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A Globalização, por vezes, é compreendida a partir das Grandes Navegações

Européias no início da Idade Moderna, pois a partir dos empreendimentos


marítimos de Portugal e Espanha teremos uma cartografia do mapa-múndi.
Entretanto, aqui analisaremos como fenômenos da Globalização o advento da
Geopolítica após a dissolução da União Soviética e consequente fim da Guerra
Fria.

A Nova Ordem Mundial


Após o mundo bipolar e com a queda do Muro de Berlim (nov/1989) e a
dissolução da União Soviética (1991) entramos numa era de tentativas de
integração econômica, cultural e social no globo terrestre. Este período é
marcado pela híperpotência militar norte-americana e pela economia policêntrica
dos Estados Unidos, dos blocos econômicos: notadamente a União Européia,
além do Japão e mais recentemente com a presença da China.

As tecnologias da informação e os meios de transportes apresentaram grande


expansão e as distâncias, aparentemente, diminuíram. No caso, as relações
sócio-espaciais se integrariam com maior intensidade a partir dos anos 1990.

Figura 1. As distâncias diminuem com o advento das tecnologias de transportes e comunicações desde o
século XVI no esquema de David Harvey.

Aldeia global?
O mapa acima nos mostra um planeta Terra diminuindo em extensão territorial
desde as Grandes Navegações do século XVI. Para alguns autores o processo
de globalização tem ocorrido desde o nascimento do capitalismo comercial e se
desenvolve à medida que as relações econômicas, desse sistema, se expandem
na superfície terrestre. Em outras palavras, a globalização é um processo e
ocorre com diferente intensidade desde o século XVI. Entretanto, seria no pós-
Guerra Fria que haveria maior aprofundamento no processo de integração sócio-
espacial como resultado das tecnologias da Terceira Revolução Industrial
(informática, telefonia móvel, satélites, aviação etc.).

O processo de globalização avança, mas de maneira desigual na superfície do


planeta terrestre. O processo de integração chega de diferentes maneiras nos
quatro quadrantes do globo, bem como chega de diversas maneiras dentro dos
territórios nacionais.

Escalas da Globalização
No caso, podemos considerar os efeitos da globalização e seus fenômenos em
escala global e em escalas regionais e locais.

Se considerarmos a escala global, podemos considerar que todo o mundo está


integrado? A resposta a tal pergunta é controversa por diversos fatores. Mas um
fato importante é: o acesso às tecnologias da informação e do sistema de
transportes, dinâmico dos últimos anos, não chegou com a mesma densidade e
intensidade nos diferentes lugares. Exemplifique-se: as tribos indígenas isoladas
na Amazônia, os grupos aborígenes na Austrália ou em regiões rurais –
marcadas por baixíssimos indicadores sociais – no continente africano não têm
o mesmo acesso às tecnologias da informação e aos meios de transportes
intercontinentais se comparados com as regiões centrais da Europa ocidental,
dos Estados Unidos e do Japão.

E se nessas regiões periféricas da Ásia, África e América Latina as populações


têm acesso aos produtos da Apple ou da Samsung é em menor intensidade que
as populações dos países chamados centrais.

Ademais, a globalização poderia ser compreendia como a diminuição das


distâncias entre as pessoas, porém as barreiras em regiões de fronteira em
Melilla e Ceuta (entre Espanha e Marrocos), as cercas que separam a Faixa de
Gaza e Israel no Oriente Médio, bem como o muro na fronteira entre San Diego,
na Califórnia e Tijuada, no México, a fim de separar ambos os países. Detalhe é
que no curso do advento da globalização dos anos 1990 é que assistimos à
Operação Gatekeeper na administração do ex-Presidente dos EUA, Bill Clinton,
e a construção do muro entre EUA e México. Tais exemplos fragmentam a
globalização. Ou, segundo alguns autores, a globalização é um fenômeno
marcadamente econômico em que circulam dinheiro e capitais com maior
intensidade, e não necessariamente as pessoas em seus fluxos migratórios.

Em escalas regionais e locais poderíamos considerar as diferenças sócio-


econômicas no interior dos países, a exemplo do Brasil, e a segregação sócio-
espacial em grandes espaços urbanos. No caso, em regiões com menores
indicadores sociais, o acesso às tecnologias de informação é mais truncado e
em menor intensidade. Em outras palavras, Alagoas é um dos estados brasileiro
de pior Índice de Desenvolvimento Humano, já os estados de Santa Catarina e
São Paulo apresentam o segundo e terceiro melhores Índices de
Desenvolvimento Humano nacionais, respectivamente. É razoável diante dessa
análise, portanto, entendermos porque a globalização não chega a todos os
lugares na mesma intensidade.

Outrossim, apesar dos indicadores sociais do estado paulista apresentarem


médias altas – se comparados aos demais estados nacionais – nas grandes
metrópoles ainda há bolsões de pobreza em notória desigualdade econômica e
consequente acesso mais restrito às novas tecnologias de rede que permeiam a
globalização.

Globalização Fragmentada
Conforme discutido nos parágrafos anteriores, percebemos que a Globalização
não é um fenômeno homogêneo e apresenta diversas nuances. Além disso, há
movimentos espalhados pelo globo que se opõem à Globalização.

A Globalização é fenômeno que apresenta diferentes tipos de resistências à sua


ocorrência de maneira mais ampla e plena e diante disso podemos observar:
movimentos nacionalistas nos quatro cantos do planeta, conflitos étnicos e
religiosos.

A Península dos Balcãs e O Caso da Iugoslávia


Território localizado na Península dos Balcãs, ao norte da Grécia, a região que
compõe a ex-Iugoslávia é um caldeirão étnico e religioso.

Figura 2. Ex-Iugoslávia e sua diversidade étnico-religiosa.

Os países que se originaram com a fragmentação da Iugoslávia são: Eslovênia,


Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro, Macedônia e Kosovo.

A Eslovênia e a Croácia são países católicos romanos, ao passo que há minoria


muçulmana importante ao sul da Croácia. Sérvia, Montenegro e a Macedônia
são predominantemente cristãos ortodoxos com minorias muçulmanas. A região
de Kosovo é predominantemente muçulmana e recentemente pediu
independência da Sérvia. A Bósnia-Herzegovina é muito diversificada
etnicamente com parcelas consideráveis de cristãos ortodoxos, católicos
romanos e muçulmanos.

No pós-Segunda Guerra a região da Iugoslávia se manteve unificada por meio


da força. A unificação dos diversos povos que compõem essa região só foi
possível por meio da ditadura de Joseph Broz, conhecido como Marechal Tito.

O Marechal Tito foi 1° Ministro de 1945 até 1953 e presidente de 1953 até 1980.
O longo governo de Tito foi marcado por aproximação e distanciamento da União
Soviética ao longo da Guerra Fria. Apesar de ser compreendido como um dos
Estados satélites da União Soviética, Tito recebeu financiamento dos Estados
Unidos à época do Plano Marshall. Ao longo de seu governo, Tito procurou
desenvolver uma espécie de auto-gestão diante das potências do mundo bipolar.

A morte de Tito em 1980 mudaria profundamente os limites fronteiriços da


Iugoslávia. O poder central iugoslavo cedeu lugar ao poder rotativo. O poder
rotativo entre as repúblicas iugoslavas chegaria ao final em 1991 com a
declaração de independência da Croácia e da Eslovênia. Apesar disso Slobodan
Milosevic presidiu a Iugoslávia ‘’grande’’ entre 1989 e 1997 enfrentando muitas
crises internas, movimentos separatistas e a chamada Guerra Cirúrgica de 1995.
A partir de 1997 Slobodan presidiu a Iugoslávia-Sérvia, conhecida como
‘’Iugoslávia pequena’’ até 2000.

No ano de 1991, diante da desintegração regional, Sérvia e Montenegro se


unificaram para formar a República Federal da Iugoslávia. A partir de 1992 a
Bósnia-Herzegovina declaram independência e Milosevic é acusado de
perseguir os demais grupos étnicos e religiosos.

Os sérvios são acusados de limpeza étnica e se assiste crescente ondas de


violência que desencadearia na Guerra Civil Iugoslava.

Em 1993 a Croácia se envolve no conflito e disputa partes do território da Bósnia-


Herzegovina para si. A Organização das Nações Unidas envia forças de paz.

Os sérvios se apossam da maior extensão territorial da Bósnia, a OTAN – em


1995 – intervém no conflito e bombardeia a Sérvia.

Nos anos seguintes Montenegro e Kosovo pedem independência da Sérvia em


2006 e 2008, respectivamente.

O caso espanhol
A Espanha é uma colcha de retalhos étnicos. A unificação da Espanha, ao longo
do século XV, uniu regiões diversas que nos séculos XX e XXI questionariam por
independência. O Reino da Espanha uniu as regiões de Castela e Aragão, bem
como Navarra e Granada.

Há movimentos separatistas em pelo menos duas regiões que ganharam


destaque no curso do século XX e nos últimos anos, as regiões Basca e Catalã,
respectivamente. Na região dos Pirineus, zona fronteiriça entre Espanha e
França, há o movimento separatista do auto-denominado de País Basco.

Os bascos são um grupo étnico próprio e sua população é estimada em 2


milhões de habitantes, a Espanha conta com 46 milhões de habitantes. Dados
de 2018.

A língua do grupo étnico basco é o próprio basco ou vasconço. Essa minoria foi
dominada pelos hispânicos e francos no processo de formação dos Estados
modernos. O governo de Francisco Franco (1939-1975) impôs o uso do idioma
espanhol às diversas regiões do país e às minorias basco, galego e catalã, além
de proibir o uso de suas bandeiras.

Apesar disso, há o partido Nacionalista Basco que atua na região de Navarra e


no país Basco francês e tem como característica o nacionalismo basco e a
separação territorial.

É notório e conhecido o grupo guerrilheiro ETA (Eskadi Ta Askatasuna), cujo


significado é ‘’Pátria Basca e Liberdade’’. Fundado em 1951 de viés marxista e
revolucionário que se opôs ao governo franquista. Na década de 2000 fez
acordos de trégua e em 2011 encerrou suas atividades.

Figura 3. Espanha e as regiões separatistas ou autônomas: País Basco, Catalunha, Valença, Navarra e
Galiza.

Conforme se pode constatar, a Espanha é uma colcha de retalhos quando


analisamos os grupos étnicos separatistas. Há diversas regiões autônomas.
Desde os Bascos – grupo de maior envergadura no curso do século XX – até os
protestos recentes na Catalunha. Em outubro de 2017 a Catalunha realizou um
plebiscito sobre a independência regional, a capital do país pretendido seria
Barcelona. A Constituição espanhola não permite plebiscitos separatistas e
respondeu fortemente aos catalães. No caso, houve proibição da realização do
plebiscito pela justiça espanhola, ações policiais e pressão política de Madri, mas
os catalães realizaram o plebiscito mesmo assim.
A região da Catalunha tem uma demografia estimada em 7,5 milhões de
habitantes, se localiza a nordeste do Estado espanhol, seu PIB é considerado
um dos mais altos da Espanha que corresponde a 20% da riqueza gerada no
país.

Nenhum país europeu, nem os Estados Unidos, apoiaram o movimento


separatista da Catalunha. Tal fato é fundamental porque nenhum Estado que
conseguiu independência separatista nos últimos 40 anos o fez sem o apoio do
Reino Unido, da França e dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da
ONU.

Entretanto, apesar do plebiscito catalão ter se realizado à revelia da Constituição


espanhola, os impactos do movimento podem desencadear consequências
políticas e culturais de longo alcance histórico e geográfico. O que assistimos foi
o apoio dos países da União Européia ao governo central da Espanha. Madri
colhe apoio dos países europeus contrários à fragmentação territorial de suas
fronteiras num contexto de contestações à unidade do Bloco Econômico, pois
em 2016 houve um plebiscito no Reino Unido a fim de saída da União Européia.
O caso da região da Galícia é bastante incomum dentro do território espanhol,
pois a língua local – o galego – é bastante semelhante ao português de Portugal
e por isso há grupos que querem separação da Espanha e união à Portugal,
embora haja sim movimentos separatistas e independentistas de uma Galícia
fora da influência de Madri. Já outros grupos só almejam maior autonomia dentro
do Estado espanhol.

A região de Valença tem como idioma o catalão e há movimentos favoráveis à


anexação de Valença e Catalunha e a fragmentação dessas regiões do Estado
espanhol.

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