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MANUAL DE

FORMAÇÃO

4316 – Agricultura e
Desenvolvimento Rural Sustentável
Manual de Formação

Índice
Capítulo 1 – Conceitos de Agricultura Sustentada e de Desenvolvimento
Rural Sustentado ........................................................................................................................................ 5

Capítulo 2 – Princípios e pressupostos do desenvolvimento sustentado ............................................ 6

Capítulo 3 – A gestão do capital natural em agricultura ......................................................................... 8

Capítulo 4 – O modo de produção biológico.......................................................................................... 14

Capítulo 5 – A produção integrada ......................................................................................................... 17

Capítulo 6 – A diversificação de atividades na exploração agrícola.................................................... 21

Capítulo 7 – Instrumentos de Política Agrícola e de Desenvolvimento


Rural em vigor........................................................................................................................................... 23

Bibliografia ................................................................................................................................................ 29

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Manual de Formação

Enquadramento
Formador: Otília Baltazar
Informação da Ação de Formação Público-alvo: adultos ativos
Carga Horária: 25 horas
Data: Abril de 2018
Local de Realização: Sousel

Área Temática de Formação 812 Turismo e Lazer

Objetivos Gerais  Enunciar o conceito de Desenvolvimento Rural Sustentado.


 Caracterizar a multifuncionalidade das explorações agrícolas, na ótica da
sua valorização para um turismo de qualidade.
 Identificar as técnicas associadas a novas formas de produção agrícola
que contribuam para a manutenção do equilíbrio dos agro-ecossistemas.

Objetivos Específicos  Caraterizar o conceito de desenvolvimento sustentável;


 Identificar atividades alternativas na exploração agrícola;
 Caraterizar o modo de produção biológico;
 Caraterizar o modo de produção integrado;
 Identificar atividades turísticas passíveis de integração na exploração
agrícola;

Conteúdos Programáticos Conceitos de Agricultura Sustentada e de Desenvolvimento Rural Sustentado


Princípios e pressupostos do desenvolvimento sustentado
A gestão do capital natural em agricultura
Plano de conservação do solo
Gestão da água e da nutrição das plantas
O modo de produção biológico
A produção integrada
Fundamentos
Técnicas de proteção das plantas
Fertilização e rega
A diversificação de atividades na exploração agrícola
Prestação de serviços de caráter ambiental
Desenvolvimento de produtos tradicionais de qualidade, valorização de
construções rurais de traça tradicional
Dinamização de espaços agro-florestais para fins lúdicos e/ou pedagógicos
relacionados com o meio rural
Criação de espaços museológicos de temática rural
Instrumentos de Política Agrícola e de Desenvolvimento Rural em vigor

Recursos Físicos e Pedagógicos Físicos: Sala de Formação com mesas e cadeiras.


envolvidos Pedagógicos: Videoprojector; Quadro de Cerâmica/Flip-Chart;
Computador Portátil.

Metodologias Pedagógicas A metodologia baseia-se na dinâmica do grupo, tendo um cariz essencialmente


prático:
Método Afirmativo (Expositivo e Interrogativo) com recurso a meios
audiovisuais.
Ativo-. Partilha de Experiências; Exercícios de grupo; estudos de caso e
debates.
Será utilizada uma pedagogia ativa baseada em: Contribuições teóricas e

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metodológicas; Técnicas e instrumentos de trabalho; Exemplos de situações


reais; Enquadramento sobre os aspetos regulamentares e legais; Manual
concebido como um guia de referência sobre os pontos do programa, contendo
as disposições atualizadas sobre esta matéria.

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Capítulo 1 – Conceitos de Agricultura Sustentada e de Desenvolvimento


Rural Sustentado

A agricultura é uma atividade económica que se carateriza por um processo produtivo que
depende do ciclo da Natureza, mas que o influencia ao utilizar um vasto leque de elementos
livremente existentes na Natureza, ao domesticar espécies animais e vegetais selvagens e ao
recorrer a um conjunto de processos naturais que envolvem o aproveitamento da energia
solar e do ciclo hidrológico.
Deste modo, a agricultura utiliza como fatores de produção um conjunto de recursos naturais
que lhe são essenciais: o solo, a água, o ar e o património genético
agricultura sustentável define-se em oposição à agricultura convencional/ industrializada/
dependente de aditivos exógenos. O critério principal que permite identificar a agricultura
sustentável é a integração dos bens e serviços dos ecossistemas no processo de produção.
A agricultura depende de condições e processos naturais alheias à vontade e ao controlo
humano, tal como o clima, o solo, as interações entre cultivares e outros seres vivos. A
agricultura industrializada tenta maximizar o controlo sobre todos os fatores que afetam a
produção, criando um sistema uniforme, com baixa biodiversidade, e altamente dependente
de energia externa.
Ao contrário, a agricultura sustentável tenta fazer o melhor uso das condições existentes,
adaptando as culturas ao clima e ao solo e beneficiando de sinergias entre os seres vivos que
compõem o sistema agrícola. Deste modo, a agricultura sustentável pode reduzir o uso de
aditivos externos (fatores de produção que provêm de fora da exploração, tal como
fertilizantes, pesticidas, sementes), economizando energia e afetando os ciclos biogeoquímicos
minimamente.
A agricultura sustentável não deve ser vista apenas como uma forma de produzir alimentos
com um impacto ambiental mínimo, mas as dimensões sociais e económicas são fulcrais para
que uma agricultura adaptada às condições locais (em alteração contínua, e portanto exigindo
mudanças) possa ser mantida a médio/longo prazo. A agricultura industrializada mede o seu
sucesso apenas em termos de aumento da produtividade e da rentabilidade. A agricultura
sustentável pretende produzir alimentos saudáveis, por pessoas saudáveis, num ambiente
saudável. Por isso considera o desenvolvimento simultâneo de cinco tipos de capitais:
 Capital natural – corresponde a todos os seres vivos e não-vivos e processos naturais,
que podem ser valorizados na agricultura sustentável;

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 Capital social – corresponde às normas, valores e regras que permitem a coesão social;
a cooperação efetiva. Na agricultura sustentável a interação entre produtores e outros
agentes geralmente é melhorada, visando a justiça social;
 Capital humano – corresponde às capacidades físicas e intelectuais de cada individuo.
Como a agricultura sustentável exige aprendizagem e adaptação o capital humano é
aumentado;
 Capital físico – corresponde a todas as infraestruturas, que permitem melhorar a
atividade agrícola;
 Capital financeiro – corresponde aos valores monetários. Uma agricultura sustentável
tem que ser economicamente viável.

Capítulo 2 – Princípios e pressupostos do desenvolvimento sustentado

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O desenvolvimento sustentável é visto como o desenvolvimento que permite satisfazer as


necessidades da geração atual, não comprometendo as necessidades das gerações futuras. A
agricultura, como atividade base de outros setores de atividade e fornecedora de alimento é
uma das atividades onde é necessário optar por tecnologia e meios mais sustentáveis.

Tabela n.º 1 Definições de agricultura sustentável

Autor Definição
Uma agricultura sustentável é aquela que faz o balanço equilibrado
Allen et al. (1991) entre interesses ambientais, viabilidade económica e justiça social, entre
todos os setores da sociedade.
O objetivo da agricultura sustentável é o da satisfação contínua das
necessidades, não só das gerações atuais, mas também das futuras,
conservando o solo, a água, e os recursos genéticos vegetais e animais.
FAO (1993)
Para isso, a agricultura não deve degradar o ambiente, mas precisar ser
tecnicamente adequada, economicamente viável e socialmente
aceitável.
Agricultura sustentável é a capacidade para manter o nível de
produtividade dos cultivos através do tempo, com o uso de tecnologias
Altieri (1994)
de gestão que integram os componentes da propriedade de maneira a
melhorar a sua eficiência biológica.
A agricultura sustentável pode ser vista como um marco ideológico,
como uma série de estratégias, como a possibilidade de satisfazer certas
Hansen (1996)
metas ou como a habilidade de manter certas propriedades ao longo do
tempo.
A agricultura sustentável deve: ter idoneidade ecológica; ser
economicamente viável; ser socialmente responsável. As três dimensões
Ikerd (1997)
são inseparáveis e todas elas essenciais para a sustentabilidade a longo
prazo.

A agricultura sustentada é um sistema de organização socioeconómica e técnica do espaço


rural baseada numa visão equitativa e participativa do desenvolvimento e que entende o
ambiente e os recursos naturais como base da atividade económica.

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A agricultura é sustentada ou sustentável, quando é ecologicamente equilibrada,


economicamente viável, socialmente justa, culturalmente apropriada e orientada por um
enfoque científico.
A agricultura sustentável preserva a biodiversidade, mantém a fertilidade dos solos e a boa
qualidade dos recursos hídricos, conserva e melhora a estrutura química, fisíca e biológica dos
solos, recicla os recursos naturais e conserva a energia. A agricultura sustentável produz
alimentos, matérias-primas e plantas de alta qualidade.
É também caraterística da agricultura sustentável o uso de energias renováveis.
A agricultura sustentável define-se em oposição à agricultura convencional/industrializada. O
critério principal que permite identificar a agricultura sustentável é a integração dos bens e
serviços dos ecossistemas nos processos de produção.

Tabela n.º 2 Requisitos para se praticar agricultura sustentável

Requisitos Descrição
Sistemas nacionais, fontes de investigação agrária e extensão rural
Inovação destinados a gerar e disseminar tecnologias para melhorar a
produtividade.
Infra-estruturas Boas estradas e sistemas de transporte.
Sistemas eficientes de abastecimento de serviços para a atividade
Inputs agrária, especialmente para a aquisição de equipamento agrícola
moderno, transformação de produtos agrários e facilidades de crédito.
Mercados liberalizados eficientes, que proporcionem aos agricultores
um acesso instantâneo aos mercados internos e externos, e instituições
Instituições
públicas eficazes que assegurem serviços essenciais nos casos em que
tais serviços não podem ser confiados ao setor privado.
Políticas macroeconómicas de comércio e outras de âmbito setorial que
Incentivos
não prejudiquem a atividade agrária.

Capítulo 3 – A gestão do capital natural em agricultura

3.1Plano de conservação do solo

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O plano de conservação do solo consiste na definição das principais manchas de solo da


exploração agrícola, através, por exemplo, do seu mapeamento, com indicação para cada
mancha de:
 Principais riscos associados e respetivos planos de correção;
 Metodologia de preparação do terreno mais aconselhada e práticas desaconselhadas;
 Culturas possíveis para cada tipo de solo, no âmbito do plano de exploração
agrícola, e medidas de prevenção da erosão, baseadas no potencial de erosão específico
de cada mancha.

3.2 Gestão da água e da nutrição das plantas

A rega é efetuada com a preocupação de minimizar as perdas de água e otimizar a qualidade


do produto. Deve estabelecer-se um plano de rega para cada parcela, no qual os cálculos das
quantidades de água a utilizar devem basear-se em dados de estações meteorológicas locais.
Sempre que possível, a realização de regas deve ser articulada com as fertilizações e
tratamentos fitossanitários.
Segundo as regras de produção integrada, a área com défice de água não deve ser menor de
30% da área total da parcela a regar.
A gestão da água deve ser encarada de forma integrada e estar assente em princípios de
ecologia, economia e ética, que procurem assegurar, a longo prazo, reservas adequadas de
água que são uma das bases do equilíbrio dos ecossistemas agrários.
Em Portugal, a disponibilidade de água apresenta grandes assimetrias e irregularidades
espaciais, sazonais e inter-anuais, pelo que o recurso ao regadio constitui um instrumento
importante para a melhoria da produtividade das culturas.
A utilização de águas residuais domésticas ou industriais é proibida em produção integrada.
Podem, contudo, ser usadas desde que tratadas de acordo com as exigências constantes nas
regras estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde.
Para além da quantidade de água disponível, é importante salvaguardar a qualidade das águas,
quer de superfície quer subterrâneas. Assim, as técnicas de rega utilizadas em produção
integrada devem procurar
reduzir as perdas de água por percolação e escorrimento superficial e ajustar-se aos
programas de fertilização e proteção da cultura de forma a minimizar as alterações
decorrentes do arrastamento de resíduos associados à cultura, como fertilizantes, matéria
orgânica, microrganismos, pesticidas, metais pesados, que podem provocar a contaminação
dos meios hídricos.

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Estes aspetos assumem particular importância quando a água é utilizada como veículo de
fertilizantes e de pesticidas. Nestes casos, é essencial garantir bons desempenhos ao nível da
uniformidade e quantidade de água distribuída, e minimizar o transporte de fertilizantes e
produtos fitofarmacêuticos em excesso.
Designa-se por necessidade de água de rega, a quantidade de água, em mm, que é necessário
aplicar a uma cultura para, em complemento com a precipitação, água armazenada no solo e
ascensão capilar, satisfazer as suas necessidades de água.
Em produção integrada é recomendada a colocação de tensiómetros no solo para
monitorização do balanço hídrico na zona explorada pelas raízes.
Esta informação, associada à observação de manifestações fisiológicas das plantas, como cor,
viscosidade, turgidez, enrolamento das folhas e a medição do potencial da água nas folhas e
temperatura da copa, contribuem para otimizar a decisão relativa à oportunidade da rega.
Em produção integrada, o planeamento da rega deve considerar todos os elementos que
contribuam para otimizar a utilização da água e reduzir os desperdícios, como por exemplo a
preferência por efetuar a rega durante a noite, cuidados que reduzam o escorrimento
superficial e perdas por percolação e técnicas para recolha das águas de escorrência.
A condução da rega deve ser a combinação ótima entre as necessidades hídricas da cultura, as
características do solo, enquanto meio de transporte e armazenamento de água, e a operação
de rega. A determinação do balanço hídrico do solo na zona de enraizamento, a quantificação
dos parâmetros que
o constituem e a caracterização dos padrões de transferência hídrica (processos de extração
de água pelas raízes e de escoamento de água no solo) são determinantes para otimizar a
gestão da rega.
As necessidades de água para rega são estimadas através de modelos semi-empíricos, que
recorrem ao balanço hídrico do solo cultivado. Estes modelos, consideram que parte das
necessidades de água são satisfeitas pela precipitação, reserva de água do solo e ascensão
capilar, e que as saídas de água correspondem à evapotranspiração, à percolação para além da
zona radicular e ao eventual escoamento à superfície do solo.
A técnica como a água é aplicada às culturas chama-se método de rega e pode ser de
superfície (ou gravidade), por aspersão ou localizada (microrrega).
Além da eficiência de rega deve ser considerada, como fator de qualidade, a uniformidade da
distribuição e a produtividade da água.
Em produção integrada, procura-se aplicar a água de forma tão uniforme quanto possível e
evitar zonas com excesso de água que possam originar escoamentos superficiais ou infiltrações
profundas.

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Na rega de superfície, a água é aplicada às parcelas de terreno por canteiros, sulcos, faixas,
regadeiras de nível ou espalhamento da água.
A rega por canteiros consiste em distribuir a água por parcelas, geralmente retangulares, com
declive quase nulo, circundadas por pequenas barreiras de terra, que impedem que a água
passe para outros campos. Os canteiros podem ser à rasa ou armados em camalhões. Este
método é utilizado, por exemplo, para a rega do arroz, por alagamento permanente, ou para a
rega de outras culturas, como pomares, por alagamento temporário, ainda que em produção
integrada não seja um método a privilegiar, pela grande quantidade de água exigida.
Os sulcos são pequenos canais equidistantes, abertos no sentido do maior comprimento do
terreno, a distâncias determinadas pela largura de trabalho das máquinas e condicionadas pela
capacidade da água se infiltrar. Os sulcos devem ter declive suave e uniforme e comprimento,
geralmente, entre 200 e 400 metros. No sistema de rega por sulcos, a água desloca-se e
infiltra-se lentamente ao longo do sulco. Para tal, a duração da rega tem de ser muito longa e
com pequenos caudais.
A rega por sulcos utiliza-se, principalmente, em culturas em linha, semeadas ou plantadas nos
camalhões, todavia, em produção integrada, devem ser consideradas outras alternativas com
maior eficiência na utilização da água.
Na rega por faixas, a água é distribuída por parcelas retangulares estreitas e compridas,
semelhantes a canteiros ladeados por pequenas barreiras de terra. É utilizada em terrenos de
declive suave e com infiltração média a baixa. A água aplicada escorre ao longo do seu
comprimento, ao mesmo tempo que se infiltra.
Este método é usado em cereais, forragens, pastagens e, também, em pomares e vinhas, neste
caso, com as árvores e videiras plantadas sobre pequenas barreiras de terra. O facto deste
método necessitar de grande quantidade de água torna-o pouco interessante em produção
integrada.
A rega por superfície tem sido objeto de inovações conducentes à sua modernização, como
maior precisão no nivelamento, com recurso a laser para áreas maiores (caso dos canteiros de
arroz), reutilização dos caudais drenados, melhoria do sistema de distribuição da água aos
sulcos ou canteiros (por exemplo, através de tubos perfurados ou tubos janelados) e utilização
de novas formas de distribuição de água (intermitente ou caudais decrescentes).
A constante inovação em aspersores e outros equipamentos de aspersão tem permitido
adaptar este método, com sucesso, a todos os tipos de solo, topografia, culturas e clima, que,
hoje, é utilizado em 10% das áreas regadas a nível mundial, em pomares, viveiros e
horticultura intensiva.
O sistema de rega por aspersão integra os seguintes componentes:

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 Bomba – eleva a água a partir da origem (reservatório, poço ou curso de água) e


fornece-a ao sistema de rega, com pressão necessária ao funcionamento dos
aspersores;
 Condutas – uma conduta principal fixa (de aço galvanizado, fibrocimento ou plástico)
ou móvel (em liga leve de alumínio ou plástico), que conduz a água da bomba às
condutas secundárias e estas às rampas;
 Rampas – condutas fixas, geralmente enterradas, ou móveis onde estão montados os
aspersores;
 Aspersores – aplicam a água sobre o solo e cultura em pequenas gotas, semelhantes a
chuva e são determinantes na conceção dos sistemas de rega e na qualidade do seu
desempenho.
 Os sistemas de rega por aspersão podem dividir-se em sistemas estacionários ou
móveis. Nos sistemas estacionários, os aspersores permanecem em posição fixa
enquanto fazem a aplicação da água. Nas instalações móveis, os aspersores trabalham
enquanto se movimentam sobre si próprios ou sobre rampas, ao longo de percurso
linear ou circular.
 Os aspersores, disponíveis em diversas pressões, caudais e alcances, podem classificar-
se em:
 Aspersores rotativos de impacto, nos quais o jato roda por ação mecânica devido ao
seu impacto, sobre um braço cujo movimento faz rodar o aspersor;
 Aspersores rotativos de turbina, em que a rotação é devida ao acionamento de
pequena turbina instalada no próprio aspersor;
 Aspersores de prato rotativo, com bocal de baixa deriva, geralmente de pequeno
alcance e baixa pressão;
 Difusores ou aspersores estáticos, em que o jato embate sobre uma placa, plana ou
ondulada, fixa ou balançante, que faz com que a água se espalhe em círculo; requerem
pressão muito baixa e são muito
 usados em rampas estacionárias ou móveis;
 Tubos perfurados, com pequenos orifícios ao longo do seu comprimento pelos quais a
água é lançada em pequenos jatos; podem ser estacionários ou oscilantes para ambos
os lados do seu eixo central.
Os sistemas estacionários adequam-se a regas frequentes, preferidas em solos com baixa
capacidade de retenção e culturas com sistema radicular pouco profundo, e a regas com fortes
dotações e baixa frequência. Os sistemas de rampas móveis adaptam-se, particularmente, a

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regas de alta frequência quando a infiltração e permeabilidade do solo são altas, para que não
ocorra escoamento superficial.
A rega por aspersão apresenta grande adaptabilidade, pelo que pode usada com caudais
reduzidos e em solos de textura ligeira com baixa capacidade de retenção da água, permite
poupança de mão-de-obra e outras utilizações como a proteção contra geadas. As perdas por
drenagem são menores, pelo que é interessante em termos de conservação de solo e redução
de desperdícios e, em produção integrada, deve ser preferida em relação à rega de superfície,
Em produção integrada, em solos de textura fina com baixas taxas de infiltração e elevada
capacidade de retenção para a água, desaconselha-se a rega por aspersão com rampas
rotativas por poder originar perdas de água por escoamento, heterogeneidade na infiltração
da água e humedecimento do solo.
As limitações deste método de rega são os elevados custos de investimento e exploração,
dificuldades de distribuição de águas por vários regantes, possibilidade de fitotoxidade se a
água não for de boa qualidade e restrições de utilização em zonas ventosas e terrenos de
forma irregular.
A rega localizada ou microrrega consiste na rega sob pressão, em que a água é aplicada apenas
nas zonas do solo onde se desenvolvem as raízes das plantas.
A aplicação da água em microrrega, à semelhança da aspersão, exige uma rede de condutas
principais, condutas secundárias, porta-rampas e rampas, habitualmente dispostas sobre o
terreno. Os equipamentos a partir dos quais a água é aplicada ao solo e na zona radicular são
designados emissores, que são colocados equidistantes nas rampas.
Os sistemas de rega localizada podem classificar-se em quatro categorias:
• Rega de gotejamento ou gota-a-gota, em que a água é aplicada lentamente à superfície do
solo através de pequenos orifícios emissores, chamados gotejadores, com caudais de apenas 2
a 8 litros por hora;
• Micro-aspersão, em que a água é pulverizada sobre a superfície do solo, em áreas pequenas,
com 1 a 5 metros de diâmetro, através de emissores, com débitos de 50 a 150 litros por hora,
designados genericamente por micro-aspersores;
• Rega a jorros, em que pequenos jorros de água são aplicados a pequenos reservatórios
(caldeiras) à superfície do solo, através de emissores especiais, designados jorradores ou
golfadores, que debitam a água por impulsos, com caudais de 100 a 150 litros por hora;
• Rega sub-superfícial, em que a água é aplicada através de emissores integrados em rampas
colocadas abaixo da superfície do solo e em que, geralmente, toda a rede é enterrada.

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Capítulo 4 – O modo de produção biológico

A agricultura biológica é um modo de produção agrícola que procura utilizar práticas agrícolas
que fomentem a manutenção e melhoria da fertilidade do solo, baseando-se no
funcionamento e equilíbrio do ecossistema, permitindo uma gestão sustentável do ambiente e
da paisagem.

Para alcançar isto, a agricultura biológica baseia-se numa série de objetivos e princípios, assim
como em práticas comuns desenvolvidas para minimizar o impacto humano sobre o ambiente
e assegurar que o sistema agrícola funciona da forma mais natural possível. As práticas
tipicamente usadas em agricultura biológica, incluem:

1. A rotação de culturas;

2. Limites ao uso de pesticidas e fertilizantes sintéticos, de antibióticos, aditivos


alimentares e auxiliares tecnológicos, e outro tipo de produtos;

3. A proibição do uso de organismos geneticamente modificados;

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4. A escolha de espécies adaptadas às condições locais;

5. A utilização de práticas de produção animal apropriadas a cada espécie.

O modo de produção biológico para garantir todo um sistema de rigor e de procedimentos


harmonizados em todos os países da União Europeia.
O conceito de Agricultura Biológica foi legalmente instituído pelo Regulamento CE 2092/91,
que até hoje tem vindo a sofrer diversas alterações e, derrogações, para além de ter sido
complementado com outros Regulamentos e Anexos ao documento original. O quadro
regulamentar que fixa as regras para a produção animal em A. B., por exemplo, só foi
aprovado e publicado no Regulamento CE 1804/99. A partir de Janeiro de 2009 entra em vigor
o novo Regulamento (CE) 834/2007, no entanto, a matéria que constitui os anexos do anterior
Regulamento 2092/91, manter-se-à até à publicação das regras de implementação do novo
Regulamento.
De uma forma geral pode-se dizer que este modo de produção assenta em dois princípios
básicos:
1. A fertilidade e a atividade biológica dos solos devem ser mantidas ou melhoradas através
de: a) sistemas de rotação adequados;
b) incorporação nos solos de matérias orgânicas adequadas;
c) utilização de consociações de culturas no mesmo terreno;
d) prática da adubação verde ou sideração com o cultivo de plantas melhoradas.

2. A luta contra parasitas, doenças e infestantes deve ser feita através de:
a) escolha de espécies e variedades adequadas;
b) programas de rotação de culturas;
c) processos mecânicos de cultura;
d) utilização dos inimigos naturais dos parasitas das plantas

No que diz respeito à produção animal, o principal princípio norteador deve ser o de fomentar
uma elevada resistência às doenças e prevenir a ocorrência de infeções através de:
a) escolha de raças bem adaptadas às condições da exploração, privilegiando, sempre que
possível, as raças autóctones;
b) utilização de alimentos de boa qualidade, tendo em consideração a necessidade de
estabelecer um equilíbrio harmonioso entre a produção agrícola e a produção pecuária;
c) possibilidade de facultar ao animal o livre acesso a água e a espaços abertos de exercício
regular e pastoreio;

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d) garantia de um encabeçamento adequado, dadas as consequências que o


sobrepovoamento pode ter para a saúde dos animais e para a poluição, nomeadamente dos
solos e das águas quer superficiais, quer dos lençóis freáticos;
e) construção de alojamentos e instalações com boas condições de luz e ventilação e de forma
que cada animal disponha de uma área mínima adequada à sua espécie, raça, idade e sexo.

Os produtores que, cumprindo as regras legalmente definidas para o Modo de


Produção Biológico, estejam sujeitos ao regime de controlo por um Organismo
Privado de Certificação e Controlo, podem colocar os seus produtos no mercado
com a referência de que se trata de um produto de Agricultura Biológica.
Estes produtos, por serem produzidos sem recurso a produtos químicos, possuem
garantias de segurança e qualidades organolépticas e nutritivas que os distinguem
dos demais. Neste sentido podem ser considerados um produto de qualidade, pelo
que apresentam um preço ao consumidor superior. Por outro lado, existe já um
considerável número de consumidores que, conscientes das vantagens para o
ambiente e para a preservação dos ecossistemas, que este modo de produção
constitui, estão dispostos a pagar a diferença, em nome de um mundo
ecologicamente mais sustentável.
A existência no rótulo da menção “Agricultura Biológica – Sistema de Controlo CE”,
é uma garantia para o consumidor de que, em toda a fileira produtiva, foram
utilizadas as regras estabelecidas pela regulamentação para este modo de
produção. Nomeadamente, que o produtor, no início da conversão, foi sujeito a um
regime de verificação que permitiu garantir que tomou as medidas de precaução
necessárias para evitar a ocorrência de situações graves. Posteriormente o produtor
irá ser sujeito a controlos tendentes a verificar se continuam as ser usadas as
melhores práticas agrícolas que levam ao cumprimento das regras da agricultura
biológica.
Existe também um logótipo europeu destinado a distinguir estes produtos, cuja
utilização passa a ser obrigatória a partir de 1 de Janeiro de 2009. Este símbolo
pode ser usado nos produtos produzidos na EU ou nos importados de países
terceiros, que possuam sistemas de produção e de controlo equivalentes aos da
Comunidade, e que contenham mais de 95% de ingredientes da Agricultura
Biológica.
Podem ostentar esta designação todos os produtos vegetais, destinados à
alimentação humana ou não (estão incluídas por exemplo as fibras de algodão), os
produtos de origem animal e seus transformados, os alimentos para animais e
respetivas matérias-primas.
Não estão abrangidos os produtos da caça, da pesca e da aquicultura, as essências

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aromáticas, o sal, o vinho, o vinagre de vinho e as aguardentes vínicas. A partir de


Janeiro de 2009, com a entrada em vigor do Regulamento CE 834/2007, é alargada
a possibilidade de aplicação da designação “produto de agricultura biológica” aos
vinhos, aos produtos da aquicultura e às algas marinhas.

Capítulo 5 – A produção integrada

5.1 Fundamentos

As crescentes exigências ao nível da qualidade e segurança alimentar e as


preocupações que, atualmente, a sociedade manifesta relativamente aos recursos
naturais e ambiente em geral, obrigam à adoção de modos de produção
alternativos aos sistemas produtivistas, nos quais se enquadra a produção
integrada.
Em produção integrada produzem-se alimentos de alta qualidade utilizando os
recursos naturais e mecanismos de regulação natural em substituição de fatores de
produção prejudiciais ao ambiente. Assumem particular importância a preservação
e melhoria da fertilidade do solo, a biodiversidade e a observação de critérios éticos
e sociais.
A definição de produção integrada proposta pela OILB/SROP (2004) e amplamente
aceite, traduz-se por um sistema agrícola de produção de alimentos de alta
qualidade que utiliza os recursos naturais e mecanismos de regulação natural em
substituição de fatores de produção prejudiciais ao ambiente e de modo a
assegurar, a longo prazo, uma agricultura viável.
Em produção integrada, é essencial a preservação e melhoria da fertilidade do solo
e da biodiversidade e a observação de critérios éticos e sociais.

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Este conceito dá especial relevo:


 À abordagem holística de toda a exploração agrícola;
 Ao papel central do ecossistema agrário.

 Em produção integrada, as atividades agrícolas devem perturbar o menos


possível a estabilidade dos ecossistemas nas suas componentes de recursos
naturais e mecanismos reguladores;

 A biodiversidade é o pilar da estabilidade do ecossistema, dos mecanismos


de regulação natural e da qualidade da paisagem. A manutenção de níveis de
biodiversidade adequados é essencial para permitir a substituição de
pesticidas por fatores de regulação natural, como a limitação natural. A
diversidade ecológica coloca à disposição do agricultor um importante recurso,
com carácter funcional – biodiversidade funcional.

 Ao equilíbrio dos ciclos nutritivos. A adoção de estratégias como a


manutenção do equilíbrio dos ciclos nutritivos, rotações culturais e estruturas
ecológicas, só tÊm significado em produção integrada, se se considerar toda a
exploração agrícola como uma unidade produtiva.

 Os ciclos nutritivos devem estar equilibrados e as perdas devem ser


minimizadas.

 Ao bem-estar de todas as espécies animais domésticas.

5.2 Técnicas de Proteção das Plantas

Em produção integrada, a tomada de decisão em proteção das plantas, para


problemas com pragas, doenças e infestantes, terá sempre como base a proteção
integrada, com recurso à luta química só quando esgotados todos os outros meios
de proteção, tanto as medidas indiretas como meios diretos, e os aspetos
económicos, toxicológicos, ambientais e sociais.

5.3 Fertilização e Rega

Em produção integrada, a rega é efetuada com a preocupação de minimizar as


perdas de água e otimizar a qualidade do produto. Deve estabelecer- se um plano

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de rega para cada parcela, no qual os cálculos das quantidades de água a utilizar
devem basear-se em dados de estações meteorológicas locais. Sempre que
possível, a realização de regas deve ser articulada com as fertilizações e
tratamentos fitossanitários.
Segundo as regras de produção integrada da OILB/SROP (2004), a área com défice
de água não deve ser menor de 30% da área total da parcela a regar.
As culturas só produzem em pleno se, para além de outras condições ambientais favoráveis,
tiverem à sua disposição durante todo o período de crescimento os diversos nutrientes
minerais (azoto, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, ferro, manganésio, cobre, zinco,
níquel, boro, molibdénio e cloro) nas quantidades e proporções mais adequadas.

O solo fornece os nutrientes minerais em para as plantas, sendo que em sistemas de produção
intensiva são, muitas vezes, necessárias quantidades superiores às disponibilizadas através da
meteorização dos minerais e decomposição da matéria orgânica, pelo que o nível de
nutrientes no solo, em especial de azoto, fósforo e potássio, tem de ser aumentado através de
fertilizações recorrendo a produtos artificiais.

Em produção integrada, a preservação e melhoria da fertilidade do solo e a criação de


condições adequadas à nutrição mineral da cultura, só se conseguem com uma fertilização
racional, adaptada ao par solo-cultura ou solo-rotação de culturas. Esta consiste na aplicação
correcta ao solo ou plantas, nas épocas e formas adequadas, dos nutrientes que nele
escasseiam face às necessidades da(s) cultura(s).

Procura-se manter e melhorar a fertilidade intrínseca do solo através da gestão do nível de


matéria orgânica, da diversidade de fauna e flora, do coberto vegetal, da optimização das
propriedades físicas e químicas do solo. Em produção integrada, o solo assume um papel
central, pelo que é necessário avaliar, em cada momento, a sua produtividade e fertilidade,
associadas às suas funções.

No ecossistema agrário, podem enumerar-se as seguintes funções do solo:

• Suporte do crescimento vegetal;

• Reciclagem de resíduos e tecidos mortos, animais e vegetais e libertação dos elementos


constituintes;

• Criação de nichos ecológicos, desde pequenos mamíferos a fungos e bactérias;

• Controlo do movimento e qualidade da água.

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Ao nível da fertilização, produtividade depende da gestão equilibrada do solo, baseada na


realização de mobilizações adequadas à cultura e tipo de solo, a correção de fatores
desfavoráveis - acidez, fertilização, rotação de culturas, combate de pragas, doenças e
infestantes - e instalação de sistemas de rega e drenagem.

A fertilidade do solo depende do equilíbrio entre as diferentes formas de nutrientes existentes


no solo, seres vivos ou em materiais orgânicos absorvidos na fase sólida, e do modo como
estão disponíveis no solo – precipitados, na estrutura dos minerais ou em solução.

A fertilidade e a produtividade do solo dependem de um conjunto de características que se


relacionam entre si, como textura, estrutura, disponibilidade em matéria orgânica e
nutrientes, e reação do solo.

As culturas só produzem em pleno se, para além de outras condições ambientais favoráveis,
tiverem à sua disposição durante todo o período de crescimento os diversos nutrientes
minerais (azoto, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, ferro, manganésio, cobre, zinco,
níquel, boro, molibdénio e cloro) nas quantidades e proporções mais adequadas.

O solo fornece os nutrientes minerais em para as plantas, sendo que em sistemas de produção
intensiva são, muitas vezes, necessárias quantidades superiores às disponibilizadas através da
meteorização dos minerais e decomposição da matéria orgânica, pelo que o nível de
nutrientes no solo, em especial de azoto, fósforo e potássio, tem de ser aumentado através de
fertilizações recorrendo a produtos artificiais.

Em produção integrada, a preservação e melhoria da fertilidade do solo e a criação de


condições adequadas à nutrição mineral da cultura, só se conseguem com uma fertilização
racional, adaptada ao par solo-cultura ou solo-rotação de culturas. Esta consiste na aplicação
correcta ao solo ou plantas, nas épocas e formas adequadas, dos nutrientes que nele
escasseiam face às necessidades da(s) cultura(s).

Procura-se manter e melhorar a fertilidade intrínseca do solo através da gestão do nível de


matéria orgânica, da diversidade de fauna e flora, do coberto vegetal, da optimização das
propriedades físicas e químicas do solo. Em produção integrada, o solo assume um papel
central, pelo que é necessário avaliar, em cada momento, a sua produtividade e fertilidade,
associadas às suas funções.

No ecossistema agrário, podem enumerar-se as seguintes funções do solo:

 Suporte do crescimento vegetal;

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 Reciclagem de resíduos e tecidos mortos, animais e vegetais e libertação dos


elementos constituintes;
 Criação de nichos ecológicos, desde pequenos mamíferos a fungos e bactérias;
 Controlo do movimento e qualidade da água.

Capítulo 6 – A diversificação de atividades na exploração agrícola

A diversificação das atividades na exploração agrícola tem como objetivos:


a) Estimular o desenvolvimento, nas explorações agrícolas, de atividades que não sejam de
produção, transformação ou comercialização de produtos agrícolas, criando novas fontes de
rendimento e de emprego;
b) Contribuir diretamente para a manutenção ou melhoria do rendimento do agregado
familiar, a fixação da população, a ocupação do território e o reforço da economia rural.

6.1 Desenvolvimento de produtos tradicionais de qualidade, valorização de construções


rurais de traça tradicional

Os produtos agrícolas e a sua transformação, são encarados como fator potenciador do


desenvolvimento agrícola e rural.
Estes produtos são vistos como fundamentais no ordenamento do espaço rural, na
preservação da paisagem e conservação da natureza, e na luta contra o despovoamento e a
desertificação dos territórios rurais nas regiões mais desfavorecidas.
A redescoberta dos produtos tradicionais, deve-se a um conjunto de fatores, a saber:
 Os efeitos e consequências do modelo produtivista do desenvolvimento agrícola;
 A incapacidade da agricultura das regiões desfavorecidas competir com regiões com
condições agro-ecológicas mais favoráveis;
 A valorização dos produtos tradicionais pela política europeia de desenvolvimento
rural, produzindo e valorizando as produções locais de qualidade;

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 A crescente desconfiança dos consumidores relativamente à qualidade e segurança


alimentar.
Os produtos tradicionais sempre estiveram no mercado, embora de forma pouco expressiva
em termos de quantidade.
O conceito destes produtos tem vindo a ganhar importância ao nível de mercado, dos
produtores e distribuidores, existindo a tendência para aumentar a produção e diversificar a
oferta e consequentemente melhorar a apresentação dos produtos no mercado.
A redescoberta dos produtos tradicionais deve-se ao facto de a sua produção se adaptar ás
novas orientações da PAC, que privilegia a diversificação das produções dos sistemas de
produção tradicionais. Estas produções podem agora ser financiadas pelas novas medidas da
PAC. Os produtos tradicionais são uma parte integrante de uma política de desenvolvimento
rural.

6.2 Criação de espaços museológicos de temática rural

Os espaços rurais, que incluem os chamados espaços naturais no seu estado mais puro, há
muito que deixaram de existir nos países mais desenvolvidos, através da influência direta ou
indireta da intervenção humana. Na verdade trata-se de áreas que é necessário proteger e
conservar. Ultimamente, têm-se multiplicado nestes espaços experiências de atividades
turísticas, tais como o TER, animação turística, a criação de espaços museológicos e a própria
transformação e comercialização de produtos de qualidade locais, como forma de incentivo ao
consumo dos visitantes e como oportunidades de negócio dos residentes

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Capítulo 7 – Instrumentos de Política Agrícola e de Desenvolvimento Rural


em vigor

O apoio ao desenvolvimento rural é um instrumento fundamental ao dispor das populações,


para a comercialização, promoção e valorização das potencialidades dos
territórios e essencialmente para a criação de condições para um desenvolvimento
equilibrado. O aproveitamento destes instrumentos é de extrema importância para a
criação de emprego e gestão sustentável dos recursos.
O meio rural está a desaparecer, em muitas sociedades ocidentais e em boa parte dos países e
regiões da União Europeia, entre os quais Portugal.
No final do século passado a agenda 2000, considerada por muitos a 2ª grande reforma da
PAC, introduz uma alteração de rumo substancial estabelecendo como a grande prioridade o
combate ao despovoamento rural, Corane, (2007). Dos vários quadros comunitários desde
então já implementados, os instrumentos de apoio ao desenvolvimento rural têm estado
disponíveis para inverter estas tendências.
De entre os programas de apoio ao desenvolvimento rural, destacam-se o Proder, o Leader e o
Proder.

a) A Estrutura do PRODER (2007-2013) -Programa de desenvolvimento Rural em Portugal


apresentava quatro eixos principais a saber:
 Competitividade,
Este eixo é desenvolvido através de sete medidas de apoio projetos de
investimento,
conforme se pode verificar no quadro 4. Essas medidas visam apoiar tipologias de
investimento distintas, em todas, uma orientação assente na competitividade
agrícola e florestal, reforçando o setor produtivo e o redimensionamento
empresarial. Através da cooperação empresarial com vista a obtenção de uma
maior capacidade de atuar nos mercados e criar sinergias de desenvolvimento.

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Estas tipologias de investimento assentam essencialmente em várias temáticas, a


saber:
- Promover e valorizar as fileiras de produção;
- Valorização das empresas agrícolas e da transformação e comercialização;
- Promoção da aquisição de dimensão critica nas empresas;
- Requalificação do tecido produtivo;
- Potenciação da utilização económica de recursos associados à florestas;
- Promoção do desenvolvimento de novos produtos e mercados;
- Contribuir para o desenvolvimento dos regimes de qualidade certificada;
- Boas práticas de gestão de risco na gestão empresarial;
- Contribuir para o aumento da disponibilização de água;
- Apoiar o desenvolvimento do regadio;
- Intervir sobre algumas barragens hidro-agrícolas tendo em vista o cumprimento
de
novas normas de segurança
- Contribuir para a eco-eficiência e redução da poluição através do apoio à
requalificação ambiental.

 Sustentabilidade do espaço Rural


Destina-se a compensar os agricultores da perda de rendimento e dos custos
adicionais resultantes das desvantagens para a produção agrícola nas zonas de
montanha e nas zonas com desvantagens naturais.
Apoiar o desenvolvimento sustentável das zonas rurais e consolidar e melhorar a
multifuncionalidade da floresta, garantindo e aumentando a sua valorização
económica.
Existem várias tipologias de apoio, tais como:
- Contribuir para a utilização contínua das terras agrícolas;
- Manutenção da paisagem rural;
- Conservação de sistemas de exploração agrícola sustentáveis;
- Incentivar a conservação da diversidade genética animal e vegetal;
- Funcionamento dos Livros Genealógicos e Registos Zootécnicos;
- Trabalhos de caracterização das raças abrangidas;
- Tornar a floresta menos vulnerável a incêndios e ataques de agentes bióticos
nocivos;
- Aumentar a rentabilidade económica do sector florestal;

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- Incentivar práticas de gestão das explorações e de produções agrícolas, assentes


em compromissos que ajudem a proteção e melhoria do ambiente, da paisagem,
dos recursos naturais.

 Dinamização das Zonas Rurais


Os principais objetivos desta medida são: Promover a diversificação da economia
para atividades não agrícolas, com vista à manutenção e criação de postos de
trabalho em meio rural. Para atingir este objetivo estabeleceu-se uma intervenção
específica nas zonas rurais, que contribua para a diversificação de atividades
económicas criadoras de riqueza e de emprego permitindo fixar população e
aproveitar recursos endógenos transformando-os em fatores de competitividade.
Esta intervenção assenta na existência de diversos instrumentos de política com
incidência no mesmo território e realizar-se-á de acordo com uma estratégia de
desenvolvimento local (EDL), elaborada pelas associações de desenvolvimento
locais em parceria Grupos de Ação Local (GAL).
A medida Diversificação da Economia e Criação de Emprego desenvolve-se através
de três ações:
- Diversificação de atividades na exploração agrícola;
- Criação e desenvolvimento de microempresas;
- Desenvolvimento de atividades turísticas e de lazer.
A medida Melhoria da qualidade de vida desenvolve-se em duas ações, a saber: -
Conservação e valorização do património rural;
- Serviços básicos para a população rural.

 Conhecimento e Competências.
Destina-se a incentivar mudanças tecnológicas e científicas desenvolvidas ou a
desenvolver, promovendo a sua inovação de forma dinâmica e eficaz, privilegiando
o recurso a parcerias que incluam os produtores, empresas, entidades de I&D,
centros tecnológicos e outros com atividades relacionadas numa ótica de produto e
território. As várias tipologias de investimento para pedidos de apoio assentam em:
- Inovação, através de práticas de cooperação entre os diversos setores das fileiras
para obtenção de novos produtos, processos ou tecnologias;
- Aumentar a interligação entre o conhecimento científico e tecnológico e as
atividades produtivas;

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- Promover a utilização da inovação pelos agentes económicos nos processos


produtivos, potencializando os apoios em áreas complementares como a
modernização produtiva, a qualificação e os serviços prestados;
- Formação especializada, nomeadamente jovens agricultores;
- Promover a oferta de serviços especializados com vista a um melhor desempenho
global das empresas;
- Acesso individual a serviços através da sua oferta organizada;
- A melhoria do apoio técnico aos agricultores e produtores florestais;

LEADER corresponde à sigla de "Ligações Entre Ações de Desenvolvimento da Economia Rural".


Trata-se de uma iniciativa comunitária de desenvolvimento rural.
O programa LEADER tem como principais objetivos a promoção de iniciativas integradas,
concebidas e postas em prática à escala local. Incentiva e apoia os agentes rurais a refletir
sobre o potencial dos respetivos territórios, numa perspetiva a longo prazo. Incentiva a
aplicação de estratégias originais de desenvolvimento sustentável, integradas e de grande
qualidade, como sejam: novas formas de valorização do património natural e cultural, o
reforço económico, de forma a contribuir para a criação de postos de trabalho e melhoria da
capacidade de as comunidades se organizarem.
O aspeto da "cooperação" é aquele que corresponde ao principal elemento do programa.
Todos os territórios rurais são elegíveis para este programa, mas o número daqueles que
obtêm apoio financeiro é limitado.
Os beneficiários são "grupos de ação local" (GAL) que elaboram estratégias de
desenvolvimento para os seus espaços rurais, sendo responsáveis pela sua implementação.
Estes grupos são homogéneos do ponto de vista geográfico, económico e social.
Serão apoiados os territórios que demonstrem vontade e capacidade para conceber e
implementar uma estratégia de desenvolvimento integrado, sustentável e de carácter piloto.
Isto deve ser formalizado através de um plano de desenvolvimento em torno de um tema forte
e característico da identidade do território.
O plano deve contribuir por exemplo, para a melhoria da qualidade de vida nas zonas rurais,
implicar a utilização de novas tecnologias para tornar os serviços e produtos dos territórios
mais competitivos, valorizar os produtos locais (agrícolas, silvícolas, da pesca, naturais e
culturais, incluindo a preservação e valorização dos sítios de importância comunitária da Rede
Natura 2000), que prioritariamente visem melhorar as possibilidades de emprego e/ou
atividade para jovens e mulheres, formação profissional, apoio ao turismo rural e apoio a
pequenas empresas.

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O PRODER é um instrumento estratégico e financeiro de apoio ao desenvolvimento rural do


continente, para o período 2007-2013, aprovado pela Comissão Europeia, Decisão
C(2007)6159, em 4 de dezembro.
Cofinanciado pelo FEADER – Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural
aproximadamente em 3,5 mil milhões de euros, envolve uma despesa pública de mais de 4,4
mil milhões de euros.
Decorrente do Plano Estratégico Nacional – PEN, que define as orientações fundamentais para
a utilização nacional do FEADER, a estratégia nacional para o desenvolvimento rural escolhida
em função das orientações estratégicas comunitárias, visa a concretização dos seguintes
objetivos:
 Aumentar a competitividade dos setores agrícola e florestal;
 Promover a sustentabilidade dos espaços rurais e dos recursos naturais;
 Revitalizar económica e socialmente as zonas rurais.
A estes objetivos estratégicos acrescem ainda objetivos de carácter transversal , como sejam, o
reforço da coesão territorial e social, e a promoção da eficácia da intervenção dos agentes
públicos, privados e associativos na gestão sectorial e territorial.
As ações a levar a cabo no PRODER encontram-se agrupadas por Subprogramas e estes por
medidas.
 Subprograma 1 – Promoção da Competitividade,
 Subprograma 2 – Gestão Sustentável do Espaço Rural e oSubprograma 3 –
Dinamização das Zonas Rurais, visam a promoção de ações que contribuem direta e
objetivamente para a prossecução dos três objetivos estratégicos nacionais assumidos
na estratégia nacional para o desenvolvimento rural, os quais, por sua vez, foram
delineados em consonância com as orientações estratégicas comunitárias vertidas nos
eixos 1, 2 e 3 do FEADER.
 Subprograma 3 privilegia o modo de atuação LEADER, através das ações promovidas
no âmbito de estratégias de desenvolvimento local e através de agentes organizados
especificamente para esse efeito. Este Subprograma reserva ainda medidas para apoio
ao funcionamento destes agentes e para o estímulo da cooperação entre eles. O
incentivo à abordagem ascendente (“bottom-up”) é patente na estratégia nacional
adotada, em particular no terceiro objetivo estratégico nacional que assumidamente
se pretende ser atingido pelo desenvolvimento de ações com abordagem LEADER.

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Igualmente os objetivos transversais no âmbito da estratégia nacional para o


desenvolvimento rural, apontam para esta opção de dar preferência ao modo de
atuação LEADER.
 Subprograma 4 – Promoção do Conhecimento e Desenvolvimento de Competências
com carácter transversal, traduz uma prioridade relacionada com a importância
reconhecida ao conhecimento e às competências dos agentes que atuam no território,
os quais desempenham um papel absolutamente determinante no sucesso global da
estratégia nacional adotada. Esta prioridade resulta da estratégia nacional e das
orientações comunitárias, que referem a inovação e desenvolvimento de
competências.

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Bibliografia

Marques, João Paulo; Tipos de Agricultura em Portugal, Série estudos e documentos, documentam nº 9,
dezembro, 2004;

Plano Estratégico Nacional de Desenvolvimento Rural: Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e


Pescas 2007 MADRP

Perspetivas de Desenvolvimento do Interior: Presidência da República 1997 Série Debates, INCM, Lisboa

TERN ? Turismo em Espaços Rurais e Naturais: Simões, O. e Cristovão, A. 2003 Instituto Politécnico
de Coimbra, Coimbra

Participaram neste trabalho os formadores abaixo referidos que cederam os respetivos direitos de propriedade e autoria:

 Otília Baltazar

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