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Engenharia Mecânica Disciplina Elementos de Máquinas II

Data 5/8/2010
Aulas nº 2 Assunto Tribologia
Folha 1/8

Apresentar histórico, importância e influência da tribologia na engenharia.


Objetivo Descrever possibilidades de ação tribológica e seus efeitos
Apresentar ações e soluções possíveis em resposta um problema tribológico.

Tribologia

O termo tribologia, que vem do grego Τριβο (Tribo - esfregar) e Λογοσ (Logos - estudo) foi
utilizado, oficialmente, pela primeira vez em 1966 em um relatório feito por H. Peter Jost
para o comitê do departamento inglês de educação e ciência. Neste relatório, o termo foi
definido como a “ciência e tecnologia de superfícies interativas em movimento relativo e
dos assuntos e práticas relacionados” (Jost, 1990). Jost foi o primeiro a estudar os impactos
econômicos devido à utilização dos conhecimentos de tribologia. Este estudo é
considerado o marco de criação da tribologia. As estimativas de reduções de gastos
apresentadas no relatório de Jost são de que mediante o uso do conhecimento existente
podem-se reduzir as perdas por desgaste em 20% (Jost, 1966). O aspecto ambiental
também é muito importante na análise global das perdas por desgaste. As maiores perdas
no motor de um automóvel (por exemplo), transitando em uma cidade, são devidas ao
resfriamento e à exaustão. Apenas 12% da potência do motor são
transmitidas às rodas, o que é menor do que as perdas por atrito (cerca de 15%).
Considerando melhorias de 20% a economia seria de 300 milhões de reais por ano e uma
redução de 37.500 toneladas de CO2 emitidos para atmosfera, apenas na cidade de São
Paulo, segundo dados obtidos por Anderson em 1991(Anderson, 1991).

Obviamente os pais da tribologia não esqueceram o atrito estático exceto na definição da


palavra. A tribologia une os campos da mecânica, física, química, materiais e os
conhecimentos em lubrificação atrito e desgaste para predizer o comportamento de
sistemas físicos. Quando a tribologia considera organismos vivos ela é designada por
biotribologia e incorpora princípios da medicina e das ciências biológicas.

Breve histórico

Este histórico foi apresentado por Dr. P. Jost no aniversário de 40 anos da Tribologia em
2006.

Nos anos 1960 houve um aumento nas publicações sobre falhas em plantas de fábricas e
em máquinas, causadas por desgaste e causas relacionadas a desgaste, tornando o
processo mais oneroso. A situação pedia por melhorias na educação e por uma pesquisa
maior e melhor coordenada em escala nacional (inglesa). Assim foi instituído um grupo de
trabalho para investigar como estava a educação em lubrificação e as pesquisas em âmbito
nacional (inglês) e opinar nas necessidades concernentes à indústria.

Em 9 de março de 1966 o governo inglês publicou um relatório consolidando a análise


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feita. O relatório apontou uma correlação direta entre educação em tribologia e o


progresso e desenvolvimento da indústria. Este relatório é lembrado como Relatório Jost.

Lubrificação hidrodinâmica

A lubrificação hidrodinâmica é considerada uma das áreas mais importantes da tribologia.


Este tipo de lubrificação ocorre quando duas superfícies em movimento relativo são
separadas por uma película de um fluido lubrificante. Sua conceituação e caracterização
são atribuídas a três pesquisadores: Nicolai Petrov (1836-1920), Beauchamp Tower (1845-
1904) e Osborn Reynolds (1842-1912). Eles perceberam que o mecanismo que existe neste
tipo de lubrificação não era devido à interação mecânica de superfícies sólidas, como se
acreditava na época, mas sim devido ao filme de fluido que as separava - este é o aspecto
fundamental da lubrificação hidrodinâmica. Os fundamentos teóricos e experimentais
foram firmemente estabelecidos num curto período de tempo, entre 1883-1886. Todavia,
foi o físico britânico Osborne Reynolds (1842 - 1912) que traduziu os resultados
experimentais em linguagem matemática, desenvolvendo uma equação de derivadas
parciais (também chamada de equação de Reynolds em sua homenagem) que tem sido a
base para a grande maioria dos desenvolvimentos nesta área, gerando um grande número
de pesquisas até os dias de hoje.

Princípios básicos de tribologia

Um dos principais focos de estudo da tribologia é o desgaste. Tradicionalmente são aceitos


quatro modos de desgaste que estão representados na figura 1.

Figura 1 - Desenho esquemático dos quatro modos representativos de desgaste.

Desgaste adesivo - ocorre quando a ligação adesiva entre as superfícies é suficientemente


forte para resistir ao deslizamento. Como resultado dessa adesão, uma deformação
plástica é causada na região de contato gerando uma trinca que pode se propagar levando
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à geração de um terceiro corpo e a uma transferência completa de material.

Desgaste abrasivo - ocorre remoção de material da superfície. Esse desgaste ocorre em


função do formato e da dureza dos dois materiais em contato.

Desgaste por fadiga - quando o desgaste é ocasionado pelo alto número de repetições do
movimento

Desgaste corrosivo ocorre em meios corrosivos, líquidos ou gasosos. Neste tipo de


desgaste são formados produtos de reação devido às interações químicas e eletroquímicas.
Essas reações são conhecidas como reações triboquímicas e produzem uma intercamada
na superfície que depois é removida.

Os modos de desgaste podem ocorrer através de diversos mecanismos. Os mecanismos de


desgaste são descritos pela consideração de mudanças complexas na superfície durante o
movimento. Em geral, o desgaste ocorre através de mais de um modo, portanto a
compreensão de cada mecanismo de desgaste em cada modo se torna importante. A figura
2 mostra um breve resumo destes mecanismos.

Figura 2 - Diagrama dos processos de desgaste em função do elemento interfacial e do


tipo de movimento das interfaces.
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O desgaste ocorre em função da cinemática do sistema. Pode variar entre, deslizamento,


rolamento, oscilação, impacto e erosão, dependendo do tipo de interação e do movimento
das interfaces. A erosão pode ainda ser classificada pelo estado físico do contra-corpo,
sólido ou líquido, ou pelo ângulo de ação, alto ou baixo. Os processos de desgaste também
poderão ser classificados quanto ao elemento interfacial.

Considerações sobre fenômenos tribológicos

Antes de considerar quais os tipos de problemas tribológicos, tantos os encontrados na


indústria, vamos considerar o fenômeno de uma maneira geral. Essencialmente, em uma
situação tribológica ocorre a interação de duas superfícies sólidas em um determinado
ambiente, resultando em duas manifestações exteriores:

1) Ocorre uma dissipação de energia que é a resistência ao movimento representada pelo


coeficiente de atrito. Essa dissipação de energia resulta em calor liberado no contato e uma
certa quantidade de ruído, pequena mas muitas vezes significativa. Deve ser enfatizado
que como estão sempre envolvidas duas superfícies, parâmetros como o coeficiente de
atrito devem ser relacionados com o par de materiais que interagem. Falar do coeficiente
de atrito do aço sem referências ao outro material em contato é cientificamente incorreto. É
interessante salientar que a existência de superfícies sem atrito é cientificamente
impossível, e que a associação geralmente feita de baixo atrito com superfícies lisas é,
também, basicamente incorreta.

2) Durante o processo de escorregamento relativo, as superfícies modificam suas


características básicas, de um valor maior ou menor. Elas podem se tornar mais lisas ou
mais rugosas, ter propriedades físicas, tais como dureza, alteradas, e podem ainda perder
material através do processo de desgaste. Essas mudanças nas superfícies podem ser
benéficas, como acontece em situações de amaciamento, para produzir condições de
operação próximas a ideal, ou desastrosas, quando ocorre a falha da superfície (perda da
função técnica), necessitando da substituição da peça.

Pelas considerações anteriores pode-se concluir que, tanto o atrito, quanto o desgaste, são
sempre desvantajosos, mas esse não é o caso. Em muitas aplicações em engenharia,
emprega-se o atrito para preencher certas funções requeridas. Freios, embreagens, rodas
diretoras de carros e trens, funcionam devido à existência do atrito. Os acionamentos por
rodas de atrito são empregados em diversas aplicações em engenharia, desde sistemas de
soldagem, a acionamentos de sistemas de posicionamento de ultraprecisão, que atuam no
campo do nanômetro ou sub-nanométrico.

Enquanto que o conjunto porca/parafuso somente trabalha devido ao atrito presente, da


mesma forma, o desgaste em máquinas é, algumas vezes, vantajoso. O desgaste inicial,
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resultando em uma melhor acomodação das peças (amaciamento) é evidentemente


desejável, enquanto que o fato das peças desgastarem e necessitarem ser trocadas é,
muitas vezes, uma forte motivação para substituir máquinas já obsoletas.

Uma interpretação errônea, e amplamente difundida, é a de que o atrito e desgaste devem


ser relacionados de alguma maneira, pois ambos provem da interação de superfícies, são
relacionados de uma maneira simples, alto atrito significando desgaste elevado, o que nem
sempre é o caso.

Considerações econômicas

Outros fatores que contribuíram para o


aumento da importância da tribologia nas
últimas décadas estão a crise do petróleo dos
anos 70 do século passado (XX), a qual levou a
necessidade de se desenvolver sistemas
mecânicos mais eficientes, através da redução
do atrito. Também a preocupação ecológica
surgida nos anos 90 do mesmo século, que teve
seus reflexos na tribologia, onde a necessidade
por sistemas ainda mais eficientes,
principalmente sentido de redução de emissão
de poluentes, emissão de ruído e consumo de
lubrificantes, os quais têm que ser descartados
após certo período, levou ao desenvolvimento
de lubrificantes e sistemas de lubrificação mais
eficientes.

Preocupações com relação aos custos, tanto de


produtos quanto de mão de obra, levaram
novamente a preocupações tribológicas
relativas à necessidade de se controlar o
desgaste, eliminar a necessidades de paradas
para manutenção, e a redução dos estoques de
componentes de reposição, e a necessidade de
aumentar a produtividade por meio do Figura 3 - Economias apresentadas pelo
aumento das velocidades das máquinas Relatório Jost

Os aumentos dos custos de mão de obra associado a um aumento nos requisitos de


precisão dos componentes mecânicos, tem levado a necessidade de sistemas
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automatizados, onde a compreensão do atrito é vital para o estabelecimento das leis e a


formulação das estratégias de controle.

Soluções tribológicas

As soluções de engenharia disponíveis para problemas tribológicos são mais amplas e


complexas do que o simples uso de lubrificantes, conforme a figura 4.

Figura 4 - Métodos de solução de problemas tribológicos

Onde:

a – Contato a seco - Neste caso escolhe-se materiais que apresentem características


intrínsecas de baixo atrito e/ou boas características de desgaste, embora isto possa
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significar a aceitação de menores capacidades de carga, como por exemplo, quando


materiais plásticos são empregados. Em muitos casos, é possível usar materiais com
camadas superficiais de baixo atrito depositadas sobre substratos que preencham as
exigências estruturais impostas a peça. Esse método é empregado nos casquilhos usados
em motores de automóveis.

b – Filmes finos - também denominados de filmes químicos podem ser aplicados para
proteger as superfícies e, em parte, reduzem o contato íntimo dos materiais de base.
Nesses sistemas, a estabilidade térmica dos filmes é importante devido às altas
temperaturas localizadas que surgem nos pontos em que ocorre contato durante o
escorregamento. Exemplos, revestimento com cromo duro em eixos e mancais, e nitreto de
titânio (TiN) em ferramentas de usinagem de geometria definida.

c – Sólidos lamelares - recobrimentos sólidos das superfícies podem ser usados, desde que
tenham baixa resistência ao cisalhamento, por exemplo, camadas de metais moles, ou
sólidos lamelares como grafite e dissulfeto de molibdênio. Estes últimos materiais têm
uma estrutura em camadas, como um pacote de cartas de baralho, resistentes para cargas
normais e frágeis ao longo de planos de 90°, facilitando o escorregamento.

d – Lubrificação fluídica - as superfícies com movimento relativo podem ser separadas


com um filme fluido contínuo, este pode ser líquido, vapor ou gás, geralmente ar. Nesses
sistemas deve se originar uma pressão no filme fluido para resistir o efeito das cargas
aplicadas. A pressão de sustentação pode ser originada pelo efeito do movimento relativo
das superfícies, efeito cunha dos mancais fluidodinâmicos, ou por uma bomba externa,
originando os mancais fluidostáticos. A ação hidrodinâmica é mais dependente da
viscosidade do fluido do que a ação hidrostática. Em ambos os casos, uma ampla gama de
fluidos como água, óleos, ar, ou mesmo metais líquidos em reatores nucleares, tem sido
empregados com sucesso.

e – Elastômeros - em aplicações onde a amplitude do deslocamento transversal é muito


pequena, as superfícies podem ser separadas por elastômeros colocados às duas
superfícies. Esta pode ser uma excelente solução e um projeto alternativo é mostrado na
figura f, onde foram utilizadas tiras elásticas flexíveis (mancais de mola).

f – Elementos rolantes - uma das soluções tribológicas amplamente utilizadas é interpor


elementos rolantes. Mancais de elementos rolantes ou de rolamento, apesar de
apresentarem um projeto e um cálculo dimensional extremamente complexo, são o tipo de
mancal antifricção mais amplamente utilizado na solução de problemas tribológicos, tanto
pela forma simplificada de cálculo e seleção posta a disposição pelos fabricantes, quanto
pelo nível de padronização encontrado no mercado. Nestes mancais, as superfícies com
movimento relativo são separadas por um elemento rolante, o qual pode ser esférico,
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cilíndrico, cônico, na forma de barril ou de agulha. Nestes, os carregamentos são


absorvidos pela deformação elástica de contato dos elementos rolantes junto aos anéis. Por
isso, seu campo de utilização é limitado tanto pela rigidez possível de se obter quanto pelo
baixo ou inexistente amortecimento, o que diminui sua precisão no deslocamento.

g – Campos magnéticos - o suporte de cargas sem contato mecânico é possível através do


uso de campos magnéticos. O funcionamento dos mancais magnéticos está baseado no
princípio da atração ou repulsão mútua entre os pólos magnéticos. Os campos magnéticos
controlados mantêm o elemento com movimento relativo suspenso, sem que ocorra
contato metal-metal. Inicialmente empregados em instrumentos de medição (medidores
de eletricidade), devido à excelente rigidez proporcionada por estes mancais, sua principal
aplicação se dá em fusos de alta velocidade, onde se podem atingir rotações entre 10.000 e
100.000 1/min. Apesar de nos mancais magnéticos não haver geração de calor por atrito
mecânico entre as partes metálicas, esta se manifesta, e de forma excessiva, devido às
correntes parasitas, o que torna necessário a utilização de refrigeração.

Considerando essas possíveis soluções, o projetista pode agora, considerar fatores com a
carga a ser suportada, a velocidade, a natureza do ambiente e qualquer limitação imposta
ao atrito e ao desgaste, para chegar à resposta mais adequada ao seu problema de projeto.
Até o momento, as superfícies foram consideradas como planos lisos que limitam os
sólidos. Infelizmente, todas as superfícies em engenharia são mais complexas,
apresentando geometrias com picos e vales e, também, propriedades físicas e químicas
raramente uniformes através da espessura do material, o que contribui para complicar a
solução dos problemas tribológicos.

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