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MANEJO DE PASTAGENS - Ferramenta para aumento de rentabilidade

Marcelo Könsgen Cunha1


José Marcelo de Mendonça Severo 2
Weder Ferreira dos Santos3

1. Introdução
O princípio básico da produção de forrageiras é a transformação da energia solar em compostos
orgânicos, via fotossíntese. Nesse processo, a umidade do solo, o CO 2 do ar, a capacidade fotossintética
das folhas além, naturalmente da luz solar, constituem os principais fatores. Sem dúvida o nível de
fertilidade do solo também tem papel importante na produtividade das forrageiras (Gomide, 1994).
Também interferem nesse processo, a temperatura, a própria espécie forrageira, o animal, pela ação
exercida sobre o solo, planta e clima e o homem, através do manejo dado a todos os demais fatores. Ou
seja, conclui-se que é impossível pensar isoladamente na planta forrageira, já que ela é um dos fatores que
compõe um sistema de produção animal baseado em pastagens.
Apresentando o acima exposto de maneira mais didática temos na figura 1 os componentes de um
sistema de produção animal baseado em pastagens, que são a imensa maioria dos sistemas de produção do
Brasil. Os componentes desse sistema são os seguintes:
1) clima: representado por radiação solar, temperatura, umidade relativa do ar, precipitação, geadas,
granizo, ventos, neve.
2) solo: com todas as suas características físicas, químicas e biológicas.
3) planta: com suas características de produtividade, composição química e morfofisiológicas.
4) animal: espécie, raça, sexo, idade, peso vivo, estado nutricional, tratamento prévio.
5) homem: este atua manejando os outros 4 componentes do sistema sempre que possível.

________________________________
1
Engo.Agro. M.Sc. Pesquisador da UEP-TO / Embrapa Cerrados. Av. Teotônio Segurado, 1501 Sul – cx postal 96 –
77.054-970 – Palmas-TO. cunhamk@cpac.embrapa.br
2
Tec. Agropec. UEP-TO/Embrapa Cerrados. Av. Teotônio Segurado, 1501 Sul – cx postal 96 – 77.054-970 –
Palmas-TO. zemarcelo@cpac.embrapa.br
3
Acadêmico do curso de Eng. Agrícola do Ceulp/Ulbra. Estagiário da UEP-TO/Embrapa Cerrados.
wedereira@yahoo.com.br
Entre os exemplos da influência do homem sobre os demais componentes do sistema tem-se: a)
maneja o fator precipitação, com uso da irrigação. b) através de adubações pode interferir nas
propriedades do solo. c) através de manejo das pastagens pode alterar a produtividade e composição
química das mesmas. d) dividindo os animais em lotes pode uniformizar esse componente.

MANEJO

CLIMA

SOLO ANIMAL
PLANTA

Figura 1- Representação esquemática das relações entre os componentes de um sistema de produção de


ruminantes.

Para o desenvolvimento de um sistema de produção sustentável em pastagens é de fundamental


importância o entendimento das relações entre os componentes do sistema, visto que alterações em um
dos componentes afetam os demais componentes em maior ou menor grau, por exemplo, quando o homem
interfere através da irrigação ele age diretamente sobre o clima (precipitação pluviométrica), porém essa
irrigação melhora a disponibilidade de água no solo, que melhora o desenvolvimento e crescimento das
plantas forrageiras, ou seja, melhora a disponibilidade forrageira aos animais (desde que mantido a mesma
carga animal), o que tem conseqüência direta sobre o desempenho dos animais e do sistema como um
todo. Raciocínio análogo a esse deve ser feito para os demais manejos/tecnologias usados dentro de um
sistema de produção específico.
Portanto, o funcionamento da pastagem como um sistema é regido por alguns princípios básicos
determinantes dos diferentes níveis tróficos de produtividade e que devem ser bem entendidos para que
possam ser manejados de forma sustentável (Figura 2). Esses princípios envolvem: a) radiação solar para
alimentar o fluxo de energia como base do funcionamento do sistema; b) superfície de captação (folhas)
para transformar a radiação solar incidente em energia química, o tamanho e eficiência dessa
transformação depende da disponibilidade de nutrientes no sistema; c) o pastejo que afeta ambos os
processos: c.1) fluxo de energia ao remover parte da superfície de captação e o c.2) ciclo de nutrientes ao
acelerar a mineralização e a disponibilidade de nutrientes, através de sua retirada via produto animal
(Nabinger, 1996, citado por Maraschin, 2001). Assim tem-se a produtividade primária que é a matéria-
prima para o animal em pastejo desenvolver a produtividade secundária.
A capacidade de um sistema pastoril para produzir biomassa pode parecer ilimitada,
considerando-se o imenso e contínuo suprimento de energia solar. Mas água, nutrientes e temperatura
freqüentemente limitam o desenvolvimento de área de folhas necessária a máxima captação da radiação
fotossinteticamente ativa incidente. O carbono fixado é repartido entre as folhas, as hastes e as raízes. A
proporção alocada ao crescimento foliar num dia “n” determina o suprimento de energia que pode ser
interceptada no dia “n+1”, o que se traduz por uma aceleração no crescimento da planta. Esta aceleração é
tanto mais marcante quanto maior for a quantidade de carbono alocada as folhas, e que a área foliar
suplementar se traduza num suplemento de energia interceptada. A produtividade secundária, por sua vez,
é limitada pela disponibilidade de produção primária, e também pela incapacidade dos herbívoros
consumirem toda a produção primária. A qualidade nutritiva da produção primária restringe a
produtividade secundária. Ela depende das espécies do substrato herbáceo, da fração da planta
considerada, da sua idade e da disponibilidade de nutrientes. O dilema básico reside na impossibilidade de
otimizar a interceptação e a conversão de energia solar em produção primária, simultaneamente com a
máxima eficiência de colheita (Parsons et al., 1983, citado por Maraschin, 2001).
Esse artigo tem por objetivo abordar o manejo de pastagens como forma de melhorar a eficiência
e, por conseguinte, a rentabilidade dos sistemas de produção a partir de uma determinada produtividade
primária do sistema. Obviamente que, em determinadas situações de baixa produtividade primária do
sistema deve-se avaliar se as alterações no manejo das pastagens terão o retorno esperado, pois em muitos
desses casos pode ser necessário, além dessas mudanças, investimentos na recuperação da capacidade
produtiva das pastagens, através das mais diferentes alternativas, para que a produtividade primária seja
elevada e assim não limite a produtividade e rentabilidade do sistema como um todo.
PRODUTIVIDADE SECUNDÁRIA DE UM SIST. DE PROD. AN. EM PASTAGENS

PRODUÇÃO ANIMAL - kg PV/ha/ano

CONVERSÃO - qualidade da forragem, DIVMS, parte da


planta consumida, suplementação, espécie animal, raça,
idade, sexo, PV, tratamento prévio conforto ambiental,...

FORRAGEM CONSUMIDA PELOS ANIMAIS


kg MS/cab/ano

APROVEITAMENTO - EFICIÊNCIA DE PASTEJO


sistema de pastejo, espécie forrageira, altura pastagem,
relação caule/folha, qualidade de forragem, estrutura
da pastagem, lotação, conforto ambiental, espécie animal

PRODUTIVIDADE PRIMÁRIA DE UM SIST. DE PROD. AN. EM PASTAGENS

PRODUÇÃO DE FORRAGEM - kg MS/ha/ano

SOLO ESPÉCIE FORRAGEIRA CLIMA


aspectos químicos, físicos e biológicos Potencial produtivo radiação solar (quantidade e qualidade)
Manejo temperatura (mínima, média e máxima diária)
precipitação (quant. e freqüência)

Figura 2. Componentes da produtividade de um sistema de produção animal baseado em pastagens

2. Sistemas de produção animal baseados em pastagens


O manejo de pastagens, ou melhor, do sistema solo-planta-animal, consiste na tomada de decisões
técnicas capazes de manter o equilíbrio entre dois fatores conflitantes em um sistema de produção animal
a pasto, a saber: necessidade nutricional do animal em pastejo e necessidade fisiológica da planta
forrageira para alcançar e manter elevada produtividade (Corsi e Nascimento Junior, 1994).
O controle e manejo das pastagens e animais são necessários para alcançar objetivos pré-
definidos, entre eles: 1- manutenção da população e produtividade das espécies forrageiras; 2- adequação
entre rendimento e qualidade da forragem, sabendo que valores máximos para esses dois fatores não são
alcançados ao mesmo tempo; 3- suprimento de nutrientes conforme necessidades nutricionais do animal
(Blaser, 1994).
O sucesso da produção animal depende de forrageiras que sejam produtivas, tenham qualidade
nutricional compatível com os níveis de produção animal desejado e custo de produção relativamente
baixo, além de animais com bom potencial de resposta (Blaser, 1994). Porém, primeiramente vem o
investimento em pastagens, que são a base para o sistema de produção, pois o potencial de produção é
limitado primeiramente pela produção e pela qualidade das pastagens, por isso essa também é chamada de
produção primária em um sistema de produção animal em pastagens e a produção animal é chamada de
produção secundária, conforme já foi salientado anteriormente. Isto é bastante lógico, visto que de nada
adianta os animais serem de excelente genética se a pastagem que lhes será ofertada, em quantidade e
qualidade, está aquém das necessárias para estes animais expressarem todo o seu potencial. Portanto, um
balanço entre estes dois componentes deve sempre existir, para que um componente não limite a
produtividade do sistema como um todo. Cabe aqui lembrar que, as espécies forrageiras devem ser
adaptadas aos solos, clima, regime de pastejo e nível tecnológico a ser empregado e que a deficiência ou o
baixo consumo de qualquer nutriente essencial pode restringir a produção animal.
Dentro desse raciocínio a lotação a ser empregada em uma determinada pastagem, com uma
determinada oferta e qualidade de forragem, está na dependência do tipo de animal e do objetivo a ser
alcançado com esse. Assim, o potencial genético do animal para produção de carne, leite ou lã, entre
outros fatores e objetivos específicos de cada categoria animal do rebanho, determinará a decisão de
priorizar a produção por animal ou por hectare em um determinado período, visto que as duas são inter-
relacionadas negativamente (Figura 3). Desta forma, pastagens com boa qualidade nutricional devem ser
oferecidas a animais de alto potencial genético para produção ou a categorias animais do rebanho que
devem ter melhores desempenhos de acordo com os objetivos planejados para um determinado sistema
produtivo, e a esses animais deve-se ofertar quantidade de forragem suficiente para atendimento de suas
necessidades nutricionais para atingir uma determinada produção, tanto por animal, quanto por hectare,
previamente planejada. É conhecido que a quantidade de forragem disponível por animal influencia a
resposta do animal, pois se sabe que o animal seleciona o verde em relação ao seco (morto), as folhas em
relação aos colmos, as folhas novas em relação as mais velhas. Com alta oferta de forragem (pressão de
pastejo baixa) o animal seleciona as porções mais ricas do substrato, enquanto que em situação de baixa
oferta de forragem ele aumenta o tempo de pastejo, seleciona menos e, é comum não consumir a sua
capacidade de ingestão, sendo, nesse caso, o consumo de forragem um limitante a produção animal.
Segundo Euclides (2001), citado por Zimmer et al. (2002), a oferta de forragem deve ser de 2 a 3 vezes
maior do que o consumo, ou seja, de 4 a 9 kg de MS/100 kg PV. Aliado a uma boa oferta de forragem é
importante que a mesma tenha uma elevada proporção de folhas, pois mais de 80% da forragem
consumida constituem-se de folhas.
1,4
1,2
1
(g/dia)

0,8
0,6
0,4
0,2
0
b1
b2
b3

1
2
3
4

5
6
7
8
p1
p2
p3
fo
fo
fo
fo

fo
fo
fo
fo
su
su
su

su
su
su
GPD/CAB (g/cab/dia) GPD/ha (g/ha/dia)

Figura 3. Influência da pressão de pastejo sobre o desempenho animal e por área (Adaptado de MOTT,
1960). Sub- subpastejo; fo- faixa ótima; sup- superpastejo; GPD- ganho de peso diário; cab- cabeça.

Em sistemas de produção onde se pretende alcançar lotações elevadas durante o ano (sistemas
intensivos) a suplementação dos animais é uma premissa básica para que o desempenho dos animais não
venha a decrescer por falta de alimento na estação seca do ano. Para tanto, sistemas de produção de
ruminantes baseados em pastagens devem utilizar uma ferramenta chamada de: planejamento alimentar.
A primeira providência a ser tomada seria o levantamento das pastagens e determinação de sua
produtividade ao longo do ano, juntamente com a evolução do rebanho mês a mês, dividindo-se o mesmo
de acordo com as diferentes categorias do rebanho e com desempenhos previamente planejados. Isso é
necessário, visto que a produção das pastagens, em nosso meio, é estacional sendo concentrada no período
das águas e muito reduzida no período seco. A situação ideal seria coincidir a curva anual de crescimento
das pastagens de uma propriedade com as necessidades nutricionais dos animais do rebanho em questão.
Isso, por sua vez, só é possível em sistemas extensivos onde o administrador opta por lotar suas pastagens
o ano todo com a capacidade de suporte do período de menor crescimento das pastagens (seca), e assim a
eficiência de pastejo desse sistema é muito baixa, pois há um excedente muito grande de forragem não
utilizado durante o período das águas, refletindo diretamente sobre a rentabilidade da atividade, que se
torna pouco atrativa.
Sistemas que procuram explorar de forma mais intensiva as pastagens são aqueles onde se lota as
pastagens de forma a consumir com eficiência de pastejo satisfatória a grande produção forrageira das
águas, obviamente que nestes sistemas, no período seco, algumas medidas devem ser adotadas, em
conjunto ou isoladamente, para que os animais que ficam na propriedade não sofram restrições
alimentares, entre elas: fenação ou ensilagem da produção excedente das pastagens, formação de
capineiras, ensilagem de culturas anuais como milho, sorgo e milheto, confinamento, irrigação de
pastagens, adubação de pastagens, venda e/ou descarte programado de animais no fim das águas e início
da seca e arrendamento de outras áreas de pastagem. Todas essas alternativas têm por objetivo satisfazer
às necessidades nutricionais dos animais que ficam na propriedade na estação seca e assim alcançar níveis
de produção previamente planejados. Algumas alternativas permitem explorações mais intensivas
(maiores lotações, maiores produtividades), porém apresentam maiores riscos ao investimento, além de
investimentos maiores, e são mais dependentes de mercado e condições climáticas para sua máxima
eficiência. Obviamente que, a relação custo/benefício deve ser medida em todas essas alternativas e deve-
se verificar o benefício que essas alternativas trazem para o sistema como um todo, durante todo o ano,
pois, de maneira geral, são usadas como ferramentas do manejo de pastagens, para explorar de maneira
mais intensiva todo o potencial produtivo das mesmas nas águas. Também, deve-se levar em consideração
que tais sistemas, por serem mais intensivos, requerem um nível administrativo e gerencial mais refinado e
mão-de-obra treinada e qualificada, já que algumas operações de rotina exigem melhor preparo. Os riscos
do investimento também devem ser levados em consideração, sendo que, é comum, o aumento dos
mesmos em relação ao sistema de produção extensivo, mas são ainda bastante seguros.
A lotação de uma determinada pastagem associado ao tempo de pastejo dessa (que é determinado
em função da quantidade e qualidade da pastagem, do uso ou não de suplementos e das necessidades
nutricionais dos animais para alcançar determinados desempenhos) influenciam de maneira decisiva na
severidade de desfolha dessa. O período de descanso dessa pastagem deverá ser tal que permita o
restabelecimento de nova produção de massa para novo período de ocupação. Quando um desses três
componentes de um sistema de pastoreio rotacionado está desequilibrado, leva, mais cedo ou mais tarde,
essa pastagem a um declínio em sua produtividade, decorrente da perda de vigor das plantas componentes
da pastagem. Instala-se, pois, o processo de degradação na pastagem, quando o manejo da mesma não é
feito de maneira correta.
A capacidade de fotossíntese da pastagem após desfolha depende da quantidade de área foliar
remanescente e de sua capacidade fotossintética. E esta depende do ambiente luminoso em que estas
folhas foram formadas. Como conseqüência, a rebrota inicialmente é lenta, até que um número suficiente
de novas folhas tenha se expandido e restabeleça a fotossíntese do dossel. A área foliar residual é
dependente da intensidade de desfolha, quando severa, a fixação de carbono pode ser insuficiente para
assegurar mantença dos tecidos remanescentes e para a síntese de nova área foliar. Nesta situação, a
produção de novas folhas necessita do aporte das reservas, fazendo com que aumente a duração do
período de rebrota e a pastagem continue a ter um ganho líquido de material vivo por um período
relativamente longo. Como também ocorrem “perdas” de carbono pela respiração, há uma perda inicial de
massa da vegetação. Este balanço de carbono se tornará positivo depois que a área de folhas produzidas
for suficiente para assimilar uma quantidade de carbono que exceda as perdas por respiração e
senescência. Portanto, quanto mais severa a desfolhação maior é a fase de balanço negativo. Mas,
desfolhação intensa também significa menor quantidade de folhas velhas remanescentes e a renovação é
maior, enquanto que em um pastejo leve muitas folhas restantes já têm uma certa idade e mais cedo
entrarão em senescência. A duração de vida das folhas é característica inerente ao genótipo, podendo ser
afetada por condições de ambiente. O conhecimento dessa característica é importante para determinar o
período de descanso da pastagem (Maraschin, 2001).
Plantas forrageiras de crescimento ereto ou cespitoso, quando submetidas a pastejo intenso e
contínuo, apresentam-se menos vigorosas em sua rebrota, com reduzido sistema radicular e menor
produção de forragem, expondo o solo ao processo erosivo, pela ação das chuvas e do vento, com
conseqüente perda de água e infestação de plantas invasoras. Por outro lado, o subpastejo também
apresenta efeito indesejável na pastagem, como as perdas e a reduzida qualidade nutritiva da forragem.
Devido ao intenso crescimento das gramíneas tropicais na primavera e verão, elas são freqüentemente sub
utilizadas, o que resulta em sombreamento das gemas basais e baixo perfilhamento. Sabendo disso, deve-
se manejar a pastagem de modo a alcançar uma pressão de pastejo em que não haja nenhum dos extremos
citados, pois assim, segundo Zimmer et al. (2002), haverá deposição de palha e raízes mortas no solo o
que favorece a infiltração de água, estimula a micro e mesofauna do solo, minimiza os problemas de
compactação e aumenta a aeração do solo, reduzindo a erosão eólica e laminar.
Contudo, é importante que se saiba que as pastagens raramente estão em equilíbrio, pois na
maioria das vezes os animais consomem quantidades de forragem acima ou abaixo do que está sendo
produzido. Mas, é fundamental que o técnico, proprietário, administrador e mão-de-obra operacional que
planejam, executam e monitoram um sistema de exploração em pastagens, tenham como objetivo a busca
de um equilíbrio nas pastagens, pois isso, sem dúvida, é importante para a persistência e vigor da
produção da pastagem. E isso só pode ser conseguido através da combinação adequada dos fatores
ambientais com aqueles controlados pelo homem, quais sejam: pressão de pastejo, períodos de ocupação e
descanso. Esse último, muitas vezes tende a ser pré-definido por alguns técnicos conforme a espécie
forrageira e a época do ano o que, sem dúvida, consiste em uma tentativa de simplificar ao extremo o
manejo das pastagens, visto que o período de descanso de qualquer pastagem deveria ser definido com
base nos seguintes fatores:
- Condições edafoclimáticas;
- Índice de área foliar remanescente após o pastejo (quantidade e qualidade);
- Percentual de meristemas apicais remanescentes após o pastejo;
- Quantidade de substâncias de reserva das plantas da pastagem; e
- Desempenho animal planejado.
Portanto, pode-se concluir que, por exemplo, no mês de janeiro, para pastagens de Brachiaria
brizantha cv. Marandu, dificilmente ter-se-á o mesmo período de descanso já que fatores como fertilidade
do solo, precipitação pluviométrica, índice de área foliar, meristemas apicais remanescente após o pastejo
e as reservas das plantas dessa pastagem influenciam de maneira mais determinante esse período do que a
espécie forrageira e a época do ano. Outro fator muito pouco comentado, porém que também deve ser
considerado para determinar esse período é o desempenho planejado para os animais, visto que, ganhos de
peso de menor ordem podem ser obtidos com maior pressão de pastejo e menor qualidade de forragem,
porém ganhos superiores a 600 g/cab/dia só poderão ser obtidos com menores pressões de pastejo e com
forragem de qualidade melhor (considerando que os demais fatores, como suplementação, por exemplo,
permanecem inalterados), ou seja, com menores períodos de descanso, para proporcionar melhor
qualidade de forragem.

3. Produtividade de um sistema de produção animal em pastagens


Obviamente que qualquer sistema de produção animal baseado em pastagens deve ter por objetivo
uma determinada produtividade e lucratividade previamente planejada. Esse planejamento contempla o
sistema como um todo e envolve todos os conceitos já referidos nesse texto, de maneira que o resultado
final seja um sistema produtivo e lucrativo.
A produtividade de um sistema de produção animal, em uma determinada área de pastagens, em
um determinado período, é calculada multiplicando-se a lotação da área, em cabeças por hectare, pelo
desempenho médio dos animais nesse período, dado em kg peso vivo/cabeça, conforme demonstra a
equação abaixo. O gráfico colocado na Figura 3 é clássico e demonstra de maneira clara, como alcançar
maiores produtividades por área em um sistema de produção animal baseado em pastagens. Deve-se
procurar balancear o ganho de peso individual dos animais com o número de animais por área, já que o
produto destes termos conduz a produtividade em kg peso vivo/ha/ano. Ou seja, para lograr maior
eficiência nesse sistema de produção deve-se otimizar a eficiência de colheita de forragem, ou seja, a
eficiência de pastejo, isto é conseguido, via de regra, por meio de um aumento da lotação (cabeças/ha),
porém essa maior eficiência não deve prejudicar o desempenho individual planejado para os animais.
Contudo, o manejo de pastagens para atingir determinada meta deve ser condizente com a pastagem, de
maneira a conduzi-la produtiva por tempo indeterminado. Para isso, torna-se imprescindível o uso do
planejamento alimentar do rebanho de um estabelecimento de pecuária. Dentro deste planejamento deve-
se levar em consideração a flutuação do peso do rebanho (ganhos de peso por animal, compra, venda,
saídas, entradas, mortes e nascimentos), da produção das pastagens, do uso de suplementos volumosos e
concentrados, do uso de adubação e irrigação de pastagens, do uso de confinamento para que de posse
deste diagnóstico inicial possa-se planejar mês a mês ao longo de um ano, como irá se comportar a lotação
e o desempenho dos animais, bem como a oferta de forragem. Esse sistema ainda permite que o processo
de tomada de decisões técnico-gerenciais dentro de uma propriedade seja baseado em dados, pois esse
planejamento irá suprir informações para dar suporte aos processos de tomada de decisão do sistema
produtivo. Entre as informações geradas estão: produtividade de uma determinada pastagem,
produtividade e idade de abate ou cobertura de animais nascidos em determinados meses do ano, consumo
de suplemento mineral ou alimentar em determinada pastagem, taxa de mortalidade e causa da morte de
animais nascidos em determinados meses, taxa de prenhes de vacas paridas em determinados meses, entre
outras, fundamentais para uma gestão eficiente do processo produtivo.

PRODUTIVIDADE (kg PV/ha) = LOTAÇÃO (cab/ha) X DESEMPENHO (kg PV/cab)

Onde:
PV- peso vivo, em kg; e cab- cabeças
Pois bem, quando se interfere em um sistema de produção animal baseado em pastagem através
do melhor aproveitamento da forragem produzida nas pastagens otimiza-se a lotação desse sistema sem
prejudicar e, por vezes, até mesmo melhorando o desempenho dos animais, logrando-se, dessa maneira,
uma maior produtividade. Isso, em muitos sistemas de produção é conseguido sem investimentos, ou seja,
apenas adequando-se os animais em lotes e racionalizando as áreas de pastagens em setores. Porém, em
outros sistemas algum investimento, principalmente em divisão de pastagens se faz necessário para que
isso seja atingido.
Esse investimento em divisão de pastagens, quando necessário, é de custo/benefício muito
favorável, principalmente quando é feito nas pastagens mais produtivas do sistema e lotes de animais mais
jovens são usados para pastejo, notadamente animais de recria, que além de serem de peso relativamente
baixo dentro do rebanho, apresentam uma das melhores conversões de forragem em carne, no caso de
raças de bovinos de corte. Para exemplificar o acima exposto considera-se uma pastagem com
produtividade de 16 t/ha/ano de matéria seca, ocupada com animais de recria (média anual de peso ao
redor de 300 kg PV) durante todo o ano, onde a eficiência de pastejo é da ordem de 25%, ou seja, os
animais ingerem apenas 25% do que é produzido, e, portanto ter-se-á aproximadamente um receita bruta
nesse sistema de R$ 440,00. Porém, consegue-se, facilmente, obter nessa pastagem eficiência da ordem de
45%, com a mesma categoria animal e isso representa, conforme pode ser visto na tabela abaixo, um
ganho de aproximadamente R$ 350,00/ha/ano, com um valor de R$ 40,00/@. Isso, em muitos sistemas
pode ser alcançado sem maiores investimentos em divisão de pastagens, porém mesmo quando elas se
fazem necessárias, o investimento é plenamente viável, já que o investimento feito é pago, na maioria das
vezes com menos de 12 meses e a vida útil dessas varia de 7 a 20 anos dependendo do material com que a
mesma é feita.
Cabe ressaltar que se essa mudança de manejo, através ou não do investimento em divisão de
pastagens, é feita para pastagens menos produtivas, por exemplo, 10 t/ha/ano de matéria seca, representará
um ganho de aproximadamente R$ 220,00/ha/ano, com o mesmo valor de referência para a @ do boi
gordo, fato pelo qual já foi alertado anteriormente que o investimento deve ser feito em pastagens mais
produtivas quando se quer melhores relações custo/benefício através da melhoria na eficiência de pastejo.
Quando o valor da @ do boi sobe para R$ 50,00 podemos verificar, pela tabela 2, que a relação
custo/benefício fica ainda mais favorável, quando se melhora a eficiência de pastejo em uma determinada
produtividade primária das pastagens. Seguindo por essa linha de raciocínio pode-se notar que em
produtividades primárias bastante reduzidas (6.000 e 8.000 kg MS/ha/ano) muitas vezes, além de melhorar
a eficiência de pastejo (essa melhoria deve ser feita sem nenhum ou baixo investimento já que nesse
patamar de produtividade de pastagens a relação custo/benefício é pouco favorável para investimentos
dessa natureza, conforme já foi ressaltado anteriormente) deve-se investir em tecnologias no sentido de
aumentar essa produtividade primária.
Para análise das tabelas abaixo foram considerados como valor base as receitas brutas obtidas com
a eficiência de pastejo de 15% para cada produtividade primária, assim sendo, por exemplo, a receita
bruta, em R$/ha/ano, para um sistema de produção com produtividade primária de 10.000 kg MS/ha/ano e
eficiência de pastejo de 15% é de R$ 166,29/ha/ano, já para outro com a mesma produtividade primária,
porém com eficiência de pastejo de 40% a receita bruta já é de R$ 443,44/ha/ano (166,29 + 277,15), ou
seja, quando se eleva a eficiência de pastejo de 15 para 40%, nesse patamar de produtividade primária,
temos um acréscimo de R$ 277,15/ha/ano na receita bruta da atividade. Raciocínio análogo deve ser feito
para as demais produtividades primárias.
Obviamente que os valores apresentados nas tabelas 1 e 2 são valores aproximados oriundo de
simulações e suposições, porém podem ser usados como referência.
Tabela 1. Simulação do comportamento da receita bruta (em R$/ha/ano) em sistemas produtivos com
diferentes produtividades primárias (kg MS/ha/ano) e eficiências de pastejo (%). @ do boi gordo R$
40,00.

EFICIÊNCIA DE PASTEJO (%)


kg MS/há/ano
15 20 25 30 35 40 45 50 55

6.000 99,78 33,26 66,52 99,78 133,03 166,29 199,55 232,81 266,07

8.000 133,03 44,34 88,69 133,03 177,38 221,72 266,07 310,41 354,76

10.000 166,29 55,43 110,86 166,29 221,72 277,15 332,58 388,01 443,44

12.000 199,55 66,52 133,03 199,55 266,07 332,58 399,10 465,62 532,13

14.000 232,81 77,60 155,21 232,81 310,41 388,01 465,62 543,22 620,82

16.000 266,07 88,69 177,38 266,07 354,76 443,44 532,13 620,82 709,51

18.000 299,33 99,78 199,55 299,33 399,10 498,88 598,65 698,43 798,20

20.000 332,58 110,86 221,72 332,58 443,44 554,31 665,17 776,03 886,89
* Supondo que 1 UA consome 2% PV diariamente em MS. E que o rebanho em média tem 0,67UA/cab e que o ganho
Gpd médio é de 0,5 kg/c/d. Rendimento de carcaça de 50%. R$ 40,00/@. 40

Tabela 2. Simulação do comportamento da receita bruta (em R$/ha/ano) em sistemas produtivos com
diferentes produtividades primárias (kg MS/ha/ano) e eficiências de pastejo (%). Valor da @ do boi gordo
R$ 50,00.

EFICIÊNCIA DE PASTEJO (%)


kg MS/há/ano
15 20 25 30 35 40 45 50 55

6.000 124,72 41,57 83,15 124,72 166,29 207,86 249,44 291,01 332,58

8.000 166,29 55,43 110,86 166,29 221,72 277,15 332,58 388,01 443,44

10.000 207,86 69,29 138,58 207,86 277,15 346,44 415,73 485,02 554,31

12.000 249,44 83,15 166,29 249,44 332,58 415,73 498,88 582,02 665,17

14.000 291,01 97,00 194,01 291,01 388,01 485,02 582,02 679,02 776,03

16.000 332,58 110,86 221,72 332,58 443,44 554,31 665,17 776,03 886,89

18.000 374,16 124,72 249,44 374,16 498,88 623,59 748,31 873,03 997,75

20.000 415,73 138,58 277,15 415,73 554,31 692,88 831,46 970,04 1108,61
* Supondo que 1 UA consome 2% PV diariamente em MS. E que o rebanho em média tem 0,67UA/cab e que o ganho
Gpd médio é de 0,5 kg/c/d. Rendimento de carcaça de 50%. R$ 50,00/@. 50
4. Considerações finais
Atualmente, os sistemas de produção de ruminantes bem sucedidos e sustentáveis são aqueles que,
em primeiro lugar, exploram de maneira racional as suas pastagens, pois de nada adianta produzir muita
forragem (aumentar a produtividade das pastagens) com investimentos em algumas tecnologias e
aproveitar pouco essa forragem produzida, tendo como resultado uma relação custo/benefício
desfavorável ou pouco atrativa. No outro extremo temos os sistemas que tem baixa produtividade em suas
pastagens, com pouco ou nenhum investimento em pastagens, e ainda com manejo irracional das mesmas
conduzindo-as ao processo de degradação, que primeiramente causa impactos na produtividade e
lucratividade do sistema de produção, porém, ao passo que avança o tempo e perdura tal situação de
descaso ocorrem impactos ambientais sobre os recursos naturais.
Pode-se concluir que os sistemas de produção racionais não são aqueles que têm produtividades
animais (@/ha/ano) extremamente altas, nem extremamente baixas, e sim aqueles que estão entre estes
dois, pois dentro de uma propriedade, onde é desenvolvido um determinado sistema de produção, tem-se
pastagens com diferentes níveis de produtividade primária (t MS/ha/ano) devido, principalmente, as
características de solo, espécie forrageira e investimento em correção da fertilidade do solo. Baseado nessa
produtividade primária deve-se fazer investimentos para melhorar a eficiência de pastejo nas mais
produtivas no sentido de melhorar as produtividades secundárias (@/ha/ano) dessas e do sistema como um
todo, sempre dando prioridade ao uso de animais de recria nessas áreas. Deve-se sempre observar que
antes de se investir em aumentos de produtividade das pastagens deve-se melhorar a eficiência de colheita
da forragem já produzida nessa pastagem (eficiência de pastejo) já que esse é o processo mais racional
quando se deseja incrementar a produtividade do sistema como um todo com relação custo/benefício mais
favorável.
Sistemas com produtividades animais extremamente altas são possíveis de serem alcançados
quando na estação da seca há alguns recursos para ajuste de carga animal nas pastagens, entre os quais
pode-se citar: confinamento, semi-confinamento, arrendamento de pastagens e irrigação de pastagens.
Porém, ressalta-se novamente, que a relação custo/benefício dessas alternativas deve ser analisada antes de
ser incorporada a um determinado sistema de produção. Outrossim, essas explorações mais intensivas, se
feitas sem o devido planejamento e acompanhamento técnico estão fadadas ao insucesso já que a gestão
desse sistema produtivo torna-se bastante complexa.
Por fim cabe ressaltar que de nada adianta a melhor terra, os melhores animais e o melhor clima,
pois a gestão dos sistemas de produção é, atualmente, o grande diferencial entre o sucesso e o fracasso dos
diversos empreendimentos agropecuários que se apresentam no Brasil.
5. Referências bibliográficas
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Piracicaba-SP. 2002. p. 31 – 58.

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