OS HISTORIADORES: A DESCOBERTA DA HISTÓRIA SOCIAL E
CULTURAL – PETER BURKE
Busca de uma explicação para o surgimento de criadores excepcionais durante o
Renascimento: Leonardo Bruni: acreditava que a política era a chave do problema Comparado com Tácito – “as conquistas literárias dos florentinos foram resultado de sua liberdade” Giorgio Vasari: o primeiro a oferecer uma análise detalhada do problema Fonte indispensável para a história da arte do Renascimento italiano (p.39) Achou espaço para o que chamamos de fator social em suas biografias de pintores, escultores e arquitetos – forneceu explicações econômicas, sociais e psicológicas Século XVIII: a “história da maneiras” virou objeto de estudo (coincida mais ou menos com a história cultural e social” Voltaire: tentou desviar a atenção dos historiadores das guerras paras as artes “Ensaio sobre as maneiras”,1756 (p.40): colocava o século XVI como o tempo que a natureza produziu homens extraordinários em quase todos os campos Razões para tal fenômeno de acordo com os escritores do Iluminismo: liberdade e opulência Lorde Shaftesbury: explicava as revivescência da pintura com a liberdade civil William Roscoe: “Sempre soube que a defesa da liberdade expande e fortalece a mente.” J.C.L.S De Sismondi: “Historyof a Italian Republics”, 1807-18 – desenvolvimento do tema da liberdade Visão comum: a liberdade encorajava o comércio, e o comércio encorajava a cultura Teóricos sociais da Escócia que concordavam: Charles Burney, Adam Ferguson, John Millar e Adam Smith (p.41) Modelo escocês: ciência da sociedade de linhas newtonianas – modelo de mudança cultural mecânico Modelo alemão: modelo alternativo, orgânico J.J. Wincklemann: “History of Ancient Art”, 1764 – discutia a relação entre arte e clima, arte e sistema político e etc. a fim de fazer história da arte “sistematicamente inteligível” J.G. Herder: desenvolveu a história da literatura – via a arte e a sociedade como partes do mesmo todo G.W.F. Hegel: descreveu as artes como objetificações do espírito, e espírito do tempo – 3 exemplos relacionados de expansão espiritual: florescimento das artes, o reviver do aprendizado e a descoberta da América Ênfase na consciência Karl Marx: interesse pelo lugar do Renascimento na história do mundo Voltado á preocupação setecentista com a relação entre as artes e a economia – mais interessa na relação precisa entre a produção ,material e na “produção cultural” (termo próprio) Marx e Engels: sugerem que a superestrutura cultural era moldada pela base econômica Plekhanov: colocação complementar, mais sobre fornecimento do que demanda e o papel do indivídui na história do Renascimento Jacob Buckhardt: “The Civilisation of the Renaissance in Italy”, 1860 Pertence a tradição de tentativas de relacionar cultura e sociedade Via o Renascimento como uma era de individualismo- visão que contribuiu para o “mito do Renascimento” (século XIX) (P.43) Partilha com Herder, Hegel e Schopenhauer uma preocupação com as polaridades de interno e externo, subjetivo e objetivo, consciente e inconsciente “Reflections on World History”, 1906: analisava as sociedades em termos da interação recíproca de 3 poderes: estado, cultura e religião Ausência da economia em ambos os estudos, de uma discussão séria sobre a arte do Renascimento “a conexão da arte com a cultura geral deve ser entendida como solta e ligeira. A arte tem vida própria e história.” (p.44) Heinrich Wölfflin: pupilo de Buckhardt Partidário de uma história da arte autônoma/ internalista – abordagem mais sutil e ambivalente Aby Warburg: herdeiro intelectual de Buckhardt Fascinado pelos Medici “Ele tratava a história da arte como uma parte da história geral da cultura, e não gostava de nenhum tipo de “controle de fronteira” intelectual, conforme dizia. Por outro lado, era fiel à máxima de que Deus é encontrado nos detalhes.” (p.45) Seus interesses estendiam-se à história social e econômica Preocupação central: persistência e transformação da tradição clássica Martin Wackernagel: fez um estudo sobre Florença do período entre 1420-1530 – concentrou-se na organização das artes Anos 1930: outra tentativa para preencher o lapso entre a história social e cultural do Renascimento Wackernagel: fornecia uma história social detalhada (sociografia) Alfred von Martin: oferecia uma sociologia Preocupa-se com os temas do individualismo e com as origens da modernidade Mais ênfase na base econômica do Renascimento O Renascimento pra o autor é uma “revolução burguesa” Ensaio: mistura de Marx e Buckhardt, traço de Mannheim e Georg Simmel Parte 1: mapeia a ascensão do capitalista, que substitui o nobre e o clérigo como líder da sociedade – mudança social que sublinha a ascensão da mentalidade racional calculista (p.46) Partes 2 e 3:o ideal individualista do entrepeneur é substituído pelo ideal conformista do cortesão Críticas ao ensaio: uso de termos gerais, especulações sobre a analogia do dinheiro e do intelectualismo, etc. – defeitos do pioneirismo Frederick Antal: ‘Florentine Painting and its Social Background”, 1947 Estudo do Renascimento na tradição de Marx e Mannheim Aplicação da teoria marxista à história da arte (p.47) Acusado de anacronismo e circularidade Sir Ernst Gombrich: crítica à abordagem marxista Distingue dois sentidos na expressão “história social da arte” 1) Estudo da arte enquanto instituição ou como relato da transformação das condições materiais 2) História social refletida na arte e dispensada “É realmente perigoso achar que a arte “reflete a sociedade de maneira direta, mas a frase “arte enquanto instituição” também é ambígua.” Abordagem microssocial Trabalhos sobre a história social da arte do Renascimentoo nessa linha: Wackernagel, Gombrich, Margot e Rudolf Wirrkower, Carlo Dionisotti (p.48) "A mudança das condições materiais em que a arte era encomendada ou criada” deve se limitar ao meio imediato ou estender-se à sociedade como um todo? “Evidentemente é esclarecedor considerar a relação entre as pinturas e o patronato do período, mas muitos historiadores gostariam de ir além e colocar o que os sociólogos chamam de questões “macrossociais” sobre a relação entre o patronato artístico e outras instituições sociais, e o estado da economia. Alguns historiadores fizeram efetivamente esse tipo de pergunta sobre o Renascimento italiano e chegaram a respostas bastante diferentes, alguns frisando fatores econômicos, como Robert Lopez, outros frisando a política, como Hans Baron.” Lopez: interesse na história econômica de Gênova – afirma que os séculos XIV e XV foram um período de recessão econômica Dificuldade que essa teoria cria para uma visão convencional das precondições econômicas da recessão: superestrutura defasada com a base Proposição de uma teoria de “tempos difíceis e investimento na cultura” O valor da cultura subiu no momento em que o valor da terra caiu – a teoria da prosperidade da cultura tem um competidor (p.50) Hans Baron: explicação mais política do Renascimento – estudo de Florença e da crise dos primeiros tempos do Renascimento italiano observa as importantes mudanças de ideias que ocorreram nos anos em torno de 1400 Eliminação de qualquer explicação simples para a mudança econômica – oferece uma explicação política, menos ênfase na autoconsciência e oferecendo uma análise íntima de eventos políticos-chave Tomada de consciência coletiva pelos florentinos pro volta de 1400 – identificação com as grandes repúblicas do mundo antigo, levando a grandes mudanças em sua cultura “O valor da abordagem de Baron, assim como a de Lopez, está no fato de ela ter se atido à bagagem comum em vez de descartar todos os relatos prévios do Renascimento.” Em um nível geral as abordagens microssocial e macrossocial devem ser consideradas como complementares mais d que contraditórias Cada uma tem seus próprios perigos e defeitos: 1) Macrossocial: “Grande Teoria” – pouca informação, interpretação demais, enquadramento rígido; abordagem que da impressão de que “forças sociais” agem sobre a “cultura” de maneira direta (p.51) 2) Microssocial: hiperempirismo – descrição mais do que análise, fatos excessivos, pouca interpretação Objetivo: juntar as abordagens microssocial e macrossocial Apresentar um panaroma geral em relação ao qual se possa avaliar a variação regional (p.52)