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Ntandu-Tandu-Kolo:
O Conceito Bantu.Kongo do Tempo
Autor: K. K. Bunseki Fu-Kiau
Tradução para o rasileiro: !o !ai"
goaconceito
. #ssa 0dea tempo geralmente
compre ensão do usado
tempopara os ar
comp não-iniciados* osrabiyin-
til+ada na +o das
re'eiç8es* nos mercados* nos casamentos* na dança. L tam0m um
g"nero de tempo ue 0 encorporado nas conceituali3aç8es de
acontecimentos do passado recente e colonial ou no planeHamento de
'uturas ati%idades /em termos de dias* semanas ou anos1.
Nesse sentido* %;rios traal+os me %em G mente. <m deles 'oi escrito
por Man ansina* Paths in the Rainforests: Toward a istory of
Politi!al Tradition in "#uatorial $fri!a /9DD51* no ual o autor
discute a consci"ncia do conceito do tempo /ou a aus"ncia de tal
consci"ncia1 na literatura ocidental* em se tratando da +ist,ria da
&'rica. (6ara
colonial)* a%aliar
escre%e a posição
o autor* dos 'atos* con+ecer
(0 necess;rio tanto pr0-colonial uanto
a data local da
conuista colonial e o colapso do tempo desde então. /ansina 9DD5*
p. 291. 7n'eli3mente* ainda ue este conceito de tempo ten+a alguma
utilidade* ele poderia at0 mesmo ser uma arreira em termos de
%alori3ar certos acontecimentos na lin+a cronol,gica da +ist,ria
A'ricana. e um documento pr0-colonial ou colonial ue ten+a sido
escrito* %amos supor* em 9E55 mencionasse a eist"ncia da
%nstitui&'o mba pela primeira %e3* n,s de%er$amos concluir ue
essa instituição surgiu do nada* na data em ue o documento 'oi
escrito* mesmo ue essa instituição em particular possa ter surgido +;
centenas de anos atr;sP Tais aordagens das concepç8es do passado
a'ricano'ontes.
outras possui ,%ias limitaç8es* a menos ue +aHa e%id"ncias de
Antes* em seu li%ro *The Children of Woot: A History of the Kuba
Peoples+ /9D1* ansina apresentou um resumo de duas p;ginas de
suas in%estigaç8es sore os conceitos do tempo do po%o Kua. #le
mencionou ue o po%o Kua do =aire podia datar 'atos de aldeias
aandonadas e re'eria-se aos dias comerciais da semana* mas concluiu
ue eles tin+am uma concepção limitada do Tempo: (parece um
pouco estran+o ue a contagem dos dias esti%esse 'ora do conteto
comercial) /p.251. #m ualuer caso* ser; aparente nesse cap$tulo
ue min+as preocupaç8es com o tempo partem de uma perspecti%a
totalmente di'erente.
@ois outros estudos sore o tempo são dignos de nota: *$fri!an
Religions and Philoso,hy+ * de Mo+n !iti /9DD5 Q9DEDR1 e *The
"m,iri!al $,,er!e,tion of Time and the Time ons!iousness of
istory %n Bantu Thought+ /9DE1. No entanto* amos são estudos
gerais do tempo* mais do ue especi'icamente Bantu* al0m disso*
como as oras de ansina* adotam uma aordagem di'erente da
min+a.
#m contraste com esses aspectos (mundanos) do tempo mencionados
acima* a preocupação deste cap$tulo 0 com os dom$nios do tempo ue
surgem do mundo eot 0rico do Kongo* o mundo dos Bangdnga os
!estres* os 7niciados. As #scolas de 7niciação* centros de ensino
superior* proiidos aos não-iniciados* eram o %e$culo atra%0s dos uais
esses con+ecimentos eram disseminados. Assim* os con+ecimentos de
seus ensinamentos eram inacess$%eis aos europeus e a todos os
estrangeiros. 6or causa de sua nature3a* essas instituiç8es de ensino
superior 'oram aolidas pelos poderes coloniais e os seus
ensinamentos ca$ram por terra. Feli3mente* eu 'ui pri%ilegiado por
+a%er sido iniciado em uma destas instituiç8es* e seguindo o passo dos
mestres* eu aprendi* num per$odo de de3 anos o ue esse ensaio
epressa sore o conceito Kongo do Tempo. As outras re'er"ncias são
aseadas em meu traal+o e eperi"ncias pessoais com a cultura
Kongo* da ual 'aço parte tanto atra%0s de meu sangue uanto atra%0s
de meu interesse acad"mico.
O conceito Kongo do tempo aui descrito 0 pro'undamente enrai3ado
em nossa %isão de mundo* nossa cosmologia* ue ; a ase curricular
de todas as intituiç8es de ensino superior. ua centralidade em nosso
sistema de con+ecimento %em do 'ato de ue o tempo est; no coração
de nosso entendimento não apenas do uni%erso e seus processos
/dingo dingo) de criação* trans'ormação e 'uncionamento* mas
tam0m da %ida propriamente dita e de seu 'uncionamento. L atra%0s
do tempo ue* tanto a nature3a uanto o +omem* tornam-se
compreens$%eis para n,s. O tempo %alida e pro%" %erdades para nossa
eist"ncia.
#sse cap$tulo discute o tempo c,smico* natural* %ital e social entre os
Bakongo. #le tam0m %ai eaminar o conceito Kongo re'erente ao
passado* presente e 'uturo. er; demonstrado ue* primeiro o tempo
0 c$clico e ue todas as criaç8es* instituiç8es e sistemas passam por
um processo c$clico de uatro est;gios. egundo* ue este processo de
uatro est;gios pelo ual passa o tempo tem rele%Incia social para os
Bakongo.
O conceito Bantu-Kongo do Tempo
O tempo para o po%o Kongo 0 uma (coisa) c$clica. Não tem um
começo nem um 'im. Sraças aos */unga+ /acontecimentos1* o
conceito de tempo 0 entendido e pode ser compreendido. #sses
*dunga+ seHam naturais ou arti'iciais* iol,gicos ou ideol,gicos*
materiais ou imateriais* constituem o ue 0 con+ecido como *n0ka-
ma mia ntangu+ em Kikongo* ue signi'ica (represas do Tempo) 2. ão
essas represas do tempo ue tornam poss$%eis tanto o conceito
uando a di%isão do tempo entre os Bantu-Kongo. Assim* o tempo 0*
ao mesmo tempo* concreto e astrato. No n$%el astrato* o tempo não
tem começo nem 'im. #le eiste por si s, e 'lui atra%0s dele mesmo*
com seus pr,prios acordos. No entanto* em n$%el concreto* são os
*dunga+ /acontecimentos1 ue 'a3em com ue o tempo seHa
percept$%el* pro%endo o 'luir intermin;%el do tempo* com espec$'icas
(represas)* acontecimentos ou per$odos de tempo.
Ainda ue seHa e%idente ue algumas das terminologias são imut;%eis*
cada uma delas tem um signi'icado espec$'ico* epressi%o e semIntico
para a pessoa ue 'ala Kikongo* porue tais signi'icados tem sua ase
na cultura Bantu. 6ara captar o conceito de tempo entre as pessoas
dessa area cultural Bantu espec$'ica 0 necess;rio ue essa ase seHa
compreendida. @e%e ser entendida* se uma pessoa uer ter uma
compreensão pr,pria sore as 'ormas atra%0s das uais o po%o
Bakongo conceituali3a o tempo e tam0m para aueles para os ue
compreendem os sistemas culturais* religiosos e 'ilos,'icos da &'rica
de uma maneira tão prec;ria na literatura ocidental* de%ido G 'alta de
um entendimento de conceitos lingu$sticos c+a%es.
O po%o Bakongo recon+ece uatro es'eras do tempo: o tempo
c,smico* natural* %ital e social.
#2iayalangana+
m sua cosmou o%is*Tandu
ão* os 2iaBauyalungunu+
ntu-Kongo c+oam *Tandu
am dec,smico)
(tempo o
ilimitado e cont$nuo processo de 'ormação dos /unga
/acontecimentos1 atra%0s do uni%erso (uyalungunu) Atra%0s do poder
e da energia da Kalunga* a 'orça suprema /Fu-Kiau* 9DEDU 9DD91. #m
outras pala%ras* o tempo c,smico representa a cronologia atual*
cont$nua e ati%a da energia da Kalunga e suas represas /dams1 / n
3kama) ou no%as criaç8es no uni%erso inteiro atra%0s da
instrumentali3ação do poder da Kalunga* o agente da mudança e da
criação:
(@epois do aparecimento do Muntu /ser +umano1 no planeta Terra* a
energia
outro da Kalunga
lugar* ati%ou
do outro ladoodo
seuM3nagu
plano maior para
a 1ulu a Tdo
/teto erra* para
c0u1 continuar
para em
encendiar
/unga ti ya) no %a3io do Mbungi a luyalungunu /a ca%idade do uni%erso1 e
in%ad$-lo para a 'ormação de no%os mundos.)
6ara tornar-se plenamente %i%o* esses no%os mundos tam0m serão
tema para os uatro est;gios cardinais do Cosmograma Kongo* como
ser; mostrado adiante.
Cada corpo /mundo* planeta1 no uni%erso tem seu pr,prio tempo
c,smico* seu pr,prio processo de 'ormação. #ntretanto* as antigas
escolas de iniciação Bantu-Kongo pensa%am ue todos os processos
c,smicos do tempo engloam uatro grandes passos* para os uais
tudo na %ida 0 suHeti%o* inclusi%e os sistemas. A Cosmologia Bantu
ensina ue para completar seus processos de 'ormação ou dingo-
dingo um planeta precisa atra%essar esses uatro est;gios ou
(represas do tempo) (n3kama mia ntangu) c+amados de Tempo
!usoni* Tempo Kala* Tempo Tukula e Tempo ?u%ema.
731ungi - Viajante
731ungi >a? n1ila J Um simples viajante no caminho [cósmico]
731ungi - Viajante
731ungi >a? n1ila J Um simples viajante no caminho [cósmico]
Banganga ban3e - E aqueles iniciados
"-e-e.@ - Eles são o mesmo.
%oltar; Ma3kwendaA
Kikongo*/depois1) Ma3kwi1a
J o ue J (odeue
'lui atra%0s est; acontecendo
mo%imentos /agora1
c$clicos seguir;
mo%endo-se. O Tempo 0 c$clico* assim como a %ida e todas as suas
rami'icaç8es* ue 'a3em com ue as mudanças seHam poss$%eis atra%0s
dos processos ue deiam marcas nas (represas do tempo).
Conclusão
NOTA
9. <ma oa disc ussão sor e a linguagem lite r;ria do Kongo pode
ser encontrada em (!elolo Ya !piku* 7ntroduction G la
literature Kikongo)* Resear!h in $fri!an iteratures ; /9D21:
99-E9.
2. 6ara uma discussão mais pro'unda* %eHa K. K. B. Fu-Kiau*
(!ukuku !atatu: ?es Fondements Culturels Kngo)* manuscrito
in0dito* p. 455.
. K. K. B. Fu-Kiau* $fri!a: The ,side-/own Sailing Shi, /NeZ
[ork: Carlton 6ress* in press1* p. W.
4. Tam0m con+ecido como !a+\ngu* !al\ngu e !a%\ngu.
W. O tema 0 longamente discu tido em K. K. B. Fu-Kiau* (!ak uku
!atatu)* pp. -D9.
E. O ngwa-nka1i /tio1 0 o agente tanto das 'orças positi%as uanto
negati%as da sociedade. #le tem acesso ao poder e G liderança e
pode aençoar as pessoas* por outro lado* ele tem a (energia)
para punir* amaldiçoar e causar a morte.
. 6ara uma discu ssão mais pro'unda* %eHa K. K. Bunseki Fu-Kiau*
Self-ealing Power and Thera,y /NeZ [ork: antage 6ress*
9DD91* pp. D-DD.
. #ssa canção po0tica da #scola de 7ni ciação ?Xma 'oi com posta
na linguagem altament e so'isticada dos mestres e não pode ser
literalmente tradu3ida na l$ngua inglesa. A tradução
proporcionou transmitir a ess"ncia do teto. 6ara uma discussão
mais pro'unda* %eHa K. K. Bunseki Fu-Kiau* 73kongo ye 71a
9akun 31ungidila8e Mukongo et le Monde #ui l3"ntourait
/Kins+asa: ON@* 9DED1* pp. 2E-5.