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LUTANDO CONTRA A COBIÇA

Leitura Bíblica: Êx 20.17

Proposição:

Introdução

Pelo fato de as palavras que acabamos de ler serem bastante


conhecidas, infelizmente podemos passar por cima do texto sem lhe dar a
devida atenção. No entanto, acompanhe mais uma vez a leitura para que
possamos refletir sobre o que está sendo falado neste versículo. Vamos
colocar alguns exemplos de como nós podemos estar quebrando este
mandamento por palavras e pensamentos.

Não cobiçarás a casa do teu próximo...

“Fiz uma visita ao fulano de tal. Que casa! Que localização! Que decoração!
Ele com certeza tem muita coisa legal.”

“Estou cansado de morar neste bairro. Vivemos num lugar abandonado.


Por que eu não posso ter a casa dos sonhos que aquele programa da
televisão mostra?”

... não cobiçarás a mulher do teu próximo...

“Ela certamente é linda. Bem que a minha esposa poderia envelhecer como
ela”

“Gostaria de ter casado com alguém como ela. Seria muito mais feliz se não
tivesse casado com minha esposa.”

“Olhe o marido dela. Ele sempre é amigável. É um bom pai. E ajuda sua
esposa. Ele conserta as coisas, não apenas as destrói. Por que ficar presa a
meu marido quando há por aí outros homens?”
... nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento...

“Cara, meu carro é uma lata-velha”

“Isso não é justo. Todos os nossos amigos têm férias ótimas. Eles vão para
o Nordeste ou para Fernando de Noronha. Alguns vão para o Cancún ou
para a Europa. Nós, quando temos sorte, vamos para a casa dos nossos
avós na roça.”

“Por que estou preso a este trabalho de fracassado?”

“Queria que os meus filhos fossem mais como os filhos deles. Mais
inteligentes, mais comunicativos, menos bagunceiros”

“Por que os meus pais são tão chatos?”

... nem coisa alguma que seja do teu próximo.

“Gostaria de ser inteligente como ele.”

“Se eu parecesse com ela, minha vida seria muito melhor.”

“Sou muito bem qualificado, mas minha atividade profissional não é tão
bem reconhecida como a dele. Aliás, eu deveria ter uma remuneração bem
mais alta do que a que ele recebe”

“Por que não tenho uma família normal?”

“Por que não posso correr, pular, jogar ou ser tão forte quanto meus
amigos?”

“Por que tudo na minha vida é difícil, enquanto para os outros é tudo tão
fácil?”

Irmãos, não é necessariamente errado notar o que os outros tem.


Contudo, a maioria de nós não observa essas coisas para dar graças a Deus
por suas bençãos concedidas às pessoas. Nós as observamos e deixamos de
ser gratos por tudo o que Deus tem dado a nós, pois ao invés de ações de
graças, optamos pela comparação.

EXPOSIÇÃO

1. O livro do Êxodo, o segundo livro da Bíblia Sagrada, trata da partida


dos israelitas depois de sua emancipação do cativeiro egípcio, em uma
narrativa que serve como eixo para toda a história de Israel como nação. A
autoria deste livro só pode ser atribuída a Moisés, conforme o testemunho
indubitável tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. Aqui temos o
registro da saída dos filhos de Israel do cativeiro para a terra que o Senhor
lhes havia prometido.
O Êxodo marca o fim da opressão para os descendentes de Abraão e o
início do cumprimento das promessas feitas quanto à habitação na Terra
da Promessa e de sua multiplicação como grande povo. Se formos resumir
tudo o que Êxodo nos apresenta, a ideia é a seguinte: mostrar como os
israelitas saíram do Egito e começaram o estabelecimento de uma nação
teocrática, isto é, um povo governado pelos princípios da revelação divina.
Deus concede sua lei ao povo no capítulo 20 de Êxodo, naquilo que nós
chamamos de Dez Mandamentos ou Decálogo. Os dez mandamentos
foram resumidos pelo Senhor Jesus em amar ao Senhor nosso Deus de todo
o nosso coração, de toda a nossa alma, de todas as nossas forças e de todo
o nosso entendimento; e ao nosso próximo como a nós mesmos.
2. O Decálogo é o documento que governa a aliança de Deus com Israel
no monte Sinai. Se Israel obedecesse a essas leis, seria abençoado; caso
contrário, seria amaldiçoado. O documento começa com o nome do
Senhor, Yahweh, que se identifica como o cabeça da aliança e,
especificamente, como o autor do documento. Visto que essas são as
palavras de Deus, elas têm autoridade absoluta. O nome de Deus também
o identifica como aquele que “te tirei da terra do Egito, da casa de servidão”
(Ex 20.2). A aliança é lei, mas começa com graça redentora. Deus escolheu
Israel entre todas as nações para ser seu povo especial, não devido ao seu
tamanho ou sua justiça, mas simplesmente devido ao seu amor por eles.
Esse amor o motivou a redimi-los da escravidão. Eles devem obedecer a
ele por gratidão a esse livramento.
Nas palavras do Decálogo, vemos toda a feiura de nossos pecados. Não
é o nosso propósito imediato examinar mandamento por mandamento,
mas se nós fizemos perguntas honestas a nós mesmos sobre o que cada um
deles proíbe, certamente perceberíamos que fracassamos em obedecer ao
que o Senhor nos exige. Não somos pessoas boas que escorregam às vezes:
você e eu somos pessoas que rejeitam Deus, reduzem Deus, desonram a
Deus e colocam outras coisas no lugar dEle.
O fato é que não guardamos nenhum dos Dez Mandamentos de Deus e
não temos prazer em buscar fazer isto. Só experimentamos perdão e
libertação do pecado quando reconhecemos essa realidade. A negação não
nos permite avançar ou encontrar uma saída. Algumas pessoas estão
presas ao pecado porque se recusam a reconhecer que ele é o problema,
que elas são o problema.
3. O décimo mandamento pode ser resumido em uma breve
sentença: “Não cobiçarás” (é assim que o apóstolo Paulo faz duas vezes em
sua carta aos romanos). Ele forma o clímax apropriado para o Decálogo ao
mostrar que todos os pecados tem origem em motivações do coração.
Todavia, algumas observações precisam ser feitas. A Bíblia não
condena todos os desejos humanos, como faz o budismo. A Escritura
motiva nossa obediência prometendo recompensas, assim legitimando
nosso desejo pelas bênçãos de Deus. O próprio Deus é o desejo principal
do coração do crente. Uma tradução mais exata, sugerida por um erudito
de linguagem semita traz o versículo da seguinte maneira: “Você não deve
estabelecer como seu desejo a casa do seu próximo, ou sua esposa, etc.”. Se
estabelecemos algo como nosso desejo, nosso rumo será buscar o que
desejamos.
Assim, estabelecer algo como nosso desejo já envolve formar um
plano pronto para ser colocado em ação assim que a oportunidade surgir.
De modo resumido, podemos dizer isso deste modo: todo aquele que
estabelece como seu desejo a casa do seu próximo, ou sua esposa,
empregados ou animais, não será capaz de se abster disso. Com
premeditação, ele pretende atacar. O décimo mandamento nos ordena a
não desejarmos nada contrário à vontade de Deus. De modo mais amplo,
este mandamento ensina que todos os pecados começam nos desejos do
coração.

ENSINO/DOUTRINA

1. Existe uma razão para que “não cobiçaras” seja o último dos Dez
Mandamentos. Ele vem no final porque é um resumo muito apropriado de
tudo o que veio antes. É impossível amar ao Senhor Deus de todo o coração
e amar o próximo como a si mesmo e cobiçar.
A cobiça é chamada em o Novo Testamento de idolatria (Cl 3.5), pois
diz que não posso viver sem aquela pessoa, sem aquele lugar ou sem
aquele bem. Ela cria um deus que brota de meus desejos. O décimo
mandamento não é uma reflexão tardia anticlimática. “Não mate. Não
cometa adultério. Não roube. Não minta... E tente ser feliz com o que você
tem”. A ordem para não cobiçar é, na verdade, o somatório prático e o ápice
da atitude do coração quanto aos outros nove mandamentos.
Mesmo que compreendamos por meio de Jesus que os mandamentos
têm uma dimensão interior, poderia ser fácil nos concentrarmos
meramente na obediência externa caso não tivéssemos o décimo
mandamento. Ao olharmos para os primeiros nove mandamentos, eles
parecem quase possíveis, pelo menos de uma maneira superficial. “Não
mate pessoas”. Posso fazer isso. “Não seja adúltero”. Eu estou indo bem.
“Não minta sob juramento”. Entendi. Contudo, justamente quando
podemos estar tentados a ticar todos os mandamentos, deparamos com o
décimo e nos damos conta de que não podemos ser perfeitos com relação
a esse código moral. Podemos até conceber que passaremos a vida sem ter
um bezerro de ouro. para adorar, mas nenhuma pessoa honesta pode
cogitar que viverá seus dias na terra livre da cobiça.
No mundo antigo, existem paralelos em relação a muitos dos
mandamentos. Nações e povos tinham mandamentos que proibiam o
assassinato. Outros códigos penais tentaram proteger o casamento, a
verdade e a propriedade privada. Contudo, não encontramos ainda outro
código de leis no mundo antigo que consagre uma proibição contra os
desejos desordenados do coração. O décimo mandamento torna explícito
o que está implícito nos outros mandamentos: a obediência é uma questão
do coração, o que dificulta um diagnóstico adequado.
Podemos descrever a história da raça humana, de nações inteiras e
famílias da seguinte forma: “Você cobiçou aquilo que pertencia a outrem”.
Quanto a isso, não podemos deixar de pensar na inveja. Nossos primeiros
pais desejaram ser iguais a Deus, e o pecado deles lançou na miséria toda
a raça humana e a criação. A inveja produz intranquilidade em nossa vida.
Ela não reconhece limites. A inveja não consegue tolerar que alguém tenha
algo a mais, mesmo se esse “algo” tenha pouco valor.
O território coberto pelo décimo mandamento é amplo. Os cuidados
do mundo, as fascinações das riquezas, e o desejo por outras coisas podem
nos dominar (Mc 4.19). Não é o possuir, mas a ânsia por possuir que é
proibida na Bíblia; não é a riqueza em si, mas querer ser rico é um grande
perigo (1Tm 6.9). Acautele-se de todo tipo de cobiça (Lc 12.15). A cobiça
pode nos dominar de maneira terrível. Ela conduz à falta de pudor na
sexualidade (Ef 4.19; 5.3), e, assim como o amor ao dinheiro, a cobiça é a
raiz de todos os males (1Tm 6.10). Além disso, a cobiça é o motivo oculto
dos falsos profetas quando pregam suas heresias (2Pe 2.3,14).
Os cristãos não estão imunes à cobiça. Assim como no deserto Israel
desejou voltar às “panelas de carne” do Egito (Êx 16.3), de tão insatisfeito
que estava com o alimento e a bebida espirituais que recebera de Deus (1Co
10.1-13), assim também a Igreja do Novo Testamento se depara com uma
luta perpétua entre um estilo de vida conduzido pelo Espírito Santo e um
estilo de vida conduzido pelos desejos da carne (Gl 5.16-26). O poder do
desejo é tão forte que, quando fala sobre o “mundo”, João se refere ao
“mundo [...] e a sua concupiscência [cobiça]” (1Jo 2.17).
A cobiça surge todos os dias e em todas as épocas. A insatisfação com
o que Adão era e possuía foi a causa da sua Queda no Paraíso. O fruto da
árvore era desejável, e, ao comê-la, o homem desejava tornar-se “como
Deus” (Gn 3.5,6). Desde então, há uma voz que sussurra no ouvido de cada
indivíduo que ele deveria ser mais do que é e deveria ter mais do que tem.
As formas podem variar, mas a essência é a mesma.
Cobiça é desejar tanto algo, que você perde o seu contentamento em
Deus, ou perder o seu contentamento em Deus, de forma que comece a
procurar satisfação em outro lugar. Mas esse contentamento em Deus é
exatamente o que a fé é. crer em Jesus significa experimentá-lo como a
satisfação da sede da minha alma e a fome do meu coração.
Fé é a experiência da satisfação em Jesus. O combate da fé é a luta para
manter seu coração contente em Cristo – realmente acreditar e continuar
acreditando que ele atenderá todas as necessidades e satisfará cada anseio.
Significa que devemos orar da seguinte maneira: “Conceda-me a graça
futura de ter fortes influências sobre o meu coração, que me deem um
apetite pela sua verdade que quebra o poder do meu apetite pelas coisas”.
Sem a graça futura de Deus, os nossos corações perseguirão o dinheiro.
Devemos orar para que ele incline os nossos corações à sua Palavra, onde
o triunfo sobre a cobiça é prometido.

APLICAÇÃO

1. Quando estávamos na escola, fazíamos um exercício de completar as


lacunas. Que tal fazer um exercício parecido em relação ao contentamento?
“Se ao menos eu tivesse _______, finalmente eu seria feliz.” O que falta
nesse espaço em branco? Uma casa mais bonita? Um carro mais novo? Um
cônjuge? Filhos? Netos? Uma boa aparência? Uma carreira bem-sucedida?
Uma saúde impecável? Para quase todos nós, o espaço em branco é o nosso
deus funcional. Trata-se da pessoa, do lugar ou da coisa que, segundo
acreditamos, não podemos ficar sem.
A raiz da cobiça é a idolatria. Ao cobiçar, passamos a acreditar em
uma mentira acerca de quem Deus é e de como ele nos ama. Devemos lutar
com fé contra essa tentação.
2. O pregador puritano Jeremiah Burroughs faz uma advertência: “O
diabo gosta de pescar em águas turbulentas. Esse é o nosso provérbio sobre
homens e mulheres, sua disposição é pescar em águas turbulentas. Esta é
a máxima do diabo; ele adora pescar em águas turbulentas; onde ele vê os
espíritos de homens e mulheres perturbados e irritados, aí vem o diabo.
Ele diz: “Há uma boa pesca para mim”, quando ele vê homens e mulheres
subindo e descendo descontentes. Ele pode pegá-los sozinhos, então ele
vem com suas tentações: “Você vai sofrer uma coisa dessas?”, ele diz:
“aceite essa mudança indiretamente, você não vê quão pobre você é; os
outros estão bem; você não sabe o que fazer no inverno para fornecer
combustível e obter pão para você e seus filhos”, e então ele os tenta a
seguir caminhos ilegais. Esta é a desordem especial em que o diabo se
apega, quando ele leva homens e mulheres a darem suas almas a ele”.

3. A Bíblia ensina que o contentamento não é algo que vem ao nosso


coração de maneira imediata no momento em somos salvos por Deus. É
algo a ser aprendido, desenvolvido em nossas vidas à medida que
amadurecemos na fé. Não se trata de um traço de caráter que foi abençoado
por Deus, mas de uma mudança radical em nossa cadeia de valores
pessoais.

Paulo fala sobre isto em Filipenses 4.10-13:

Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a


meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava
oportunidade.

Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e
qualquer situação.

Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as
circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de
abundância como de escassez;

tudo posso naquele que me fortalece.

Paulo fala sobre isto em Filipenses 4.10-13:

“Aprender” é usado nesse versículo no tempo verbal aoristo, um


tempo estanque que retrata uma ação que, embora aconteça apenas uma
vez, tem consequências eternas. Por exemplo, quando afirmamos: “Somos
salvos pela graça de Deus”, essa ação ocorreu apenas uma vez, mas tem
reflexos eternos; não é algo que desenvolvemos ou conquistamos
diariamente.
Ao usar esse tempo verbal, Paulo ensina que aprendeu a viver
contente. Ele não teve de se esforçar para negar seus desejos nem fazer
contemplações. No momento em que a graça de Deus impactou sua vida e
seu coração, ele aprendeu a viver contente. É uma obra sobrenatural de
Deus.

O segredo do contentamento normalmente não é aprendido em


circunstâncias de luxo, nem de privações, mas na exposição a ambas.
Talvez você tenha vindo de uma família abastada e nunca lhe faltou nada.
Surge, então, a pergunta: Você estaria confortável e contente se, de repente,
fosse obrigado a viver na pobreza? Por outro lado, talvez você seja de
origem muito pobre. Talvez tenha aprendido a lidar com a incerteza e a
privação de maneira piedosa. Mas agora surge a pergunta: Você poderia
estar contente se, de repente, enriquecesse? Isso o corromperia
imediatamente? Ou sentiria tanta culpa com todas essas posses que mal
poderia olhar-se no espelho? Paulo insiste cuidadosamente que seu
próprio contentamento funciona sob ambas as condições.

Conclusão

A história é contada há muito tempo, quando um grande navio


atingiu um recife e começou a afundar. Era óbvio que as pessoas no navio
tinham apenas alguns minutos para escapar, então todos os seus pertences
foram abandonados enquanto eles fugiam para os botes salva-vidas.

No entanto, um homem no navio correu e encheu os bolsos com ouro


de diferentes cabines e do cofre do navio. Isso demorou apenas o suficiente
para que não houvesse mais nenhum barco salva-vidas. Então o ladrão
colocou um colete salva-vidas e pulou no mar, feliz com suas novas
riquezas e sua fuga por pouco.
Mas, enquanto seus amigos que haviam partido rapidamente
observaram, ele atingiu a água e despencou no fundo como uma âncora -
o peso do ouro era grande demais para permitir que ele flutuasse.

Soli Deo Gloria

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