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GNE341 – Operações Unitárias III

Profa. Isabele Cristina Bicalho (DEG/UFLA)


GNE341 – Operações Unitárias III

• Conteúdo
3. Destilação
3.1. Destilação Flash
3.2. Destilação contínua com refluxo
3.2.1. Balanços materiais em colunas de pratos
3.2.2. Linhas de operação
3.2.3. Número de pratos ideais
3.2.4. Razão de refluxo: total, mínima e ótima
3.2.5. Produtos de elevadas purezas
3.3. Balanços entálpicos
3.4. Projeto de colunas de pratos perfurados
3.4.1. Queda de pressão e velocidade máxima do vapor
3.5. Eficiência de pratos/estágios
3.6. Destilação batelada
3.4. Projeto de Colunas de Pratos

• Projeto de colunas de pratos perfurados (sieve-


plates)
No projeto de uma coluna é necessário especificar o nº de pratos ou
estágios: calcula-se o nº de pratos ideais e aplica-se a eficiência do
prato para corrigir. Nesta etapa, outras decisões importantes
também devem ser tomadas, como especificar/definir:
O tipo de prato, qual o tamanho e configuração dos furos no prato
O espaçamento entre os pratos
A taxa de vapor permitida
A queda de pressão por prato
O diâmetro da coluna, etc.
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3.4. Projeto de Colunas de Pratos
Faixa de dados mais usuais:
Diâmetros da coluna: de 30 cm a mais que 9 m
Número de pratos: até 100
Espaçamento dos pratos: de 15 cm ou menos que 1 ou 2 m
Pressão de operação: alta ou baixa
Temperaturas: até 900ºC

O projeto é baseado na aplicação de princípios teóricos


(cálculos precisos) e no uso de correlações empíricas, obviamente, o
projetista deve ter experiência (“feeling”) para tomar as decisões
mais acertadas.

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3.4. Projeto de Colunas de Pratos
Vamos discutir os fundamentos do projeto de pratos nos
restringindo a colunas equipadas com pratos perfurados, operando
a pressões próximas da Patm e tratando misturas comuns.
• Operação normal dos pratos perfurados
Um prato é projetado para promover o contato íntimo do vapor
ascendente com o líquido descendente visando a maximização dos
processos de TM.
Os pratos são placas dispostas
horizontalmente ao longo da coluna com o
objetivo de “empoçar” o líquido
descendente. Eles são construídos de tal
maneira que o vapor ascendente borbulhe
nos líquidos empoçados nos pratos (quase
ao ponto de formar uma espuma).
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3.4. Projeto de Colunas de Pratos
Existem muitas maneiras de se promover este contato líquido-vapor
no prato, vamos nos reter especificamente ao prato perfurado.

perfurado (perforation cap) válvula (valve cap) campânula (bubble cap)

Este prato é perfurado


como se fosse um chuveiro e o
líquido é retido nos pratos pela
pressão do vapor borbulhante.
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3.4. Projeto de Colunas de Pratos
O líquido escoa sobre o prato e passa sobre o vertedouro (weir)
chegando aos downcomers que vão levar para o prato abaixo.

Em cada prato tem-se o


escoamento em fluxo cruzado do
líquido com o vapor. Para a coluna
toda, consideramos o escoamento
em contracorrente.
Usualmente, cada downcomer
ocupa de 10 a 15% da área da seção
transversal da coluna, deixando 70 a
80% da área da coluna destinada ao
borbulhamento de vapor (contato
líquido-vapor).
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3.4. Projeto de Colunas de Pratos
O vapor passa através da região perfurada do prato, que ocupa a
maior parte do espaço entre os downcomers. Os furos são
usualmente de 5 a 12 mm num arranjo triangular.
A velocidade do vapor nos furos do prato deve ser alta o suficiente:
para promover uma mistura vigorosa do líquido e vapor sobre o
prato, muitas vezes com geração de espumas, fornecendo uma
elevada área superficial para a TM.
inviabilizar a passagem de líquido pelos furos (o líquido deve
escoar pelo downcomer)
A densidade média da espuma pode ser tão baixa quanto 0,2x a
densidade do líquido, e a altura da espuma é várias vezes o valor
correspondente para a quant. real de líquido no prato.

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3.4.1. Queda de Pressão e Velocidade Máxima

• Queda de pressão do vapor


A queda de pressão através de um único prato é usualmente de 50 a
100 mmH2O e a queda de pressão total sobre uma coluna de 40
pratos é em torno de 2 a 4 mH2O.
O reboiler deve gerar vapor numa pressão suficiente para vencer
a queda de pressão através da coluna (ter o fluxo de vapor).
A queda de pressão por prato deve ser monitorada para garantir
que o prato irá funcionar adequadamente (sem gotejamento ou
inundação).
A queda de pressão do vapor através do prato é dividida em duas
partes, a queda de pressão por atrito nos furos e a queda de
pressão para atravessar a camada de líquido sobre o prato (holdup):
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3.4.1. Queda de Pressão e Velocidade Máxima

ht  hd  hl (1) (em mm ou polegadas de líquido)

onde: ht = queda de pressão total no prato


hd = queda de pressão por atrito no prato seco (sem líquido)
hl = altura equivalente de líquido sobre o prato
A queda de pressão através dos furos, hd, é predita pela Eq. (2):
 u02   rV  modificação da eq. para escoamento
hd   2   (2)
 C   2 g r L  através de um orifício
 0
onde: u0 = velocidade do vapor através dos furos
rv = densidade do vapor
rL = densidade do líquido
C0 = coeficiente de descarga do orifício, adimensional 10
3.4.1. Queda de Pressão e Velocidade Máxima

O coeficiente de descarga, C0, depende de duas razões:

espessura do prato
diâmetro do furo
Coeficiente de descarga, C0

Para a maioria dos pratos


perfurados a espessura é
de 0,1 a 0,3 vezes o
diâmetro do furo.
Para essas espessuras e
frações típicas de área
aberta de 0,08 a 0,10, C0
varia de 0,66 a 0,72.

Fração de área aberta


área total dos furos

área de borbulhamento 11
3.4.1. Queda de Pressão e Velocidade Máxima

Para calcular a queda de pressão ao atravessar a camada de líquido,


hl, precisamos da altura equivalente de líquido sobre o prato:
O holdup depende das propriedades físicas do líquido e vapor,
aumenta com a altura do vertedouro e com a taxa de líquido e
diminui ligeiramente com o aumento da taxa de vapor.
Um método simples para estimar a altura de holdup, hl, utiliza a
altura do vertedouro, hw, a altura calculada do líquido limpo sobre o
vertedouro (over the weir), how, e um fator empírico b :

hl  b (hw  how ) (3)

Altura equivalente
de líquido sobre o
prato
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3.4.1. Queda de Pressão e Velocidade Máxima

A altura deve ser corrigida pelo parâmetro b , porque o líquido está


aerado. Levando em conta o fator de aeração encontramos a altura
equivalente de líquido (corrige o efeito da densidade da espuma).
Altura de Altura
líquido Líquido Corrigindo
equivalente de
“limpo” aerado com b < 1
líquido “limpo”

Para alturas de vertedouros típicas de 25 a 50 mm e velocidades de


vapor na faixa normal, os valores de b variam de 0,4 a 0,7.
Muito usual em projetos: b = 0,6
A altura sobre o vertedouro é estimada pela equação de Francis
aplicada para um vertedouro do tipo segmentar reto:
2/3
 qL 
how  43, 4   (4)
 Lw  13
3.4.1. Queda de Pressão e Velocidade Máxima

onde: how = altura, mm


qL = vazão de líquido limpo, m3/min Lw
Lw = comprimento do vertedouro, m

Para how << hw, a Eq. (3) mostra que hl pode ser menor que hw, o que
significa que há menos líquido no prato do que o correspondente da
altura do vertedouro, situação esta muito comum.
hl  b (hw  how ) (3)

• Altura ou nível de líquido no downcomer


A altura de líquido no downcomer deve ser consideravelmente
MAIOR que a altura de líquido no prato. A altura total de líquido
“limpo” no downcomer é dada pela soma de três termos:
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3.4.1. Queda de Pressão e Velocidade Máxima

Z c  b  hw  how   ht  h f , L (5)
   queda de pressão por
hl atrito no líquido

Substituindo as Eqs. (1) e (3), temos:


Z c  2 b  hw  how   hd  h f , L (6)

A altura real de líquido aerado (Z) no downcomer é maior do que Zc


por causa do volume ocupado pelas bolhas:
Zc
Z (7)
d
onde, d é a fração média de
volume de líquido no
downcomer. Se não existir
bolhas de vapor no líquido no
downcomer; d = 1 e, Z = ZC.
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3.4.1. Queda de Pressão e Velocidade Máxima

Quando a altura do líquido aerado no downcomer ultrapassa a


altura do vertedouro do prato acima:
Z  S  hw coluna inundada

Espaçamento entre pratos

Num projeto conservativo, um valor de d = 0,5 é usado, e o


espaçamento entre os pratos e as condições de operação são
escolhidas de tal forma que Z < S.
• Condições limite de operação para pratos perfurados
Weeping (gotejamento): A baixas velocidades do vapor, a queda de
pressão não é grande o suficiente para prevenir que o líquido escoe
através dos furos para o prato de baixo. O resultado é uma menor
eficiência do prato, já que há um menor contato líq-vapor.
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3.4.1. Queda de Pressão e Velocidade Máxima

Uma alternativa seria diminuir o tamanho dos furos ou diminuir a


fração de área aberta, porém essas mudanças acarretariam um
aumento da queda de pressão na coluna e reduziriam a vazão
máxima através da coluna.
Downcomer Flooding (inundação): A velocidade do vapor é muito
alta, ele arrasta gotas de líquido com ele (entrainment), com isso a
queda de pressão no prato é muito grande e o líquido no
downcomer não consegue escoar para o prato de baixo e então o
prato enche de líquido (inunda).
A velocidade máxima permissível do vapor na coluna pode ser
estimada pela relação:
r L  rV   0,2
uc  Kv   (8)
rV  20 
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3.4.1. Queda de Pressão e Velocidade Máxima

onde: uc = máxima velocidade do vapor, baseada na área de


borbulhamento, ft/s
 = tensão superficial do líquido, dina/cm
Kv = coeficiente empírico (para pratos perfurados, figura)

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Exemplo 7

• Exemplo 7) Uma coluna de pratos perfurados opera à pressão


atmosférica para produzir metanol quase puro a partir de uma
solução aquosa com 40% molar de metanol. A taxa mássica de
destilado é de 5800 kg/h.
(a) Para uma razão de refluxo de 3,5 e um espaçamento de pratos
de 18 in, calcular a velocidade do vapor e o diâmetro da coluna.
(b) Calcular a queda de pressão por prato, se cada prato perfurado
tem 1/8 in de espessura, furos de 1/4 in, espaçamento triangular de
¾ in e altura de vertedouro de 2 in.
(c) Qual é a altura do líquido aerado no downcomer?

Propriedades físicas do metanol: M = 32, Tbolha (1 atm) = 65ºC, r (líq. à


65ºC) = 750 kg/m3 e  (líq. à 65ºC) = 19 dina/cm. R = 0,082 atm∙L/(mol∙K)
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3.5. Eficiência de pratos/estágios

• Eficiência de pratos ou estágios


Os pratos utilizados nas operações de TM não são ideais (se o tempo
de contato e o grau de mistura no prato não são suficientes, as
correntes que deixam o prato não estarão no equilíbrio).
Dessa forma, a eficiência do prato ou estágio não será 100%, e um
nº REAL de pratos maior que o nº ideal deverá ser utilizado.
Três tipos de eficiência são usadas:
1. Eficiência global aplicada a coluna como um todo

2. Eficiência de Murphree aplicada a um prato

3. Eficiência local aplicada em uma determinada posição no prato

OBS: Isto vale para as operações de absorção e destilação. 20


3.5. Eficiência de pratos/estágios
• Eficiência global (h0)
É a mais simples para medir e usar, porém a menos fundamental. Ela
é definida como a razão entre o nº de pratos ideais necessários em
uma coluna (N) e o nº real de pratos usado (Nreal).
nº de pratos ideais N
h0   (9)
nº real de pratos N real

Exemplo) Se são necessários 6 pratos ideais numa coluna com


eficiência global de 60%, então o número real de pratos é:
N 6
N real    10
h0 0, 6

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3.5. Eficiência de pratos/estágios
• Eficiência de Murphree (hM) ou do prato
É definida da seguinte forma:
yn  yn1 variação real na composição do vapor (força motriz real)
hM   = (10)
yn  yn1 variação que ocorreria se o vapor deixasse o prato no
equilíbrio com o líquido (força motriz máxima)

onde,
yn médio
yn = concentração real média do
vapor que deixa o prato n
yn+1 = concentração real média do
entrada
vapor que chega no prato n Prato n
xn-1
yn* = concentração do vapor que saída
estaria em equilíbrio com o xn
líquido de concentração xn que deixa yn1 médio
o prato n

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3.5. Eficiência de pratos/estágios
É difícil pegar amostras de vapor para medir as composições, então,
normalmente são retiradas amostras de líquido e as composições do
vapor determinadas do diagrama de McCabe-Thiele.
A eficiência de Murphree também pode ser calculada utilizando as
composições da fase líquida, o que é feito ocasionalmente para
operações de dessorção/stripping:
xn  xn1
hM 
xn  xn1

Colunas que operam com altas velocidades do vapor tem uma


redução das eficiências dos pratos (hM), em função do arraste de
gotas de líquido que são menos ricas no componente mais volátil
que o vapor (entrainment).
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3.5. Eficiência de pratos/estágios
• Eficiência local (h’)
É definida como:
local
entrada
yn'  yn' 1 xn-1 Prato n
h' (11)
saída
yn' *  yn' 1 local xn

onde, y’n = concentração do vapor que deixa o prato n num local


específico
y’n+1 = concentração do vapor que entra no prato n no mesmo
mesmo local
y’n* = concentração do vapor que estaria em equilíbrio com
o líquido de concentração x’n no mesmo local
Como y’n < y’n*, a eficiência local não pode ser > 1 ou 100% 24
3.5. Eficiência de pratos/estágios
• Relação entre as eficiências de Murphree e local
Em colunas de pequeno diâmetro, o fluxo de vapor agita
suficientemente o líquido de forma que podemos considerá-lo
uniforme sobre todo o prato. Assim,
as eficiências de
yn  yn' , yn1  yn' 1, e yn*  yn' * hM  h ' Murphree e local
são iguais!
Em colunas de grandes diâmetros, acontece uma mistura
incompleta do líquido sobre o prato. Existem gradientes de
concentração e a eficiência local será consideravelmente menor que
a eficiência de Murphree:
yn  yn1 yn'  yn' 1
hM   h' '* '
yn  yn1 yn  yn1
Vapor em equilíbrio com xn (que é a Vapor em equilíbrio
menor concentração do prato) com xn’ 25
3.5. Eficiência de pratos/estágios
Note que a concentração média do vapor yn pode ser inclusive
maior que yn* = f (xn) e com isso,
h M  1 ou 100%

O valor de hM pode ser relacionado a h’ pela integração de h’ sobre


todo o prato.
• Uso da eficiência de Murphree
Quando a eficiência de Murphree é conhecida, pode-se utilizar essa
informação no diagrama de McCabe-Thiele para determinar o nº
real de pratos.
O triângulo acd representa um prato ideal e o triângulo menor abe o
prato real, na figura a seguir.

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3.5. Eficiência de pratos/estágios
Prato real: enriquece o vapor
de yn+1 até yn (segmento ab),
Prato ideal: enriqueceria de
yn+1 até yn * (segmento ac).
ab
Note que h M 
ac
Para aplicar uma hM
conhecida para a coluna toda,
trocamos a L.E. por uma L.E.
efetiva (ye’ vs xe):
yn  yn1
hM  yn  yn1  hM ( yn  yn1 )
yn  yn1
ye '  y  h M ( ye  y ) (12)
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3.5. Eficiência de pratos/estágios
A linha pontilhada é a “nova”
L.E.. Sua posição depende das
L.O.s e L.E. original.
Uma vez que a L.E. efetiva tiver
sido plotada, o método usual de
construção dos degraus pode
ser feito e será determinado o
nº real de pratos.
OBS: O reboiler não está sujeito
ao desconto da eficiência do
prato, e a L.E. original é usada
para o último degrau na seção
de stripping.

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