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SISTEMAS DE AUTOMAÇÃO EM PROCESSOS INDUSTRIAIS

Comandos elétricos

A princípio, o estudo da eletricidade é dividido em três grandes áreas: a


geração, a distribuição e a utilização. Diante desse contexto, os comandos elétricos
são estudados, com foco maior, em instalações elétricas de alta potência ou
industriais, mas esse não é o foco desta disciplina. Eles são responsáveis pelo
controle ou manobra, comumente utilizada em motores elétricos, que se trata da
instalação e da condução, ou da intervenção na corrente elétrica em condições
normais e de sobrecarga (FILHO, 2018; MOHAN, 2012; JUNIOR, 2006). Os
principais modelos de motores são, conforme Silva (2006):
• Motores de Indução, conhecidos como motores de corrente
alternada (C.A.) ou de bobina;
• Servomotores;
• Motores de corrente contínua (C.C.);
• Motores síncronos;
• Motores de passo.

Segundo Silva (2006), os servomotores e motores de passo têm um driver,


conhecido também como dispositivo de parametrização, próprio para o seu
acionamento e controle de velocidade, rotações e acelerações, de modo que tais
conceitos fogem do escopo desta disciplina. Entre os demais motores apresentados,
os de maior aplicabilidade industrial são os motores de indução trifásicos, porque em
comparação com os motores de corrente contínua, de mesma potência, eles têm
tamanho menor, são mais leves e exigem menos manutenção (MOHAN, 2012;
JUNIOR, 2006; SILVA, 2006). Veja o link para visualizar um motor de indução
trifásico típico.< https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Vista-em-corte-de-um-
motor-deinducao-trifasico-Fonte-WEG_fig1_310502963 >.
O motor de indução tem características específicas de funcionamento, que
são relevantes ao entendimento dos comandos elétricos. Um dos princípios
fundamentais para o conhecimento dos comandos elétricos, conforme afirma Silva
(2006), é a noção de que “os objetivos principais dos elementos em um painel
elétrico são:

a) proteger o operador; e
b) propiciar uma lógica de comando” (NASCIMENTO, 2011; SILVA, 2006).

Tendo como base princípio da proteção do operador, uma sequência genérica


dos elementos necessários à partida e manobra de motores. Nela é possível
diferenciar os seguintes elementos (FILHO, 2018; SILVA, 2006):

Figura − Sequência genérica para o acionamento de um motor.

A. Seccionamento: só é capaz de ser operado sem carga. É utilizado


durante a manutenção e análise do circuito.
B. Proteção contra curto-circuito: tem como objetivo a proteção dos
condutores no terminal do circuito.
C. Proteção contra sobrecarga de corrente: tem como objetivo a
proteção do enrolamento do motor.
D. Aparelhos de manobra: têm como objetivo o controle de liga e
desliga do motor de forma segura, ou seja, sem a necessidade do contato
do operador no circuito de potência, no qual transita a maior corrente.

É importante no estudo de comandos elétricos ter em mente a cadeia, porque


ela consiste na base para o projeto de qualquer circuito (FILHO, 2018;
NASCIMENTO, 2011; SILVA, 2006). Lembre-se de que na proteção, nas manobras
(ou partidas de motores) convencionais, existem dois modelos, segundo a norma
IEC 60947 (1998):
• Coordenação do tipo 1: nenhum perigo oferecido para as pessoas e
instalações, ou seja, desligamento seguro da corrente de curto-circuito.
Porém, podem existir danos ao relé de sobrecarga e ao contator.
• Coordenação do tipo 2: nenhum perigo oferecido para as pessoas e
instalações. Não podem existir danos ao relé de sobrecarga e/ou em
outras partes, exceto leve fusão dos contatos do contator e estes
permitem uma fácil separação sem danos significativos.
Existe um elemento simples que é chamado de contato que é trabalhado
frequentemente tanto em lógica quanto nos comandos elétricos. Existem dois tipos
de contatos que serão explicados a seguir (FILHO, 2018; SILVA, 2006):
1. Contato Normalmente Aberto (NA): não há corrente elétrica na
posição de repouso. Dessa forma, não conduz o dispositivo ou a carga,
assim não será acionado.
2. Contato Normalmente Fechado (NF): há corrente elétrica. Dessa
forma, conduz o dispositivo ou a carga, assim será acionado.

Os contatos, acima citados, podem ser ligados conforme a necessidade do


projeto para atingir o que é desejado ao se acionar o dispositivo, como por exemplo,
fazer com que uma carga seja acionada somente quando dois deles estiverem
ligados. A seguir, serão exploradas as principais associações entre contatos.

Associações de contatos

Existem dois tipos de associação: em série e em paralelo.

Figura − Associação dos contatos.

Pode-se notar que, na associação em série, a carga estará acionada somente


quando os dois contatos estiverem acionados simultaneamente, e por isso é
denominada de “Lógica E”. Ao contrário, na combinação em paralelo, qualquer um
dos contatos acionados a uma carga é denominada de “Lógica OU”.
As associações são comumente ligadas a uma tabela contendo todas as
combinações possíveis entre os contatos. Ela é denominada “Tabela Verdade” ou
“Tabela da Verdade”. As Tabelas referem-se às associações em série e paralelo,
respectivamente.
Tabela – Associação de Contatos

Cada elemento em um circuito de comando elétrico tem sua representação


gráfica específica. A numeração dos contatos e a sua representação têm um padrão
a ser adotado, de acordo com as normas NBR 5280 ou a IEC 113.2 (NBR5280,
1983).
No entanto, a numeração dos contatos auxiliares segue conforme o seguinte
padrão:

• 1 e 2 = Contato normalmente fechado (NF), sendo 1 a entrada, e 2


a saída;
• 3 e 4 = Contato normalmente aberto (NA), sendo 3 a entrada, e 4 a
saída.

Os relés e contatores adotam A1 e A2 para os terminais da bobina. Os


contatos auxiliares desses dispositivos seguem um modelo especial de numeração,
pois o número é composto por dois dígitos, sendo:
• Primeiro número: indica o número do contato a que pertence;
• Segundo número: indica se os contatos são do tipo NF (1 e 2) ou
NA (3 e 4).

Os principais elementos compostos em comandos elétricos

Estudados os principais modelos de contatos, o próximo passo é entender os


componentes encontrados nos painéis elétricos. A seguir, há a lista de componentes
mais utilizados nos comandos elétricos, conforme é explicado por Silva (2006):
A. Botoeira ou Botão: dispositivo com a principal tarefa de
liberar o fluxo de corrente elétrica para o acionamento de um equipamento
ou outro dispositivo, tendo características diferentes de acionamentos,
seja com travamento no acionamento ou sendo pulsador:

B. Relés: têm a função de manobrar as cargas elétricas, assim


permitindo a combinação de lógicas no comando entre os contatos e seu
acionamento, e permitindo separar os circuitos de potência (mais de 10 A)
e comando (até 10 A).

Figura − Esquema, Simbologia e Relés comerciais.

C. Contatores: são semelhantes aos relés. A diferença se


encontra na estrutura física, que nos contadores é mais robusta e flexível.
A desvantagem da utilização deles é a geração de faíscas, causando risco
à saúde do usuário.
Figura − Esquema, Simbologia e Contator comercial.

D. Fusíveis: são amplamente conhecidos devido ao uso


doméstico e sua principal função é a proteção contra curto-circuito. A
súbita elevação da corrente gera calor ao dispositivo e,
consequentemente, rompendo-o devido ao efeito Joule.

Figura − Simbologia e Fusíveis comerciais.

E. Disjuntores: sua função é proteger também de curto-circuito.


A vantagem que encontramos em relação ao fusível é a possibilidade de
religar o dispositivo. Para projetar qual disjuntor utilizar, é imprescindível
encontrar os valores nominais de tensão, corrente e frequência,
temperatura e altitude. Pode ser consultado também o catálogo de
informações do fabricante.

Figura − Esquema de ligação, Simbologia e Disjuntores Comerciais.


(Monofásico, Bifásico e Trifásico).

F. Relé térmico ou de sobrecarga: a proteção contracorrente de


sobrecarga era feita por relé térmico, conforme Filho (2018) e Silva (2006).
O dispositivo composto por juntas metálicas, quando aquecido devido à
sobrecarga de corrente por um longo tempo, é acionado para assegurar o
sistema. Hoje os disjuntores englobam essa função, e sendo assim, os
relés de sobrecarga caíram em desuso.

Simbologia gráfica dos comandos elétricos – NBR 5280


No comando elétrico, atualmente, para saber como esses dispositivos são
ligados entre si, há necessidade de se verificar um desenho cujo nome é esquema
elétrico no qual cada um dos elementos é apresentado através de símbolos gráficos.
A simbologia é padronizada através das normas NBR, DIN e IEC. Na Tabela 2.2,
apresentam-se símbolos referentes aos elementos estudados anteriormente. No
entanto, essa norma foi cancelada em junho de 2011 devido à falta de atualização
da formatação, mesmo assim os elementos são utilizados amplamente nos projetos.
Tabela − Principais elementos de circuito elétrico

Fonte: NBR5280 (1983).

Manobras tradicionais para os motores elétricos


Para entendermos os acionamentos de dispositivos pneumáticos, hidráulicos
e elétricos, os estudos dos componentes de comandos elétricos são de extrema
importância. Por isso, é importante esclarecer qualquer dúvida relativa a esses
dispositivos.
Será apresentado as principais manobras nos motores elétricos, conforme
Filho (2018), Nascimento (2011) e Silva (2005):
• Partida direta: a principal função é para acionar e interromper o
funcionamento de um motor de indução trifásico em um determinado
sentido de rotação. A ligação dos elementos é mostrada na Figura abaixo,
onde pode-se averiguar a presença dos circuitos de potência e comando.
Os componentes necessários para essa manobra, normalmente, são: 1
disjuntor tripolar (Q1), 1 disjuntor bipolar (Q2), 1 relé térmico (F2), 1
contator (K1), 1 botoeira NF (S0), 1 botoeira NA (S1), 1 motor trifásico
(M1), 1 lâmpada verde (H1), 1 lâmpada amarela (H2), 1 lâmpada vermelha
(H3).

Figura – Comando e Potência da Partida Direta de Motor Trifásico.

• Partida com reversão: como o próprio nome diz, o objetivo é a


possibilidade de reversão da velocidade de rotação. Para fazer isso,
trocam-se duas fases através dos contatores. É importante lembrar que os
dois contatores não podem funcionar de forma simultânea. Para isso,
existe o circuito de intertravamento. Os componentes necessários a essa
manobra, normalmente, são: 1 disjuntor tripolar (Q1), 1 disjuntor bipolar
(Q2), 1 relé térmico (F2), 2 contatores (K1 e K2), 1 botoeira NF (S0), 2
botoeiras NA (S1 e S2), 1 motor trifásico (M1).

Figura− Comando e Potência do sistema de reversão do motor trifásico.

• Partida estrela-triângulo (Υ/∆): a princípio, os motores necessitam,


durante a sua partida, de uma corrente maior que 5 ou 7 vezes o valor de
sua corrente nominal. Essa característica é extremamente indesejável,
pois, além de exigir um superdimensionamento dos cabos, ainda causa
quedas no fator de potência da rede, possibilitando multas da
concessionária de energia elétrica. Assim, uma das estratégias adotada
para evitar isso é a partida estrela-triângulo, cujo princípio é o de acionar o
motor em estrela, reduzindo a carga e posteriormente comutá-lo para
triângulo, atingindo sua potência nominal. Os circuitos de comando e de
potência são mostrados na Figura. Os componentes utilizados para essa
partida são: 1 disjuntor tripolar (Q1), 1 disjuntor bipolar (Q2), 3 contatores
(K1, K2 e K3), 1 relé térmico (F1), 1 botoeira (NF), 1 botoeira (NA), 1 relé
temporizador (K6).

Figura − Potência e Comando da Partida Estrela-Triângulo do Motor Trifásico.

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