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Ficha 2 – Fernando Pessoa, ortónimo (12.º ano)

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Assim, sem nada feito e o por fazer

Assim, sem nada feito e o por fazer


Mal pensado, ou sonhado sem pensar,
Vejo meus dias nulos decorrer,
E o cansaço de nada me aumentar.

5 Perdura, sim, como uma mocidade


Que a si mesma se sobrevive, a esperança,
Mas à mesma esperança o tédio invade,
E a mesma falsa mocidade cansa.

Ténue passar das horas sem proveito,


10 Leve correr dos dias sem ação,
Como a quem com saúde jaz no leito
Ou quem sempre se atrasa sem razão.

Vadio sem andar, meu ser inerte


Contempla-me, que esqueço de querer,
15 E a tarde exterior seu tédio verte
Sobre quem nada fez e nada quer.

Inútil vida, posta a um canto e ida


Sem que alguém nela fosse, nau sem mar,
Obra solenemente por ser lida,
20 Ah, deixem-se sonhar sem esperar!
30-3-1933

Fernando Pessoa, Poesia (1931-1935) e não datada,


Lisboa, Assírio & Alvim, 2005, p. 131

MPAG

1. Caracteriza o estado de espírito do sujeito poético, de acordo com as estrofes 1 e 2.


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2. Explica o valor expressivo das comparações presentes na terceira estrofe.

3. Identifica dois aspetos temáticos da poesia do ortónimo presentes no poema e comprova-os com elementos
textuais.

MPAG12D

4. Explica a importância do sonho a que o sujeito poético faz referência no último verso.
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Soluções

12.º ano

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Ficha 2 – Fernando Pessoa, ortónimo


1. O sujeito poético revela-se cansado e perceciona a sua vida como vazia (“sem nada feito”, v. 1), sem sentido e sem perspetivas
para o futuro (“o por fazer / Mal pensado”, vv. 1-2). Limita-se a deixar a vida correr, sem a viver realmente (“Vejo meus dias nulos
decorrer”, v. 3). Além disso, satura-se até daquilo que pode ser considerado positivo, como a “mocidade” ou a “esperança” (vv. 5-8),
que cansam por não serem plenamente vividas.

2. As comparações da terceira estrofe acentuam a tristeza do sujeito poético e o modo passivo como encara a sua existência.
Assim, ao apresentar-se como alguém que “jaz no leito” (v. 11), revela que considera a sua vida desprovida de significado, ainda
que “com saúde”. No último verso, a comparação com “quem sempre se atrasa sem razão” representa uma vida sem sentido, sem
propósito.

3. Neste poema, podemos identificar alguns aspetos temáticos característicos da poesia do ortónimo: um sujeito em constante
autoanálise, pensando e refletindo acerca da vida e de si próprio (“Vejo meus dias nulos decorrer”, v. 3); o tédio existencial,
associado à incapacidade de se libertar do pensamento e da consciência (“cansaço de nada”, v. 4; “o tédio invade”, v. 7); a
dicotomia sonho/realidade, com o sujeito poético a desejar refugiar-se no sonho como forma de escapar à realidade em que vive
(“deixem-se sonhar sem esperar”, v. 20).

4. Depois de descrever a sua vida como vazia e sem sentido, que lhe provoca tédio e cansaço de viver, a exclamação final, em jeito
de desabafo, manifesta a vontade do sujeito poético de se evadir, ainda que por instantes, da sua triste realidade. O sonho surge,
assim, como uma possibilidade de aliviar a sua dor.

MPAG

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