas (OMS, 2020).
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Desordens Mentais (DSM-5) da Associação Americana de
Psiquiatria é sempre real a possibilidade de comportamento
suicida permanente em episódios depressivos maiores,
principalmente em casos de história prévia de tentativas com

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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

negligência de tratamento medicamento, psicológico e terapias


alternativas (SENA, 2014).
O número de pessoas que apresentam algum tipo de
deficiência nutricional vem aumentando globalmente, esse
fenômeno está afetando prejudicialmente a saúde de mais de 2
bilhões de pessoas em todo o mundo. Na última década muitos
estudos tanto transversais quanto longitudinais vêm mostrando
a relação entre o consumo de uma dieta ocidental altamente
processada e o maior risco de desenvolvimento de sintomas
psiquiátricos como a depressão e ansiedade. Em contrapartida,
vem se observando uma relação inversa entre a diminuição dos
sintomas clínicos depressivos e a adoção de uma dieta de estilo
mediterrâneo, rica em PUFAs, sobretudo o ômega-3 (FEARS;
TER MEULEN; VON BRAUN, 2019; OWEN; CORFE, 2017).
Perante o exposto, este trabalho possui finalidade de
investigar os efeitos do ômega-3 na prevenção e tratamento dos
sintomas do transtorno de humor depressivo no contexto dos
diferentes estágios do ciclo de vida.

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa sustenta-se em uma revisão exploratória


descritiva com uma abordagem de estudo bibliográfica, que de
acordo com Gil (2017), é o tipo de pesquisa que se desenvolve
tendo como base material já elaborado, composto
principalmente de livros e artigos científicos. Para Mariano e
Santos (2017) o objetivo da pesquisa de revisão bibliográfica é
realizar a fundamentação teórica de determinado tema.
O estudo deste trabalho foi realizado a partir de fontes
de pesquisas como livros, manuais clínicos e artigos científicos
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SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

disponíveis nas seguintes bases de dados eletrônicas: Scientific


Eletronic Library Online (SciELO), Medical Literature Analysis
and Retrieval System Online (MEDLINE), Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e no
redirecionador Google Acadêmico. Para a realização da
pesquisa foi realizada uma consulta pelas seguintes
terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da
Saúde, assim como suas combinações e variantes em inglês e
espanhol: Ácidos Graxos Ômega-3, Transtorno Depressivo,
Estágios do Ciclo de Vida, Gestantes, Criança, Adolescente,
Adulto, Idoso, Prevenção de Doenças e Terapia Nutricional.
Foram utilizados como critérios de inclusão para a
pesquisa, livros de referência clássica sobre metodologia do
trabalho científico, assim como manuais médicos para
diagnóstico de transtornos mentais. Ainda sobre os critérios de
inclusão foi feito o uso de artigos completos que convergissem
ao tema proposto, com abordagem qualitativa e quantitativa,
randomizados ou não, indexados em periódicos nacionais e
internacionais, escritos nos idiomas português, inglês e
espanhol e datados em um período de tempo compreendido
entre 2015 – 2020 (últimos seis anos), com o propósito de
acatar um embasamento teórico mais atual quanto possível.
Como critérios de exclusão foram propositalmente evitados
artigos incompatíveis com o tema levantado e cuja publicação
antecedesse o ano de 2015, bem como trabalhos escritos em
outros idiomas senão os eleitos, e os que não apresentavam
fundamentação com uma metodologia condizente e resultados
pertinentes ao tema alvo do estudo.

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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diante dos critérios estabelecidos na metodologia desse


estudo, foram selecionados 27 artigos científicos para a
realização do trabalho.

O PAPEL DE PUFAs ÔMEGA-3 CONTRA A DEPRESSÃO

Muitos pesquisadores em todo o mundo têm investigado


sobre as formas de prevenção e tratamento de desfechos
negativos em saúde mental, particularmente no que tange à
depressão clínica e seus sintomas em diferentes grupos de
faixa etária e sexo distinto, sendo encontrados métodos
terapêuticos alternativos, utilizados de forma isolada ou
complementar (ABREU; MURTA, 2016).
É amplamente discutido e estudado a ligação entre os
transtornos de humor e a quantidade de PUFAs no sangue e na
membrana celular, estas observações levaram as chamadas
“hipóteses dos fosfolipídeos” no qual é levantado que os PUFAs
são possíveis fatores etiológicos no desenvolvimento de
transtornos depressivos, além disso, é apontado que indivíduos
com diagnóstico de ansiedade e transtornos depressivos
apresentam uma maior proporção de PUFAs ômega-6 no
sangue e no cérebro do que ômega-3 ao serem comparados a
indivíduos saudáveis de mesmo sexo e idade (LARRIEU; LAYÉ,
2018; MÜLLER et al., 2015).
Santos (2019) aborda em sua dissertação a relação
existente entre o processo de neuroinflamação e o distúrbio
depressivo maior, onde argumenta que a resposta inflamatória
cerebral está ligada a uma expressão aumentada de citocinas
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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

pró-inflamatórias e dos seus receptores, além de um aumento


de proteínas de fase aguda em conjunto com a elevação da
quantidade de quimiocinas e moléculas de adesão celular tanto
na perifereria como também no líquido cefalorraquidiano o que
contribuiria negativamente para a potencialização dos sintomas
depressivos.
Sabe-se que mediadores lipídicos que são derivados de
PUFAs de Ácido Aracdônico (AA) proveniente do metabolismo
de ácidos graxos ômega-6 estão envolvidos em diferentes
estágios da inflamação, o ínicio da inflamação aguda é regulada
por diversos mediadores lipídicos, onde estão incluídos as
prostaglandinas eicosanoides (PGs), tromboxanos (TXs) e
também leucotrienos (LTs), responsáveis por desempenhar
importante ação na modulação do fluxo sanguíneo,
permeabilidade endotelial, neutrófilos polimorfonucleares
(PMN), quimiotaxia e agregação plaquetária, nesse aspecto a
nutrição desenvolve um papel fundamental visto que uma dieta
balanceada, com a quantidade ideal de micronutrientes é capaz
de modular o processo inflamatório através da atividade
antioxidante, impedindo de danos na membrana de diversos
tipos de células assim como nos tecidos do organismo
(SIMONETTO et al., 2019; BIANCHI; ANTUNES., 1999).
Dentre as muitas descrições benéficas que os PUFAs ω-
3 recebem, é ressaltado o seu grande potencial de redução do
processo inflamatório geral. No mecanismo metabólico o Ácido
Alfa-linolênico, pertencente a família ω-3, converte-se nos seus
dois principais ácidos, Eicosapentaenoico (EPA) e
Docosahexaenoico (DHA), que são precursores dos
mediadores químicos prostaglandinas da série 3 e leucotrienos
da série 5, responsáveis por desempenhar efeitos biológicos
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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

protetores, em contrapartida o Ácido Linoleico oriundo da


família ω-6 é convertido no Ácido Aracdônico que como
mencionado é precursor da síntese das substâncias
eicosanoides do tipo inflamatórias e pró-inflamatórias para o
organismo (SANT'ANA et al., 2019; ROSA et al., 2017).
Existe no metabolismo dos ácidos graxos ω-3 e ω-6 uma
competição pelas mesmas enzimas de dessaturação, a Δ6
dessaturase e Δ5 dessaturase , que possuem preferência pelos
PUFAs ω-3 em detrimento ao ω-6. Desta forma, ao ser
sintetizados PUFAs EPA e DHA, produtos da conversão do
ácido graxo alfa-linolênico (ω-3) pela ação da enzima Δ6
dessaturase simultaneamente, ocorre a inibição da ação
enzimática de conversão do ω-6 em ácido aracdônico e, por
conseguinte a produção dos mediadores lipídicos do processo
inflamatório, conforme esquematizado na figura 1 (ROSA et al.,
2017).
Husted e Bouzinova (2016) entram em consonância ao
afirmar que uma dieta ideal apresenta uma baixa relação de ω-
6 para ω-3, fazendo com que ocorra a dessaturação competitiva
e a inclusão nos fosfolipídeos de uma quantidade elevada de
EPA e DHA na membrana celular, corroborando para níveis
inferiores de ácido aracdônico, processo que está associado
com a redução do quadro inflamatório geral no organismo.

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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

Figura 1. Esquema da conversão dos PUFAs ômega-6 e


ômega-3 em seus respectivos derivados metabólicos
caracterizados quanto a sua propriedade de mediadores
químicos do processo inflamatório.

Fonte: Adaptado de BROSSARD et al., (1996)


UTILIZAÇÃO DE ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DE SINTOMAS DEPRESSIVOS NOS
DIFERENTES ESTÁGIOS DA VIDA

A depressão é uma doença com alto índice de


prevalência mundial, sendo considerada um problema de saúde
pública, o transtorno depressivo maior é um distúrbio psíquico
que vem afetando indivíduos de todos os sexos e idades
(TALUKDER, 2017).

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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

EFEITOS DA INGESTÃO DE ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E


TRATAMENTO DA DEPRESSÃO EM GESTANTES E
LACTANTES

Álvarez et al., (2018) realizaram um estudo transversal e


analítico durante o período de dezembro de 2013 e julho de
2014 trabalhando com 151 gestantes que faziam tratamento
pré-natal em um centro urbano de saúde localizado na cidade
de Morelia, Michoacan, México. As gestantes com idade média
de 27,5 anos se encontravam no 2º trimestre de uma gestação
tipo única e não apresentavam complicações crônicas agudas
e nem transtorno depressivo maior diagnosticado, além de não
fazerem uso de suplementação de ômega-3, o estudo consistiu
na aplicação de questionários, o 1º questionário mensurava os
níveis de ingestão diários de PUFAs ômega-3 na dieta das
gestantes baseado nas recomendações propostas pela
Academia Nacional de Medicina dos Estados Unidos (NAM), o
2º questionário aplicado tinha a finalidade de medir através de
uma escala o grau de sintomas depressivos e ansiosos das
participantes, após a coleta de dados obtida as variáveis foram
correlacionadas. O estudo constatou uma correlação negativa
moderada entre a frequência de consumo alimentar de ω-3 e os
sintomas depressivos e ansiosos, tornando-se apenas
significativa quando analisada as participantes que
apresentaram ingestão alimentar insuficiente de EPA e DHA na
dieta.
Um estudo meta-analítico conduzido por Wei-Hong L et
al., (2017) avaliou a eficácia da utilização de PUFAs ω-3 como
monoterapia no tratamento para depressão de mulheres
grávidas. A pesquisa foi pautada na busca de estudos
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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

experimentais de alta evidência científica voltados para a


temática da eficácia do uso de ω-3 em gestantes
diagnosticadas com transtorno depressivo maior (TDM), desta
forma após ser realizada a coleta dos estudos através da
seleção metodológica definida pelos pesquisadores, foram
eleitos para análise, quatro ensaios clínicos randomizados que
atenderam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos.
Dentro desses estudos foram recrutadas 201 mulheres grávidas
diagnosticadas com TDM e com idade média de 30 anos,
verificou-se que 102 participantes utilizaram placebo e 99
receberam suplementação de PUFAs ω-3 como monoterapia
para o tratamento do transtorno depressivo, os estudo
experimentais tiveram duração de 6 a 8 semanas. Baseado nos
resultados da meta-análise, os pesquisadores perceberam que
houve maior eficácia no tratamento do TDM no grupo de
gestantes que fizeram uso exclusivo de ω-3 como terapia do
que o grupo que recebeu apenas o placebo.
Outra meta-análise foi realizada por Hsu et al., (2018) e
buscou examinar o papel da suplementação de PUFAs ω-3 na
prevenção da depressão pós-parto. A principal hipótese
fomentada pelos autores desse estudo é que uma vez que os
níveis de ω-3 DHA são essenciais para o adequado
funcionamento cerebral, a reposição desses ácidos graxos,
sobretudo o DHA, poderia ser benéfica para a prevenção da
depressão pós-parto. Desta forma, ao revisarem
sistematicamente 14 ensaios clínicos que registraram uso da
suplementação de PUFAs ω-3 ricos em EPA e DHA em
mulheres durante o período gestacional e pós-parto,
observaram a ocorrência da redução de alguns sintomas
associados à depressão e relacionaram este efeito com a
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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

possível inibição da neuroinflamação em virtude da maior


disponibilidade de DHA, que por conseguinte modularia o
funcionamento da membrana celular cerebral aumentando
assim a neurotransmissão de serotonina pela ação do EPA.

EFEITOS DA INGESTÃO DE ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E


TRATAMENTO DA DEPRESSÃO EM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES

Fristad et al., (2017) sucedeu um ensaio clínico piloto


que avaliou e estimou a viabilidade dos efeitos dos PUFAs ω-3
com e sem associação de psicoterapia psicoeducacional
individual-familiar (PEP) em jovens diagnosticados com
depressão. Realizou-se um ensaio duplo-cego com 72 jovens
de diferentes idades variando entre 7 a 14 anos, sendo 57% do
sexo masculino, e todos os participantes diagnosticados com
depressão maior, distimia ou depressão não especificada de
outra forma, estes foram randomizados para 12 semanas onde
um grupo fez uso exclusivo da suplementação de ω-3, outro se
utilizou de placebo associado a PEP e um terceiro grupo foi
orientado a realizar a PEP, fazendo uso de ω-3 ou placebo,
tanto avaliadores como participantes foram mascarados quanto
à informação do conteúdo das cápsulas de placebo e ω-3. As
repercussões colaterais observadas foram ausentes ou leves,
as análises feitas no grupo que realizou monoterapia com ω-3
e no grupo que fez o tratamento combinado registrou efeitos
pequenos a médio na melhora dos sintomas depressivos, em
contrapartida os que utilizaram placebo e PEP apresentaram
efeitos insignificantes.

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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

Resultados discrepantes foram encontrados na revisão


sistemática conduzida por Gabbay et al., (2019) no qual foi
investigado a eficácia do ômega-3 como monoterapia, em
comparação ao placebo, em adolescentes diagnosticados com
TDM. Este estudo coletou dados entre janeiro de 2006 e junho
de 2013, ao todo foi analisado a participação de 51
adolescentes diagnosticados com TDM em diferentes
pesquisas, os mesmos não faziam nenhum tipo de tratamento
com medicamento psicotrópico, e as idades dos participantes
variavam entre 12 a 19 anos, sendo 57% dos avaliados
pertencentes ao sexo feminino. Os jovens foram randomizados
para receber a dose específica de PUFAs ω-3 ou placebo
durante 10 semanas. Ao final do estudo os pesquisadores
observaram que os efeitos do uso de ω-3 não foi superior ao
placebo em nenhuma característica clínica avaliada na melhora
do quadro sintomatológico do transtorno depressivo maior nos
participantes.
Wurff et al., (2018) em seu estudo, realizou uma meta-
análise utilizando um modelo de regressão em dados
transversais obtidos a partir da linha de base em um estudo
transversal sobre a suplementação de óleo de krill em
adolescentes do ensino médio, seu objetivo foi determinar uma
associação entre índices menores de depressão e mudanças
de autoestima dos jovens e o consumo de PUFAs ω-3,
advindos da suplementação do óleo de peixe. Nesse estudo os
pesquisadores não encontraram evidências de associação
entre o consumo de ω-3 oriundo exclusivamente do alimento
fonte utilizado, o krill, e menores índices de sintomas
depressivos ou modificações na autoestima dos jovens
analisados.
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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

EFEITOS DA INGESTÃO DE ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E


TRATAMENTO DA DEPRESSÃO EM ADULTOS

Foi conduzido por Appleton et al., (2015) uma revisão


sistemática da literatura para avaliar os efeitos dos PUFAs ω-3
em comparação com o uso de placebo e tratamento
antidepressivo para o transtorno depressivo maior em adultos.
Foram selecionados para a análise 26 estudos, no qual 25
envolveram a participação de 1438 adultos e tinham como
objetivo investigar o impacto da suplementação de PUFAs ω-3
em comparação com o uso de placebo, e um estudo que
englobou 40 participantes para se investigar a influência da
suplementação de ω-3 em relação ao tratamento convencional
com antidepressivos. Em relação a comparação com o placebo
os autores percebem que a suplementação de PUFAs ω-3
resulta em um benefício pequeno a modesto para a
sintomatologia depressiva, já para o único estudo acerca do
impacto da suplementação de ω-3 frente aos efeitos de
antidepressivos é relatado não ter sido encontrado diferenças
significativas em comparação aos dois tipos de tratamento,
entretanto os autores deste estudo relatam haver uma escassez
do corpo de evidências de alta qualidade capaz de determinar
os efeitos dos PUFAs ω-3 como tratamento para o TDM.
Melo (2019) através de uma revisão de literatura
analisou os efeitos do ácido graxo ômega-3 no tratamento da
depressão em pacientes adultos. A partir da seleção de 13
estudos, foi analisado que indivíduos que já possuíam
depressão, ao modificar suas dietas para um plano alimentar
adequado com a inclusão de alimentos ricos em PUFAs ω-3
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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

(EPA e DHA) ocorreu uma remissão significativa dos sintomas


depressivos, entretando foi verificado que o modo de preparo
desses alimentos podem influenciar nos resultados,
principalmente ao ser ingeridos sob a forma de fritura
comprometendo a absorção eficaz pelo organismo e
consequentemente não surtindo o efeito esperado. É ressaltado
no estudo que ainda é desconhecido a quantidade ideal para o
consumo de PUFAs ω-3 diariamente/semanalmente usado
para o tratamento da depressão, entretanto sabe-se que a sua
utilização prolongada é considerada um potencial mecanismo
protetor do transtorno de humor depressivo.

EFEITOS DA INGESTÃO DE ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E


TRATAMENTO DA DEPRESSÃO EM IDOSOS

A meta-análise realizada por Bai et al., (2018) revisou


sistematicamente a eficácia de suplementos de ácidos graxos
poli-insaturados ômega-3 na redução dos sintomas depressivos
em idosos com idade igual ou superior a 60 anos. Todos os
nove estudos selecionados foram ensaios clínicos
randomizados analisados mediante a utilização de uma
estimativa de variância robusta em meta-regressão. Foram
encontrados segundo os autores resultados mistos acerca da
eficácia de PUFAs ω-3 no tratamento de sintomas depressivos
nos idosos, sendo sugerido a realização de mais ensaios
clínicos randomizados de alta qualidade e em larga escala para
se ter um nível de evidência mais conclusiva.
Farioli et al., (2018) produziu em sua revisão de literatura
uma investigação sobre os efeitos da atividade física
associados ao uso de PUFAs ω-3 no transtorno depressivo em
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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

idosos, chegando a conclusão que tanto a adoção de um estilo


de vida ativo, assim como a inclusão dietética de ω-3 na
alimentação parecem provomer e prevenir o estado de saúde
mental ao longo da vida dos idosos.
Braga (2015) analisou através de sua revisão
bibliográfica a eficácia e a segurança do uso de ômega-3 em
idosos com 60 anos ou mais. Dos 11 artigos selecionados no
estudo, foi observado que a suplementação com PUFAs ω-3
não produziu melhora no desempenho cognitivo dos idosos
saudáveis, porém houve melhora naqueles que apresentaram
comprometimento cognitivo leve, além de efeitos benéficos
quanto o grau de depressão leve à moderada no idosos.

CONCLUSÕES

Diante do levantamento é possível constatar a existência


de um corpo de evidências com resultados mistos quanto a
eficácia da utilização de ácidos graxos ômega-3 para a
prevenção e o tratamento da sintomatologia depressiva nos
ciclos de vida, sendo consensual que o PUFAs ω-3 do tipo DHA
parecem ser os que desempenham um efeito benéfico mais
conveniente, possivelmente relacionado com sua atuação na
inibição do processo inflamatório cerebral. Além disso a maior
eficácia da utilização do ω-3 é descrita nos estudos em que seu
uso foi incluído como uma estratégia complementar para o
tratamento dos distúrbios depressivos e não como uma
monoterapia onde foi relatada efeitos de benefício mínimos,
sendo esta observação válida para todos os ciclos de vida.
Contudo, para uma melhor confiabilidade sobre os efeitos anti-
depressivos da ingestão do ω-3 em diferentes fases da vida é
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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM DIFERENTES FASES DO CICLO DE VIDA

necessário a realização de mais estudos clínicos experimentais


tendo uma maior escala de participação e com alta qualidade
na execução metodológica, para que assim colabore no acervo
de evidências qualificadas.

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EFEITOS DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
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